Folclore Paulista 01
Folclore Paulista 01
Folclore Paulista 01
DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
DEPARTAMENTO DE MÚSICA
DISCIPLINA: ETNOMUSICOLOGIA
PROF. DR. MARCOS BRANDA LACERDA
Este texto foi elaborado no âmbito da disciplina “Etnomusicologia”, ministrado pelo Prof.
Dr. Marcos Lacerda, no Departamento de Música da ECA/USP, e pretende oferecer um resumo
comentado da pesquisa elaborada pelos integrantes do grupo sobre alguns assuntos
pertencentes ao “Folclore Paulista”.
Evidentemente, não se trata de um trabalho abrangente ou exaustivo sobre o tema, mas
sim uma tentativa de identificar alguns elementos básicos que compõem as raízes
etnomusicológicas do Estado de São Paulo e que, talvez pelo caráter cosmopolita que sua capital
adquiriu historicamente, acabaram por sair da memória coletiva presente do povo paulista.
Fizemos um levantamento de diversas expressões folclóricas presentes no estado de São Paulo,
e dentre estas escolhemos algumas para analisar brevemente suas características e contextos.
Tentamos montar um mapa aproximado de como as diversas danças e folguedos paulistas
se distribuem pelo Estado, mas sabemos que pode haver imprecisões e ausências significativas
nesse mapeamento. O objetivo foi mostrar como é diverso e rico o folclore de São Paulo, embora
a quase totalidade dos assuntos que o compõem sejam muito pouco conhecidas da maioria dos
paulistas. Provavelmente, as festas locais de algumas cidades ficam restritas ao conhecimento
dos seus munícipes, mas acabam não ganhando o conhecimento abrangente das demais
localidades.
Nossa pesquisa encontrou diversos assuntos, cada um abrangendo um conjunto de
manifestações culturais e musicais de uma região do Estado de SP, que organizamos por
mesorregião. Em cada mesorregião, em geral, existe uma motivação central, relacionada com o
processo histórico de desenvolvimento econômico e social da região.
As mesorregiões, danças e motivações, conforme ilustrado na Figura 1, são as seguintes:
Congada
Bon Caiapó
Odori
Japan
Fest Cateretê
Dança das
Fandango Fitas
Virada
Cultural Jongo Cavalaria de
S. Benedito
Dança do Samba de Cavalhada
Caranguejo Bumbo
Dança de
Dança de São Gonçalo
Pares
Fandango
Caiçara
Figura 1: Mesorregiões do Estado de SP e uma posição aproximada do principal centro de manifestação
cultura de cada Dança ou Folguedo do folclore local
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Essa lista de assuntos que localizamos configuraria um trabalho maior do que seria
possível fazer para esta disciplina. Por isso, optamos por fazer um recorte, seguindo um critério
de afinidade individual de cada integrante do grupo, e optamos por apresentar apenas as
seguintes danças/folguedos:
• Dança de São Gonçalo;
• Jongo;
• Cateretê;
• Fandango Caiçara;
• Dança de Fitas;
• Dança de Caranguejo;
• Congada.
Para cada assunto selecionado, vamos apresentar uma breve explicação das
manifestações culturais (dança, música, cantoria, procissão, etc.) e ilustrar com alguns vídeos
feitos por participantes locais de cada festividade.
DANÇA DE SÃO GONÇALO (MARCIO)
A Dança de São Gonçalo é uma manifestação folclórica que ocorre em pelo menos 10
Estados brasileiros: RN, CE, PI, PE, MA, BA, MG, MG, RJ, além de SP, onde ocorre tanto no interior
como no litoral sul. No calendário litúrgico, o dia de São Gonçalo é o 10 de janeiro, que é também
o dia do padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, mas suas comemorações no Brasil ocorrem em
diferentes datas entre meados de Dezembro e meados de Janeiro.
A Festa (ou Dança, ou Folia) de São Gonçalo, é realizada em devoção a Gonçalo de
Amarante, eclesiástico português da ordem dominicana, que gozava de grande devoção popular
desde o século XII, quando vivia como beato, tendo sido canonizado apenas em 1561. Em
Portugal, suas festas acontecem no início do mês de Junho.
