Fundamentos Filosóficos Do Serviço Social-UCA EAD
Fundamentos Filosóficos Do Serviço Social-UCA EAD
Fundamentos Filosóficos Do Serviço Social-UCA EAD
DO SERVIÇO SOCIAL
PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior
“
A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à
geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
para formar profissionais empreendedores que promovam
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e
cultural da comunidade em que está inserida.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma
sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria,
salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a
emissão de conceitos.
FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS
DO SERVIÇO SOCIAL
PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI
SUMÁRIO
AULA 06 NEOTOMISMO 67
AULA 07 POSITIVISMO 76
AULA 08 FENOMENOLOGIA 88
AULA 09 MARXISMO 99
INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a), é uma grande satisfação recebê-lo(a) nesta nova disciplina, onde
trabalharemos um dos fundamentos que embasam a nossa profissão: os Fundamentos
Filosóficos do Serviço Social. Esta é uma disciplina deliciosa, que exigirá leituras,
reflexões, muito pensamento e um olhar para a realidade, procurando olhar crítico,
transcendendo (superando) o senso comum.
Dentre os objetivos da disciplina, estão: analisar as diferentes concepções filosóficas
e ideológicas que fundamentam as diversas propostas de Serviço Social. Além disso,
pretende-se apresentar uma discussão crítica acerca das bases filosóficas do Serviço Social.
Para que os objetivos sejam concretizados abordaremos a filosofia como busca
do fundamento e do entendimento humano. Correntes filosóficas e as influências
sobre a pessoa, a sociedade e o Serviço Social. Principais correntes filosóficas no
século XX (marxismo, neotomismo, positivismo, fenomenologia) e suas influências
no Serviço Social. Influência das correntes filosóficas na formação dos discursos e
práticas sociais.
Nas páginas seguintes, você terá à disposição, aulas preparadas exclusivamente para
sua formação profissional, isso exigirá de você muita dedicação, leituras e estudos que
permitirão o exercício da reflexão crítica da profissão e da realidade onde futuramente
você estará atuando como Assistente Social. A capacidade analítica é importante
para a profissão que cotidianamente se depara com contradições, desigualdades,
exclusão. Transcender o senso comum é necessário para atuar com competência,
eficácia, eficiência e responsabilidade.
A atitude filosófica permitirá a você a ampliação da sua capacidade reflexiva.
Compreendendo as bases filosóficas da profissão, você estará se preparando para
o exercício profissional em prol da viabilização do acesso aos direitos, redução
das desigualdades, emancipação do sujeito. Um profissional que compreenderá a
essência humana, um profissional crítico e reflexivo capaz de fazer a diferença no
meio socioprofissional.
Para isso conte comigo e com toda a nossa equipe, estamos aqui para te apoiar
na busca pelo seu sonho! Vamos lá, não tenha medo, preguiça, dê sentido a esse
momento único.
Por fim vou lhe contar um segredo: não será fácil! Pois você vai se deparar com
alguns assuntos complexos e que exigirá muito esforço, sobretudo mental.
Mas... como eu sempre digo: se fosse fácil, qualquer um faria, e para mim, você
não é qualquer um.... você vale a pena!
Grande abraço e te encontro nas aulas!
Atenciosamente
AULA 1
PARA QUE FILOSOFIA? DO SENSO
COMUM AO SENSO CRÍTICO
Nesta nossa primeira aula falaremos sobre a Filosofia de forma geral e para que
ela serve, procurarei desmistificar a Filosofia, através de exemplos e provocando você
a pensar, pois Filosofia tem tudo a ver com pensamento. Em seguida apresentarei o
senso comum e o senso crítico, pois o desenvolvimento do senso crítico fundamental
para você meu querido e querida aluna de Serviço Social.
O objetivo com destas primeiras aulas é aprendermos a questionar, a interpretar
a realidade, pois somo cidadãos e futuros profissionais de sucesso não é possível
somente se conformar com o óbvio. Pois o conhecimento não é estático, ele muda, as
certezas mudam conforme o homem muda. Logo precisamos aprender a ter dúvidas.
Historicamente a dúvida foi tida como algo ruim, quem tem dúvidas não prestou
atenção corretamente, quando na verdade as dúvidas sempre moveram o mundo.
Sendo assim, vamos aproveitar esta aula para termos muitas “dúvidas”! Iniciamos
nosso estudo com algumas indagações filosóficas que permeiam o nosso cotidiano
dentre elas você pode se perguntar:
O que é o homem? Qual o seu sentido? O que cada homem esconde no seu mais
profundo ser? Tais questões têm levado muitos pensadores a refletir sobre a existência
humana e sua razão de existir da própria humanidade.
Mas para início desta aula, pergunto: o que é Filosofia para você? Quando você teve
contato pela primeira vez com a Filosofia? Muitas pessoas tem uma compreensão
equivocada acerca da Filosofia, alegando que ela não agrega nada na vida do ser
humano, pois ela é “apenas pensamento”, que não produz nada de concreto. Pois bem,
se este é o seu pensamento, convido você neste momento a redescobrir a Filosofia
e o quanto ela contribui para nossa existência, vamos lá?
Primeiramente apresento a você um conceito de Filosofia:
Essa pergunta, ‘Para que filosofia?” tem a sua razão de ser. Em nossa
cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma
coisa só tem o direito de existir de tiver alguma finalidade prática
muito visível e uma utilidade imediata, de modo que, quando se
pergunta ‘Para quê?”, o que se quer saber é: ‘Qual a utilidade?’, ‘Para
que serve isso?’, ‘ Que uso proveitoso ou vantajoso posso fazer disso?’
(CHAUÍ, 2012, p.34).
Mas para que filosofia? A filosofia desde sempre auxilia a humanidade na formulação
de perguntas, bem como se debruça na busca por respostas. Ou seja, de uma maneira
ou outra, todos nós filosofamos. Em nossa vida pessoal ou profissional, independente
da profissão ou formação acadêmica. A filosofia está no cotidiano, contudo é vista
por muitos como desnecessária ou então coisas para desocupados.
Anote isso
Fique atento(a) para esta parte da nossa aula, pois compreender para que
serve a filosofia, lhe ajudará nas próximas leituras, sobretudo quando formos
abordar a relação do Serviço Social com a Filosofia, ok?
A partir da colocação acima é possível que você compreenda que a Filosofia não é
imediata, não se dá de uma hora para outra. Ou seja, ela permite que não entremos no
comodismo, estagnação, ou como se diz: que não entremos no “piloto automático”. Ela
nos impulsiona para a criticidade, a desalienção perante a sociedade na qual vivemos.
Para que a Filosofia? Para pensarmos melhor.
Ao trazer a ideia do pensamento¸ admitimos a capacidade de pensar o homem, ou
seja, ser dotado desta singularidade e que, diferentemente dos demais seres vivos,
possui a capacidade de criar, produzir, transformar as coisas e a si mesmo. A Filosofia
nos dá a oportunidade de refletir sobre si e sobre o mundo, pois existimos como
consciência e somos capazes de questionar a própria realidade, bem como o irreal e
o transcendente.
Agora convido você a refletir sobre a sociedade em que vivemos hoje, marcada
fortemente pela internet, mídias sociais, propagação rápida das informações
(verdadeiras e não verdadeira), uma sociedade que sobrepõe o “ter” ao “ser”, onde
“tempo é dinheiro”. Neste mundo tão acelerado, ligeiro e rápido, falta, portanto, tempo
para pensar, para filosofar.
E o que é filosofar? Filosofia consiste na capacidade de fazer perguntas, que buscar
saber qual a intenção disto ou daquilo, ou seja, a busca por conhecer o propósito, a
teleologia das coisas.
Pois,
Figura 4- Sócrates
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/filosofia-gr%C3%A9cia-s%C3%B3crates-est%C3%A1tua-2603284/
devemos partir para um exercício reflexivo sobre os conceitos que reproduzimos sem
refletir (senso comum). A leitura que fazer do mundo, a nossa vivência, os nossos
valores, as nossas crenças, tudo isso influencia a nossa visão de homem e de mundo.
Por esta razão os problemas da Filosofia são sempre atuais.
Entendemos que o senso comum é composto por aquilo que adquirimos ao longo da
nossa vida ao longo do tempo por nós vivido “por acúmulo espontâneo de experiências
ou por introjeção acrítica de conceitos valores e entendimentos vigentes e dominantes
em nosso meio” (LUCKESI, 1992, p.93).
E você sabe como nasce o senso comum? Digo a você que ele nasce do processo
de “acostumar-se a uma explicação ou compreensão da realidade, sem que ela seja
questionada. Mais do que uma interpretação adequada da realidade, ele [senso comum]
é uma forma de ver a realidade, mítica, espontânea” (LUCKESI, 1992, p.95).
Pois bem, estamos aqui refletindo sobre a filosofia, como ela pode contribuir para
a nossa formação profissional, também falamos brevemente sobre o senso comum,
agora pergunto a você como desenvolver o nosso senso comum ao ponto de termos
um senso crítico, você consegue explicar?
Inicio dizendo que para desenvolver o senso crítico preciso primeiramente desvendar a
realidade, ultrapassar os limites espontâneos e também fragmentados que caracterizam
o senso comum. Logo para desenvolvermos nosso senso crítico precisamos aprender
a realizar uma análise crítica da realidade.
Almejamos assim que você consiga realizar uma análise crítica da realidade onde
está inserido(a), pois como futuro(a) assistente social esta habilidade lhe será de
grande valia. Falaremos sobre isso adiante.
Suponhamos que você queira doar 10 reais para uma ONG. Qual deveria
escolher? Uma sobre a qual já ouviu falar? Alguma que esteja trabalhando
em catástrofes? Ou talvez outra que atue em sua cidade?
Os filósofos que defendem a corrente do “altruísmo eficaz” acreditam que
as doações, por menores que sejam, podem ajudar muito mais do que
imaginamos. Em entrevista ao EL PAÍS, o filósofo australiano Peter Singer
destacou que pessoas de países em situação de extrema pobreza “vivem
com menos de 700 dólares (cerca de 2.600 reais) por ano e, muitas vezes,
não têm acesso à água potável, saneamento básico e educação para seus
filhos”. Ou seja, esses 10 reais podem valer muito mais em um desses países
com uma situação econômica pior.
Além disso, nem todas as iniciativas funcionam da mesma maneira. Em seu
livro Doing Good Better (fazendo o bem melhor), o filósofo William MacAskill, da
Universidade de Oxford, nos aconselha a fazer perguntas como as seguintes:
estamos ajudando uma área que está esquecida e, portanto, carente de
recursos? Ou doamos quando ocorre uma catástrofe e, portanto, já existem
muitas pessoas dando uma mãozinha?
MacAskill também defende levar em consideração se há provas do alcance
das ações da ONG. Por exemplo, e embora pareça paradoxal, os programas
de eliminação de vermes intestinais são mais úteis para reduzir o absenteísmo
escolar no Quênia do que comprar livros didáticos.
Muito trabalho para 10 reais? Sim, é. Mas existem organizações que fornecem
essas informações, como a Give Well, que analisa o impacto das ONGs
recomendadas, e a The Life You Can Change, do próprio Singer, que inclui
até uma calculadora que permite saber como cada doação será usada.
Bem, você já doou os 10 reais. Agora, pega o celular para dar uma olhada
no Twitter. Como geralmente acontece nesses casos, depois de alguns
segundos já está morrendo de raiva de alguém que falou uma barbaridade e
tem vontade de dizer-lhe umas poucas e boas.
Embora talvez não seja uma boa ideia. Os psicólogos Paul Bloom e Matthew
Jordan se perguntavam no The New York Times há algumas semanas se somos
todos “torturadores inofensivos”, por causa das redes sociais. Esse termo se
refere a um experimento mental proposto por Derek Parfit no livro Razões
AULA 2
A ATITUDE FILOSÓFICA
Olá, seja bem-vindo e bem-vinda para mais uma aula, nesta etapa falaremos sobre
a atitude filosófica e conto muito com você, pois poderemos refletir sobre diversos
pontos que nos auxiliarão no desenvolvimento do senso crítico.
Vamos lá?
Bem na aula anterior sugeri que vocês assistissem ao vídeo sobre o Mito da Caverna
segundo o Escritor Maurício de Souza, e aí você assistiu? Refletiu de como ele apresenta
questões filosóficas atuais? Se você assistiu, parabéns! Se não assistiu, dê uma pausa
nesta leitura e assista, pois o conteúdo te ajudará muito nas próximas páginas.
Vimos que a Filosofia nos possibilita questionar a realidade, a buscarmos respostas
para situações do nosso cotidiano de forma crítica. Mas ao ler o título desta aula: A
Atitude Filosófica, eu te pergunto: no que consiste a atitude filosófica? O que vem à
sua mente, como você imagina que seja esta “atitude”?
Ficou mais claro para você agora, o motivo pelo qual estamos dedicando esta
disciplina para o estudo da Filosofia e o Serviço Social?
Ótimo, então vamos à questão, o que é uma atitude filosófica: é quando saímos
da zona de conforto, do comodismo mental e começamos as indagar, interrogar,
questionar determinado objeto, situação, crenças, valores ou algo que nos tenha sido
imposto ou preestabelecida e que via de regra nos incomoda, inquieta.
Bem, dito isso vamos percebendo que muitas vezes ao longo da vida já estabelecemos
uma atitude filosófica, ou seja, uma atitude racional, não é mesmo? Você consegue
lembrar de algum momento desse na sua vida?
Percebeu que a palavra racional apareceu em destaque duas vezes? Não foi à
toa, é porque a racionalidade está intimamente relacionada à atitude filosófica, quer
saber por quê?
Logo, toda atitude filosófica, crítica tem um start, um início que impacta aquele que
a pratica, ou realiza.
