Massarani (2010)
Massarani (2010)
Massarani (2010)
1ª edição
Rio de Janeiro
Museu da Vida / Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz
2010
Título original: Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana.
Tiragem: 1ª edição – 2010 – 1000 exemplares
Projeto Grá co: Museu da Vida, Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz (Brasil)
Barbara Mello (coordenação)
Asociación Boliviana de Periodismo Cientí co (Bolívia)
Financiamento do projeto:
Programa Iberoamericano de Ciencia y Tecnología para el Desarrollo Centro de Estudios sobre Ciencia, Desarrollo y Educación Superior (REDES)
(Cyted) (Argentina)
Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (Portugal)
Apoio:
SciDev.Net Centro Internacional de Estudios Superiores de Comunicación para Améri-
ca Latina (CIESPAL) (Equador)
Observatorio de la Comunicación Cientí ca, Universitat Pompeu Fabra
(Espanha)
Ponti cia Universidad Javeriana (Colômbia)
Universidad Católica Andrés Bello (Venezuela)
Universidad de la Habana (Cuba)
Universidad de Pïnar del Río (Cuba)
Universidad Nacional Autónoma de México (México)
Universidad Nacional de San Martín (Argentina)
Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil)
Universidade Federal do Rio de Janeiro (Brasil)
Catalogação na fonte
Biblioteca do Museu da Vida
M414j Massarani, Luisa (coord.).
Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana. /
Coordenação: Luisa Massarani. Rio de Janeiro: Fiocruz / COC /
Museu da Vida, 2010.
112p.
ISBN - 978-85-85239-66-4
Núcleo de Estudos da Divulgação Cientí ca / Museu da Vida / Casa de Oswaldo Cruz / Fundação Oswaldo Cruz
Av. Brasil, 4365 - Manguinhos - Rio de Janeiro - RJ - CEP 21040-360
Tel./Fax: (21) 3865-2121 / www.museudavida. ocruz.br / nestudos@coc. ocruz.br
Por que comunicar temas de ciência e tecnologia ao público?
(Muitas respostas óbvias... mais uma necessária)
Yurij Castelfranchi
Não é di cil encontrar boas razões para a comunicação pública da ciência e da tecnologia. Numa sociedade
que gosta dizer de si que é uma “sociedade do conhecimento”, “em rede”, “baseada na informação”,
ressaltar o valor da educação em ciências, da divulgação e do jornalismo cien co é quase óbvio. Aqueles
que gostam de censos e taxonomias podem classi car ao menos uma dúzia de repostas relevantes para a
pergunta “porque é importante comunicar a ciência aos públicos ‘leigos’?”. Por um lado, explicar, divulgar,
“democra zar” o conhecimento é uma das obrigações morais dos cien stas, como muitos grandes cien stas
sen ram e declararam1. Por outro lado, conhecer, apropriar-se do saber, é um direito fundamental de
todo cidadão de uma democracia e, hoje, a cidadania não pode senão incluir uma “cidadania cien ca”.
Contudo, limitar-se a tal consideração dual (dever de comunicar para os produtores de conhecimento,
direito de conhecer para os “públicos leigos”) cons tui uma esquema zação simplista. Porque, cada vez
mais, o oposto também é verdade: para muitas pessoas, ter acesso ao conhecimento técnico e cien co
se tornou, além de um direito, uma necessidade ou um dever social; e dialogar, interagir com grupos de
“não-especialistas”, para muitas ins tuições cien cas e para muitos cien stas, está se tornando, além
de um honrado hobby ou do cumprimento de uma missão, também uma necessidade ou até mesmo um
“direito” a ser reivindicado na arena de debates sobre controvérsias tecnocien cas.
Thomas e Durant (1987), Gregory e Miller (1998) e diversos outros pesquisadores juntaram e classi caram
os diferentes argumentos para comunicar a ciência aos públicos. Uma boa comunicação da ciência e da
tecnologia traz vantagens para a nação como um todo, bene cios para os cidadãos e é crucial também
para a própria ciência e para os cien stas.
1 A lista de grandes cien stas que se dedicaram com paixão à divulgação cien ca é enorme. Para Albert Einstein,
apenas um exemplo entre muitos, “é necessário que cada homem que pensa tenha a possibilidade de par cipar
com toda lucidez dos grandes problemas cien cos de sua época, e isso mesmo se sua posição social não lhe
permite consagrar uma parte importante de seu tempo e de sua energia à re exão cien ca. É somente quando
cumpre essa importante missão que a ciência adquire, do ponto de vista social, o direito de exis r” (ver Moreira,
Studart, 2005, p. 142).