No Estado de SP, foco deste trabalho, a festa é realizada sobretudo no interior, mas
também no litoral do Estado, em mais de 20 cidades, tais como: Atibaia, Aparecida, Bom Jesus
dos Perdões, Capão Bonito, Capela do Alto, Jarinu, Itapeva, Joanópolis, Lagoinha, Mairiporã, Mogi
das Cruzes, Natividade da Serra, Nazaré Paulista, Olímpia, Piracaia, Redenção da Serra, Santo
Antônio do Pinhal, Ribeirão Branco, Ribeirão Grande, São Luís do Paraitinga, São José dos
Campos, Santa Isabel e Tatuí.
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As festas acontecem de formas um pouco distintas entre litoral e interior:
• No litoral, a dança acontece ao som de violas, rabecas, cordas e caixa clara, de
forma valsada e solene, executada pelos pares;
• No interior, a dança é também solene, mas tem duração que pode variar de 15
minutos a diversas horas de duração. A instrumentação é baseada em violas
caipiras. A Festa de São Gonçalo se confunde, em algumas cidades do interior, com
a Festa do Divino Espírito Santo.
A festa é sempre caracterizada por dança, louvação e pagamento de promessas. São
Gonçalo é considerado santo casamenteiro, razão pela qual a dança é feita aos pares, que seguem
em direção ao altar do santo, fazem a louvação e voltam para o final da fila, em movimentos para
esquerda e para direita.
A sequencia da festa é mais ou menos a seguinte:
• Procissão: com dançadores e rezadores, carregando santos e cruzes;
• Mesa dos Anjos: comida farta posta junto com figuras de santos, seguidas de rezas
para as crianças e depois para todos; é uma espécie de abertura;
• Dança: é realizada em diversos altares, em ciclos chamados “rodeadas”,
sequencias coreografadas comandadas pelos instrumentistas; em algumas
cidades, há uma divisão de papéis durante a dança, que serão apresentados mais
adiante;
• Cururu: última volta de dança, com movimentos distintos, em círculos, juntando
todos os grupos de todos os altares, fazendo um fechamento da festa.
Em algumas cidades, como Nazaré Paulista, há uma divisão dos papéis:
• Mestres/Contramestres: violeiros que entoam versos improvisados e puxam a os
demais grupos de tocadores e dançadores;
• Forgazões: bandolinistas (quando há) que vêm atrás dos violeiros fazendo um
acompanhamento instrumental;
• Tipeiros: são cantadores do “tipe”, espécie de lamento que harmoniza com os
instrumentos, fazendo uma espécie de segunda voz;
• Palmeiros: batem palmas e pés de forma rítmica, similar à catira;
Alguns exemplos de vídeos das Danças de São Gonçalo, disponíveis no YouTube:
• Aparecida: https://youtu.be/Nns936-fen8
• Nazaré Paulista: https://youtu.be/NRb06EN4hwA
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• Olímpia: https://youtu.be/pu6bFLHzZ8o
• Piracaia: https://youtu.be/8fNxXWPLjAU
• Ribeirão Branco: https://youtu.be/Krv7Yny7J2s
• São Luiz do Paraitinga: https://youtu.be/LdzC_zUx0mU
Em comum, podemos dizer que em todas as localidades em que se realiza, a Festa de São
Gonçalo é uma manifestação sociocultural abrangente, compreendendo música, dança, religião,
congraçamento social e fortalecimento das raízes identitárias locais.
JONGO (LUÍSA)
O jongo é uma tradição de origem Banto (também as vezes grafada como Bantu) que
ocorre em diversos pontos dos estados da região sudeste. Em São Paulo, concentra-se
principalmente na região do Vale do Paraíba, em cidades como Cunha, Lagoinha,
Pindamonhangaba, São Luís do Paraitinga, Taubaté, Guaratinguetá, Piquete. Segundo
informação do Instituto Moreira Salles, o jongo
Consolidou-se entre os escravizados que trabalhavam nas lavouras de café e
cana-de-açúcar, principalmente no vale do Paraíba, constituindo-se como um elemento
de identidade e resistência cultural. O jongo foi historicamente reservado aos homens –
as mulheres podiam dançar, mas não compunham e nem tocavam – até que figuras como
Tia Maria do Jongo (RJ) e Dona Tó (SP) quebraram esse paradigma. (IMS, 2019)
Importante ressaltar que a Dona Tó, citada acima, está relacionada ao jongo do
Tamandaré, em Guaratinguetá. O jongo, como muitas expressões afro-brasileiras, possui
variações pelo território nacional. O jongo de São Paulo, analisado aqui, tem semelhanças e
diferenças com o jongo da Serrinha, do Rio de Janeiro, por exemplo. Isso pode ser notado tanto
na dança (a carioca se assemelha mais a umbigada do que a dança encontrada em São Paulo), na
música (nas claves rítmicas por exemplo), e até mesmo na escolha dos orixás homenageados:
em São Paulo se encerra o canto com a palavra “cachoeira” (referência a Oxum), enquanto no Rio
de Janeiro o jongueiro fala “machado” (referência a Xangô).
