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XV Seminário do Programa de Pós-Graduação em Desenho, Cultura e Interatividade – 2020

OS ADINKRAS: IDEOGRAMAS DAS TRIBOS AFRICANAS

Carlos Luiz Pereira de Cerqueira


UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana
Mestrando do Programa de Mestrado em Desenho, Cultura e Interatividade
[email protected]

Marise de Santana
UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
[email protected]
Resumo

O presente artigo tem como objetivo registrar o apreço dos ideogramas Adinkras na arte africana e o seu
legado. A arte africana apresenta grandeza, manifestações significativas, emoção, relação com as
crenças religiosas e aos costumes das comunidades. Os desenhos Adinkras são muitas vezes utilizados
como forma de expressão criativa e artística. Cada símbolo representa um provérbio, um ditado ou um
conceito, ligado na sabedoria e conhecimento dos povos em África. O conjunto dos ideogramas
representados por um conceito abstrado, transmitem valores e ideias. Os desenhos adinkras são um tipo
de escritura pictográfica, usados diariamente e que estão presentes nos tecidos tradicionais, decoração
de utensílios domésticos e rituais. Portanto, ter conhecimento da cultura africana por meio dos símbolos
adinkras possibilitará o entendimento da arte e seus significados, permitindo a construção de uma
sociedade mais justa que certifica como verdadeiro a história e a cultura de seu povo. Assim, é
importante ter conhecimento da cultura negra, da cultura afro- brasileira, e reconhecer a
representatividade e as características tribais africanas, existentes nos simbolos Adinkras.

Palavras-chave: Arte, Desenho, Legado.

Abstract
This article aims to register the appreciation of the Adinkra ideograms in African art and its legacy.
African art presents greatness, significant manifestations, emotion, relationship with religious beliefs and
the customs of communities. Adinkra designs are often used as a form of creative and artistic
expression. Each symbol represents a proverb, saying or concept, linked to the wisdom and knowledge
of people in Africa. The set of ideograms represented by an abstracted concept convey values and
ideas. Adinkra designs are a type of pictographic writing, used daily and that are present in traditional
fabrics, decoration of domestic utensils and rituals. Therefore, having knowledge of African culture
through the adinkra symbols will enable the understanding of art and its meanings, allowing the
construction of a fairer society that certifies as true the history and culture of its people. Thus, it is
important to have knowledge of black culture, Afro-Brazilian culture, and recognize the representation
and African tribal characteristics, existing in the Adinkra symbols.

Keywords: Art, Design, Legacy.


XV Seminário do Programa de Pós-Graduação em Desenho, Cultura e Interatividade – 2020

1. Introdução

O início dos meus estudos sobre as manifestações artisticas culturais africanas começaram
com a minha viagem para Angola, continente africano situado na costa atlântica Sul
da África Ocidental, entre a Namíbia e a República do Congo. Com isso, minhas pesquisas
sobre o legado africano tiveram partida nos angolanos em inúmeras expressões que podem
ser visualizadas no idioma, na comida, na música, nas manifestações religiosas e no próprio
comportamento. O contato diário com o povo angolano me possibilitou desenvolver
trabalhos de importância cultural, profissional e social. Em algumas comunidades que
conheci e trabalhei pude atuar no desenvolvimento local, de forma a incentivar o intelecto e
a criatividade, gerando renda para a população. Assim, ampliei os meus conhecimentos
sobre seus costumes e suas crenças religiosas.
O continente africano possui um grandioso e absoluto significado simbólico,
possuindo uma riqueza cultural extraordinária. O interesse e a disponibilidade de conhecer,

algumas tribos africanas (Ovimbundos, Ambundos, Chócues e Ovambos), engrandeceram


