Navegando Por Rios e Florestas de Curralinho
Navegando Por Rios e Florestas de Curralinho
Navegando Por Rios e Florestas de Curralinho
"Um povo sem Memória é um povo sem História. E um povo sem História está
fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado."
(Emília Viotti da Costa)
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Sumário
Minhas Homenagens...........................................................................................03
Apresentação ......................................................................................................04
Introdução............................................................................................................06
Capitulo I .............................................................................................................07
Literatura Oral
Lenda da Cobra que morava embaixo da Igreja Matriz...........................08
Lenda do Curupira-Primeiro Defensor da Floresta..................................09
Lenda do Açaí .............................................................................................10
Lenda do Boto ............................................................................................12
Lenda da Matinta Pereira ...........................................................................14
Lenda do Tamba-Tajá .................................................................................15
Lenda da Iara – Mãe d’Água .......................................................................16
Lenda da Cuiera............................................................................................17
Lenda do Mapinguari....................................................................................19
Lenda do Lobisomem...................................................................................20
Lenda da Mulher de Branco........................................................................21
Lenda do Coronel do Trapiche....................................................................23
Lenda do Fogo Selvagem............................................................................25
Lenda da Mula sem Cabeça.........................................................................26
Lenda da Cobra Grande...............................................................................27
Capitulo II
Festas Populares..........................................................................................29
Danças e Músicas.........................................................................................35
Capitulo III
Linguagem Oral....................................................................................................38
Advinhações, Parlendas, Provérbios Populares, Quadrinhas Populares, Piadas
ou Anedotas, Literatura de Cordel, Frases Prontas e Trava Língua.
Capítulo IV
Brincadeiras, Jogos e Brinquedos Populares............................................44
Dados da Autora............................................................................................47
Referências Bibliográficas............................................................................49
Nesta obra quero homenagear Meu Filho Robert Cézar Imbert Nunes e
Silva - na eternidade, mas presente em minha vida; Meus Pais Raimundo
Nunes dos Santos-Primeiro Tabelião de Curralinho e Carmencita da Costa
Nunes, primeira Professora no rio Curupuhu e na Ilha Marituba; Meus Avós
Paternos: Galdino Nunes e Abigail Carvalho; Meus Amigos que deixaram em
nossa História e Memória muito de suas Histórias e Memórias e que hoje
enriquece nossa Cultura Popular, como: João Carlos e Delice, o casal que
incentivou a criação do Grupo “Anhangatuba” e a Festividade de Santo
Antônio; ao Pataná, primeiro motorista Municipal da Lancha “Tuncuduba”;
ao Carmelino Peres Duarte (Caramelo) um dos primeiros professores na
Zona Rural-Multiseriado; ao Mimi Leão e sua esposa Linda juntamente com
Francisco, o Bode, o Carão e o Raimundão e sua esposa Maria Caçamba
foram os primeiros pescadores; ao Benedito Rodrigues e sua esposa Dona
Olga, assim como Tio Benedito Maravalha e Tia Jiloca, Argemiro Pontes,
Gordofredo, Sofia, Vitória, Bené Nunes, Cirilo, Vircia e Elias pelo muito que
me ajudaram no inicio de minha carreira como Professora; Meu Padrinho
David Quaresma; ao Joaquinzinho, o primeiro padeiro de Curralinho e sua
esposa Iracema; Seu Zé Dias, grande músico; ao Raimundo Peixoto,
primeiro dentista e protético de Curralinho; a Generosa e sua filha Biló e
Dona Vidinha as primeiras amassadeiras de açaí para vender; ao Pedro XVII,
o primeiro Carteiro; Chico Nenem, primeiro Telegrafista e Funcionário dos
Correios em Curralinho; ao Balduino, o primeiro gari de Curralinho; ao
Boléu, Orlando e sua esposa Hilda Feitosa; ao Durval Ribeiro, primeiro a
tocar violino em Curralinho; ao Alexandre Buar, segundo Tabelião em
Curralinho; Antônio Luiz Pereira Dantas, Pioneiro em Pesquisas Históricas
de Curralinho; Manoel Sá, inesquecível Manduca Gavião, um dos
fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Curralinho, ao Miguel
e sua esposa Laurita Oliveira; ao Macaco e sua esposa Socorro; ao Vivi e
sua esposa Guita, ao Jaimirez, ao Boléu, enfim, a TODOS os curralinhenses
com quem convivi e muito aprendi e partiram deixando suas vivencias de
suas Histórias e Memórias – “O saber que não vem da experiência não é
saber”(Lev Vygotsky).