O jongo é uma festa que ocorre noite adentro até o amanhecer. É uma ocasião com muita
comida, que hoje inclui pessoas de todas as idades no canto e na dança, que ocorre
tradicionalmente em torno de uma fogueira, que serve tanto para aquecer as pessoas quanto os
tambores. Uma festa ligada a ambientes externos, portanto. Originalmente, dançavam de pés
descalços e roupa branca, mas hoje é possível encontrar diversas modernizações nos jongos que
se mantiveram fortes. A festa pode estar associada a comemorações religiosas, por exemplo São
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João, Santo Antonio e São Pedro. Também é uma forma de homenagem ao São Benedito e
celebração do 13 de maio, data que marca a abolição da escravatura no Brasil.
A instrumentação é composta essencialmente pelo canto, as palmas e os tambores,
podendo ter também cuícas (puíta ou angoma-puíta) e chocalhos (guaiás) feitos com latas
usadas ou folhas-de-flandres. As cantorias são chamadas de pontos e são puxadas por um solista,
o jongueiro. Alessandra Ribeiro, da comunidade de jongo Dito Ribeiro, diz que “a poesia
metafórica do Jongo permitiu que seus praticantes, por meio dos pontos, se comunicassem de
forma que capatazes e senhores não os compreendessem, possibilitando fugas e emboscadas”
(2011). Os tambores são saravados, respeitados e cumprimentados na roda, pois eles
representam os orixás. Totonho, do jongo Tamandaré, diz em um documentário que pode ser
encontrado em trechos no YouTube: “Quando começa o jongo tem que rodear o jongo com pinga
também, porque na roda de jongo tem muita entidade. Tem coisas boas, coisas pesada, coisas
perigosas que a gente vai chamando cada vez mais”1.
Existem dois tambores no jongo: o candongueiro e o tambu (também chamado de
caxambu). O candongueiro é um instrumento menor, que mantém a levada firme. O tambu é um
tambor maior que realiza as variações rítmicas. Na figura 1 está registrado um dos
acompanhamentos mais tradicionais destes dois tambores e como as palmas são batidas nas
rodas.
Figura 1: Levada de Jongo
Fonte: Elaborada pelos autores
A dança se organiza em roda, com um casal por vez no centro da roda. A dança do jongo
paulista tem uma coreografia fixa, pré-determinada, no modo como o casal se movimenta em
círculos, girando sempre para a direita. Porém há liberdade de movimentos e estilos de dança
1 Infelizmente o único acesso que tivemos aos documentário são estes do Youtube, que nem sempre são
2 Não pudemos identificar o registro de autoria deste ponto.
3 Não pudemos identificar o registro de autoria deste ponto.
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pelo coro em canto com “Lalaê” ou “Ilaiê” e variações destas palavras, na mesma melodia e ritmo.
Alguns exemplos musicais serão mostrados na apresentação4, e estão todos também destacado
nas referências do trabalho.
CATERETÊ (VINÍCIUS)
no ritmo: o que está apresentado aqui é uma possibilidade encontrada para ilustrar de modo geral o estilo e a
tradição.