meus estudos sobre a África. Os ideogramas adinkras produzidos pelo povo Akan,
chamaram-me à atenção pelo significado e pela expressão gráfica. Os conceitos
encontrados nos símbolos transmitem o conhecimento e as experiências desta civilização.
Portanto, as pesquisas que realizei, levaram-me a compreender os provérbios e os
significados dos símbolos Adinkras.
É de fundamental relevância fazer um apanhado conceitual sobre a influência dos
ideogramas gráficos da África na formação da cultura brasileira. Esta importância de vale
devido aos vários elementos encontrados da herança cultural africana no nosso cotidiano.
Desta maneira, esta pesquisa foi realizada na Comunidade Quilombola da Baixa da Linha,
quilombo rural situado no campus da Universidade Federal do Recôcavo da Bahia, no
município de Cruz das Almas. O questionamento apareceu diante da incerteza em minha
percepção: será que a Comunidade da Baixa da Linha tem conhecimento dos ideogramas
adinkras e de seu legado?
A Comunidade Quilombola da Baixa da Linha está situada em áreas próximas à
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, localizada no município de Cruz das Almas,
estado da Bahia. É composta por famílias que se instalaram nas proximidades da linha do
trem (por isso o nome da comunidade) e por ventura foram construindo suas moradias.
Assim, no decorrer da minha pesquisa metodológica foi realizada uma entrevista com os
moradores e artistas da comunidade para trabalhar os ideogramas adinkras como imagem
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cultural e um estudo sobre a certificação da comunidade como remanescente de quilombo.

2. A arte do povo Akan e os desenhos Adinkras

Segundo Dossin (2011) mencionado por Rezende e Silva (2013/2014), a Arte Africana é
muito conhecida pela memória de suas esculturas, assim como, das peças que ocultam as
suas identidades (máscaras africanas). Todas essas produções artísticas são vistas com
preconceito sobre os olhos eurocêntricos, o que impede a sua valorização. Assim, segundo
Franco Monti (1992), ainda por Rezende e Silva (2013/2014), no continente africano a arte
teve objetivo social, ou seja, compreendida como forma de ensinamento e motivação para o
ser humano.
A arte pode ser representada de várias maneiras, seguindo inúmeros conceitos, onde
o ser humano pode expressar sua cultura, suas emoções e sua história. Assim, para
Azevedo Júnior (2007) sobre o seu entenimento, o universo da arte é absoluto e presente
com a posibilidade de ser considerado, compreendido e estimado. E através dessa
expreriência com a arte, o indivíduo desenvolve sua criatividade, aprendendo a respeitar as
diferenças e transformando sua realidade. Com isso, a arte dá movimento para a vida e da
uma razão para o que devemos fazer no mundo.

Na sua pesquisa pessoal sobre sobre o ensino da arte, o autor Josè Garcia de
Azevedo Júnior complementa:
Dentre os possíveis e variados conceitos que a arte pode ter podemos
sintetizá-los doseguinte modo – a arte é uma experiência humana de
conhecimento estético quetransmite e expressa idéias e emoções na forma
de um objeto artístico (desenho,pintura, escultura, arquitetura etc) e que
possui em si o seu próprio valor. Portanto, paraapreciarmos a arte é
necessário aprender sobre ela. Aprender a observar, a analisar, a refletir,a
criticar e a emitir opiniões fundamentadas sobre gostos, estilos, materiais e
modos diferentesde fazer arte. (AZEVEDO JÚNIOR, 2007, p. 7).

Segundo explica Castro (2007), a civilização Akan encontra-se em sua maioria na


parte sul de Ghana. Nas pesquisas de alguns historiadores o grupo Akan migrou do norte
afim de ocupar a floresta e as áreas litorais no início do século XIII. O povo Akan também
ocuparam a parte oriental da Costa do Marfim, onde formaram a comunidade de Baule. A
família é a base principal do povo Akan e sua linhagem está associada a um grupo contido
de representação simbólica. A sociedade Akan, trabalhavam os ideogramas chamados de
adinkras, que significa “adeus”. Esses símbolos expressão sua cultura e apresentam-se
como forma de comunicação e seguimento de vida. Assim, os adinkras são o potencial e a
identificação da imagem de tudo que é produzido, pois é carregado de significados,
expressa muita sensibilidade e está relacionado aos costumes das comunidades e as suas
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crenças religiosas, conforme mostra a figura 1.

Figura 1: Os chefes da comunidade Akan da Costa do Marfim.