Sendo assim, tenha claro que a atitude filosófica está ligada a indagação pautada
principalmente em três perguntas filosóficas:
Anote isso
1ª pergunta filosófica: O quê?
2ª pergunta filosófica: Por que?
3ª pergunta filosófica: Como?
Tais perguntas são as mesmas, independentemente do que se esteja investigando,
ou seja, as características serão sempre as mesmas. Vamos saber qual o sentido e
o significado destas três perguntas? Está curioso(a)?
Vamos lá?
Anote isso
Procure destacar os 3 conjuntos de questões que caracterizam a
reflexão filosófica!
Assim apresentado, você pode até estar se perguntando agora? Quer dizer que
filosofia é um permanente pensar? Sim! Você está certo(a)! Pois ao falarmos em
reflexão, falamos em desdobramentos de pensares.
A palavra reflexão vem de reflexo, assim como quando vemos nossa imagem no
espelho, vejo um desdobramento de mim mesmo no espelho, um reflexo. Logo a
atitude e reflexão filosófica implica também em coragem.
Coragem para pensar, questionar a si e ao outro, enfrentar e não ter medo de mudar,
este é um grande desafio, uma vez que
como nas situações limites que exigem decisões cruciais. Por isso
no encontro com a tradição filosófica não devemos nos restringir a
recebe-la passivamente como um produto, mas sermos capazes,
cada um de nós, de aproximarmos da filosofia como processo, ou
seja, como reflexão crítica e autônoma a respeito da realidade vivida
(ARANHA, 2003, p. 91).
Em posse deste conhecimento todo que você já adquiriu até aqui, perceba como
a coragem faz todo sentido, se você não tivesse coragem, não teria escolhido cursar
uma faculdade, não teria feito a matrícula, não teria acessado este livro e muito menos
chegado até este ponto do estudo da disciplina de Fundamentos Filosóficos do Serviço
Social, e olha que pouco falamos sobre o Serviço Social, AINDA.
A coragem traz consigo um colega, que se chama propósito. Saber identificar o
seu propósito para as coisas que realiza é fundamental para que não se distraia no
caminho. O propósito está relacionado a sonhos, projetos, coisas que desejo realizar
e para isto também é preciso coragem. Saber estabelecer um processo de reflexão
profunda quando necessário, se valendo das perguntas até aqui apresentadas e que
conduzem o filosofar.
Do que adiantou toda a reflexão exemplificada pelo autor, se não houve ação? Ou
seja, não serviu para nada. Continuo o meu trabalho e não busco soluções viáveis.
Logo esta reflexão ficou guardada na mente do seu pensador. Desta maneira, fica
apresentada e justificada a importância da compreensão da filosofia e o ato de filosofar
para você aluno(a) do curso de Serviço Social.
Lembre-se que primeiramente os filósofos desejavam saber de onde viemos, por
que as coisas mudam, olhavam para o passado para entender o presente, fato este
que hoje temos muitos escritos sobre cada filósofo acerca das suas concepções e
convicções. Nós que vivemos os dias atuais somos movidos a futuro.
Pensamos, refletimos, indagamos, sobre o “como será?”. E a partir desse desejo
de como será o amanhã, investimos tempo pensando, elaborando planos e projetos.
“Karl Marx fazia uma distinção muito clara entre os dois reinos da vida: o da
necessidade e o da liberdade. No reino da necessidade, eu não posso deixar de
fazer aquilo que eu faço, senão pereço. No reino da liberdade, a vida é escolha”.
Segundo Marx, existe uma diferença entre “ser livre de” e “ser livre para”. Se
não for livre de fome, de falta de abrigo, da falta de socorro médico, você não
é livre para outras escolhas. Uma parcela das pessoas é livre da miséria, da
penúria, da carência, e é livre inclusive para dizer “não vou ter um trabalho
regular”, “vou viajar”.
Para ser um mochileiro, é preciso ser livre de uma série de outras restrições.
Nada adianta imaginar um menino pobre da periferia de uma metrópole colocar
uma mochila nas costas e ir viajar para a Austrália. Um garoto de família mais
abastada seria capaz de fazer isso. Porque ele tem contatos, já armazenou sua
mochila vivencial uma série de ferramentas que o permitem essa experiência,
porque ele é privilegiado. Para o outro não há escolha, ou trabalha ou morre.”
CORTELLA, Mario Sergio. Por que fazemos o que fazemos? Aflições vitais
sobre trabalho, carreira e realização. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 22-23.
AULA 3
A FILOSOFIA E O SERVIÇO SOCIAL
Olá, chegamos a nossa terceira aula, e agora vamos nos aproximando mais da
discussão acerca da Filosofia e o Serviço Social, estou muito animada e espero que
você também!
Então vamos lá? Mãos à obra!
Vamos abordar nesta nossa aula a relevância e significado da presença dos
elementos filosóficos para a formação do Assistente Social. A Filosofia faz parte do
componente curricular, desta forma ainda ele está contemplado enquanto fundamentos
básicos da profissão. Partindo desta ideia e do nome desta disciplina: Fundamentos
Filosóficos do Serviço Social, se faz necessário neste momento apresentar o conceito
da palavra “fundamentos”:
A partir do exposto acima, você poderá irá perceber que outras disciplinas do curso
de Serviço Social, iniciam com a palavra fundamentos, o que nos leva a compreender que
são disciplinas que buscam promover uma base sólida aceca de elementos essenciais
para a formação do Assistente Social. Cada uma trazendo elementos e conteúdo que
ao se somarem com tantos outros darão sustentação para você no futuro. Dentre
os elementos a serem abordados no que diz respeito a fundamentos filosóficos em
especial nesta disciplina, estão:
Pois bem, nos dias atuais o profissional de Serviço Social se depara no seu trabalho
com inúmeras questões relacionadas às questões éticas, antropológicas, políticas,
culturais, dentre outras, que nos pede uma atitude e reflexão filosófica. Ao trazer
para o Serviço Social os fundamentos filosóficos, estamos oportunizando a você a
possibilidade do autoconhecimento, conhecimento da sociedade e do mundo. Trabalhar
questões filosóficas no processo formativo não exclui as discussões acerca das práticas
profissionais, pois as teorias auxiliam no processo de entendimento da realidade na
qual irá atuar. Isto ficou entendido? Espero que sim, pois
Para estabelecer uma atitude filosófica, você necessita também desenvolver seu
senso crítico, agregando valor ao processo de formação profissional, este crescimento
acontece quando há a relação entre as disciplinas de forma interdisciplinar, pois juntas
elas possibilitam a sua formação integral crítica e política. Visamos com isso que você
se torne um Assistente Social capaz de questionar, analisar e intervir na realidade em
que estiver atuando profissionalmente.
Logo, a Filosofia de uma forma bem ampla e geral possui o objetivo de provocar
reflexões, indagações para você caro aluno(a), sendo assim ela pode alcançar outras
disciplinas. “Pensamos que uma educação para a autonomia, no sentido da formação
de indivíduos que possam escolher por si mesmos em que mundo querem viver, só
pode ser tal se nela tiver lugar a filosofia” (GALLO E KOHAN, 2000, p. 195).
E como a Filosofia e o Serviço Social se aproximam? Bom falar um pouco mais
sobre isso:
O Serviço Social se apresenta não somente como uma profissão inserida na divisão
sociotécnica do trabalho, ele se configura também como uma área do conhecimento
humano ligado ao universo das ciências sociais, que se vale também de outras
áreas do conhecimento, como: sociologia, direito, psicologia social, economia etc.,
e também a filosofia, tais áreas abordam questões amplas, no que diz respeito ao
conhecimento do ser humano e visam contribuir para que o profissional aprenda a
trabalhar e compreender o ser humano, a natureza humana.
No que tange o diálogo entre a Filosofia e o Serviço Social, é importante ter claro que o
homem é constituído por três dimensões distintas: Somática/Física (dimensão corporal,
material); Anima (dimensão espiritual); Psíquica (dimensão ligada aos pensamentos,
sentimentos e valores). A partir do entendimento destas três dimensões, a pergunta
filosófica que você deve se fazer é: que concepção eu tenho do ser humano? Primeiro
passo para começar a estruturar este conceito à luz do Serviço Social é compreender
o homem enquanto um ser tridimensional (corpo, mente e alma) ou como falamos
no Serviço Social, todo homem é um ser bio-psico-social.
É válido destacar aqui que não existe uma dimensão mais importante ou que
sobreponha uma à outra, só consigo compreender o homem e suas relações a partir
das três dimensões que são, por sinal, interligadas.
Ao olharmos para os filósofos da antiguidade podemos destacar três em especial,
pela contribuição que deixaram para o Serviço Social, são eles: Sócrates, Platão e
Aristóteles, vamos agora entender por quê?
Ao perceber isso nós “rimos”, logo a ironia não significa rir da cara da outra pessoa
e sim “rir de si mesmo”, eu sei que nada sei; e por saber que nada sei, agora estou
sabendo que nada sabia, antes de saber o que sei.
Se você observar poderá constatar que o verbo “saber” foi utilizado diversas vezes,
o que é irônico, não é mesmo? O que sabemos e aprendemos ao longo da nossa vida,
ainda é muito pouco frente ao mistério que é a natureza humana. A segunda fase é
conhecida como maiêutica, que significa a arte de nascer, de trazer à luz, na medida
em que eu constato a minha ignorância esse “novo ser”, ou seja, essa “nova pessoa”
está “pronta para vir à luz” é a descoberta de um processo de conhecimento interior.
Esse método socrático vai acabar influenciando também na psicanálise e psicologia.
Logo, é com base nestas duas fases que o Serviço Social busca os seus fundamentos
na filosofia.
Anote isso
O Mito da Caverna: Platão discorre sobre um prisioneiro que consegue se libertar
das amarras, das ideologias, das convicções do senso comum e consegue chegar
até “fora da caverna” e descobre um novo mundo: da realidade, das verdades, das
certezas e da concretude da essência humana. Esse “prisioneiro” tenta retornar
à caverna para libertar àqueles que estavam acostumados com o mundo das
sobras, ilusões, dos achismos e ele (o prisioneiro) e acaba sendo banido.
Dica de Vídeo: Alice no País das Maravilhas e Matrix - Mario Sergio Cortella
• Link: https://www.youtube.com/watch?v=dpp3XFsTXnw
Anote isso
O espaço privilegiado da intervenção profissional é o cotidiano, o mundo
da vida, o todo dia do trabalho que se revela como um ambiente no qual
emergem exigências imediatas e são desenvolvidos esforços para satisfazê-las,
lançando mão de diferentes meios e instrumentos. É um ambiente material
e de relações no qual o profissional deve se mover naturalmente com uma
pretensa intimidade e confiança sabendo manipular as coisas, os costumes
e as normas que regulam os comportamentos no campo social e técnico
(BAPTISTA, 2001, p.111, grifo nosso).
A partir do exposto, você deve ter clareza que os fundamentos fornecerão a base
para a sua intervenção profissional, juntamente com o arcabouço de Leis, Código e
Regulações. Compreender a atuação profissional do Assistente Social vai muito além
da operacionalização das Políticas Públicas, envolve o conhecimento do ser humano.
ele (nem nós) somos uma ilha, é necessário o entendimento do usuário nas suas
mais diversas relações, pois aí pode morar a chave de todo o problema que ele vem
vivendo, e nem sempre fazer com que ele se abra é uma tarefa fácil, é preciso ler as
entrelinhas, ter paciência e humanidade suficiente para realizar esta análise, ou seja,
uma atitude filosófica.
Se o homem (enquanto sujeito) não conhecer a si próprio, não terá como conhecer
o outro. É necessário, então, ao homem saber o que quer, saber seus anseios, seus
desejos e sentimentos mais íntimos e sinceros, uma vez que,
Quadro 01- Construir saber pela prática reflexiva para consolidar as formas identitárias
Fonte: GRANJA (2011, p.436)
Obrigada por concluir mais esta etapa do seu processo de formação profissional,
e até a próxima!
AULA 4
O HOMEM, O GRUPO E A
COMUNIDADE
O objetivo desta nossa aula é fazermos uma reflexão filosófica e social, acerca do
homem e suas necessidades, não abordaremos nenhuma corrente filosófica específica,
contudo, é necessário que você, enquanto futuro(a) assistente social, tenha em mente
com clareza o porque de vivermos em sociedade, em grupos, e qual a razão deste
assunto estar ligado a prática profissional.
Está preparado(a)? Mãos à obra!
Desde sempre os estudiosos se encantam com os mistérios do homem, dotado
de múltiplas características e segredos. O(a) Assistente Social, não pode conceber a
sua prática profissional sem entender minimamente que é o sujeito, foco das suas
ações, que se transforma em “usuário” do Serviço Social, na medida em que suas
necessidades e seus direitos não estão sendo atendidos.
Contudo, não basta apenas saber que o usuário possui necessidades é necessário
compreender que ele é dotado de múltiplas relações, faz-se necessário saber quais
necessidades são essas e quais os caminhos que ele poderá percorrer para conseguir
satisfação (dignidade, cidadania, liberdade, igualdade, etc.). é necessário compreender
as relações com o grupo e com a comunidade, uma vez que o assistente social não
atua somente no particular.
A Profissão se gesta em meios aos grupos, às comunidades onde cada indivíduo está
inserido, sabendo que este indivíduo recebe influência do grupo e também o influencia.
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/equipe-amizade-grupo-m%C3%A3os-4529717/
Você já está ciente de que todo ser humano é ser de relações, essa é uma condição
inerente ao ser humano. É uma necessidade do homem estar em contato com
seus semelhantes. Assim quando estamos em grupo ou procuramos algum grupo
específico, estamos procurando também sanar alguma necessidade de cunho geral
e/ou específico. E não nos satisfazemos neste grupo enquanto não percebermos que
tais necessidades estão sendo correspondidas.