Apresentação
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INTRODUÇÃO
Por muitos e muitos anos a Lenda da Cobra Grande que dormia sob a
Igreja Matriz povoara o imaginário do povo curralinhense. Nossos
antepassados contavam que durante o dia ela viajava pelos rios em busca
de suas presas e a noitinha vinha de mansinho dormir em sua “caminha”
debaixo da Igreja e muitos temiam que ela se mexesse e derrubasse a Igreja.
Havia até quem dissesse ter achado pedaços de roupas, cabelos e
outros objetos na praia da rampa e outros juravam ter ouvido barulho como
que vindo do fundo da terra, assim também que, havia suspiro, isto é, um
buraquinho dentro da sacristia para que a Cobra Grande pudesse respirar.
A Lenda da Cobra Grande é um dos mitos da Amazônia que sempre
está presente em várias feições, talvez porque como disse Vitor Hugo “A
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serpente está dentro do homem é o intestino. Ela tenta, trai e pune”, mas
também a Lenda da Cobra Grande faz parte da maioria das culturas
mundiais, na Bíblia é sinônimo do mal.
descobrisse que ela estava grávida quando a criança nascesse iria mandar
matar seu filho. E assim quando completou nove meses, Aceí deu a luz a
robusto menino que pôs o nome de Iba’í ( palavra indígena que dizer fruto
saboroso, fruta saborosa).
Mas o Cacique era daqueles que defendia “ a justiça para ser bem
feita tem que começar em casa”, e mandou sacrificar a criança. Aceí ficou
desesperada e chorou dias, meses, anos a saudade de seu filho,
implorando a Tupã que mostrasse ao seu pai uma maneira de ajudar seu
povo sem sacrificar as crianças.
Certo dia Aceí saiu para caminhar pelas várzeas do rio Araçacar,
triste, aflita, abatida. Caminhou, caminhou e cansada, chorosa sentou em
uma sapopema. De repente, ouviu um barulho. Levantou os olhos e la
estava Iba’í em pé, sorrindo, feliz em uma touceira de palmeiras de todos os
tamanhos com cachos de frutos pretinhos e outros esverdeados. Aceí
correu em direção ao filho para abraçá-lo, mas ele desapareceu.
Aceí saiu correndo para contar ao seu pai e ao seu povo o que tinha
acontecido e toda a tribo foi ver o fenômeno visto por Aceí. E então o
Cacique mandou que apanhassem e debulhassem dos cachos os frutos em
paneiros feitos com talas de arumã, depois puseram em alguidar de barro
colocando água quente e quando a polpa estava amolecida, usando as
mãos, as mulheres da tribo amassavam os caroços pondo em caroceiras e
depois em peneiras feitas com talas de arumã, saindo um suco de cor de
vinho que misturaram , farinha de mandioca ou tapioca, tal mistura, serviu
de alimento e supriu a fome daquele povo nas margens do rio Araçacar,
afluente do rio Canaticu.
A Tribo Cambocas batizou as palmeiras de Iba’í em homenagem ao
filho querido da India Aceí. A partir daí, o Cacique Guayi determinou que
daquele dia em diante as crianças que nascessem não seriam sacrificadas
porque IBA’Í, o menino de Sangue Grosso havia voltado em forma de
alimento para alimentar seu povo. E Vovó Abgail dizia que houve festas de 3
dias na Tribo Cambocas pois Ecei voltou a sorrir e alegrar-se no meio de
seu povo as margens do rio Arassacar.
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---Duna Abigail, estu apavurado. Onti a nuite uvi uns barulos i pulei da
mina redi pra ver que acuntecia i quase me deu cara branca quando vi mia
mãe deixando uma mão de pilão na redi dela e vestindo uma ropa preta, que
logo se tranformu em um cavalo. Cruz credo, Dona Abigail. Me escundi
detrás da purta e o cavalo saiu na escuridão da nuite. Era minha mãe
virando cavalo, Duna Abigail. E despus, uvi no meio da escuridão gritos e
gritos, dizendo: “Matinta Pereira....Matinta Pereira...”