Fonte: https://www.ghanalive.tv/2017/06/05/the-akan-chiefdoms-of-ivory-coast.
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O povo Akan trabalham os símbolos adinkras como identificação de vida. O símbolo


adrinkra é: “um conjunto de ideogramas estampados em tecidos e adereços e esculpidos
em madeira ou em ferro, como se fossem carimbos e que possuem significado próprio.”
(WILLIS, 1998 p. 15).
Sobre a relevância do desenho como apresentação criativa, no livro “Desenhando
com o lado direito do cérebro”, a autora Betty Edwards ressalta sobre a importância do
desenhar: “[...] A partir desta experiência, você desenvolverá a capacidade de perceber as
coisas de uma maneira nova, em sua totalidade, de descobrir configurações e possibilidades
ocultas para novas combinações [...]” (EDWARDS, 1984, p.15). Assim, para a autora, o
objetivo do desenhar não apenas expressa o que o individuo pretende representar em
imagem, mas também mostrar o seu ser. E essa definição se faz importante, pois os
símbolos adinkas são desenhos que expressão a arte africana, sua filosofia e suas crenças.
Tomando como pesquisa o seu livro “O Espaço do desenho: A educação do
educador”, a autora Ana Angélica Albano fala da importância do desenho e da sua busca
por referências teóricas para a interpretação dos mesmos. Busca de técnicas da psicologia
para interpretação dos desenhos. Assim, segundo a autora: “Desenhando com cores, com
música ou com a palavra, a criança dentro do adulto se reencontra com o seu espaço lúdico.
Adulto e criança podem, então, expressar no seu traço a sua palavra”. (MOREIRA, 1991, p.
127).
Sobre o ponto de vista do livro “Desenhismo” de Luiz Vidal, o autor explica: “ A
aptidão para a representação gráfica através da linguagem do desenho parece mesmo ser
intrínseca, ou seja, todos nós a possuímos ao nascer. [...]”(GOMES, 1996, p.26). O
interessante na sua abordagem é que muitas pessoas acreditam que não sabem desenhar,
porém conseguem perceber e apreciar um desenho em todas as expressões artísticas.
Conforme Rodrigues (2003), diante dos vários conceitos que atribuímos à palavra
desenho e a seus significados, o desenho é a união das linhas sobre a folha de papel, feitas
manualmente, que irão determinar no ser humano, o conhecimento e a atenção do observar
da arte. E para Azevedo Júnior (2007) podemos utilizar como ferramentas para o desenho:
um lápis,carvão, nanquim, grafite, pastel, caneta,pincel, entre outros. O resultado desse
processo é o que chamamos de desenho. O desenho passa a ser uma expressão de arte.
Os desenhos Adinkras tem suas formas com base em animais, corpos celesiais,
corpo humano, objetos feitos pelo homem, formas abstratas e vida vegetal. A sua herança
cultural africana está intimamente relacionada com seus ancestrais. Assim, os adinkras
expressam muito mais que um simples símbolo gráfico de representações puramente
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geométricas. Estudar a cultura Akan e interpretar os símbolos adinkras possibilitará o


entendimento da arte e de seus significados, possibilitando a valorização e o
desenvolvimento de uma sociedade mais justa e que dá importância à história, à filosofia, à

crenças e a potencialidade de um povo (DYBAX; VENEZA, 2016). Assim, para


conhecimento, segui na figura 2, alguns ideogramas mais conhecidos e utilizados.

Figura 2: Simbolos adinkras e seus significados.


Fonte: https://www.behance.net/gallery/50412155/AK-Adornos-e-Acessorios-Adinkra.

A utilização dos adinkras nos tecidos eram de direito e absoluto da realeza e líderes
espirituais, e só eram usados para cerimônias importantes com finalidade de homenagear
os espíritos dos ancestrais. Os símbolos eram impressos e carimbados no tecido para
emanar seu significado. As formas que possuem um alto grau de generalização,
representavam acontecimentos históricos, frases comuns proverbiais, atitudes ou
comportamentos associados com a vida quotidiana da civilização Akan. Mas, atualmente, o
uso dos simbolos Adinkras evoluiram gradativamente. Os desenhos são utilizados de forma
criativa e de expressão artistica. Os simbolos podem ser vistos no mundo da moda, usado
como instrumento de relação da modernidade com a tradição. Também estão sendo usados
como logotipos para várias empresas, instituições e igrejas. Os adinkras ganharam
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visibilidade através da venda de trabalhos artesanais e artesanato, roupas urbanas, têxteis,