Por sua própria natureza, o homem é um ser aberto, permeável, que pode receber
enriquecimentos, mediante as relações que se torna capaz de estabelecer.
Anote isso
O homem é essencialmente um ser relacional. Não pode ser considerado um
ser considerado um ser isolado, sozinho, a não ser numa situação anormal,
doentia, estranha.
Anote isso
O individualismo é o pior inimigo do
sujeito cidadão. O significante individual
é cético em relação à causa do bem
comum ou social. O cidadão é um
sujeito crítico que tende a buscar seu
próprio bem estar (a esfera privada) e
do grupo (esfera pública) através do bem
estar da cidade, a polis. Assim o grupo,
a comunidade, a sociedade é o espaço
público de encontros e diálogos sobre os
problemas privados dos sujeitos e das
questões públicas da polis. Transpor o Figura 32- Mulher pergunta
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/id%C3%A9ia-
apontando-levantar-a-m%C3%A3o-3082824/
abismo entre o indivíduo e a comunidade
é tarefa da política, no espaço ágora, lugar da transversalidade do público
e do privado, onde os problemas privados (sujeitos) são traduzidos para a
linguagem das questões públicas e soluções públicas para os problemas
privados são buscadas, negociadas e acordadas (consenso).
de relações. Contudo ele guarda em si sua consciência unitária de ser ele mesmo o
sujeito que preside essas relações.
E então tudo bem até aqui? Esse foi apenas um primeiro momento de reflexão, ao
longo do curso poderemos desfrutar de outros momentos que nos servirão de base
para a futura ação profissional.
Bem, antes de iniciarmos esta reflexão, quero te fazer um convite, ele consiste em fazer
uma retrospectiva da sua vida. É fácil! Reflita sobre as questões que eu vou te propor:
Acredito que este pensar sobre grupos que você acabou de realizar aqui, contribuirá
na participação nesta aula, sendo assim, vamos adiante!
Podemos considerar como grupo o conjunto de pessoas que possuem objetivos
comuns. De antemão é valido ressaltar que o grupo não é estanque, ele encontra-se
em constante movimento. No grupo é possível perceber como cada pessoa pensa, o
que cada um sente e percebe o mundo à sua volta.
Logo, é possível afirmar que cada indivíduo é diferente, cada um expressa à sua
maneira individualmente e em grupo as situações vividas e sentidas, essas diferenças
são inevitáveis. Tais influências contribuem para as relações interpessoais, trazendo
benefícios e em outras vezes até prejuízos.
Como todo grupo encontra-se em movimento constante, ou seja, em mudanças
permanentes se faz necessário entender que isso é ocasionado pelas forças internas
e externas que estão relacionadas a cada membro do grupo.
O grupo serve de apoio para o ser humano, pois somos seres de relações. Atendendo
as necessidades do indivíduo, todos os seres humanos que se sentir satisfeitos no
meio em que vivem.
Um ponto fundamental nesse contexto é que convivemos com grupos diariamente.
As pessoas são diferentes, únicas, com valores e crenças muito pessoais, apesar de
alguns valores serem compartilhados por grupos pertencentes a determinada cultura.
Alguns costumes e hábitos caracterizam os grupos e identificam nossa cultura.
Perceba você, que em todo grupo existem aquelas pessoas que se destacam mais
ou menos, falamos aqui em prestígio, podemos perceber que todos desejam sentir-
se seguros dentro do grupo ao qual pertencem, pois se lembre que cada um inserido
neste ou noutro grupo ali está determinadas necessidades e estas necessitam ser
supridas, isto não é privilégio deste ou daquele membro do grupo, porque o grupo
cresce com o indivíduo e vice versa.
Pertencer a grupos é ao mesmo tempo tão decisivo e tão comum, que geralmente,
os indivíduos muitas vezes não se dão conta da importância deste fato. Só quando se
sente à parte do grupo é que o indivíduo tende a perceber a importância fundamental
do grupo para sua vida. A destruição dos vínculos com grupos quase sempre traz
problemas para a pessoa.
Mas afinal, o que é mesmo um grupo? Alguns autores classificam os grupos
sociais em duas categorias: os grupos aos quais eu pertenço (família, minha turma
da faculdade, trabalho, igreja etc., são todos os grupos dos quais se pode afirmar que
são meus) e os grupos externos, aos quais não pertenço (são outras famílias, outras
turmas, outras nacionalidades, outras ocupações, etc.).
As relações da pessoa com cada uma das duas categorias grupais são muito
diferentes. Dos grupos aos quais você pertence, você espera reconhecimento, lealdade,
auxílio, aceitação. As expectativas em relação aos grupos externos variam, podendo
abranger tanto cooperação quanto competição e indiferença. De acordo com Santos
(et.al., 2006), podemos analisar alguns dos pontos importantes o trabalho com o grupo:
Link: https://periodicos.ufjf.br/index.php/libertas/article/view/18143/9395
O grupo ainda contribui para que construamos nossos objetivos, uma vez que todos
possuem padrões, objetivos específicos e definidos, além de estarmos em constante
interação com outras pessoas que também estão nesse processo.
O grupo ao qual pertencemos pode revelar muito sobre quem nós somos e as atitudes
que tomamos. As relações que estabelecemos nos diversos grupos acaba por vezes
tornando-se um espelho, o qual reflete nossa personalidade. Temos necessidade de
sermos aceitos e de nos parecermos com nossos semelhantes.
É importante que você tenha em mente que todo e qualquer profissional, independente
da área de atuação, estar em contato direto com pessoas e grupos, para isso deve
compreender como eles se manifestam na sociedade. Isso se faz importante para que
você possa e saiba como constituir e administrar grupos e o que venha a ocorrer neles.
É importante também no sentido de que todas as pessoas vivem sob diversos
tipos de influências: emoções, desejos, sentimentos. Algumas dessas influências são
inconscientes e o sujeito a manifesta sem perceber em seu cotidiano.
Mais uma vez reforço: essa
realidade da qual as pessoas
estão inseridas e que são alvo
do nosso trabalho, também é a
nossa realidade; não podemos
nos excluir dela, nos colocando
acima, dessa maneira
deve ter sensibilidade para
compreendê-la e interpretá-
la uma vez que lidamos com
Figura 37- conexões
seres humanos diariamente. Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/pessoal-rede-3108155/
AULA 5
REFLEXÕES INICIAIS SOBRE AS
TEORIAS SOCIAIS E O SERVIÇO
SOCIAL
Olá! Seja muito bem-vindo para mais uma unidade de estudo, onde abordaremos
as principais correntes filosóficas no século XX e suas relações com o Serviço Social,
as próximas aulas irão apresentar os seguintes conteúdos: Marxismo; Neotomismo;
Positivismo; Fenomenologia.
E agora você pode estar se perguntando: se estes são conteúdos das próximas aulas,
o que aprenderemos neste momento? Bem, caro(a) aluno(a), preciso primeiramente
explicar qual a relevância e os motivos de trazermos estas correntes filosóficas ou
teorias sociais no curso de Serviço Social.
Vamos lá?
Primeiramente: o que são as Teorias Sociais?
As teorias sociais tratam dos aspectos que dizem respeito às relações humanas
e sociais, podendo ter diferentes enfoques, o que vai depender da interpretação que
o pensador tem acerca do homem e do mundo, ou seja, qual é a visão de homem e
de mundo para aquele determinado pensador.
São as teorias sociais que abordam todo e qualquer aspecto social dos problemas
que surgem no interior da sociedade, ou seja, o motivo que levam a sociedade a
enfrentar determinados problemas e o que a levou a um determinado quadro histórico.
Trata-se de um conhecimento
sobre a sociedade, ou melhor, o
homem (ser social) dentro dos meios
no qual ele vive da sua relação com
a organização social (sociedade)
que ele mesmo criou, uma vez que
é um ser em permanente relação
com os demais homens. Enfim, é
conhecimento do homem, elaborado
pelo próprio homem a partir da visão Figura 40- olhar
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/pele-olho-%C3%ADris-azul-mais-
velhos-3358873/
que ele tem sobre si.
Assim é a visão de cada pensador, que imprimirá um determinado grau de explicação
da realidade, portanto que diferencia um pensador do outro é o grau de explicação em
função da visão de homem e de mundo que cada um desenvolveu, pois cada pensador
possui um tipo de abordagem e de interpretação da realidade. Diferenciam-se pela
forma de encarar o seu próprio objeto, que é sempre o homem e suas relações no
e com o meio em que vive. A forma de encarar e produzir o conhecimento sobre o
objeto é chamado de método. As outras teorias da área das ciências exatas, biológicas,
médicas e agrárias, apesar de possuírem outros objetos específicos não deixam de
ter um caráter sociológico e filosófico. Veremos isso nas próximas aulas.
São diversas as interpretações porque as relações entre os homens não são
exatas, mas conflituosas. É justamente isso que imprimirá um caráter diverso nas
interpretações: conflito de interesses entre os homens e a posição que cada autor
toma diante destes conflitos. Em se tratando de teorias sociais, não há neutralidade. A
neutralidade é possível em termos de estudos na área de ciências naturais, biológicas,
físicas, matemáticas, (e olha lá!).
Bem você pode ainda estar se perguntando, mas o que exatamente diferencia uma
teoria social da outra? Primeiramente, é possível dizer à você que a necessidade do
estudo das teorias sociais se deve ao fato de que não é possível trabalhar com o
homem e suas relações sociais sem conhecer como funciona a sociedade, como se
estabelecem estas relações e as estruturas sociais.
São as teorias sociais que embasam ou dão rumo à prática profissional, ou seja, a
partir de uma dada explicação de homem e de mundo, podemos tanto compreender
o porquê dos fenômenos que serão objeto de nossa intervenção profissional, bem
como o que nos pedem para fazer e o que faremos e o motivo pelo qual faremos
(atitude filosófica).
Caso contrário trabalharíamos apenas com o senso comum, sem entendermos o
porquê das coisas serem como são e se poderiam ser diferentes.
Anote isso
Senso comum: “não é refletido e se encontra misturado a crenças e
preconceitos. É um conhecimento ingênuo (não crítico), fragmentado (porque
difuso, assistemático e muitas vezes sujeito a incoerências) e conservador
(resistente às mudanças) (ARANHA, 2003, p.60)
Desta forma entendido, o estudo das teorias sociais é necessário para entendermos
a realidade na qual estamos inseridos, como também pata detectar se existe uma
equivalência destas com nossa visão de homem e de mundo; para entendermos o
homem em sua totalidade; para compreendê-lo tanto no âmbito de suas relações com
os outros homens, quanto consigo mesmo,
ou seja, psicossocialmente.
O estudo das teorias sociais ainda
contribui para que o Assistente Social
possa compreender o indivíduo dentro da
sociedade e suas influências na formação
desse indivíduo, uma vez que estaremos
estudando, intervindo, enfim trabalhando
com o ser humanos e suas relações no Figura 41- luz
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/m%C3%A3os-aberto-vela-
Anote isso
As teorias sociais são o fundamento para a prática profissional!
É importante ressaltar que o Serviço Social não é a junção de várias teorias sociais,
mas uma profissão de caráter interventivo na sociedade, nas qual as teorias sociais
tentam explicar. E como o próprio nome da profissão já lembra: nossa intervenção
está ligada aos problemas sociais, à questão social e suas múltiplas expressões, as
relações sociais e humanas dos indivíduos.
Para se conhecer diversas interpretações que os pensadores propõem para os
diversos problemas (observe-se bem: são interpretações, e não soluções; e se não
são soluções, nenhuma teoria social fornece uma receita pronta para a intervenção).
Também, não se escolhe uma teoria social em função dos problemas que serão
encontrados; para poder encontrar a melhor solução e mudar quadro social. Pode-se
e deve-se trabalhar para melhorar as condições de vida, mas é impossível por meio
de qualquer profissão se alterar estruturalmente uma sociedade.
Escolhe-se uma teoria social pelo grau de aproximação entre a visão de mundo
do profissional em formação (acadêmico) e a do autor. Escolher uma teoria social
não é escolher um “dogma”, mas escolher princípios teóricos e metodológicos que
se aproximem da individualidade e a personalidade do profissional. Escolher uma
teoria não significa desprezar as demais como se fossem uma espécie de monstros
abomináveis. A construção dos diversos saberes humanos é algo que deve ser encarado
com seriedade e não de maneira leviana.
Anote isso
Podemos sintetizar que o estudo
das teorias sociais em Serviço Social
existe para que possamos ter um
conhecimento mais profundo sobre o
homem, sua realidade e os problemas
sociais e dessa maneira intervir com
maior eficácia e competência.
Para reforçar, lembro você que a teoria é sempre uma visão de mundo mais elaborada,
que por sua vez suscitará novas reflexões.
Caminhando para as nossas considerações finais desta aula, faz importante ressaltar
que o cotidiano é por si complexo, lotado de particularidades e determinações de
ordem estrutural, pois a sociedade e as relações nela estabelecidas são dinâmicas e
também complexas, logo o conhecimento teórico é apenas uma parte do todo, nem
mais e nem menos importante daquilo que entendemos por conhecimento.
AULA 6
NEOTOMISMO
[...] partirá da reflexão feita por Aristóteles e a trata sob nova luz
ao cenário filosófico de sua época. Vivendo seu tempo histórico,
Santo Tomás tratará em sua reflexão de questões vitais para sua
época, tais como: as relações entre Deus e o mundo, fé e ciência,
teologia e filosofia, conhecimento e realidade; estas questões e outras
mereceram tratamento e soluções dentro do pensamento tomista.