Minha Avó não comentou nada, devido os comentários que surgiam
sobre isso, mas agora o filho dela estava confirmando o que todo mundo já
sabia. Inclusive os meus avós muitas vezes ouviram gritos da Matinta
Pereira e gritavam dentro de suas casas:
---Amanhã vem buscar tabaco!!!
E no dia seguinte, quem vinha? Ela, dona Maria!
Os antigos moradores de Curralinho diziam que era muito fácil
descobrir quem era a velha Matinta Pereira: ao ouvir seu assobio convide-a
para ir á sua casa para buscar tabaco e com certeza ela será a primeira
pessoa que vai pedir tabaco em sua casa.
Lenda Tamba-Tajá
Os Macuxis são um sub-grupo do povo indígena Pemom que falam
línguas da família Caribe que habitam a região entre as cabeceiras dos rios
Branco e Rupununi atualmente é um território partilhado entre o Brasil e a
Guiana.
E foi no seio desta tribo que nasceu a Lenda Tambá-Tajá, quando o
índio Ailã (na língua macuxi quer dizer entidade mística) jovem forte,
inteligente, bonito e cheio de vida, se apaixonou pela índia Neputira (na
lingua macuxi quer dizer “floresce no campo”), o namoro logo deu em
casamento. Casaram-se e viviam felizes até que um dia a bela índia Neputira
ficou gravemente doente e essa doença a deixou paralitica.
O Jovem Ailã Macuxi para não se separar de sua amada teceu um
jamachi de talas de arumã (tipóia) e em suas costas levava a sua amada
para todos os lugares em que andava, e em certo dia foram surpreendidos
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por uma tribo inimiga que foi perseguida, mas escaparam refugiando-se em
um igarapé, porém quando colocou o jamachi no chão para sua tristeza a
sua bela amada estava morta. Diante de tão grande dor o jovem índio fez
uma cova e enterrou-se juntamenta com sua amada esposa.
Muitas luas se passaram. Chegou a lua cheia e no local em que estava
enterrado o jovem casal começou a brotar uma planta graciosa, totalmente
diferente e desconhecida de todos os índios Macuxi e chamaram de TAMBA-
TAJÁ que possuía folhas triangulares, de cor verde escura, em seu verso
outra folha de tamanho reduzido cujo formato de assemelha ao órgão
genital feminino. Era o símbolo do amor que nem a morte pôde separar. A
união das duas folhas simboliza o grande amor existente entre o casal da
tribo Macuxi.
Tal Lenda influenciou o dia-a-dia do Caboclo da Amazônia e assim
como os curralinhenses, ainda podemos ver nas portas das casas ou de
comércio um paneiro com estrume de açaí e nele plantado um pé de Tamba-
Tajá, para evitar olho gordo, e outros poderes místicos e atrair sorte.
Lenda da Cuiera
Lenda do Mapinguari
Lenda do Lobisomem
A Lenda do Lobisomem ou Licantropo tem origem na Mitologia Grega
em que o homem pode se transformar em lobo nas sextas-feiras e noites de
lua cheia, se alimentando de sangue e se o Lobisomem morder alguma
pessoa essa pessoa passará a ser Lobisomem e ao amanhcer volta a sua
forma humana.
No Brasil existem várias versões dessa lenda de regiões para
regiões. Em alguns locais dizem que se uma mãe tiver seis filhas e o sétimo
for homem, este se transformará em Lobisomem. Existe versões que falam
se o filho não for batizado poderá se transformar em Lobisomem quando for
adulto.
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Uns contam eu foi uma moça que morreu afogada, tomando banho na
rampa, cujo local desembarcavam os cadáveres, em frente a Igreja Matriz de
São João Batista, onde tinha um suporte de um metro de largura e um metro
e meio de altura e nela onde punham os caixões com os cadáveres.
Outros contam que o Tenente-Coronel Francisco Domingos Cerdeira
construiu a Igreja Matriz de São João Batista para ser Mausoléu de sua
esposa e quando ela morreu foi enterrada na Sacristia. Seus restos mortais
ficaram lá até 1960 quando o Padre Rossine mandou enterrar seus restos
mortais no cemitério público.