Mas a comunicação da C&T possui também uma grande importância polí ca. Desde a Segunda Guerra
Mundial, vários governos se deram conta de que, para garan r a supremacia militar e a segurança
nacional, são necessários sistemas baseados em alta tecnologia e conhecimento de ponta em quase
todas as áreas. Junto com os exércitos e as forças de segurança convencionais, é necessário dispor de um
exército de técnicos e pesquisadores, que só pode ser gerado e renovado a par r, entre outras coisas,
de um sistema de educação formal e não formal em ciências, bem como de divulgação e jornalismo
cien co de qualidade. Também é preciso que o resto da população aprove, ou ao menos não ques one,
inves mentos em P&D que, em muitos países chamados desenvolvidos, não são irrelevantes, podendo
passar de 2% do PIB. A corrida espacial é um exemplo de como, na época da Guerra Fria, foi importante
jus car gastos notáveis em P&D e em tecnologias que não possuíam bene cios sociais imediatos, em
nome da segurança nacional, do pres gio do país, da liberdade, mas também do fascínio da inves gação
de fronteiras desconhecidas e da exploração do homem no cosmo. Em geral, o pres gio e a in uência
de uma nação se cons tuem também a par r dos sucessos em campo cien co e tecnológico, e estes
dependem do suprimento de pessoal técnica e cien camente quali cado, bem como de uma habilidosa
comunicação e divulgação cien ca. As nações que possuem mais patentes, que demonstram ser capazes
das maiores inovações tecnológicas, ou que implementam sistemas inovadores de gestão dos recursos
naturais, de geração ou distribuição de energia, de mi gação de danos ambientais, são também as nações
que terão mais autoridade em diversos foros internacionais (acordos sobre biodiversidade ou mudanças
climá cas, acordos sobre comércio ou direitos de propriedade intelectual etc.). A comunicação pública
da ciência serve, então, tanto como “adubo” para um sistema de C&T compe vo, como para demarcar
sucessos, primados, supremacia neste campo.
Contudo, a maior parte das razões para as quais cien stas e comunicadores consideram importante o
trabalho de difusão do conhecimento cien co é ligada ao bom funcionamento da democracia. Inúmeros
debates poli camente, e camente, economicamente relevantes são atravessados hoje por informações
cien cas e técnicas. O direcionamento e a gestão não apenas da pesquisa cien ca e das aplicações
tecnológicas, mas também da polí ca nacional e internacional como um todo, envolvem, cada vez mais,
a sociedade civil. O cidadão par cipa, de forma indireta (com suas escolhas como consumidor, eleitor,
educador etc.) ou de forma direta (protestos, lobbies, greves, referendos etc.) em tomadas de decisões
sobre temas importantes e tão variados como transporte, tratamento de lixo, drogas, polí cas sanitárias,
experimentações médicas, comida transgênica, pes cidas, usinas hidrelétricas e nucleares, gestão das
áreas indígenas, manejo orestal e inúmeras outras. Para tanto, precisa de uma informação cada vez mais
aprofundada e de qualidade.
Por isso, a difusão da cultura cien ca, dizem muitos autores, serve, ao mesmo tempo, para o bem da
democracia e para o bem do cidadão. Em dois sen dos. De um lado, por sua u lidade instrumental: a
compreensão de ciências e tecnologia é ú l do ponto de vista prá co, como instrumento para tomar
decisões pessoais racionais e informadas sobre dieta, segurança, sobre como inves r dinheiro, como se
formar pro ssionalmente, como avaliar a propaganda, como votar, como escolher a escola melhor para os
lhos ou o bairro onde morar. De outro lado, a cultura cien ca possui um valor que não é instrumental,
Figura 1. Por que comunicar C&T para o público? Alguns elementos recorrentes nas mo vações
declaradas por cien stas e polí cos.
Consenso
Para o povo
Para a ciência
Melhorar credibilidade da C&T
Apoio social
Contribuir para compreensão
Mostrar o valor de C&T Aceitação para ciência
Em suma, em muitas de tais argumentações está presente a ideia de que comunicar a ciência não é apenas
uma obrigação para os produtores de conhecimento, nem apenas um direito do cidadão, mas uma
necessidade polí ca, econômica, estratégica para o funcionamento do capitalismo, para uma dinâmica
democrá ca saudável, para garan r compe vidade, para formar trabalhadores, e assim por diante.