Santo Tomás de Aquino foi um filósofo medieval pertencente aos ideais cristãos,
durante a baixa idade média entre os séculos XII e XIII, um período em que a história
da humanidade está caminhando, aos poucos se transformando. Este é um período
em que o clero está sendo questionado, onde o modo de produção feudal (feudalismo)
também está sendo questionado. Então, a Igreja como uma instituição sólida também
precisa se transformar para defender seus paradigmas, os seus dogmas.
Santo Tomás se torna um representante que moldará o que a Igreja faria dali para
frente, uma vez que o mundo estava em transformação e o clero estava perdendo o
poder, principalmente no que dizia respeito o “monopólio da educação”, logo, Santo
Tomás vem para tentar “remoldar” o pensamento cristão, que cria uma das obras mais
significativas para a Igreja da época, que já citei anteriormente a: Suma Teológica.
Se tornando assim considerado um Doutor da Igreja Católica, era considerado doutor
aquele que conseguia moldar o pensamento e dogmas cristãos, os “Doutores” possuíam
grande representatividade, eram considerados pessoas muito próximas de Deus no
conceito cristão. São Tomás de Aquino foi um filósofo medieval pertencente aos ideais
cristãos, outro exemplo de Doutor da Igreja Católica, foi Santo Agostinho.
Através da sua relevância, a história da Filosofia aponta Santo Tomás como
pertencente à Escola Filosófica chamada de Escolástica, alguns dizem que ele
“cristianizou as ideias de Aristóteles” num termo amplo. Santo Tomás assim como
Aristóteles acredita que o nosso mundo terreno (o qual sentimos e vivemos) é capaz
de gerar conhecimento, sem deixar de lado a busca por Deus, pois trata-se de um
homem inserido no meio cristão. Mesmo assim procurou conciliar fé e razão, mesmo
a fé estando ainda num patamar acima.
A seguir você poderá acompanhar de um quadro onde procurei os principais princípios
e pensamentos Tomistas, depois retomado pelo Neotomismo, que influenciaram o
Serviço Social.
As leis têm por base a lei eterna, devem servir o bem comum e não ao
indivíduo como tal.
Se observarmos o último item da tabelam que trata das três leis que regem a
comunidade, conseguiremos perceber que
Logo é importante que você tenha clareza do que se entende por Neotomismo:
O Neotomismo por estar ligado à Igreja e a sua Doutrina Social, o Serviço Social
deveria seguir “... os princípios de dignidade da pessoa humana, do bem comum, entre
outros, hauridos em Santo Tomás, iluminaram a teoria e prática do assistente social
desde 1936 até 1960, de maneira preponderante” (AGUIAR, 2011, p.39).
No II Congresso Pan-Americano de Serviço Social, realizou-se no ano de 1949, na
cidade do Rio de Janeiro, tendo como um dos seguintes discursos proferidos por
Nadir Kfouri:
Sem uma perspectiva moral, não existe prática profissional [...] quanto
a formação moral propriamente dita terá que se basear nos princípios
cristãos [...] Os ensinamentos cristãos representam a fonte onde
os trabalhadores sociais irão abeberar-se; a moral cristã é aceita
e reconhecida mesmo pelos não-cristãos, no sentido religioso da
palavra. Por outro lado, impossível seria dissociar-se a Assistência
Social do Cristianismo, pois este foi, na expressão feliz de Delgado
de Carvalho, ‘o movimento que revelou a verdadeira caridade entre os
homens (KFOURI, 1949 apud, AGUIAR, 2011, p. 36).
A influência no Serviço Social pela igreja católica era explícita como você pode
observar, inclusive influenciando na composição das disciplinas e condutas éticas,
morais e religiosas que os profissionais deveriam ter. Mais futuramente começa a
haver um movimento de ruptura desse pressuposto filosófico, mas veremos isso em
outro momento.
Ao observarmos os princípios do Tomismo e Neotomismo, pudemos identificar
que os princípios tiram uma característica humanista conservadora, destacando-se
a moral, religião e humanismo.
Por fim, sintetizamos quais seriam os objetivos do Assistente Social que atuaram
neste período: a atuação dos assistentes sociais estava focada em integrar o homem
à sociedade, ensiná-los valores, moral, costumes cristãos, pois deveriam ser perfeitos
e estarem adequados à sociedade.
Muito bem, agora você iniciou sua jornada de conhecimento sobre as correntes
filosóficas que tiveram influência no nascimento do Serviço Social, inclusive brasileiro,
foi possível observar que as grandes questões filosóficas sempre permearam a
profissão, pois enquanto os filósofos s preocupavam em problematizar (questionar)
quem é o homem e as relações em sociedade, o Serviço Social, sempre trabalhou
diretamente com este HOMEM que vive na sociedade e nela estabelece relações,
para isso precisava de fundamentos para
compreendê-lo e desenvolver suas estratégias
de intervenção. Ainda hoje a profissão possui
influências do Neotomismo, mas em uma
dimensão muito menor.
E então, caro(a) aluno(a), gostou de
conhecer um pouco mais da relação da
Filosofia com o Serviço Social? Parabéns, por
mais esta etapa e até a próxima! Figura 51- rompendo correntes
Fonte: https://pt.freeimages.com/photo/chains-3-1162171
Anote isso
“...fica evidente que o Serviço Social no Brasil, se fez sob a inspiração e controle
da Igreja Católica e o Neotomismo foi o inspirador de sua visão de homem
e de mundo, que permanece até hoje, não porém, cm a mesma intensidade.
A ideologia católica enfatiza a reforma social, tendo em vista a chamada
questão social, a decadência dos costumes e o desenvolvimento do liberalismo
e comunismo. Trata-se de reconstruir a sociedade, de curar as imperfeições
da ordem social. Para desenvolver esses trabalhos, a Igreja arregimentará
o laicato, formando vários organismos entre eles a Ação Católica. E, nesse
trabalho, o Serviço Social no Brasil era clara e definida: assumir sob os aspectos
a doutrina (ideologia) católica. E a ideologia da reforma social encontrará
fundamentação no Humanismo Integral de Jacque Maritain. O Neotomismo
domo seu (Humanismo Integral é a ideologia que unifica, organiza, dirige a
ação social da Igreja nessa época, e estrutura as instituições que cria” (AGUIAR,
2011, p.144).
AULA 7
POSITIVISMO
Olá, prontos para mais uma aula? Daremos seguimento aos nossos estudos sobre
as principais correntes filosóficas no XX, sobretudo, para o Serviço Social, procurando
contextualizar tais princípios à história da profissão. Vamos hoje falar sobre o positivismo.
Vamos lá? Venha comigo.
A principal influência do Positivismo nas Ciências Sociais foram ações que permitiram
compreender a realidade, estimulando a adequação da linguagem, modificando atributos
e qualidades do objeto de investigação.
August Comte (1798-1857) e Saint Simon (1760-1825), referências do positivismo,
concentraram suas reflexões sobre a natureza e as consequências da Revolução
Industrial, propondo racionalizar a nova ordem social e encontrar soluções para os
problemas, a partir do restabelecimento da ordem e da paz.
Foi adotado por Augusto Comte para a sua filosofia e, graças a ele.
Passou a designar uma grande corrente filosófica que, na segunda
metade do século XIX, teve numerosíssimas e variadas manifestações
em todos os países do mundo ocidental. A caraterística do Positivismo
é a romantização da ciência, sua devoção como único guia da vida
individual e social do homem, único conhecimento, única moral,
única religião possível. Como romantismo em ciência, o Positivismo
acompanha e estimula o nascimento e a afirmação da organização
técnico-industrial da sociedade moderna e expressa a exaltação
otimista que acompanhou a origem do industrialismo (ABBAGNANO,
2015, p.909).
De acordo com Martinelli (2000), esses pensadores defendiam a tese de que as ciências
sociais, para serem consideradas como ciência, deveriam utilizar os mesmos métodos
das ciências naturais, tais como: a observação, a comparação e a experimentação,
identificando suas leis para promover o progresso e o desenvolvimento social.
As teses fundamentais do Positivismo consistem em:
A maioria das ideias desenvolvidas por August Comte tem se disseminado até a
atualidade. Seu pensamento é influenciado pelas ideias progressistas e revolucionárias
dos iluministas e, por outro lado, pelas ideias dos conservadores. Comte acreditava
que, no futuro, as sociedades seriam “orgânicas”, com suas partes perfeitamente
integradas e sem conflitos, comandadas por uma elite técnico-científica.
Para o cientista, com a nova sociedade moderna e industrial, poderia surgir a
possibilidade de aumentar a produção de mercadorias e de satisfazer às necessidades
humanas, o que levaria à diminuição dos conflitos sociais.
Nesse contexto, dava-se a entender que cabia à ciência a missão de ajudar a manter
coesa a sociedade, substituindo o papel que a religião e os cientistas desempenhariam.
A função que o clero exercia anteriormente, ao defender verdades aceitas por todos,
foi aceita como as primeiras orientações que conduziram o serviço social para sua
elaboração de uma visão de mundo.
Conforme a análise das formas de ação social de Max Weber (1864-1920), a divisão
entre meios racionais e fins irracionais é de grande relevância para o Serviço Social.
O Serviço Social surgiu influenciado pelo pensamento da Igreja Católica, tendo um
posicionamento humanista e conservador. A partir de 1945, o Serviço Social adota o
modelo funcional estabelecido pelos Estados Unidos, afastando-se do doutrinarismo
da Igreja Católica, introduzindo uma visão científica, a noção de dignidade da pessoa
humana; sua perfeição, sua capacidade de desenvolver potencialidades; a sociabilidade
natural do homem, como um ser social e político; a compreensão da sociedade como
união dos homens para realizar o bem e a necessidade da autoridade para cuidar da
justiça geral.
Anote isso
A bandeira nacional brasileira,
que possui escrita “Ordem e
Progresso” é uma demonstração
da doutrina positivista no país, a
sua aceitação e influência entre
os republicanos históricos, que
se preocupavam com a “ordem
social”, através do ajustamento
Figura 55- bandeira brasileira
do indivíduo. Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/brasil-bandeira-brasil-
flags-3001462/
Nesta égide, Quiroga (1991, p.48-49) afirma que “o entendimento da sociedade regida
por leis naturais, imutáveis, que necessitam ser descobertas através de observações
e contemplações positivas”.
De acordo com Durkheim o positivismo
O Serviço Social, na sua prática, deve estudar, compreender e observar, com bases
teóricas, a vida humana: a família, as relações de poder, a religião, a cultura, a saúde
e outras esferas diferentes da realidade social.
De acordo com Aguiar (2011), esta influência se deu a partir do Serviço Social de
Grupo e Comunidade, técnicas utilizadas até então pelo Serviço Social norte americano,
isso se deu devido ao fato de vários brasileiros terem ido estudar nos Estados Unidos.
Ao encerrar esta aula, convido você a fazer uma pausa, realizar anotações acerca
dos pontos mais relevantes, é importante retomar os conceitos da história, pois sem
ela não conseguimos acompanhar a linha do tempo da nossa profissão, importante
para a nossas próximas aulas.
Por fim,
... o que se pôde observar até aqui é que o projeto profissional deste
período - embasado pelas doutrinas conservadoras e tecnicistas
– direcionava os assistentes sociais para intervenções pautadas
na psicologização das demandas sociais, gerando sentimentos de
cuidado e de conforto aos sujeitos atendidos por estes profissionais
o que esvaziava o significado sócio-histórico destas demandas.
Isto significa que os conflitos gerados na relação de produção e
reprodução social eram revertidos em problemas pessoais, onde os
assistentes sociais através de ações educativas tinham como objetivo
buscar uma relação de harmonia entre trabalhadores e capitalistas
em prol da produtividade. Desta maneira, o Serviço Social buscava
contribuir com os empregadores no sentido de amenizar os conflitos
sociais, considerando as bases da organização social como dada e
não passível de questionamentos, limitando-se, portanto, a reforma
do homem dentro da sociedade. Em síntese, a atuação profissional
era marcadamente de cunho educativo moralizador e higienista
(PEREIRA, 2013, p.49)
teórica foi ampliada, assim como a metodológica, pois a teoria embasa a prática, nos
fornece elementos para que possamos compreender a realidade em que vivemos.
Agradeço a sua atenção e participação, parabéns pelo compromisso e até a
próxima aula!
AULA 8
FENOMENOLOGIA
Anote isso
O rigor da fenomenologia consiste em afastamento e aproximação da realidade.
Anote isso
A fenomenologia investiga o vivido para obter a universalidade das essências.
O início da pesquisa social com base na fenomenologia começou no final dos anos
70, como uma forma de fazer frente à leitura positivista da realidade, pois a leitura
positivista se contentava com o fato dado.
O método fenomenológico consiste numa redução fenomenológica (ou eidética),
que significa colocar o mundo natural entre parênteses com o objetivo de investigar os
objetos em si mesmo, tal como se apresenta à consciência. Redução do eu enquanto
realidade concreta ao eu transcendental-fenomenológico em sua relação com o objeto
(pura iminência, livre de pré-conceitos).
É uma busca em perspectivas que, ao mesmo tempo consiste num caminho rigoroso
do sujeito que faz perguntas à realidade e que procura ir além da aparência desta, e
revela novas apreensões fazem parte de uma só essência.
Anote isso
Método DEDUTIVO = faz a análise partindo do geral para o específico.
Método INDUTIVO = faz a análise parindo do particular para o geral.
Bicudo observa que “Husserl fala, também em categorias’. Mas entende-as como
“grandes regiões de generalidade compreendidas e interpretadas no âmbito do estudado”.
“Categorias abertas, porque são dadas à compreensão e interpretação do fenômeno
na região do inquérito investigadas”, categorias que também são denominadas de
convergências” (1994, p.22).
Alguns pontos importantes sobre a fenomenologia:
Anote isso
O que é o ente para a fenomenologia?