Em entrevista com várias pessoas como a Dona Sara, Minha Mãezinha
Carmencita (com saudades), Professora Malfizza Fazzi Dias, Professora
Dalva e até meu Irmão Jonas Max, essas pessoas juram que viram a Mulher
de Branco.Relato do Meu Irmão Jonas Max: “Eu tinha uns 17 anos de idade
e gostava de ficar pelas ruas até tarde da noite batendo papo com os
amigos e certa noite fiquei na Sede Santa Rosa até pela madrugada. E
arranjei uma garota.E saímos caminhando pelas ruas até chegarmos na
praça da Igreja Matriz onde sentamos em um dos bancos para conversar. De
repente, a garota que estava comigo ficou calada e perguntei o que tinha
acontecido e ela apontou com os dedos a torre da igreja e vimos uma
mulher debruçada em uma das janelas no topo da torre da Igreja. Não senti
medo. Levantei e fiquei tentando ver seu rosto, mas não conseguia.
Enquanto eu olhava para cima, eis que a garota que estava comigo, falou
baixinho: “Ták, olha ela aqui em baixo da Igreja. Baixei a vista e vi a Mulher
de Branco vestido de branco rodeando a Igreja. Então eu disse: Deixa pra lá,
é a Sara que está tentando nos amedrontar.”
Relato da Dona Sara: “É engraçado, que todo mundo confundia a
Mulher de Branco comigo (risos e risos). Essa semelhança fazia com que a
maioria não tivesse medo dela ao ponto de correr ou algo parecido. Eu
também vi e fiquei meio cabreira, era muito parecida comigo mesmo. Certa
noite eu voltava da casa da minha irmã Nazaré e ao me aproximar da Igreja
Matriz, senti um leve arrepio, levantei a vista e vi uma Mulher Vestida de
Branco que estava em pé na Porta da Sacristia, de costas para mim. Tinha
os cabelos compridos e castanhos iguais os meus. Fiquei pensando comigo
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mesma: “Égua, será que já estou fazendo visagem (risos e risos)”, mas eu
segui a caminhada sem nenhum medo, mas pensando no porquê de
algumas pessoas me confundirem com a Mulher de Branco. Vi várias vezes
essa figura lendária que aparecia na Igreja Matriz, mas com o tempo nunca
mais ouvi falarem sobre ela. Sumiu ou merreuuu...(risos e risos).”
A Mulher de Branco foi uma figura lendária e ainda em 1992 quando
vim de Bagre para assumir a Direção da Escola Estadual “Prado Lopes” e
fiquei morando próximo da Igreja Matriz e ficava assustada quando o meu
irmão Jonas Max chegava em casa dizendo: “A Sara já estava no fado dela
lá na Igreja e ria...ria. Isso queria dizer que ele tinha visto a Mulher de
Branco, no entanto, que não tinha medo.
O Coronel do Trapiche
Meu Pai contava que certa vez vinha da seresta na casa do Manduca
Sá e vinha assobiando a canção de Vicente Celestino “Ébrio”, quando de
repente, seus cabelos começaram a crescer-crescer e todo seu corpo se
arrepiar e parecia chumbado no solo, quis correr de tanto medo, mas suas
pernas estavam bambas e via o fogo que crescia-crescia quase atingindo o
topo de uma mangueira que existi próximo da carnaubeira e ouviu um
gemido estridente saindo de dentro da tocha de fogo que se avolumava e
neste momento o aparece o figura do Doutor Sandoval na janela do prédio
que o chama. E ao ouvir a voz humana o fogo vai se extingue por completo
e assim pode se locomover e sair em disparada.
No dia seguinte foi o comentário na cidade de que o Diquinho Nunes
(apelido de meu pai) tinha sido vítima do Fogo Selvagem da carnaubeira e
assim surgiu a lenda de que o seringalista Eduardo Antonio Rezende tinha
enterrado muito e muito dinheiro lá e para desenterrar a imensa quantidade
desse dinheiro a pessoa tinha que ser muito corajoso e ir meia noite em
ponto de uma sexta-feira com um cutelo, água benta e um crucifixo e no
momento em que o Fogo aparecesse jogaria a água benta e o crucifixo
sobre ele, então se abriria um buraco onde apareceriam as moedas de ouro
e prata que seriam tiradas com o cutelo.
Nunca apareceu esse “corajoso” que quisesse enriquecer com o
dinheiro enterrado debaixo da carnaubeira e assim, em 1980, o “Seu”
Bernardo construiu um barzinho chamado “Buraco Quente” e em seguida o
meu primo Ailson e minha Prima Socorro construíram o Prédio “Confecções
Ceará” e assim todo aquele dinheirama ficou soterrado embaixo das
construções.