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batida dos pés no chão. Na Catira os dançarinos são organizados em duas fileiras, uma em frente
à outra. Na extremidade de cada uma delas fica o violeiro que tem à sua frente a sua “segunda”,
isto é, outro violeiro ou cantor que o acompanha, entoando uma terça abaixo ou acima. Durante
a prática da dança, os participantes intercalam as batidas de mãos e pés com pulos. Entre os
principais passos da catira estão:
• Rasqueado: A dupla de violeiros tocam uma moda de viola. Os dançarinos batem
as mãos e o pés, intercalando com pulos para formar o ritmo da dança. Os
dançarinos podem descansar quando os violeiros começam a entoar a moda de
viola;
• Escova: Os dançarinos formam duas fileiras, uma em frente da outra e dão seis
pulos batendo as mãos e os pés.
• Movimento serra acima: os dançarinos alternam batidas das mãos e dos pés com
voltas seguindo da esquerda para direita;
• Movimento serra abaixo: os dançarinos alternam batidas das mãos e dos pés
com voltas completas no espaço em que a dança está acontecendo, seguindo para
trás fazendo movimentos da esquerda para direita;
• Movimento recortado: os dançarinos mudam constantemente de fileira e
posição;
• Movimento levante: os dançarinos cantam junto com os violeiros, fazendo um
grande coro.
As músicas que acompanham a Catira são relacionadas com a cultura do interior e a vida
no campo. A “Homenagem ao Catira” de Luiz Fernando e João Pinheiro nos serve de exemplo
para compreender essa temática.
Homenagem Ao Catira (Luiz Fernando e João Pinheiro)
Afirme o pé companheiro nós vamos entrar na função
Pra cantar um recortado eu mudei a afinação
Foi pra atender um pedido, o chamado de um irmão
Lá pras bandas de Rio Claro nós vamos é dar trabalho
Pros campeão da região
A festa vai começar, abre a roda no salão
Grupo Catira Brasil é líder na tradição
Moçada boa no pé não fica parada não
É escola no catira o mundo inteiro admira
Já vem de seis geração
Bate palma rapaziada, bate forte o pé no chão
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É no estilo mineiro que eu faço a saudação
Pra cantar um improviso eu canto com perfeição
Canto em qualquer altura, não toco em viola dura
Só gosto é de trem bão
Esse é o derradeiro verso guarde a viola e o violão
Vai aqui nossa homenagem e o nosso aperto de mão
Aos amigos do catira orgulho do meu sertão
Pros amigos verdadeiros Luiz Fernando e João Pinheiro
Pede paz e proteção.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=2lZJBKXL2lc&feature=emb_logo
DOIS COM DOIS É QUATRO
DOIS COM DOIS É QUATRO
PASSA AMOR INGRATO.
QUATRO COM DOIS É SEIS
AMOR INGRATO PASSA OUTRA VEZ.
EU FUI NÃO SEI AONDE
MANDADO POR NINGUÉM
FUI BUSCAR NÃO SEI O QUÊ
PRA ENTREGAR NÃO SEI PRA QUEM.
ESTA É A HISTÓRIA DA SERPENTE
QUE DESCEU O MORRO PARA PROCURAR
UM PEDAÇO DO SEU RABO
E VOCÊ É,...
MAIS UM PEDAÇO DO MEU RABO.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=M03KLqHLBi0
FANDANGO CAIÇARA – LITORAL SUL DE SÃO PAULO (GABRIEL)
Figura 3: Mapa da Região do Vale do Ribeira, com destaque em laranja para a região de Iguape e Cananeia.
Os Caiçaras
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A cultura caiçara é fruto da miscigenação do índio e mais tarde dos negros junto aos
imigrantes europeus que ali se fixaram. Enquanto o caipira ligado à terra, o Caiçara de maneira
diversa se liga a terra e o mar. É fruto da cultura cabocla, da mistura de povos, da vida nos sítios
com a família e comunidade vivendo majoritariamente do que pesca e do que planta.
Organização do Fandango
No Fandango Caiçara, música e dança são elementos inseparáveis. Cada fundo musical é
chamado de “marca” ou “moda” e possui toques e danças específicas. Estas se dividem
basicamente em calçados ou bailados - dançados em pares por homens e mulheres sem
coreografia. Também se dividem em batidos e rufados. Nos batidos os homens usam tamancos
feitos de madeira resistente como Canela ou Laranjeira, batendo palmas e tamanqueando no
assoalho de madeira seguindo a marca da moda executada. Em muitos dos casos, o tamanco
também está atuando como instrumento percussivo. As mulheres acompanham os dançadores
em coreografia circulares onde os pares vão trançando figuras, sendo a mais comum de um “8”
em sentido anti-horário.