Ente = o que é, em qualquer dos significados
existenciais de ser [...] é o que e como nós mesmos
somos (ABBAGNANO, 2015, p.387).
Essa foi parte da introdução da autora Ana Maria Braz Pavão, que era adepta dessa
corrente filosófica, ela trazia ainda que,
AULA 9
MARXISMO
pelos negociadores com os meios de produção, ou seja, uns são proprietários e outros
não são proprietários. Existe uma relação econômica e jurídica.
Se no mercado são “iguais”, na produção são diferentes. Alguns são proprietários
da produção e outros não. Os primeiros exercem as funções diretivas, de mandar
e impor e, os seguintes, as funções executivas, subalternas de operar e realizar os
trabalhos. Portanto, ocupam lugares diferenciados e funções distintas nesta relação,
com um destaque para as diferenças. Já não há mais aqui liberdade ou igualdade: há
exploração e dominação de uns pelos outros, pois, ao que executa o trabalho, cabe
não só produzir um valor referente à sua força de trabalho, mas um valor superior,
excedente, que é a “mais valia”. O que ocorre, neste sentido ainda, é uma apropriação
do resultado da produção de forma diferenciada, em que não há apenas a negação
da troca, mas também uma apropriação do trabalho alheio pelo outro. O capital é a
“mais valia”.
O capital surge da relação social estabelecida entre o capitalista e o trabalhador, em
que se obtém dinheiro com o trabalho não pago, ou seja, é uma relação de classes
em que destacam-se as diferenças, as desigualdades e as contradições, o que torna
o conflito inerente à existência das classes sociais.
Fonte: https://alexandreconte.files.wordpress.com/2015/07/apresentacao1.jpg
Marx trata sobre o fetichismo das mercadorias no livro I do Capital. Este assunto
está intimamente ligado à Teoria do valor-trabalho, da qual Marx vem a ser o último
pensador a adotá-la. A teoria citada, abandonada por volta de 1870, apresenta o valor
de uso e o valor de troca que uma mercadoria traz.
O valor de uso está relacionado à utilidade que a mercadoria tem para as pessoas.
É um valor natural da própria coisa. Não se refere a uma produção social. Pertence à
natureza da coisa. Por exemplo: o peixe, o vinho.
Já o valor de troca, está relacionado com o trabalho. É uma produção social.
Tato Adam Smith, quanto David Ricardo e Marx, acreditavam que o valor de troca é
determinado pela equivalência de tempo gasto na produção de ambos os bens que
são trocados. Ou seja, o tempo gasto, exigido na produção de uma garrafa de vinho
seria equivalente ao tempo exigido para se pescar dois quilos de peixe.
Entretanto, é comum acordo que ambos os valores, de uso e de troca não apresentam
entre si nenhuma relação, nem mesmo inversa. Esse “tempo”, entretanto, não é
individual, mas coletivo e abstrato. O que ocorre é que a tecnologia vem reduzindo
Vamos continuar? O assunto da aula de hoje servirá de base para você compreender
as discussões que serão estabelecidas em muitas outras disciplina do curso, logo
vamos separar um tópico somente para abrir a discussão acerca do proletariado e
burguesia segundo Marx.
Considerando que vivemos em uma sociedade capitalista, inseridos no modo
capitalista de produção. Uma sociedade marcada pelas desigualdades sociais que
dão origem a questão social e todos os seus desdobramentos. Tais desdobramentos
são oriundos justamente desta contradição entre capital X trabalho, relação desigual,
tão presente nos dias atuais. Basta você olhar a realidade se sua cidade, como se
dividem as classes sociais? Existe pobreza? Existe miséria? Existe desemprego?
Se você respondeu que sim, saiba que estas contradições tão marcadas e marcantes
são reflexos do sistema capitalista.
Esta contradição que concentra a maior parte do capital (dinheiro e bens) nas mãos
de uns poucos enquanto muitos sobrevivem com pouco ou quase nada.
É difícil para muitos entenderem que pleno século XXI, ainda tenhamos pessoas
passando fome, pessoas desabrigadas, pessoas desempregadas, sem acesso à saúde
ou educação. A aula sobre marxismo serve justamente para que você compreenda
Anote isso
Esse curso repetido, diariamente, consiste no processo de acumulação de capital.
Antes de encerramos deixo para você um quadro resumo acerca das matrizes
teóricas e os seus respetivos critérios de cientificidade, espero que lhe ajude no
entendimento sobre tais matrizes trabalhadas ao longo desta unidade!
A realidade existe
Independe ao
Considera a realidade formada inicialmente e precisa
pensamento anterior
por partes isoladas de fatos ser colocada entre
a ela. Nela estão as
Conceito de atômicos. parênteses para
determinações em
realidade Não aceita outra realidade que
constante movimento.
transformar em
não seja os fatos que pode ser fenômeno da existência.
O pensamento
observados. O que vai ser real é a
reproduz a realidade.
essência – racional.
A história se desenvolve de
Faz recorte do tempo
maneira linear e cronológica,
quando chegam
de acordo com a concepção
as invariantes – é
Conceito da Lei dos três Estados e
É resultado da luta de atemporal.
de tempo relação estreita entre três
classes. O ponto de partida é o
(história) estágios não somente se dá no
presente. (não interessa
desenvolvimento da história da
o que aconteceu ontem e
humanidade, mas também na
nem o futuro).
história de cada indivíduo.
É a interdependência.
A relação é
determinada
historicamente.
No processo de
conhecimento o
sujeito que conhece
é ao mesmo tempo
objeto, porque o
fenômeno estudado
O homem é apenas para é visto na totalidade.
observar e conhecer os fatos Na 1ª fase o
(objeto). Deve-se (sujeito) objeto carregado
submeter-se às leis públicas. de subjetividade
Os objetos são fatos que se comanda(empírico) O primado do Sujeito
Relação submetem às experimentações. – representação não para dar ordem ao
Sujeito- O investigador estuda os plena. Na 2ª, encontro caos, mas para captar do
objeto fatos e estabelece relações das determinações caos o invariante, que é a
para ele pela própria ciência, abstratas as quais essência.
pelos propósitos superiores são reunidas em
da alma humana do saber síntese (abstração) - o
caracterizando a chamada sujeito comanda. Na
neutralidade da ciência. 3ª retorna ao objeto
para conferir a verdade
(prática social) é o
chegar do sujeito
como objeto -se a
teoria é verdadeira.
(sujeito e objeto
mantêm uma relação
de igual para igual /
todo mundo conhece
algo).
O concreto é
concreto, porque é a
síntese de múltiplas
determinações,
portanto, unidade do
múltiplo. Aparece no
É histórico genético indutivo, pensar como processo
ou seja, observação dos fatos, de síntese, como Método fenomenológico.
adivinhando-lhes por indução resultado, não como Vários tipos de redução –
Concepção as leis da coexistência da ponte de partida. No uma é a fenomenológica
de método sucessão. É o método geral primeiro caminho, e a redução eidética
do raciocínio proveniente do a representação (aproximar-se da
consenso de todos os métodos plena se volatiza em essência da verdade)
particulares. uma determinação
abstrata, no segundo,
as determinações
abstratas, conduzem
à reprodução do
concreto pelo caminho
do pensar
Pois bem meus queridos(as) aluno(as), espero que esta aula, tenha feito você refletir
muito, pois nesta aula consiste o embasamento para a nossa próxima Unidade de
estudo, onde iremos desvelar a influência do Marxismo no Serviço Social, sobretudo
brasileiro, aguçar o senso crítico, buscar outras fontes de leitura irão lhe auxiliar
muito neste momento, olhe as indicações de materiais extras, lá você encontrará
dicas de livros e filmes que irão complementar ainda mais este processo de ensino
e aprendizagem!
Até a próxima!
AULA 10
O RACIONALISMO FORMAL
ABSTRATO
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/pergunta-question%C3%A1rio-acho-que-2004314/
Olá, estamos chegando na reta final da nossa disciplina, onde trazemos reflexões
contemporâneas acerca das influências filosóficas no Serviço Social brasileiro, trazendo
para a nossa reflexão autores da área que certamente te colocará para pensar e refletir
acerca da constituição da sociedade, bem como a estrutura social e econômica de
nosso país.
Conto com você!
Objetiva-se com esta aula, retomar primeira e brevemente algumas das principais
influências filosóficas (teóricas), sobretudo, as conservadoras, aquelas que direta ou
indiretamente se fizeram presentes em algum momento da história do Serviço Social.
A partir daí quero estabelecer com você um processo de entendimento sobre as
dificuldades que os profissionais em se apropriarem da teoria crítica. Sabendo a
profissão e seus profissionais (não só do Serviço Social) também são influenciados
pelos fatos históricos de sua época, e isto reflete tanto na prática profissional, quanto
no entendimento e apropriação das teorias sociais.
Anote isso
O que é fato social?
Fato social é toda forma de pensar, agir e sentir, que determina o comportamento
dos indivíduos, ou seja, é basicamente como nos comportamos, os conceitos,
preceitos que definem o nosso comportamento em sociedade.
Émile Durkheim deixa claro que esses fatos sociais são sempre externos, melhor
explicando, é a sociedade quem os produz e não o indivíduo. As regras e os valores
morais são, por exemplo, fatores externos produzidos em conjunto pela sociedade e
não por uma pessoa única, por esse motivo que os fatos sociais são anteriores ao
indivíduo. Para ficar mais claro o conceito lembre-se: a sociedade já estava pronta
antes de nascermos.
Outra característica do fato social é que ele é sempre geral, logo todo mundo
reconhece que é legítimo, que é o que coordena e comanda a relação entre as pessoas
e por fim ele (fato social), também é coercitivo, isso significa que quando um indivíduo
age de uma forma não esperada pela sociedade, provavelmente sofrerá algum tipo
de punição, censura ou alguma situação semelhante a isso.
Um exemplo: existe uma regra social que diz que ao comermos, o façamos de
boa fechada e usemos os talheres apropriados, logo, não podemos mastigar de boca
aberta, então se a pessoa mastigar de boca aberta (o que ela pode fazer, até porque
ninguém é obrigado a nada), ela poderá ser advertida, reprimida, sofrer alguma coerção
por violar/quebrar este fato social.
Dá para entender o seguinte: temos um padrão e se fugirmos/infringirmos este
padrão estabelecido ou acordado, sofreremos alguma situação coercitiva, ficou clara
esta informação para você?
Mas afinal do que trata o racionalismo formal abstrato? “Ele aborda a realidade de
forma instrumental, imediatista e manipuladora. Está presente no positivismo clássico
de Comte, na economia vulgar, na sociologia de Emile Durkheim e em todas as correntes
Neopositivistas” (SIMIONATTO, 2009, p. 106).
Ainda sobre
Anote isso
Racionalismo: o racionalismo é a teoria em que a razão, não os sentidos, é a
origem do conhecimento. Os racionalistas argumentam que, sem contar com
princípios e categorias já dados, os seres humanos não seriam capazes de
organizar e interpretar as informações fornecidas pelos sentidos assim, de
acordo com o racionalismo, os humanos contam com os conceitos inatos e,
então aplicam o raciocínio dedutivo (KLEINMAN, 2014, p.84).
Anote isso
Tradição Racionalista: iniciada com René Descartes no século XVI opõe-se
ao ceticismo da época, indicando que se pode chegar à verdade através dos
recursos metodológicos assentados na razão.
Tradição empirista: compreende o conjunto de teorias de explicação, definição
e justificação de conceitos derivados da experiência. Para Francis Bacon, seu
principal representante, todo conhecimento tem origem unicamente na experiência.
Além disso, esta razão é responsável também pela fragmentação do real. A história
das ciências é social, segundo Lefebvre (1983) é fragmento de uma história geral
do conhecimento. Não se pode conhecer de forma fragmentada, desconsiderando
determinações de outros saberes, há de se considerar a importância e o campo de
saber das diversas ciências existentes.
A lógica dialética produz uma teoria que relaciona as diferentes ciências trazendo
uma visão de totalidade “(...) em nome da necessidade de unidade, de conjunto, em
nome das relações concretas entre a ciência e a vida, entre a teoria e a prática”
(LEFEBVRE, 1983, p. 84).
Montaño (2009) – a partir da análise de Lukács -, afirma que o surgimento das
“ciências sociais particulares” expressa a segmentação do conhecimento da realidade,
que teria se hegemonizado por conta da racionalidade positivista. Com isto, surge
a sociologia, como disciplina independente, deixando de lado a base econômica na
análise da realidade. Na verdade, trata-se de uma segmentação generalizada onde
surgem vários pontos de vista particulares, vinculados cada um, a uma perspectiva:
um a econômica, outros à social e outros à política.
Outra segmentação realizada pela lógica formal que aponta o autor é a que separa o
sujeito que conhece e pensa sobre a realidade daquele que executa as ações pensadas
por outros, ou seja, é a separação entre cientista e técnico. Tais segmentações apontadas
por Montaño são muito presentes no Serviço Social e influem diretamente na relação
entre teoria e prática na profissão, pois, no primeiro caso restringe a abrangência de
conhecimento das teorias a setores, como se não houvesse relação entre os âmbitos
econômico, social e político.
Com isso, “o profissional só poderia intervir sobre ‘variáveis’ que, alterando os aspectos
‘sociais’, não intervenham, não afetem, em questões ‘econômicas’ ou ‘políticas’” (MONTAÑO,
2000, p.14), levando o assistente social a agir sobre problemas sociais vistos como
autônomos, sem relação alguma. “A realidade não é ‘sociológica’, ou ‘econômica’, ou
‘política’, ou ‘cultural’, ou ‘psicológica’, senão uma articulação inseparável de aspectos que
só para efeitos analíticos podemos classificar dessa maneira” (MONTAÑO, 2000, p. 29).