CAPITULO II
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1.FESTAS POPULARES
Em Curralinho as Festas Populares foram a de São João Batista de 14
a 24 de junho, de São Sebastião, de 2 a 3 de fevereiro, a de Nossa Senhora
do Perpétuo Socorro, de 20 a 29 de setembro, e outras na zona rural como
São Benedito, no rio Samanajós, a de São Judas Tadeu de 20 a 29 de
outubro no rio Curupuhu e nos finais do século XX a de Santo Antônio de 05
a 13 de junho, e atualmente a São Mateus no bairro do Cafezal e outras
As Festas Populares são definidas como fazendo parte da identidade
de um povo, no seu contexto cultural, sendo uma manifestação popular que
abrange toda coletividade em festas realizadas em diversos lugares e
tempos, embora com manifestações diferentes.
As Festas Populares são de origem católica e eram celebradas desde
a Idade Antiga na Europa, durante o solstício de verão que marcavam o
inicio da colheita. Durante os festejos ofereciam comidas, bebidas e animais
aos mais diferentes deuses em que o povo cultuava e talvez seja por isso
que, os festejos juninos trazem em seu bojo reflexos do campo, da roça,
como pipoca, milho verde, feijão e outros alimentos produzidos pela terra
assim como, brincadeiras, trajes camponeses, danças e quadrilhas de
origem francesa, sendo que os bailados, as cores fortes e os enfeites
exagerados relembram a identidade cultural, a cultura e o folclore nas
tradições de homens e mulheres simples, humildes que trabalhavam a pique
na Europa.
Não se tem uma data precisa como surgiu em Curralinho a Festa de
São João Batista, de 14 a 24 de junho. No período da festa havia várias
atrações, como: mastro, noitários, quadrilha, fogueira, diversas
brincadeiras, simpatias, músicas, leilões, pau-de-sebo, procissão, banho-de-
cheiro, “Rainha da Festa”, “Mesa dos Inocentes” e outras atrações.
Foto da internet
A Festa Popular de São João Batista preserva algumas das tradições,
outras se perderam no tempo, mas a tradição do Mastro permanece até aos
tempos atuais.
Desde sua origem o povo é despertado no amanhecer do dia 14 de
junho com uma estrondosa alvorada de queima de fogos de artifícios e até
a década de 1980 com a Banda da Policia Militar tocando músicas religiosas
e durante o dia havia a preparação para levantamento do Mastro, cujo
erguimento, marcava o inicio da Festa, por isso o Mastro recebia tratamento
especial desde escolha da árvore até a sua ornamentação, sendo a bandeira
com a foto do santo no topo e no dia 24 á tardinha era a derruba do Mastro
e quem pegasse a bandeira seria noitário principal.
A partir o dia 14 de junho todas as noites rezam ladainhas na Igreja
Matriz e logo após há o bingo no Salão Paroquial cujos prêmios são doados
pelos noitários ou responsáveis pela referida noite. A Festa sempre teve
uma Coordenação para gerenciar de forma geral as ações desenvolvidas
durante os dias de festas.
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O Festival do Açaí
Teve sua origem na administração de José Assis de Oliveira Filho, o
Acapu, e sendo Diretor de Cultura Ophir Ribeiro Barbosa que juntamente
com outros departamentos criaram o “Festival do Açaí” no mês de
setembro, plena safra do açaí, comemorado na Praça do Relógio ou da
Bandeira onde faziam enorme “barracão” de açaizeiro coberto com palhas
de ubuçu e na administração de Orlando Feitosa Borges, sendo Secretária
de Cultura Maria Gregória, também era comemorado na referida praça.
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2.MÚSICAS E DANÇAS
Músicas e Danças Folclóricas frequentemente estão interligadas pois
algumas formas musicais de instrumentos ou cantos são ritmos ligados a
dança como o carimbo, o maxixe, a ciranda, o xote, o maracatu, o samba, o
lundu, o baião, etc. Assim como outros exemplos de Música como as
modinhas, serestas, as modas da viola e outros.
Nas décadas de 1940, 1950 e 1960 as serenatas eram as grandes
atrações nas noites de luar a principio meu Raimundo Nunes dos Santos e
seus amigos Dimo Dias, Geraldo Dantas, Durval Ribeiro Barbosa e outros
nas noites de luar cantavam e tocavam violão no bar do “Seu Mário
Guimarães”, onde é hoje a Secretaria de Cultura e com o passar dos tempos
na casa do Antonico Alves, da Professora Maria das Dores ou na Praça de
Bandeira em que se reuniam as famílias para dançarem e cantarem ao som
do violão do meu pai Raimundo Nunes dos Santos e do violino de Durval
Ribeiro Barbosa.
Durval Ribeiro Barbosa ( pai de Ophir, Maria Joana, Anete, Djalma e
outros) aprendeu tocar violino por conta própria, uma vez que, naquela
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época não havia Escolas de Músicas. Era um autodidata assim como meu
pai.
Os anos 1950 e 1960 foram os anos do Jazz e meu tio Bené Nunes foi
o primeiro músico a tocar saxofone, também um autodidata na música e
juntamente com Cirilo Nunes, Antônio Sena e outros formaram a primeira
Banda de Jazz em Curralinho chamada de “ Jazz Favela” tocando as
canções da época como “ Trem das Onze, de Adoniran”, “Ébrio” de Vicente
Celestino, entre outras. Assim também, a primeira Aparelhagem em
Curralinho foi do meu Tio Cirilo Nunes chamada “Madureira.”
Na década de 1970 explode o sucesso da “Banda Master Soung”
formada por Carlito, Alfredo Monteiro ( Perú), Adivan, Morebas, Leo Freitas e
outros. Leônidas de Castro Freitas é um artista Curralinhense de renome.
Compositor e cantor. Autor do Hino Oficial de Curralinho, Hino de São João
Batista, Carimbó de Dom Orione e inúmeras outras canções que enriquecem
o acervo musical de Curralinho.
A Banda Geração 2000 surgiu em 1997 como explosão musical com
ritmos variados, sendo Projeto do empresário Ednaldo Silva Ribeiro e seu
irmão Zaqueu Silva Ribeiro e seus amigos Eliezer Lima, atualmente
tecladista na Banda Willis; Èbio Fernandes; Ronnie Silva; Adivan Gomes,
atualmente toca na Banda da Igreja Assembleia de Deus em Curralinho;
Moroni Costa; Lorena e Drika. Zaqueu da Silva Ribeiro, atual Secretário de
Cultura, continua em sua carreira musical com muito destaque assim como,
a Banda Paulinho Barilow, o Paulo Sérgio Diniz, atual Vice-Prefeito de
Curralinho, grande artista que se destaca em todos os estilos musicais,
possui composições de carimbós e músicas sacras.
Banda Geração 2000
37
somente a tarde que tinham descanso e era quando podiam caçar e pescar,
mas a noite impedia os negros de irem para a floresta e então iam para as
praias capturar peixes, mas os peixes eram insuficientes para saciar a fome
de todos os negros. E certa tarde quando os negros foram á praia
encontraram centenas de siris e esse fenômeno se repetia todas as tardes e
os negros tiveram a ideia de criar uma dança chamada “Siriá” para
comemorar suas alegrias em ter alimentos para saciar sua fome.
Pedro de La Braga um dos maiores folclorista curralinhense se
destaca com suas canções como “O Crone”, Carimbó, Siriá, entre outras.
Foi um dos incentivadores do Grupo “Cuia Pitinga” e do Grupo de Capoeira
juntamente com seus filhos Nazareno, Jorge, Charlie e outros.
O final do século XX e inicio do século XXI a Cultura Popular
Curralinhense atinge seu apogeu de Grupos Folclóricos e Parafolcloricos
como o “Anhangatuba” criado pela Familia Silva e Cruz, tendo como
responsáveis o casal João Carlos - o Sambudo- e sua esposa Delice; o
Maruarus” criado pelo Paulo Wlliams e sua esposa Betânia, Quadrilhas
como “Feitiço Marajoara” criada pelo Randel Sales, Idimar Chaves, Ednalva
Abatte e outros; Grupo de Capoeira, Grupo da Terceira Idade “Renascer”,
sendo que quem escolheu o nome desse grupo fui eu, dei a sugestão e a
Dona Alda que na época era Primeira Dama do Município e Secretária de
Assistência Social acatou
Atualmente inúmeros Grupos de Quadrilhas em Curralinho, como:
“Feitiço Marajoara” com seus 25 anos de existência tendo na atual
coordenação o Professor Idimar Chaves e sua esposa Ednalva Abatte,
Dhiorlem, Mônica e Aurélia Vaz; “Fúria Junina”, Coreógrafo Markinho
Venicius; “Quadrilha Raízes Junina, Responsáveis Josy e seu esposo Waldo
Costa.
Capitulo III
LINGUAGEM ORAL
A Linguagem Oral ou Popular ou Coloquial é a que se usa em palavras
informais. não exigindo as normas gramaticais que prevalecem na
linguagem culta e em Curralinho devido a expansão tecnológica a
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Na casa do Patrão
“O patrão dá uma bronca no seu compadre:
-Meu Amigo Zé, não deixe a sua cadelinha entrar em minha casa! Ela está
cheia de pulgas!
No mesmo instante, o compadre Zé olha para a sua cadelinha e diz:
-Teimosa, vê se não entra mais na casa do compadre. Pois está cheia de
pulgas!
Parto Paraense
“Um médico foi fazer o parto de uma paraense e quando o bebê nasceu, deu
bastante palmadas no bebê. A mãe intrigada, perguntou:
-Doutor, porque o senhor está batendo tanto em meu filho? Ele já está
respirando? O médico respondeu:
-Porque ele está tentando roubar meu relógio.
Rapto da Sogra
“O telefone toca e o homem atende. Do outro lado da linha:
-Raptamos a sua sogra. Estamos pedindo cinco mil reais se a quiser de
volta.
E o homem responde:
-Cinco mil reais? Pois eu dou dez mil para ficarem com ela para sempre.
Superstição: é crendice ou crenças populares que a ciência não
explica porque são criadas pelo povo e passam de geração a geração. São
baseadas em tradições populares fazendo com que o supersticioso acredite
em certas ações voluntárias tais como rezas, curas, conjuros, feitiços,
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Simpatias Folclóricas:
também são crendices criadas pelo povo e não possui nenhuma base
cientifica, mas são formas de evitar coisas ruins e atrair coisa boas em suas
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Nos tempos atuais a modernidade traz as ervas para fazer chás tudo
em caixinhas, mas que não tem o mesmo sabor dos chás quando feito de
ervas colhidas na natureza ou ainda plantadas por algumas donas de casa.
Assim também os partos feitos por parteiras em Curralinho deu lugar
ao hospital local.
CAPITULO IV
BRINCADEIRAS JOGOS E BRINQUEDOS
Até a década de 1990 vivenciava-se os mais diferentes Jogos,
Brincadeiras e Brinquedos em que a garotada se divertia com os banhos na
Rampa ou quando chovia na biqueira da Igreja Matriz. E havia as
brincadeiras de ruas algumas ainda são vivenciadas nos tempos atuais,
como: “Pular elástico ou corda”, “Pega-pega”, “Telefone sem fio”,
“Amarelinha ou Macaca”, “Esconde-esconde”, “Cabo de Guerra”, “Estátua”
e inúmeras outras brincadeiras eram vivenciadas pelas crianças, assim
como nas escolas e em noites de luar as meninas brincavam “Cantigas de
Roda”, como:
A Barata diz que tem
1.A barata diz que tem sete saias de filó/É mentira da barata que ela
tem é uma só /Rá, rá, rá, Ró,ró,ró ela tem é uma só./A barata diz que tem um
sapato de fivela /É mentira da barata o sapato é da irmã dela /Rá, rá, rá,
Ró,ró,ró o sapato é da irmã dela /A barata diz que tem um anel de formatura
/É mentira da barata ela tem a casca dura /Rá, rá,rá, ró, ró,ró ela tem a casca
dura.
2.A Canoa virou fui deixar ela virar por causa do fulana(nome da
pessoa) / Que não soube remar/ Siri pra cá, siriri pra lá Fulana é velha e
quer se casar (bis) / Se eu fosse um peixinho e soubesse nadar./ Eu tirava
fulana do fundo do mar Do fundo do mar./ Siri pra cá siriri pra lá Fulana é
velha e quer casar.
3.Esta rua, esta rua tem um bosque/ Que se chama que se chama
Solidão. / Dentro dele, dentro dele mora um anjo/Que roubou, que roubou
meu coração/ Se eu roubei, se roubei teu coração/ É porque tu roubaste o
meu também/ Se eu roubei, se roubei teu coração/ É porque, é porque te
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Brinquedos Populares:
No século XX em Curralinho havia imensas variedades de brinquedos
populares com que as crianças se divertiam. Eram bonecas, carrinhos,
barquinhos, de muriti ou buriti, de madeira, de tala de arumã, de cutacas,
enfim de materiais encontrados na natureza.
-Miriti ou Buriti: nome cientifico Mauritia flexuosa, cresce até uns 30
metros de altura e seu caule varia de 30 a 50 centimetros, espécie que
cresce nas várzeas e terrenos alagados, assim também como em tesos,
produzindo frutos nos meses de janeiro a maio. Seus frutos possuem
polpas saborosas para se comer com farinha, ou suco, vinho para mingau
de farinha ou de arroz. O Miriti ou Buriti possuem várias utilidades desde
seu tronco até suas folhas, da bucha ou fibra conhecida como isopor da
Amazônia com se fazia diversos brinquedos, como bonecos de casais
dançando, barquinhos, cascos com velinhas de papel, bonecas cujos olhos
e bocas eram demarcados com carvão, casinhas, etc.
-Arumã ou Aruman: cujo nome cientifico é Ischnosiphon Ovatus,
também chamado de Bananeirinha-do-mato com os brotos das folhas eram
feitos, apitos, instrumentos musicais, e outros brinquedos.
-Madeira: eram feitos diversos brinquedos de madeira, como barquinhos
feitos de raízes largas de árvores ou sapopemas como se chama, casinhas,
bonecas, etc...
Gastronomia Curralinhense
Comidas: a maioria da gastronomia em Curralinho são de origem
indígenas como camarão e suas variedades, peixes e seus variados pratos,
caramujos, uruás, açaí, carne de diversas caças como tatu, mucura, cuandu,
veado, preguiça, porco, no decorrer dos tempos, mujica de camarão, entre
outras.
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Considerações Finais
Entre rios, florestas, memórias, linhas e palavras, tecem esse
panorama da Cultura Popular de minha terra natal. Trazendo por meio de
pesquisas e concretizando-as em forma de deste livro, tradições, costumes
e crenças acumuladas durante décadas e décadas, por diferentes indivíduos
e em tempos já passados.
Faz-se necessário “descer” ao mais profundo desses “rios”, pois as
gerações atuais não podem ficar sem conhecer suas próprias raízes,
origens e assim despertar nas mesmas esse olhar para o passado, e acima
de tudo compreender e valorizar as suas memórias pois são elas que
constituem a nossa própria história, escrevendo páginas já passadas,
enriquecendo as páginas do presente e nos deixando grandes expectativas
para as páginas do futuro que muitos curralinhenses ainda escreverão e
assim, esse legado cultural permanecerá tão vivo quanto as memórias que
carrego e tão certo como encher e vazar das marés que banham Curralinho
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REFERENCIAS
-CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 12. ed.
1954.São
-PESAVENTO, Sandra J., Em busca de uma outra história: Imaginando o
imaginário. In: Revista Brasileira de História. nº 29.São Paulo. !995.
-BRONISLAW, BACZKO, Imaginação social. In: Enciclopédia Einaudi.
Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda. Editôra Portuguesa. 1995.
-RIBEIRO, Maria de Lourdes Borges, -Folclore. Biblioteca Educação e
Cultura. Ano 1980. Editora: Bloch.
-PAVANI, Keila Macário Pavani. Lendas do Saber. Permacultura e Histórias:
cuidando da Terra e das pessoas. Ed. Insular. 2008.
-FLORES, Moacyr. Colonialismo e missões jesuíticas. Porto Alegre :
Mercado Aberto.
-Disponivel em: https://blog.sympla.com.br/as-8-melhores-marchinhas-de-
carnaval-e-suas-historias > acessado no dia 10 de abril de 2019, ás 21:20
horas.
-ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo :Perspectiva, 1994.
-NEGRÃO, Walter. et alii. Rezas, benzeduras, simpatias. São Paulo, Ed.Três,
sem data. p.413.
-AZEVEDO, Téo. Plantas medicinais, Benzeduras e Simpatias. São Paulo,
Global Editora, 1984. p.172.
-MATOS, -Maria Nancy Nunes de, - Transformações Urbanas no Período da
Belle-Époque-Trabalho de Conclusão de Curso-TCC-UVA-Universidade Vale
do Acaraú-Graduação em História. 2007.
OBS: CONTRA CAPA
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APOIO CULTURAL
Meu muito e muito obrigada a todos que contribuíram no
patrocínio para que esta obra pudesse ser publicada. Deus
abençoe a todos.