Os grupos musicais que acompanham o Fandango são compostos por dois tocadores de
viola que cantam as melodias em intervalos de terças, um tocador de rabeca chamado de
rabequista ou rabequeiro e um tocador de adufo, este uma espécie de pandeiro artesanal. Em
algumas outras regiões ainda litorâneas, além destes instrumentos, podem ser vistos: violões,
bandolins, cavaquinhos, surdos e tantan. A prática de difusão do Fandango, assim como em
outras manifestações populares, é exclusivamente oral, sendo uma prática que é cultivada em
pequenas comunidades ao passar de geração em geração.
O Fandango como Patrimônio Histórico de Natureza Imaterial
O Fandango Caiçara, em novembro de 2012 foi registrado como “Patrimônio Cultural do
Brasil” junto ao IPHAN. A salvaguarda de um bem cultural de natureza imaterial tem por intuito:
• Apoiar a continuidade de sua prática a partir de festivais e outros eventos;
• Melhorar as condições sociais de seus praticantes, estes predominantes nas
regiões litorâneas do sul de São Paulo de norte do Paraná;
• Atuar nos materiais de transmissão e difusão da cultura caiçara a partir do
Fandango enquanto gênero da cultura popular brasileira.
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Figura 4: Imagem de um grupo de Fandango registrado pelo IPHAN em 2012,
com destaque para dançarinos e dançarinas vestidos a caráter e
pelos instrumentistas de Rabeca, Adufe/Pandeiro e Viola Branca.
Disponível em:
https://soundcloud.com/gabriel-duarte-158/sets/fandango-caicara/s-5AFz0YT6cse
CAVALHADA (CAIO)
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Local das Imagens: São Luís do Paraitinga Fonte: Google Imagens.
A Dança de Fitas é uma dança popular presenta em vários estados brasileiros, assim como
em outros países sul-americanos como Argentina e México. Originária da Ilha dos Açores, onde
hoje é Portugal, espalhou-se pelo Brasil durante o período colonial e hoje é uma das principais
danças das festividades do período junino.
Embora seja uma dança popular, não possui um estilo de música próprio, utilizando músicas
de outras danças como a Quadrilha ou a Polca. A instrumentação das bandas que tocam para a
Dança de Fitas. Seguem o mesmo padrão das músicas juninas em geral, assim como seus ritmos
são cadenciados.
A coreografia segue o ritmo dos instrumentos musicais, como sanfona, violão e
pandeiro. A Dança da Fita tinha sua própria música, uma marchinha
acompanhada por violas, rabecas, entre outros instrumentos, por causa da
regionalização, passou a ter variações na música e nos instrumentos. (Texto
extraído do Portal de Cultura do Estado de Alagoas.)
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Sobre a coreografia, os participantes são divididos em dois grupos. Orbitam um grande
mastro de madeira e cada um segura uma fita presa ao topo do mastro. Os participantes devem
danças dando voltas nesse mastro, de forma a enrolas as fitas. Continuam dando voltas até que
não seja mais possível prosseguir. Em sequência, desenrolam as fitas do mastro dançando
novamente em sentido contrário.
Este seminário procura estudar a dança de fitas do estado de São Paulo. Entretanto, não
existe grande diferença entre a dança praticada aqui e em outros estados. O portal de cultura do
estado de Alagoas mostrou-se como uma das principais fontes de informação sobre a dança.
Segundo tal portal, a dança de fitas representa a saudação aos novos brotos de uma árvore após
um longo e rigoroso inverno. Trata-se de uma comemoração da vida que volta a surgir ao início
da primavera. Na cidade de São Luís do Paraitinga, frequentemente esta dança popular de como
participantes jovens garotas, mais uma alusão à vida nova que se estabelece. O site oficial da
Prefeitura de São Luís apresenta inúmeras informações sobre a manifestação. Sobre essa dança,
o site diz:
Um grupo de meninas da cidade realiza evoluções ao redor de um mastro de fitas em trajes
multicoloridos ao som de marchinhas e polcas. O mastro do centro tem dois metros de
altura e dele pendem seis fitas vermelhas e seis azuis. Os primeiros passos lembram um
pouco a quadrilha das festas juninas, mas logo o mastro graças ao entrelaçamento das fitas
fica todo quadriculado em azul e vermelho. Por muito anos a dança de fitas de São Luiz do
Paraitinga foi liderada e organizada pela Sra. Didi Andrade. Atualmente sua sobrinha Rosa
Antunes é quem cuida do grupo, dando continuidade a essa importante manifestação da
cultura local. (Prefeitura de São Luís do Paraitinga, disponível em
https://www.saoluizdoparaitinga.sp.gov.br/cidade/manifestacoes-culturais.)
Assim como a cavalhada, São Luís mantém viva a tradição da dança de fitas em suas inúmeras
manifestações populares de dança e folguedos. Visitar São Luís em época de festa é um dever de
todos aqueles que o podem realizar.
Local das Imagens: Imagens 1 e 2: São Luís do Paraitinga. Imagem 3: Botucatu. Fonte: Google
Imagens.
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CARANGUEJO (ALANA)
CONTEXTO HISTÓRICO
Embora seja uma manifestação cultural presente em todo o Brasil, a Congada teve sua
origem traçada à época do ouro das Minas Gerais. A região do planalto de São Paulo não era tão
próspera no final do século XVII, pois transferir a Cana de Açúcar das férteis terras do interior
para o litoral paulista, barrado pela Serra do Mar, não era uma tarefa fácil . Assim, os moradores
brancos viviam com uma agricultura de subsistência, preferindo escravizar indígenas, já que não
podiam pagar por escravos negros. Porém, a situação mudou quando se descobriu o ouro no
final do século nas minas do interior da região Sudeste. Muitos foram atraídos às cidades
mineiras que, até então, fazia parte da Capitania Paulista. Este ouro permitiu o financiamento do
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comércio de escravos, o que permitiu que uma grande massa de negros africanos fosse trazidos
às regiões das minas.
Os cativos africanos, proibidos pelos brancos, não poderiam manifestar sua cultura
livremente como em sua terra natal. Assim, houve uma grande apropriação da cultura católica
por parte dos negros para, então, poderem fazer seus rituais de maneira mais discreta. O
sincretismo é a raiz de muitas das danças afro-brasileiras.
A ORIGEM DOS GRUPOS DE CONGADO
Os grupos de congado estão associados diretamente à devoção a Nossa Senhora do
Rosário. Antes que o ouro da Capitania Paulista fosse descoberto, já havia em Portugal, Alemanha
e em países Africanos irmandades do Rosário e devoções à Nossa Senhora do Rosário que já
associavam diversos elementos existentes no congado atual.
É difícil estabelecer uma origem real ao congado do século XXI. No estatuto da Irmandade
da Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de Ouro Preto, está colocado que para a realização da
festa de Nossa Senhora do Rosário, esta irmandade teria um rei e uma rainha negros de qualquer
nação ou estado (livre ou cativo). Estes reis, ao fazerem as manifestações da festa (procissões,
missas e eventos públicos), poderiam estar presentes nessas festas com uma corte. Estes reis
precisavam de um grupo para arrecadar dinheiro para as festividades. No século XVIII, existiam
grupos com a bandeira de Nossa Senhora do Rosário organizando essas festas, os quais
cantavam e dançavam participando dos rituais religiosos nos padrões da igreja católica, mas que
também tinham padrões e rituais próprios das manifestações religiosas que aprenderam nas
suas terras e com seus povos.
É difícil explicar como o congado se desenvolveu no Sudeste, porque não existe registro
sobre a atuação e o papel dos negros. Em geral, só se tem registros dos negros quando eles
cometem alguma contravenção ou sob o olhar do dominador. O congado em si era uma
manifestação pagã, pois os grupos de congo não era permitido nas igrejas. Mas os negros
começaram a cultuar os santos católicos, não deixando de cultuar seus orixás.
Segundo a lenda, Chico Rei era um rei africano que foi trazido como escravo ao Brasil.
Durante sua vida, ele conseguiu a sua alforria e a dos seus, compondo uma festa que hoje
conhecemos como Festa de Nossa Senhora do Rosário. A partir dessa festividade, vieram as
danças de Congo, que é uma maneira de se dançar em agradecimento aos orixás. Não existe
Congada na África, pois é uma manifestação sincrética brasileira.
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UMA DAS TRADIÇÕES MUSICAIS DO CONGADO
Uma congada (ou congado) é formada da seguinte maneira: à frente da guarda vai a
bandeira ou estandarte dos santos de devoção ou o que dá nome à guarda. Pode haver uma ou
mais bandeiras. A ordem dos instrumentos que compõem a guarda é dos mais agudos aos mais
graves. Então, temos primeiramente temos os instrumentos de pergunta (tambores e alfaias
agudos) e, depois, caixas de resposta (graves).
Existem vários tipos de toques: os de caminhada, os lamentos, entre outros. Cada toque
depende da guarda. Algumas usam toques mais enérgicos; outros, menos enérgicos. Os capitães
possuem um tambor de repique quadrado chamado tamboril (ou tamborim) para puxarem a
célula rítmica.
As vestimentas do congo variam bastante. Pode representar um valor (o branco da paz)
ou o santo de devoção (azul claro ou rosa claro para Nossa Senhora do Rosário, marrom para
Santa Efigênia etc.). Cada capitão possui um quepe (chapéu militar) revestido com flores e fitas,
sendo que cada uma delas representa um santo. Há três espelhos na frente representando a
trindade divina (Pai, Filho e Espírito Santo). Dentro da cerimônia, há também uma luta de espada
entre os três capitães representando a luta entre o bem e o mal. Enquanto dois lutam, um terceiro
usa a espada cortando e equilibrando a energia dos dois lados, significando que ninguém é tão
bom e ninguém é tão mal.
AS SUBDIVISÕES E VARIANTES
Os Congados, de maneira generalizada, podem subdividir-se em quatro subgrupos:
Candombe, Congado, Congo e Moçambique. Esta última é a única guarda na hierarquia do
congado que pode tirar a Nossa Senhora do Rosário de dentro da igreja, tendo o toque mais
marcial entre os quatro grupos. Em sua orquestração, há as caixas ou alfaias de som grave e
pulsante, as gungas amarradas ao pé e o patangome, um instrumento mineiro criado por
moçambiqueiros que imita o som da bateira (instrumento de tirar o ouro). Esse conjunto de
instrumentos é o que forma o ritmo do Moçambique, que ainda possui várias ramificações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Disponível em:
https://www.mundodadanca.art.br/2010/03/danca-folclorica-gaucha-parte-1.html.
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http://www.educacaofisica.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=423.
Disponível em: http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/temas/sao-paulo/cultura-e-folclore-
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Disponível em: https://estanciavirtual.com.br/inicial/2018-09-02-caranguejo-c3-89-minueto-
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Acesso em 25 nov 2020.
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%20Catira%20tem%20sua%20origem%20muito%20discutida.&text=Diversos%20autores%
20nos%20contam%20que,Concei%C3%A7%C3%A3o%2C%20da%20qual%20era%20devoto.
Acesso em 29 nov. 2020.
II Encontro de Tambores - Jongo do Tamandaré. São Paulo, 2017. 1 vídeo (12 min). TZÉ
Filmes. Publicado pelo canal Mucambos de Raíz Nagô. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Lk3_nwcw28E . Acesso em 25 nov. 2020.
PONTOS para abrir o jongo. Guaratinguetá. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal Outras vozes.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=lkNS6T_-4f0 . Acesso em 25 nov. 2020.
E-book "Danças Folclóricas & Tradicionais- Uma proposta pedagógica".
FESTANÇA - Feiticeiros da Palavra. [s.l.], 2000. 1 vídeo (8 min). Publicado pelo canal Outras
vozes. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tfOoXRGFNT0 . Acesso em 25 nov.
2020.
GRUPO Cachuera! - Roda de Jongo no Espaço Cachuera (Ponto de Jongo do Tamandaré,
Guaratinguetá--SP). São Paulo, 2012. 1 vídeo (2 min). Publicado pelo canal Pôr do Som.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=a_1uj0e3bD8 . Acesso em 25 nov. 2020.
GRAVAÇÃO com Mestre Jefinho e Regina | "Jongueiro Velho". Guaratinguetá, 2010. 1 vídeo (2
min). Publicado pelo canal Mestres Navegantes. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=45zRLLKqcTY . Acesso em: 25 nov. 2020.
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