Também é fácil demonstrar que, cada vez mais, os policy-makers, os empreendedores, os cien stas e os
gestores estão cientes de tais necessidades: é su ciente analisar textos de leis, declarações, debates.
O conjunto de tais a rmações faz emergir, então, uma resposta talvez menos evidente à pergunta sobre os
porquês da comunicação pública da ciência: hoje, a comunicação da ciência não é apenas uma escolha,
uma opção dos cien stas, um dever de alguns ou um direito de outros, mas também uma parte siológica,
intrínseca, inevitável, do funcionamento da tecnociência.
Neste cenário, os sociólogos tentaram iden car as especi cidades do funcionamento da ciência
contemporânea. Alguns falaram de uma ciência que, a par r da segunda metade do século 20, teria se
tornado “pós-industrial” e “pós-acadêmica” (Ziman, 2000). Para outros, exis ria hoje um novo “modo
de produção” do conhecimento cien co, o “Modo 2”, con gurando até um novo “contrato social entre
ciência e sociedade” (Nowotny, Sco , Gibbons, 2001; Gibbons, 1999). Outros autores, ainda, falaram de
uma ciência “pós-normal” (Funtowicz, Ravetz, 1997) ou, ainda, de uma nova con guração nas relações
entre universidades, empresas e governos (Leydesdor , Etzkovitz, 1996). Não importa entrar em detalhes.
O que importa é que, apesar das divergências, todas essas análises mostram uma maior, mais capilar,
transversal e cada vez mais necessária interação entre cien stas e não-cien stas na gestão e na legi mação
da pesquisa cien ca, na difusão e apropriação da informação cien ca e até mesmo, segundo alguns, na
produção do conhecimento.
Para os idealizadores do “Modo 2”, por exemplo, a ciência contemporânea seria, inevitavelmente, mais
re exiva, avaliada não apenas por cien stas, mas por grupos sociais variados; gerida, nanciada e
direcionada cada vez mais a par r de uma par cipação social ampliada. Não se poderia fazer ciência
sem a par cipação de vários “públicos”. Analogamente, para Ziman (2000), a ciência “pós-acadêmica”
se tornou “importante demais” (do ponto de vista de seus custos econômicos, de sua relevância
social, de sua abrangência e de suas implicações é cas) para ser deixada apenas com os cien stas.
Como consequência, os cien stas e suas ins tuições precisam negociar e dialogar com atores sociais
diversos (polí cos, empresários, burocratas, administradores, movimentos sociais, grupos de opinião,
líderes religiosos, consumidores) para garan r sua legi mação, para que o conhecimento produzido seja
reconhecido como con ável, para receber nanciamentos, para não ser boicotados etc. Para Funtowicz
e Ravetz (1997), por m, a “ciência pós-normal” se caracteriza, dentre outras coisas, pelo surgimento de
“comunidades ampliadas de pares”, capazes de julgá-la e direcioná-la. A comunicação pública, em suma,
torna-se elemento cada vez mais central para o funcionamento da ciência.
Não é di cil encontrar indícios desse funcionamento mais complexo e em rede da ciência contemporânea,
bem como a presença de processos de comunicação mul direcionais e transversais:
b) Na polí ca governamental, é fácil iden car ins tuições e en dades que surgiram, nas úl mas
décadas, para escutar ou dar voz à sociedade civil (comitês mistos de biossegurança e bioé ca, comitês
parlamentares para o debate ou a inves gação de determinados temas tecnocien cos etc). Uma série
de operações, às vezes e cazes, outras vezes de fachada ou demagógicas, sinalizam uma nova retórica
governamental, que pretende permi r não apenas a inclusão social, mas uma par cipação social
“de baixo para cima” na tomada de decisões sobre aspectos importantes da C&T contemporânea.
Nos úl mos anos, se mul plicaram, não apenas em países do norte do mundo, experimentos
como conferências de consenso, júris cidadãos, referendos sobre temas tecnocien cos diversos
(privacidade informá ca ou privacidade gené ca, comida transgênica, pesquisa com embriões,
antenas de telefonia celular, indústria nuclear...).
c) Há vários exemplos recentes de prá cas de co-produção de conhecimento cien co, não apenas
no sen do do renovado interesse da comunidade cien ca para os saberes “locais” e “indígenas”, mas
também em casos em que movimentos sociais ou grupos de pressão conseguiram par cipar a vamente
na avaliação, na gestão, no nanciamento ou até mesmo na produção de conhecimento cien co
(Epstein, 1995; Bucchi, 2009; Castelfranchi, 2002; Castelfranchi, Pitrelli, 2007; Jasano , 2004).