No segundo caso separa-se a teoria da prática como se já não estivesse implicado
no ato de conhecer a necessidade prática.
Atualmente há uma tendência do pensamento científico em fixar-se em explicações
singulares dos fenômenos “(...) sem a preocupação de verificar quais são as implicações,
https://www.docsity.com/pt/livro-completo-cfess-servico-social-direitos-
sociais-e-competencias-profissionais-2009-1-1/4911043/
AULA 11
A INFLUÊNCIA MARXISTA
Caro(a) aluno(a), vamos dar início às discussões retomando que, por intermédio
do processo de reconceituação profissional, o Serviço Social perpassou por várias
vertentes teóricas, se destacando a fenomenológica e a marxista.
No entanto, foi a teoria marxista que apresentou maior teor de informação e
sustentação teórica para explicar as complexas transformações sociais ocasionadas
pelo modelo de produção capitalista.
Ainda em Yazbek (2009, p. 10), é possível compreender que o referencial indica uma
direção de pensamento e não uma regra absoluta que deve ser seguida à risca. As
Neste momento, caro(a) aluno(a), façamos uma pequena pausa para uma reflexão.
Anote isso
É importante frisar que o Serviço Social não é a junção de várias teorias
sociais, mas uma profissão de caráter interventivo na sociedade, a qual as
teorias sociais tentam explicar de acordo com o contexto social.
Como o próprio nome já lembra, nossa intervenção está ligada aos problemas sociais,
às relações sociais e humanas dos indivíduos. Desta maneira, para se conhecer as
várias interpretações que os cientistas sociais propõem para os diversos problemas,
você deve estar atento(a) para compreender que são interpretações, e não soluções,
se não são soluções, nenhuma teoria social fornece uma receita para a intervenção.
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/equipe-empres%C3%A1rios-coopera%C3%A7%C3%A3o-2651913/
AULA 12
BREVE REFLEXÃO ACERCA DO
MÉTODO ABSTRATO- CONCRETO
Anote isso
O concreto é concreto, porque é a síntese de múltiplas determinações.
Lukács (1979), de que tal método se destina só a leitura do ser social, tal qual a
proposta de seu criador, polemizando assim, com o conteúdo do livro Dialética na
Natureza de Engels, em que tal método serviria também para estudos na área da
química, matemática, genética etc.
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/
mulher-triste-estima-d%C3%BAvida-
Isto acontece na prática arte-1048899/
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/mulher-menina-bal%C3%A3o-1172718/
Enquanto o item (3) consiste no processo de investigação este item, (4) corresponde
ao processo de exposição: a exposição dos resultados da investigação, no sentido, de
exposição de uma aproximação a essência, de como o fenômeno singular se insere na
totalidade histórica e social ou no conjunto das relações sociais (1). Só que é logico,
o concreto pesado, como já foi dito, não é concreto: é apenas a explicação de um
fenômeno singular e de sua relação com o universal (1), através da apreensão de um
campo de mediações (3).
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/homem-cabe%C3%A7a-silhueta-cor-sujeira-3591573/
LEITURA OBRIGATÓRIA
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/neg%C3%B3cios-%C3%A1rvore-crescimento-sucesso-1137367/
AULA 13
SOCIALIZAÇÃO: INDIVÍDUO,
SOCIEDADE E CULTURA
Olá, meu querido e minha querida aluna, como você está se sentindo com relação
as aulas apresentadas? Espero que eu esteja conseguindo contribuir com o seu
processo formativo.
Peço a você neste momento que faça uma pausa e se faça as seguintes perguntas:
quem sou eu, enquanto ser social inserido(a) na sociedade, como se dão as minhas
relações, qual a contribuição que estou deixando para a sociedade da qual faço parte?
Já apresentei em outras oportunidades que o homem nasce já inserido em um
meio social existente onde suas normas e regras já vêm sendo transmitidas através
de várias gerações pelas inter-relações sociais, portanto, ele é um ser social que
incorpora para si as normas, valores familiares e sociais vigentes.
Segundo Strey (2002, p.58), “o homem é também um animal, mas um animal que
difere dos outros por ser cultural”, pois é por meio dos relacionamentos sociais (das
atividades em grupo) que se apreende conceitos, regras e hábitos que formam a
cultura do meio em que vivemos. Ainda de acordo com Strey (2002), o ser humano
se desenvolve num contexto multicultural formado pela influência de várias culturas
proporcionando uma troca entre os meios sociais, pois a cultura varia de um grupo
para outro mesmo compondo uma única sociedade, por exemplo, os moradores de
uma zona rural e os moradores dos centros urbanos têm culturas diferentes com
suas próprias crenças e valores e que podem se inter-relacionar propiciando uma
troca de culturas.
Anote isso
A personalidade determina o significado que atribuímos às nossas experiências,
à nossa existência, ao mundo e a nós próprios, tornando-nos pessoas únicas,
a partir do nosso padrão de comportamento.
Ainda de acordo com Oliveira (2002, p.30), “[...] a interação assume formas diferentes.
A forma que a interação social assume o que se chama de relação social”. Podemos
encontrar vários tipos de relação social, como por exemplo: relação pedagógica,
econômica, política, religiosa, cultural, familiar, etc. A forma mais típica de interação
social é aquela em que há influência mútua entre os participantes.
Alguns autores falam em interação social quando apenas um dos elementos
influencia o outro. Isso acontece quando um dos polos da interação está representado
por meio de comunicação apenas físico, como a televisão, o cinema e o livro. Assim,
quando um indivíduo assiste ao filme, ele pode ser influenciado pela história, mas
não a influencia. Ocorre, nesse caso, uma interação não-recíproca, ou seja, apenas
um dos lados influencia o outro.
É importante ter em mente que a cultura não é algo isolado é composta por um
conjunto de fatores integrados de comportamentos aprendidos, que são compartilhados
por todos os membros da sociedade. Portanto a cultura se refere ao modo como
um grupo social vive, a forma como inclui todas as suas formas de expressão, com
suas linguagens próprias (a literatura, a música, as artes plásticas etc.), as várias
formas que se manifestam no modo de vestir das pessoas, em seus costumes, em
seus padrões de comportamento, os seus rituais religiosos, as suas ideias, crenças
e princípios orientadores da vida (como as teorias científicas, as doutrinas religiosas
e as ideologias).
A cultura é constituída de elementos que contribuem para a organização da vida
cotidiana, como os estilos de vida familiar e as atividades de lazer que caracterizam nosso
ambiente de convivência e dos mecanismos sociais desenvolvidos para a resolução
dos problemas da vida coletiva, como as formas de organização da vida escolar, da
política ou da produção da vida material. A cultura envolve tanto aspectos concretos
como aspectos abstratos, e é formada a partir desses dois fatores, o mundo das
ideias, dos simbolismos e o mundo
concreto da produção material para
criar formas de organização social
que possibilitem a cooperação entre
as pessoas no sentido de atingirem
seus objetivos.
A cultura varia de acordo com as
necessidades de cada grupo social, Figura 81- Grupo Education
Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/pessoas-grupo-multid%C3%A3o-equipe-309097/
por exemplo, existia antigamente uma tradição numa região do norte do Japão
onde as pessoas que completavam 70 anos de idade tinham que subir para o Monte
Narayama para morrer. Tratava-se de uma lei coletiva que garantia a sobrevivência
do povo local, que era muito pobre e vivia no limite de sobrevivência. Era um costume
aprovado por todos – os mais velhos aceitavam o seu destino e subiam o monte em
silêncio, onde morriam de fome e em solidão. Visto hoje, parece uma regra muito
cruel, porém, é difícil julgar porque não podemos nem imaginar as condições nas
quais estes povos viviam.
Já os esquimós tinham uma tradição de oferecer a esposa para passar a noite
com o visitante. Esse costume data da época em que estes povos viviam em grande
isolamento e em grandes distâncias entre uma tribo e outra – nessas circunstâncias,
a tradição citada garantia a diversificação genética da tribo e a protegia contra o risco
de incesto dentro do povo local.
Cada povo, em cada tempo, em cada realidade, se organiza culturalmente para
garantir a sua sobrevivência, cria suas regras e padrões de comportamento. Se você
parar para observar, verá isso inclusive no nosso meio social.
[...] vale lembrar que a ação humana é coletiva, por ser exercida como
tarefa social, pela qual a palavra toma sentido pelo diálogo. Ninguém
pode ser considerado verdadeiramente solitário, nem mesmo o
ermitão, porque sua escolha de se afastar faz permanecer a cada
momento, em cada ato seu, a negação e, portanto, a consciência e a
lembrança da sociedade rejeitada. Seus valores, erigidos contra os da
sociedade, se situam também a partir dela. A recusa de se comunicar
é ainda um modo de comunicação (ARANHA, 2003, p.25).
Para dar sentido à vida em sociedade, é necessário que existam regras sociais,
formais ou não, para que haja organização. Regras que se constituem dos valores
criados e transmitidos culturalmente. Essas regras refletem os valores predominantes
da cultura de uma sociedade e são elas que permeiam as ações e atividades realizadas
pelos indivíduos que a compõem. Esse processo é chamado de socialização.
E o processo de socialização que nos torna autoconscientes fazendo com que
possamos ser capazes de interagir e lidar com o mundo à nossa volta.
Anote isso
Quantos papéis assumimos ao longo da nossa vida? Se pensarmos sobre
nossa trajetória de vida, vamos perceber que no processo de formação de
nossa personalidade passamos por infinitas experiências de socialização de
acordo com o nosso momento de vida.
A nossa posição na sociedade vem dos papéis sociais que adquirimos a partir
das relações sociais que travamos durante nosso desenvolvimento. O papel social
pode ser dividido em duas partes, o papel que socialmente é esperado de nós, e o
papel que assumimos internamente. Portanto, as relações sociais são de fundamental
importância no desenvolvimento da identidade de cada indivíduo. “A cultura, é, portanto,
um processo de autoliberação progressiva do homem, o que o caracteriza como um
ser de mutação. Um ser de, que ultrapassa a própria experiência” (ARANHA, 2001, p.70)
Anote isso
“A consciência individual do homem só pode existir nas condições em que
existe a consciência social” (LEONTIEV, 1978, p. 88 apud LANE, 1994, p.24).
Para que você consiga fazer destes estudos uma experiência rica e significativa,
você poderá e deverá buscar reconhecer e desenvolver as competências necessárias
para atuação, saber realizar a análise e síntese dos conhecimentos adquiridos que
irão compor sua identidade profissional.
Sendo assim, quando nos propomos a conhecer e analisar a profissão isto supõe
abordar ao mesmo tempo tanto os modos de atuar quanto de pensar que foi incorporado
pelo profissional, atribuindo visibilidade às bases teóricas, históricas e filosóficas
assumidas pelo Serviço Social na leitura da sociedade e na construção de respostas
à questão social ao longo do tempo.
As transformações da sociedade sejam elas econômicas, sociais, políticas ou
culturais estão sofrendo alterações constantes, o que está levado a alterações e/ou
produzindo novas necessidades sociais, o que acaba gerando também novas demandas
Anote isso
Para que não sejamos arrastados
ou sufocados pelos problemas que
nos cercam é necessário que todos
participemos efetivamente com o saber
com o querer e com o fazer na construção
de um caminho em que o poder estará
distribuído entre todos (GANDIN, 1994).
Figura 83- Homem na seta
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/seta-
dire%C3%A7%C3%A3o-dist%C3%A2ncia-1020242/
AULA 14
REFLEXÕES FILOSÓFICAS
GERAIS SOBRE O COTIDIANO
Bem viver! O que seria isso? Não é, claro, uma vida ostentatória e fútil;
não é, também, o acúmulo obsessivo e tolo que esquece ser banal a
posse sem partilha ou o poder ser generosidade.
Bem viver, é poder viver as inúmeras dimensões da nossa existência
– Família, Trabalho, Amizade, Cidadania, entre outras – sem admitir,
passiva ou ativamente, a dissonância e a desproteção na harmonia
que afasta o sofrimento (pelo limite vivido) e a culpa (pela suposta
impotência) (CORTELLA, 2013, p. 20).
Ficou mais claro para você a compreensão de bem viver? Você conseguiu estabelecer
a relação entre o início da nossa aula, onde apresentei a partir do filósofo Mário Sergio
Cortella a questão do biocídio? Lembrando que o biocídio consiste na “eliminação de
variadas formas de Vida, inclusive, claro, a nossa. Extinção em massa, abreviação das
condições vitais e, sem menos importância, a erradicação de Futuro” (2013, p. 35).
Anote isso
O Assistente Social, dentro de seu processo formativo precisa se dedicar ao
estudo do ser humano e suas relações, considerando que tais conhecimentos
que serão necessários no atendimento direto ao usuário e suas famílias.
Quando Marx fala de um homem desumanizado, ele percebe isso pela ótica das
relações econômicas, onde as relações humanas têm suas bases firmadas nas
mercadorias e no processo de produção:
Anote isso
ESSÊNCIA- É o núcleo básico, conjunto de características que fazem com
que uma coisa seja o que ela é; é o que define e específica a natureza dessa
coisa. A essência de um ser é aquilo que é fundamental e imprescindível para
Pois de acordo com May (1987, p.76): “... o tipo de relação que estabelecemos com
as pessoas demonstram o grau de consciência que possuímos.” Isso deixa claro que
o caminho para que o homem seja ele mesmo é o de buscar alcançar o mais alto
grau de consciência, o que está intimamente ligado às relações cotidianas que ele
vive e que o determina por ele estabelecida.
Powell sobre o homem e seus relacionamentos, apresenta que: “[...] aquilo que sou,
a qualquer momento de minha vida, será determinado por meus relacionamentos com
aqueles que me amam ou se recusam a me amar; com aqueles a quem amo e quem
me recuso a amar” (POWEII, 1987, p.43).