tatuagens, cartões, entre outros (DADEY, 2013).
A sociedade moderna compreende que a cultura é necessária para a educação do
homem, como um indivíduo civilizado. De acordo com a perspectiva de Muniz Sodré, a
cultura estaria ligada às práticas de organização simbólica de produção real do sentido. A
ideia da palavra cultura resultaria, numa produção discursiva que busca organizar o corpo

social. Assim, apresenta-se focada na ideia de um campo normativo, um espaço próprio de


identificação de elementos comuns e de exclusão de outros. Segundo Muniz: “ [...] a cultura
passa a demarcar fronteiras, a estabelecer categorias de pensamento, a justificar as mais
diversas ações e atitudes, a instaurar o racismo e a se substancializar, ocultando a
arbitrariedade histórica de sua invenção (SODRÈ, 2005, p. 8).
O estudo sobre a cultura, abordado por Laraia (1988), mostra as correntes do
determinismo biológico e geográfico como pontos que determinam a cultura de um povo, e
convence através de estudos empíricos e análises históricas (método defendido pelo autor)
de que a cultura pode se desenvolver das mais variadas (e semelhantes) formas possíveis
em qualquer lugar do mundo. A cultura é vista como algo que faz parte da essência do ser
humano, tendo vista que é um ser social. Não existe ser humano sem cultura, e todos eles
são capazes de aprender qualquer cultura, não importando sua raça ou origem. A cultura é
tida como diretriz e formadora da visão de mundo de um indivíduo, que sem ela adoece,
morre, como quando acometido de uma doença ou quando um órgão essencial para de
funcionar adequadamente. É importante quando o autor fala que não existe cultura superior
à outra, nem mais desenvolvida, nem mais lógica. Todas elas possuem seus princípios
válidos para seus respectivos indivíduos. Antes de tudo, todas as culturas têm o mesmo
valor. Segundo Roque Laraia:
Embora nenhum indivíduo, repetimos, conheça totalmente o seu sistema
cultural, é necessário ter um conhecimento mínimo para operar dentro do
mesmo. Além disto, este conhecimento mínimo deve ser partilhado por
todos os componentes da sociedade de forma a permitir a convivência dos
mesmos. Um médico pode desconhecer qual a melhor época do ano para o
plantio de feijão, um lavrador certamente desconhece as causas de certas
anomalias celulares, mas ambos conhecem as regras que regulam a
chamada etiqueta social no que se refere às formas de cumprimentos entre
as pessoas de uma mesma sociedade. (LARAIA, 1988, p. 86).

A representação dos símbolos africanos e a utilização das cores na identificação da


cultura Akan é tida como regional. As mulheres na utilização dos panos, preferem as cores
marcantes mais suaves, como a branca, a amarela clara, a rosa, a púrpura, a azul clara, a
verde clara e a turquesa. Já os homens, preferem as cores mais escuras como a preta, a
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azul escura, a verde escura, a castanha, a amarela escura, a laranja e a vermelha.


Entretanto, atualmente, muitas pessoas fazem as escolhas das cores seguindo sua
preferência individual e pessoal (CASTRO, 2007).
Um motivo importante para se estudar a civilização Akan seria o fato de ter sido
invadida por diversos povos e ter conseguido preservar sua identidade cultural referenciados
pelos seus produtos. Assim, para o povo Akan, a cultura é transmitida por meio de signos,
com o objetivo de entender e interpretar sua civilização por meio de imagens. Os Akans,
além de terem seus trabalhos conhecidos na representação das máscaras, esculturas e nas
vestimentas, tem também tradição na criação de joias. Estas são geralmente feitas de ouro

e não são apenas ornamentais, tem como característica identificar a representatividade da


sociedade (MENEZES; CASTRO, 2009).

3. O legado africano na sociedade brasileira

A lei nº 10.639/03, torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana no


Brasil. Assim, podemos ver na sociedade brasileira a luta dos negros por igualdades através
da participação de movimentos e organizações políticas e culturais, que foram criados com
a finalidade de integrar o negro ao mercado de trabalho e na sociedade, visando o combate
a exclusão social (DYBAX; VENEZA, 2016).
Os conhecimentos relativos ao passado do povo brasileiro, foram construídos com a
força do povo negro, e que mesmo depois da sua abolição, sua liberdade ainda é
perseguida. O negro africano continuou vivendo às margens da sociedade e o preconceito
de sua cor ainda é visto nos descendentes que vivem neste país, que chamamos de Brasil
(SILVA, 2011).
As pesquisas realizadas sobre Legados Africanos pela autora Marise de Santana, são
de grande contribuição para o entendimento da cultura africana e da cultura afro-brasileira.
Segundo a autora:
“É de fundamental valor não negar, ocultar ou naturalizar as imagens que
uma palavra enuncia, todavia, esta é uma das problemáticas que emergem
com a palavra legado africano. Esta palavra carrega consigo imagens que
evoca mitos e ritos diferentes das que são sancionadas pela ordem cultural
cristã, branca e maniqueísta, portanto europeizada” (SANTANA, 2017,
p.15).

As diferentes etnias levam sobre o entendimento dos simbolismos étnicos, as


imagens que determinam o significado de Legados Africanos. As indumentárias, entre
outros, também podem ser observadas no sentido que atribuímos ao que chamamos de
Legados Africanos. Assim, a pesquisa de Edson Dias Ferreira, “Fé e Festa nos Janeiros da
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Cidade de Salvador-Bahia”, retrata as experiências de vida das mulheres participantes de


festas populares na Bahia. A leitura de imagens feita a partir da análise das palavras que
foram enunciadas através da oralidade destas mulheres. Portanto, a autora Marise de
Santana, deixa claro sua intenção com a proposta de construir conhecimentos por meio da
Antropologia com Ênfase em Culturas Afro-brasileiras. As pesquisas apresentadas
apontaram que esta área do conhecimento se municia de categorias que estão no seio dos
espaços de cultos religiosos de matriz africana para dar conta de pensar no espaço de
estudo, como é o caso da categoria, Legado Africano (SANTANA, 2017).

4. Conclusão
Pudemos observar na pesquisa que as manifestações artísticas estão relacionadas à
religiosidade e as questões ritualísticas, inspiradas nas crenças. Os Símbolos Adinkras teve
como relevância a compreensão da arte africana, mostrando que os significados vão além
da forma e da aparência. O objeto se materializa com o imaterial, além da beleza estética
expressada na tradição ancestral, conectando o passado ao presente. Assim, cada
elemento tem um significado e possue função comunicativa.
Na Comunidade Quilombola da Baixa da Linha as manifestações africanas estão mais
relacionadas à religiosidade e às crenças. Os Simbolos Adinkras não são de total
conhecimento da comunidade, embora alguns símbolos sejam bem parecidos com os
simbolos encontrados na religião do Candomblé. A comunidade tem conhecimento sobre a
cultura africana, reconhece seu legado e a importância na representatividade negra. A
comunidade negra rural da Baixa da Linha, foi certificada pela Fundação Palmares como
comunidade remanescente de quilombo em 27 de setembro de 2010.
O artigo apresenta a história da África, não conceituada por uma concepção
escravista e através de imagens do negro folclorizada, omitindo a participação cultural
africana na formação do país. Contudo, é mais que importante também deixar registrado na
nossa história que os negros africanos tiveram um papel fundamental na cultura brasileira
em vários aspectos: dança, música, religião, culinária e idioma.
Nesta pesquisa o observar da cultura africana aparece como uma arte primitiva que
foi excluída da história universal até o fim do século XVIII, considerada selvagem por não
adotar padrões estéticos europeus. E toda manifestação de arte realizada de forma diferente
da visão eurocêntrica não era valorizada e compreendida. O processo de criação da arte
africana não copia modelos, mas insere significados. Com isso, pudemos perceber no texto
que os negros afro-brasileiros estão demonstrando as desigualdades históricas para a
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população ao longo do tempo (luta por igualdade), o que influenciou na aprovação de


mudanças legislativas na educação e na lei 10.639/03.

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