Esses exemplos (e poderíamos apresentar muito mais) mostram que a comunicação da ciência é hoje um
ecossistema complexo, em que os canais tradicionais da educação e divulgação (ensino, museus, divulgação
e jornalismo) têm um papel importante, mas não único. Hoje, a comunicação pública da ciência nem sempre
tem por origem os cien stas e suas ins tuições, e nem sempre tem por mediador um divulgador, jornalista
ou educador pro ssional. Blogs, redes sociais, movimentos sociais mostram, cada vez mais, como grupos
organizados (de pacientes de doenças raras, por exemplo, ou de militantes ambientalistas) conseguem
trocar informações cien cas e técnicas entre si (em listas de discussão, convidando especialistas a juntar-
se à sua causa ou incen vando militantes a se tornarem também especialistas etc.) e adquirir, em alguns
casos, notável domínio do jargão e dos métodos cien cos. Às vezes, tais grupos e movimentos adquirem
a capacidade também de produzir ciência “de baixo para cima”, juntando dados alterna vos (relatórios de
impacto ambiental, dados epidemiológicos etc) aos fornecidos por ins tuições de pesquisa tradicionais.
Por isso, muitos cien stas acreditam numa função u litária da comunicação em prol da própria
ciência: o apoio da opinião pública é um ingrediente importante hoje para garan r a con nuidade
no nanciamento da C&T. Além disso, alguns cien stas acreditam que exista uma certa hos lidade
pública contra a ciência (ou, ao menos, contra determinadas áreas de pesquisa). Segundo eles, é preciso
restaurar a simpa a do público frente à ciência, para garan r a liberdade de pesquisa. Muitos cien stas
acreditam que comunicar a ciência aos públicos “leigos” seja fundamental para gerar “an corpos”
contra a tudes an cien cas e obscuran stas.
Assim sendo, o cien sta, atualmente, nem sempre pode escolher se comunicar, e nem sempre escolhe
fazer isso como obrigação moral, como desejo iluminista de democra zar o saber. Alguns pesquisadores e
suas ins tuições comunicam e dialogam com o público porque precisam e devem.
Atualmente, todas essas argumentações con nuam válidas, mas inseridas num contexto em que a
comunicação pública da ciência se torna uma a vidade mais complexa, transversal e mul direcional, o
que tem implicações importantes não apenas para responder perguntas sobre “por que comunicar”, mas
para dotar-se também de ferramentas não obsoletas sobre “como” e “o que” comunicar.
Se é verdade que o cidadão tem direito à informação e ao conhecimento cien co, atualmente é verdade
também que, para muitos, informar-se e conhecer a ciência e a tecnologia é uma necessidade, ou até
mesmo um dever. Embora, obviamente, a estra cação social faça com que o acesso ao conhecimento,
o interesse e a consciência da importância disso sejam tremendamente desiguais na sociedade, não é
exagero a rmar que o cidadão cada vez mais quer saber, precisa saber, precisa estar conectado com o
uxo de informação e de debates que têm por centro de gravidade a tecnociência, seja para exercer uma
cidadania plena ou para sua carreira e vida pessoal, como pai, consumidor, militante.
Ao mesmo tempo, embora, em muitas áreas acadêmicas, os pesquisadores possam (e queiram) gozar
de rela va autonomia e impermeabilidade às demandas sociais (e às pressões econômicas e polí cas),
vivendo com rela vo conforto em suas torres de mar m, não é exagero a rmar que a ciência precisa
dialogar e negociar com grupos sociais variados. Se é verdade que democra zar o conhecimento é um
nobre compromisso do cien sta, atualmente é também verdade que a comunicação com não-especialistas
se tornou inevitável para muitos pesquisadores, e que a mídia é parte de estratégias para fazer lobby
cien co, para legi mar certas pesquisas, para garan r apoio polí co e recursos nanceiros (públicos
e privados) ou até mesmo para alavancar a própria carreira acadêmica. O cien sta precisa comunicar e,
em situações de controvérsia ou de polêmica sobre sua atuação, exige o direito de comunicar ao público.
A comunicação pública da ciência está se tornando menos uma opção e mais uma parte integrante do
metabolismo da tecnociência.