O autor expõe ainda que o que contribui para o crescimento do homem é justamente
a interação deste com os demais homens, mas não somente com aqueles homens
com os quais obteve-se êxito na relação, ou seja, aqueles que gostamos, mas também
com aqueles que não se conseguiu estabelecer uma relação de maneira prazerosa
como se esperava. Ambas as relações trazem para o homem a sua contribuição no
sentido de estar proporcionando uma reflexão sobre si mesmo, no interior desta relação.
Mas, para que as relações estabelecidas por este homem sejam realmente parte
contribuinte neste processo de busca do conhecimento de si mesmo, é necessário que
se tenha claro que as relações contribuem para esta construção e não devem ser elas
mesmas as “construtoras” desta. Ou seja, elas não devem decidir impor ao homem
como este deve agir, pensar, viver. Desta forma, o indivíduo estará num processo de
construção de uma “pseudoconsciência”, uma falsa ideia de si mesmo.
Isto não é difícil de se perceber atualmente. Fromm (1983) traz sua contribuição
quando cita em sua obra o pseudopensamento, que é quando a opinião tida pelo
indivíduo “parece” resultar do seu próprio raciocínio, mas na realidade inconscientemente
ele adotou a opinião de outrem, ou seja, sua opinião é inautêntica.
Realmente não deve ser esta a contribuição que
se anseia das interações estabelecidas, porque o
indivíduo “... cresce na medida que escolhe seu
caminho conscientemente... [grifo nosso]”
(MILL apud MAY, 1987, p.77). E a partir do
que o homem vê, ouve, vive e sente,
ele pode “criar-se a si mesmo”,
com aquilo que o individualize e
o caracterize como “o homem” e Figura 89- grupo de pessoas, comunidade
Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2016/07/30/08/19/head-1556566_960_720.png
Mostra-nos o exemplo que o homem não deve curvar-se para qualquer vento que
sopre, ser condicionado a agir da forma como os outros querem que ele aja. A pessoa
da história anterior agiu de maneira correta na medida em que não se deixou condicionar
e influenciar pelo mau humor do jornaleiro.
Deve-se levar em conta que a consciência é singular onde “[...] nunca sei exatamente
como você vê a si mesmo e você nunca sabe exatamente como eu me relaciono
comigo próprio” (MAY,1987, p.78). Ou seja, cada indivíduo sabe de si e conhece do
outro aquilo que a consciência do outro revela, e assim, dá-se a interação entre os
homens na sociedade.
E se o homem não conhecer a si próprio, não terá como conhecer o outro. É
necessário então ao homem saber o que quer, saber seus anseios, seus desejos e
sentimentos mais íntimos e sinceros.
O tornar-se livre da natureza é uma das etapas da liberdade conquistada pelo homem
ao longo da história.
de sua vida o que pudesse - e não o que lhe fosse mandado (FROMM,
1987, p. 87).
[...] a pessoa que não estima a si mesma, que não aceita a si mesma,
está numa angústia constante acerca de seu próprio eu. Ela não
possui a segurança interior que só pode existir baseada na legítima
Este bloqueio que a sociedade provoca no indivíduo através das relações interpessoais
instrumentalizadas e intimamente ligada às leis de mercado, assim como a falsa liberdade
de expressão, faz com que o homem acomode seu espírito crítico e pensante, e isto
vem comprometendo também o futuro da humanidade, uma vez que a história estará
sendo construída apenas por alguns. E a história além da construção coletiva deve
levar também a marca individual de cada homem, uns por lutarem, outros por omissão.
Segundo May (1987), o fato de se sentir ódio ou ira, “... é um sinal de potencialidade
interior para resistir aos seus opressores” (p.125). O ódio e a ira foram recalcados e
atualmente o ressentimento ocupou os seus lugares nesta sociedade, porém, para se
chegar à liberdade é preciso vencer o ressentimento, “... e o primeiro passo é saber a
quem ou o que se odeia...” (MAY, 1987, p.128).
Por não saber o que ou quem se odeia é que as pessoas, a cada dia, mais se
encontram perdidas em seus próprios sentimentos e quando podem recorrem a
Psicólogos, Psicanalistas, Assistentes Sociais, ansiando que estes lhes digam como
resolver este impasse num toque de mágica.
Muitos não alcançam êxito em suas buscas exteriores e acabam desistindo,
conformando-se e obedecendo as regras impostas pelo sistema. E então se acaba
descobrindo mais um fator que impede o homem de alcançar sua liberdade interior e
consequentemente ser menos autêntico é o fato de que ao conformar-se, o homem
permite ao outro se expressar com maior liberdade e a sua liberdade própria é reprimida,
e a do outro é amplamente divulgada e vivida. Ao conformar-se, o homem moderno
está dizendo sim às diversas outras imposições públicas e o seu aval já foi dado,
quando resolveu omitir-se.
O rendimento à opinião pública, ao egoísmo, a baixo-estima, aos perigos diários, ao
conformismo, às máscaras e outros são barreiras detectadas por estudiosos, como
Fromm, Goffman e May, “barreiras” que impedem e/ou dificultam para que o homem
alcance sua liberdade interior, e consequentemente seja mais autêntico.
Se estes impedimentos não forem superados e resolvidos não haverá na sociedade
a construção de um homem livre para agir de acordo com sua autoconsciência.
Pois a autoconsciência e a liberdade são indicadores fundamentais para a
construção de um ser autêntico e sem esses indicadores acentua-se na sociedade
a construção de uma consciência humana inautêntica. E o que se percebe é que a
luta de muitos é por um ser que seja a cada dia mais ele mesmo. Queremos que ao
conversar com alguém estejamos falando com um homem real e autêntico e não
uma construção da opinião pública vigente.
AULA 15
REFLEXÕES FILOSÓFICAS
SOBRE A ÉTICA E A MORAL
Olá, vamos seguindo adiante, aplicando o conhecimento, nesta aula, você irá conhecer
como surgiu a moral na humanidade e sua evolução desde os tempos primitivos até
os dias de hoje.
Mesmo sem conhecer as raízes dos conceitos é natural nos remetermos a valores
experimentados, questionados e consolidados, ao falarmos sobre ética ou moral, nos
referimos a valores experimentados, questionados e consolidados. Não há sociedade
que progrida, nem atividade profissional que se destaque sem a aplicação da ética
amparada pela moral. A ética e a moral, como estão baseadas nos costumes de
uma sociedade, podem sofrer alterações no decorrer do tempo. No século XVI, por
exemplo, era considerada ética e moralmente aceita a punição por morte na fogueira
daqueles que eram condenados por bruxaria, pois se acreditava que a mesma estava
justificada nos tribunais da inquisição. Este comportamento, nos dias atuais, é
Anote isso
“Ética, do grego ethos, caráter, é o estudo dos conceitos envolvidos no raciocínio
prático: o bem, a ação correta, o dever, a obrigação, a virtude, a liberdade,
a racionalidade, a escolha. É também o estudo de segunda ordem das
características objetivas, subjetivas, relativas ou céticas que as afirmações
feitas nesses termos possam apresentar” (BLACKBURN, 1997, p.129).
Eugênio Bucci, (2007, p.. 50) em seu livro Sobre Ética e Imprensa, diz que:
O indivíduo existia somente pela relação com a comunidade, onde não se podia ter
interesses pessoais e exclusivos que entrassem em choque com os outros. A coletividade
se apresentava como um limite da moral. Tratava-se de uma moral pouco desenvolvida,
enquanto que a moral mais elevada estava embasada na responsabilidade pessoal.
O aumento geral da produtividade, bem como o surgimento de novas forças de
trabalho elevou a produção gerando mais produtos que o necessário, gerando assim
a desigualdade de bens entre os chefes de família. Com a decomposição do regime
comunal e o aparecimento da propriedade, foi se acentuando a divisão de homens
livres e escravos. A propriedade livrava da necessidade de trabalhar. O trabalho físico
acabou por se transformar numa ocupação indigna de homens livres. Os escravos
não eram pessoas, mas coisas comercializadas como um objeto qualquer.
Nasciam assim duas morais: uma dominante, dos homens livres, considerada
como verdadeira e outra dos escravos. A moral dos homens livres não só era uma
moral efetiva, vivida, mas tinha também seu fundamento e sua justificação teórica
nas grandes doutrinas éticas dos filósofos da antiguidade. Aristóteles opinava que uns
homens são livres e outros são escravos por natureza e que esta distinção é justa e
útil. Os escravos eram objetos de um tratamento sem piedade e nenhum dos grandes
filósofos daquela época julgava imoral. Reprimidos, os escravos não podiam deixar
de ser influenciados por aquela moral servil que os fazia considerarem-se coisas.
Com o desaparecimento da sociedade escravista, cresce uma nova relação para
a moral dos indivíduos e da comunidade, cresce a consciência dos interesses da
coletividade e, de outro, surge uma consciência individualidade. O indivíduo se sente
membro da comunidade, sem ser absorvido totalmente por ela. “Eu existo”.
Trata-se da sociedade feudal, dos senhores
feudais e a dos camponeses servos. Os servos da
gleba eram vendidos e comprados com as terras
às quais pertenciam e não podiam abandonar. Os
homens que eram considerados livres (artesãos,
pequenos industriais, comerciantes etc.) estavam
sujeitos à autoridade do senhor feudal. A igreja
era o instrumento do senhor supremo, ou Deus. A
moral da sociedade medieval correspondia às suas
Figura 97- construção valores
características econômico-sociais e espirituais. De Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/cursos-
partes-forex-an%C3%A1lise-2318035/
Uma nova moral, verdadeiramente humana, implicará numa mudança de atitude diante
do trabalho, num desenvolvimento do espírito coletivista vivido nos dias atuais.
Para Rodrigues e Souza (1994, p. 13), “a Ética é um conjunto de princípios e valores
que guiam e orientam as relações humanas”. Esses princípios devem ter características
universais, precisam ser válidos para todas as pessoas e para sempre. É uma definição
simples, um conjunto de valores, de princípios universais, que regem as relações
das pessoas. O primeiro código de ética de que se tem notícia, primeiramente para
quem possui formação católica, cristã, são os dez mandamentos. Regras como “não
matarás”, “não desejarás a mulher do próximo”, “não roubarás” são apresentadas como
propostas fundadoras da civilização ocidental e cristã.
A ética é muito mais ampla, geral e universal do que a moral. A ética tem a ver com
princípios mais abrangentes, enquanto a moral se refere mais a determinados campos
da conduta humana. Quando a ética desce de sua generalidade, de sua universalidade,
fala-se de uma moral, por exemplo, uma moral sexual, uma moral comercial. Pode-se
dizer que a ética dura mais tempo, e que a moral e os costumes prendem-se mais a
determinados períodos. Mas uma nasce da outra. É como se a ética fosse algo maior
e a moral fosse algo mais limitado e restrito.
A visão estreita da moralidade deriva para o moralismo que equivale a uma espécie
de loucura da ética – é quando se perde o sentido geral das coisas para se apegar a
determinados pontos ou normas, que são tomados de forma absoluta, sem levar em
conta a amplitude, o conjunto.
A ética é legitimada pela sua racionalidade. E, mais do que isso, a força e a
transparência de determinados princípios que parecem evidentes em si mesmos.
Por exemplo, não matar. “Não matar” é um princípio que deve ser universal, deve fazer
parte do senso comum. Se fosse permitido matar, o canibalismo, a guerra e o genocídio
também estariam autorizados e o caos se estabeleceria. Então, a sociedade ficaria
inviável porque não há possibilidade de convivência sem o respeito a certos princípios.
Agora, se é um assunto tão antigo e tão mutável, por que precisamos continuar falando
nele? Por que motivo você deve gastar seu precioso tempo fazendo esta aula? Porque
as questões éticas continuam sendo (e sempre estarão) essenciais em sua vida.
Já pensou o que seria das suas relações pessoais e profissionais se, de uma hora
para outra, todos perdessem a noção de ética e começassem a agir conforme seus
humores e interesses pessoais?
Assim, é possível analisar que a ética depende do grupo ao qual estamos inseridos,
ou seja, existem diversas verdades e diversos princípios aceitos por um grupo e outro
não. Um pouco mais à frente será discutido com detalhes este conceito.
Desta ideia de divisões grupais destaca-se que o principal fator seja os valores
individuais de cada um. Por valores pode-se entender os princípios básicos aceitos
pela sociedade, o qual são categorias conjugadas com um sentimento de pessoa,
tais como:
• A guerra é má.
• Exercício físico é bom.
• A vida é intocável.
• A educação é fundamental.
• A mentira é inaceitável.
• O individualismo no trabalho é prejudicial.
Anote isso
A ética é o que traça sua linha de conduta.
Ela está o tempo todo presente em sua vida familiar, no ambiente profissional
e em cada minuto do seu dia.
Desde o momento que você acorda e levanta da cama, você é constantemente
abordado por situações que colocam à prova seu comportamento ético.
Questão para reflexão: você lembra de alguma situação que vivenciou recentemente,
onde a conduta ética (sua e de outros) foi fundamental?
Para tanto, existe formas de autoanálise para verificar se a forma como se está
trabalhando é ética ou não. Por exemplo, algumas simples perguntas:
1. É legal?
2. Estarei violando a lei civil ou a política da companhia?
3. É imparcial?
4. É justa com todos os interessados, tanto a curto como a longo prazo?
TIPOS DE ÉTICA
Esperança rege que o sonho deve vir antes de tudo. De qualquer forma o resultado é
um só, “Não importam os efeitos ou consequências das decisões tomadas, o resultado
virá por si só”.
Repousa no conforto das respostas acabadas Enfrenta a vertigem das perguntas e o desafio
e das verdades absolutas das soluções relativistas
Viver em sociedade nada mais é do que conviver com as pessoas que fazem parte
dela e este convívio é repleto de desafios, superações e exercícios de tolerâncias.
A ética é necessária entre duas ou mais pessoas em relacionamentos pessoais e
profissionais, de natureza individual (particular) e coletiva; em sua estrutura familiar,
empresarial, enfim, em todas as áreas.
Como você pode ver, todos os grupos de pessoas obedecem a normas morais,
mas é preciso considerar que existem especificidades e costumes diferentes entre
as culturas, portanto, o que parece natural para uma sociedade pode não o ser para
outra. Por exemplo: pessoas morrem de fome na Índia, mas não comem carne de vaca,
pois este é considerado um animal sagrado lá, outra situação: aqui mesmo em nosso
país há praias de nudismo, nas quais as pessoas transitam nuas livremente, mas se
decidem caminhar assim nas ruas de uma capital, certamente serão advertidas. Como
cada ser humano possui suas próprias características e peculiaridades, seus valores
e crenças é esperado que existam conflitos nestes relacionamentos, a situação não
é evitar os conflitos, mas saber administrá-los, procurando um ponto de equilíbrio
Assim, podemos afirmar, a questão ética começa com o nosso nascimento, é comum
a expressão que educação, valores, religião, classe econômica e social, crenças vêm
de berço, ou são “herdados”.
Durante o desenvolvimento do indivíduo, há diversos fatores que podem influenciar
sua maneira de construir as referências éticas: os ensinamentos transmitidos pela
família, na escola, os grupos de amigos, os clubes que frequenta, por exemplo.
em que irá chegar, o importante é cumprir o dever de forma que se sigam as normas
estabelecidas. A Convicção do Princípio rege que sejam respeitadas as regras haja
o que houver e a Convicção da Esperança rege que o sonho deve vir antes de tudo.
De qualquer forma o resultado é um só, “Não importam os efeitos ou consequências
das decisões tomadas, o resultado virá por si só”.
AULA 16
O PROCESSO REFLEXIVO
COMO UM CAMINHO A SER
PERCORRIDO PELO USUÁRIO DO
SERVIÇO SOCIAL EM BUSCA DE
UMA VIDA MAIS AUTÊNTICA
Você pode estudar nas aulas anteriores, que o homem moderno, muitas vezes, acaba
tornando-se um autômato, em que as ideologias postas pela sociedade conspiram por
fazê-lo tomar como suas, ideias, vontades, desejos que na verdade não lhe pertencem.
Para combater esta imposição de ideias e fazer com que este homem se perceba
como homem, para que ele tenha vida e ideias próprias, vimos que ele precisa ter
autoconsciência de si mesmo e não agir de acordo com aquilo que lhe é posto e sim
que através dos seus próprios pensamentos, ele possa definir o que realmente quer
e ter a certeza de quem ele realmente é.
Em nossa sociedade existem muitos indivíduos neste estado de automismo. E na
prática o que os profissionais de Serviço Social podem fazer para auxiliar na reversão
deste processo? Como refletir com o usuário do Serviço Social esta situação de modo
que ele perceba a sua realidade?
Você verá em outras disciplinas que em toda metodologia de intervenção no Serviço
Social deve possuir técnicas e instrumentos adequados para que os objetivos ético-
filosóficos e práticos profissionais sejam alcançados.
Assim, toda metodologia necessita estar pautada em
princípios filosóficos. Desta forma, só as técnicas e
instrumentos, mesmo que bem utilizados, não garantem
uma boa operacionalização, uma vez que se deve ter uma
finalidade que direcione a ação.
É preciso que o Assistente Social saiba onde ele quer
chegar e por que ele quer chegar, em outras palavras, é
necessário ter uma teleologia ou finalidade.
Sobre o homem moderno e seus dilemas é possível
retirar certos princípios teórico-filosóficos, que a meu ver,
podem nortear o Assistente Social em sua ação na atuação Figura 103- executiva
Fonte: https://cdn.pixabay.
com/photo/2017/12/19/09/11/
junto aos usuários. businesswoman-3027628_960_720.jpg
São eles:
• Ser distinto (diferente), quer dizer que o homem deve ser individual, singular,
ser ele mesmo, autêntico.
• A consciência é relativa, finita e subjetiva.
• O homem vem da natureza e não vive sem ela.
• O homem busca a individualidade em meio à sociedade, porém sem perder-se nela.
• O homem atualmente tornou-se um estranho para si mesmo, devido à grande
imposição de vontades e valores alheios.
• O homem conformista vive de acordo com o que o grupo espera, pois não vê
chances de mudanças.
• Se o homem reproduz valores, não demonstra estilo próprio.
• O homem reflete aquilo que esperam dele.
• O homem vive de acordo com a opinião pública.
• A ansiedade aparece quando o homem não sabe se será aceito ou não
pelo grupo.
• A autenticidade implica na questão do indivíduo ser sujeito de si, de seus
pensamentos e sentimentos.
• Existe na vida do homem uma compartimentalização de valores, ou seja, vive-
se um valor de acordo com a situação vivenciada em sua vida.
• É preciso reencontrar o ponto de apoio do homem, reavaliar seus valores.
• As relações estabelecidas pelo homem devem contribuir para o seu
crescimento pessoal.
• “O indivíduo cresce na medida em que escolhe seu caminho
conscientemente...” (MILL apud MAY, 1987, p.77).
• Cada indivíduo sabe de si e conhece do outro aquilo que a consciência do
outro revela.
• Se o indivíduo não conhece a si próprio não é capaz de conhecer o outro.
• O indivíduo necessita de liberdade interior e exterior.
• A liberdade é gradativamente conquistada.
• Quanto menos consciência de si, menos liberdade.
• A liberdade é fruto da autoconsciência do homem.
Como vimos, o homem tem uma forte tendência a reagir de acordo com o que
o grupo e a sociedade esperam dele. E qualquer imposição ou demonstração de
impaciência pode levar o indivíduo a sentir-se rejeitado ou diminuído.
Perguntas como: por quê? Como assim? O que você quis dizer com isso? São formas
de se questionar e aprofundar sobre o que foi falado pelo usuário durante o atendimento.
O atendimento eficaz: “... consiste numa relação permissiva, (...) que permite ao
[usuário] alcançar uma compreensão de si mesmo num grau que o capacite para
progredir...” (Rogers apud HESS,1983, p.137).
Não é possível adivinharmos qual é o problema do usuário sem que ele antes nos
relate qual é. Cada indivíduo é diferente, mesmo que por vezes seus problemas sejam
similares, o que obrigará o profissional a buscar uma linha de raciocínio também
diferente, para cada caso.
Não existe finitude no conhecimento e na capacitação profissional.
Logo é falho afirmar que o profissional possui um conhecimento pronto e acabado.
Se ele não consegue fazer autorreflexão, autoquestionamentos, na busca de uma
liberdade interior dele próprio, se ele não se encontrou e não se percebeu enquanto
cidadão de direitos e deveres, ele não terá condições de estar viabilizando tal processo
de reflexão junto com seu usuário.
Isto é relevante para a prática profissional. Realmente deve-se ter atenção para
com a coleta de dados e informações, pois como dissemos, anteriormente, são os
elementos concretos e vividos que darão rumo ao trabalho.
Pois somente quando temos a oportunidade de pessoalmente mantermos contato
com o usuário é que se pode chegar a tais conclusões: ele é ou não uma pessoa aberta
à reflexão? Ou este usuário necessitará de mais um tempo para aceitar a situação na
qual se encontra e se abrir para refletir?
E isso vai ocorrendo na medida em que cada vez mais o indivíduo se percebe
como ser distinto, que ele é dotado de individualidade de singularidade, de unicidade
na medida em que ele consegue olhar para dentro de si e ver que ele tem direito de
ser ele mesmo, como colocamos no capítulo anterior.
Para isso, o usuário necessita de um tempo para que possa assimilar que o
profissional pode ser seu intermediário em tal processo.
De uma maneira ou de outra o profissional estará aos poucos tomando conhecimento
de fatos pessoais deste usuário (fatos que o usuário permita que o profissional
conheça), contudo deve-se atentar para os usuários mais introspectivos, pois os
questionamentos por parte do profissional podem representar uma “invasão” na vida
pessoal deste indivíduo.
Por isso, o processo reflexivo avança à medida em que o usuário vai abrindo seu
interior para que o profissional possa estar procurando auxiliá-lo.
A formação teórica é de fundamental importância, pois ela embasa e fundamenta
a prática. A teoria não se “aplica” na prática, mas é na prática que esta teoria é
experenciada, fazendo com que o referencial teórico, a visão de homem e de mundo
vá se aperfeiçoando. É como uma rua de duas vias, uma ação conjunta a qual recebe
o nome de práxis (teoria-ação-teoria).
É bom lembrar que nem a sociedade está acima dos indivíduos e nem os indivíduos
estão acima da sociedade. Segundo Marx (1989, p.204-205), “a sociedade não consiste
em indivíduos, senão que expressa a soma das relações e condições, mas quais esses
indivíduos se encontram reciprocamente situados”.
Elas não conseguem perceber-se como agentes participativas, não sabendo muitas
vezes como posicionar-se frente ao indivíduo problemático. Estas são realmente
questões relevantes que são abordadas na formação profissional e que envolvem o
“como fazer”.
CONCLUSÃO
Pois bem, primeiramente parabéns por concluir mais uma etapa do seu processo
formativo. Mas lembre-se retome do conteúdo desta disciplina sempre que necessário,
pois em outros momentos você precisará destes conhecimentos, pois as disciplinas
de fundamentos ainda não encerraram.
Ressalto que as disciplinas se somam, elas são articuladas de maneira que você
possa compreendê-las com maior profundidade, mas ao final você precisará ter domínio
de conhecimento de todas, você irá percebendo que elas se somam e se complementam
nas busca pela formação teórica, técnica e metodológica.
Vimos especificamente nesta disciplina, que o homem é um ser de relação, que
ele age no mundo, influenciando-a e sendo ao mesmo tempo influenciado por ela. As
relações que se dão na sociedade dizem respeito a diferentes variáveis que exigem
uma análise crítica e fundamentada.
Muitas pessoas dizem que ser Assistente Social é fácil, que não precisa de muito
estudo, mas o que poucas pessoas sabem é que para compreender o ser humano,
suas relações, o sistema socioeconômico no qual estamos inseridos é preciso muito
estudo, dedicação, empenho, discussão, reflexão e a transcendência do senso comum
para o senso crítico.
Compreender as correntes filosóficas que influenciaram/influenciam o Serviço
Social não é tarefa fácil e como eu disse lá no início: se fosse fácil qualquer um faria.
É preciso domínio das teorias, das metodologias além de um amplo conhecimento
sobre Leis, políticas programas etc.
Iniciamos nosso estudo compreendendo para que serve a Filosofia e como superar
o senso comum e desenvolver nosso senso crítico, em seguida, vimos o que é e como
se dá atitude filosófica, por fim, vimos como a Filosofia se aproxima e influenciou e
influencia o Serviço Social.
Em seguida precisamos alinhar nosso entendimento sobre o homem, sua relação
com os grupos e com a comunidade, pois somos seres sociais.
Depois das reflexões iniciais vimos o que são as teorias sociais e porque elas
são importantes para a profissão. Após entendido isso vimos as principais correntes
filosóficas que influenciaram o Serviço Social, como o Neotomismo, Positivismo,
Fenomenologia e o Marxismo.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Antônio Geraldo de. Serviço Social e Filosofia: das origens a Araxá.
6.ed. São Paulo: Editora Cortez, 2011.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 14.ed. São Paulo, Editora Ática, 2012.
CORTELLA, Mario Sergio. Pensar bem faz bem!: 1. Filosofia, religião, ciência
e educação. Petrópolis: Vozes, 2015.
CORTELLA, Mario Sergio. Por que fazemos o que fazemos? Aflições vitais
sobre trabalho, carreira e realização. São Paulo: Planeta, 2016.
CORTELLA, Mario Sergio. Filosofia: e nós com isso? Petrópolis: Vozes, 2019.
FALCAO, Julia de Matos. Atuação do Assistente Social. São Paulo. In: CBCISS
- Centro Brasileiro de Cooperação e Intercambio de Serviços Sociais. Serviço
Social no campo da saúde. Organizado pela Divisão de Serviço Social do
Instituto de Assistência aos Servidores do Estado do Rio de Janeiro - IASERJ.
Ano III. n. 27. Rio de Janeiro, 1970. CBSSIS. 1977
FROMM, E. Medo à liberdade. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1983.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. História. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
NASH, Laura L. Ética nas empresas: boas intenções à parte. São Paulo:
Makron Books, 1993.
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social
no Brasil pós 64. 8ed. São Paulo: Cortez, 2005.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à metodologia. São Paulo: Ática, 2002.
POWELL, Jonh. Por que tenho medo de lhe dizer quem sou? 4 ed. Belo
Horizonte: Editora Crescer, 1987.
ELEMENTOS COMPLEMENTARES
LIVRO
LIVRO
páginas em abordagens que suscitam fecundas discussões sobre o mundo das ideias
e sobre a história do pensamento.
LIVRO
LIVRO
FILME
FILME
Título: Matrix
Ano: 1999
Sinopse: Um jovem programador é atormentado por
estranhos pesadelos nos quais sempre está conectado
por cabos a um imenso sistema de computadores do
futuro. À medida que o sonho se repete, ele começa a
levantar dúvidas sobre a realidade. E quando encontra
os misteriosos Morpheus e Trinity, ele descobre que é
vítima do Matrix, um sistema inteligente e artificial que
manipula a mente das pessoas e cria a ilusão de um
mundo real enquanto usa os cérebros e corpos dos
indivíduos para produzir energia.
FILME
FILME
FILME