A ciência faz parte de nossa cultura, de nossa maneira de criar arte, de nosso medos e fantasias, de nossa
prá ca e de nosso pensamento. A ciência é apropriada ou deba da, de forma mais ou menos aperfeiçoada,
por setores rela vamente importantes da população. São necessárias, portanto, não mais “seringas” para
inocular informações e noções, mas, sobretudo, bússolas de qualidade para a informação que já circula.
Precisa-se não só de “explicadores” da ciência, mas também de crí cos da contemporaneidade, para que
a informação se torne autên co conhecimento. Precisa-se de comunicadores que sejam catalisadores
de debates e discussões democrá cas, para que, cada vez mais, informação e conhecimento possam
signi car empoderamento, capacidade de agir, par cipar, decidir “de cima para baixo”, como a retórica
da maioria das democracias contemporâneas está pregando há alguns anos. Eis, a nosso ver, a reposta
central à pergunta “por que comunicar” e, ao mesmo tempo, o maior dos desa os para os comunicadores
do século 21.
“Se a ciência, em concorrência com outros assuntos públicos importantes, deve ganhar nanciamento
quando se decide das prioridades dos recursos, há a necessidade de uma ampla aceitação da ciência
e de seu papel. Ao mesmo tempo, o mundo da ciência depende da habilidade de atrair jovens
talentosos”. (Declaração do Ministro de C&T da Dinamarca em seu relatório baseado no think-tank
“Research and Tell”, 2004. Disponível em:
http://rydberg.biology.colostate.edu/communicating_science/Documents/WorkshopMaterials/
CommScieWkshpNotebookPar al.pdf).
“[...] Os cien stas têm uma obrigação é ca de prestar conta ao público de como gerem os recursos
públicos [...] A experiência mostra que, depois que uma pesquisa é publicizada, um cien sta recebe
um número signi ca vo de pedidos por parte de colegas [...] Tais contatos frequentemente vêm de
colegas de outras disciplinas, coisa par cularmente importante nesta era de pesquisa interdisciplinar.
Isso pode abrir oportunidades de colaborações ou novas inspirações no trabalho do cien sta [...]
Cooperar com a mídia também aumenta as chances de que as matérias sejam mais acuradas. En m,
a cobertura de C&T atrai mais apoio público e privado para a pesquisa, e atrai estudantes talentosos
para carreiras em ciência e engenharia.” (“Why communicate science?”. Em: Communica ng Science
News. A Guide for Public Informa on O cers, Scien sts and Physicians. Pan eto da Associação
Nacional de Escritores de Ciência, EUA.)
“O modelo do diálogo leva em conta como seu ponto de par da as percepções, expecta vas,
medos e preocupações da população. Aumentar o nível de conhecimento das pessoas não é o
obje vo primário, mas é uma consequência signi ca va de u lizar as próprias percepções delas
como base. É um modelo que corresponde melhor ao ideal an -eli sta da democracia de massa.
[...] O diálogo não deveria ser olhado meramente como forma de respeito com a democracia e a
população [...] ele é também necessário para o bem da própria ciência. A a tude do público sobre
uma determinada tecnologia, independentemente da base para esta a tude, será um fator que
contribui para priorizar inicia vas de pesquisa. A controvérsia sobre recursos para pesquisa europeia
em biotecnologia vegetal é um exemplo desta in uência. Depois de acalorada oposição popular
contra plantas e alimentos gene camente modi cados, tanto a União Europeia quanto alguns países
membros reduziram o nanciamento público para pesquisa vegetal durante alguns anos. Isso não só
causou uma diminuição da a vidade de pesquisa, mas fez também com que boa parte da indústria
biotecnológica voltada para plantas abandonasse a Europa. Um outro exemplo da in uência pública
é a di culdade que as ciências naturais têm em fazer o branding de si mesmas. Faz vários anos que
as ciências naturais em grande parte da Europa têm di culdade em atrair su cientes talentos. Uma
imagem pública pobre com certeza carrega parte da culpa por isso...” (Balling G, Frank L. Dialogue in
cyberspace. Londres: Bri sh Council, s.d.)
Fonte: NSERC (Na onal Sciences & Engineering Research Council of Canada). “Why Communicate?”.
Em: Communica ng Science to the Public: A Handbook for Researchers, 2004. Disponível em: h p://
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Yurij Castelfranchi é sico, sociólogo e jornalista cien co. É professor do Departamento de Sociologia e
Antropologia da Faculdade de Filoso a e Ciências Humanas (FAFICH) da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG).