Fundamentos Filosóficos Do Serviço Social-UCA EAD

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FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS

DO SERVIÇO SOCIAL
PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior


A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à
geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
para formar profissionais empreendedores que promovam
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e
cultural da comunidade em que está inserida.

Missão da Faculdade Católica Paulista

A v. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo.


www.uca.edu.br

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salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a
emissão de conceitos.
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SUMÁRIO

AULA 01 PARA QUE FILOSOFIA? DO SENSO COMUM AO 06


SENSO CRÍTICO

AULA 02 A ATITUDE FILOSÓFICA 17

AULA 03 A FILOSOFIA E O SERVIÇO SOCIAL 27

AULA 04 O HOMEM, O GRUPO E A COMUNIDADE 43

AULA 05 REFLEXÕES INICIAIS SOBRE AS TEORIAS 57


SOCIAIS E O SERVIÇO SOCIAL

AULA 06 NEOTOMISMO 67

AULA 07 POSITIVISMO 76

AULA 08 FENOMENOLOGIA 88

AULA 09 MARXISMO 99

AULA 10 O RACIONALISMO FORMAL ABSTRATO 114

AULA 11 A INFLUÊNCIA MARXISTA 125

AULA 12 BREVE REFLEXÃO ACERCA DO MÉTODO 134


ABSTRATO- CONCRETO

AULA 13 SOCIALIZAÇÃO: INDIVÍDUO, SOCIEDADE E CULTURA 144

AULA 14 REFLEXÕES FILOSÓFICAS GERAIS SOBRE O 154


COTIDIANO

AULA 15 REFLEXÕES FILOSÓFICAS SOBRE A ÉTICA E A 171


MORAL

AULA 16 O PROCESSO REFLEXIVO COMO UM CAMINHO A 186


SER PERCORRIDO PELO USUÁRIO DO SERVIÇO
SOCIAL EM BUSCA DE UMA VIDA MAIS AUTÊNTICA
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PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI

INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a), é uma grande satisfação recebê-lo(a) nesta nova disciplina, onde
trabalharemos um dos fundamentos que embasam a nossa profissão: os Fundamentos
Filosóficos do Serviço Social. Esta é uma disciplina deliciosa, que exigirá leituras,
reflexões, muito pensamento e um olhar para a realidade, procurando olhar crítico,
transcendendo (superando) o senso comum.
Dentre os objetivos da disciplina, estão: analisar as diferentes concepções filosóficas
e ideológicas que fundamentam as diversas propostas de Serviço Social. Além disso,
pretende-se apresentar uma discussão crítica acerca das bases filosóficas do Serviço Social.
Para que os objetivos sejam concretizados abordaremos a filosofia como busca
do fundamento e do entendimento humano. Correntes filosóficas e as influências
sobre a pessoa, a sociedade e o Serviço Social. Principais correntes filosóficas no
século XX (marxismo, neotomismo, positivismo, fenomenologia) e suas influências
no Serviço Social. Influência das correntes filosóficas na formação dos discursos e
práticas sociais.
Nas páginas seguintes, você terá à disposição, aulas preparadas exclusivamente para
sua formação profissional, isso exigirá de você muita dedicação, leituras e estudos que
permitirão o exercício da reflexão crítica da profissão e da realidade onde futuramente
você estará atuando como Assistente Social. A capacidade analítica é importante
para a profissão que cotidianamente se depara com contradições, desigualdades,
exclusão. Transcender o senso comum é necessário para atuar com competência,
eficácia, eficiência e responsabilidade.
A atitude filosófica permitirá a você a ampliação da sua capacidade reflexiva.
Compreendendo as bases filosóficas da profissão, você estará se preparando para
o exercício profissional em prol da viabilização do acesso aos direitos, redução
das desigualdades, emancipação do sujeito. Um profissional que compreenderá a
essência humana, um profissional crítico e reflexivo capaz de fazer a diferença no
meio socioprofissional.
Para isso conte comigo e com toda a nossa equipe, estamos aqui para te apoiar
na busca pelo seu sonho! Vamos lá, não tenha medo, preguiça, dê sentido a esse
momento único.

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Por fim vou lhe contar um segredo: não será fácil! Pois você vai se deparar com
alguns assuntos complexos e que exigirá muito esforço, sobretudo mental.
Mas... como eu sempre digo: se fosse fácil, qualquer um faria, e para mim, você
não é qualquer um.... você vale a pena!
Grande abraço e te encontro nas aulas!

Atenciosamente

Prof.ª Daniela Sikorski

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AULA 1
PARA QUE FILOSOFIA? DO SENSO
COMUM AO SENSO CRÍTICO

Figura 1- Mulher no balanço, horizonte


Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/acreditar-agua-alvorecer-amanhecer-289998/

Nesta nossa primeira aula falaremos sobre a Filosofia de forma geral e para que
ela serve, procurarei desmistificar a Filosofia, através de exemplos e provocando você
a pensar, pois Filosofia tem tudo a ver com pensamento. Em seguida apresentarei o
senso comum e o senso crítico, pois o desenvolvimento do senso crítico fundamental
para você meu querido e querida aluna de Serviço Social.
O objetivo com destas primeiras aulas é aprendermos a questionar, a interpretar
a realidade, pois somo cidadãos e futuros profissionais de sucesso não é possível
somente se conformar com o óbvio. Pois o conhecimento não é estático, ele muda, as

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certezas mudam conforme o homem muda. Logo precisamos aprender a ter dúvidas.
Historicamente a dúvida foi tida como algo ruim, quem tem dúvidas não prestou
atenção corretamente, quando na verdade as dúvidas sempre moveram o mundo.

Curiosamente, nós carregamos um certo trauma em relação à dúvida,


em grande medida porque a escola fundamental nos incutiu a ideia
da dúvida como um defeito, uma deficiência. A professora perguntava
ao final da aula: “Alguma dúvida?”, já num tom de voz exclamativo
e, ao mesmo tempo depreciativo. E nenhum aluno levantava a mão.
Nas raras vezes e que algum colega se manifestava, era tripudiado
pelo resto da vida. Como se ter dúvidas fosse sinal de inteligência
mental, quando na realidade, é o contrário, trata-se de um sinal de
inteligência. Um aluno com personalidade questionadora ou que
tem curiosidade sobre as coisas aumenta o seu repertório, a sua
capacidade de raciocínio e análise (CORTELLA, 2019, p.39).

Sendo assim, vamos aproveitar esta aula para termos muitas “dúvidas”! Iniciamos
nosso estudo com algumas indagações filosóficas que permeiam o nosso cotidiano
dentre elas você pode se perguntar:
O que é o homem? Qual o seu sentido? O que cada homem esconde no seu mais
profundo ser? Tais questões têm levado muitos pensadores a refletir sobre a existência
humana e sua razão de existir da própria humanidade.
Mas para início desta aula, pergunto: o que é Filosofia para você? Quando você teve
contato pela primeira vez com a Filosofia? Muitas pessoas tem uma compreensão
equivocada acerca da Filosofia, alegando que ela não agrega nada na vida do ser
humano, pois ela é “apenas pensamento”, que não produz nada de concreto. Pois bem,
se este é o seu pensamento, convido você neste momento a redescobrir a Filosofia
e o quanto ela contribui para nossa existência, vamos lá?
Primeiramente apresento a você um conceito de Filosofia:

A palavras ‘filosofia’, de origem grega, é composta de duas outras: philo


e sophia. Philo quer dizer aquele ou aquela que tem um sentimento
amigável, pois deriva de philia, que significa amizade e amor fraterno.
Sophia quer dizer sabedoria e de dela vem a palavra sophós, sábio.
Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria ou amor e respeito
pelo saber. [...] Indica a disposição interior de quem estima o saber, ou
o estado de espírito da pessoa que deseja o conhecimento, o procura
e o respeita (CHAUÍ, 2012, p. 32).

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Num primeiro momento as explicações se


davam de forma mítica, pois consideravam a
relação homem-natureza como sujeição do
primeiro às forças da segunda.
Num outro momento surge o próprio ato de
filosofar, ainda na busca por repostas, mas tais
respostas para grandes indagações humanas
precisariam ser coerentes ou como outros
chamam, precisariam ser racionais. Entende-se
assim que o homem sempre buscou respostas
para tudo, tudo teria uma razão de ser e de existir.
Há uma sede, uma vontade de se descobrir
ou responder “qual é o fundamento primeiro
Figura 2- homem pensando
das coisas” a essência dos corpos, a natureza Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/antigo-
antepassados-anciao-arte-4272618/

das virtudes ou qualquer outra questão que se


apresente intrigante e que já não permita mais a simplória resposta mítica, carente
de fundamentos racionais.
Mas afinal, para que filosofia? De acordo com CHAUÍ

Essa pergunta, ‘Para que filosofia?” tem a sua razão de ser. Em nossa
cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma
coisa só tem o direito de existir de tiver alguma finalidade prática
muito visível e uma utilidade imediata, de modo que, quando se
pergunta ‘Para quê?”, o que se quer saber é: ‘Qual a utilidade?’, ‘Para
que serve isso?’, ‘ Que uso proveitoso ou vantajoso posso fazer disso?’
(CHAUÍ, 2012, p.34).

Mas para que filosofia? A filosofia desde sempre auxilia a humanidade na formulação
de perguntas, bem como se debruça na busca por respostas. Ou seja, de uma maneira
ou outra, todos nós filosofamos. Em nossa vida pessoal ou profissional, independente
da profissão ou formação acadêmica. A filosofia está no cotidiano, contudo é vista
por muitos como desnecessária ou então coisas para desocupados.

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Anote isso
Fique atento(a) para esta parte da nossa aula, pois compreender para que
serve a filosofia, lhe ajudará nas próximas leituras, sobretudo quando formos
abordar a relação do Serviço Social com a Filosofia, ok?

De acordo com Cortella,

A filosofia é um olhar sistemático, metódico e programado sobre


a razão das coisas. As ciências em geral lidam com os ‘comos’; a
Filosofia é capaz de se debruçar sobre os ‘porquês’, as ‘razões’. As
ciências, Física, Química, Biologia, outras áreas do campo científico,
lidam diretamente com a ideia de qual é o modelo de funcionamento
operativo ou teórico. A Filosofia por sua vez, costuma se perguntar
sobre as razões, indaga sobre o que é o sentido de algo (2019, p.13)

A partir da colocação acima é possível que você compreenda que a Filosofia não é
imediata, não se dá de uma hora para outra. Ou seja, ela permite que não entremos no
comodismo, estagnação, ou como se diz: que não entremos no “piloto automático”. Ela
nos impulsiona para a criticidade, a desalienção perante a sociedade na qual vivemos.
Para que a Filosofia? Para pensarmos melhor.
Ao trazer a ideia do pensamento¸ admitimos a capacidade de pensar o homem, ou
seja, ser dotado desta singularidade e que, diferentemente dos demais seres vivos,
possui a capacidade de criar, produzir, transformar as coisas e a si mesmo. A Filosofia
nos dá a oportunidade de refletir sobre si e sobre o mundo, pois existimos como
consciência e somos capazes de questionar a própria realidade, bem como o irreal e
o transcendente.
Agora convido você a refletir sobre a sociedade em que vivemos hoje, marcada
fortemente pela internet, mídias sociais, propagação rápida das informações
(verdadeiras e não verdadeira), uma sociedade que sobrepõe o “ter” ao “ser”, onde
“tempo é dinheiro”. Neste mundo tão acelerado, ligeiro e rápido, falta, portanto, tempo
para pensar, para filosofar.
E o que é filosofar? Filosofia consiste na capacidade de fazer perguntas, que buscar
saber qual a intenção disto ou daquilo, ou seja, a busca por conhecer o propósito, a
teleologia das coisas.

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Os únicos animais capazes de questionar e buscar respostas é o ser humano.


Capaz de emitir juízo de valor, de julgar o que é certo ou errado.
Merleau-Ponty, filósofo francês que viveu no século XX, afirmava que a verdadeira
filosofia é reaprender a ver o mundo. E o que é reaprender a ver o mundo? É ir
contra a corrente, é pensar diferente, lutar por algo que não condiz com o discurso
de uma sociedade de consumo. Reaprender a ver o mundo consiste em desenvolver
a capacidade de ler as entrelinhas.
Numa sociedade global marcada por uma forte
crise de amor ao próximo e a si mesmo, da crença
no possível, da crença dos valores. Se pararmos
para pensar/filosofar iremos perceber que ao
mesmo tempo que temos tudo, não temos nada,
nos tornamos grandes peritos, especialistas de tudo
e ao mesmo tempo grandes conhecedores de nada.
A sociedade se apresenta de forma geral em
uma “massa” despolitizada, alienada e sujeita aos
mandos e desmandos de uma sociedade que
privilegia a técnica, o consumo, a competição, a
Figura 3- homem pensando
desumanização do homem, na maioria das vezes. Fonte: https://visualhunt.com/f4/
photo/5830533678/5dbb8e8869/

Uma sociedade onde não se confia nas pessoas,


não aprofundamos mais as relações e não construímos comunidade. Acreditamos que
liberdade é fazer o que queremos e não aceitamos limites para os nossos desejos.
Reaprender a ver o mundo, portanto é um bom ponto de partida para você que
está iniciando esta disciplina, pois ela se relaciona diretamente com o Serviço Social,
a forma como vemos a nós mesmos, o outro, a sociedade. Vamos reaprender a ver
o mundo juntos?

Isto está na rede


Você provavelmente já leu ou ouviu fala sobre o Mito da Caverna de Platão
(429-347 A.C), um dos fundadores da filosofia Ocidental. Pois bem, este Mito
tão antigo ainda hoje nos provoca reflexões acerca de questões atuais.
Pois bem, agora te faço um convite, para assistir um vídeo montado a partir
de uma história em quadrinhos, topa?

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Após assistir procure relacionar o Mito da Caverna com situações do dia a


dia, refletindo em que momento nos “encontramos na caverna”.
Titulo: Mito da Caverna – Versão - Platão por Maurício de Souza
LINK: https://www.youtube.com/watch?v=XoU4YAhJzLY

Pois,

A Filosofia nos conduz a reflexões sobre a condição humana, e muitas


vezes sobre questões que nos angustiam. Não do mesmo modo
como faz a Psicanálise e a Psicologia, tampouco como faz a área
da Pedagogia, nem como examinam Sociologia ou a Antropologia.
Mas, ao olhar também para nosso lado interno, ela pode nos auxiliar
na rota do autoconhecimento. E aqui cabe recorrer a Sócrates, em
frase por ele difundida de forma extensa: ‘Conhece-te a ti mesmo’. Isto
é, olhar, refletir, pensar, para não ter uma vida automática, robótica,
servil. É a ideia de uma existência que tenha consciência (CORTELLA,
2019, p.23-24).

Figura 4- Sócrates
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/filosofia-gr%C3%A9cia-s%C3%B3crates-est%C3%A1tua-2603284/

Para que você e eu consigamos reaprender a ver o mundo precisamos desenvolver


o nosso senso crítico, e para isto é preciso romper com o senso comum, que nos

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mantém na zona de conforto do entendimento da vida, da sociedade e das relações


que nela estabelecemos. Sendo assim

Convém reforçar: a Filosofia é a atitude metódica, disciplinada,


estruturada e intencional da indagação sobre as razões de ser das
coisas e fatos, de maneira a produzir consciência e inovação. A rotina
do cotidiano nos leva muitas vezes a agir e viver no modo automático
ou robótico, e isso impede a clareza das direções e bloqueia as
condições para a edificação do inédito; a Filosofia é um brado de
‘alto lá!’ (CORTELLA, 2019, p.24).

Você conseguiu compreender os caminhos que você


deverá trilhar para desenvolver seu senso crítico? A
Filosofia contribuirá no sentido de desenvolver a sua
capacidade análise, formando um Assistente Social,
capaz de questionar a realidade e além disse, não
somente questionar, mas também propor soluções.
Lembre-se que a filosofia formula perguntas, mas
também busca respostas.
Pois de nada adianta compreender a realidade se
não vamos interferir nela para torná-la melhor. Figura 5- lâmpada acesa
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/
l%C3%A2mpada-el%C3%A9trica-acho-que-
Para então reaprender a ver e entender o mundo, id%C3%A9ia-2010022/

devemos partir para um exercício reflexivo sobre os conceitos que reproduzimos sem
refletir (senso comum). A leitura que fazer do mundo, a nossa vivência, os nossos
valores, as nossas crenças, tudo isso influencia a nossa visão de homem e de mundo.
Por esta razão os problemas da Filosofia são sempre atuais.
Entendemos que o senso comum é composto por aquilo que adquirimos ao longo da
nossa vida ao longo do tempo por nós vivido “por acúmulo espontâneo de experiências
ou por introjeção acrítica de conceitos valores e entendimentos vigentes e dominantes
em nosso meio” (LUCKESI, 1992, p.93).
E você sabe como nasce o senso comum? Digo a você que ele nasce do processo
de “acostumar-se a uma explicação ou compreensão da realidade, sem que ela seja
questionada. Mais do que uma interpretação adequada da realidade, ele [senso comum]
é uma forma de ver a realidade, mítica, espontânea” (LUCKESI, 1992, p.95).
Pois bem, estamos aqui refletindo sobre a filosofia, como ela pode contribuir para
a nossa formação profissional, também falamos brevemente sobre o senso comum,

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agora pergunto a você como desenvolver o nosso senso comum ao ponto de termos
um senso crítico, você consegue explicar?
Inicio dizendo que para desenvolver o senso crítico preciso primeiramente desvendar a
realidade, ultrapassar os limites espontâneos e também fragmentados que caracterizam
o senso comum. Logo para desenvolvermos nosso senso crítico precisamos aprender
a realizar uma análise crítica da realidade.

A análise crítica é processo segundo o qual questões são esclarecidas.


Salientamos a palavra crítica pois que faz tal análise exige que suas
ideias sejam examinadas e questionadas. As dúvidas ajudam-nos
a formular perguntas. O pensador crítico, ao avaliar os argumentos
de si próprio e dos outros, levanta muitas questões [...] Se não
questionarmos nossas ideias e as dos outros é bem provável que
encontremos dificuldade em saber quais são as opiniões mais válidas
um debate sobre um assunto. Nas ciências humanas e na Filosofia,
os autores apresentam suas ideias dentro de uma certa lógica.
Considerada isoladamente, cada posição pode parecer válida, mesmo
que esteja em conflito com outras posições. O leitor menos crítico
apenas nota que as posições são diferentes, sem saber avaliar qual
é a mais apropriada, qual delas é mais bem formulada (CARRAHER,
1983, p.128).

Almejamos assim que você consiga realizar uma análise crítica da realidade onde
está inserido(a), pois como futuro(a) assistente social esta habilidade lhe será de
grande valia. Falaremos sobre isso adiante.

Figura 6- Guardas-chuva coloridos


Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2017/06/19/07/41/umbrella-2418413_960_720.jpg

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Por fim, vimos que Filosofia estuda e define


conceitos, cria e recria, num exercício de pensar
o próprio pensamento. Por isso, seus objetos de
estudo referem-se aos grandes problemas da
humanidade, no decorrer da história. Entre estes
problemas, podemos destacar a questão do poder,
do conhecimento, do bem viver entre os homens,
a questão do belo (o que o define?), da explicação Figura 7- Mulher pensando
Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2018/05/09/15/28/
racional para a existência e para o mundo. Por question-3385451_960_720.jpg

exemplo: a questão do ser, que sempre intrigou


o homem, desde a origem, passando por Sheakspeare até chegarmos aos nossos
dias com o conflito atual: somos, existimos ou apenas temos, sou seja, o que nos
faz pessoas, ser ou ter?
A partir desta reflexão entende-se que

A Filosofia também inquieta, e a inquietação costuma ser criativa.


Quando alguém, em vez de ficar animado com o que faz, fica apenas
satisfeito, deixa de ir adiante. Afinal, só quem se sabe ainda pequeno é
capaz de crescer, enquanto aquela pessoa que já está satisfeita com
a dimensão que atingiu costuma se deixar levar pela acomodação.
Em um mundo de mudanças velozes, acomodar-se é perecer ou ficar
ultrapassado (CORTELLA, 2019, p.24).

Neste caso o convite que faço a você neste momento é para que você desacomode,
inquiete-se, e que segundo o autor acima citado, que seja uma inquietação positiva,
que o(a) faça crescer e desenvolver-se pessoal e profissionalmente. Certo?
Parabéns pela conclusão desta aula, e espero você nas próximas!
Valeu!

Isto acontece na prática


[....]
A reflexão e a análise de questões fundamentais têm muito mais consequências
práticas do que parece. A filosofia não só nos ajuda a ver o mundo de maneira
diferente, mas também pode mudar a forma como interagimos com ele. De
como podemos ajudar os outros até como enfrentar a morte, ou se devemos

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tuitar com raiva. O pensamento crítico e as ferramentas que a filosofia nos


proporciona nos ajudam a tomar decisões conscientes.

1. Como posso ajudar mais pessoas?

Suponhamos que você queira doar 10 reais para uma ONG. Qual deveria
escolher? Uma sobre a qual já ouviu falar? Alguma que esteja trabalhando
em catástrofes? Ou talvez outra que atue em sua cidade?
Os filósofos que defendem a corrente do “altruísmo eficaz” acreditam que
as doações, por menores que sejam, podem ajudar muito mais do que
imaginamos. Em entrevista ao EL PAÍS, o filósofo australiano Peter Singer
destacou que pessoas de países em situação de extrema pobreza “vivem
com menos de 700 dólares (cerca de 2.600 reais) por ano e, muitas vezes,
não têm acesso à água potável, saneamento básico e educação para seus
filhos”. Ou seja, esses 10 reais podem valer muito mais em um desses países
com uma situação econômica pior.
Além disso, nem todas as iniciativas funcionam da mesma maneira. Em seu
livro Doing Good Better (fazendo o bem melhor), o filósofo William MacAskill, da
Universidade de Oxford, nos aconselha a fazer perguntas como as seguintes:
estamos ajudando uma área que está esquecida e, portanto, carente de
recursos? Ou doamos quando ocorre uma catástrofe e, portanto, já existem
muitas pessoas dando uma mãozinha?
MacAskill também defende levar em consideração se há provas do alcance
das ações da ONG. Por exemplo, e embora pareça paradoxal, os programas
de eliminação de vermes intestinais são mais úteis para reduzir o absenteísmo
escolar no Quênia do que comprar livros didáticos.
Muito trabalho para 10 reais? Sim, é. Mas existem organizações que fornecem
essas informações, como a Give Well, que analisa o impacto das ONGs
recomendadas, e a The Life You Can Change, do próprio Singer, que inclui
até uma calculadora que permite saber como cada doação será usada.

2. Devo participar da polêmica do dia no Twitter?

Bem, você já doou os 10 reais. Agora, pega o celular para dar uma olhada
no  Twitter. Como geralmente acontece nesses casos, depois de alguns
segundos já está morrendo de raiva de alguém que falou uma barbaridade e
tem vontade de dizer-lhe umas poucas e boas.
Embora talvez não seja uma boa ideia. Os psicólogos Paul Bloom e Matthew
Jordan se perguntavam no The New York Times há algumas semanas se somos
todos “torturadores inofensivos”, por causa das redes sociais. Esse termo se
refere a um experimento mental proposto por Derek Parfit no livro Razões

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e Pessoas, publicado em 1986. O filósofo, que morreu em 2017, imagina


torturadores que, durante anos e individualmente, tinham de causar o máximo
de dor possível a uma pessoa, mas agora têm um sistema que os isenta de
responsabilidade. A única coisa que precisam fazer é apertar um botão que
aumente em um milésimo a dor sentida por cada um dos 1.000 prisioneiros.
Ou seja, os torturadores podem alegar que não causaram muita diferença no
sofrimento dessas pessoas. “Se eu tivesse parado de apertar o botão, sua dor
teria passado de 1.000 para 999, então, por que arriscaria ser demitido?” Ou,
no caso do Twitter, se 280 caracteres não vão fazer muita diferença, por que
eu deveria ficar sem meus retuítes, mesmo à custa de humilhar ou insultar
alguém?
Mas, claro, na verdade não agimos sozinhos. Uma pessoa não faz muita
diferença, mas cada um dos torturadores continua sendo responsável pelos
danos causados. Especialmente se levarmos em conta que, provavelmente,
apenas aperte o botão porque acredita que os outros 999 também o apertarão.
[...]
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/18/
cultura/1539859862_392943.html

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AULA 2
A ATITUDE FILOSÓFICA

Figura 8- livro e óculos


Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2017/10/21/16/23/book-2875123_960_720.jpg

Olá, seja bem-vindo e bem-vinda para mais uma aula, nesta etapa falaremos sobre
a atitude filosófica e conto muito com você, pois poderemos refletir sobre diversos
pontos que nos auxiliarão no desenvolvimento do senso crítico.
Vamos lá?
Bem na aula anterior sugeri que vocês assistissem ao vídeo sobre o Mito da Caverna
segundo o Escritor Maurício de Souza, e aí você assistiu? Refletiu de como ele apresenta
questões filosóficas atuais? Se você assistiu, parabéns! Se não assistiu, dê uma pausa
nesta leitura e assista, pois o conteúdo te ajudará muito nas próximas páginas.
Vimos que a Filosofia nos possibilita questionar a realidade, a buscarmos respostas
para situações do nosso cotidiano de forma crítica. Mas ao ler o título desta aula: A
Atitude Filosófica, eu te pergunto: no que consiste a atitude filosófica? O que vem à
sua mente, como você imagina que seja esta “atitude”?

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Antes de responder leia a citação a seguir sobre a relevância da Filosofia na


formação profissional:

A intenção primeira do ensino da Filosofia [...] nos cursos básicos das


universidades, não é a de formar filósofos [...] mas provocar a reflexão
filosófica, inerente a todo ser humano. Lembrando o filósofo italiano
Antonio Gramsci, somos todos de certa forma filósofos, na medida em
que nos propomos questões de natureza filosófica. Estamos sempre
dando sentido às coisas e, diante dos problemas apresentados pelo
existir, tendemos a reflexão, a não ser quando submetidos a uma
formação autoritária e doutrinadora. [...] enfatizamos que todo ser
humano, qualquer que seja sua escolha de profissão ou modo de
vida, deveria desenvolver sua capacidade de pensar bem, de forma
coerente e crítica (ARANHA, 2003, p.5).

Ficou mais claro para você agora, o motivo pelo qual estamos dedicando esta
disciplina para o estudo da Filosofia e o Serviço Social?
Ótimo, então vamos à questão, o que é uma atitude filosófica: é quando saímos
da zona de conforto, do comodismo mental e começamos as indagar, interrogar,
questionar determinado objeto, situação, crenças, valores ou algo que nos tenha sido
imposto ou preestabelecida e que via de regra nos incomoda, inquieta.

Figura 9- engrenagem homem


Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/pinh%C3%A3o-engrenagem-homem-365523/

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A atitude filosófica implica em uma mudança de atitude. A partir do momento


em que você deixa de aceitar de forma pronta e imediata algo ou alguma situação,
estabelecendo considerações, você começa a assumir uma atitude filosófica. Pois a
Filosofia é buscar justificativas e explicações de forma racional para grandes e também
pequenos dilemas, o que em seguida poderá pautar ou não as relações humanas.

Alguém que tomasse essa decisão estaria tomando distância da


vida cotidiana e de si mesmo, teria passado a indagar o que são as
crenças e os sentimentos que alimentam, silenciosamente, nossa
existência. Ao tomar essa distância, estaria interrogando a si mesmo
desejando conhecer por que cremos no que cremos, por que sentimos
o que sentimos e o que são nossas crenças e nossos sentimentos.
Esse alguém estaria começando a cumprir o que dizia o oráculo de
Delfos [Sócrates]: Conhece-te a ti mesmo. E estaria começando a
adotar o que chamamos de atitude filosófica (CHAUÍ, 2012, p. 21,
grifos da autora).

Bem, dito isso vamos percebendo que muitas vezes ao longo da vida já estabelecemos
uma atitude filosófica, ou seja, uma atitude racional, não é mesmo? Você consegue
lembrar de algum momento desse na sua vida?
Percebeu que a palavra racional apareceu em destaque duas vezes? Não foi à
toa, é porque a racionalidade está intimamente relacionada à atitude filosófica, quer
saber por quê?

Por três motivos principais: em primeiro lugar, porque racional significa


argumentado, debatido e compreendido; em segundo, porque racional,
significa que, ao argumentar e debater, queremos conhecer as
condições e os pressupostos dos nossos pensamentos e os dos
outros; em terceiro, porque racional, significa respeitar certas regras de
coerência do pensamento para que argumento ou um debate tenham
sentido, chegando a conclusões que podem ser compreendidas,
discutidas, aceitas e respeitadas por outros (CHAUÍ, 2012, p.21)

Neste sentido, a racionalidade assume duas características: uma positiva e outra
negativa, que por consequência acabam formando o que chamamos de atitude crítica,
que comentamos na aula anterior.
A atitude filosófica é negativa quando eu digo “não”

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... aos pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às ideias de experiência


cotidiano, ao que ‘todo mundo diz e pensa’, ao estabelecido. Numa
palavra, é colocar entre parênteses nossas crenças para poder
interrogar quais são as suas causas e qual é seu sentido (CHAUÍ, 2012,
p.21).

Quanto a característica positiva da atitude filosófica é,

... uma interrogação sobre o que são as coisas, as ideias, os fatos,


as situações, os comportamentos, os valores, nós mesmos. É
também uma interrogação sobre o porquê e o como disso tudo e
de nós próprios. “O que é?”, “Por que é?”, “Como é?”. Essas são as
indagações fundamentais da atitude filosófica (CHAUÍ, 2012, p. 21
grifos da autora).

As características, positiva e negativa que compõe a atitude filosófica, formam o


que chamamos de atitude crítica, conforme já disse para você anteriormente. Mas
o que a palavra crítica representa neste contexto? Geralmente a palavra crítica está
associado a algo ruim, pejorativo, desagradável, porém no contexto filosófico em que
estamos estudando não é isso que ela quer dizer.

A palavra crítica vem do grego e possui três sentidos principais: 1)


capacidade para julgar, discernir e decidir corretamente; 2) exame
racional de todas as coisas sem preconceito e sem pré-julgamento; 3)
atividade de examinar e avaliar detalhadamente uma ideia, um valor,
um costume, um comportamento, uma obra artística ou científica.
A atitude filosófica é uma atitude crítica porque preenche estes
três significados da noção de crítica, a qual, como se observa, é
inseparável da noção de racional, que vimos anteriormente (CHAUÍ,
2012, p. 21 grifos meus).

Logo, toda atitude filosófica, crítica tem um start, um início que impacta aquele que
a pratica, ou realiza.

Assim como cada um de nós, quando possui desejo de saber, vai em


direção à atitude filosófica ao perceber contradições, incoerências,
ambiguidades ou incompatibilidades entre nossas crenças cotidianas,
assim também a filosofia tem especial interesse pelos momentos
de crise ou momentos críticos, quando sistemas religiosos, éticos,
políticos, científicos e artísticos estabelecidos se envolvem em
contradições internas ou contradizem-se uns aos outros e buscam
transformações e mudanças cujo sentido ainda não está claro e
precisa ser compreendido (CHAUÍ, 2012, p. 21).

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Sendo assim, tenha claro que a atitude filosófica está ligada a indagação pautada
principalmente em três perguntas filosóficas:

Anote isso
1ª pergunta filosófica: O quê?
2ª pergunta filosófica: Por que?
3ª pergunta filosófica: Como?

Figura 10- interrogações


Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2017/03/02/09/26/question-mark-2110767_960_720.jpg


Tais perguntas são as mesmas, independentemente do que se esteja investigando,
ou seja, as características serão sempre as mesmas. Vamos saber qual o sentido e
o significado destas três perguntas? Está curioso(a)?
Vamos lá?

• Perguntar o que é (uma coisa, um valor, uma ideia, um


comportamento). Ou seja, a filosofia pergunta qual é a realidade e
qual é a significação de algo, não importa o quê.
• Perguntar como é (uma coisa, um valor, uma ideia, um
comportamento). Ou seja, a filosofia indaga como é a estrutura ou o
sistema de relações de algo, não importa o quê.
• Perguntar por quê (uma coisa, um valor, uma ideia, um
comportamento). Ou seja, por que algo existe, qual a origem ou a

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causa de uma coisa, de uma ideia, de um valor, de um comportamento


(CHAUÍ, 2012, p. 24).

Ao me dirigir para estas indagações e questionamentos


dou início a minha atitude filosófica, mediante à sociedade
e relações que nela estabeleço no meu cotidiano. Somos
além de seres pensantes, dotados de consciência, somos
atuantes no mundo, influenciamos e somos influenciados
pelo ambiente macro e micro, global e local. Sendo assim,
a partir do momento em que indago, me coloco numa
postura de atitude filosófica, estou simultaneamente
refletindo, a reflexão é parte componente daquele que
age, indaga filosoficamente. Figura11- Mulher Trabalhando
Fonte: https://png.clipart.me/istock/
Temos aqui então mais um conceito que você precisa previews/9246/92468831-woman-
working-at-laptop.jpg

conhecer e se apropriar, esse movimento da atitude


filosófica que se chama: reflexão filosófica.

A reflexão filosófica é o movimento pelo qual o pensamento,


examinando o que é pensado por ele, volta-se para si mesmo como
fonte deste pensado. É o pensamento interrogando-se a si mesmo
ou pensando-se a si mesmo. É a concentração mental em que o
pensamento volta-se para si próprio para examinar, compreender e
avaliar suas ideias, suas vontades, seus desejos e sentimentos. A
reflexão filosófica é radical porque vai à raiz do pensamento (CHAUÍ,
2012, p. 24).

Assim como a atitude filosófica se pauta em três perguntas características, a reflexão


filosófica também se organiza a partir de três grandes conjuntos de questões, que
giram em torno da linguagem, pensamento e ação:

Anote isso
Procure destacar os 3 conjuntos de questões que caracterizam a
reflexão filosófica!

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1. “Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e


fazemos o que fazemos?” Isto é, quais os motivos, as razões e as
causas para pensarmos o que pensamos, dizermos o que dizemos,
fazermos o que fazemos?
2. “O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer
quando falamos, o que queremos fazer quando agimos?” Isto é, qual
é o conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos?
3. “Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos,
fazemos o que fazemos?” Isto é, qual a intenção ou a finalidade do
que pensamos, dizemos e fazemos? (CHAUÍ, 2012, p. 25).

Assim apresentado, você pode até estar se perguntando agora? Quer dizer que
filosofia é um permanente pensar? Sim! Você está certo(a)! Pois ao falarmos em
reflexão, falamos em desdobramentos de pensares.

Isto está na rede


Filosofando a partir do cotidiano.
Para estimular você a realizar uma reflexão
filosófica, vou sugerir que você assista o
documentário: “Ilha das Flores”.
Ao acessar o material, sugiro que você o assista
se colocando numa atitude filosófica, pois
alguns questionamentos pertinentes são feitos,
inclusive muito próximos das indagações que
fazemos enquanto profissão.
Vá lá, acesse, assista e reflita!
L I N K : h t t p s : / / w w w. y o u t u b e . c o m /
watch?v=bVjhNaX57iA

A palavra reflexão vem de reflexo, assim como quando vemos nossa imagem no
espelho, vejo um desdobramento de mim mesmo no espelho, um reflexo. Logo a
atitude e reflexão filosófica implica também em coragem.
Coragem para pensar, questionar a si e ao outro, enfrentar e não ter medo de mudar,
este é um grande desafio, uma vez que

A filosofia é o modo de pensar que acompanha o ser humano na


tarefa de compreender o mundo e agir sobre ele. Mais que postura
teórica, é uma atitude diante da vida, tanto nas condições corriqueiras

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como nas situações limites que exigem decisões cruciais. Por isso
no encontro com a tradição filosófica não devemos nos restringir a
recebe-la passivamente como um produto, mas sermos capazes,
cada um de nós, de aproximarmos da filosofia como processo, ou
seja, como reflexão crítica e autônoma a respeito da realidade vivida
(ARANHA, 2003, p. 91).

Em posse deste conhecimento todo que você já adquiriu até aqui, perceba como
a coragem faz todo sentido, se você não tivesse coragem, não teria escolhido cursar
uma faculdade, não teria feito a matrícula, não teria acessado este livro e muito menos
chegado até este ponto do estudo da disciplina de Fundamentos Filosóficos do Serviço
Social, e olha que pouco falamos sobre o Serviço Social, AINDA.
A coragem traz consigo um colega, que se chama propósito. Saber identificar o
seu propósito para as coisas que realiza é fundamental para que não se distraia no
caminho. O propósito está relacionado a sonhos, projetos, coisas que desejo realizar
e para isto também é preciso coragem. Saber estabelecer um processo de reflexão
profunda quando necessário, se valendo das perguntas até aqui apresentadas e que
conduzem o filosofar.

Figura 11- Movimento Filosófico


Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2017/11/18/09/40/concept-2959606_960_720.png

Antes de finalizarmos, gostaria de compartilhar um exemplo de reflexão que acontece


na mente de algumas pessoas, aquelas conversas que temos conosco mesmos muitas
vezes ao longo do dia:

- Por que faço o que faço?


- Ora, porque sou obrigado.
- Mas e se eu não for obrigado a fazer exclusivamente isso? Poderia
fazer outra coisa?
- Se eu tiver escolha, parto para essa outra coisa.
- Mas por que, em vez de fazer o que faço no trabalho, não vou
ser empreendedor?

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- Porque eu não tenho condição de fazê-lo. Quando tiver o farei.


(CORTELLA, 2016, p. 22)

Do que adiantou toda a reflexão exemplificada pelo autor, se não houve ação? Ou
seja, não serviu para nada. Continuo o meu trabalho e não busco soluções viáveis.
Logo esta reflexão ficou guardada na mente do seu pensador. Desta maneira, fica
apresentada e justificada a importância da compreensão da filosofia e o ato de filosofar
para você aluno(a) do curso de Serviço Social.
Lembre-se que primeiramente os filósofos desejavam saber de onde viemos, por
que as coisas mudam, olhavam para o passado para entender o presente, fato este
que hoje temos muitos escritos sobre cada filósofo acerca das suas concepções e
convicções. Nós que vivemos os dias atuais somos movidos a futuro.
Pensamos, refletimos, indagamos, sobre o “como será?”. E a partir desse desejo
de como será o amanhã, investimos tempo pensando, elaborando planos e projetos.

A palavra projeto significa jogar adiante. É aquilo que eu jogo adiante


e vou buscar. Independentemente da área escolhida, a construção
da carreira precisa ser movida a sonhos. Cabe alertar que o sonho,
é diferente de delírio, de divagação, de distração. Sonhar é ter uma
expectativa a qual se queira atingir. Delirar é imaginar algo que não
tem como se tronar factível, viável (CORTELLA, 2019, p. 53).

Bem, finalizamos mais uma aula, espero ter contribuído mais um pouco com o seu
processo de formação profissional. Uma dica: se ficou alguma dúvida, releia o material,
faça anotações, converse com algum colega, mas não deixe de fazer a experiência.
Temos como característica rejeitar, aquilo que ainda não entendemos, temos receio do
novo, por isso aventure-se, estude, amplie seus conhecimentos, pois muitas pessoas
dependerão do seu trabalho enquanto profissional, e para isso a reflexão, a atitude
filosófica poderá contribuir em muito, logo, logo vocês verão.
Forte abraço!

Isto acontece na prática


Para ilustrar a importância da Filosofia na prática profissional do Assistente
Social, vou propor a leitura deste pequeno texto que nos ajuda a pensar o
cotidiano, a partir de reflexões filosóficas:

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“Karl Marx fazia uma distinção muito clara entre os dois reinos da vida: o da
necessidade e o da liberdade. No reino da necessidade, eu não posso deixar de
fazer aquilo que eu faço, senão pereço. No reino da liberdade, a vida é escolha”.
Segundo Marx, existe uma diferença entre “ser livre de” e “ser livre para”. Se
não for livre de fome, de falta de abrigo, da falta de socorro médico, você não
é livre para outras escolhas. Uma parcela das pessoas é livre da miséria, da
penúria, da carência, e é livre inclusive para dizer “não vou ter um trabalho
regular”, “vou viajar”.
Para ser um mochileiro, é preciso ser livre de uma série de outras restrições.
Nada adianta imaginar um menino pobre da periferia de uma metrópole colocar
uma mochila nas costas e ir viajar para a Austrália. Um garoto de família mais
abastada seria capaz de fazer isso. Porque ele tem contatos, já armazenou sua
mochila vivencial uma série de ferramentas que o permitem essa experiência,
porque ele é privilegiado. Para o outro não há escolha, ou trabalha ou morre.”
CORTELLA, Mario Sergio. Por que fazemos o que fazemos? Aflições vitais
sobre trabalho, carreira e realização. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 22-23.

Figura 12- Mulher Comemorando


Fonte: https://loopdesucesso.com/wp-content/uploads/2020/03/Mulher-trabalhando.png

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AULA 3
A FILOSOFIA E O SERVIÇO SOCIAL

Figura 13- Bússola


Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2020/05/06/12/01/compass-5137269_1280.jpg

Olá, chegamos a nossa terceira aula, e agora vamos nos aproximando mais da
discussão acerca da Filosofia e o Serviço Social, estou muito animada e espero que
você também!
Então vamos lá? Mãos à obra!
Vamos abordar nesta nossa aula a relevância e significado da presença dos
elementos filosóficos para a formação do Assistente Social. A Filosofia faz parte do
componente curricular, desta forma ainda ele está contemplado enquanto fundamentos
básicos da profissão. Partindo desta ideia e do nome desta disciplina: Fundamentos
Filosóficos do Serviço Social, se faz necessário neste momento apresentar o conceito
da palavra “fundamentos”:

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Fundamento é uma palavra que vem do latim e significa “uma base


sólida” ou “o alicerce sobre o qual se pode construir com segurança”.
Do ponto de vista do conhecimento, significa “a base ou o princípio
racional que sustenta uma demonstração verdadeira”. Sob esta
perspectiva, fundamentar significa “encontrar, definir e estabelecer
racionalmente os princípios, as causas e condições que determinam
a existência, a forma e os comportamentos de alguma coisa, bem
como as leis ou regras de suas mudanças” (CHAUÍ, 2012, p.27).

Figura 14- Grécia - Partenon


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/gr%C3%A9cia-pal%C3%A1cio-partenon-ic%C3%B4nico-1594689/

A partir do exposto acima, você poderá irá perceber que outras disciplinas do curso
de Serviço Social, iniciam com a palavra fundamentos, o que nos leva a compreender que
são disciplinas que buscam promover uma base sólida aceca de elementos essenciais
para a formação do Assistente Social. Cada uma trazendo elementos e conteúdo que
ao se somarem com tantos outros darão sustentação para você no futuro. Dentre
os elementos a serem abordados no que diz respeito a fundamentos filosóficos em
especial nesta disciplina, estão:

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Pois bem, nos dias atuais o profissional de Serviço Social se depara no seu trabalho
com inúmeras questões relacionadas às questões éticas, antropológicas, políticas,
culturais, dentre outras, que nos pede uma atitude e reflexão filosófica. Ao trazer
para o Serviço Social os fundamentos filosóficos, estamos oportunizando a você a
possibilidade do autoconhecimento, conhecimento da sociedade e do mundo. Trabalhar
questões filosóficas no processo formativo não exclui as discussões acerca das práticas
profissionais, pois as teorias auxiliam no processo de entendimento da realidade na
qual irá atuar. Isto ficou entendido? Espero que sim, pois

do que já dito podemos definir algumas características da filosofia: é


um saber teórico, critico, desmistificador e criativa, um saber diferente
daquele do senso comum [...] costuma-se definir a filosofia como
um modo de investigar que supõe uma determinada atitude [...]
(BARROCO, 2008, p. 14).

Para estabelecer uma atitude filosófica, você necessita também desenvolver seu
senso crítico, agregando valor ao processo de formação profissional, este crescimento
acontece quando há a relação entre as disciplinas de forma interdisciplinar, pois juntas
elas possibilitam a sua formação integral crítica e política. Visamos com isso que você
se torne um Assistente Social capaz de questionar, analisar e intervir na realidade em
que estiver atuando profissionalmente.

Ao valorar a realidade, as filosofias sempre pretendem estabelecer uma


crítica às suas antecessoras e apontar o novo, donde as diferentes
tendências filosóficas e a polêmica entre elas. Como diz Agnes Heller,
toda filosofia oferece uma forma de vida; toda filosofia é uma crítica
de uma forma de vida e, ao mesmo tempo, sugestão de outra forma
de vida (BARROCO, 2008, p.15).

Leve com muito compromisso este processo de formação, pois o investimento


do seu tempo deve ser valorizado primeiramente por você, num segundo momento
ao se ter uma formação que vise a criticidade e politização teremos muito menos
profissionais no mercado de trabalho que atuam de forma assistencialista, imediatista,
ou que reforcem os interesses da classe burguesa na exploração da classe trabalhadora.
Na história do Serviço Social diferentes perspectivas filosóficas fizeram parte da
construção teórica da profissão, os quais serão apresentados na próxima Unidade
do nosso material, na qual serão abordadas as principais perspectivas, dentre elas
falaremos sobre o, Marxismo, Neotomismo, Positivismo e Fenomenologia. Todas elas

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de uma forma ou outra contribuíram ou ainda contribuem para o amadurecimento


da profissão.

Figura 15- engrenagens construção do pensamento


Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/problema-solu%C3%A7%C3%A3o-ajuda-suporte-3303396/

Logo, a Filosofia de uma forma bem ampla e geral possui o objetivo de provocar
reflexões, indagações para você caro aluno(a), sendo assim ela pode alcançar outras
disciplinas. “Pensamos que uma educação para a autonomia, no sentido da formação
de indivíduos que possam escolher por si mesmos em que mundo querem viver, só
pode ser tal se nela tiver lugar a filosofia” (GALLO E KOHAN, 2000, p. 195).
E como a Filosofia e o Serviço Social se aproximam? Bom falar um pouco mais
sobre isso:

A filosofia oferece uma compreensão sobre o homem que se coloca


como base para várias teorias e ciências [dentre elas o Serviço Social].
Quando essa concepção de homem é histórica, as perguntas sobre
a essência dos fenômenos, serão buscadas no próprio homem
entendido como autor e construtor de sua própria história. Nesse
sentido, a pergunta sobre o significado das ações e relações humanas
irá demandar uma vinculação com as necessidades sociais, com
as finalidades sociais. Pensar, por exemplo, que a filosofia é
uma abstração atende a alguma necessidade social? Qual a sua
finalidade? Podemos, pois, observar que as perguntas filosóficas –
se situadas em face da realidade concreta – não são abstrações que
não servem para nada; ao contrário, são perguntas que só podem ser
respondidas, em sua essência, pela apreensão da realidade social
em sua objetividade (BARROCO, 2008, p. 15, grifos nosso).

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A Filosofia possibilita uma aproximação da realidade social, a qual todos os(as)


Assistentes Sociais estão inseridos, possibilita ainda analisar tal realidade a partir ela
é no concreto vivido, no real, no mundo real!

Figura 16- Proteção e cuidado humano


Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/socorro-pobre-m%C3%A3os-telhado-solid%C3%A3o-2930392/

O Serviço Social se apresenta não somente como uma profissão inserida na divisão
sociotécnica do trabalho, ele se configura também como uma área do conhecimento
humano ligado ao universo das ciências sociais, que se vale também de outras
áreas do conhecimento, como: sociologia, direito, psicologia social, economia etc.,
e também a filosofia, tais áreas abordam questões amplas, no que diz respeito ao
conhecimento do ser humano e visam contribuir para que o profissional aprenda a
trabalhar e compreender o ser humano, a natureza humana.
No que tange o diálogo entre a Filosofia e o Serviço Social, é importante ter claro que o
homem é constituído por três dimensões distintas: Somática/Física (dimensão corporal,
material); Anima (dimensão espiritual); Psíquica (dimensão ligada aos pensamentos,
sentimentos e valores). A partir do entendimento destas três dimensões, a pergunta
filosófica que você deve se fazer é: que concepção eu tenho do ser humano? Primeiro
passo para começar a estruturar este conceito à luz do Serviço Social é compreender
o homem enquanto um ser tridimensional (corpo, mente e alma) ou como falamos
no Serviço Social, todo homem é um ser bio-psico-social.

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É válido destacar aqui que não existe uma dimensão mais importante ou que
sobreponha uma à outra, só consigo compreender o homem e suas relações a partir
das três dimensões que são, por sinal, interligadas.
Ao olharmos para os filósofos da antiguidade podemos destacar três em especial,
pela contribuição que deixaram para o Serviço Social, são eles: Sócrates, Platão e
Aristóteles, vamos agora entender por quê?

Figura 17- Filósofos


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/bustos-filsofia-arist%C3%B3teles-756620/

- Sócrates (sec. V a.C, grego): criou o método chamado de hermenêutica, que


significa chave, abertura. A qual está relacionada a máxima: “Conhece-te a Ti mesmo”,
este método é constituído de duas fases, sendo o primeiro é a ironia (termo que vem
do grego e que quer dizer perguntar), que quer dizer que nós nada sabemos, ou seja,
eu sei que nada sei. Quando por meio do pensamento filosófico eu levo a pessoa a
perceber que suas crenças arraigadas, seus preconceitos, suas ideologias, são tão
somente aparências, ainda nos diz que nós enquanto humanos, também sabemos
muito pouco do outro humano, bem como sabemos pouco de nós mesmos.

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Ao perceber isso nós “rimos”, logo a ironia não significa rir da cara da outra pessoa
e sim “rir de si mesmo”, eu sei que nada sei; e por saber que nada sei, agora estou
sabendo que nada sabia, antes de saber o que sei.
Se você observar poderá constatar que o verbo “saber” foi utilizado diversas vezes,
o que é irônico, não é mesmo? O que sabemos e aprendemos ao longo da nossa vida,
ainda é muito pouco frente ao mistério que é a natureza humana. A segunda fase é
conhecida como maiêutica, que significa a arte de nascer, de trazer à luz, na medida
em que eu constato a minha ignorância esse “novo ser”, ou seja, essa “nova pessoa”
está “pronta para vir à luz” é a descoberta de um processo de conhecimento interior.
Esse método socrático vai acabar influenciando também na psicanálise e psicologia.
Logo, é com base nestas duas fases que o Serviço Social busca os seus fundamentos
na filosofia.

A esse pensador grego do século V a.C. é atribuída a frase ‘Só sei


que nada sei”. Ao proferir essa fala, Sócrates evidentemente não
estava afirmando que nada sabia, de fato. Filosofo por excelência,
ele estava tentando explicitar uma condição mais abrangente e
profunda. O sentido dessa afirmação poderia ser interpretado como
“só sei que nada sei por inteiro”, “só sei que nada sei por completo”,
“só sei que nada sei que só eu saiba”, “só sei que nada sei que não
possa vir a saber”, “só sei que nada sei que eu e outra pessoa não
saibamos juntos”. Esse posicionamento é o primeiro degrau para
nos afastarmos do risco da mediocridade (CORTELLA, 2019, p. 28).

- Platão (sec. IV a.C, grego): foi discípulo de Sócrates e


também representante de uma corrente filosófica conhecida
como idealismo. Com destaque para o Mito da Caverna, que
eu sugeri que vocês assistissem na nossa primeira aula. O
Mito explica a existência de dois mundos: mundo das ideias,
da perfeição do qual nós somos originários e o mundo no
qual nós chegamos, o mundo no qual estamos vinculados,
ou seja, o mundo material.
Figura 18- Platão
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/
plat%C3%A3o-o-fil%C3%B3sofo-antiga-
cientistas-3069619/

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Anote isso
O Mito da Caverna: Platão discorre sobre um prisioneiro que consegue se libertar
das amarras, das ideologias, das convicções do senso comum e consegue chegar
até “fora da caverna” e descobre um novo mundo: da realidade, das verdades, das
certezas e da concretude da essência humana. Esse “prisioneiro” tenta retornar
à caverna para libertar àqueles que estavam acostumados com o mundo das
sobras, ilusões, dos achismos e ele (o prisioneiro) e acaba sendo banido.

O Mito da Caverna traduz muitas vezes o questionamento para cada um de nós,


eu e você: qual caverna eu vivo? Considerando que mundo é a perspectiva “a pequena
caverna” que eu habito.

Isto está na rede


Dica de Filme - Matrix: o primeiro filme da trilogia traz consigo uma grande
base filosófica platônica.

Dica de Vídeo: Matrix e o Mito da Caverna – Comentários Filosóficos


• Link 01: https://www.youtube.com/watch?v=Rg9kyJCp5n8
• Link 02: https://www.youtube.com/watch?v=nFSDOZxoZFY

Dica de Vídeo: Alice no País das Maravilhas e Matrix - Mario Sergio Cortella
• Link: https://www.youtube.com/watch?v=dpp3XFsTXnw

Vale a pena conferir e refletir!

Figura 19- Matrix


Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/matriz-comunica%C3%A7%C3%A3o-software-pc-1799659/

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Figura 20- Alice e o coelho


Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/alice-no-pa%C3%ADs-das-maravilhas-4197258/

- Aristóteles (sec. III a.C, grego) -discípulo de Platão, resgata e constrói a


Filosofia no diálogo com o Serviço Social, por meio da corrente filosófica chamada
de realismo. Para este filósofo o ser humano
nasce como uma folha em branco, ou seja, nós
não trazemos conhecimentos e experiências de
um mundo superior, espiritual, ou ideal como
dizia Platão, ou seja, para Aristóteles, tudo o que
sabemos e aprendemos é feito neste mundo. Logo
ele propõe uma teoria do conhecimento, que por
meio da utilização dos cinco órgãos sensoriais é
que aprendemos a descobrir o mundo. Isso quer
Figura 21- Aristóteles
dizer que eu conheço algo na medida em que eu Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/escultura-bronze-
figura-arist%C3%B3teles-2298848/

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experimento, ou seja, conheço o mundo através dos órgãos sensoriais, sobretudo, a


visão, audição e o canal cinestésico (emocional).

3.1 Relacionando a Filosofia com a atuação do Assistente Social:

A partir do apresentado acima, é importante que você consiga relacionar o


posicionamento destes primeiros filósofos e como eles fundamentam o Serviço Social,
ao trazermos referências da Filosofia, como: Sócrates, Platão, Aristóteles, temos a
oportunidade de reforçar que a filosofia está no nosso dia a dia, ou seja, no nosso
cotidiano existe um razão prática para isso. Como a Filosofia não é algo palpável
não podemos ver seu produto final, muitos alunos acabam entendendo que ela não
possui relevância, contudo, chamo a sua atenção para aquilo que foi dito desde a
primeira aula: todo esforço da Filosofia, se concentra em compreender o homem, a
sua existência, a sociedade em que vive e suas relações.

Anote isso
O espaço privilegiado da intervenção profissional é o cotidiano, o mundo
da vida, o todo dia do trabalho que se revela como um ambiente no qual
emergem exigências imediatas e são desenvolvidos esforços para satisfazê-las,
lançando mão de diferentes meios e instrumentos. É um ambiente material
e de relações no qual o profissional deve se mover naturalmente com uma
pretensa intimidade e confiança sabendo manipular as coisas, os costumes
e as normas que regulam os comportamentos no campo social e técnico
(BAPTISTA, 2001, p.111, grifo nosso).

A partir do exposto, você deve ter clareza que os fundamentos fornecerão a base
para a sua intervenção profissional, juntamente com o arcabouço de Leis, Código e
Regulações. Compreender a atuação profissional do Assistente Social vai muito além
da operacionalização das Políticas Públicas, envolve o conhecimento do ser humano.

A realidade concreta, considerada matéria-prima incontornável


da identidade, é um forte condicionante da ação dos assistentes
sociais, pelos recursos que são disponibilizados ou não, pelas
regulações formais da atividade que desenvolvem, pelos objetivos

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políticos da sociedade em que atuam e pelas condições objetivas


de desenvolvimento social e econômico. Exige uma atitude reflexiva
individual em um processo sustentado por relações afetivamente
significativas, atitude que se estabelece na interação com outros,
sempre presentes nesse processo de construção da identidade
(GRANJA, 2011, p.436).

Retomando os fundamentos da Filosofia é necessário compreender que o profissional


de Serviço Social (Assistente Social) se perceba enquanto promotor/facilitador
do processo reflexivo junto ao usuário, junto aos grupos que coordena e junto à
comunidade onde está inserido profissionalmente.
O profissional não deve apresentar respostas e soluções prontas para o usuário
que o(a) procura, deve sim estimular o crescimento pessoal e coletivo, como forma
de promover cidadãos autônomos, conhecedores e proativos, sobretudo, conhecer a
subjetividade humana para que tenha propriedade para analisar criticamente como
ela (a subjetividade) influencia e é influenciada pelo meio social onde o sujeito vive.
O conhecimento necessário para o assistente social como mediador e garantidor dos
acessos aos direitos do cidadão vai muito mais além do que sanar uma necessidade
imediata (comida ou roupa), é necessário ao profissional, uma capacidade analítica,
crítica, promotora, capaz de desenvolver/buscar alternativas capazes de viabilizar a
superação da condição de vulnerabilidade social/econômica/emocional do usuário.
Para tanto, será necessário saber quem é este usuário, o que ele precisa, suas
origens, seus planos e projetos de vida. Como vimos anteriormente estes saberes
estão lotados de questões filosóficas, que pedirão para o profissional uma atitude e
uma reflexão filosófica crítica. Pois muitas vezes o usuário não se percebe enquanto
sujeito da sua própria história, pois ele é fruto de uma sociedade por vezes opressora
que não estimula o autoconhecimento e consciência do seu poder enquanto cidadão
de direitos.
Dessa forma, sendo o assistente social dotado de conhecimentos que auxiliam
o indivíduo a refletir sobre si e suas condições, deve sempre estar em alerta para
que o usuário também não se torne um depende dele(a), e sabemos a satisfação
que se tem quando percebemos que somos tão importante para alguém, porém não
podemos confundir a efetividade do nosso trabalho profissional com a dependência
afetiva do usuário pelo profissional. Pense sobre isso!
Para isso, meu caro(a) aluno(a), durante a sua atuação profissional, deve-se buscar
a compreensão da vida do usuário em sua totalidade, sem pré-julgamentos, pois nem

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ele (nem nós) somos uma ilha, é necessário o entendimento do usuário nas suas
mais diversas relações, pois aí pode morar a chave de todo o problema que ele vem
vivendo, e nem sempre fazer com que ele se abra é uma tarefa fácil, é preciso ler as
entrelinhas, ter paciência e humanidade suficiente para realizar esta análise, ou seja,
uma atitude filosófica.
Se o homem (enquanto sujeito) não conhecer a si próprio, não terá como conhecer
o outro. É necessário, então, ao homem saber o que quer, saber seus anseios, seus
desejos e sentimentos mais íntimos e sinceros, uma vez que,

Hoje pouca gente sabe o que quer na verdade, se o que fazem é


realmente o que querem ou aquilo que lhe é imposto a fazer, ou
porque todos fazem e é mais fácil que ele o faça também, [...] grande
número de nossas decisões não são de fato nossas, mas nos são
sugeridas de fora; conseguimos persuadir-nos de que não somos
nós que tomamos a decisão, quando na realidade nos conformamos
com as expectativas de outros, impelidos pelo temor ao isolamento,
e por ameaças mais diretas à nossa vida, liberdade e bem estar [...]
(FROMM, 1983, p. 160-161, grifo nosso).

O homem nos dias atuais está condicionado a dar respostas pré-programadas,


onde muitos dizem algo, então ele também o diz, um ser robotizado, automático,
muitas vezes incapaz de estabelecer uma reflexão crítica sobre si e suas condições.

Figura 22- pássaros


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/gaivotas-bird-v%C3%B4o-mar-c%C3%A9u-%C3%A1gua-370012/

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A liberdade é fruto da autoconsciência do homem e, só é possível adquiri-la no


momento em que o homem tiver consciência de si, de seus atos, razões e desejos.
De acordo com May (1987, p.134), “a autoconsciência e a liberdade andam a par [...]
quanto menos consciência de si mesma tem a pessoa, tanto menos livre ela é”.
Isso quer dizer que, se o homem não é seguro de si, logo é carregado e preso pela
opinião pública, “já não sou eu quem penso, mas o outro que pensa por mim”, talvez hoje
esse seja o lema (mesmo que inconsciente) de muitas pessoas, com isso, a liberdade
interior tão almejada fica cada vez mais distante.
O homem será autêntico quando sentir-se livre interiormente. A autenticidade
implica nessa conquista, ou seja, é livre aquele que consegue ser ele mesmo, um ser
autêntico, sem permitir que as ideias exteriores poluam seus ideais, ser um homem
de responsabilidades, que diante dos dilemas presente na sociedade, age, enfrenta-os
e não se submete.
E cada um enfrenta ou não esses dilemas de uma forma diferente, pois cada indivíduo
é singular, por isso, não há receita pronta e acabada para resolução de todos os dilemas
do homem. Existem sim, caminhos que viabilizam tal resolução que é um processo
inacabado, novamente aqui podemos ver a influência da Filosofia, nas ações reais
que o profissional deve conceber no cotidiano.
May (1987, p.135) explicita de forma clara e objetiva, como a liberdade é decorrente
da autoconsciência:

À medida que a pessoa adquire mais autoconsciência sua liberdade


e escala de opções aumentam proporcionalmente. A liberdade é
acumulativa; uma opção feita com um elemento de liberdade
possibilita maior liberdade na próxima opção. Cada exercício de
liberdade amplia o âmbito da personalidade.

A liberdade é um processo contínuo e proporcional à autoconsciência, como diz May


(1987), à medida que a autoconsciência permite ao indivíduo uma ação racionalmente
livre, esta mesma ação auxilia no aumento da autoconsciência, permitindo uma maior
liberdade de escolha deste indivíduo nas próximas situações.

A liberdade como capacidade humana é, portanto, o fundamento da


ética. Assim agir eticamente, em seu sentido mais profundo, é agir
com liberdade, é poder escolher conscientemente entre alternativas,
é ter condições objetivas para criar alternativas e escolhas. Por sua
importância na vida humana, a liberdade é também um valor, algo que
valoramos positivamente, de acordo com as possibilidades de cada

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momento histórico. Por tudo isso podemos perceber que a liberdade


é também uma questão ética das mais importantes, pois nem todos
os indivíduos sociais têm condições de escolher e de criar alternativas
de escolha (BARROCO, 2008, 48).

Considerando o que estudamos até aqui, pergunto: você consegue se imaginar


na prática profissional, intervindo junto ao usuário? Considerando os elementos
apresentados até o presente momento? Veja que a intervenção profissional vai além
das questões econômicas da sociedade, pois contribuir para a construção do sujeito
autômato e crítico também faz parte do cotidiano do assistente social, e, para isso,
tanto a Filosofia, a Psicologia Social, a Antropologia, contribuem significativamente.
Cabe ao indivíduo decidir como se deve agir, para isso, o Assistente Social se põe
como mediador desse processo reflexivo. O homem não só pode como deve ser o
mentor de seus atos e saber o que se quer implica num ser maduro, apto a escolher
por si só as metas e os valores que regerão sua vida. O ser humano não deve fazer
as coisas por mera rotina ou hábito, e, sim, porque acredita que o que faz tem algum
valor real para sua vida. Isso se dá em qualquer fase da vida, pois somos seres em
permanentemente crescimento e mudança.
Isto é liberdade, é o homem contribuir para sua própria evolução, numa constante
mudança. Não se pode pensar num homem, que busca sua liberdade como aquele
que é “mais” (é superior) que a sociedade, deve-se pensar em liberdade como aquela
que “revela-se no ajuste da própria vida com a realidade” (MAY,1987, p.136).
May (1987) sintetiza aquilo que acabamos de ver:

[...] a liberdade, portanto, não é apenas uma questão de dizer ‘sim’ ou


‘não’ diante de uma decisão específica: é a força de amoldar e criar
a nós mesmos. É a capacidade para dizer como Nietzsche, ‘de nos
tornarmos o que verdadeiramente somos’(p.137, grifos nossos).

A autenticidade consiste em ser livre interiormente e, se assim o for, ele o


será exteriormente.
Após esta contextualização fica cada vez mais claro o papel dos Fundamentos
Filosóficos para a profissão, finalizo esta aula convidando você a ler com bastante o
quadro que traz uma apresentação de como consolidar o fazer profissional a partir
da construção de práticas reflexivas, sendo este um processo dialético e contínuo.
Pois, um profissional é reflexivo quando toma sua atividade como objeto de reflexão
(GRANJA, 2011, p.436).

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OBJETIVOS PROCESSOS DA PRÁTICA REFLEXIVA

A construção teórica exige o autorreconhecimento e a


explicitação permanente dos esquemas de pensamento e ação,
sob a forma de saberes processuais procedimentos do serviço
social, a partir da própria ação. Estes devem demonstrar a
Permite a
capacidade de articulação fecunda entre os saberes teóricos
interação
e a prática, em que a teoria orienta e guia a prática e esta, por
dialética entre
sua vez, alimenta a teoria, e em que se reorganizem os saberes
ação e reflexão
teóricos em função dos limites e das exigências da prática.
Confronta o agir profissional com o crescente conhecimento
cientifico e técnico existente e a construção de novas estruturas
mentais de saber profissional.

A ação tem uma lógica de percurso, com passado, presente


e futuro, o que exige um processo de reflexão para assegurar
sua interdependência. Permite desenvolver a capacidade para
Permite a
nomear e reconstruir os problemas e (re)construir a experiência
objetivação das
e repertórios profissionais. Consolida o saber de ação como
práticas, explicita
esquemas de racionalidade específica do grupo para tomar
o pensamento
distância, contestar, comparar e verificar a coerência entre
em um diálogo
variáveis reguladoras dos problemas e as estratégias de ação.
reflexivo
Exige o domínio de suportes da linguagem e os repertórios
estruturados de experiência para descrever a realidade,
interpretá-la e construir representações operacionais.

Propõe grades abertas de leitura das experiências e hipóteses


Favorece a operacionais, como esboços da ação, sem a pretensão de
construção de encontrar as estratégias infalíveis. Analisa e interpreta as
conhecimento diferentes lógicas dos sistemas e atores, onde e com quem
sobre a disciplina interagem. Confronta os profissionais com os objetivos e
profissional resultados de suas escolhas e decisões, modelos e projetos
operacionais.

As exigências da prática em toda sua complexidade confrontam


o profissional com o fato incontornável da realidade social,
Favorece as
que não pode ser explicada por uma única ciência, mas que
abordagens
exige sínteses teóricas complexas em um processo contínuo e
multidisciplinares
dinâmico que se desenvolve no tempo e em vários espaços e
exige interação em espaços e campos diversos.

Pressupõe interação, atividade cooperativa com colegas e


Estimula e
outros atores, participa de processos de decisão, exercício de
fortalece as
supervisão, pedido de ajuda ou conselho, debate contraditório ou
redes relacionais
avaliação. Permite a apropriação de referências identitárias que
profissionais e de
o profissional adota ou recusa para adquirir confiança, suporte e
pesquisa
segurança psicológica para agir.

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A reflexividade seleciona os usos diferenciados de regras


Desenvolve e recursos, transforma-os e transaciona-os para os novos
a cultura contextos de uso, atribuindo-lhes um sentido contextual
profissional fundamentado em uma concepção do saber profissional com
valores e crenças associados – a cultura profissional.

Quadro 01- Construir saber pela prática reflexiva para consolidar as formas identitárias
Fonte: GRANJA (2011, p.436)

Obrigada por concluir mais esta etapa do seu processo de formação profissional,
e até a próxima!

Figura 23- Conquista


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/salto-precip%C3%ADcio-aventura-coragem-5187199/

Isto está na rede


Leitura Complementar: A competência reflexiva processual em serviço social
na ação profissional junto às populações

GRANJA, Berta. A competência reflexiva processual em serviço social na ação


profissional junto às populações. Cad. Pesqui., São Paulo , v. 41, n. 143, p.
428-453, Aug. 2011 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0100-15742011000200006&lng=en&nrm=iso>. access on 18
MAR. 2020. https://doi.org/10.1590/S0100-15742011000200006.

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AULA 4
O HOMEM, O GRUPO E A
COMUNIDADE

Figura 24- Comunidade Lego


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/lego-estatuetas-brinquedos-multid%C3%A3o-1044891/

O objetivo desta nossa aula é fazermos uma reflexão filosófica e social, acerca do
homem e suas necessidades, não abordaremos nenhuma corrente filosófica específica,
contudo, é necessário que você, enquanto futuro(a) assistente social, tenha em mente
com clareza o porque de vivermos em sociedade, em grupos, e qual a razão deste
assunto estar ligado a prática profissional.
Está preparado(a)? Mãos à obra!
Desde sempre os estudiosos se encantam com os mistérios do homem, dotado
de múltiplas características e segredos. O(a) Assistente Social, não pode conceber a
sua prática profissional sem entender minimamente que é o sujeito, foco das suas
ações, que se transforma em “usuário” do Serviço Social, na medida em que suas
necessidades e seus direitos não estão sendo atendidos.

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Contudo, não basta apenas saber que o usuário possui necessidades é necessário
compreender que ele é dotado de múltiplas relações, faz-se necessário saber quais
necessidades são essas e quais os caminhos que ele poderá percorrer para conseguir
satisfação (dignidade, cidadania, liberdade, igualdade, etc.). é necessário compreender
as relações com o grupo e com a comunidade, uma vez que o assistente social não
atua somente no particular.
A Profissão se gesta em meios aos grupos, às comunidades onde cada indivíduo está
inserido, sabendo que este indivíduo recebe influência do grupo e também o influencia.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/equipe-amizade-grupo-m%C3%A3os-4529717/

Todo profissional no desenvolvimento de sua prática está em contato com o


ser humano. Além do usuário, mantém contato direto com os colegas de trabalho
(psicólogos, pedagogos, sociólogos, diretores, coordenadores, prefeitos, vereadores,
secretários, entre outros), e todos os demais profissionais também se enquadram
nessa reflexão, a relação que estabelecemos no nosso cotidiano, não diz respeito
somente à demanda e sim a todos aqueles com os quais convivemos.
Para isso, esta aula propõe uma reflexão sobre o cotidiano e suas relações, a
competência profissional também implica em conhecimento sobre a humanidade e

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de como os homens nela se relacionam, conhecendo as estruturas sociais e como


se organizam, observando o todo e a totalidade.
Vamos neste primeiro momento apontar nossa
atenção para a questão: quem é o homem?
Lembre-se que todas as demais disciplinas do
curso contribuirão de alguma maneira, com algum
elemento para essa compreensão.
Observando o homem, nota-se que desde
sempre ele se apresenta a partir de um corpo
Figura 25- Planta mão
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/folha-%C3%A1rvore- físico e, por isso, existe biologicamente nem meio
jovens-pl%C3%A2ntula-3369412/
que se define pelas coordenadas do tempo e do
espaço. Este meio pode condicioná-lo, determiná-lo em todas as suas manifestações.
Este caráter de dependência do homem se verifica inicialmente em relação à
natureza, entendendo por natureza tudo aquilo que existe independentemente da ação
do homem. Sabemos que o homem depende do espaço físico, clima, vegetação, fauna,
solo e subsolo, mas não é só o meio puramente material que o condiciona. Também
o meio cultural se impõe a ele inevitavelmente.
Já ao nascer, além de uma localização geográfica mais ou menos favorável, o
homem se defronta com uma época de contornos históricos precisos, instituições
próprias, uma vida econômica peculiar e uma forma de governo ciosa de seus poderes.

Figura 26- bebês


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/g%C3%AAmeos-meninos-beb%C3%AAs-mam%C3%B5es-1628843/

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Esse é quadro da existência humana e nesse quadro o homem se encaixa e vai


estabelecendo relações. O homem é, pois, um ser situado, e essa situação é uma
condição humana necessária da possibilidade da existência humana.
A vida humana só pode sustentar e se desenvolver a partir de um contexto
determinado; é daí que o homem tira os meios de sua sobrevivência. Por isso, ele é
levado a valorizar os elementos do meio ambiente (água, terra, fauna, etc.), no domínio
da natureza e as instituições, as ciências, as técnicas, etc., no domínio da cultura.
Antes mesmo de se dar conta disso o homem está exercendo a atitude axiológica
perante tudo o que o cerca. Na verdade, valorizar é não ser indiferente. Assim, a situação
compõe-se de uma multiplicidade de elementos que em si mesmos não valem nem
deixam valer; simplesmente são, estão aí (SAVIANI, 1996).
Entretanto, ao se relacionarem com o homem eles passam a ter significado, passam
a valer. Isso nos permite enquanto seres humanos, entender como uma relação de
não indiferença entre o homem e os elementos dos quais se cercam.
Para refletir: o homem tem necessidades que precisam ser satisfeitas; todos nós
temos necessidades. Você já reparou, por exemplo, do que um automóvel precisa
para poder funcionar? E uma planta para sobreviver e crescer forte e saudável? As
necessidades de um carro são as mesmas de uma árvore?
Penso que você já sabe bem a
resposta, dessa maneira constatamos
que as necessidades variam de acordo
com a natureza de cada ser, algumas
necessidades são essenciais e outras
apenas desejáveis, podendo o indivíduo
sobreviver sem elas. Segundo a
classificação feita há tempos por Abraham
Maslow, a partir da leitura de Beust (1997)
Figura 27- equipe
podemos perceber que uma determinada Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/papel-neg%C3%B3cios-
finan%C3%A7as-documento-3213924/

necessidade é essencial quando:


Ao ser considerada e desatendida instauram-se doenças (mentais ou físicas).

A) Suprindo-se as necessidades evitam-se doenças.


B) Identificando-se e suprindo-se em uma pessoa enferma a saúde é restaurada.
C) A pessoa privada de uma necessidade essencial prefere que essa necessidade
seja suprida, em vez de qualquer outra, quando pode escolher livremente.

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D) Numa pessoa saudável a necessidade não se encontra num estado de


tensão ou privação.
E) Um sentimento subjetivo de desejo, carência ou anseio predomina quando
a necessidade não é suprida.
F) A satisfação da necessidade é prazerosa e produz um sentimento subjetivo
de saudável bem-estar.

Você já está ciente de que todo ser humano é ser de relações, essa é uma condição
inerente ao ser humano. É uma necessidade do homem estar em contato com
seus semelhantes. Assim quando estamos em grupo ou procuramos algum grupo
específico, estamos procurando também sanar alguma necessidade de cunho geral
e/ou específico. E não nos satisfazemos neste grupo enquanto não percebermos que
tais necessidades estão sendo correspondidas.
Por sua própria natureza, o homem é um ser aberto, permeável, que pode receber
enriquecimentos, mediante as relações que se torna capaz de estabelecer.

Dialogando com Aristóteles, Marx sustenta ser o homem mais que


um ‘animal social’, um ‘ser social político’, isto é, que só pode isolar-se,
individualizar-se em sociedade, dela dependendo para viver e produzir.
A ‘sociedade não consiste em indivíduos, mas expressa a súmula
das relações e condições nas quais esses indivíduos encontram-
se reciprocamente situados (MARX, 1980b: 204, v.1). explicita-se
aí o que ele dominou de essência humana, inseparável da noção
de indivíduo social da socialização fundamental dos indivíduos. O
indivíduo é compreendido como um ser social: sua manifestação vital
é expressão e confirmação da vida social, porque a vida individual e a
vida genérica do homem não são diferentes, embora a vida individual
seja um modo especial ou mais geral da vida genérica (MARX, 1974a).
(IAMAMOTO, 2008, p. 347).

Toda natureza viva cresce e se realiza a


partir de suas relações. A árvore cresce a
partir das relações que estabelece com os
terrenos e ambientes apropriados. O animal
faz o mesmo, mediante o aproveitamento
de elementos do mundo vegetal e do mundo Figura 28- Mãos
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/m%C3%A3os-palma-na-
palma-m%C3%A3o-palmeira-1926704/
mineral. A pessoa humana, da mesma forma,
cresce e se desenvolve cultural, social e psicologicamente, a partir das relações que
é capaz de estabelecer ao longo de toda a sua existência.

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Anote isso
O homem é essencialmente um ser relacional. Não pode ser considerado um
ser considerado um ser isolado, sozinho, a não ser numa situação anormal,
doentia, estranha.

Toda existência humana é uma complexa rede


de relações. Pode-se citar a fundamental relação
criança-mãe como matriz de todas as relações
subsequentes. Na infância, as relações familiares
e sociais; na adolescência, as relações com os
companheiros com o ambiente social e com
os adultos; nas escolas, as relações educando-
educador, formando-formador, aprendiz-profissional;
no amor, o contato com a pessoa amada; na vida
social, o vínculo com os amigos e conhecidos; na
vida espiritual, a relação com o transcendente. Figura 29- mãe filho
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/m%C3%A3e-
crian%C3%A7a-fam%C3%ADlia-feliz-amor-1039765/
Essa rede extensa de relações em que está
envolvida a pessoa humana se desenvolve em torno de quatro eixos principais. Sendo o
primeiro as relações consigo mesmo, onde o ser humano relaciona-se consigo mesmo
de forma positiva aceitando a si mesmo, ou de forma negativa, não se aceitando ou
se rejeitado. Nenhuma pessoa é indiferente em relação a si mesma: ou se veste bem,
se estima, se valoriza e gosta de si mesma, ou ao contrário, se detesta, sente-se um
peso e fonte de mal-estar, não gosta de si mesma, se rejeita.
A aceitação ou rejeição de si mesmo são realidades antagônicas que regem nas
pessoas dinâmicas distintas, as quais se revelam por meio de atitudes e reações
opostas. Na aceitação, a pessoa sente-se bem, por ela mesma com suas qualidades
e limitações. Sente-se aceita pelos outros como ela é e por isso não precisa temer em
seu relacionamento interpessoal. A pessoa que se aceita está presente a si mesma.
É esta presença que possibilita tornar-se presente aos outros, mediante a acolhida
fraterna e a aceitação incondicional do outro em sua realidade. A aceitação de si mesmo
constitui a verdadeira base da felicidade, pois estrutura uma unidade existencial entre
a realidade do ser e a percepção dessa mesma realidade.

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No caso da autorrejeição, a pessoa gostaria de


ser outra pessoa, distinta do que é no momento.
Imagina-se diferente, com qualidades tais e se
as limitações que julga possuir. Crê que se fosse
como se imagina, será feliz, tudo lhe correria se
os outros lhe estimariam. No seu relacionamento
interpessoal há sempre uma discrepância entre
o que foi e o que imagina ser. A não aceitação
de si mesmo funciona como filtro nas relações
interpessoais: não se permite a experiência de se
sentir aceito pelos demais. Isso acaba por gerar
uma base contínua de desconfiança nas relações Figura 30- Pessoa escondida
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/solit%C3%A1rio-
esconder-triste-jovem-1822414/
com os demais e gera conflitos interiores que,
com frequência, são projetados no relacionamento interpessoal, produzindo verdadeiras
distorções na percepção de si mesmo, dos outros e da realidade.
Daí nascem e se estruturam atitudes negativas e defensivas que impedem a sadia
integração dos aspectos negativos de que é portadora e não permite o crescimento
e o desabrochamento dos dons da pessoa.
Num segundo eixo encontramos as relações com os outros, o EU da pessoa se
forma a partir das relações com o outro, com um TU, mas sem criar oposição, divisão
ou conflito. O TU é necessário para o EU dar-se conta de que é outro, distinto. O
outro tem lugar importante na minha vida, na minha existência. O lugar dos outros é
indispensável para nossa relação existencial.

Figura 31- caridade


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/dando-oferta-dana-dar-1826706/

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Anote isso
O individualismo é o pior inimigo do
sujeito cidadão. O significante individual
é cético em relação à causa do bem
comum ou social. O cidadão é um
sujeito crítico que tende a buscar seu
próprio bem estar (a esfera privada) e
do grupo (esfera pública) através do bem
estar da cidade, a polis. Assim o grupo,
a comunidade, a sociedade é o espaço
público de encontros e diálogos sobre os
problemas privados dos sujeitos e das
questões públicas da polis. Transpor o Figura 32- Mulher pergunta
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/id%C3%A9ia-
apontando-levantar-a-m%C3%A3o-3082824/
abismo entre o indivíduo e a comunidade
é tarefa da política, no espaço ágora, lugar da transversalidade do público
e do privado, onde os problemas privados (sujeitos) são traduzidos para a
linguagem das questões públicas e soluções públicas para os problemas
privados são buscadas, negociadas e acordadas (consenso).

De acordo com Lukas (1990, p.30) “experenciamos o nosso próprio eu ao sermos


solicitados por outras pessoas”.
Nas relações com os outros a pessoa deve buscar sua autonomia sem destruir
a autonomia do outro. A liberdade de que a pessoa humana é dotada, está limitada
pela existência e pela presença do outro. Mas é essa mesma liberdade que deve
impulsioná-la a viver plenamente essa dimensão relacional.

Figura 33- enxergar-se


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/carro-de-comunica%C3%A7%C3%A3o-discuss%C3%A3o-3100981/

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Quanto a relação com o outro com o outro chega à construção da solidariedade


e da fraternidade, então é verdadeira e cria condições de um real crescimento das
pessoas envolvidas. Quando a relação com o outro provoca divisões e conflitos torna-
se fortemente frustrante.
Quanto mais a pessoa se harmoniza com seu interior, tanto mais é capaz de
construir laços significativos porque mais se aproxima do outro, mais realiza sua
natureza constitutiva e mais capaz se torna de conviver com o outro. Isso pode ocorrer
com facilidade nas relações educador-educando, pais-filhos, nas próprias relações de
trabalho de trabalho e nas relações sociais.
No terceiro eixo podemos apreender as relações com a realidade, com o mundo,
perceba você que o homem, por sua constituição, é uma síntese do universo e também
dos três reinos da natureza: animal, vegetal e mineral e, além disso, possuidor de uma
dimensão que lhe é característica própria: a dimensão racional-espiritual.
A posição do senhorio em que o homem ocupa diante do mundo o põe em relação
com todas as coisas, com todos os cosmos.
As relações do homem com a realidade e com o mundo podem ser conduzidas
pela objetividade, pelo respeito e pela aceitação da realidade exterior. Nem tudo no
homem pode mudar e controlar na natureza. Frente a isso é que o homem se sente
desafiado a respeitar esta realidade sem se sentir diminuído.
Quando as relações com o mundo são conduzidas pela subjetividade podem
apresentar distorções, torna-se conflitivas e até mesmo rejeitadoras da realidade.
Nesse caso, o correto uso das coisas pode estar seriamente comprometido.
A harmonia entre homem e a realidade é um ideal que cumpre buscar constantemente
e que exige do homem um constante cuidado, uma verdadeira formação.
E por último e não menos importante, percebemos as relações estabelecidas pelo
homem com Deus (transcendente), dimensão racional-espiritual do homem o torna
capaz de se relacionar com Deus, com o Transcendente. Onde a aceitação de si mesmo,
a concepção de si mesmo, a concepção positiva de si a experiência de sentir-se amado
formam a base da capacidade de se relacionar de forma pessoal com Deus.
Da mesma maneira que a autorrejeição, a apreciação negativa de si mesmo, a
presença de algum sentimento de desconfiança em relação às pessoas torna difícil
o relacionamento pessoal com o Transcendente.
Sendo assim, vimos nesta aula, que o homem sendo um ser de relações não pode
ser visto de forma isolada, desconectada da realidade. Ele está envolto num complexo

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de relações. Contudo ele guarda em si sua consciência unitária de ser ele mesmo o
sujeito que preside essas relações.
E então tudo bem até aqui? Esse foi apenas um primeiro momento de reflexão, ao
longo do curso poderemos desfrutar de outros momentos que nos servirão de base
para a futura ação profissional.

Figura 34- sociedade


Fonte: https://www.caurj.gov.br/wp-content/uploads/2018/11/napne21.png

Isto está na rede


Vamos agora pensar um pouco sobre a subjetividade. Aprofunde seu
conhecimento e leia o texto a seguir, pois irá lhe auxiliar nesse processo formativo.
Procure refletir sobre esta categoria em que muito contribui para entendimento
do sujeito, com o qual o(a) Assistente Social mantem contato permanente.
GONÇALVES, Rafael Ramos. A expressão da subjetividade na filosofia de
Merleau-Ponty. 123 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social) – Faculdade
de Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp071116.pdf

Figura 35- Conexões


Fonte: http://efacilassim.com/nascido-para-conexoes/

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Por que vivemos em grupo?

Bem, antes de iniciarmos esta reflexão, quero te fazer um convite, ele consiste em fazer
uma retrospectiva da sua vida. É fácil! Reflita sobre as questões que eu vou te propor:

• Existem diferenças no seu comportamento quando você esta só e quando


você está em grupo?
• Você se lembra do seu primeiro grupo de amigos?
• Você consegue identificar aspectos que facilitam e que dificultam o seu
convívio em grupo?
• A quais grupos você pertence hoje?

Acredito que este pensar sobre grupos que você acabou de realizar aqui, contribuirá
na participação nesta aula, sendo assim, vamos adiante!
Podemos considerar como grupo o conjunto de pessoas que possuem objetivos
comuns. De antemão é valido ressaltar que o grupo não é estanque, ele encontra-se
em constante movimento. No grupo é possível perceber como cada pessoa pensa, o
que cada um sente e percebe o mundo à sua volta.
Logo, é possível afirmar que cada indivíduo é diferente, cada um expressa à sua
maneira individualmente e em grupo as situações vividas e sentidas, essas diferenças
são inevitáveis. Tais influências contribuem para as relações interpessoais, trazendo
benefícios e em outras vezes até prejuízos.
Como todo grupo encontra-se em movimento constante, ou seja, em mudanças
permanentes se faz necessário entender que isso é ocasionado pelas forças internas
e externas que estão relacionadas a cada membro do grupo.
O grupo serve de apoio para o ser humano, pois somos seres de relações. Atendendo
as necessidades do indivíduo, todos os seres humanos que se sentir satisfeitos no
meio em que vivem.
Um ponto fundamental nesse contexto é que convivemos com grupos diariamente.
As pessoas são diferentes, únicas, com valores e crenças muito pessoais, apesar de
alguns valores serem compartilhados por grupos pertencentes a determinada cultura.
Alguns costumes e hábitos caracterizam os grupos e identificam nossa cultura.
Perceba você, que em todo grupo existem aquelas pessoas que se destacam mais
ou menos, falamos aqui em prestígio, podemos perceber que todos desejam sentir-
se seguros dentro do grupo ao qual pertencem, pois se lembre que cada um inserido
neste ou noutro grupo ali está determinadas necessidades e estas necessitam ser

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supridas, isto não é privilégio deste ou daquele membro do grupo, porque o grupo
cresce com o indivíduo e vice versa.
Pertencer a grupos é ao mesmo tempo tão decisivo e tão comum, que geralmente,
os indivíduos muitas vezes não se dão conta da importância deste fato. Só quando se
sente à parte do grupo é que o indivíduo tende a perceber a importância fundamental
do grupo para sua vida. A destruição dos vínculos com grupos quase sempre traz
problemas para a pessoa.
Mas afinal, o que é mesmo um grupo? Alguns autores classificam os grupos
sociais em duas categorias: os grupos aos quais eu pertenço (família, minha turma
da faculdade, trabalho, igreja etc., são todos os grupos dos quais se pode afirmar que
são meus) e os grupos externos, aos quais não pertenço (são outras famílias, outras
turmas, outras nacionalidades, outras ocupações, etc.).
As relações da pessoa com cada uma das duas categorias grupais são muito
diferentes. Dos grupos aos quais você pertence, você espera reconhecimento, lealdade,
auxílio, aceitação. As expectativas em relação aos grupos externos variam, podendo
abranger tanto cooperação quanto competição e indiferença. De acordo com Santos
(et.al., 2006), podemos analisar alguns dos pontos importantes o trabalho com o grupo:

1. Conhecer as pessoas: possibilitando o conhecimento e a integração entre


os membros participantes do grupo.
2. Importância de se estar em grupo: apresentando uma proposta de trabalho
ao grupo motivando a sua participação.
3. Importância de se compartilhar ideias: oportunizando a troca de ideias entre
os participantes promovendo a socialização do grupo.
4. Construir contato com o grupo: possibilitando que os membros do grupo
participem na definição de regras para o desenvolvimento do grupo.
5. Criar identidade do grupo: envolvendo os participantes no processo de criação
de uma identificação para este grupo.

Para isso acontecer é importante conhecer a realidade dos membros do grupo.


Suas necessidades e potencialidade no âmbito individual e coletivo.

Isto está na rede


Grupos e Serviço Social: Explorações teórico-operativas, o caminho a percorrer.
Alexandra Aparecida Leite Toffanetto Seabra Eiras

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Link: https://periodicos.ufjf.br/index.php/libertas/article/view/18143/9395

Figura 36- fios agulhas


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/oriente-m%C3%A9dio-agulha-t%C3%B3picos-4854847/

Quanto à Comunidade a pergunta primeira é, qual é o seu conceito de Comunidade?


Você conhece a(s) comunidade(s) da(s) qual(is) faz parte? Como futuro profissional
você estará lidando com sujeitos vindos de diversas delas, cada uma com seu perfil,
características e particularidades. Dessa maneira, vamos entender um pouco mais
sobre elas e essa reflexão está ligada à profissão.
O termo comunidade é utilizado com diversos sentidos e diferentes concepções por
parte das instituições por parte das instituições e das sociedades científico-acadêmicas
e até no meio popular. Pode-se definir comunidade como:
Agrupamento de pessoas que vivem em uma determinada área geográfica ou
território (rural ou urbano) cujos membros têm algumas atividades, interesse, objetivo
ou função em comum, com ou sem consciências ideológicas, culturais, religiosas,
étnicas e econômicas (PEREIRA, 2001, p.145).
Perceba que essa concepção é ampla, trazendo a reflexão da participação das
pessoas, da política e das relações de poder. Concebemos a comunidade como um
grupo coeso, forte e unificador (comum-unidade), a qual exerce influência sobre o
sujeito e é influencia por ele, como citado anteriormente.
O grupo trata de seres humanos. O grupo também influencia a maneira pela qual
as pessoas aprendem. É já sabido que todas as pessoas aprendem melhor com o
grupo e estando em um grupo. Bem como a assimilação daquilo que aprendemos se
torna muito mais rápido, muito mais do que se estivéssemos trabalhando sozinhos.
A participação em grupos auxilia o indivíduo na aquisição e desenvolvimento de
suas atitudes, na formulação de crenças e amadurecimento dos próprios sentimentos.

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O grupo ainda contribui para que construamos nossos objetivos, uma vez que todos
possuem padrões, objetivos específicos e definidos, além de estarmos em constante
interação com outras pessoas que também estão nesse processo.

A base de toda vida social é a interação, sendo ela a responsável pela


socialização dos indivíduos e também pela formação da personalidade.
Na interação social, as ações de uma pessoa dependem das ações de
outros, e vice-versa: é o resultado da influência mútua. As interações
sociais formam a base de toda organização e estrutura social (DIAS,
2005, p.86).

O grupo ao qual pertencemos pode revelar muito sobre quem nós somos e as atitudes
que tomamos. As relações que estabelecemos nos diversos grupos acaba por vezes
tornando-se um espelho, o qual reflete nossa personalidade. Temos necessidade de
sermos aceitos e de nos parecermos com nossos semelhantes.
É importante que você tenha em mente que todo e qualquer profissional, independente
da área de atuação, estar em contato direto com pessoas e grupos, para isso deve
compreender como eles se manifestam na sociedade. Isso se faz importante para que
você possa e saiba como constituir e administrar grupos e o que venha a ocorrer neles.
É importante também no sentido de que todas as pessoas vivem sob diversos
tipos de influências: emoções, desejos, sentimentos. Algumas dessas influências são
inconscientes e o sujeito a manifesta sem perceber em seu cotidiano.
Mais uma vez reforço: essa
realidade da qual as pessoas
estão inseridas e que são alvo
do nosso trabalho, também é a
nossa realidade; não podemos
nos excluir dela, nos colocando
acima, dessa maneira
deve ter sensibilidade para
compreendê-la e interpretá-
la uma vez que lidamos com
Figura 37- conexões
seres humanos diariamente. Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/pessoal-rede-3108155/

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AULA 5
REFLEXÕES INICIAIS SOBRE AS
TEORIAS SOCIAIS E O SERVIÇO
SOCIAL

Figura 38- interação


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/sonho-interpreta%C3%A7%C3%A3o-de-sonhos-3871214/

Olá! Seja muito bem-vindo para mais uma unidade de estudo, onde abordaremos
as principais correntes filosóficas no século XX e suas relações com o Serviço Social,
as próximas aulas irão apresentar os seguintes conteúdos: Marxismo; Neotomismo;
Positivismo; Fenomenologia.
E agora você pode estar se perguntando: se estes são conteúdos das próximas aulas,
o que aprenderemos neste momento? Bem, caro(a) aluno(a), preciso primeiramente
explicar qual a relevância e os motivos de trazermos estas correntes filosóficas ou
teorias sociais no curso de Serviço Social.
Vamos lá?
Primeiramente: o que são as Teorias Sociais?

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As teorias sociais auxiliam na explicação das relações ente os homens e de forma


geral ajudam a entender a interpenetração dos homens uns com os outros e com o
ambiente onde está inserido.
As teorias sociais são formuladas por pensadores que se preocupam com a
sociedade e buscam elaborar um conjunto de ideias, a partir de análises históricas e
sociais do mundo em que vivemos.
Podemos assim dizer que as teorias sociais estudam o homem e a relação que
este estabelece com a natureza, logo, a elaboração de uma teoria social pressupõe
como ponto de partida os conhecimentos do senso comum ou empíricos (baseados
em experiências comuns) para chegar em um grau de cientificidade que explique com
mais profundidade a sociedade e as relações que nela se estabelecem. As teorias
sociais surgem em consequência de um processo histórico-social e aborda princípios
de interação com o meio social, o estudo do ser social e das relações com outros
seres (naturais), ou seja, dos homens entre si e do meio em que habitam.

Figura 39- Estamos conectados


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/meios-de-comunica%C3%A7%C3%A3o-sociais-2528410/

As teorias sociais tratam dos aspectos que dizem respeito às relações humanas
e sociais, podendo ter diferentes enfoques, o que vai depender da interpretação que
o pensador tem acerca do homem e do mundo, ou seja, qual é a visão de homem e
de mundo para aquele determinado pensador.
São as teorias sociais que abordam todo e qualquer aspecto social dos problemas
que surgem no interior da sociedade, ou seja, o motivo que levam a sociedade a
enfrentar determinados problemas e o que a levou a um determinado quadro histórico.

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Trata-se de um conhecimento
sobre a sociedade, ou melhor, o
homem (ser social) dentro dos meios
no qual ele vive da sua relação com
a organização social (sociedade)
que ele mesmo criou, uma vez que
é um ser em permanente relação
com os demais homens. Enfim, é
conhecimento do homem, elaborado
pelo próprio homem a partir da visão Figura 40- olhar
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/pele-olho-%C3%ADris-azul-mais-
velhos-3358873/
que ele tem sobre si.
Assim é a visão de cada pensador, que imprimirá um determinado grau de explicação
da realidade, portanto que diferencia um pensador do outro é o grau de explicação em
função da visão de homem e de mundo que cada um desenvolveu, pois cada pensador
possui um tipo de abordagem e de interpretação da realidade. Diferenciam-se pela
forma de encarar o seu próprio objeto, que é sempre o homem e suas relações no
e com o meio em que vive. A forma de encarar e produzir o conhecimento sobre o
objeto é chamado de método. As outras teorias da área das ciências exatas, biológicas,
médicas e agrárias, apesar de possuírem outros objetos específicos não deixam de
ter um caráter sociológico e filosófico. Veremos isso nas próximas aulas.
São diversas as interpretações porque as relações entre os homens não são
exatas, mas conflituosas. É justamente isso que imprimirá um caráter diverso nas
interpretações: conflito de interesses entre os homens e a posição que cada autor
toma diante destes conflitos. Em se tratando de teorias sociais, não há neutralidade. A
neutralidade é possível em termos de estudos na área de ciências naturais, biológicas,
físicas, matemáticas, (e olha lá!).
Bem você pode ainda estar se perguntando, mas o que exatamente diferencia uma
teoria social da outra? Primeiramente, é possível dizer à você que a necessidade do
estudo das teorias sociais se deve ao fato de que não é possível trabalhar com o
homem e suas relações sociais sem conhecer como funciona a sociedade, como se
estabelecem estas relações e as estruturas sociais.
São as teorias sociais que embasam ou dão rumo à prática profissional, ou seja, a
partir de uma dada explicação de homem e de mundo, podemos tanto compreender
o porquê dos fenômenos que serão objeto de nossa intervenção profissional, bem

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como o que nos pedem para fazer e o que faremos e o motivo pelo qual faremos
(atitude filosófica).
Caso contrário trabalharíamos apenas com o senso comum, sem entendermos o
porquê das coisas serem como são e se poderiam ser diferentes.

Chamamos de senso comum o conhecimento adquirido por tradição,


herdado dos antepassados e no qual acrescentamos os resultados
da experiência vivida na coletividade a que pertencemos. Trata-se
de um conjunto de ideias que nos perite interpretar a realidade, bem
como de um corpo de valores eu nos ajuda a avaliar, julgar e, portanto,
agir. O senso comum, porém, não é refletido e se encontra misturado
a crenças e preconceitos. É um conhecimento ingênuo (não crítico),
fragmentado (porque difuso, assistemático e muitas vezes sujeito
a incoerências) e conservador (resistente às mudanças) (ARANHA,
2003, p.60, grifo nosso).

Anote isso
Senso comum: “não é refletido e se encontra misturado a crenças e
preconceitos. É um conhecimento ingênuo (não crítico), fragmentado (porque
difuso, assistemático e muitas vezes sujeito a incoerências) e conservador
(resistente às mudanças) (ARANHA, 2003, p.60)

Desta forma entendido, o estudo das teorias sociais é necessário para entendermos
a realidade na qual estamos inseridos, como também pata detectar se existe uma
equivalência destas com nossa visão de homem e de mundo; para entendermos o
homem em sua totalidade; para compreendê-lo tanto no âmbito de suas relações com
os outros homens, quanto consigo mesmo,
ou seja, psicossocialmente.
O estudo das teorias sociais ainda
contribui para que o Assistente Social
possa compreender o indivíduo dentro da
sociedade e suas influências na formação
desse indivíduo, uma vez que estaremos
estudando, intervindo, enfim trabalhando
com o ser humanos e suas relações no Figura 41- luz
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/m%C3%A3os-aberto-vela-

meio social. %C3%A0-luz-de-velas-1926414/

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Anote isso
As teorias sociais são o fundamento para a prática profissional!

Aprender o fazer profissional (trabalho) realizado e um


espaço sócio ocupacional definido no movimento da
sociedade, em conexão com a práxis social, significa captar
os determinantes que interferem na configuração simbólica
dos diferentes espaços do exercício de uma profissão,
identificando, igualmente, suas marcas nos indivíduos
que têm, no trabalho assim concretizado, seu espaço
de afirmação profissional e existencial [...] Os diferentes
discursos acerca de determinado trabalho profissional têm
relação com o discurso teórico, e estas relações explicitam e
se fazem, necessariamente, como construções ideológicas
(NICOLAU, 2004, p.89).

É importante ressaltar que o Serviço Social não é a junção de várias teorias sociais,
mas uma profissão de caráter interventivo na sociedade, nas qual as teorias sociais
tentam explicar. E como o próprio nome da profissão já lembra: nossa intervenção
está ligada aos problemas sociais, à questão social e suas múltiplas expressões, as
relações sociais e humanas dos indivíduos.
Para se conhecer diversas interpretações que os pensadores propõem para os
diversos problemas (observe-se bem: são interpretações, e não soluções; e se não
são soluções, nenhuma teoria social fornece uma receita pronta para a intervenção).
Também, não se escolhe uma teoria social em função dos problemas que serão
encontrados; para poder encontrar a melhor solução e mudar quadro social. Pode-se
e deve-se trabalhar para melhorar as condições de vida, mas é impossível por meio
de qualquer profissão se alterar estruturalmente uma sociedade.
Escolhe-se uma teoria social pelo grau de aproximação entre a visão de mundo
do profissional em formação (acadêmico) e a do autor. Escolher uma teoria social
não é escolher um “dogma”, mas escolher princípios teóricos e metodológicos que
se aproximem da individualidade e a personalidade do profissional. Escolher uma
teoria não significa desprezar as demais como se fossem uma espécie de monstros
abomináveis. A construção dos diversos saberes humanos é algo que deve ser encarado
com seriedade e não de maneira leviana.

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Assim, devemos entender que

A formação profissional existe no movimento das relações que marcam


uma dada totalidade social. É um processo que se realiza segundo as
condições dessa totalidade, em um dado momento histórico, e dos
sujeitos que nela constroem teorias (NICOLAU, 2004, p.92).

Por exemplo: se opto o eixo teórico-metodológico


proposto por Marx (que diz que o homem é um
produto histórico e, nesse processo, o trabalho ocupa
uma dimensão fundante; que a teoria não é a criação
de um ideal, mas reprodução pelo pensamento do
mundo real que é anterior ao pensamento; que
o homem é um ser determinado e determinante;
que todo pensamento ou ato humano só pode ser
explicado a partir de sua relação com o contexto Figura 42- Marx
Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/karl-marx-
retrato-homem-barba-2026379/
histórico), nada me impede, a fim de explicar a
totalidade de me fazer valer dos estudos sobre a Burocracia de Weber ou dos estudos
sobre o inconsciente de Freud.
Vale ressaltar aqui, neste momento, que tais estudos não devem ser tomados como
se costuma dizer “ao pé da letra”, mas eles devem ser feitos a partir do eixo teórico-
metodológico do profissional, por exemplo: no estudo e no entendimento das teorias
de Freud, o inconsciente não será simplesmente o resultado da luta entre o princípio de
prazer e o princípio de realidade, mas será o resultado
do processo histórico das relações no interior da divisão
social do trabalho do que deve ou não ser apropriado,
da forma como deve e foi apropriado.
“Tomar ao pé da letra”, como disse logo acima e
juntar interpretações diferentes recebe o nome de
ecletismo. Fazer uma releitura mediante uma visão
de mundo é tentar buscar não somente entender a
construção do saber humano, mas buscar totaliza-
lo para melhor compreender o homem e sua relação
Figura 43- Freud
com o mundo, na realidade presente. Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/sigmund-
freud-m%C3%A9dico-neurologista-400399/

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Anote isso
Podemos sintetizar que o estudo
das teorias sociais em Serviço Social
existe para que possamos ter um
conhecimento mais profundo sobre o
homem, sua realidade e os problemas
sociais e dessa maneira intervir com
maior eficácia e competência.

Figura 44- Túnel luz


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/t%C3%BAnel-
tubula%C3%A7%C3%A3o-tubo-subterr%C3%A2nea-20180/

A prática é uma dimensão diferente da teoria. A teoria busca interpretar as ações


do homem no mundo, é ela quem vai dar o embasamento para a compreensão da
prática. É importante destacar que não podemos tomar as expressões: prática social
e prática profissional como sinônima:
A prática social é mais ampla e a prática profissional é apenas uma das dimensões
da prática social.
O lazer, a ida à Igreja, as amizades, as relações familiares e amorosas, a participação
em movimentos sociais, estudantis, sindicatos, partidos políticos são outras dimensões
da prática social. As teorias sociais se referem à prática social e não exatamente a
uma profissão distinta.
Dessa maneira, o embasamento que a teoria pode dar ao serviço social não é ditando
os instrumentos de ação, mas é por meio de uma compreensão da realidade, de saber
o que fazemos e por meio da nossa criatividade e uso adequado da nossa capacidade
de raciocínio que estabelecemos os limites e possibilidades de nossa prática – tanto
em relação ao grau de identidade de nossos usuários, como em relação aos que eles
esperam de nós e em relação às especificidades de outras profissões. E tudo isso
ainda permeado pela busca de respostas da questão: o que eu quero no e do mundo?

Na prática profissional, as mediações entre a elaboração teórica,


a projeção e a intervenção se dão de maneira complexa: tem que
responder a questões muito concretas, socioeconômicas e politicas
de uma sociedade extremamente diversificada, colocando-se diante
de problemas muito específicos. Nesse espaço, o profissional não
tem apenas que analisar o que acontece, mas tem que estabelecer

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uma crítica, tomar uma posição e decidi por um determinado tipo de


intervenção (BAPTISTA, 2001, p.115).

Para reforçar, lembro você que a teoria é sempre uma visão de mundo mais elaborada,
que por sua vez suscitará novas reflexões.

Figura 45- bolhas de sabão


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/sab%C3%A3o-bolhas-de-sab%C3%A3o-bolha-801835/

Caminhando para as nossas considerações finais desta aula, faz importante ressaltar
que o cotidiano é por si complexo, lotado de particularidades e determinações de
ordem estrutural, pois a sociedade e as relações nela estabelecidas são dinâmicas e
também complexas, logo o conhecimento teórico é apenas uma parte do todo, nem
mais e nem menos importante daquilo que entendemos por conhecimento.

[...] no exercício profissional, o assistente social reestrutura saberes,


visto que as informações advindas deste fazer lhe abrem perspectivas
muitas vezes contrapostas ao saber por ele estruturado ao longo do
seu processo formativo (NICOLAU, 20004, p.85).

As teorias sociais nasceram fora ou dentro do âmbito do Serviço Social? Nasceram


fora. O Serviço Social não tem uma teoria própria, ele utiliza teorias sociais para
compreender sua prática profissional e a prática social dos homens.
Antes do Serviço Social ser regulamentado como profissão já existiam pensadores
preocupados em entender a realidade social. As teorias sociais nasceram no contexto

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da história social da humanidade, como


necessidade humana de explicar o
próprio homem, portanto fora do âmbito
do Serviço Social.
Cer tamente, os homens ainda
construirão muitas outras teorias sociais,
uma das características marcantes do
Serviço Social, hoje, é o fato dele ter
se tornando um interlocutor com as Figura 46- Atendimento
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/neg%C3%B3cios-lady-mulher-
chamadas ciências sociais. Não somos menina-3560932/

mais meros consumidores de pensadores


exteriores à nossa profissão, e não me refiro aqui diretamente aos clássicos, mas a
produção teórica contemporânea. O arsenal de dissertações e teses elaboradas nos
últimos tempos por Assistentes Sociais testemunham o fato.
Por fim, resta dizer que o Serviço Social não surgiu para sistematizar ideias que
já existiam, mas como uma exigência social para atenuar conflitos existentes e, em
um processo, histórico, para chegar aos dias de hoje como um defensor da cidadania
e da democracia. E esse ponto de discussão tão antigo (desde Sócrates, Platão e
Aristóteles) e ao mesmo tempo tão contemporâneo será ampliado em outras disciplinas
no decorrer do curso.
Pois, sem sabermos de onde viemos, não poderemos saber para onde caminhar:
“com efeito, a realidade somente pode ser apreendida através de uma organização
teórica implícita ou explícita” (CELATS, 1980, p.60).
A partir de agora daremos início aos estudos sobre as influencias das correntes
filosóficas no Serviço Social, quais as principais teorias sociais que nos auxiliarão
enquanto futuros profissionais é preciso que você tenha claro que elas não ocorreram
de forma fragmentada ou numa linha do tempo definida, ou seja, uma não sobrepôs
a outra de forma a apagá-la da prática profissional. Por que isso?
Por que a história é dinâmica, não existe ponto final. O que você irá perceber que
todas elas de uma forma ou de outra continuam influenciando a profissão até os dias
atuais, porém em algum momento da história ela se destacou mais. Influenciando
o cotidiano profissional e a maneira como o homem e a sociedade se organizavam.
Também não cabe, nem a você e nem a mim, julgarmos se era teoria social
certa ou errada, a melhor ou pior, pois precisamos entender que a história muda

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conforme os acontecimentos da humanidade, cada uma no seu tempo contribuiu


significativamente, ok?
Pronto, para mais conhecimento?
Te encontro na próxima aula!

Figura 47- vencer


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/klee-trevo-de-quatro-folhas-1949981/

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AULA 6
NEOTOMISMO

Olá, seja bem-vindo e bem-vinda para mais uma


aula, de uma forma bastante clara vamos entender
a influência do Neotomismo no desenvolvimento
do Serviço Social.
Pois bem, você já deve ter sabido que o Serviço
Social possui forte influência da Igreja, sobretudo
da Igreja Católica e sua ideologia, que por muitos
anos norteou os ideários dos Assistentes Sociais, Figura 48- vitral São Tomás de Aquino
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/vitral-janela-igreja-
também aqui o Brasil. pomba-saint-4702215/

[...] é por demais conhecido a relação entra a profissão e o ideário


católico na gênese do Serviço Social brasileiro, no contexto de
expansão e secularização do mundo capitalista. Relação que
vai imprimir à profissão caráter de apostolado fundado em uma
abordagem da “questão social” como problema moral e religioso e
numa intervenção que prioriza a formação da família e do indivíduo
para solução dos problemas e atendimento de suas necessidades
materiais, morais e sociais. O contributo do Serviço Social, nesse
momento, incidirá sobre valores e comportamentos de seus “clientes”
na perspectiva de sua integração à sociedade, ou melhor, nas relações
sociais vigentes (YAZBEK, 2009, p. 03).

O Neotomismo é considerado uma das primeiras referências filosóficas do Serviço


Social, o Neotomismo é derivado de outra corrente filosófica denominada Tomismo em

referência ao Santo Tomás de Aquino (1225) um teólogo dominicano


que escreveu uma obra filosófica caracterizada por uma perspectiva
humanista e metafísica do ser que vai marcar o pensamento da Igreja
Católica a partir do Século XIII. Merece destaque na obra de Santo
Tomás de Aquino a Suma Teológica (YASBECK, 2009, p. 27).

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O Tomismo, inspirado nos pensamentos de Santo Tomás de Aquino, acima citado,

[...] partirá da reflexão feita por Aristóteles e a trata sob nova luz
ao cenário filosófico de sua época. Vivendo seu tempo histórico,
Santo Tomás tratará em sua reflexão de questões vitais para sua
época, tais como: as relações entre Deus e o mundo, fé e ciência,
teologia e filosofia, conhecimento e realidade; estas questões e outras
mereceram tratamento e soluções dentro do pensamento tomista.

Santo Tomás de Aquino foi um filósofo medieval pertencente aos ideais cristãos,
durante a baixa idade média entre os séculos XII e XIII, um período em que a história
da humanidade está caminhando, aos poucos se transformando. Este é um período
em que o clero está sendo questionado, onde o modo de produção feudal (feudalismo)
também está sendo questionado. Então, a Igreja como uma instituição sólida também
precisa se transformar para defender seus paradigmas, os seus dogmas.
Santo Tomás se torna um representante que moldará o que a Igreja faria dali para
frente, uma vez que o mundo estava em transformação e o clero estava perdendo o
poder, principalmente no que dizia respeito o “monopólio da educação”, logo, Santo
Tomás vem para tentar “remoldar” o pensamento cristão, que cria uma das obras mais
significativas para a Igreja da época, que já citei anteriormente a: Suma Teológica.
Se tornando assim considerado um Doutor da Igreja Católica, era considerado doutor
aquele que conseguia moldar o pensamento e dogmas cristãos, os “Doutores” possuíam
grande representatividade, eram considerados pessoas muito próximas de Deus no
conceito cristão. São Tomás de Aquino foi um filósofo medieval pertencente aos ideais
cristãos, outro exemplo de Doutor da Igreja Católica, foi Santo Agostinho.
Através da sua relevância, a história da Filosofia aponta Santo Tomás como
pertencente à Escola Filosófica chamada de Escolástica, alguns dizem que ele
“cristianizou as ideias de Aristóteles” num termo amplo. Santo Tomás assim como
Aristóteles acredita que o nosso mundo terreno (o qual sentimos e vivemos) é capaz
de gerar conhecimento, sem deixar de lado a busca por Deus, pois trata-se de um
homem inserido no meio cristão. Mesmo assim procurou conciliar fé e razão, mesmo
a fé estando ainda num patamar acima.
A seguir você poderá acompanhar de um quadro onde procurei os principais princípios
e pensamentos Tomistas, depois retomado pelo Neotomismo, que influenciaram o
Serviço Social.

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Princípios e Pensamentos retomados pelo Neotomismo

Deus é a fonte de todos os seres

Uma pessoa é substância individual (indivisa) de uma natureza racional

A pessoa humana é composta de duas substâncias incompletas: a alma e


o corpo

A união dessas duas substâncias numa substância única, embora


composta, nos dá o ser humano

O homem é um ser distinto de qualquer outro ser, e o que o torna diferente


é a racionalidade, inteligência

E na racionalidade/inteligência que reside a dignidade humana, o princípio


da consciência e liberdade.

A racionalidade permite ao homem, escolher, saber, ter vontades.

Por ser inteligente a pessoa significa o que há de mais perfeito em todo o


universo, no aspecto físico e espiritual.

Uma outra dimensão apontada, é que a pessoa humana é um ser social.

Da própria natureza humana decorre seu aspecto social.

O desenvolvimento humano depende dos outros, logo, o homem necessita


viver em sociedade.
Santo
Tomas de O homem não pode esquecer que vivendo em sociedade o fim da mesma é
Aquino a felicidade geral.

Na vida social, as leis servem para norteá-lo.

As leis têm por base a lei eterna, devem servir o bem comum e não ao
indivíduo como tal.

A lei deve visar a felicidade comum e ao bem estar da coletividade.

Sociedade é a união de homens com o propósito de efetuar algo comum.

O bem estar da sociedade acontece quando seus benefícios são


distribuídos a todos.

Três leis dirigem a comunidade ao bem comum: natural, humana e divina.


As duas primeiras devem obediência a terceira.

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Lei Humana – deve o homem por ser um animal social é um animal


político, logo para que haja o bem comum é necessário o Estado. Estado
supõe autoridade. Toda forma de autoridade deriva de Deus, respeitá-la é
servir à Deus. O Estado deve respeitar a Igreja.
Quadro 02 – Principais pensamentos do Tomismo
Fonte: Adaptado de Aguiar (2011, p.42-43)

Se observarmos o último item da tabelam que trata das três leis que regem a
comunidade, conseguiremos perceber que

Esta visão com relação à autoridade e ao Estado justifica a posição


incial do serviço social brasileiro de não questionamento da ordem
vigente até suas raízes e de buscar sempre apenas reformar a
sociedade, melhorando consequente a ordem vigente (AGUIAR,
2011, p.43)

Logo é importante que você tenha clareza do que se entende por Neotomismo:

... retomada do pensamento de Santo Tomás de Aquino a partir do


papa Leão XIII em 1879 na Doutrina Social da Igreja e de pensadores
franco belgas como Jacques Maritain na França e do Cardeal na
Bélgica. Buscavam nesta Filosofia diretrizes para a abordagem da
questão social (YASBECK, 209, p. 27).

O Neotomismo, ao ser retomado, vem atender a solicitação de Leão XIII, no século


XIX, como citado acima, tendo como um de seus propósitos “unir os pensadores
católicos para a conquista do pensamento moderno...” (AGUIAR, 2011, p.40).
Mas foi a partir do Código de Malinas (1920) que tanto a Doutrina Social da Igreja
quanto a Filosofia de Santo Tomás de Aquino, influenciam fortemente o Neotomismo e
marcará com grande força das ações sociais entre os católicos. “Este código iluminou
a ação dos cristãos na chamada questão social e marcará também os assistentes
sociais católicos brasileiros” (AGUIAR, 2011, p.44). Logo na introdução do Código de
Malinas, conseguimos constatar o impacto no Serviço Social da época, as saber:

1- O homem é criado à imagem e semelhança de Deus;


2- O homem é um ser social, não se basta sozinho;
3- O filósofo cristão distancia-se do individualismo e do coletivismo:
‘... atém-se fortemente às duas extremidades da cadeia, isto é, à
eminente dignidade da pessoa humana e à necessidade da sociedade
para seu desenvolvimento integral’;

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4- ‘o homem, tendo um destino pessoa, a sociedade é para ele o meio


necessário que o ajuda a atingir seu próprio fim’;
5- A economia e a moral estão interligadas. Daí se deduz: ‘A Igreja
guarda da moral, exerce uma fiscalização legítima sobre a vida
econômica’ (AGUIAR, 2011, p.44).

Embora tendo exercido grande influência na educação, o pressuposto filosófico sofria


grande preconceito em muitos lugares do mundo, pois a ideia não era apenas retomar
os pressupostos de Santo Tomás de Aquino, mas confrontá-lo com o mundo atual
da época e moderniza-lo a partir da filosofia moderna. Defendiam que o Neotomismo
deveria transcender os muros da formação de padres, deveria voltar seu olhar também
para a formação de leigos; é na 1ª Guerra Mundial, a partir dos graves problemas
ocasionados que o Neotomismo irá começar a se propagar (AGUIAR, 2011).

Figura 49- grupos


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/pessoal-rede-3139194/

O Neotomismo considerado uma sustentação filosófica, contribuía para a formação


da visão de homem e de mundo, a partir dos seus princípios: o homem é um ser
livre, inteligente e social, recorrendo à sociedade os meios necessários para a sua
sobrevivência e pleno desenvolvimento como pessoa humana. Também subsidiava
e dava sustentação para a prática profissional dos Assistentes Sociais, bem como
na sua formação profissional:

Além da ligação de sua prática, há sua ligação do ponto de vista


teórico. Toda visão de homem se dará sob os quadros católicos,
tendo como sustentação filosófica o Neotomismo. Dada essa
postura, teremos um tipo de formação marcadamente clara e definida
(AGUIAR, 2011, p. 31)

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O Neotomismo por estar ligado à Igreja e a sua Doutrina Social, o Serviço Social
deveria seguir “... os princípios de dignidade da pessoa humana, do bem comum, entre
outros, hauridos em Santo Tomás, iluminaram a teoria e prática do assistente social
desde 1936 até 1960, de maneira preponderante” (AGUIAR, 2011, p.39).
No II Congresso Pan-Americano de Serviço Social, realizou-se no ano de 1949, na
cidade do Rio de Janeiro, tendo como um dos seguintes discursos proferidos por
Nadir Kfouri:

A formação teórica fundamenta-se no conceito do homem e da


sociedade, em função do qual os princípios filosóficos se assentam.
Na maioria de nossas escolas, as bases morais e sociológicas do
serviço social são informadas pela conceituação cristã de vida que
tem suas fontes na doutrina social católica. Dentro desse espírito se
procura estabelecer a convicção de que o Serviço Social se prende a
um plano de reestruturação da sociedade e de formação dos quadros
sociais, requerendo, consequentemente, a ação social. Firma-se
assim, o princípio de que o trabalho social lança suas raízes na justiça,
sobreelevada pela caridade cristã, sem o que é impossível se atingir o
bem comum e viver-se numa sociedade democrática (KFOURI, 1949
apud, AGUIAR, 2011, p. 36).

Fica evidente que a influência da Igreja Católica


no processo de Formação de Assistentes Sociais
desta época primava também por uma prática
profissional de viés assistencialista e caritativo,
como pode se observar ainda na mesma fala:
Figura 50- oração bíblia
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/livro-m%C3%A3os-
refletindo-b%C3%ADblia-1421097/

Sem uma perspectiva moral, não existe prática profissional [...] quanto
a formação moral propriamente dita terá que se basear nos princípios
cristãos [...] Os ensinamentos cristãos representam a fonte onde
os trabalhadores sociais irão abeberar-se; a moral cristã é aceita
e reconhecida mesmo pelos não-cristãos, no sentido religioso da
palavra. Por outro lado, impossível seria dissociar-se a Assistência
Social do Cristianismo, pois este foi, na expressão feliz de Delgado
de Carvalho, ‘o movimento que revelou a verdadeira caridade entre os
homens (KFOURI, 1949 apud, AGUIAR, 2011, p. 36).

Ainda como marca da Igreja Católica tem-se as seguidas ações: as convenções e


encontros, iniciavam sempre com uma missa, o IV Convenção da ABESS (Associação
Brasileira das Escolas de Serviço Social) no ano de 1954, teve como tema central “A

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formação Cristã para o Serviço Social e a Metodologia do Ensino de Serviço Social


de Grupo e Organização de Comunidade”; em 1959 ocorreu em Porto Alegre a IX
Convenção, onde discutiu-se as disciplinas de Religião, Doutrina Social da Igreja onde
foram reafirmadas como disciplinas importantes para a formação profissional, ressalta-
se aqui parte do discurso final da IX Convenção, acerca da missão dos assistentes
sociais: “... o cristianismo humanizante para a conquista da paz. E que a exemplo de
Maria, os assistentes sociais têm a tarefa de ‘Anunciar a Redenção’”(AGUIAR, 2011, p.38).
Já na X Convenção ocorrida em Fortaleza em 1960, teve-se

Quanto ao aspecto espiritual, enfatizou-se que o assistente social


deve buscara perfeição, seja iluminada pelo espírito comunitário e
pela doutrina do Corpo Místico de Cristo e que as aulas de religião
não tenham caráter apologético e valorizem as práticas tradicionais:
a oração, o retiro, etc. (KFOURI, 1949 apud, AGUIAR, 2011, p. 39).

A influência no Serviço Social pela igreja católica era explícita como você pode
observar, inclusive influenciando na composição das disciplinas e condutas éticas,
morais e religiosas que os profissionais deveriam ter. Mais futuramente começa a
haver um movimento de ruptura desse pressuposto filosófico, mas veremos isso em
outro momento.
Ao observarmos os princípios do Tomismo e Neotomismo, pudemos identificar
que os princípios tiram uma característica humanista conservadora, destacando-se
a moral, religião e humanismo.

O que percebemos no âmbito da formação profissional dos assistentes


sociais neste período, era a presença forte de postulados cristãos,
bem como vocacional, tanto que um dos requisitos para que se fosse
docente do curso de Serviço Social, era que assumisse a doutrina
social católica, e que fossem católicos praticantes. Nesta perspectiva
religiosa e vocacional de quem gostaria de ingressar a profissão de
Serviço Social, a formação correspondia em 4 principais pontos, onde
destacaremos dois: 1- A formação científica, que se dava por meio
de disciplinas como a Sociologia, Psicologia e Biologia e também
da Moral, e tinham como objetivo, propor o conhecimento exato do
homem e da sociedade, de todos os problemas que dele se originam
e neles se refletem. 2- A formação pessoal, nesta a escola devia
preocupar-se com o desabrochar da personalidade integral do aluno,
dando ao aluno uma formação moral sólida nos pilares cristãos.
(AGUIAR, 2011 apud YASBECK, p. 05).

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Por fim, sintetizamos quais seriam os objetivos do Assistente Social que atuaram
neste período: a atuação dos assistentes sociais estava focada em integrar o homem
à sociedade, ensiná-los valores, moral, costumes cristãos, pois deveriam ser perfeitos
e estarem adequados à sociedade.

A partir de 1960, começa a haver ruptura por parte daqueles que


começam a assumir uma postura na visão dialética, inclusive na
sua versão materialista. É a partir da década de 60 que vemos o
movimento chamado de reconceituação de Serviço Social (AGUIAR,
2011, p. 39)

Muito bem, agora você iniciou sua jornada de conhecimento sobre as correntes
filosóficas que tiveram influência no nascimento do Serviço Social, inclusive brasileiro,
foi possível observar que as grandes questões filosóficas sempre permearam a
profissão, pois enquanto os filósofos s preocupavam em problematizar (questionar)
quem é o homem e as relações em sociedade, o Serviço Social, sempre trabalhou
diretamente com este HOMEM que vive na sociedade e nela estabelece relações,
para isso precisava de fundamentos para
compreendê-lo e desenvolver suas estratégias
de intervenção. Ainda hoje a profissão possui
influências do Neotomismo, mas em uma
dimensão muito menor.
E então, caro(a) aluno(a), gostou de
conhecer um pouco mais da relação da
Filosofia com o Serviço Social? Parabéns, por
mais esta etapa e até a próxima! Figura 51- rompendo correntes
Fonte: https://pt.freeimages.com/photo/chains-3-1162171

Anote isso
“...fica evidente que o Serviço Social no Brasil, se fez sob a inspiração e controle
da Igreja Católica e o Neotomismo foi o inspirador de sua visão de homem
e de mundo, que permanece até hoje, não porém, cm a mesma intensidade.
A ideologia católica enfatiza a reforma social, tendo em vista a chamada
questão social, a decadência dos costumes e o desenvolvimento do liberalismo
e comunismo. Trata-se de reconstruir a sociedade, de curar as imperfeições
da ordem social. Para desenvolver esses trabalhos, a Igreja arregimentará
o laicato, formando vários organismos entre eles a Ação Católica. E, nesse

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trabalho, o Serviço Social no Brasil era clara e definida: assumir sob os aspectos
a doutrina (ideologia) católica. E a ideologia da reforma social encontrará
fundamentação no Humanismo Integral de Jacque Maritain. O Neotomismo
domo seu (Humanismo Integral é a ideologia que unifica, organiza, dirige a
ação social da Igreja nessa época, e estrutura as instituições que cria” (AGUIAR,
2011, p.144).

Figura 52- Conquista, lazer


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/crian%C3%A7as-rio-%C3%A1gua-a-banheira-1822704/

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AULA 7
POSITIVISMO

Figura 53- bandeira do Brasil muro


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/pavilh%C3%A3o-banner-na%C3%A7%C3%A3o-2526564/

Olá, prontos para mais uma aula? Daremos seguimento aos nossos estudos sobre
as principais correntes filosóficas no XX, sobretudo, para o Serviço Social, procurando
contextualizar tais princípios à história da profissão. Vamos hoje falar sobre o positivismo.
Vamos lá? Venha comigo.
A principal influência do Positivismo nas Ciências Sociais foram ações que permitiram
compreender a realidade, estimulando a adequação da linguagem, modificando atributos
e qualidades do objeto de investigação.
August Comte (1798-1857) e Saint Simon (1760-1825), referências do positivismo,
concentraram suas reflexões sobre a natureza e as consequências da Revolução
Industrial, propondo racionalizar a nova ordem social e encontrar soluções para os
problemas, a partir do restabelecimento da ordem e da paz.

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A defesa da evolução do pensamento humano é um dos pontos altos do trabalho de


Comte. Seu pensamento é fundado no desenvolvimento científico ao longo da história
da humanidade. Um desenvolvimento que permitiu o aprimoramento da civilização
ocidental, a qual considera superior às demais pela capacidade científica. A organização
racional de uma sociedade define seu grau de habilidade em superar os problemas
que ocorrem devido à complexidade social.
Dessa forma, Comte estabelece uma relação direta entre os elementos que definem
um corpo biológico do corpo social. A complexidade do organismo social o faz ficar
sujeito a problemas resultantes do desenvolvimento. Dessa forma, se faz necessária
uma compreensão objetiva dos fenômenos sociais. A física social seria a ciência
capaz de responder a esses problemas.
Fundamental considerar que, para Comte, todas as ciências verdadeiras se positivam,
ou seja, se sustentam no mesmo método que as ciências naturais. Todas devem
derivar sua lógica da matemática, única capaz de trabalhar com a abstração e dar a
dimensão exata da existência de todas as coisas materiais.
Vamos entender um pouco mais sobre o Positivismo?

Foi adotado por Augusto Comte para a sua filosofia e, graças a ele.
Passou a designar uma grande corrente filosófica que, na segunda
metade do século XIX, teve numerosíssimas e variadas manifestações
em todos os países do mundo ocidental. A caraterística do Positivismo
é a romantização da ciência, sua devoção como único guia da vida
individual e social do homem, único conhecimento, única moral,
única religião possível. Como romantismo em ciência, o Positivismo
acompanha e estimula o nascimento e a afirmação da organização
técnico-industrial da sociedade moderna e expressa a exaltação
otimista que acompanhou a origem do industrialismo (ABBAGNANO,
2015, p.909).

Preconizavam a defesa de ideias segundo as quais os fenômenos sociais, assim


como os físicos, estavam sujeitos a leis rigorosas. Assim, o positivismo foi a primeira
corrente teórica a organizar e sistematizar princípios sobre as relações humanas em
sociedade, na tentativa de explicá-las cientificamente.
August Comte e Saint Simon caracterizaram o objeto, os métodos e os problemas
fundamentais das ciências sociais, e por meio do Positivismo nasce a Sociologia, cujo
objeto é a humanidade, estabelecendo a ordem, o consenso, a autoridade, a família
e a hierarquia social, como instituições importantes para a integração e a coesão da
vida social.

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De acordo com Martinelli (2000), esses pensadores defendiam a tese de que as ciências
sociais, para serem consideradas como ciência, deveriam utilizar os mesmos métodos
das ciências naturais, tais como: a observação, a comparação e a experimentação,
identificando suas leis para promover o progresso e o desenvolvimento social.
As teses fundamentais do Positivismo consistem em:

1ª – A ciência é o único conhecimento possível, e o método da


ciência é o único válido: portanto, o recurso a causas ou princípios
não acessíveis ao método da ciência não dá origem a conhecimentos;
a metafisica, que recorre a tal método, não tem nenhum valor.

2ª – O método da ciência é puramente descritivo, no sentido de


descrever os fatos e mostrar as relações constantes entre os fatos
expressos pelas leis, que permitem a previsão dos próprios fatos
(Comte); ou no sentido de mostrar a gênese evolutiva dos fatos mais
complexos a partir dos mais simples (Spencer).

3ª – o método da ciência, por ser o único válido, deve ser estendido


a todos os campos de indagação e da atividade humana; toda vida
humana, individual ou social, deve ser guiada por ele (ABBAGNANO,
2015, p.909).

Figura 54- escrita


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/penas-de-aves-primavera-papel-2505306/

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A maioria das ideias desenvolvidas por August Comte tem se disseminado até a
atualidade. Seu pensamento é influenciado pelas ideias progressistas e revolucionárias
dos iluministas e, por outro lado, pelas ideias dos conservadores. Comte acreditava
que, no futuro, as sociedades seriam “orgânicas”, com suas partes perfeitamente
integradas e sem conflitos, comandadas por uma elite técnico-científica.
Para o cientista, com a nova sociedade moderna e industrial, poderia surgir a
possibilidade de aumentar a produção de mercadorias e de satisfazer às necessidades
humanas, o que levaria à diminuição dos conflitos sociais.
Nesse contexto, dava-se a entender que cabia à ciência a missão de ajudar a manter
coesa a sociedade, substituindo o papel que a religião e os cientistas desempenhariam.
A função que o clero exercia anteriormente, ao defender verdades aceitas por todos,
foi aceita como as primeiras orientações que conduziram o serviço social para sua
elaboração de uma visão de mundo.
Conforme a análise das formas de ação social de Max Weber (1864-1920), a divisão
entre meios racionais e fins irracionais é de grande relevância para o Serviço Social.
O Serviço Social surgiu influenciado pelo pensamento da Igreja Católica, tendo um
posicionamento humanista e conservador. A partir de 1945, o Serviço Social adota o
modelo funcional estabelecido pelos Estados Unidos, afastando-se do doutrinarismo
da Igreja Católica, introduzindo uma visão científica, a noção de dignidade da pessoa
humana; sua perfeição, sua capacidade de desenvolver potencialidades; a sociabilidade
natural do homem, como um ser social e político; a compreensão da sociedade como
união dos homens para realizar o bem e a necessidade da autoridade para cuidar da
justiça geral.

Anote isso
A bandeira nacional brasileira,
que possui escrita “Ordem e
Progresso” é uma demonstração
da doutrina positivista no país, a
sua aceitação e influência entre
os republicanos históricos, que
se preocupavam com a “ordem
social”, através do ajustamento
Figura 55- bandeira brasileira
do indivíduo. Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/brasil-bandeira-brasil-
flags-3001462/

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Nesta égide, Quiroga (1991, p.48-49) afirma que “o entendimento da sociedade regida
por leis naturais, imutáveis, que necessitam ser descobertas através de observações
e contemplações positivas”.
De acordo com Durkheim o positivismo

[...] não tem nada de revolucionário, pelo contrário, ele é essencialmente


conservador, porque considera os fatos sociais como coisas cuja
natureza, por mais maleável que seja, não pode ser modificada pela
vontade humana (apud LÖWY, 2008, p. 48).

Portanto, as ciências sociais e a sociologia buscam explicar os fatos passíveis


de serem observados à nossa volta e seguem os mesmos objetivos das ciências
naturais. Esses objetivos não são apenas tipos de conhecimentos transformáveis em
técnicas que possibilitam alguns tipos de transformação e controle da sociedade, mas
são também um meio de possível aperfeiçoamento com o espírito. Na medida em
que as ciências sociais podem auxiliar as pessoas de algum modo, compreenderem
mais claramente o comportamento dos outros, nos grupos aos quais pertencem e
na sociedade como um todo.
De acordo com Tomazi,

Para o sociólogo francês Émile Durkheim (1858 – 1917) a sociedade


prevalece sobre o indivíduo. A sociedade é, para esse autor um
conjunto de normas de ação, pensamento e sentimento que não
existem apenas na consciência dos indivíduos, mas que são
construídas exteriormente, isto é, fora das consciências individuais.
Em outras palavras, na vida em sociedade o homem defronta com
regras de conduta que não foram diretamente criadas por eles, mas
que existem e são aceitas na vida em sociedade, devendo ser seguidas
por todos. Sem essas regras, a sociedade não existiria, e é por isso
que os indivíduos devem obedecer a elas (TOMAZI, 2000, p.17).

Para Quiroga (2000, p. 49), “o positivismo é, sucintamente, a observação daquilo


que é concreto, correspondente à realidade externa, explicitando as relações entre
esses fenômenos”. Além de tudo,

O caráter conservador do positivismo relaciona-se à suas raízes


históricas. Auguste Comte, um dos fundadores da teoria positivista,
a formula em um período posterior à Revolução Francesa, quando a
burguesia havia ascendido ao poder e lutava pela sua manutenção
contra os interesses da nascente classe trabalhadora – um

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momento de grandes convulsões sociais e políticas. Nesse período,


desenvolvem-se ideologias para dar sustentação aos interesses
que disputavam os rumos da história. Comte vincula-se à parcela
da burguesia que defendia um regime ditatorial e buscava impedir
qualquer ameaça revolucionária (CHAGAS, 2015, p. 169-170).

O Serviço Social, na sua prática, deve estudar, compreender e observar, com bases
teóricas, a vida humana: a família, as relações de poder, a religião, a cultura, a saúde
e outras esferas diferentes da realidade social.

Neste sentido, o positivismo, sem dúvida, representa, especialmente


por meio de suas formas neopositivistas, como o positivismo lógico
e a denominada filosofia analítica, uma corrente do pensamento que
alcançou, de maneira singular na lógica formal e na metodologia
da ciência, avanços muito meritórios para o desenvolvimento do
conhecimento (TRIVIÑOS, 1987, p. 41).

Acerca da influência do positivismo na profissão de Serviço Social, registra-se
que esta teve início a partir do momento em que a categoria questiona os seus pro-
cessos de intervenção, alegava-se que este estava marcado pelo excesso de burocra-
cia, logo questionava-se: o que fazer e como fazer?

Não por acaso, o positivismo apresentou-se como uma das teorias


sociais que embasaram os primeiros passos da construção de
um referencial teórico para o Serviço Social brasileiro. Ambos, o
positivismo e o Serviço Social, possuem raízes conservadoras que
se expressam, entre outras formas, por meio da naturalização da
existência da pobreza. Com um projeto profissional enraizado no
conservadorismo, ligado à Igreja Católica, os assistentes sociais
brasileiros partiam do pressuposto de que as desigualdades sociais
eram naturais e, portanto, insuperáveis (CHAGAS, 2015, p.170).

De acordo com Aguiar (2011), esta influência se deu a partir do Serviço Social de
Grupo e Comunidade, técnicas utilizadas até então pelo Serviço Social norte americano,
isso se deu devido ao fato de vários brasileiros terem ido estudar nos Estados Unidos.

O intercâmbio sociocultural e técnico-científico entre os Estados


Unidos e demais países “subdesenvolvidos” passou a fazer parte da
agenda política destes países, materializado na concessão de bolsas
de estudo e programas de qualificação da mão-de-obra, sobretudo
aquela mais especializada. É nesse contexto, inclusive, que se ratifica
a influência norteamericana no Serviço Social e a participação de

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muitos profissionais brasileiros em tais programas de aprimoramento


(ORTIZ, 2007, p. 93).

Há neste período de questionamento da profissão acerca de suas práticas e


concepções uma articulação entre o até então discurso doutrinário da Igreja Católica
e os princípios da teoria positivista, dando origem no Serviço Social, um novo projeto
profissional, visto que o Estado lançava mão na época de um projeto reformista-
conservador, uma época de modernização, expansão e industrialização. Acerca disso
Iamamoto aponta que “esse arranjo teórico-doutrinário oferece ao profissional um
suporte técnico-científico, ao mesmo tempo em que preserva o caráter de uma profissão
‘especial’, voltada para os elevados ideais de serviço ao Homem” (2008, p. 21).
Aguiar (2011) se manifesta acerca desta articulação, entre o discurso doutrinário
da Igreja e os princípios positivistas, dizendo que:

Na segunda metade da década de 40 e no início da de 50, constatamos


a presença da filosofia tomista aliada às técnicas norte-americanas.
Nesse período não haverá ruptura radical da ideologia católica, pelo
contrário haverá uma convivência das duas posições: o Serviço Social
permanece na base dos princípios católicos e neotomistas, inclusive
via Estados Unidos e ao mesmo tempo incorpora as técnicas norte-
americanas (2011, p.58).

Esta perspectiva aponta um momento da categoria profissional de grande relevância


de avanços, mas também de muita crítica por parte de pesquisadores e estudiosos, com
relação às ações profissionais dos assistentes sociais, como você pode ler a seguir:

Yazbek (2009a, p.7) explica que a corrente de pensamento positivista
não ultrapassa a aparência dos fenômenos que compõe a totalidade
social, ficando restrita ao plano do imediato, das relações imediatas e
na fragmentação da totalidade. O positivismo se “restringe a visão de
teoria ao âmbito do verificável, da experimentação e da fragmentação.
Não aponta para mudanças, senão dentro da ordem estabelecida,
voltando-se antes para ajustes e conservação” (Id. Ibid., p. 6). Em
outras palavras, o positivismo se vincula ao desenvolvimento do
capitalismo, sendo uma teoria que visa à manutenção da ordem
e aponta a realidade como uma fatalidade, supondo que aquela
é independente das ações do homem e tem seu desenvolvimento
próprio. Nesta perspectiva teórica os fatores econômicos são
eliminados da análise da realidade e há uma naturalização dos fatos
sociais e a sua fragmentação, eliminando-se a relação entre eles
(PEREIRA, 2013, p. 42, grifo nosso).

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Outra consideração crítica é apontada por Yazbek, acerca da prática profissional,


a partir dos princípios positivistas, para ela as

propostas de trabalho [eram] ajustadoras e [possuíam] um perfil


manipulatório, voltado para o aperfeiçoamento dos instrumentos e
técnicas para a intervenção, com as metodologias de ação, com a
‘busca de padrões de eficiência, sofisticação de modelos de análise,
diagnóstico e planejamento; enfim, uma tecnificação da ação
profissional que é acompanhada de uma crescente burocratização
das atividades institucionais’ (YAZBEK, 1984 apud YAZBEK, 2009a,
p. 7).

Ou seja, o Serviço Social ainda encontrava-se fortemente influenciado por técnicas


amarradas e alta burocracia, além de uma forte característica de ajustamento social,
onde as ações profissionais visavam “corrigir” o sujeito para que se adequasse à
sociedade vigente, não tanto por justificava da religião, mas muito mais por exigência
da classe dominante (burguesa).

É nesse sentido que nos moldes conservadores do positivismo, do


neotomismo e da psicologia que o projeto profissional do Serviço
Social se volta para um tratamento moral dos conflitos e das
contradições sociais, onde a educação moral é vista como ação
superadora da “desordem” e promovedora de uma coesão social.
A educação moral, fundada em princípios e valores tradicionais em
que se recupera a defesa da família nos moldes tradicionais, volta-
se, principalmente, para a formação de uma moralidade feminina,
onde a mulher é considerada como o esteio moral da família.
Considerando o exposto, o projeto profissional dos assistentes
sociais, que se pauta pelos valores e teorias conservadoras aliadas
ao tecnicismo mencionadas neste subitem, intervirá, principalmente,
sobre as mulheres e as crianças. Isto é, este projeto profissional ao
ser permeado pelo pensamento conservador dará ênfase à família e
a mulher. A mulher será considerada como responsável por manter
o núcleo familiar “ajustado”, devido as suas qualidades “natas”, onde
é considerada possuidora de “virtudes” que lhes conferem o papel de
cuidadoras, caridosas e responsáveis pela educação moral dos filhos,
sendo, portanto, peça chave para receber a educação moral e manter
a família em “harmonia” (BARROCO, 2008 apud PEREIRA, 2013, p. 45).

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Figura 56- conversa


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/n%C3%BAmeros-brinquedo-%C3%B4nibus-falando-368751/

Espero que você esteja conseguindo relacionar os princípios positivistas e a sua


relação com o Serviço Social, percebendo, que tais princípios se materializam nas ações
profissionais do seu tempo, e ainda ecoam na profissão, até que se estabelecesse o
projeto ético político que temos hoje, muitas discussões e reflexões foram travadas no
seio da profissão, a fim de que a profissão se afirmasse enquanto categoria fortalecida
na divisão sociotécnica do trabalho.

Em síntese, o perfil profissional que se forma neste período e o


projeto profissional conservador que o conforma vão incidir sobre
intervenções profissionais realizadas ainda hoje no Serviço Social,
onde pode-se observar que mesmo com todos os avanços teórico-
metodológicos dentro da profissão e mesmo com as mudanças
sócio-históricas em que as políticas sociais vão aparecer como
direitos, ainda assim existem profissionais que reforçam o caráter
de profissional da “ajuda” no seu atendimento as demandas dos
usuários. Estas condutas reforçam a naturalização das desigualdades
sociais e contribuem para formar identidades subalternas (PEREIRA,
2013, p. 48).

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Ao encerrar esta aula, convido você a fazer uma pausa, realizar anotações acerca
dos pontos mais relevantes, é importante retomar os conceitos da história, pois sem
ela não conseguimos acompanhar a linha do tempo da nossa profissão, importante
para a nossas próximas aulas.
Por fim,

... o que se pôde observar até aqui é que o projeto profissional deste
período - embasado pelas doutrinas conservadoras e tecnicistas
– direcionava os assistentes sociais para intervenções pautadas
na psicologização das demandas sociais, gerando sentimentos de
cuidado e de conforto aos sujeitos atendidos por estes profissionais
o que esvaziava o significado sócio-histórico destas demandas.
Isto significa que os conflitos gerados na relação de produção e
reprodução social eram revertidos em problemas pessoais, onde os
assistentes sociais através de ações educativas tinham como objetivo
buscar uma relação de harmonia entre trabalhadores e capitalistas
em prol da produtividade. Desta maneira, o Serviço Social buscava
contribuir com os empregadores no sentido de amenizar os conflitos
sociais, considerando as bases da organização social como dada e
não passível de questionamentos, limitando-se, portanto, a reforma
do homem dentro da sociedade. Em síntese, a atuação profissional
era marcadamente de cunho educativo moralizador e higienista
(PEREIRA, 2013, p.49)

INTRODUÇÃO DO FUNCIONALISMO NO SERVIÇO SOCIAL

O funcionalismo surgiu na metade da década de 1850, por meio do positivismo de


Comte, e como indica o próprio nome, é uma tendência investigativa, metodológica
e teórica que, distinguindo entre causas, funções e estruturas, Durkheim enriquece o
pensamento de seus antecessores e forneceu uma sólida base para o desenvolvimento
deste paradigma funcionalista.
Partindo das ideias acerca da sociedade, o funcionalismo coloca em evidência os
sistemas, cuja existência e operação no Serviço Social são mais bem compreendidas
se observadas as partes que os compõem e a função que cada parte cumpre na
realização do todo.
De acordo com Yasbeck (1984, p. 71), essa orientação funcionalista foi absorvida
pelo Serviço Social, configurando para a profissão uma proposta de trabalho ajustadora
e um perfil manipulatório, voltado para o aperfeiçoamento dos instrumentos e técnicas

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para a intervenção, com a busca de padrões de eficiência, sofisticação de modelos


de análise, diagnóstico e planejamento. Enfim, uma tecnificação da ação profissional
acompanhada de uma crescente burocratização das atividades institucionais.
Talcott Parson, de 1949 a 1960, estrutura teoricamente o funcionalismo como um
modelo que explicasse o funcionamento da sociedade. Nessa vertente, a analogia
do funcionalismo visava os estudos da Física e da Química, abordando o macro e o
microssocial, como níveis de intervenção do Serviço Social.
No nível macrossocial, o aspecto profissional do assistente social volta-se para a
formulação de políticas sociais atreladas ao contexto histórico do moderno. Já no
nível microssocial, a atuação do profissional é exclusivamente pautada na execução
terminal das políticas, mantendo uma relação direta com os usuários dos serviços,
segundo Hamilton (1958, p. 38), “[...] esse controle social exercido pressupunha a
integração do indivíduo ao bom funcionamento de uma sociedade proposta pela classe
dominante.” Era enfatizado o trabalho com grupos, quer para interação, quer para fins
terapêuticos, de forma a conseguir a melhor adaptação do indivíduo ao seu meio. O
modo funcionalista de pensar, investigar e intervir na realidade social ganhou força
porque, culturalmente, correspondia aos interesses da ordem e da lógica burguesas
instauradas na sociedade civil e no Estado brasileiro.
E, ainda, segundo o autor, com a exceção do Serviço Social “de Caso”, as demais
práticas do Serviço Social, que explicam a realidade social, são fundamentadas na
teoria social funcionalista. Portanto, o Serviço Social de Grupo ajudava os indivíduos
a se autodesenvolverem e a se ajustarem aos valores e normas vigentes no contexto
social em que estavam inseridos.
Nessa perspectiva, Falcão (1978, p. 26) explica que:

O profissional de Serviço Social deve impulsionar e capacitar pessoas


ou grupos, a se relacionarem estreitamente com o meio em que se
inserem, buscando através destas relações encontrar satisfações e
necessidades pessoais e coletivas.

Tal afirmação evidencia a prática do Serviço Social com a teoria funcionalista e,
como consequência, olha com atenção o indivíduo a partir do meio em que vive e sua
relação específica na sociedade, e no caso de uma desordem da própria sociedade, o
Serviço Social intervém, reintegrando esse indivíduo novamente à sociedade.
Com estas duas abordagens: Positivista – Funcionalista, encerramos a nossa aula de
hoje, na certeza que você ampliou em muito os seus conhecimentos e que sua bagagem

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teórica foi ampliada, assim como a metodológica, pois a teoria embasa a prática, nos
fornece elementos para que possamos compreender a realidade em que vivemos.
Agradeço a sua atenção e participação, parabéns pelo compromisso e até a
próxima aula!

Isto está na rede


Para ampliar seus conhecimentos sobre a influência do positivismo no Serviço
Social, acesse o artigo:
CHAGAS, Bárbara. Positivismo e marxismo: o debate sobre a neutralidade
científica e a construção do projeto profissional do Serviço Social brasileiro.
Serviço Social em Revista, Londrina, v. 17, n.2, p.169-186, jan/jun, 2015.

Figura 57- guarda-chuva invertido


Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/risco-risco-de-alegria-vencedor-3169811/

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AULA 8
FENOMENOLOGIA

Figura 58- Essência


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/fantasia-luz-humor-reino-unido-2861107/

A palavra fenomenologia é entendida como estudo dos fenômenos, ou simplesmente:


a ciência dos fenômenos.
As origens da filosofia de Edmundo Husserl (1859-1938) talvez estejam principalmente
em Platão, Leibnitz, Descartes e Bretano, sendo que de Franz Bretano (1838-1917),
filósofo idealista austríaco, Husserl parece ter aprendido o conceito de intencionalidade.
Na visão da fenomenologia, a consciência sempre é intencional, ou seja, sempre está
dirigida para algo e os fenômenos só existem enquanto fenômenos que se dão para
a consciência. Nenhum tipo de conhecimento torna-se possível se a consciência não
se dirige, não se sente atraída, para algo.

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Anote isso
O rigor da fenomenologia consiste em afastamento e aproximação da realidade.

Conforme observa Triviños,

Husserl pretendeu inicialmente fazer da filosofia uma ciência rigorosa.


Mais tarde, o que significou uma renúncia às suas declarações
primeiras, voltou-se para a investigação do ‘mundo vivido’ pelos
sujeitos considerados isoladamente (1987, p.43).

A fenomenologia representou uma oposição ao catolicismo, pois suas concepções


filosóficas estavam relacionadas às condições históricas (relatividade do conhecimento),
ao ceticismo e ao psicologismo – subordinação de todas as ciências naturais e sociais,
à psicologia (processos psicológicos responsáveis pela produção do saber).
Com a fenomenologia, Husserl pretendia superar a dependência entre pensamento e
condicionamentos externos (causas psicológicas, sociais, fisiológicas e históricas (não
negando tais condicionamentos, mas colocando-os em suspenso). Husserl indagava
a respeito do sentido do mundo, questionava se era possível a partir da imanência
conhecer o transcendente.

Anote isso
A fenomenologia investiga o vivido para obter a universalidade das essências.

O início da pesquisa social com base na fenomenologia começou no final dos anos
70, como uma forma de fazer frente à leitura positivista da realidade, pois a leitura
positivista se contentava com o fato dado.
O método fenomenológico consiste numa redução fenomenológica (ou eidética),
que significa colocar o mundo natural entre parênteses com o objetivo de investigar os
objetos em si mesmo, tal como se apresenta à consciência. Redução do eu enquanto
realidade concreta ao eu transcendental-fenomenológico em sua relação com o objeto
(pura iminência, livre de pré-conceitos).

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Husserl considerava que a atitude


fenomenológica consistia em uma
consciência pura que visava o
transcendental, o fenômeno na sua pureza
absoluta, a essência. A consciência era
entendia como uma sequência temporal
que envolve todas as nossas vivências.
Constituinte do objeto imanente, do outro
e da intersubjetividade. O presente é uma
síntese do passado e do futuro. O que
Figura 59- esforço
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/tempo-temporizador-rel%C3%B3gio-
existe é em relação ao presente.
assista-488112/
A constituição do outro tem como
ponto de referência o nosso próprio corpo, que permite o intercâmbio entre o exterior
e o sujeito. É através da corporeidade que o eu sente a si próprio. O outro é constituído
em mim através da semelhança em relação ao meu próprio corpo: reconhecimento
de um corpo como o meu; verificação do outro como outro.
A fenomenologia substitui as essências ideais pela busca das essências na existência
e não admite que se possa compreender o homem e o mundo a não ser a partir de
sua facticidade (como é de fato, como é dado, na experiência e não na ideia), sendo
esta o caráter próprio da condição humana pelo qual cada homem se encontra sempre
já comprometido com uma situação, na existência.
O mundo, então, se coloca para o homem como uma presença inalienável e seu
desafio é a descrição direta de sua experiência no mundo, tal como ela é, sem considerar
inicialmente, nesse processo, as explicações que a história, a ciência a sociologia já
tenha elaborado a respeito.
E isso até porque Husserl coloca o problema da questionabilidade do conhecimento,
perguntando-se sobre sua correspondência com as coisas que existem. No entanto,
isso não vem implicar negação do conhecimento; ao contrário, preocupado com tal
correspondência, Husserl apela para a suspensão e para a redução fenomenológica.
Isso significa suspender, colocar entre parênteses todas as crenças e proposições,
todas as explicações que já existiam sobre os fenômenos, no momento de proceder
o estudo, tomando como ponto originário deste basicamente a relação fenômeno-
consciência do sujeito.

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E a seguir, colocar fora de circuito a dimensão existencial, a dimensão fenomênica


propriamente dita, para alcançar-se, conforme a manifestação da “evidência rigorosa
e apodítica (irrefutável, evidente), pois a percepção, por mais perfeita que seja, nunca
é uma manifestação adequada do objeto, uma vez que o objeto visto permanece um
misto do visto e do não visto” (GILES, 1993, p.135).
Podemos ainda compreender que “outra via da subjetividade está representada no
reconhecimento explícito de que não existem diferenças substanciais entre o subjetivo e
o objetivo, que ambas são expressões de uma mesma realidade” (TRIVIÑOS, 1987, p.46).
A respeito das trocas intersubjetivas, Bicudo (1994) lembra que é “importante que
seja destacado que o que é visto não é percebido de maneira isolada, mas em uma
região de fenômenos co-percebidos” (1994, p.19). Isto porque o sujeito e o fenômeno
encontram-se no “mundo da vida” juntamente com outros sujeitos, “co-presenças” que
também percebem fenômenos.
Observa, essa autora, que a “co-participação de sujeitos em experiências vividas em
comum permite-lhes patolar compreensões, interpretações, comunicações, desvendar
discursos estabelecendo-se a esfera da intersubjetividade” (BICUDO, 1994, p.19). E
nesse contexto, a linguagem tanto auxilia como obstaculiza a intersubjetividade. Facilita,
“porque a linguagem, principalmente a falada e a escrita, é composta por palavras
que dizem e por uma gramática que padroniza a forma do dizer [...], estabelecendo
uma base comum para esse partilhar” (BICUDO, 1994, p.19-20). Dificulta, “...porque
as palavras não dão conta do vivido. as palavras não dizem tudo [...] Portanto, o
comunicado solicita uma hermenêutica, isto é, clama por interpretação dos sentidos
e dos significados que pode expressar” (BICUDO, 1994, p.19-20).
Verdade, então para a fenomenologia, não é

...algo objetivamente dado, passível de ser conhecida intelectualmente


através de conceitos que a representem de modo adequado, [...]
a fenomenologia interpreta verdade como descultamento, como
alheteia, significando ‘mostração’ do que é essencial ao fenômeno
(BICUDO, 1994, p.20).

Do ponto de vista da operacionalização da pesquisa, os estudos fenomenológicos não
têm sido estimuladores da criação de novas técnicas, ovas metodologias instrumentais.
Além disso, deve-se atentar para o caráter em princípio a-histórico das pesquisas
fenomenológicas, já que não consideram necessariamente os contextos mais amplos
onde os fenômenos se inserem.

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E essa a-historicidade é fértil pano de fundo


para reforçar, acalentar propostas de ação
na sociedade, de cunho conservador, porque
podem ser estrategicamente utilizadas
para desviar a atenção da sociedade para
problemas fundamentais da estrutura social.
Mas esses limites podem ser ultrapassados
por pesquisadores que, valendo-se da
fenomenologia enquanto possibilidade mais
apurada para busca do significado mais
Figura 60- Rapaz Binóculo
íntimo de certos fenômenos, para sujeitos Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/bin%C3%B3culos-%C3%A0-
procura-homem-1209011/

individuais ou pequenos grupos de sujeitos,


entendem/entenda necessário transcender as limitações dessa metodologia. Essas
limitações podem ser superadas quando, ao mesmo tempo em que se dá importância
ao significado dos fenômenos, para o indivíduo, para o grupo (através de levar em conta
suas dimensões pessoais e a cultura em que estão inseridos pela via da psicologia,
antropologia), também se emprega algumas categorias da dialética, principalmente
o da totalidade, que nos faz atentar para o fato de que o indivíduo e o grupo, mesmo
com seus singulares significados, fazem parte de um contexto maior.
Além disso, dependendo da visão de mundo do sujeito cognoscente, concordamos
com Triviños (1987), que o

Contexto cultural onde se apresentam os fenômenos permite, através


da interpretação deles, estabelecer questionamentos, discussões dos
pressupostos e uma busca dos significados da intencionalidade do
sujeito frente à realidade (p.48)

Assim sendo, conhecer está também na dependência do mundo cultural do sujeito.


A respeito do método fenomenológico Gil (1994) faz um registro interessante,

[o] método fenomenológico não é dedutivo, nem empírico. Consiste


em mostrar o que é dado e em esclarecer este dado. Não explica
mediante as leis nem deduz a partir de princípios, mas considera
imediatamente o que está presente à consciência, o objeto [...] não
se pode negar a adoção de uma postura fenomenológica possa ser
enriquecedora para o pesquisador [porque, enquanto preocupado
com a captação do essencial] o pesquisador evitará o parcelamento
da pesquisa e atomização dos dados (1994, p.33-34).

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É uma busca em perspectivas que, ao mesmo tempo consiste num caminho rigoroso
do sujeito que faz perguntas à realidade e que procura ir além da aparência desta, e
revela novas apreensões fazem parte de uma só essência.

Anote isso
Método DEDUTIVO = faz a análise partindo do geral para o específico.
Método INDUTIVO = faz a análise parindo do particular para o geral.

Bicudo observa que “Husserl fala, também em categorias’. Mas entende-as como
“grandes regiões de generalidade compreendidas e interpretadas no âmbito do estudado”.
“Categorias abertas, porque são dadas à compreensão e interpretação do fenômeno
na região do inquérito investigadas”, categorias que também são denominadas de
convergências” (1994, p.22).
Alguns pontos importantes sobre a fenomenologia:

• Fenômeno: o que se mostra em si mesmo, o patente, o manifesto.


• Fenomenologia: fazer ver o que mostra e tal como se mostra em si mesmo.
• Não substitui a metafísica. Objetivo: análise da existência.
• Ideia de perspectiva, mutabilidade e relatividade da verdade.
• Relatividade da perspectiva do saber.
• Conhecimento: aceitação da fluidez do aparecer dos entes (insegurança
do existir).
• A insegurança e a fluidez do aparecer dos entes e de sua interpretação não
são falhas do mostrar-se dos entes, nem defeitos do pensar. São os modos
constitutivos e originários do mostrar-se dos entes e do pensar.
• A aceitação dessa insegurança que permite o conhecimento.
• Possibilidade do conhecimento gera angústia.
• Conhecimento e angústia fazem parte da ontologia humana. A questão do ser
e da verdade é uma questão existencial.
• Relatividade é a condição que os entes têm de se manifestar no horizonte do
tempo e não do intelecto = no movimento de mostrar-se e ocultar-se.
• Modo de ser no mundo = um modo de habitar no mundo, de instalar-se nele,
de conduzir sua vida e a dos outros homens.
• O pensamento metodológico da fenomenologia = reflexão sobre o modo de
ser-no-mundo, inclusive tal como desdobramento na tradição da civilização.
• O SER está na aparência. O ser carrega em si seu ser, seu aparecer e
desaparecer. Está no ente e não na sombra.
• O lugar de acontecimento do ser dos entes é o próprio mundo, o ser-no-mundo.

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Anote isso
O que é o ente para a fenomenologia?
Ente = o que é, em qualquer dos significados
existenciais de ser [...] é o que e como nós mesmos
somos (ABBAGNANO, 2015, p.387).

Figura 61- interrogação


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/pergunta-ponto-de-interroga%C3%A7%C3%A3o-
ajuda-2309042/

8.1 Perspectiva Fenomenológica e o Serviço Social

O recurso à fenomenologia aparece


como um insumo para a elaboração teórica
e prática da profissão, surge com uma
faceta mais proeminente dos autores que
se colocam opostos quanto à perspectiva
do conservadorismo da profissão, tanto
quanto ao seu viés religioso quanto a
influência positivista, pois os mesmos Figura 62- Atendimento
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/cuidados-paliativos-
não davam conta da realidade vivida, não cuidados-1821429/

conseguiriam explicar a realidade.


Porém, alguns autores entendem que a perspectiva fenomelógica consiste numa
reatualização do conservadorismo (NETTO, 2005).
A perspectiva fenomenologia aparece num momento de transformação social,
onde a categoria profissional também clamava por ações sociais que com sucesso
alcancem a “transformação social”.
Porém, esta matriz fenomenológica foi muito criticada por alguns profissionais da
área de Serviço Social.
A reinvindicação do suporte metodológico da fenomenologia é mesmo um traço
pertinente desta perspectiva: antes do seu surgimento, o pensamento fenomenológico
era verdadeiramente desconhecido na elaboração profissional brasileira (NETTO, 2005).

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Alguns autores se dedicaram a estudar e compreender a influência da fenomenologia


no Serviço Social, dentre eles: José Paulo Netto (2005) que busca outros pesquisadores
para dar repostas a esta perspectiva.
A fenomenologia me seu caráter particular, se apresenta como um complexo de
proposições e realizações da maior significação no panorama intelectual no ocidente
no século XX, tão diferenciado, matizado e polêmico.
De acordo com Netto (2005) os pressupostos fenomenológicos representam a
tentativa da recuperação explícita dos valores tradicionais da profissão, contudo Pavão
(1988) considera,

... o princípio da autodeterminação se desvela numa perspectiva de


conscientização [...] supõe atitude teórico-reflexiva de mundo, em que
o homem, como se atuante e participante, torna-se ser-consciente-
no-mundo [...] o homem, como sujeito, implica necessariamente o
ser livre, e essa ideia fundamental o sentido da liberdade das ações
humanas (PAVÃO, 1988, p.12).

Essa foi parte da introdução da autora Ana Maria Braz Pavão, que era adepta dessa
corrente filosófica, ela trazia ainda que,

... o Serviço Social, ao possibilitar condições para que o homem


aja livre e conscientemente, preocupa-se em elevar o seu nível de
consciência, para torná-la crítica e reflexiva, face à realidade em que
está inserido. Então ambas as partes dessa ação social (Assistente
Social – homem) transformam a realidade e são transformados por
ela, mediatizados pelo mundo e influenciados pela própria consciência
que possuem neste mundo (PAVÃO, 1988, p.12).

A autora apresenta ainda que, o homem para agir,


livre e conscientemente, necessita de uma atitude
reflexiva quem a partir de situações vividas, poderá
levá-lo a buscar novos modos de ser. E o Serviço
Social deve proporcionar condições para que este
homem aja livre e conscientemente, tendo como
um dos valores essenciais a dignidade inerente a
todo ser humano.
Figura 63- grupo de pessoas
Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/
associa%C3%A7%C3%A3o-comunidade-grupo-
reuni%C3%A3o-152746/

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... nessa perspectiva, o Serviço Social supõe, como premissa básica,


que toda pessoa tem uma habilidade inata para a autodeterminação,
isto é liberdade e capacidade de fazer suas próprias escolhas, o que
constitui um fim ultimo de sua atuação cabe portanto, ao Assistente
Social, ajudar “seus clientes” a fazer escolhas, preservando seu direito
à autodeterminação, como salvaguarda básica da sua identidade
(PAVÃO, 1988, p.68).

No relacionamento que existe entre o Assistente Social e o sujeito (considera-


se aqui o sujeito como foco intencional da ação do profissional), evidenciava-se e
manifestava-se a apreensão da realidade, cujo significado deveria ser buscado dentro
daquilo que fosse se manifestando, mas sempre com a preocupação de percebê-la
(a realidade) em sua totalidade, e para isso o Assistente Social, necessitava ter um
posicionamento filosófico.

Figura 64- Mãos Levantadas


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/punho-rebeli%C3%A3o-rebelde-bra%C3%A7o-424500/

Entendia-se que o método filosófico indicaria caminhos para se compreender o


sujeito, respeitando a complexidade do real procurando buscar o sentido do próprio
fenômeno, para essa compreensão, o assistente social deveria partir da própria realidade
apresentada, daquilo que poderia ver e alcançar diretamente, com isenção de ideias
preconcebidas, que deveriam estar sempre alheias à própria coisa.
Finalizando, considerava-se o relacionamento profissional entre Assistente Social e
sujeito deveras relevante, contudo ainda sim sofria influência do espaço institucional.
A seguir apresentarei um compilado das ações profissionais dos Assistentes Sociais
que foram adeptos a esta perspectiva filosófica:

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• As ações implicavam em uma tomada de decisão do cliente, feita a partir de


alternativas viáveis, geralmente estabelecidas pelo Assistente Social;
• Implicava na busca de participação do cliente na solução de seus problemas.
• Alguns profissionais demonstravam preocupação, dúvida e até certa angústia
face a esse princípio, na atuação profissional. Uma percepção de limitações para
atender a esse princípio, que eram muitas vezes exteriores à própria decisão
individual. E outras vezes, partiam de dificuldade apresentadas pelo próprio
Assistente Social.
• Quanto ao princípio da autodeterminação, era vista como um direito do
“cliente” à sua própria liberdade de decidir o que era melhora para ele, onde a
tomada de decisão do “cliente” deveria ser feita a partir do que o mesmo queria.
• Considerava-se a relação de troca, com aprendizado mútuo (Profissional –
Sujeito), valorizando a atitude do diálogo, respeito ao outro e a consciência crítica
de sua posição no mundo.

Desta forma apresentado, o que é possível


perceber? Primeiramente nunca houve e nunca
haverá uma perspectiva ou teoria única que
orientará o Serviço Social, pois assim como
elas são diferentes os profissionais também
o são, não é possível haver uma unicidade de
concordância. Sempre houve grupos dentro
Figura 65- conversa - interação
da categoria profissional que defendiam uma
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/troca-de-ideias-
debate-discuss%C3%A3o-222788/ ou outra teoria social que consideram mais
“adequada para embasar a prática”.
Sendo assim, finalizo ressaltando que, não existe um único posicionamento,
assim como não existe e não existirá nenhuma corrente filosófica que seja a perfeita,
ressaltando que cada uma em determinado contexto e tempo histórico consegue
melhor explicar o homem, sua realidade e seus dilemas. Caberá ao profissional o
senso crítico e clareza dos princípios profissionais para que possa desempenhar uma
prática eficaz e que atenda as necessidades do sujeito. Por fim, ao finalizar o estudo
desta aula, com certeza se deparou com elemento que ainda hoje são considerados
atuais e que ainda influenciam a nossa profissão.

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Isto está na rede


Se você deseja ampliar seus conhecimentos sobre o assunto, acesse:
CARIA, Telmo U. L; SACRAMENTO, Octávio JOSÉ R. DO; SILVA, PEDRO G.
Etnografia de práticas de serviço social: fenomenologia, holismo e poder.
Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 17, n. 2, p. 292 - 304, ago./dez. 2018.
DOI: 10.15448/1677-9509.2018.2.29974

Figura 66- café e flores


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/caf%C3%A9-livro-flores-configura%C3%A7%C3%A3o-2390136/

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AULA 9
MARXISMO

Seja bem-vindo e bem-vinda a nossa nona aula, que


trata da trata das principais correntes filosóficas no
século XX, excepcionalmente nesta aula, não falaremos
da influência do marxismo no Serviço Social, este
assunto ficará para a próxima Unidade de Estudo.
Por quê? Dada à relevância do assunto em nossa
profissão, uma discussão que permeia o Serviço Social
até os dias atuais, impactando diretamente o projeto
ético político da nossa profissão.
Tratar mais detalhadamente sobre o Marxismo lhe
Figura 67- Marx
dará uma maior base para as próximas discussões, Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/karl-marx-
marx-anivers%C3%A1rio-trier-3386194/

contudo chamo a sua atenção: pois a ênfase aqui dada


ao assunto não desmerece em nada os conteúdos abordado nas aulas anteriores,
uma vez que já ressaltei que cada corrente filosófica marca um tempo na história da
profissão e que de algum modo continuam nos influenciando.
Isto entendido. Mãos à obra!
Dentro das discussões políticas, a perspectiva marxista é uma das correntes de
pensamento, contraposta à perspectiva liberal, de tradição inglesa, que foi fundada
nos ideais iluministas e nos propósitos contratualistas.
Dentro de uma sociedade onde prevalece o capitalismo, Marx discute o conceito
de capital, motor de origem da sociedade capitalista e a forma de uso corrente,
para indicar uma referência ao dinheiro. Tais discussões encontram-se em sua obra,
chamada “O Capital”.
Marx diz no início do capítulo IV da sua obra:

A circulação de mercadorias é o ponto departida do capital. Produção


de mercadorias e circulação desenvolvida de mercadorias, comércio,
são pressupostos históricos sob os quais ele surge. Comércio mundial
inaugura no século XVI a moderna histórica da vida do capital (MARX,
1983, p.125).

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O dinheiro é a forma inicial do


capital sendo transformado em capital
na relação empregador-trabalhador e
dele advém o acréscimo conhecido
como lucro.
Num momento em que se encontra
firmemente estabelecido o idealismo
alemão de Hegel, Marx e seu companheiro
Engels teorizam em cima da realidade Figura 68- desigualdade e contradição
Fonte: https://visualhunt.com/f4/photo/2991173032/6c41fe75e0/
histórico-concreta. Contrariando o
pensamento dominante de então, eles
fundamentam a sua concepção materialista da história, na dialética e lógica formal,
procurando descobrir o homem a partir dessa perspectiva e não mais abstrato, do
conceito metafísico ou idealista.
Não são, como apregoava o idealismo, a metafísica e outras formas de pensamento,
as ideias que determinam as ações dos homens. O que propicia isto é a realidade
concreta, as condições reais, os fatos históricos, ou seja, a realidade mesma em que
o indivíduo está inserido.
Neste sentido, a proposta dialética marxiana é a de teorizar para a realidade que
se apresenta; a partir desta e, não como no sentido idealista, partir do conceito para
entender a realidade.
É uma forma de pensar “inteiramente em oposição à filosofia alemã que desce
do céu” (MARX; ENGELS, 1983, p. 193). É a ida efetiva dos homens eu determina a
consciência, e não o contrário. O fundo não é mais o que os homens dizem, pensam,
imaginam ou idealizam, nem tampouco os mitos criados ou os heróis idealizados para
se atingir a vida concreta, o homem concreto. O processo se dá em mão contrária,
partindo da vida efetiva de “homens efetivamente ativos” (MARX; ENGELS, 1983,
p. 193) para, a partir daí, entendermos e descobrirmos o que os homens pensam,
idealizam, almejam.
A relação dialética está presente exatamente nesta imbricação entre ideia e realidade
concreta, entendido que, na primeira, é intrinsicamente ligada e depende da segunda,
pois como esclarecem os autores citados:

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[...] a produção das ideias, representações, da consciência está de início


imediatamente entrelaçada na atividade material e no intercâmbio
material dos homens, linguagem da vida afetiva. [...] A consciência
nunca pode ser outra coisa do que o ser // ‘Sein’ // consciente, e o
ser dos homens é o seu processo efetivo de vida (MARX; ENGELS,
1983, p. 192).

Encontramos, portanto, homens reais, concretos, que produzem os materiais


necessários para suprir suas necessidades e que, nesta produção e concretude de
vida, fazem parte de um metabolismo, de uma relação com a natureza e com os
outros homens, o que constitui a vida social. Neste processo de criação das coisas
necessárias à existência humana, entendido como o trabalho, o homem humaniza-se
e ao mesmo tempo, socializa a natureza.
A importância do trabalho, portanto, para a vida social, demonstra-se na sua atividade
transformadora, na sua práxis, mas que, para além disso, é uma atividade pensada,
idealizada. O trabalho é o agente transformador do mundo, é sustentáculo e fundamento
essencial à própria vida social, dentro da perspectiva materialista da história.
Sempre existiu e sempre existirá e, em função disso, é que se pode entender a relação
que se estabelece, de transformação da natureza e de construção da vida social. Esta
afirmação é contrária a determinadas opiniões de pensadores contemporâneos, que
têm decretado o fim do trabalho. É o caso Habermas, por exemplo, que busca substituir
o fundamento social dado pela perspectiva materialista, propondo a linguagem. Como
não é o ponto em questão discutirmos os fundamentos habermasianos de estruturação
da sociedade, destacamos apenas o fato de que há, portanto, correntes de pensamento
contrárias ao trabalho, como fundamento da vida social.
Para que ocorra o capitalismo, duas coisas se fazem necessárias: o trabalho
assalariado e a extração do excedente de forma da mais valia, que ocorre por um
mecanismo estritamente econômico. A mais valia é o grande segredo do capitalismo,
pois é esta que transformará em capital.
O capitalismo é um processo civilizatório que nos dias atuais invade todo o mundo,
envolve o intercâmbio universal e cria bases de um novo mundo, influenciando,
destruindo ou recriando outras formas sociais de trabalho e vida, outras formas
culturais e civilizatórias.
Quando os retiramos da esfera do mercado e entramos na esfera da produção, há
uma inserção de forma diferente no mundo da produção, para ambas as partes que
negociaram. Essa diferença ocorre em função das relações que são estabelecidas

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pelos negociadores com os meios de produção, ou seja, uns são proprietários e outros
não são proprietários. Existe uma relação econômica e jurídica.
Se no mercado são “iguais”, na produção são diferentes. Alguns são proprietários
da produção e outros não. Os primeiros exercem as funções diretivas, de mandar
e impor e, os seguintes, as funções executivas, subalternas de operar e realizar os
trabalhos. Portanto, ocupam lugares diferenciados e funções distintas nesta relação,
com um destaque para as diferenças. Já não há mais aqui liberdade ou igualdade: há
exploração e dominação de uns pelos outros, pois, ao que executa o trabalho, cabe
não só produzir um valor referente à sua força de trabalho, mas um valor superior,
excedente, que é a “mais valia”. O que ocorre, neste sentido ainda, é uma apropriação
do resultado da produção de forma diferenciada, em que não há apenas a negação
da troca, mas também uma apropriação do trabalho alheio pelo outro. O capital é a
“mais valia”.
O capital surge da relação social estabelecida entre o capitalista e o trabalhador, em
que se obtém dinheiro com o trabalho não pago, ou seja, é uma relação de classes
em que destacam-se as diferenças, as desigualdades e as contradições, o que torna
o conflito inerente à existência das classes sociais.

Marx foi o primeiro autor a utilizar com intensidade a expressão


‘classes sociais’. Para ele, as classes sociais são expressão do
modo de produzir da sociedade no sentido de que o próprio modo
de produção se define pelas relações que intermedeiam, entre as
Classes Sociais, e tais relações dependem da relação das Classes
com os instrumentos de produção. Numa sociedade em que o modo
de produção capitalista domine, sem contrastes, em estado puro,
as classes se reduzirão fundamentalmente em duas: a burguesia,
composta pelos proprietários dos meios de produção, e o proletariado,
composto pro aqueles que, não dispondo dos meios de produção, têm
de vender ao mercado sua força de trabalho (BOBBIO, MATTEUCCI e
PASQUINO, 1993, p.171).

A exploração e a dominação estão inseridas exatamente


nesta relação de poder. A lógica do capitalismo (ou do capital)
é a de que o dinheiro se converta em capital e cresça (o
que só ocorre com a exploração do trabalho alheio), ou
seja, o dinheiro só se transforma em capital quando ele
consegue se valorizar. Por isso, não é inerente ao capital a
Figura 69- exploração capitalista
Fonte: https://tinyurl.com/yd29985z

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preocupação em produzir para satisfazer as necessidades humanas, mas sim, para


satisfazer sua própria fome de lucro.

Fonte: https://alexandreconte.files.wordpress.com/2015/07/apresentacao1.jpg

MARX E O FETICHISMO DAS MERCADORIAS

Marx trata sobre o fetichismo das mercadorias no livro I do Capital. Este assunto
está intimamente ligado à Teoria do valor-trabalho, da qual Marx vem a ser o último
pensador a adotá-la. A teoria citada, abandonada por volta de 1870, apresenta o valor
de uso e o valor de troca que uma mercadoria traz.
O valor de uso está relacionado à utilidade que a mercadoria tem para as pessoas.
É um valor natural da própria coisa. Não se refere a uma produção social. Pertence à
natureza da coisa. Por exemplo: o peixe, o vinho.
Já o valor de troca, está relacionado com o trabalho. É uma produção social.
Tato Adam Smith, quanto David Ricardo e Marx, acreditavam que o valor de troca é
determinado pela equivalência de tempo gasto na produção de ambos os bens que
são trocados. Ou seja, o tempo gasto, exigido na produção de uma garrafa de vinho
seria equivalente ao tempo exigido para se pescar dois quilos de peixe.
Entretanto, é comum acordo que ambos os valores, de uso e de troca não apresentam
entre si nenhuma relação, nem mesmo inversa. Esse “tempo”, entretanto, não é
individual, mas coletivo e abstrato. O que ocorre é que a tecnologia vem reduzindo

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o tempo de trabalho e aumentando a produção, o que, consequentemente, baixa o


preço e aumenta o consumo.
Em sua análise no Capital, Marx parte da célula, que é a mercadoria e demonstra
o desabrochar do capitalismo, a partir desta. Extremamente racionalista, herança
hegeliana, o Marx do Capital sofre transformação em sua conceituação. A palavra
ideologia lhe permite desvincular-se da “alienação” do hegelianismo.
Deixando de falar do ser alienado, coisificado, ele
passa a tratar de uma alteração da consciência, de uma
ideologização. É o que pode ser considerado “adulteração
da consciência”. Marx considera ser isto o que ocorre com
a ideologia capitalista, nos fazendo ver as coisas de forma
enganosa, como aparência, ilusão, ou seja, como elas não
são. Marx considera que isso ocorre na consciência do
trabalhador, isto é, por um processo de ideologização
sofrida por ele. Pelo capitalismo – sua ideologia –
pensamos que o valor de troca é inerente ao produto. Na
realidade, valor de troca é determinado pelo trabalho. Este
valor é uma relação social entre os homens e este valor
Figura 70- mais valia
não é inerente ao produto. A ideologia capitalista nos faz Fonte: https://pixabay.com/pt/
illustrations/dollar-moeda-capitalismo-
explorar-2091764/
pensar o contrário.
O que Marx considera como fetichismo das mercadorias é atribuir a estas um valor
que não lhe é próprio. É o caso do “valor de troca”, que não é propriedade da coisa.
O que acontece de fato na análise marxista, é o caso de uma propriedade social
ser vista como propriedade da mercadoria. A ideologia esconde o fato de que essa
propriedade social foi injetada nas coisas e não lhe é inerente. Para ele, a relação entre
os homens é que colocou “sentido nas coisas”. Portanto, na conclusão marxiana a
desideologização é o esclarecimento da consciência do trabalhador.

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REFLEXÕES SOBRE PROLETARIADO X BURGUESIA

Figura 71- contradição


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/m%C3%A3os-obra-lutando-de-m%C3%A3os-177703/

Vamos continuar? O assunto da aula de hoje servirá de base para você compreender
as discussões que serão estabelecidas em muitas outras disciplina do curso, logo
vamos separar um tópico somente para abrir a discussão acerca do proletariado e
burguesia segundo Marx.
Considerando que vivemos em uma sociedade capitalista, inseridos no modo
capitalista de produção. Uma sociedade marcada pelas desigualdades sociais que
dão origem a questão social e todos os seus desdobramentos. Tais desdobramentos
são oriundos justamente desta contradição entre capital X trabalho, relação desigual,
tão presente nos dias atuais. Basta você olhar a realidade se sua cidade, como se
dividem as classes sociais? Existe pobreza? Existe miséria? Existe desemprego?
Se você respondeu que sim, saiba que estas contradições tão marcadas e marcantes
são reflexos do sistema capitalista.
Esta contradição que concentra a maior parte do capital (dinheiro e bens) nas mãos
de uns poucos enquanto muitos sobrevivem com pouco ou quase nada.
É difícil para muitos entenderem que pleno século XXI, ainda tenhamos pessoas
passando fome, pessoas desabrigadas, pessoas desempregadas, sem acesso à saúde
ou educação. A aula sobre marxismo serve justamente para que você compreenda

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a origem desta desigualdade a partir da análise das


relações estabelecidas na sociedade, sendo capaz de
definir, sobretudo, as duas classes sociais: burguesia
e proletariado.
Por que a discussão é importante? Para que
não tenhamos uma visão, ou façamos uma análise
reducionista, dizendo que o pobre é pobre porque
quer, porque não se esforça, ou simplesmente porque
Deus quis assim.... pois desde a nossa primeira aula,
temos estudado que ser assistente social, implica em
ser capaz de realizar uma análise crítica da realidade,
devemos desenvolver nosso senso crítico a partir de Figura 72- desigualdade
Fonte: https://visualhunt.com/f4/
photo/1835511856/1eb869759e/
uma análise social a partir da realidade apresentada,
considerando as relações nela estabelecida.
Bem, vamos lá? Nosso último tópico da aula de hoje!
Primeiramente retomamos que a burguesia é a classe dos proprietários das fábricas,
das fazendas, das minas, dos bancos, são os donos particulares dos meios de produção,
ou seja, os possuidores do capital, dessa forma, são chamados de capitalistas.
Esses mecanismos de produção constituem um capital, pois são usados dentro de
uma relação de exploração. Diante desse panorama, a classe proletária aos poucos vai
se rebelando, dadas as condições de exploração a que estava submetida, ao elevado
aumento da jornada de trabalho, associado à queda do padrão de vida dos assalariados.
E considerando os altos custos sociais provocados pela prática do crescimento
econômico, era necessário criar mecanismos, por parte do Estado, de contenção da
classe operária, que vem requerer seus direitos sociais. É nesse cenário econômico e
político que o assistente social é requisitado para intervir na realidade social, por meio
das políticas sociais, em resposta às reivindicações da classe trabalhadora.
A denominação de burguesia se deve ao motivo pelo qual quando essa classe
se formou, ainda no término do feudalismo europeu, tratava-se de comerciantes e
pequenos industriais que habitavam as pequenas cidades (conhecidas como burgos).
Não eram pessoas nobres, nem eram mais servos responsáveis por lavrar a terra
nos feudos eram apenas um tipo de classe média, posteriormente transformada em
classe predominante.

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É bem verdade que dentro do proletariado


existem trabalhadores que recebem vantagens
em relação aos demais. No entanto, ambos vivem
e dependem do seu trabalho. A denominação
“proletária” já se fazia presente na antiga Roma,
designando aquelas pessoas que nada possuíam, a
não ser seus descendentes, ou seja, seus próprios
filhos. Nos primórdios da sociedade capitalista, o Figura 73: Presos
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/peixes-
%C3%A1gua-pesca-subaqu%C3%A1tica-mar-4777668/
proletariado se originou mediante antigos servos
que saiam dos feudos e iam para os burgos, sem qualquer bem em sua posse; e, ainda,
artesãos que não estavam munidos de condições para competir com as máquinas
da classe dominante.
Dessa maneira, os proletários são homens livres sob duas vertentes: não estão
mais presos aos feudos e também não possuem nada a não ser a sua própria força
de trabalho. Assim, na sociedade capitalista, existe uma fragmentação entre o capital
e o trabalho. Aquele que trabalha diretamente não possui os meios de produção, e
aquele que possui os meios de produção não trabalha diretamente.
A classe dominante usa a força de trabalho dos proletários para fazer funcionar
seus meios de produção e, dessa forma, produzir mercadorias com a finalidade de
obter lucros. Com esse lucro, além de viver com qualidade, os burgueses melhoram
em quantidade e qualidade os seus mecanismos produtivos, com o propósito de
produzir mais mercadorias e obter, com isso, maiores lucros.

Anote isso
Esse curso repetido, diariamente, consiste no processo de acumulação de capital.

O proletariado, de forma oposta, não acumula nada, vendendo-se cotidianamente


no mercado de trabalho, para poder viver ou sobreviver, na maioria das vezes, muito
mal e com muitas dificuldades.

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Figura 74- pobreza


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/pessoas-sem-abrigo-masculino-1550501/

A classe dominante, assim, contrata os proletários para trabalharem em suas empresas,


por determinado salário, durante tantas horas diárias, e sob certas condições anteriormente
estipuladas. Os trabalhadores acordam formalmente com este “livre” contrato de trabalho.
Qual é o jeito? Eles não são possuidores dos meios de produção, estando livres deles.
Também não estão amarrados por alguma obrigação a nenhum senhor e/ou terra, sendo
formalmente livres. Livres para alienar sua força de trabalho no mercado, ou então, se
não quiserem fazer isso, livres para viverem em condições miseráveis.
Esse “livre” contrato de trabalho feito individualmente reside em um contrato realizado
entre duas partes que ocupam posições distintas dentro da sociedade. O burguês,
dono dos mecanismos produtivos, encontra-se em uma situação de destaque para
procurar a mercadoria força de trabalho, e encontra uma abundância na oferta. Se um
trabalhador não aceita suas condições, existem inúmeros outros concorrendo entre
si que certamente as aceitarão.
O êxodo rural que, por inúmeros fatores, sempre acompanha a origem da produção
capitalista, encarrega-se de formar um excedente de oferta de força de trabalho. O
proletário, dono apenas da sua força de trabalho, encontra-se em uma posição bastante
negativa e fica entre a cruz e a espada, ou seja, entre a exploração do patrão e a
miséria acarretada pelo desemprego.

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Essa é a “liberdade” do trabalhador na sociedade capitalista. Mas, para o burguês,


o livre contrato de trabalho reside na liberdade sagrada dentro de sua economia de
livre empresa.
As duas classes, quais sejam, a dos burgueses e a dos proletários, possuem
interesses que são objetivamente antagônicos, em palavras mais simples, interesses
inconciliáveis. “Objetivamente” significa que isto não depende da boa ou má intenção
dos indivíduos. Os interesses das referidas classes são inconciliáveis porque se uma
ganha, a outra, obrigatoriamente, perde. O que é bom para uma classe é maléfico
para a outra.
A burguesia, que tem propósitos em
conservar sua situação de destaque, tenta
obscurecer o fato da fragmentação social
em classes de interesses inconciliáveis,
acenando para a ascensão social, dizendo
que o operário de hoje pode ser o patrão
no futuro. Mas a gente sabe que é quase
impossível para o trabalhador assalariado
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/%C3%A1gua-vidro-optimist-

obter a quantia necessária para constituir pessimista-4815298/

uma pequena empresa.


Além do mais, ainda que alguns operários individualmente mudassem de classe, nem
assim deixaria de existir a fragmentação social em classes de objetivos inconciliáveis.
Desde o surgimento do capitalismo foi de percepção geral que esse sistema ocasiona
grandes desigualdades e injustiças.
Percebeu-se, ainda, que quanto mais a minoria dominante enriquece, a maioria
proletária afunda na pobreza e miséria. Resumindo, inúmeras foram as denúncias
acerca da exploração. Mas qual é o meio pelo qual se propaga a exploração? Isto
não aparece logo de cara, foram imprescindíveis muitos estudos e pesquisas para
responder a essa questão. Quem conseguiu deslindar o mistério foi Karl Marx, e com
uma citação dele encerramos nossa aula de hoje:

“A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente


os instrumentos de produção e, portanto, as relações de produção,
isto é, todo o conjunto das relações sociais. Esta mudança contínua
da produção, esta transformação ininterrupta de todo o sistema
social, esta agitação, esta perpétua insegurança distinguem a época
burguesa das precedentes. Todas as relações sociais tradicionais

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e estabelecidas, com seu cortejo de noções e ideias antigas e


veneráveis, dissolvem-se; e todas as que as substituem envelhecem
antes mesmo de poder ossificar-se” (KARL MARX,1848).

Antes de encerramos deixo para você um quadro resumo acerca das matrizes
teóricas e os seus respetivos critérios de cientificidade, espero que lhe ajude no
entendimento sobre tais matrizes trabalhadas ao longo desta unidade!

POSITIVISMO MARXISMO FENOMENOLOGIA


Nós transcendental.
(as pessoas unidas
Tem como único critério de
Prática social e definem aquele
Critério de verdade fatos comprovados
histórica do ser fenômeno e unidas
verdade cientificamente através de
humano. acham a verdade e
observação e experimentação.
superam a si mesmas, o
que é, é)

A realidade existe
Independe ao
Considera a realidade formada inicialmente e precisa
pensamento anterior
por partes isoladas de fatos ser colocada entre
a ela. Nela estão as
Conceito de atômicos. parênteses para
determinações em
realidade Não aceita outra realidade que
constante movimento.
transformar em
não seja os fatos que pode ser fenômeno da existência.
O pensamento
observados. O que vai ser real é a
reproduz a realidade.
essência – racional.

A história se desenvolve de
Faz recorte do tempo
maneira linear e cronológica,
quando chegam
de acordo com a concepção
as invariantes – é
Conceito da Lei dos três Estados e
É resultado da luta de atemporal.
de tempo relação estreita entre três
classes. O ponto de partida é o
(história) estágios não somente se dá no
presente. (não interessa
desenvolvimento da história da
o que aconteceu ontem e
humanidade, mas também na
nem o futuro).
história de cada indivíduo.

Estágio mais evoluído do


desenvolvimento mental que se
preocupa com o estudo objetivo É ontologia (estudo do Busca definição do ser
Conceito de dos fatos e de suas leis, sem ser) social porque não em geral.
ciência preocupação com as causas. é fragmentada. Necessidade da dúvida
É ciência objetiva, neutra, livre Visão de totalidade. (sem acaba a filosofia).
de juízos de valor, de ideologias
políticas, sociais, etc.

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Ser essencialmente biológico O homem situado no


e passivo, que tem limites na mundo (vivido) capaz de
Ao atuar na natureza
sua capacidade mental de fluir reduzir sua existência
externa a ele, ao
e captar o mundo. Aparece (experiências –
modifica-la ele
como simples expectador dos sensações) para chegar
modifica ao mesmo
acontecimentos. Não pode ao invariante – do
tempo sua própria
Concepção modificá-los a não ser segundo subjetivo ao objetivo e de
natureza (Marx – O
de homem suas leis. Como individualidade
Capital).
domínio sobre o objeto.
não existe, portanto, na (não tem preocupações
(modifica a natureza
sociedade científica, senão com coisas muito
modificando a si
como membro de grupos, desde grandes, o que importa
mesmo para sua
os grupos familiares até os é o que o homem acha
própria existência.
políticos (ele sozinho não existe, significativo naquele
só em grupo) momento.

É a interdependência.
A relação é
determinada
historicamente.
No processo de
conhecimento o
sujeito que conhece
é ao mesmo tempo
objeto, porque o
fenômeno estudado
O homem é apenas para é visto na totalidade.
observar e conhecer os fatos Na 1ª fase o
(objeto). Deve-se (sujeito) objeto carregado
submeter-se às leis públicas. de subjetividade
Os objetos são fatos que se comanda(empírico) O primado do Sujeito
Relação submetem às experimentações. – representação não para dar ordem ao
Sujeito- O investigador estuda os plena. Na 2ª, encontro caos, mas para captar do
objeto fatos e estabelece relações das determinações caos o invariante, que é a
para ele pela própria ciência, abstratas as quais essência.
pelos propósitos superiores são reunidas em
da alma humana do saber síntese (abstração) - o
caracterizando a chamada sujeito comanda. Na
neutralidade da ciência. 3ª retorna ao objeto
para conferir a verdade
(prática social) é o
chegar do sujeito
como objeto -se a
teoria é verdadeira.
(sujeito e objeto
mantêm uma relação
de igual para igual /
todo mundo conhece
algo).

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O concreto é
concreto, porque é a
síntese de múltiplas
determinações,
portanto, unidade do
múltiplo. Aparece no
É histórico genético indutivo, pensar como processo
ou seja, observação dos fatos, de síntese, como Método fenomenológico.
adivinhando-lhes por indução resultado, não como Vários tipos de redução –
Concepção as leis da coexistência da ponte de partida. No uma é a fenomenológica
de método sucessão. É o método geral primeiro caminho, e a redução eidética
do raciocínio proveniente do a representação (aproximar-se da
consenso de todos os métodos plena se volatiza em essência da verdade)
particulares. uma determinação
abstrata, no segundo,
as determinações
abstratas, conduzem
à reprodução do
concreto pelo caminho
do pensar

Melhor que construir


é reconstruir a O objeto é transformado
realidade. Reconstrói em fenômeno –
Não constrói o objeto. O objeto o movimento do real invariante (destrói o
Construção
é dado pela realidade, são os (o objeto não é dado, objeto). Passa a ser
do objeto fatos observados. “ as pessoas envolvidas aquilo que o sujeito
na realidade que o problematizam, superam
constrói através de a realidade
fatos, informações)

Fonte: Elaborado pela Autora (2020).

Pois bem meus queridos(as) aluno(as), espero que esta aula, tenha feito você refletir
muito, pois nesta aula consiste o embasamento para a nossa próxima Unidade de
estudo, onde iremos desvelar a influência do Marxismo no Serviço Social, sobretudo
brasileiro, aguçar o senso crítico, buscar outras fontes de leitura irão lhe auxiliar
muito neste momento, olhe as indicações de materiais extras, lá você encontrará
dicas de livros e filmes que irão complementar ainda mais este processo de ensino
e aprendizagem!
Até a próxima!

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FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS
DO SERVIÇO SOCIAL
PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI

Isto está na rede

Para você ir se aprofundando acerca do Marxismo, suas raízes, contextualização,


e influência no Serviço Social, sugiro que você assista os links a seguir, pois
José Paulo Netto é assistente social e referência no assunto, sobretudo quando
estudamos os fundamentos da Profissão:

1- Introdução ao Método de Marx – primeira parte (José Paulo Netto)


https://www.youtube.com/watch?v=2WndNoqRiq8&t=103s

2- Introdução ao Método de Marx – segunda parte (José Paulo Netto)


https://www.youtube.com/results?search_
query=marxismo+jose+paulo+netto+segunda+parte

Figura 75- Quebra cabeça


Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/quebra-cabe%C3%A7a-amarelo-textura-3308772/

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FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS
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AULA 10
O RACIONALISMO FORMAL
ABSTRATO

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/pergunta-question%C3%A1rio-acho-que-2004314/

Olá, estamos chegando na reta final da nossa disciplina, onde trazemos reflexões
contemporâneas acerca das influências filosóficas no Serviço Social brasileiro, trazendo
para a nossa reflexão autores da área que certamente te colocará para pensar e refletir
acerca da constituição da sociedade, bem como a estrutura social e econômica de
nosso país.
Conto com você!
Objetiva-se com esta aula, retomar primeira e brevemente algumas das principais
influências filosóficas (teóricas), sobretudo, as conservadoras, aquelas que direta ou
indiretamente se fizeram presentes em algum momento da história do Serviço Social.
A partir daí quero estabelecer com você um processo de entendimento sobre as
dificuldades que os profissionais em se apropriarem da teoria crítica. Sabendo a
profissão e seus profissionais (não só do Serviço Social) também são influenciados
pelos fatos históricos de sua época, e isto reflete tanto na prática profissional, quanto
no entendimento e apropriação das teorias sociais.

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Falaremos hoje sobre o paradigma racional formal


abstrato, este que tem suas bases de fundamentação
nas teses de Émile Durkheim (1858 – 1917). Mas quem
foi Émile Durkheim?
Foi um sociólogo funcionalista francês do século
XIX que estabeleceu, pela primeira vez, a Sociologia
como disciplina acadêmica na Universidade, além de
ser um dos três sociólogos clássicos ao lado de Max
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/
sa%C3%BAde-mental-pensamento-
Weber e Karl Marx. Pelo seu pioneirismo, determinou
positivo-2310825/
o objeto de estudo da Sociologia e um método para
explicar os fenômenos sociais, se tornando assim o precursor do funcionalismo.
Lembrando que o funcionalismo é uma corrente sociológica que considera que
o todo tem uma importância muito grande na definição das partes, ou seja, todo e
qualquer fenômeno social, possui uma significação para a sociedade como um todo.
Em outras palavras, não existem fenômenos sociais isolados e racionais sem
significado, mas todos eles estão integrados no sistema social. A partir do momento
em que a sociedade define o indivíduo, Émile Durkheim vai fundamentar o importante
conceito que ficou conhecido como fato social.

Anote isso

O que é fato social?
Fato social é toda forma de pensar, agir e sentir, que determina o comportamento
dos indivíduos, ou seja, é basicamente como nos comportamos, os conceitos,
preceitos que definem o nosso comportamento em sociedade.

Émile Durkheim deixa claro que esses fatos sociais são sempre externos, melhor
explicando, é a sociedade quem os produz e não o indivíduo. As regras e os valores
morais são, por exemplo, fatores externos produzidos em conjunto pela sociedade e
não por uma pessoa única, por esse motivo que os fatos sociais são anteriores ao
indivíduo. Para ficar mais claro o conceito lembre-se: a sociedade já estava pronta
antes de nascermos.
Outra característica do fato social é que ele é sempre geral, logo todo mundo
reconhece que é legítimo, que é o que coordena e comanda a relação entre as pessoas

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e por fim ele (fato social), também é coercitivo, isso significa que quando um indivíduo
age de uma forma não esperada pela sociedade, provavelmente sofrerá algum tipo
de punição, censura ou alguma situação semelhante a isso.
Um exemplo: existe uma regra social que diz que ao comermos, o façamos de
boa fechada e usemos os talheres apropriados, logo, não podemos mastigar de boca
aberta, então se a pessoa mastigar de boca aberta (o que ela pode fazer, até porque
ninguém é obrigado a nada), ela poderá ser advertida, reprimida, sofrer alguma coerção
por violar/quebrar este fato social.
Dá para entender o seguinte: temos um padrão e se fugirmos/infringirmos este
padrão estabelecido ou acordado, sofreremos alguma situação coercitiva, ficou clara
esta informação para você?

Ao pensamento de Émile Durkheim (1958-1917), uma das figuras mais


expressivas do positivismo, pode ser tributada a institucionalização
do paradigma da racionalidade formal-abstrata na análise das
estruturas sociais, na medida em que suas concepções teóricas e
metodológicas encerram pretensão, não apenas de estabelecer uma
explicação totalizadora da sociedade, mas, sobretudo, de orientar
uma pragmática de ação sobre a sociedade (GUERRA, 2007, p.57).

Mas afinal do que trata o racionalismo formal abstrato? “Ele aborda a realidade de
forma instrumental, imediatista e manipuladora. Está presente no positivismo clássico
de Comte, na economia vulgar, na sociologia de Emile Durkheim e em todas as correntes
Neopositivistas” (SIMIONATTO, 2009, p. 106).
Ainda sobre

De maneira geral, para este paradigma, a forma dos fatos sociais


corresponde ao seu conteúdo, portanto, para analisá-los, elementos
funcionais, sistêmicos e comparativos são mobilizados. A sociedade
é entendida como um organismo, articulado por partes, as quais se
vinculam à funções. Os fatos sociais, para serem compreendidos,
além do que já foi citado, são generalizados e desvinculados do
desenvolvimento econômico das forças produtivas. “(...) além da cisão
entre fato social, econômico, cultural, etc., neutraliza-se o caráter
histórico e econômico dos fenômenos sociais. A teoria aparece como
determinação e explicação das conexões funcionais estabelecidas
entre fenômenos da mesma natureza, pelos procedimentos de
indução e dedução rigorosos, os quais garantem uma explicação,
para Durkheim legítima, porque lógica, mas que não reproduz a lógica
do movimento de constituição do fenômeno.

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Anote isso
Racionalismo: o racionalismo é a teoria em que a razão, não os sentidos, é a
origem do conhecimento. Os racionalistas argumentam que, sem contar com
princípios e categorias já dados, os seres humanos não seriam capazes de
organizar e interpretar as informações fornecidas pelos sentidos assim, de
acordo com o racionalismo, os humanos contam com os conceitos inatos e,
então aplicam o raciocínio dedutivo (KLEINMAN, 2014, p.84).

Por exemplo, seria inadmissível

A racionalidade dada pela razão dialética é a síntese de procedimentos


ativos e intelectivos e torna-se um adjetivo da razão que desaliena,
desmistifica, nega o dado na sua aparência e é capaz de engendrar
ações que ultrapassem a dimensão manipulatória e instrumental
(GUERRA, 2002, p. 44).

Mas antes de falarmos sobre racionalidade,


vou falar também da irracionalidade.
Em seu livro a “Instrumentalidade do Serviço
Social”, a autora e pesquisadora Yolanda
Guerra (2007), cita que a racionalidade se
constitui numa categoria ontológica; que pode
ser entendida enquanto uma propriedade da
razão. A racionalidade tem a razão como seu Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/sa%C3%BAde-
mental-mental-sa%C3%BAde-cabe%C3%A7a-3337026/

fundamento e por isso vincula-se à formas de


compreender a razão.

Anote isso
Tradição Racionalista: iniciada com René Descartes no século XVI opõe-se
ao ceticismo da época, indicando que se pode chegar à verdade através dos
recursos metodológicos assentados na razão.
Tradição empirista: compreende o conjunto de teorias de explicação, definição
e justificação de conceitos derivados da experiência. Para Francis Bacon, seu
principal representante, todo conhecimento tem origem unicamente na experiência.

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Iluminismo: termo utilizado para descrever o comportamento filosófico,


científico e racional existente em grande parte da Europa no século XVIII.
Também denominado de “século das luzes”, desenvolve‐se mais especificamente
na França, através de filósofos, cientistas e pensadores unidos na crença da
supremacia da razão e de seus resultados práticos no combate às injustiças
e às desigualdades.
Razão dialética ou Razão ontológica: os processos sociais podem ser
reconstruídos, racionalmente, pelos sujeitos, transcendendo e desvendando
sua aparência a partir de múltiplas determinações. Busca captar o real a partir
do ponto de vista da totalidade e da historicidade, bem como afirmar o caráter
histórico e criador da práxis humana.
Racionalismo formal­abstrato: aborda a realidade de forma instrumental,
imediatista e manipuladora. Está presente no positivismo clássico de Comte,
na economia vulgar, na sociologia de Emile Durkheim e em todas as correntes
neopositivistas (SIMIONATTO, 2009, p. 105-106).

Ao considerar os pensamentos irracionalistas e racionalistas formal, vamos


percebendo que estes batem de frente com a chamada razão dialética, questionando
seus pressupostos e justificando o modo de produção capitalista, por tomarem como
realidade apenas a representação da mesma.
A racionalidade formal-abstrata e o
irracionalismo se apresentam como se
trouxessem algo de novo, porém o que há
é a velha legitimação do padrão de produção
vigente onde a ciência se reduz a manuais
de manipulação dos fatos, deixando de lado
Fonte:https://pixabay.com/pt/illustrations/igualdade-de-
seu papel investigador. g%C3%AAnero-homem-mulher-1977912/

De fato o que ocorre é o abandono da dimensão ontológica do real, da


história como substância, o que permite que essas correntes afirmem
a destruição do passado, o fim da história e das grandes narrativas
(GUERRA, 2004, p. 21).

Dessa forma, observamos que o positivismo consiste numa base teórica de


sustentação da ordem burguesa e que, a partir de suas características, diversas outras
influências teóricas mantenedoras da ordem burguesa ganham força.

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O positivismo enquanto ideologia conservadora


é posto por August Comte, mas é a partir de Èmile
Durkhein que ele se torna a base da sociologia e
adentra às ciências sociais – onde mais tarde o
Serviço Social vai se basear.
A hipótese fundamental do positivismo é a de
que a sociedade é regulada por leis naturais. Esse
pensamento nasce junto com o Iluminismo, na luta
contra a ideologia dominante da época – clero,
absolutismo e feudalismo. Assim, o positivismo Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/protesto-
demonstra%C3%A7%C3%A3o-comunismo-155927/

começa como uma teoria revolucionária com a


ideia de libertar o conhecimento da teologia.
O pensamento de Marx se opõe completamente ao positivismo, pode-se afirmar
que à medida que o positivismo é a teoria base de manutenção da ordem burguesa,
a teoria crítica de Marx é a teoria base de superação desta mesma ordem. Enquanto
o primeiro se vincula diretamente à emancipação do trabalho o segundo se vincula
ao desenvolvimento do capitalismo, mas, sendo assim, por que há tanta associação
entre marxismo e positivismo? Na verdade, justamente por serem opostas, as duas
correntes teóricas existem em uma relação de influência, onde a existência de um
polo exige a existência do outro.
Essa relação dialética de negação e afirmação entre marxismo e positivismo
leva ambos a receberem influências recíprocas, por isso observamos, nos diversos
marxismos, inúmeras influências positivistas (supressão dos fatores econômicos,
naturalização da situação social, leis naturais como determinantes etc.). Tudo isso
perpassa o Serviço Social, que tem sua instrumentalidade em dois níveis: possui
funcionalidade ao projeto social burguês, como instrumento de regulação social; e, por
outro lado, é portador de respostas profissionais que correspondem aos interesses das
duas classes sociais, o que permite o atrelamento aos interesses da classe operária.
Considerando a preponderância positivista nesta ordem entende-se relevante
destacar algumas correntes teóricas que se manifestam junto com o positivismo
na perspectiva de manutenção do conservadorismo. Uma dessas correntes é o
estruturalismo que surge no Brasil em finais da década de 1960, mais precisamente
em 1968. Este pensamento é denominado por alguns como nova filosofia, mas
trata-se de um dos temas que dominam a cultura moderna a partir de seu método

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rigorosamente científico, “(...) capaz de superar o irracionalismo existencialista e a vazia


abstratividade de um ‘humanismo’ pseudomarxista (...)” (COUTINHO, 1972, p. 01). O
estruturalismo está dentro do racionalismo formal, ele manifesta o irracionalismo e o
racionalismo formalista. Esta lógica formal leva a uma burocratização da vida social.
Neste sentido, nota-se que o racionalismo formal nos leva a confundir a razão com
regras formais, ou seja, “A razão (...) deixa de ser a imagem da legalidade objetiva da
totalidade real.” (COUTINHO, 1972, p. 38). Dessa forma, por distorcer a concepção de
razão, o estruturalismo acaba por reforçar a lógica do capital.
Atualmente, nota-se que estamos em um contexto de regressão teórica, há o avanço
de tendências neoconservadoras – o que já foi explicado a partir da decadência
ideológica -, o que implica em um contexto social de perda de direitos e retrocessos,
o que incide diretamente no conjunto de profissões e não é diferente no Serviço Social.
Estamos em um tempo onde a “questão social” volta a ser entendida como uma
questão moral e (...) a saída encontrada por um conjunto de profissionais de várias
áreas é encaminhar os problemas para o âmbito do indivíduo (e de sua família), de
modo a propor como saída a alteração comportamental pela aplicação de terapias e/
ou de uma abordagem clínica da questão social (GUERRA, 2004, p. 40).
Cabe aqui indagar o por quê de todo este retrocesso. Mas é necessário lembrar
que a concepção dialética da história nos explica tal questão, já que esta indica que
o Serviço Social está inserido no processo histórico e, portanto, sofre as influências
teóricas postas no real.
A análise do pensamento ideológico burguês nos leva a lembrar que ele se expressa
a partir de dois eixos: o irracionalismo e o racionalismo formal.

Tanto o irracionalismo quanto o ‘racionalismo’ formalista (...) são


expressões necessárias do pensamento ideológico da burguesia
contemporânea, incapaz de aceitar a Razão dialética, a dimensão
histórica da objetividade, a riqueza humanista da práxis (COUTINHO,
1972, p. 02).

O predomínio de uma ou outra racionalidade depende dos momentos que passa


o capitalismo.
Tendencialmente, em épocas de crise recorre-se ao irracionalismo, já em tempos
estáveis a burguesia lança a mão do racionalismo formal. Nota-se que, mesmo
se tratando de racionalidades diferentes e, por vezes, até mesmo opostas, elas se

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intercalam de forma a atender às necessidades que circundam a manutenção do


modo de produção capitalista.
Isto ocorre porque trata-se de um modo de produção tão contraditório que admite
este tipo de articulação e, além disso, as duas racionalidades de que se vale a burguesia
deixam de lado os núcleos categoriais que o pensamento de Marx herdou de Hegel: o
historicismo, a concepção de mundo humanista e a razão dialética. Segundo Coutinho
(1974), no lugar do historicismo surge a pseudo-historicidade subjetivista e abstrata,
em lugar do humanismo vem o individualismo e ao invés da razão dialética prega-se
o irracionalismo.
Coutinho afirma ainda que a relação entre racionalismo formal e irracionalismo
é mais íntima do que se pode imaginar, pois o irracionalismo parte do racionalismo
formal à medida que este iguala intelecto e razão entendendo as categorias de Marx
como ininteligíveis.
Além da razão formal, tem-se no capitalismo a razão instrumental, que também é um
nível inferior da razão dialética, responsável pela dimensão do fazer, ela é necessária,
mas insuficiente, pois se restringe à dimensão manipulatória, no nível da imediaticidade,
portanto, não permite conhecer, na medida em que reproduz a aparência dos fenômenos
e não sua essência. Ela se resume apenas às necessidades imediatas. Não se pode
escapar do compromisso com o imediato, a questão é que é importante saber lidar
com este compromisso sem deixar de lado a mediaticidade. O imediato é um nível
de apreensão do real, porém só se chega à essência ultrapassando-o. Quando o
pensamento não ultrapassa a aparência ficamos no espontaneísmo.
A ordem burguesa consegue combinar essas três racionalidades: a racionalidade
formal abstrata, o irracionalismo e a razão instrumental. O pensador positivista Émile
Durkhein parte da razão formal-abstrata para a formulação de suas concepções acerca
de seus estudos sobre a sociedade. O autor defende a ideia de que o racionalismo
científico é capaz de desvendar as relações humanas, para ele, os fenômenos humanos
podem ser analisados da mesma forma que os fenômenos naturais.
A razão formal veta, em primeiro momento, a percepção da contradição que existe
no capitalismo, não nos permitindo alcançar o particular, ela se fixa no aparente e
o conhecimento se limita ao singular ou ao universal, ou seja, ela não dá conta do
conhecimento da realidade. As mediações que vinculam essas dimensões não são
captadas. Com tudo isso, nota-se que o racionalismo formal nos leva a confundir a
razão com regras formais.

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Além disso, esta razão é responsável também pela fragmentação do real. A história
das ciências é social, segundo Lefebvre (1983) é fragmento de uma história geral
do conhecimento. Não se pode conhecer de forma fragmentada, desconsiderando
determinações de outros saberes, há de se considerar a importância e o campo de
saber das diversas ciências existentes.
A lógica dialética produz uma teoria que relaciona as diferentes ciências trazendo
uma visão de totalidade “(...) em nome da necessidade de unidade, de conjunto, em
nome das relações concretas entre a ciência e a vida, entre a teoria e a prática”
(LEFEBVRE, 1983, p. 84).
Montaño (2009) – a partir da análise de Lukács -, afirma que o surgimento das
“ciências sociais particulares” expressa a segmentação do conhecimento da realidade,
que teria se hegemonizado por conta da racionalidade positivista. Com isto, surge
a sociologia, como disciplina independente, deixando de lado a base econômica na
análise da realidade. Na verdade, trata-se de uma segmentação generalizada onde
surgem vários pontos de vista particulares, vinculados cada um, a uma perspectiva:
um a econômica, outros à social e outros à política.
Outra segmentação realizada pela lógica formal que aponta o autor é a que separa o
sujeito que conhece e pensa sobre a realidade daquele que executa as ações pensadas
por outros, ou seja, é a separação entre cientista e técnico. Tais segmentações apontadas
por Montaño são muito presentes no Serviço Social e influem diretamente na relação
entre teoria e prática na profissão, pois, no primeiro caso restringe a abrangência de
conhecimento das teorias a setores, como se não houvesse relação entre os âmbitos
econômico, social e político.
Com isso, “o profissional só poderia intervir sobre ‘variáveis’ que, alterando os aspectos
‘sociais’, não intervenham, não afetem, em questões ‘econômicas’ ou ‘políticas’” (MONTAÑO,
2000, p.14), levando o assistente social a agir sobre problemas sociais vistos como
autônomos, sem relação alguma. “A realidade não é ‘sociológica’, ou ‘econômica’, ou
‘política’, ou ‘cultural’, ou ‘psicológica’, senão uma articulação inseparável de aspectos que
só para efeitos analíticos podemos classificar dessa maneira” (MONTAÑO, 2000, p. 29).
No segundo caso separa-se a teoria da prática como se já não estivesse implicado
no ato de conhecer a necessidade prática.
Atualmente há uma tendência do pensamento científico em fixar-se em explicações
singulares dos fenômenos “(...) sem a preocupação de verificar quais são as implicações,

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as ressonâncias desses singulares, dessas configurações particulares num todo que


é a sociedade” (QUIROGA, 1991, p. 18). Dessa forma, abandona-se a historicidade.
Já o pensamento pós-moderno se caracteriza por entender que a realidade não
pode ser compreendida. A totalidade para eles é algo impossível de ser desvendado,
assim como também é visto como impossível entender os fundamentos que regem a
sociedade. O conhecimento perde a sua importância e o discurso ganha sua vez, pois
considerando que a verdade não existe, usa-se a linguagem para obter os consensos.
Este pensamento não alcança a compreensão da luta de classes da sociedade
capitalista. A simbologia passa a ter maior valor, a imagem passa a ser vista como
única forma de apreensão do real, que passa a depender da representação simbólica.
Segundo Harvey (1994), este conceito surge com mudanças ocorridas no mercado
da arte em Nova Iorque e com as modas intelectuais vindas de Paris. Para Jameson
(1996), a pós-modernidade é a lógica cultural do capitalismo avançado que se configura
a partir das transformações ocorridas nos anos 1960.
Realmente, profundas mudanças sociais ocorreram a partir da década de 60
propiciando o avanço do pensamento pós-moderno. Este contrapõe-se à Modernidade
e, consequentemente, à razão dialética, partindo do suposto de que os pilares modernos
teriam fracassado por não corresponder às expectativas da sociedade e, além disso,
já não corresponderia aos anseios do homem pós-moderno.
Na filosofia, a mescla de um pragmatismo americano revivido com a onda pós-
marxista e pós-estruturalista que abalou Paris depois de 1968 produziu o que Bernstein
(1985, p. 25) chama de “raiva do humanismo e do legado do Iluminismo”.
Isso desembocou numa vigorosa denúncia da razão abstrata e numa profunda
aversão a todo projeto que buscasse a emancipação humana
universal pela mobilização das forças da tecnologia, da ciência
e da razão. (HARVEY, 1994, p. 46).
A pós-modernidade crítica a visão de totalidade e a
racionalidade do modernismo, a modernidade é considerada
como manipuladora. Ela se caracteriza por partir do suposto
de que chegamos ao fim de uma era de manifestações
culturais e entramos em uma fase diferente, que nega a
anterior. A ciência é vista como um conjunto de narrativas
incapazes de desvendar o real. O que há no pós-moderno Fonte: https://pixabay.com/pt/
photos/charlie-chaplin-filme-
com%C3%A9dia-4356893/
é a “(...) total aceitação do efêmero, do fragmentário, do

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descontínuo e do caótico (...)” (HARVEY, 1994, p. 49). Há uma incredulidade diante do


conhecimento e das metanarrativas – o que reforça o avanço das teorias de médio
alcance examinadas acima. Sendo assim, há um reforço também da racionalidade
capitalista, que instrumenta a preservação da ordem burguesa e do conservadorismo
presente no Serviço Social.
É relevante lembrar que o Serviço Social tem sua gênese e seu desenvolvimento
marcados pelo pensamento conservador. “Passa da influência do pensamento
conservador europeu, franco-belga, nos seus primórdios, para a sociologia conservadora
norte-americana, a partir dos anos 40” (IAMAMOTO, 2004, p. 26). Além disso, há forte
influência da filosofia humanista cristã, com seus dogmas moralizantes. Assim, a
profissão incorpora uma metodologia racionalizada – norte-americana - e uma base
filosófica baseada nos valores cristãos. Apenas a partir do final dos anos 50 e início
dos anos 60 do século passado o Serviço Social começa a questionar suas bases
conservadoras – que se expressa a partir do Movimento de Renovação Profissional,
que você verá em outro momento da sua formação com maior profundidade.
Neste sentido, a profissão é influenciada pela racionalidade burguesa, ou seja, a
razão formal-abstrata, a razão instrumental e o irracionalismo. Isso ocorre porque o
Serviço Social possui a sua gênese dentro de um projeto reformista conservador e
se vale das ciências sociais que surgem da matriz positivista, o que acarreta uma
série de questões relevantes à análise da relação entre a profissão e o conhecimento
teórico. Adiante veremos, de forma mais aprofundada, a forma como o Serviço Social
se aproxima da razão dialética a partir do contato com o pensamento de Marx.

Isto está na rede


Leitura complementar indicada:
Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais” CFESS, ABEPSS.
CEAD/UnB. Brasília. 2009.

https://www.docsity.com/pt/livro-completo-cfess-servico-social-direitos-
sociais-e-competencias-profissionais-2009-1-1/4911043/

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AULA 11
A INFLUÊNCIA MARXISTA

Figura 76- estantes de livro com porta


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/livros-porta-entrada-cultura-1655783/

Caro(a) aluno(a), vamos dar início às discussões retomando que, por intermédio
do processo de reconceituação profissional, o Serviço Social perpassou por várias
vertentes teóricas, se destacando a fenomenológica e a marxista.
No entanto, foi a teoria marxista que apresentou maior teor de informação e
sustentação teórica para explicar as complexas transformações sociais ocasionadas
pelo modelo de produção capitalista.

As influências desta corrente filosófica trazem para o Serviço Social,


de imediato, o entendimento de que a sociedade não é estática e nem
a-histórica. Contribui ainda para que o Serviço social desenvolva sua
dimensão crítica e política, não mais considerando a sociedade como
um todo harmônico. (p.07)

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Podemos entender o marxismo como um conjunto


de afirmações, argumentos, hipóteses, sobre o
mundo, o ser humano, a vida, a história, elaborados
e apresentados por Karl Marx (1818 – 1883) século
XIX. Marxismo consiste num método, uma maneira de
organizar o conhecimento, para compreender o real, e
nesse sentido é que a sua obra transcendeu o século
XIX. Marx não foi um autor que explicou como era a
vida naquele século, ele tenta compreender a história
Image72736.PNG
do mundo a partir de uma aproximação materialista,
acreditando que o fundamento da história e da sociedade está na maneira como os
seres humanos produzem, na sua existência em cada momento.

Figura 77- sala antiga


Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/sala-espa%C3%A7o-janela-atmosfera-2050029/

E vê esta história com um “fluir” dialético, através de contradições, como se


superaram e se reapresentam, com o passar do tempo. Essa maneira de perceber o
mundo dialeticamente, como uma totalidade dialética, é que faz com que o Marx seja
um autor útil para compreendermos ainda o nosso tempo, século XXI. Pois os seus
argumentos são extremamente válidos dada à seriedade com que ele produziu este

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conhecimento, por exemplo: sobre o modo de produção capitalista, sobre a perspectiva


da superação deste modo de produção capitalista para uma nova sociedade, uma
sociedade emancipada.
Apresentarei de maneira bem breve os três
grandes eixos para compreender a importância
e o impacto da obra de Marx e naquilo que se
constituiu o marxismo. Primeiramente, ela é
uma teoria social que compreende o mundo,
que procura compreender o movimento do real
e a história, com uma crítica ao capitalismo
fundamentada numa crítica à economia política,
onde ele sistematiza o que é o capital (como
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/livro-manifesto-karl-
ele funciona e como ele se desenvolve) e que marx-3038739/

vai ser muito útil para compreender o modo de


produção que ainda existe e que está numa fase particular do seu desenvolvimento
e uma teoria política da superação da ordem capitalista no sentido da emancipação
da emancipação humana. As três dimensões estão interligadas Marx não era pela
manhã teórico-social, à tarde estudava economia e à noite ficava elaborando o mundo
numa sociedade emancipada.
A sua teoria social leva a uma crítica econômica, a sua crítica econômica leva a
uma teoria política da emancipação, são dimensões articuladas numa totalidade, por
isso Marx seja um pensador tão instigante, provocante e que sobrevive a tanto tempo
como alguém que ainda tem algo a dizer no século XXI que está apenas começando.

A vertente marxista no Serviço Social teve seu espaço de difusão


ampliado e sua legitimidade reforçada à medida que, no seu processo
de maturação intelectual, foi se munindo teórica e metodologicamente
de elementos analíticos que lhe permitiram um diálogo íntimo com
as fontes inspiradoras do conhecimento. Busca elucidar seus
vínculos sócio-histórico, localizando as perspectivas e o ponto de
vista de classes por meio dos quais são construídos os discursos e
as práticas. Enfim, efetua uma crítica ‘por dentro’ das elaborações
e propostas apresentadas, crítica essa mais soldada à realidade da
prática profissional (IAMAMOTO, 2007, p. 233-234)

É importante ressaltar neste momento, que as influências teóricas que fizeram e


fazem parte da história da profissão não foram lineares, muitas discussões sempre

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permearam os rumos teóricos e metodológicos da profissão, visto que o consenso


acerca das teorias não existe, mesmo ainda nos dias atuais, contudo sempre buscou-
se aquela que melhor auxilia na leitura da realidade.

Isso indica que à medida que a aproximação do Serviço Social aos


‘marxismos foi sendo depurada do ecletismo inicial, desvelando o que
se mostrara oculto naquela primeira aproximação, foi se tornando
possível construir propostas de análise e de intervenções profissionais
mais sólidas. Portanto, a ampliação e aprofundamento do marxismo
no Serviço Social Brasileiro - potencializando os seus resultados
teórico-práticos - fez com que seus próprios produtos se revertessem
em uma das fontes de sua afirmação no panorama do debate, passando
a contribuir em grau considerável na travessia para a conquista da
maioridade intelectual do Serviço Social: a travessia de sua cidadania
acadêmica (IAMAMOTO, 2007 p. 234)

De acordo com a autora Yazbek (2009, p. 10),

É, sobretudo com Iamamoto (1982) no início dos anos 80 que a teoria


social de Marx inicia sua efetiva interlocução com a profissão. Como
matriz teórico‐metodológica esta teoria apreende o ser social a partir
de mediações. Ou seja, parte da posição de que a natureza relacional
do ser social não é percebida em sua imediaticidade. “Isso porque,
a estrutura de nossa sociedade, ao mesmo tempo em que põe o
ser social como ser de relações, no mesmo instante e pelo mesmo
processo, oculta a natureza dessas relações ao observador” (NETTO,
1995). Ou seja, as relações sociais são sempre mediatizadas por
situações, instituições etc., que ao mesmo tempo revelam/ocultam as
relações sociais imediatas. Por isso, nesta matriz o ponto de partida é
aceitar fatos, dados como indicadores, como sinais, mas não como
fundamentos últimos do horizonte analítico. Trata-se, portanto de um
conhecimento que não é manipulador e que apreende dialeticamente
a realidade em seu movimento contraditório. Movimento no qual é
através do qual se engendram, como totalidade, as relações sociais
que configuram a sociedade capitalista. É no âmbito da adoção do
marxismo como referência analítica, que se torna hegemônica no
Serviço Social no país, a abordagem da profissão como componente
da organização da sociedade inserida na dinâmica das relações
sociais participando do processo de reprodução dessas relações
(grifo nosso).

Ainda em Yazbek (2009, p. 10), é possível compreender que o referencial indica uma
direção de pensamento e não uma regra absoluta que deve ser seguida à risca. As

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teorias e referenciais auxiliam o profissional


na leitura da realidade, contribuindo assim
para o exercício de sua prática profissional.
Esse processo não foi consensual e simples,
mas necessário para a criação de um debate
denso e plural, com o intuito de consolidar a
base teórica do Serviço Social brasileiro.
As teorias sociais (conforme vimos nas Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/papel-
bagun%C3%A7ado-notas-abstract-3033204/
aulas anteriores) auxiliam na explicação
das relações entre os homens, de forma
geral ajudam a entender a interpretação dos
homens com os outros homens e com seu
ambiente. As teorias sociais são formuladas
por pensadores que se preocupam com a
situação da sociedade e tentam elaborar um
conjunto de ideias, analisando o processo
histórico-social.
Para Yazbek (2009, p. 12): Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/aprendizagem-
sugest%C3%A3o-escola-3245793/

Obviamente, este processo de construção da hegemonia de novos


referenciais teórico-metodológicos e interventivos, a partir da tradição
marxista, para a profissão ocorre em um amplo debate em diferentes
fóruns de natureza acadêmica e/ou organizativa, além de permear
a produção intelectual da área. Trata-se de um debate plural, que
implica na convivência e no diálogo de diferentes tendências, mas
que supõe uma direção hegemônica. A questão do pluralismo, sem
dúvida uma das questões do tempo presente, desde aos anos 80 vem-
se constituindo objeto de polêmicas e reflexões do Serviço Social.
Temática complexa que constitui como afirma Coutinho (1991, p. 5-15)
um fenômeno do mundo moderno e da visão individualista do homem.
É o autor em questão que problematiza a proposta de hegemonia com
pluralismo, no necessário diálogo e no debate de ideias, apontando
os riscos de posicionamentos ecléticos (que conciliam o inconciliável
ao apoiarem-se em pensamentos divergentes). Assim, em diferentes
espaços, o conjunto de tendências teórico-metodológicas e posições
ideopolíticas se confrontam, sendo inegável a centralidade assumida
pela tradição marxista nesse processo.

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Esse fator possibilitou o fortalecimento e o adensamento da literatura profissional.


Segundo Yazbek (2009, p. 12):

Este debate se expressa na significativa produção teórica do Serviço


Social brasileiro, que vem gerando uma bibliografia própria, e que tem
na criação e expansão da pós-graduação, com seus cursos de mestrado
e doutorado, iniciada na década de 70, um elemento impulsionador. É
importante lembrar que a pós-graduação configura-se, por definição,
como espaço privilegiado de interlocução e diálogo entre as áreas
do saber e entre diversos paradigmas teórico-metodológicos. Neste
espaço o Serviço Social brasileiro vem dialogando e se apropriando do
debate intelectual contemporâneo no âmbito das ciências sociais do
país e do exterior. Também neste espaço, o Serviço Social brasileiro
desenvolveu-se na pesquisa acerca da natureza de sua intervenção,
de seus procedimentos, de sua formação, de sua história e, sobretudo
acerca da realidade social, política, econômica e cultural onde se insere
como profissão na divisão social e técnica do trabalho. Avançou na
compreensão do Estado capitalista, das políticas sociais, dos movimentos
sociais, do poder local, dos direitos sociais, da cidadania, da democracia,
do processo de trabalho, da realidade institucional e de outros tantos
temas. Enfrentou o desafio de repensar a assistência social colocando-a
como objeto de suas investigações. Obteve o respeito de seus pares
no âmbito interdisciplinar e alcançou visibilidade na interlocução com
as ciências sociais, apesar das dificuldades decorrentes da falta de
experiência em pesquisa, do fato de defrontar com restrições por se
constituir em disciplina interventiva (de “aplicação”) e das dificuldades
na apropriação das teorias sociais. Nesta década o serviço Social ganha
espaço no CNPq como área de pesquisa.

Neste momento, caro(a) aluno(a), façamos uma pequena pausa para uma reflexão.

Anote isso
É importante frisar que o Serviço Social não é a junção de várias teorias
sociais, mas uma profissão de caráter interventivo na sociedade, a qual as
teorias sociais tentam explicar de acordo com o contexto social.

Como o próprio nome já lembra, nossa intervenção está ligada aos problemas sociais,
às relações sociais e humanas dos indivíduos. Desta maneira, para se conhecer as
várias interpretações que os cientistas sociais propõem para os diversos problemas,

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você deve estar atento(a) para compreender que são interpretações, e não soluções,
se não são soluções, nenhuma teoria social fornece uma receita para a intervenção.

O centro das preocupações do Serviço Social, ao repensar-se e


rever sua prática, foi assegurar sua contemporaneidade, levando-o
a enfrentar, juntamente com a sociedade, as questões da democracia,
da cidadania e dos direitos sociais (IAMAMOTO, 2007, p.235).

Também não se escolhe uma teoria social em


função dos problemas que serão encontrados,
para obter a melhor solução e assim buscar a
mudança do quadro social. Devemos e podemos
trabalhar para melhorar as condições de vida,
mas é impossível via qualquer profissão se
alterar estruturalmente uma sociedade.
Voltando assim a Yazbek, Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/esgotado-cansado-
cozy-noite-janela-4541685/

Cabe também assinalar que nos anos 80 começam a se colocar para


o Serviço Social brasileiro, demandas, em nível de pós-graduação, de
instituições portuguesas, e latino americanas (Argentina, Uruguai,
Chile), o que vem permitindo ampliar a influência do pensamento
profissional brasileiro nestes países. Também no âmbito da
organização e representação profissional o quadro que se observa
no Serviço Social brasileiro é de maturação (NETTO, 1996, p. 108-111).
Maturação que expressa na passagem dos anos 80 para os anos 90
rupturas com o seu tradicional conservadorismo, embora como bem
lembre o autor “essa ruptura não signifique que o conservadorismo
(e com ele, o reacionarismo) foi superado no interior da categoria
profissional” (p. 111). Pois, a herança conservadora e antimoderna,
constitutiva da gênese da profissão atualiza-se e permanece presente
nos tempos de hoje. Essa maturidade profissional que avança no início
do novo milênio, se expressa pela democratização da convivência de
diferentes posicionamentos teórico-metodológicos e ideopolíticos
desde o final da década de 1980. Maturação que ganhou visibilidade
na sociedade brasileira, entre outros aspectos, pela intervenção dos
assistentes sociais, através de seus organismos representativos,
nos processos de elaboração e implementação da Lei Orgânica da
Assistência Social - LOAS (dezembro de 1993). É também no âmbito
da implementação da LOAS, e de outras políticas sociais públicas, com
os processos descentralizadores que se instituem no país, no âmbito
dessas políticas, que observa-se a diversificação das demandas ao
profissional de serviço social (YAZBEK, 2009, p. 13)

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Embora a constituição de 1988 tenha


garantido finalmente a política de Assistência
Social como direito, as transformações
econômicas em âmbito mundial fizeram com
que esse processo fosse implantado tendo
como ponto negativo o desmantelamento do
Estado. Conforme Yazbek (2009, p. 13):
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/on-line-biblioteca-
educa%C3%A7%C3%A3o-livro-4091231/

É nesse contexto histórico, pós Constituição


de 1988 que os profissionais de serviço social, iniciam o processo
de ultrapassagem da condição de executores de políticas sociais,
para assumir posições de planejamento e gestão dessas políticas.
A conjuntura econômica é dramática, dominada pela distância entre
minorias abastadas e massas miseráveis. Não devemos esquecer
que nos anos 80 (a “década perdida” do ponto de vista econômico
para a CEPAL) a pobreza vai se converter em tema central na agenda
social, quer por sua crescente visibilidade, pois a década deixou um
aumento considerável do número absoluto de pobres, quer pelas
pressões de democratização que caracterizaram a transição. A
situação de endividamento (que cresce 61% nos anos 80), a presença
dos organismos de Washington (FMI, BANCO MUNDIAL), o consenso
de Washington, as reformas neoliberais e a redução da autonomia
nacional, a adoção de medidas econômicas e o ajuste fiscal vão
se expressar no crescimento dos índices de pobreza e indigência.
É sempre oportuno lembrar que, nos anos 80 e 90 a somatória de
extorsões que configurou um novo perfil para a questão social brasileira,
particularmente pela via da vulnerabilização do trabalho, conviveu com
a erosão do sistema público de proteção social, caracterizada por
uma perspectiva de retração dos investimentos públicos no campo
social, seu reordenamento e pela crescente subordinação das políticas
sociais às políticas de ajuste da economia, com suas restrições aos
gastos públicos e sua perspectiva privatizadora (cf. YAZBEK, 2004). É
nesse contexto, e na “contra mão” das transformações que ocorrem na
ordem econômica internacional mundializada que o Brasil vai instituir
constitucionalmente em 1988, seu sistema de Seguridade Social.

O trabalho do assistente social tem um efeito no processo de reprodução da força


do trabalho, que é a única mercadoria que ser colchoada em ação, ao realizar trabalho,
é fonte de valor, ou seja, cria mais valor que ela custou.
O assistente social é chamado nos dias atuais a atuar no âmbito dos conselhos de
políticas sociais (saúde, assistência social...) e de direitos da criança e do adolescente,
de idosos e de pessoas com deficiências. Os profissionais estão também contribuindo

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para a criação de formas de um outro consenso – distinto daquele dominante – ao


reforçarem os interesses de segmentos majoritários da coletividade. O assistente social
é, neste sentido, um intelectual que contribui, junto com inúmeros outros protagonistas,
na criação de consensos a sociedade.
Quando se apresenta a o “consenso” não falamos apenas em aceitar aquilo que
está posto: precisamos compreender que o consenso gira em torno de interesses das
classes fundamentais sejam dominantes ou subalternas.
Caro(a) aluno(a), estamos finalizando é preciso compreender que a medida em
que a história avança e se agravam os conflitos de classe, principalmente com o
fortalecimento da consciência da classe trabalhadora em luta por direitos, o debate
teórico-metodológico incorpora a teoria marxista e, por intermédio de lentes que
possibilitaram sair da aparência dos fenômenos e compreender a essência desse
modo de produção e de relações sociais, a categoria busca, a partir do movimento
de reconceituação e principalmente após a queda do regime militar, construir o que
denominamos de projeto ético-político profissional.

Isto está na rede


Leitura complementar 01 - O marxismo e seus rebatimentos no Serviço Social
– João Antônio de Paula
Leitura complementar 02 - Notas sobre Marxismo e Serviço Social, suas
relações no Brasil e a questão do seu ensino – José de Paula Netto
Disponível em: http://www.abepss.org.br/arquivos/anexos/o-marxismo-
e-seus-rebatimentos-no-servico-social-jose-paulo-netto-joao-antonio-de-
paula-201609020231020166010.pdf

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/equipe-empres%C3%A1rios-coopera%C3%A7%C3%A3o-2651913/

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AULA 12
BREVE REFLEXÃO ACERCA DO
MÉTODO ABSTRATO- CONCRETO

Olá, estamos nos aproximando do final da nossa


disciplina, e eu já estou sentindo a sua falta, porém
tenho certeza que não faltarão oportunidades de
convivermos mais.
Esta última aula é bem densa e exigirá de você
muita atenção, vou pedir que você siga o roteiro,
assistindo os vídeos e realizando as leituras
sugeridas, ok?
Pois o método parecendo complexo num
primeiro momento, aos poucos fará parte dos
conhecimentos que você foi adquirindo ao longo
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/nuvem-
chuva-plano-de-fundo-4820504/ do tempo.
Bem vamos lá!
Dentro das ciências sociais, o método geralmente é definido como sendo um caminho,
o qual deve ser percorrido pelo sujeito investigador para que o mesmo compreenda e
explique o seu objeto de estudo. Ainda a metodologia será definida como um conjunto
de técnicas escolhidas para a captação do objeto de estudo.
Dentro da tradição marxista não há diferença clara entre método e metodologia, pois
ambas as palavras teriam o mesmo sentido. Na tradição acima mencionada (afora as
correntes de índole positivista), o método ou a metodologia compreendem um conjunto
de técnicas necessárias para a apreensão da realidade, orientados por uma visão de
mundo, na qual busca-se as relações entre os determinantes de um fenômeno singular
no interior de uma totalidade social (universal) sempre em movimento. O método do
abstrato ao concreto (e isso é muito importante!) não é a busca de definições, mas
a busca das determinações presentes tanto na gênese como no desenvolvimento
processual de um dado fenômeno social.

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No tocante a questão dos objetos de investigação é interessante colocar que a


prática profissional em-si nunca é objeto de estudo; mas sim, podem sem ser objetos
de estudo: os objetos da prática profissional (saúde, habitação, criança e adolescente,
idoso, movimentos sociais etc.).

Isto está na rede


Antes de iniciar a aula, assista ao vídeo a seguir: MÉTODO DE MARX - Do
abstrato ao concreto.
https://www.youtube.com/watch?v=k9FUZpGD5N4

Um (1): o Real / o Concreto

O real ou o concreto é o que existe independente de nossa consciência, ou seja,


aquilo que é, queiramos ou não. O conjunto das relações sociais que encontramos
prontas (mas não acabadas) ao nascermos.
Trata-se do resultado das ações e do trabalho humano ao longo dos séculos, no
sentido de construção da essência humana, da nossa humanidade; portanto, é resultado
e fruto do desenvolvimento de nossa natureza humana: empurrando (humanizando)
as barreiras naturais (transcender os obstáculos externos), transformando a natureza
fora de nós e, desta forma transformando a nós mesmos.
Trata-se das circunstâncias sociais em que vivemos, as quais herdamos das
gerações passadas, ou seja, que foram construídas por elas. Desta forma, o real
ou o concreto com que nos deparamos como fruto da ação e do trabalho humano,
também é resultado da consciência, de escolhas de teleologias, de liberdade destas
gerações passadas, limitadas pelas condições herdadas de suas gerações passadas.
Portanto, de geração para geração são transmitidas para outras gerações, o
mundo até aquele momento construído. Herdamos, pois, um mundo determinado pela
história passada, mas que também pode ser determinado por nós e que legaremos
às futuras gerações.

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Anote isso
O concreto é concreto, porque é a síntese de múltiplas determinações.

O real ou o concreto não se limita as relações econômicas, mas incorpora também


as relações políticas, culturais, religiosas, afetivas, enfim, todas as relações: ele é o
conjunto das relações sociais.
Como vimos, existe um papel da consciência neste processo de criação e de
construção da realidade humana através do processo que nos separa das outras
espécies animais, que é o modo como satisfazemos as nossas necessidades vitais,
através do trabalho humano, ou seja: as relações de produção e reprodução de nosso
ser. Contudo, a realidade humana ou o real é muito mais rico que qualquer consciência
individual, pois ele exprime certo nível de consciência social adquirida e acumulada
até aquele exato momento e que um indivíduo não consegue apropriar-se em 100%
de sua totalidade, mesmo que viva quinhentos anos estudando (o que é impossível ,
pois também há um limite fisiológico para a vida). O real ou o concreto, que por outro
lado, é mais rico que a consciência social, pois ele contém uma série de determinações
históricas e sociais, ainda não apreensíveis ou compreendidas pela consciência social
adquirida. Exemplo: a origem da vida, a sua finitude, o funcionamento da consciência
e do inconsciente, o acaso.
Em essência não conseguimos responder plenamente estas questões. O concreto
ou o real é, pois, muito mais rico e saturado de determinações. Mas é bom lembrar
que o real e o concreto não se reduzem ao ser social, mas compreende ele o SER
em sua totalidade (o qual se divide em orgânico e inorgânico). O ser social é apenas
uma parte do SER. Porém, o método do
abstrato ao concreto não se destina a
leitura do ser natural, mas apenas do ser
social (incluindo aí, a sua relação com o
ser natural que ele também o é; e, com
outros elementos da natureza).
Existe uma polêmica dentro da
tradição marxista acerca desta questão.
Figura 78- Espaço Tempo
Adotamos as considerações feitas por Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/buraco-de-minhoca-
espa%C3%A7o-tempo-de-739872/

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Lukács (1979), de que tal método se destina só a leitura do ser social, tal qual a
proposta de seu criador, polemizando assim, com o conteúdo do livro Dialética na
Natureza de Engels, em que tal método serviria também para estudos na área da
química, matemática, genética etc.

Dois (2) – Investigação

A representação plena é a representação


empírica, sobre a qual se dá a investigação
(resultante da apropriação da vivência
no mundo) e aparente que temos de um
fenômeno social, ou seja, de uma singularidade
situada no interior da totalidade social. Tal
representação se apresenta para nós de
forma confusa, caótica, não explicável em
Figura 79- mente humana
Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2017/09/03/09/48/head- essência. Temos consciência que estamos
2709732__340.jpg
diante da aparência de tal fenômeno, o qual
carece de estudo, para que possa ser entendido e explicado. Contudo, é dela que devemos
partir (daí a não negação da aparência e do senso comum), pois a aparência sinaliza
a essência, ou seja, ela contém a essência ainda não entendida, ainda não explicada.
Em tempo: na linguagem marxiana e marxista a palavra negação não significa
“apagar”, mas superação. Afirma Marx, no “O Capital”, que, se aparência e essência
coincidissem, toda ciência seria supérflua.

Três (3) – Mediações

O método chama-se do abstrato ao concreto porque ele tem início em questões


elaboradas a partir de nossa representação plena do fenômeno; apesar de nossa
representação ter sua origem no real, no concreto, no interior do ser social, o qual contém
além do mundo material construído, a consciência adquirida até aquele momento.
O real ou o concreto é o mundo no qual nos movemos, trabalhamos, amamos,
criamos, lutamos e que é um mundo de contradições, de interesses antagônicos entre
os homens, sejam: econômicos, políticos, religiosos, meio ambiente, etc.
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E é para esta representação plena (que se constitui numa


abstração feita pelo pensamento) que é a consciência
se pergunta sobre as determinações do fenômeno, no
sentido de sua origem no contexto histórico-social e de
seu desenvolvimento processual no interior da história
do ser social.

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/
mulher-triste-estima-d%C3%BAvida-
Isto acontece na prática arte-1048899/

Atitude Filosófica no Serviço Social:

Exemplo: o fenômeno social da fome – o que é que determina que exista


hoje fome no mundo? O que determina, do ponto de vista da organização
econômica e política da sociedade tal fenômeno? O que determina a aceitação
da fome como um fato natural e não como um fato social? A fome é um fato
só da sociedade capitalista ou sua origem é anterior? Se é anterior, o que
determinou o seu aparecimento na sociedade e por que continua existindo na
atual estrutura e conjuntura social? Como era e como é o cenário social na qual
se processou tal questão? Quais atores sociais são mais suscetíveis a passar
fome? Por quê? Como eles se relacionam com os outros atores sociais? Quais
são os objetivos, interesses dos diversos grupos e classes que compõem a
sociedade? Qual o impacto disto sobre a fome? Como se comportam os grupos
ou classes sociais diante de tal fenômeno? A humanidade luta contra a fome?
De que forma? Quais são os grupos ou classes sociais que se comportam
com maior indignação diante deste fato? O que eles propõem? O que os outros
propõem? O que fazem?
O que o Estado propõe?
É eficiente ou não? Por
quê? Quais são as diversas
explicações filosóficas,
econômico-políticas,
religiosas, antropológicas,
sociológicas dadas até
hoje sobre a questão da
origem e existência da
fome no mundo? Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/vagabundo-roma-ciganos-
recipiente-531201/

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Observe-se, que encontrar as determinações é um ato de


estudo, que sempre se dirige para buscar repostas, não no
céu estrelado, no brilho das estrelas, mas, na terra, no rilho
dos olhos do mais vil dos mortais, ou seja, as respostas
estão no próprio concreto ou real, segundo este método. Mas
é preciso superá-lo pela abstração, pelo uso da consciência,
pela reflexão e posteriormente, pela ação concreta.
Através deste método procura-se totalizar o conhecimento
que se acha fragmentado na sociologia, na psicologia, na
economia, na teoria política, na filosofia, etc. e esta forma
de trabalhar no sentido da construção de uma ontologia do Fonte: https://pixabay.com/
pt/illustrations/livro-leitura-
hist%C3%B3rias-literatura-1019740/
ser social (conhecimento totalizante do ser social).
Observe-se também que sem o hábito do ato de estudo, não é possível nem formular
questões para encontrar e relacionar os diversos determinantes, quanto mais encontrá-los.
Sem a representação plena já é uma abstração, a elaboração destas perguntas e
outras para o real se constitui num grau mais elevado de abstração (ou num nível maior
de reflexão), as respostas encontradas (chamadas de determinantes ou condicionantes),
a inter-relação entre os diversos determinantes, constituir-se-á num grau mais elevado
de abstração (reflexão) e, portanto, de explicação.
As explicações da dinâmica da processualidade do real só podem ser encontradas
no mundo da abstração, que é uma forma de superação. E é só superando o concreto
pela abstração, que se pode retornar ao concreto para explica-lo na forma de concreto
pensado (que não é o próprio, mas uma explicação do concreto).
Quando se tenta encontrar os determinantes (e quanto mais determinantes
encontrados, mais profundo é o estudo), se está buscando as particularidades
do fenômeno, ou seja, o que particulariza aquele fenômeno singular no interior da
totalidade (universal).
Encontrar os determinantes ou as particularidades é o mesmo que encontrar as
mediações. E as mediações nada mais são do que os elementos (categorias explicativas)
que permitem explicar as relações entre elementos contrários: o singular e o universal.
Encontrar as particularidades ou os determinantes ou as medicações é nada mais do
que tentar entender um fato singular inserido no conjunto das relações que compõem
o social. É tentar buscar uma explicação não isolada, fragmentada, natural; mas sim,
totalizantes no interior da processualidade (dinamicidade) do ser social.

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Quatro (4) – Concreto Pensado

Encontrar as determinações é um processo analítico, uma vez, que se “decompõe” as


partes que compõem a representação plena. Contudo, a medida que se vai encontrando-
as, elas devem ir sendo relacionadas entre si, a fim de se encontrar as devidas conexões,
e, isto é, um processo de síntese (compor um conjunto: o concreto pensado). Desta
forma, este método é ao mesmo tempo e concomitantemente, analítico e sintético.

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/mulher-menina-bal%C3%A3o-1172718/

Enquanto o item (3) consiste no processo de investigação este item, (4) corresponde
ao processo de exposição: a exposição dos resultados da investigação, no sentido, de
exposição de uma aproximação a essência, de como o fenômeno singular se insere na
totalidade histórica e social ou no conjunto das relações sociais (1). Só que é logico,
o concreto pesado, como já foi dito, não é concreto: é apenas a explicação de um
fenômeno singular e de sua relação com o universal (1), através da apreensão de um
campo de mediações (3).

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E assim, o concreto pensado (4), que não é


o concreto (1), incorporará o concreto (1), pois
o concreto (1) enquanto ser social é trabalho
(objetivação do ser social), sociabilidade,
consciência, teleologia e liberdade.
É bom frisar que o encontro e a relação de
determinantes (3), requer o uso de técnicas
investigativas. As técnicas aqui só podem ver
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/homem-silhueta-
bal%C3%A3o-4401241/
entendidas, como direcionadas, orientadas por
valores, por uma visão de mundo.
O concreto pensado não traduz, por fim, o conjunto total das relações sociais, mas
sim, o conjunto das relações sociais do fenômeno estudado, das suas relações, no
interior do conjunto total das relações sociais num determinado momento histórico
e espaço geográfico.
É através da abstração que é possível se retornar ao concreto, o mundo em que
vivemos, trabalhamos, amamos, lutamos, a fim de que esta leitura que já é parte do
ser social (1), permita estabelecer as estratégias e táticas a serem utilizadas.
Como pode-se observar é impossível nesta visão de mundo separa-se ação e
pensamento, teoria e ação, sujeito investigador e objeto a ser investigado, pois tanto,
pensamento e ação processam no interior do ser social.
Isto é práxis. Como afirma Marx em sua “X Tese Contra Feuerbach”: os filósofos
até agora explicaram o mundo, cabe agora transformá-lo.
Chegando ao final, e tendo você ampliado seu conhecimento acerca do método
concreto-abstrato, sugiro que volte e assista novamente ao vídeo apresentado no início
da aula. Assim, você terá a possibilidade de fixar seu conhecimento.
Vamos lá? Bom vídeo.

Isto está na rede


Antes de iniciar a aula, assista ao vídeo a seguir: MÉTODO DE MARX - Do
abstrato ao concreto.
https://www.youtube.com/watch?v=k9FUZpGD5N4

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Isto está na rede


A Dialética do Abstrato e do Concreto em O Capital de Karl Marx
https://www.marxists.org/portugues/ilyenkov/1960/dialetica/index.htm

Chegamos ao final de mais uma aula e da nossa disciplina de Fundamentos


Filosóficos do Serviço Social, certamente este assunto está longe de ser esgotado,
pois a todo o momento ele sofre contribuições e mudanças, exigindo cada vez mais
o protagonismo da sua parte, vamos lá, exercite seu protagonismo e proatividade,
busque, pesquise, questione!
Foi um prazer participar do seu processo formativo!
Grande abraço

Isto está na rede

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/homem-cabe%C3%A7a-silhueta-cor-sujeira-3591573/

LEITURA OBRIGATÓRIA

A natureza do conhecimento orientador da prática do assistente social frente


aos desafios do cotidiano (Divanir Eulália Naréssi Munhoz).
https://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao/article/view/20/17

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AULA 13
SOCIALIZAÇÃO: INDIVÍDUO,
SOCIEDADE E CULTURA

Figura 80- autoconhecimento


Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2017/10/04/22/38/self-knowledge-2817857_960_720.jpg

Olá, meu querido e minha querida aluna, como você está se sentindo com relação
as aulas apresentadas? Espero que eu esteja conseguindo contribuir com o seu
processo formativo.
Peço a você neste momento que faça uma pausa e se faça as seguintes perguntas:
quem sou eu, enquanto ser social inserido(a) na sociedade, como se dão as minhas
relações, qual a contribuição que estou deixando para a sociedade da qual faço parte?
Já apresentei em outras oportunidades que o homem nasce já inserido em um
meio social existente onde suas normas e regras já vêm sendo transmitidas através
de várias gerações pelas inter-relações sociais, portanto, ele é um ser social que
incorpora para si as normas, valores familiares e sociais vigentes.

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Segundo Strey (2002, p.58), “o homem é também um animal, mas um animal que
difere dos outros por ser cultural”, pois é por meio dos relacionamentos sociais (das
atividades em grupo) que se apreende conceitos, regras e hábitos que formam a
cultura do meio em que vivemos. Ainda de acordo com Strey (2002), o ser humano
se desenvolve num contexto multicultural formado pela influência de várias culturas
proporcionando uma troca entre os meios sociais, pois a cultura varia de um grupo
para outro mesmo compondo uma única sociedade, por exemplo, os moradores de
uma zona rural e os moradores dos centros urbanos têm culturas diferentes com
suas próprias crenças e valores e que podem se inter-relacionar propiciando uma
troca de culturas.

Anote isso
A personalidade determina o significado que atribuímos às nossas experiências,
à nossa existência, ao mundo e a nós próprios, tornando-nos pessoas únicas,
a partir do nosso padrão de comportamento.

O viver em sociedade é uma necessidade humana, o ser humano precisa se relacionar


com os outros para se reconhecer como humano, pois ele só poderá ter a consciência
de si mesmo a partir do momento em que tenha o outro para se comunicar, aprender,
ensinar, dividir suas necessidades e solucionar os problemas. Sendo assim, podemos
entender que a forma como se organiza o pensamento e o comportamento do indivíduo
vem do contato que ele tem com o outro, e seu comportamento expressa a cultura
da sociedade em que ele vive.
O contato social é a base da vida social. É o primeiro passo para qualquer
associação humana

É a reciprocidade de ações entre indivíduos, por meio das quais as


pessoas se aproximam ou se dissociam. O aspecto mais importante
da interação social é que ela modifica o comportamento dos
indivíduos envolvidos como resultado do contato e da comunicação
que se estabelece entre eles. Por exemplo, se alguém senta ao lado
de outra pessoa no ônibus, mas ambos não conversam, não está
havendo interação social (OLIVEIRA, 2002, p.30)

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Ainda de acordo com Oliveira (2002, p.30), “[...] a interação assume formas diferentes.
A forma que a interação social assume o que se chama de relação social”. Podemos
encontrar vários tipos de relação social, como por exemplo: relação pedagógica,
econômica, política, religiosa, cultural, familiar, etc. A forma mais típica de interação
social é aquela em que há influência mútua entre os participantes.
Alguns autores falam em interação social quando apenas um dos elementos
influencia o outro. Isso acontece quando um dos polos da interação está representado
por meio de comunicação apenas físico, como a televisão, o cinema e o livro. Assim,
quando um indivíduo assiste ao filme, ele pode ser influenciado pela história, mas
não a influencia. Ocorre, nesse caso, uma interação não-recíproca, ou seja, apenas
um dos lados influencia o outro.
É importante ter em mente que a cultura não é algo isolado é composta por um
conjunto de fatores integrados de comportamentos aprendidos, que são compartilhados
por todos os membros da sociedade. Portanto a cultura se refere ao modo como
um grupo social vive, a forma como inclui todas as suas formas de expressão, com
suas linguagens próprias (a literatura, a música, as artes plásticas etc.), as várias
formas que se manifestam no modo de vestir das pessoas, em seus costumes, em
seus padrões de comportamento, os seus rituais religiosos, as suas ideias, crenças
e princípios orientadores da vida (como as teorias científicas, as doutrinas religiosas
e as ideologias).
A cultura é constituída de elementos que contribuem para a organização da vida
cotidiana, como os estilos de vida familiar e as atividades de lazer que caracterizam nosso
ambiente de convivência e dos mecanismos sociais desenvolvidos para a resolução
dos problemas da vida coletiva, como as formas de organização da vida escolar, da
política ou da produção da vida material. A cultura envolve tanto aspectos concretos
como aspectos abstratos, e é formada a partir desses dois fatores, o mundo das
ideias, dos simbolismos e o mundo
concreto da produção material para
criar formas de organização social
que possibilitem a cooperação entre
as pessoas no sentido de atingirem
seus objetivos.
A cultura varia de acordo com as
necessidades de cada grupo social, Figura 81- Grupo Education
Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/pessoas-grupo-multid%C3%A3o-equipe-309097/

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por exemplo, existia antigamente uma tradição numa região do norte do Japão
onde as pessoas que completavam 70 anos de idade tinham que subir para o Monte
Narayama para morrer. Tratava-se de uma lei coletiva que garantia a sobrevivência
do povo local, que era muito pobre e vivia no limite de sobrevivência. Era um costume
aprovado por todos – os mais velhos aceitavam o seu destino e subiam o monte em
silêncio, onde morriam de fome e em solidão. Visto hoje, parece uma regra muito
cruel, porém, é difícil julgar porque não podemos nem imaginar as condições nas
quais estes povos viviam.
Já os esquimós tinham uma tradição de oferecer a esposa para passar a noite
com o visitante. Esse costume data da época em que estes povos viviam em grande
isolamento e em grandes distâncias entre uma tribo e outra – nessas circunstâncias,
a tradição citada garantia a diversificação genética da tribo e a protegia contra o risco
de incesto dentro do povo local. 
Cada povo, em cada tempo, em cada realidade, se organiza culturalmente para
garantir a sua sobrevivência, cria suas regras e padrões de comportamento. Se você
parar para observar, verá isso inclusive no nosso meio social.

[...] vale lembrar que a ação humana é coletiva, por ser exercida como
tarefa social, pela qual a palavra toma sentido pelo diálogo. Ninguém
pode ser considerado verdadeiramente solitário, nem mesmo o
ermitão, porque sua escolha de se afastar faz permanecer a cada
momento, em cada ato seu, a negação e, portanto, a consciência e a
lembrança da sociedade rejeitada. Seus valores, erigidos contra os da
sociedade, se situam também a partir dela. A recusa de se comunicar
é ainda um modo de comunicação (ARANHA, 2003, p.25).

Para dar sentido à vida em sociedade, é necessário que existam regras sociais,
formais ou não, para que haja organização. Regras que se constituem dos valores
criados e transmitidos culturalmente. Essas regras refletem os valores predominantes
da cultura de uma sociedade e são elas que permeiam as ações e atividades realizadas
pelos indivíduos que a compõem. Esse processo é chamado de socialização.
E o processo de socialização que nos torna autoconscientes fazendo com que
possamos ser capazes de interagir e lidar com o mundo à nossa volta.

A cultura – palavra e conceito – é de origem romana. A palavra ‘cultura’


origina-se de colere – cultivar, habitar, tomar conta, criar e preservar –
e relaciona-se essencialmente com o trata do homem com a natureza,
no sentido do amanho e da preservação da natureza humana. Como

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tal, a palavra indica uma atitude de carinho cuidado e se coloca em


aguda oposição a todo esforço de sujeitar a natureza à dominação
do homem. Em decorrência, não se aplica apenas ao amanho ao solo,
mas pode designar outrossim, o ‘culto’ aos deuses, o cuidado com
aquilo que lhes pertence. Creio ter sido Cícero quem primeiro usou
a palavra para questões do espírito e da alma. Ela fala de excolere
animum, cultiva o espírito, e da cultura animi no mesmo sentido em
que falamos ainda hoje de um espírito cultivado, só que não mais
estamos cônscios do pleno metafórico de tal emprego (ARENDT,
1972, 265, grifos do autor).

A socialização está ligada à construção da identidade pessoal e da identidade de


grupo social (religião, família, amigos etc.) e através desse processo conseguimos nos
identificar enquanto seres humanos pertencentes a determinado meio social e é onde
aprendemos as regras para conviver no meio social, pois é, por meio da socialização
que aprendemos e incorporamos os hábitos, os costumes, valores e normas da vida
cultural de nossa sociedade e que irão compor nossa identidade.
Quanto às relações sociais posso dizer que elas são responsáveis pela configuração
dos papéis sociais que assumimos durante nosso desenvolvimento e desde o
nascimento já temos alguns papéis. Com o tempo, de acordo com nossas experiências
e relacionamentos, adquirimos novos papéis que são definidos pela cultura da sociedade
onde vivemos com a intenção de garantir as relações vigentes.
Como diz Lane (1994, p. 23).

[...] se questionarmos o quanto a nossa história de vida é determinada


pelas condições históricas do nosso grupo social, ou seja, como estes
papéis que aprendemos a desempenhar foram sendo definidos pela
nossa sociedade, poderemos constatar que, em maior ou menor
grau, eles foram sendo engendrados para garantir a manutenção
das relações sociais necessárias para que as relações de produção
da vida se reproduzam sem grandes alterações na sociedade em
que vivemos

A sociedade é composta por vários grupos menores que transmitem as regras


culturais responsáveis pela manutenção da ordem social. Os grupos sociais que
participamos possuem regras e normatizações que garantem sua manutenção,
estabelecem ordem nas relações entre as pessoas que o compõem e são elas que
determinam a formação dos papéis sociais.

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Anote isso
Quantos papéis assumimos ao longo da nossa vida? Se pensarmos sobre
nossa trajetória de vida, vamos perceber que no processo de formação de
nossa personalidade passamos por infinitas experiências de socialização de
acordo com o nosso momento de vida.

A nossa posição na sociedade vem dos papéis sociais que adquirimos a partir
das relações sociais que travamos durante nosso desenvolvimento. O papel social
pode ser dividido em duas partes, o papel que socialmente é esperado de nós, e o
papel que assumimos internamente. Portanto, as relações sociais são de fundamental
importância no desenvolvimento da identidade de cada indivíduo. “A cultura, é, portanto,
um processo de autoliberação progressiva do homem, o que o caracteriza como um
ser de mutação. Um ser de, que ultrapassa a própria experiência” (ARANHA, 2001, p.70)

Anote isso
“A consciência individual do homem só pode existir nas condições em que
existe a consciência social” (LEONTIEV, 1978, p. 88 apud LANE, 1994, p.24).

A inserção do indivíduo na sociedade se dá por meio de duas instituições que são


fundamentais no desenvolvimento social, a família e a escola.
As primeiras relações sociais travadas pelo ser humano acontecem dentro da família
e é nela que temos o primeiro contato com os significados que regem o meio em que
estamos inseridos, portanto, ela é de grande importância para o nosso processo de
socialização. No período da nossa primeira infância é na família que iremos absorver
os primeiros simbolismos culturais da nossa sociedade que serão a base para o
desenvolvimento da socialização.

É de destaque a importância da família nessa fase primária da


socialização. Os relatos dos estudos de casos de crianças que
vivenciaram o isolamento social evidenciam o quanto essas crianças
foram incapazes de adquirir as habilidades humanas básicas e
tenderam a se parecer mais com os animais. É o caso de um menino

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encontrado em um bosque no sul da França, em 1800. ‘Ele estava


sujo, nu, era incapaz de falar e não aprendera a usar o sanitário. [...]
Nenhum pai ou mãe jamais o procurou. Tornou-se conhecido como
o menino selvagem de Aveyron. Um exame médico completo não
encontrou quaisquer anormalidades físicas ou mentais importantes.
Por que, então, o menino parecia mais animal que humano?’ (BRYM
et al., 2006, p. 106 apud PAPEL).

A instituição familiar é a primeira a nos apresentar as normas, a definir os direitos,


os deveres e os papéis sociais esperados de cada um, e é a partir daí também que
se apresentam as primeiras relações de poder.
Um exemplo disso se resume nas definições dos papéis entre os membros da família,
onde a autoridade fica centralizada no pai, a mulher fica numa posição de submissão
tendo apenas um pouco de autoridade sobre os filhos e, entre os filhos, o filho homem
com mais autoridade que a filha mulher, e o filho mais velho com mais autoridade que
o mais novo. É a estrutura familiar que garante que a criança internalize a figura de
“autoridade” necessária para reproduzir e manter as relações sociais vigentes.
Podemos citar, ainda, outros exemplos do nosso cotidiano:
“Homem que é homem não chora”
Quando um rapaz tem várias namoradas se diz que ele é “pegador”, “o bonzão”,
“garanhão”, já uma moça na mesma situação é dito que ela é “mal vista”, “piriguete”,
“que não é moça pra casar”.
O rapaz sai e volta de madrugada: “Se divertiu, meu filho?”. A mocinha sai e volta de
madrugada: “O que os vizinhos vão dizer de você, voltando a esta hora?”.

Figura 82- descobrir-se


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/psicologia-psique-m%C3%A1scara-gradinha-2706899/

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Além disso, as pessoas que compõem a família são representativas e importantes


afetivamente na vida do indivíduo fazendo com que tenham fundamental influência no
desenvolvimento da criança levando-a a se identificar e, portanto, buscar a ser igual
aos membros de sua família.
A escola também é fundamental na socialização do indivíduo ela é responsável pela
formação intelectual e cultural no sentido de preparar o indivíduo para o convívio social.
Porém, a educação sofre críticas, pois é vista por vários pesquisadores como uma
organização que reproduz e contribui para a manutenção de relações de dominação
social, ela colabora para que o sistema se mantenha estável.
Apesar dessas críticas suscitadas, o sistema escolar é responsável por transmitir
às novas gerações o conhecimento acumulado pela sociedade através dos tempos, o
que irá possibilitar o desenvolvimento de habilidades para auxiliar no relacionamento
com as outras pessoas, proporcionando o conhecimento para que desempenhem
formas civilizadas de relacionamento e de vida.
Para finalizarmos esta aula, é importante ressaltar que, desde o início do curso
somos suscitados a compreender e situar o contexto histórico, cultural e social, perceber
que não somos produtos apenas e sim agentes da história. Pois a vivenciamos e a
sentimos no momento presente, porém a questão posta é vivenciá-la e senti-la com
a capacidade de criticá-la (não somente no sentido pejorativo) e transformá-la, de
maneira que a roda da história tenha movimento. Como profissionais em formação
devemos ampliar o nosso olhar, passar do simples (comum) para o maior (crítico).

A partir do deslocamento deste olhar, da aquisição da atitude


permanente de indagação, o aluno deverá traduzir a apropriação
objetiva da realidade e incluir o seu olhar subjetivo. Então,
considerando o conhecido (a realidade sociopolítica, econômica,
cultural e institucional), o mesmo deverá ser capaz de reconhecer
o distanciamento entre a realidade desejada (marco referencial) e
a realidade existente (o conhecido e o analisado no cotidiano pelo
aluno) (LEWGOY; SCAVONI, 2002, p.06).

Para que você consiga fazer destes estudos uma experiência rica e significativa,
você poderá e deverá buscar reconhecer e desenvolver as competências necessárias
para atuação, saber realizar a análise e síntese dos conhecimentos adquiridos que
irão compor sua identidade profissional.

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Isto acontece na prática


A proposta básica para o projeto de formação profissional, a partir da qual foi
elaborada o projeto das diretrizes curriculares, analisa o Serviço Social como
uma das formas de especialização do trabalho coletivo, parte da divisão sócio
técnica do trabalho. Assim, o desvendamento de seu significado sócio-histórico
implica analisá-lo no quadro das relações entre as classes sociais e destas
com o Estado, no âmbito dos processos de produção e reprodução da vida
social. Neste final de século, nos marcos da globalização a profissão vem
sendo afetada pelas profundas transformações que processam no mundo
da produção, na esfera pública e no campo da cultura. (IAMAMOTO, 2007,
p.262, grifo do autor).

Enfim, é importante que você tenha sempre em mente a partir de agora:

O Serviço Social tem também um efeito que não é material, mas


é socialmente objetivo. Tem uma objetividade que não é material,
mas é social. Por exemplo, quando o assistente social viabiliza
o acesso a um óculos, uma prótese, está fornecendo algo que é
material e tem uma utilidade. Mas o assistente social não trabalha
só com coisas materiais. Tem também efeitos na sociedade como
um profissional que incide no campo do conhecimento, dos valores,
dos comportamentos, da cultura, que, por sua vez, têm efeitos reais
interferindo na vida dos sujeitos. Os resultados de suas ações existem
e são objetivos, embora nem sempre se corporifiquem como coisas
materiais autônomas, ainda que tenham uma objetividade social (e
não material), expressando-se sob a forma de serviços (IAMAMOTO,
2007, p.67-68, grifo da autora)

Sendo assim, quando nos propomos a conhecer e analisar a profissão isto supõe
abordar ao mesmo tempo tanto os modos de atuar quanto de pensar que foi incorporado
pelo profissional, atribuindo visibilidade às bases teóricas, históricas e filosóficas
assumidas pelo Serviço Social na leitura da sociedade e na construção de respostas
à questão social ao longo do tempo.
As transformações da sociedade sejam elas econômicas, sociais, políticas ou
culturais estão sofrendo alterações constantes, o que está levado a alterações e/ou
produzindo novas necessidades sociais, o que acaba gerando também novas demandas

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às diversas categorias profissionais, e algumas vezes trazendo até novas atribuições


a algumas delas.

Anote isso
Para que não sejamos arrastados
ou sufocados pelos problemas que
nos cercam é necessário que todos
participemos efetivamente com o saber
com o querer e com o fazer na construção
de um caminho em que o poder estará
distribuído entre todos (GANDIN, 1994).
Figura 83- Homem na seta
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/seta-
dire%C3%A7%C3%A3o-dist%C3%A2ncia-1020242/

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AULA 14
REFLEXÕES FILOSÓFICAS
GERAIS SOBRE O COTIDIANO

Figura 84- Mulher e espelho


Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/espelho-mulher-silhueta-%C3%A0-procura-4758692/

Vamos refletir sobre a vida no cotidiano? Como estamos ao longo da disciplina,


realizando reflexões sobre o homem a partir das bases filosóficas, nesta aula não
será diferente.
Para iniciarmos nosso momento, trago uma reflexão apresentada por Cortella (2013):

É nessa hora que precisamos nos educar reciprocamente para


recusar o biocídio. Recusar o biocídio! Venho usando com frequência
esta ideia, de modo a expressar uma adesão consciente à rejeição
das mortes cotidianas: a morte paulatina da fraternidade, a morte
insidiosa da sacralidade presente no Outro, a morte vagarosa do
pertencimento à Vida em suas múltiplas manifestações, a morte
da sexualidade liberta e ofegante. Pequenas mortes no dia a dia:
distraídos, admitidos que faleçam nossas rejeições ao biocídios
catastróficos (CORTELLA, 2013, p. 15).

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A partir da leitura da citação acima, te pergunto: você conseguiu compreender o


significado da palavra biocídio? Foi possível entender a dimensão ampla e complexa
desta terminologia, apontada pelo autor.
O biocídio, trata daquilo que “morre” no ser humano enquanto ele ainda vive. Reflexo
da relação com o mundo e com ele mesmo. A soma de angústias, violação dos seus
direitos, decepções etc.
Para você, futuro(a) Assistente Social, poderá se deparar por diversas vezes com
pessoas que estão se “esvaziando”, “esvaziadas”, “violadas”, e em alguns momentos
“mortas em vida”.
Como o Assistente Social pode se munir de conhecimentos necessários para que
possa auxiliar o usuário em seu processo reflexivo, para que possa “voltar a vida”,
para que possa bem viver?
Considerando os apontamentos acima, o que você, enquanto futuro(a) Assistente
Social, entende por bem viver? Pois compreender o sentido de bem viver auxiliará você
na condução das estratégias a serem adotadas no processo de intervenção profissional.

Bem viver! O que seria isso? Não é, claro, uma vida ostentatória e fútil;
não é, também, o acúmulo obsessivo e tolo que esquece ser banal a
posse sem partilha ou o poder ser generosidade.
Bem viver, é poder viver as inúmeras dimensões da nossa existência
– Família, Trabalho, Amizade, Cidadania, entre outras – sem admitir,
passiva ou ativamente, a dissonância e a desproteção na harmonia
que afasta o sofrimento (pelo limite vivido) e a culpa (pela suposta
impotência) (CORTELLA, 2013, p. 20).

Ficou mais claro para você a compreensão de bem viver? Você conseguiu estabelecer
a relação entre o início da nossa aula, onde apresentei a partir do filósofo Mário Sergio
Cortella a questão do biocídio? Lembrando que o biocídio consiste na “eliminação de
variadas formas de Vida, inclusive, claro, a nossa. Extinção em massa, abreviação das
condições vitais e, sem menos importância, a erradicação de Futuro” (2013, p. 35).

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14.1 RE-ORGANIZANDO O EU NA VIDA COTIDIANA

Uma das saídas para que o homem


moderno se liberte do vazio, da solidão,
da ansiedade e de outros dilemas que
o rodeiam é a recuperação e/ou a
reelaboração da “consciência de si”. O
homem deve realmente ser ele mesmo e
sentir-se como o sujeito da sua história.
Sujeito entendido por Roudinesco & Plon
como: “... termo empregado para designar
ora um indivíduo, como alguém que é
simultaneamente observador dos outros e Figura 85- escada na mente
Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2020/01/11/10/09/

observado por eles, ora uma instância com


psychology-4757120_960_720.png

a qual é relacionado um predicado ou um atributo” (1998, p.742). Ou seja, perceber


ao mesmo tempo a construção do mundo que o cerca e perceber-se também como
um construtor deste mundo em meio ao demais, e que ele é o principal construtor
de sua própria história.
Numa época de combatividade individual onde o outro pode se tornar o “pior
inimigo”, onde o fracasso de um resulta na conquista do outro. Onde este sentimento
de alegrar-se com sua própria prosperidade, sem levar em conta o que o outro sofre
é ocultado pelo ingresso daquele em organizações assistenciais (clubes, instituições
beneficentes). Muitos procuram artificialmente serem simpáticos, estimados e
demonstrarem publicamente que “fazem o bem”, ajudam aos que precisam, muitas
vezes para autopromoção e satisfação do ego.
Vivemos em uma realidade onde idosos são por algumas vezes “descartados”,
desvalorizados, abandonados, violados em seus direitos, o que pode causar um conflito
interior, pois antes este homem que era imprescindível ao mercado, era produtivo perante
o sistema, hoje é considerado um estorvo; antes era o mais querido e requisitado, hoje
“quem sou eu?” Pergunta-se ele.
Muitas pessoas chegam ao final de suas vidas sem saber quem foram realmente,
não conseguem mensurar a contribuição para a sociedade. Muitas pessoas passam
a vida toda sem saber se viveram ou não uma vida autêntica. Pois a autenticidade
implica em ser sujeito de si, de seus pensamentos próprios e de seus sentimentos.

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Hoje se nota uma compartimentalização de valores e metas o que acaba


desestruturando a personalidade do homem. Sou razão ou emoção? May exemplifica
como hoje se percebe esta compartimentalização de valores: “[...] a ‘razão’ funciona
quando estuda, a ‘emoção’ quando se visita uma pessoa amiga, a ‘força de vontade’
quando se prepara para um exame, os deveres religiosos, nos enterros e no domingo
de Páscoa” (MAY, 1987, p.44, grifos do autor).
Muitas pessoas agem como se suas vidas fosse um “guarda-roupa”, onde as
roupas são escolhidas de acordo com a ocasião a ser vivida. O que deveria haver é
uma inter-relação entre os valores.
O homem vive uma fase da história onde sugere Nietzsche que, para reencontrar
o novo ponto de apoio é necessário a “... reavaliação de todos os valores (...) eis a
fórmula para o ato de derradeira autoanálise da humanidade...” (NIETZSCHE apud
MAY, 1987, p.46).

Anote isso
O Assistente Social, dentro de seu processo formativo precisa se dedicar ao
estudo do ser humano e suas relações, considerando que tais conhecimentos
que serão necessários no atendimento direto ao usuário e suas famílias.

Percebe-se atualmente uma perda


no valor da dignidade humana. Marx diz
que o homem está sendo desumanizado,
Nietzsche expõe que vivemos segundo
uma moralidade de escravos e Kafka
demonstra que o homem literalmente
perdeu a própria identidade, (MARX
apud MAY, 1987, p. 49) juntamente a eles
Fromm (1983) observa a perda do EU e Figura 86- máscaras
Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2019/03/07/04/53/
perception-4039508_960_720.jpg
a substituição deste eu por um pseudo-
eu, onde o homem vai tornando-se um “’estranho para si mesmo’” (MAY, 1987, p.50).

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Quando Marx fala de um homem desumanizado, ele percebe isso pela ótica das
relações econômicas, onde as relações humanas têm suas bases firmadas nas
mercadorias e no processo de produção:

No capitalismo, enquanto sistema produtor de mercadorias, (...) o


processo de produção domina o homem e não o homem o processo
de produção e, isto é considerado pela consciência burguesa como
algo necessário, natural, quanto à própria necessidade do trabalho
produtivo, útil, concreto (MARX apud WAMBIER, 1996, p.121).

Sendo este homem “escravo” do processo de produção, e a relação de poderio


sendo incutida pela classe burguesa, chega-se ao que Marx chama de fetichismo, que
são as “... relações entre os homens, que assumem a forma de relação entre coisas
[...] (MARX apud WAMBIER, 1988, p.120)”.
Esta relação burguesia X proletariado (já estudado em outras aulas) deixa claro
que nenhuma das duas classes apresentam sinais de autenticidade, pois a burguesia,
ilude-se com a ideia de uma “soberania nata” sobre os demais e o proletariado muitas
vezes não percebe que está sendo instrumentalizado e assim submete-se. Ambos
caracterizam-se como inautênticos, porque renunciam a luta pela plenitude do ser
que realmente são.

Ora, se o fetichismo é alguma coisa exterior ao homem, uma força


estranha, onde os objetos aparecem como que dotados de vida própria;
a alienação, por outro lado compreende o processo através dos quais
os indivíduos, grupos ou uma sociedade se tornam ou permanecem
alheios, estranhos, seja em relações aos resultados ou produtos de
sua atividade e a própria atividade si, à natureza na qual vivem, aos
outros seres humanos e a si mesmos, diante das possibilidades
construídas historicamente pelo gênero humano. [...] O fetichismo é
o resultado da alienação, enquanto estranhamento diante do mundo
dos homens e a alienação é o resultado da separação entre existência
e essência, a qual necessariamente, produz um estranhamento diante
das coisas, do mundo, de outros homens (WAMBIER, 1996, p.121).

Anote isso
ESSÊNCIA- É o núcleo básico, conjunto de características que fazem com
que uma coisa seja o que ela é; é o que define e específica a natureza dessa
coisa. A essência de um ser é aquilo que é fundamental e imprescindível para

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que ele seja o que é, em sua especificidade e identidade, distinto de outros


seres (SEVERINO,1994, p.76).

Destaca-se, então a importância da


autoconsciência, ou seja, é necessário
ao homem “... um forte senso de
identidade pessoal - para relacionar-se
plenamente com a natureza, sem ser por
ela absorvido” (MAY, 1987, p.61).
Como vimos a autoconsciência não
nasce de repente, ela é fruto de todo um
processo que tem início na infância e se
prolonga até a idade adulta (o que varia
de pessoa para pessoa).
Esse processo ao iniciar recebe o
nome de individuação e significa: “[...] o
processo crescente de desprendimento
do indivíduo de seus laços originais
[...]” (FROMM, 1987, p.29), ou seja,
o rompimento dos seus vínculos Figura 87- máscaras
Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/preto-e-branco-p-b-arte-
arrepiante-3470618/
primários. Estes vínculos primários são
estabelecidos em nossa infância (com nossos pais, avós e todos aqueles que cuidam
de nós), onde ainda há a ausência de individualidade. Os cuidados primários fornecem
ao ser humano segurança, pois se tem nos pais e naqueles que nos rodeiam um
porto seguro. Contudo, este é um elo que ainda não nos permite irmos muito longe
por ideias próprias.
Para iniciar a explicação do rompimento desses vínculos primários e início do
processo de individuação utilizaremos o exemplo de uma pessoa que em luta para
libertar-se da dependência materna numa noite sonha e relata posteriormente: “Eu
estava num barquinho preso a um barco maior. Navegávamos no oceano, quando
enormes ondas surgiram, desabando sobre meu barco. E perguntei a mim mesmo
se ele continuaria ainda preso ao barco maior” (MAY,1987, p.71).
Essas ondas simbolizam o início do processo de individuação, onde se começa a
romper tais vínculos, que na maioria das vezes tem seu ápice na adolescência, quando o

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indivíduo começa a ter consciência de si,


quando percebe que “o mar é bem maior
que aquele em que o barco navega” e que
é possível percorrê-lo, e ainda, que o seu
barco que agora está preso à outro tem
forças para navegar sozinho; que mesmo
agarrado a outro barco ele é um barco
distinto, possui suas diferenças e possui
seu jeito próprio de navegar.
Da mesma forma que esta nova
Figura 88- Veleiro no mar
vastidão fascina e encanta, ela pode vir Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2014/10/12/19/28/sailing-
boat-485943_960_720.jpg

a assustar, fazer o indivíduo pensar que


assumir esta individualidade é muito mais difícil do que parece na realidade. O indivíduo
percebe então que quando possuía esses vínculos bem estabelecidos sua vida era
mais simples, porque as ideias e determinações vinham do outro. Contudo, esses
vínculos não se regeneram. E quando o indivíduo insiste em tal restabelecimento e
percebe que isso não ocorre, ele pode acabar tornando-se submisso, renunciando a
sua individualidade, a fim de tentar reviver tal época novamente.
Segundo Fromm (1987, p.38), “[...] a crescente individuação, significa crescente
isolamento, insegurança e, portanto, dúvida [grifo nosso] acerca do papel da própria
vida...”, gerando a cada dia um maior sentimento de impotência e insignificância,
podendo vir a causar crise de ansiedade. Mas isso não ocorre com todos os homens,
como falamos varia de pessoa para pessoa, como existem aquelas que acham que
ao romperem seu vínculo primário perderam a referência, seu porto seguro, existem
também as que enfrentam todos os desafios que a nova situação traz consigo, dando
continuidade ao processo de individuação, evoluindo gradativamente.
Como falamos, a autoconsciência é construída num processo e o rompimento dos
vínculos primários é apenas o primeiro passo para tal acontecimento.
Simultaneamente ao rompimento dos vínculos primários, a nossa autoconsciência
- a certeza de nós mesmos - vai se firmando e desenvolvendo na medida em que o
contato e convívio com outras pessoas vai se ampliando e intensificando-se, de modo
que ao aumentar nossa interação com os demais homens, temos a oportunidade de
perceber os diversos níveis de consciência que existem nos demais, indivíduos com
os quais nos relacionamos.

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Pois de acordo com May (1987, p.76): “... o tipo de relação que estabelecemos com
as pessoas demonstram o grau de consciência que possuímos.” Isso deixa claro que
o caminho para que o homem seja ele mesmo é o de buscar alcançar o mais alto
grau de consciência, o que está intimamente ligado às relações cotidianas que ele
vive e que o determina por ele estabelecida.
Powell sobre o homem e seus relacionamentos, apresenta que: “[...] aquilo que sou,
a qualquer momento de minha vida, será determinado por meus relacionamentos com
aqueles que me amam ou se recusam a me amar; com aqueles a quem amo e quem
me recuso a amar” (POWEII, 1987, p.43).
O autor expõe ainda que o que contribui para o crescimento do homem é justamente
a interação deste com os demais homens, mas não somente com aqueles homens
com os quais obteve-se êxito na relação, ou seja, aqueles que gostamos, mas também
com aqueles que não se conseguiu estabelecer uma relação de maneira prazerosa
como se esperava. Ambas as relações trazem para o homem a sua contribuição no
sentido de estar proporcionando uma reflexão sobre si mesmo, no interior desta relação.
Mas, para que as relações estabelecidas por este homem sejam realmente parte
contribuinte neste processo de busca do conhecimento de si mesmo, é necessário que
se tenha claro que as relações contribuem para esta construção e não devem ser elas
mesmas as “construtoras” desta. Ou seja, elas não devem decidir impor ao homem
como este deve agir, pensar, viver. Desta forma, o indivíduo estará num processo de
construção de uma “pseudoconsciência”, uma falsa ideia de si mesmo.
Isto não é difícil de se perceber atualmente. Fromm (1983) traz sua contribuição
quando cita em sua obra o pseudopensamento, que é quando a opinião tida pelo
indivíduo “parece” resultar do seu próprio raciocínio, mas na realidade inconscientemente
ele adotou a opinião de outrem, ou seja, sua opinião é inautêntica.
Realmente não deve ser esta a contribuição que
se anseia das interações estabelecidas, porque o
indivíduo “... cresce na medida que escolhe seu
caminho conscientemente... [grifo nosso]”
(MILL apud MAY, 1987, p.77). E a partir do
que o homem vê, ouve, vive e sente,
ele pode “criar-se a si mesmo”,
com aquilo que o individualize e
o caracterize como “o homem” e Figura 89- grupo de pessoas, comunidade
Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2016/07/30/08/19/head-1556566_960_720.png

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não “mais um homem”, como se este fosse


produzido em série, como objetos.
Todavia, “... é impossível citar o exemplo de
uma pessoa inteiramente crescida, porque
cada um de nós deve crescer na direção de
sua própria pessoa, e não tornar-se ‘como’
uma outra pessoa” (POWELL,1987, p.29).
Então, se pergunta: como se percebe a
autoconsciência? Diz-se que é no simples
fato de estar-se questionando sobre
questões próprias de si, o ato de se estar
autoanalisar indica que já começamos
buscar a compreensão a nós mesmos.
Pode-se então perceber que não são Figura 90- mente humana
Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2016/08/09/10/14/
psychology-1580252_960_720.jpg
frívolas as palavras do filósofo francês
Descartes: “Penso, logo existo”, que diz respeito à consciência, a própria individualidade.
“Conta a lenda que (...) Descartes, no começo da era moderna, há três séculos, aninhou-
se em sua lareira durante um dia inteiro, procurando descobrir o princípio fundamental
da existência humana. E saiu do esconderijo à noite com a famosa conclusão: ‘Penso,
logo existo’” (MAY,1987, p.75-76).
O fato de perceber-se como ser pensante, que o indivíduo existe a partir do seu eu
individual é prova de que se existe como ser único no mundo e que se tem consciência
da própria existência.
Sendo presença insubstituível, dotado de particularidades e tomando sempre o
cuidado para que suas relações não o definam e sim sejam “auxiliares” no processo de
construção da sua autoconsciência, tomamos o seguinte exemplo para continuação
de nossa explanação:

A pessoa inteira é um Ator e não um Reator. O colunista Sydney Harris


conta (...) que acompanhava um amigo à banca de jornais. O amigo
cumprimenta o jornaleiro amavelmente, mas como retorno recebeu
um tratamento rude e grosseiro. Pegando o jornal que foi atirado em
sua direção, o amigo de Harris sorriu polidamente e desejou um bom
fim de semana ao jornaleiro. Quando os dois amigos desciam pela
rua, o colunista perguntou:
‘- Ele sempre te trata com tanta grosseria?’

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‘- Sim, infelizmente é sempre assim.’ ‘- E você é sempre tão polido e


amigável com ele?’ ‘- Sim, sou. ‘- ‘- Por que você é sempre tão educado,
já que ele é tão inamistoso com você?’
‘- Por que eu não quero que ele decida como eu devo agir (POWELL,
1987, p. 38-39).

Mostra-nos o exemplo que o homem não deve curvar-se para qualquer vento que
sopre, ser condicionado a agir da forma como os outros querem que ele aja. A pessoa
da história anterior agiu de maneira correta na medida em que não se deixou condicionar
e influenciar pelo mau humor do jornaleiro.
Deve-se levar em conta que a consciência é singular onde “[...] nunca sei exatamente
como você vê a si mesmo e você nunca sabe exatamente como eu me relaciono
comigo próprio” (MAY,1987, p.78). Ou seja, cada indivíduo sabe de si e conhece do
outro aquilo que a consciência do outro revela, e assim, dá-se a interação entre os
homens na sociedade.
E se o homem não conhecer a si próprio, não terá como conhecer o outro. É
necessário então ao homem saber o que quer, saber seus anseios, seus desejos e
sentimentos mais íntimos e sinceros.

Hoje pouca gente sabe o que quer na verdade, se o que fazem é


realmente o que querem ou aquilo que lhe é imposto a fazer, ou
porque todos fazem e é mais fácil que ele o faça também,... grande
número de nossas decisões não são de fato nossas, mas nos são
sugeridas de fora; conseguimos persuadir-nos de que não somos
nós que tomamos a decisão, quando na realidade nos conformamos
com as expectativas de outros, impelidos pelo temor ao isolamento,
e por ameaças mais diretas à nossa vida, liberdade e bem estar [...]
(FROMM, 1987, p.160-161).

O homem está condicionado a dar respostas pré-programadas onde muitos dizem


algo, então ele também o diz. Ele acaba por assumir pseudodesejos, ou seja, assume
aquilo que os outros querem para ele, assume as expectativas dos outros e esta
substituição de desejos, de ideias, acabam por caracterizar o que Fromm chama de
pseudo-eu, ou seja, o contrário do eu autêntico, o pseudo-eu, “[...] é apenas um agente
que de fato representa o papel que se espera que a pessoa represente, mas que o faz
sob o nome do eu” (1987, p.164).

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Isso gera a insegurança e a perda da identidade, acaba também por refrear o


processo de formação da autoconsciência, fazendo com que hoje o homem se encontre
neste período de transição e crise.
Isso não significa que o indivíduo terá que parar para resolver este impasse,
sair expressando seus desejos indiscriminadamente em toda parte é necessário
discernimento ao lidar com isso, porque o ativismo não é sinônimo de autoconsciência.
Através do ativismo muitos indivíduos supõem que “[...] quanto mais se age, mais
se está vivo [...] “ (MAY, 1987, p.96), isso na realidade quer dizer que muitas pessoas
agem não por vontade própria, mas também como forma de camuflar a ansiedade,
fugindo de si mesmas.
A autoconsciência consiste em justamente “... lutar contra o que os impede de
sentir e querer [...]” (MAY, 1987, p.98), em sair das “cadeias”, tirar as vendas dos olhos
e olhar com nitidez para sua própria pessoa e realidade, ser capaz de julgar os seus
próprios atos e emitir conceitos acerca de tais atos, em ser honesto consigo mesmo,
somente assim este indivíduo estará crescendo como pessoa.
A liberdade e o crescimento do homem têm origem concomitante com a história
humana, onde o homem começou a libertar-se da fatalidade da natureza e quando
se percebem separado dela. Segundo Fromm:

A história do homem começou com seu aparecimento saindo de


um estado de unicidade com o mundo natural para um outro de
percepção de si mesmo como uma entidade separada da Natureza
que o rodeava e dos outros homens (FROMM,1983, p.29).

O tornar-se livre da natureza é uma das etapas da liberdade conquistada pelo homem
ao longo da história.

Um dos marcos da conquista da liberdade para o homem pode


ser visto quando ocorre a passagem do sistema medieval (séc.
XVI) para o sistema moderno (séc. XVII). Onde se percebe que:
[...] a decomposição do sistema medieval feudal teve um alcance
capital para todas as classes sociais: o indivíduo foi deixado sozinho
e isolado. Esta liberdade teve uma dupla consequência. O homem
foi privado da segurança que desfrutava, da sensação indisputável
de pertencer a algo, e foi desvinculado do mundo que satisfazer a
sua busca de segurança, tanto econômica quanto espiritual. Ele se
sentiu só e angustiado. Porém, ficou também livre para agir e pensar
independentemente, para tornar-se seu próprio senhor e para fazer

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de sua vida o que pudesse - e não o que lhe fosse mandado (FROMM,
1987, p. 87).

Sabemos que no sistema medieval o homem era totalmente submisso ao senhor


feudal, não possuía outra saída a não ser submeter-se às regras ou então morrer de
fome. Mas a própria sociedade no caminhar rumo ao sistema capitalista, foi libertando-o
destas amarras. O que possui o seu lado positivo, que é este “desatar as amarras”,
cada indivíduo adquiriu independência para agir, pensar, “ser seu próprio guia”. Junto
a essa conquista podemos anexar a liberdade de culto (religião) e expressão, vitórias
obtidas ao longo da história.
E no decorrer da história encontraremos outras conquistas, como: as conquistas
feministas, as raciais, os direitos sociais adquiridos pelo homem que lhe proporcionaram
uma vivência mais livre, a liberdade expressa através do voto popular em muitos
países e muitas outras pequenas conquistas que ocorreram e continuam ocorrendo
diariamente no mundo e que fazem do homem um ser cada dia mais livre.
Porém, a liberdade de que falamos até agora podemos chamar de liberdade exterior,
que é aquela conquistada através da luta conjunta dos homens.
Quanto a afirmação feita por Fromm na citação anterior, onde fala-se a respeito da
privação da segurança do homem, das novas sensações e sentimentos que foram
trazidos juntamente com esta transição do sistema feudal para o capitalismo, o próprio
autor dá conta de explicar o sentimento gerado com a conquista desta liberdade:

[...] a liberdade [...] embora dando ao indivíduo uma nova sensação e


independência, ao mesmo tempo fez com que ele se sentisse só e
isolado, encheu-o de dúvida e angústia, instigando-o para uma nova
sujeição e para uma atividade compulsiva e irracional. [...] No sistema
medieval, o capital era o servo do homem, porém no sistema moderno
tornou-se o seu senhor (FROMM, 1983, p.90).

Tais sentimentos surgiram porque estes rompimentos e transformações foram como


se “tivessem tirado o chão ou a base” deste homem, ou seja, antes ele encontrava
no senhor feudal as regras de vivência, logo: destruiu-se também a confiança do
homem no amor incondicional de Deus, ensinando-o agora a suspeitar de si mesmo
e dos demais; abriu-se mão dos elementos colocados pela religião que antes era seu
socorro à coisas humanamente inexplicáveis. Tiraram-se os valores e no lugar não se

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pôs nada, ficando aí o vazio, deixando este homem


desorientado, com relação a antigos valores.
É claramente contraditória esta liberdade
conquistada, porque ao mesmo tempo em que este
homem adquire independência, confiança em si e
criticidade, torna-se mais isolado, sozinho e com
medo, justamente por não serem tão mais seguras
essas bases, quanto o eram no passado.
Este novo sistema “... deixou o indivíduo inteiramente
entregue a si mesmo” (FROMM, 1983, p.94), sem
saber o que fazer consigo mesmo. Podemos assim https://www.behance.net/daieh/moodboards

entender alguns dilemas do homem moderno com


base nesta busca por uma liberdade maior: o que o novo sistema trouxe foi a ânsia
pela conquista da liberdade interior.
De acordo com Fromm (1983, p.15), “[...] o campo de batalha, (...) também se acha
aqui - dentro de nós mesmos e de nossas instituições”. Isso diz respeito ao libertar-se
dos conflitos internos e que atualmente atingiu seu ápice, levando vários autores e
estudiosos a refletirem e estudarem sobre esta questão: a liberdade interior.
O significado de liberdade “... muda de acordo com o grau com que o homem se
percebe e concebe a si mesmo como um ser independente e separado” (FROMM,1983,
p.29) à medida que amplia sua autoconsciência.
O processo de conquista da liberdade é inacabado, uma vitória leva a busca de outra,
como é o caso da liberdade exterior, que é aquela conquistada historicamente, e a
liberdade interior que é a decorrente das conquistas históricas. Uma é consequência
da outra, uma não existe sem a outra.
De acordo com Fromm (1983, p.92), tem-se que “[...] obter um novo tipo de liberdade,
aquela que nos habilita a realizar nosso próprio eu individual, a ter fé neste eu e na
vida”. Mais uma vez percebe-se que a liberdade interior é um dos caminhos para sanar
os dilemas do homem moderno já comentado no ponto anterior, mas esta liberdade
ainda é uma luta.
Como já apresentei no início da nossa disciplina: o homem será autêntico quando
sentir-se livre interiormente, a autenticidade implica nesta conquista. Ou seja, é livre
aquele que consegue ser ele mesmo, um ser autêntico, sem permitir que as ideias
exteriores poluam seus ideais, ser um homem de responsabilidades que diante dos

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dilemas presentes na sociedade age, enfrenta-o e não se submete. E cada um enfrenta


ou não, esses dilemas de uma forma diferente, pois cada indivíduo é singular, por
isso não há receita pronta e acabada para resolução de todos os dilemas do homem.
Existem sim, caminhos que viabilizam tal resolução.
May, explicita de forma clara e objetiva, como a liberdade é decorrente da autoconsciência:

À medida que a pessoa adquire mais autoconsciência sua liberdade


e escala de opções aumentam proporcionalmente. A liberdade é
acumulativa; uma opção feita com um elemento de liberdade
possibilita maior liberdade na próxima opção. Cada exercício de
liberdade amplia o âmbito da personalidade (MAY, 1987, p.135).

A liberdade é um processo contínuo e proporcional à autoconsciência, como diz May


(1978), à medida que a autoconsciência permite ao indivíduo uma ação racionalmente
livre, esta mesma ação auxilia no aumento da autoconsciência, permitindo uma maior
liberdade de escolha deste indivíduo nas próximas situações.
Decidir como se deve agir não cabe a ninguém senão ao indivíduo. O homem não
só pode como deve ser o mentor de seus atos. E saber o que se quer implica em um
ser maduro, apto a escolher por si só as metas e os valores que regerão sua vida. Ele
não deve fazer as coisas por mera rotina ou hábito, mas sim, porque acredita que o
que faz tem algum valor real para sua vida.
E hoje, o homem moderno está tornando-se, quem realmente é? O que o afasta da
liberdade? O que o faz ser inautêntico?
Com a chegada do capitalismo, aparecem parte dos dilemas hoje enfrentados pelo
homem moderno.
Não obstante, o capitalismo que chegou e juntamente trouxe transformações “...
deixou o indivíduo entregue a si mesmo” (FROMM, 1983, p.94). O capitalismo deixa
claro que o indivíduo é responsável por sua vitória ou pelo seu fracasso foi atribuído
ao indivíduo de uma só vez tantas responsabilidades e funções que como já falamos,
o deixaram desnorteado. Segundo Fromm (1983, p.88), “[...] a liberdade trouxe mais
isolamento sensação de insignificância pessoal do que vigor e segurança [...]”.
Foi uma transformação muito repentina. Gerando o egoísmo identificado pelo autor
supra citado como falta de autoestima, ou seja:

[...] a pessoa que não estima a si mesma, que não aceita a si mesma,
está numa angústia constante acerca de seu próprio eu. Ela não
possui a segurança interior que só pode existir baseada na legítima

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estima e afirmação [...] o egoísmo – é uma supercompensação para


a carência básica de auto-estima [...] ela [a pessoa] não ama nem a si
nem aos outros (FROMM, 1983, p.100).

Com isso constata-se a perda do homem


(mesmo que inconscientemente) no amor
ao seu eu verdadeiro, naquilo que realmente
ele é, e isso ocorre por haver um choque
visível na sociedade entre o seu eu pessoal
e o eu social. O eu social: “[...] é constituído
pelo papel que por hipótese o homem deve
exercer [...]” (FROMM, 1983, p.100).
Por não saber ao certo definir o seu eu
pessoal, não consegue definir-se como eu
social. Ou seja, acaba prendendo-se ao que
já está pronto e definido na sociedade, o Figura 92- Liberdade
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/liberdade-silhueta-
seu eu social necessita de “sucesso”; por mulher-2053281/

isso a opinião alheia, a popularidade, lhe é


importante e esta barreira não é fácil de sobrepor, pois é necessário por parte deste
homem que se perceba (autopercepção) em tal situação: rendido à opinião pública,
privado de sua liberdade interior, descaracterizando a sua autenticidade.
Este homem não está plenamente autoconsciente, logo ele não avança no sentido
de conquista da liberdade interior.
Destarte, encontramos mais um determinante que faz do indivíduo um ser menos
livre interiormente: o perigo diário vivenciado pelo homem. Não falamos aqui de
grandes problemas e sim dos corriqueiros como exemplo problemas familiares,
amorosos, profissionais, problemas que alguns superam, vencem ou resolvem com
maior facilidade. Mas com outros ocorre o contrário, não conseguem enfrentá-los e/
ou resolvê-los, então, por medo recuam, renunciam a alguma coisa ou a situação.
Desta forma, restringem sua vida, aceitam a condição de “menos livres”, por medo
de colocarem seu eu em evidência, submetem-se a tal condição.
Por medo, sentindo-se ameaçado, o homem teme a experiência da liberdade e aqui
podemos falar de ambas as liberdades: exterior e interior. Afinal este indivíduo não
sabe as consequências que isto lhe poderá acarretar. Assim estes indivíduos tornam-
se rígidos, dogmáticos, perdem a vitalidade ante a vida.

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Constroem uma carapaça protetora e depois se escondem atrás desta, ou seja,


neste mecanismo de defesa pessoal, mascaram seu eu pessoal e social (MAY, 1987).
É mais fácil construir uma máscara para si de acordo com o que a sociedade espera
(o que é inautêntico) do que enfrenta o instituído, a maioria da opinião pública. O que
pode na realidade não agradar a sociedade ou os grupos que o compõem.

Figura 93- tipos de máscaras


Figura: ://www.pexels.com/pt-br/foto/arte-artista-cenario-dentro-de-casa-669319/

Este bloqueio que a sociedade provoca no indivíduo através das relações interpessoais
instrumentalizadas e intimamente ligada às leis de mercado, assim como a falsa liberdade
de expressão, faz com que o homem acomode seu espírito crítico e pensante, e isto
vem comprometendo também o futuro da humanidade, uma vez que a história estará
sendo construída apenas por alguns. E a história além da construção coletiva deve
levar também a marca individual de cada homem, uns por lutarem, outros por omissão.
Segundo May (1987), o fato de se sentir ódio ou ira, “... é um sinal de potencialidade
interior para resistir aos seus opressores” (p.125). O ódio e a ira foram recalcados e
atualmente o ressentimento ocupou os seus lugares nesta sociedade, porém, para se
chegar à liberdade é preciso vencer o ressentimento, “... e o primeiro passo é saber a
quem ou o que se odeia...” (MAY, 1987, p.128).
Por não saber o que ou quem se odeia é que as pessoas, a cada dia, mais se
encontram perdidas em seus próprios sentimentos e quando podem recorrem a

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Psicólogos, Psicanalistas, Assistentes Sociais, ansiando que estes lhes digam como
resolver este impasse num toque de mágica.
Muitos não alcançam êxito em suas buscas exteriores e acabam desistindo,
conformando-se e obedecendo as regras impostas pelo sistema. E então se acaba
descobrindo mais um fator que impede o homem de alcançar sua liberdade interior e
consequentemente ser menos autêntico é o fato de que ao conformar-se, o homem
permite ao outro se expressar com maior liberdade e a sua liberdade própria é reprimida,
e a do outro é amplamente divulgada e vivida. Ao conformar-se, o homem moderno
está dizendo sim às diversas outras imposições públicas e o seu aval já foi dado,
quando resolveu omitir-se.
O rendimento à opinião pública, ao egoísmo, a baixo-estima, aos perigos diários, ao
conformismo, às máscaras e outros são barreiras detectadas por estudiosos, como
Fromm, Goffman e May, “barreiras” que impedem e/ou dificultam para que o homem
alcance sua liberdade interior, e consequentemente seja mais autêntico.
Se estes impedimentos não forem superados e resolvidos não haverá na sociedade
a construção de um homem livre para agir de acordo com sua autoconsciência.
Pois a autoconsciência e a liberdade são indicadores fundamentais para a
construção de um ser autêntico e sem esses indicadores acentua-se na sociedade
a construção de uma consciência humana inautêntica. E o que se percebe é que a
luta de muitos é por um ser que seja a cada dia mais ele mesmo. Queremos que ao
conversar com alguém estejamos falando com um homem real e autêntico e não
uma construção da opinião pública vigente.

Figura 94- conclusão


Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/reuni%C3%A3o-rela%C3%A7%C3%A3o-neg%C3%B3cios-conclus%C3%A3o-1020145/

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AULA 15
REFLEXÕES FILOSÓFICAS
SOBRE A ÉTICA E A MORAL

Figura 95- reponsabilidade social


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/m%C3%A3os-terra-pr%C3%B3xima-gera%C3%A7%C3%A3o-4091879/

Olá, vamos seguindo adiante, aplicando o conhecimento, nesta aula, você irá conhecer
como surgiu a moral na humanidade e sua evolução desde os tempos primitivos até
os dias de hoje.
Mesmo sem conhecer as raízes dos conceitos é natural nos remetermos a valores
experimentados, questionados e consolidados, ao falarmos sobre ética ou moral, nos
referimos a valores experimentados, questionados e consolidados. Não há sociedade
que progrida, nem atividade profissional que se destaque sem a aplicação da ética
amparada pela moral. A ética e a moral, como estão baseadas nos costumes de
uma sociedade, podem sofrer alterações no decorrer do tempo. No século XVI, por
exemplo, era considerada ética e moralmente aceita a punição por morte na fogueira
daqueles que eram condenados por bruxaria, pois se acreditava que a mesma estava
justificada nos tribunais da inquisição. Este comportamento, nos dias atuais, é

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totalmente reprovado, haja vista a crueldade imposta ao condenado e a separação


existente entre Igreja e Estado.
A moral surgiu quando o homem primitivo passou a viver em grupo e as primeiras
regras apareceram com a formação das primeiras sociedades humanas. Sua finalidade
era dar harmonia possibilitando a convivência em sociedade. Enquanto a ética é uma
ciência que estuda a forma de comportamento nas sociedades, onde o bem-estar deve
estar em primeiro lugar, assim, podemos afirmar que a necessidade ética se originou
com o homem em sociedade.
O assunto de que vamos tratar pode variar conforme o ambiente, a situação e a
cultura, mas está presente em nossas vidas o tempo todo, tanto nas suas relações
pessoais quanto nas profissionais. É de extrema importância o estudo do conceito,
mas para entendermos seu significado, vamos resgatar o verdadeiro sentido semântico
da palavra. Afinal, você sabe o que a palavra “ética” significa?

Anote isso
“Ética, do grego ethos, caráter, é o estudo dos conceitos envolvidos no raciocínio
prático: o bem, a ação correta, o dever, a obrigação, a virtude, a liberdade,
a racionalidade, a escolha. É também o estudo de segunda ordem das
características objetivas, subjetivas, relativas ou céticas que as afirmações
feitas nesses termos possam apresentar” (BLACKBURN, 1997, p.129).

O termo “Ética” é proveniente do grego - “ethos”


que tem como significado original – “caráter” e que
designa tanto a realidade como o saber, relacionados
com o comportamento responsável em que entram
em jogo a bondade ou a maldade da vida humana.
Para você ter uma ideia de quanto esse tema
é antigo na história da humanidade, religiões da
Assíria e do Egito, cerca de 600 a.C., já regulavam e
orientavam as decisões comunitárias com base em
preceitos morais. Depois, o judaísmo, o cristianismo,
Figura 96- ética
o budismo, o hinduísmo, o islamismo e as demais Fonte: https://cdn.pixabay.com/
photo/2017/03/02/07/36/fall-2110614_960_720.jpg

religiões deram continuidade a essa busca por

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estabelecer linhas de conduta baseadas em preceitos éticos e morais. Esse assunto


era sagrado. Mas não confunda: moral e ética, pois não são simplesmente preceitos
fundamentados pelas religiões, e sim, são mecanismos racionais que conferem respeito
e boa condução às relações humanas.
A moral é um fato histórico e, por conseguinte, a ética, como ciência da moral, não
pode concebê-la como um aspecto da realidade humana mutável com o tempo, pois
enfoca o modo comportamental do homem.
Assim, uma série de normas, mandamentos ou prescrições são escritas, a partir
dos atos ou qualidades que beneficiam uma comunidade. Assim nasce a moral
com finalidade de assegurar a concordância do comportamento de cada um com
interesses coletivos.
Embora os termos sejam similares é importante que haja uma distinção clara entre
os termos. De acordo com Glock e Goldim (2003, p. 2-3):

A MORAL estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como


uma forma de garantir o seu bem-viver. A moral independe das
fronteiras geográficas e garante uma identidade entre pessoas
que sequer se conhecem, mas utilizam este mesmo referencial
moral comum.

A ÉTICA é o estudo geral do que é bom ou mau. Um dos objetivos


da Ética é a busca de justificativas para as regras propostas pela
moral e pelo direito. Ela é diferente de ambos – moral e direito –
pois não estabelece regras. Esta reflexão sobre a ação humana é
que a caracteriza.

Eugênio Bucci, (2007, p.. 50) em seu livro Sobre Ética e Imprensa, diz que:

Ao contrário da moral, que delimita o que é bom e o que é ruim no


comportamento dos indivíduos para uma convivência civilizada, a
ética é o indicativo do que é mais justo ou menos injusto diante de
possíveis escolhas que afetam terceiros.

A necessidade de ajustar o bom comportamento aos interesses da coletividade


leva em consideração tudo aquilo que contribui para reforçar a união ou a atividade
comum; mau ou perigoso o oposto; o qual contribui para debilitar a união. Estabelece-
se o que é “bom” e o que é “mau” deveres e obrigações baseados naquilo que se
considera bom ou útil para a comunidade. Moral única e válida para todos limitada
pela própria dimensão.

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O indivíduo existia somente pela relação com a comunidade, onde não se podia ter
interesses pessoais e exclusivos que entrassem em choque com os outros. A coletividade
se apresentava como um limite da moral. Tratava-se de uma moral pouco desenvolvida,
enquanto que a moral mais elevada estava embasada na responsabilidade pessoal.
O aumento geral da produtividade, bem como o surgimento de novas forças de
trabalho elevou a produção gerando mais produtos que o necessário, gerando assim
a desigualdade de bens entre os chefes de família. Com a decomposição do regime
comunal e o aparecimento da propriedade, foi se acentuando a divisão de homens
livres e escravos. A propriedade livrava da necessidade de trabalhar. O trabalho físico
acabou por se transformar numa ocupação indigna de homens livres. Os escravos
não eram pessoas, mas coisas comercializadas como um objeto qualquer.
Nasciam assim duas morais: uma dominante, dos homens livres, considerada
como verdadeira e outra dos escravos. A moral dos homens livres não só era uma
moral efetiva, vivida, mas tinha também seu fundamento e sua justificação teórica
nas grandes doutrinas éticas dos filósofos da antiguidade. Aristóteles opinava que uns
homens são livres e outros são escravos por natureza e que esta distinção é justa e
útil. Os escravos eram objetos de um tratamento sem piedade e nenhum dos grandes
filósofos daquela época julgava imoral. Reprimidos, os escravos não podiam deixar
de ser influenciados por aquela moral servil que os fazia considerarem-se coisas.
Com o desaparecimento da sociedade escravista, cresce uma nova relação para
a moral dos indivíduos e da comunidade, cresce a consciência dos interesses da
coletividade e, de outro, surge uma consciência individualidade. O indivíduo se sente
membro da comunidade, sem ser absorvido totalmente por ela. “Eu existo”.
Trata-se da sociedade feudal, dos senhores
feudais e a dos camponeses servos. Os servos da
gleba eram vendidos e comprados com as terras
às quais pertenciam e não podiam abandonar. Os
homens que eram considerados livres (artesãos,
pequenos industriais, comerciantes etc.) estavam
sujeitos à autoridade do senhor feudal. A igreja
era o instrumento do senhor supremo, ou Deus. A
moral da sociedade medieval correspondia às suas
Figura 97- construção valores
características econômico-sociais e espirituais. De Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/cursos-
partes-forex-an%C3%A1lise-2318035/

acordo com o papel importante da igreja na vida

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espiritual da sociedade, a moral estava impregnada de conteúdo religioso. Havia vários


códigos morais, como o código dos nobres, código das ordens religiosas, código das
corporações, código dos universitários etc.
Os servos não tinham código e nem direitos, mas entre estes códigos é preciso
destacar o da classe social dominante: o da aristocracia feudal que desprezava o
trabalho físico e exaltava o ócio e a guerra. Os nobres tinham o direito de fazer exercícios,
mas o que chama mais a atenção é o “direito da pernada”, o que dava o direito ao
senhor de desfrutar da noiva antes do marido (servo), no dia de núpcias, inclusive de
forma a violentá-la.
A moral cavalheiresca partia da seguinte premissa: o nobre, por razões de sangue,
tinha qualidades que o diferenciava dos plebeus e servos.
No interior da velha sociedade feudal criaram-se novas relações sociais às quais
devia corresponder uma nova moral, isto é, um modo regular nas relações entre os
indivíduos e a comunidade. Nasceu e fortaleceu uma nova classe social – a burguesia.
Os principais interesses era o desenvolvimento da produção e da expansão do
comércio que exigiam mão de obra livre, tendo como fundamento a lei da produção de
mais-valia que funcionava bem somente para garantir lucros. O operário era considerado
um homem econômico, um meio de produção sem sofrimentos e desgraças. Assim
gerava o fenômeno da alienação ou do trabalho alienado, o sujeito produz objetos que
satisfazem as necessidades humanas, mas pelo contrário, o operário não as reconhece,
proporcionando-lhe a miséria. Cada um confiava em suas próprias forças, desconfiava
dos demais e buscava seu próprio bem-estar, ainda que tivesse de passar por cima
e do bem-estar dos outros. Tal moral era individualista e egoísta, correspondendo às
relações sociais burguesas.
Nos países mais desenvolvidos, a imagem do capitalismo vai mudando e a moral
caminha para uma humanização ou moralização do trabalho. Aos incentivos materiais
se acrescenta agora, uma aparente solicitude para com o homem inserindo no operário
a ideia de que, como ser humano, ele faz parte da empresa e deve integrar-se a ela.
Vive-se agora uma moral comum livre de qualquer conteúdo particular, que ajuda a
justificar e a reforçar os interesses do sistema regido pela lei de produção da mais-
valia o que esconde os seus verdadeiros interesses humanos e de classe.
A moral vivida na sociedade muda historicamente de acordo com as reviravoltas
decisivas que passaram da sociedade escravista feudal a desta sociedade burguesa.

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Uma nova moral, verdadeiramente humana, implicará numa mudança de atitude diante
do trabalho, num desenvolvimento do espírito coletivista vivido nos dias atuais.
Para Rodrigues e Souza (1994, p. 13), “a Ética é um conjunto de princípios e valores
que guiam e orientam as relações humanas”. Esses princípios devem ter características
universais, precisam ser válidos para todas as pessoas e para sempre. É uma definição
simples, um conjunto de valores, de princípios universais, que regem as relações
das pessoas. O primeiro código de ética de que se tem notícia, primeiramente para
quem possui formação católica, cristã, são os dez mandamentos. Regras como “não
matarás”, “não desejarás a mulher do próximo”, “não roubarás” são apresentadas como
propostas fundadoras da civilização ocidental e cristã.
A ética é muito mais ampla, geral e universal do que a moral. A ética tem a ver com
princípios mais abrangentes, enquanto a moral se refere mais a determinados campos
da conduta humana. Quando a ética desce de sua generalidade, de sua universalidade,
fala-se de uma moral, por exemplo, uma moral sexual, uma moral comercial. Pode-se
dizer que a ética dura mais tempo, e que a moral e os costumes prendem-se mais a
determinados períodos. Mas uma nasce da outra. É como se a ética fosse algo maior
e a moral fosse algo mais limitado e restrito.
A visão estreita da moralidade deriva para o moralismo que equivale a uma espécie
de loucura da ética – é quando se perde o sentido geral das coisas para se apegar a
determinados pontos ou normas, que são tomados de forma absoluta, sem levar em
conta a amplitude, o conjunto.
A ética é legitimada pela sua racionalidade. E, mais do que isso, a força e a
transparência de determinados princípios que parecem evidentes em si mesmos.
Por exemplo, não matar. “Não matar” é um princípio que deve ser universal, deve fazer
parte do senso comum. Se fosse permitido matar, o canibalismo, a guerra e o genocídio
também estariam autorizados e o caos se estabeleceria. Então, a sociedade ficaria
inviável porque não há possibilidade de convivência sem o respeito a certos princípios.
Agora, se é um assunto tão antigo e tão mutável, por que precisamos continuar falando
nele? Por que motivo você deve gastar seu precioso tempo fazendo esta aula? Porque
as questões éticas continuam sendo (e sempre estarão) essenciais em sua vida.
Já pensou o que seria das suas relações pessoais e profissionais se, de uma hora
para outra, todos perdessem a noção de ética e começassem a agir conforme seus
humores e interesses pessoais?

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Na vida profissional, milhares e milhares


de pessoas trabalham com valores que não
correspondem apenas a bens materiais. Há
outros tipos de valores com os quais lidamos
diariamente e que o dinheiro não compra: são
os valores éticos e morais.
Para Vázquez (1985), a ética pode
ainda ser compreendida como a ciência
do comportamento moral dos homens em
sociedade. Portanto, para se compreender a Figura 98- blocos coloridos
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/blocos-de-
constru%C3%A7%C3%A3o-inserir-2065238/
ética é necessário também a plena compreensão
da moral.
O termo “moral”, assim como a ética, também é proveniente do grego έθος –
“êthos” que significa costumes. Vázquez (1985, p. 49) conceitua a moral como “um
conjunto de normas, aceitas livres e conscientemente, que regulam o comportamento
individual e social dos homens”. De outro ângulo, Srour (2000, p. 29) compreende a
moral como “um feixe de normas que as práticas cotidianas deveriam observar e que,
como discurso, ilumina o entendimento dos usos e dos costumes”.
Para melhor compreensão faz-se necessário a distinção entre alguns termos
relacionados à moral que será utilizada no decorrer do livro. Quando utilizado o termo
“Moral” deve ser entendido que se trata dos princípios e normas de um grupo ou
pessoa. O termo “Moralidade” refere-se à materialização das normas éticas, ou seja,
são os atos concretos que acentuam a questão ética como fator de importância, que
a decisão de uma pessoa qualquer afeta outros e assim por diante. A “Amoralidade”
é o termo que designa que os valores estão implícitos não existindo uma regra prévia
que proíba tal ato, mas que não condiz com as normas aceitáveis pela sociedade. E
finalmente o termo “Imoral” é utilizado quando infligimos o costume comum adotado,
ou seja, é algo ao contrário da regra moral do grupo.
Assim, sem esquecer nem negar a correlação existente entre “costume” (ethos)
e “carácter” (êthos), temos de dar primazia ao êthos-carácter quando se utiliza no
contexto da ética.
Neste contexto, é importante ressaltar que ethos é utilizado quando se refere a um
conjunto de normas e valores aceitos por:

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• Uma civilização • Um grupo


• Um povo • Uma pessoa.
• Uma classe social

Assim, é possível analisar que a ética depende do grupo ao qual estamos inseridos,
ou seja, existem diversas verdades e diversos princípios aceitos por um grupo e outro
não. Um pouco mais à frente será discutido com detalhes este conceito.
Desta ideia de divisões grupais destaca-se que o principal fator seja os valores
individuais de cada um. Por valores pode-se entender os princípios básicos aceitos
pela sociedade, o qual são categorias conjugadas com um sentimento de pessoa,
tais como:

• A guerra é má.
• Exercício físico é bom.
• A vida é intocável.
• A educação é fundamental.
• A mentira é inaceitável.
• O individualismo no trabalho é prejudicial.

Segundo Aristóteles, em ambientes nos quais os vícios não prevalecem, as virtudes


são os hábitos dignos de louvor, o qual são exemplos de virtudes profissionais: zelo,
honestidade, sigilo, competência e assistência ao cliente.
Desta forma, pode-se fazer uma análise entre os principais tópicos abordados até
então: Costumes, Caráter e Valores, com uma simples reflexão: “Se uma pessoa puder
mentir, trapacear e roubar, e nunca se pega, por que deveria ser honesta?”. Neste
caso é possível observar que a ética está totalmente ligada a valores individuais das
pessoas e seu caráter.
Voltando ao conceito de que a ética adotada depende do grupo ao qual estamos
inseridos, pode-se destacar que a moral nas relações humanas seja algo bastante
complexo, porém aceitável. Quando se fala de grupos é aceitável que os marginais
possuem ética? De certa forma sim, pois quando inserido em seu grupo este obedece
a normas morais e princípios previamente estabelecidos entre eles, ou seja, tudo que
parece natural e justo para um grupo não o é necessariamente para outros grupos.
Observa-se, assim, que o grupo adota normas morais para uso interno e reserva outras
para uso externo, o que é perfeitamente normal nas relações humanas.

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Anote isso
A ética é o que traça sua linha de conduta.
Ela está o tempo todo presente em sua vida familiar, no ambiente profissional
e em cada minuto do seu dia.
Desde o momento que você acorda e levanta da cama, você é constantemente
abordado por situações que colocam à prova seu comportamento ético.

Questão para reflexão: você lembra de alguma situação que vivenciou recentemente,
onde a conduta ética (sua e de outros) foi fundamental?

15.1 RACIONALIZAÇÕES ÉTICAS

Racionalizações éticas são problemas para os quais as pessoas sabem qual é a


solução correta, mas deixa de fazer o certo. O caso é caracterizado pela dificuldade
das pessoas reconhecerem que estão violando os valores éticos. Ex.: fraudar notas
de despesas; exagerar sobre a qualidade do produto; negligenciar rotinas importantes
de manutenção etc.
Assim, as pessoas no trabalho possuem diversas desculpas para não agir com
integridade, sendo as principais:

• Ninguém está sendo prejudicado;


• Todo mundo faz isso;
• Todo mundo entende o que está acontecendo de verdade;
• Não posso me dar ao luxo de fazer o contrário;
• Ninguém se importa com isso;
• Isso não é realmente uma questão ética (NASH, 1993).

Para tanto, existe formas de autoanálise para verificar se a forma como se está
trabalhando é ética ou não. Por exemplo, algumas simples perguntas:

1. É legal?
2. Estarei violando a lei civil ou a política da companhia?
3. É imparcial?
4. É justa com todos os interessados, tanto a curto como a longo prazo?

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5. Promove relacionamentos em que todos saiam ganhando?


6. Vou me sentir bem comigo mesmo?
7. Posso me orgulhar de minha decisão?
8. Eu me sentiria bem se ela fosse publicada nos jornais?
9. Como me sentiria se minha família soubesse?

A ética é condição essencial para o cumprimento de qualquer profissão. Cada


conjunto de profissão deve seguir uma ordem de conduta que permita a evolução
harmônica do trabalho de todos, a partir da conduta de cada um, através de uma
tutela no trabalho que conduza a regulação do individualismo perante o coletivo.
A atividade profissional é a ação produtiva de bens materiais e serviços. Devido o
desenvolvimento e a expansão da atividade profissional gerou-se a necessidade de
organização do trabalho.
A ética profissional é a reflexão sobre a atividade produtiva para dali extrair o conjunto
excelente de ações, relativas ao modo de produção. A atividade produtiva tem hábitos
e costumes próprios, tem também acordos que asseguram a produção de justiça
mínima no decorrer de seu exercício e constitui ambos, o objeto da ética profissional.
A ética de um lado, exige a deontologia, isto é, o estudo dos deveres específicos que
orientam o agir humano no seu campo profissional; de outro lado, exige a diciologia,
isto é, o estudo dos direitos que a pessoa tem ao exercer suas atividades.
Os códigos de éticas estruturam e sistematizam as exigências éticas de todos os
profissionais no tríplice plano: de orientação, disciplina e de fiscalização.

TIPOS DE ÉTICA

A ética pode ser discutida em dois princípios fundamentais: ética da convicção e


ética da responsabilidade.
A ética da convicção é baseada no cumprimento do dever em que as ações são
respaldadas por normas e valores previamente estabelecidos. O homem possui
convicção de seus atos, senão estes seriam vazios. Este princípio faz com que ele
respeite suas convicções e haja de forma integra em seu grupo.
Na empresa não importa os resultados em que irá chegar, o importante é cumprir
o dever de forma que se sigam as normas estabelecidas. Possuem a Convicção do
Princípio rege que sejam respeitadas as regras haja o que houver e a Convicção da

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Esperança rege que o sonho deve vir antes de tudo. De qualquer forma o resultado é
um só, “Não importam os efeitos ou consequências das decisões tomadas, o resultado
virá por si só”.

Figura 99- exemplo


Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/exemplo-por-exemplo-z-b-2427501/

Isto está na rede


Caso de Ética da Convicção
Há um relato que um cônsul português, chamado Aristides de Souza Mendes,
lotado no porto francês de Bordeaux, preferiu ter compaixão a obedecer
cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela ética da convicção,
priorizando a seus riscos e custos um valor em relação ao outro.
Diante do avanço do exército alemão em junho de 1940, salvou a vida de
30 mil pessoas, entre as quais 10 mil judeus, ao emitir vistos de entrada em
Portugal a qualquer um que pedisse, num ritmo frenético.
À semelhança de Oskar Schindler, membro do Partido Nazista, Sousa Mendes
havia sido até os 55 anos um funcionário fiel à ditadura salazarista. Porém,
em face da proibição de seu governo em conceder vistos para judeus e
outras pessoas de “nacionalidade incerta”, decidiu dar vistos a todos, sem
discriminação de nacionalidades, etnias ou religiões.
Chamado de volta a Portugal, o cônsul foi forçado ao exílio interno e morreu
na miséria num convento franciscano. Católico fervoroso, ele julgou ter apenas
agido segundo sua consciência e recusou qualquer notoriedade.

Adaptado de (Revista Veja 11/11/98 apud SROUR, 2000, p. 52).

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Por outro lado, a ética da responsabilidade é respaldada da teleologia, ou seja,


na finalidade dos atos pessoais. Rege que todos são responsáveis pelos seus atos
e condena ações que sejam moralmente perigosas, tais como a violência. Como o
fundamento é o resultado, tem como princípio básico que seja atribuído um maior
benefício a toda comunidade ou dos males o menor.
A ética de responsabilidade pode ser vários aspectos, por exemplo, de um lado
trabalha seu lado utilitarista, o qual aborda que é necessário fazer o maior bem para
o maior número de pessoas e do outro trabalha a finalidade, em que incita que os
objetivos devem ser alcançados a qualquer preço. De forma geral, pode-se destacar
que a bondade dos fins justifica os meios.

Isto está na rede


Caso de Ética da Responsabilidade
No ano de 1944, quando voltavam de uma missão, aviões da Royal Air Force
estavam sendo perseguidos por uma esquadrilha da luftwaffe. Naquela noite
fria, a tripulação do porta-aviões britânico aguardava ansiosa. O comandante
do navio anunciara que dali a dez minutos apagaria as luzes de bordo, inclusive
as da pista de pouso. A maioria dos aviões pousou a tempo. Mas restaram
três retardatários. O comandante concedeu mais dois minutos. Dois aviões
chegaram. As luzes então foram apagadas por ordem dele.
A tripulação do navio e os pilotos ficaram revoltados com a crueldade do
comandante. Afinal, deixou um avião perdido no oceano; por que não esperou
mais alguns minutos?
O dilema do comandante foi o de ter de escolher entre arriscar a vida de
milhares de homens ou tentar salvar os tripulantes da aeronave. Perguntou a
si mesmo: quais seriam as consequências se o porta-aviões fosse descoberto?
Um possível morticínio. Foi quando decidiu sacrificar os retardatários.

Adaptado de (MELLÃO NETO, 1999 apud SROUR, 2000, p. 53).

De forma sintética, podemos visualizar as diferenciações entre a ética da convicção


e a ética da responsabilidade na figura abaixo:

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ÉTICA DA CONVICÇÃO ÉTICA DA RESPONSABILIDADE

É a ética dos propósitos, da razão, dos


É a ética dos deveres, das obrigações de
resultados previsíveis, dos prognósticos,
consciência, das certezas, dos imperativos
das análises de circunstancias, dos fatores
categóricos, das ordenações incondicionais
condicionantes

Repousa no conforto das respostas acabadas Enfrenta a vertigem das perguntas e o desafio
e das verdades absolutas das soluções relativistas

Decisões decorrem da aplicação de uma Decisões decorrem de deliberação em função


tábua de valores preestabelecidos de uma análise das circunstâncias

Máxima: somos responsáveis por aquilo que


Máxima: faça algo porque é um mandamento
nossos atos provocam

Vertente utilitarista: faça o maior bem para


Vertente da esperança: o sonho antes de tudo
mais gente

Vertente da finalidade: alcance os objetivos


Vertente de princípio: respeite as regras haja o
custe o que custar
que houver

Quadro 3 – Comparativo entre a ética da convicção e da responsabilidade


Fonte: Adaptado de (SROUR, 2000).

Viver em sociedade nada mais é do que conviver com as pessoas que fazem parte
dela e este convívio é repleto de desafios, superações e exercícios de tolerâncias.
A ética é necessária entre duas ou mais pessoas em relacionamentos pessoais e
profissionais, de natureza individual (particular) e coletiva; em sua estrutura familiar,
empresarial, enfim, em todas as áreas.
Como você pode ver, todos os grupos de pessoas obedecem a normas morais,
mas é preciso considerar que existem especificidades e costumes diferentes entre
as culturas, portanto, o que parece natural para uma sociedade pode não o ser para
outra. Por exemplo: pessoas morrem de fome na Índia, mas não comem carne de vaca,
pois este é considerado um animal sagrado lá, outra situação: aqui mesmo em nosso
país há praias de nudismo, nas quais as pessoas transitam nuas livremente, mas se
decidem caminhar assim nas ruas de uma capital, certamente serão advertidas. Como
cada ser humano possui suas próprias características e peculiaridades, seus valores
e crenças é esperado que existam conflitos nestes relacionamentos, a situação não
é evitar os conflitos, mas saber administrá-los, procurando um ponto de equilíbrio

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Assim, podemos afirmar, a questão ética começa com o nosso nascimento, é comum
a expressão que educação, valores, religião, classe econômica e social, crenças vêm
de berço, ou são “herdados”.
Durante o desenvolvimento do indivíduo, há diversos fatores que podem influenciar
sua maneira de construir as referências éticas: os ensinamentos transmitidos pela
família, na escola, os grupos de amigos, os clubes que frequenta, por exemplo.

Figura 100- Grupo de Amigos


Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2019/10/06/10/03/team-4529717_960_720.jpg

Outro fator importante na formação ética das pessoas é o tempo e a experiência,


pois através da convivência com diferentes pessoas, há contato com outros saberes e
os indivíduos passar a visualizar o mundo com outros olhos, atribuindo outros valores
a coisas ou pessoas.
Admitindo-se que cada pessoa possui uma visão da realidade distinta, não se pode
julgar, dentro desse conceito, o “certo” e o “errado” em opiniões de diferentes pessoas
e sim dizer que cada pessoa tem sua visão própria da vida. Sendo assim, é ético tudo
o que está em conformidade com os princípios de conduta humana, de acordo com
o uso comum.
A moral procura fazer com que os indivíduos se adaptem voluntariamente, ou seja,
de modo consciente e livre, os seus interesses pessoais com os interesses coletivos

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de determinado grupo social ou da sociedade inteira. A moral tem uma dimensão


mais prática, liga-se ao agir cotidiano e às suas exigências imediatas.
Foi possível ainda compreender que a ética é condição essencial para o cumprimento
de qualquer profissão. Cada conjunto de profissão deve seguir uma ordem de conduta
que permita à evolução harmônica do trabalho de todos, a partir da conduta de cada
um, através de uma tutela no trabalho que conduza a regulação do individualismo
perante o coletivo.
A ética profissional é a reflexão sobre a atividade produtiva para dali extrair o conjunto
excelente de ações, relativas ao modo de produção. A atividade produtiva tem hábitos
e costumes próprios; tem também acordos que asseguram a produção de justiça
mínima no decorrer de seu exercício e constitui ambos, o objeto da ética profissional.
O termo “moral” assim como a ética, também é proveniente do grego έθος – “êthos”
que significa costumes. Vázquez (1985, p. 49) conceitua a moral como “um conjunto
de normas, aceitas livres e conscientemente, que regulam o comportamento individual
e social dos homens”. De outro ângulo, Srour (2000, p. 29) compreende a moral como
“um feixe de normas que as práticas cotidianas deveriam observar e que, como discurso,
ilumina o entendimento dos usos e dos costumes.
A ética pode ser discutida em dois
princípios fundamentais: a ética da
convicção e a ética da responsabilidade.
A ética da convicção é baseada no
cumprimento do dever em que as ações
são respaldadas por normas e valores
previamente estabelecidos. O homem
possui convicção de seus atos, senão
estes seriam vazios. Este princípio faz
com que ele respeite suas convicções
e haja de forma íntegra em seu grupo. Figura 101- Resultado
Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/escrit%C3%B3rio-
Na empresa não importa os resultados neg%C3%B3cios-produto-4538704/

em que irá chegar, o importante é cumprir o dever de forma que se sigam as normas
estabelecidas. A Convicção do Princípio rege que sejam respeitadas as regras haja
o que houver e a Convicção da Esperança rege que o sonho deve vir antes de tudo.
De qualquer forma o resultado é um só, “Não importam os efeitos ou consequências
das decisões tomadas, o resultado virá por si só”.

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AULA 16
O PROCESSO REFLEXIVO
COMO UM CAMINHO A SER
PERCORRIDO PELO USUÁRIO DO
SERVIÇO SOCIAL EM BUSCA DE
UMA VIDA MAIS AUTÊNTICA

Figura 102- Mentes


Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/pergunta-perguntas-homem-cabe%C3%A7a-2519654/

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Você pode estudar nas aulas anteriores, que o homem moderno, muitas vezes, acaba
tornando-se um autômato, em que as ideologias postas pela sociedade conspiram por
fazê-lo tomar como suas, ideias, vontades, desejos que na verdade não lhe pertencem.
Para combater esta imposição de ideias e fazer com que este homem se perceba
como homem, para que ele tenha vida e ideias próprias, vimos que ele precisa ter
autoconsciência de si mesmo e não agir de acordo com aquilo que lhe é posto e sim
que através dos seus próprios pensamentos, ele possa definir o que realmente quer
e ter a certeza de quem ele realmente é.
Em nossa sociedade existem muitos indivíduos neste estado de automismo. E na
prática o que os profissionais de Serviço Social podem fazer para auxiliar na reversão
deste processo? Como refletir com o usuário do Serviço Social esta situação de modo
que ele perceba a sua realidade?
Você verá em outras disciplinas que em toda metodologia de intervenção no Serviço
Social deve possuir técnicas e instrumentos adequados para que os objetivos ético-
filosóficos e práticos profissionais sejam alcançados.
Assim, toda metodologia necessita estar pautada em
princípios filosóficos. Desta forma, só as técnicas e
instrumentos, mesmo que bem utilizados, não garantem
uma boa operacionalização, uma vez que se deve ter uma
finalidade que direcione a ação.
É preciso que o Assistente Social saiba onde ele quer
chegar e por que ele quer chegar, em outras palavras, é
necessário ter uma teleologia ou finalidade.
Sobre o homem moderno e seus dilemas é possível
retirar certos princípios teórico-filosóficos, que a meu ver,
podem nortear o Assistente Social em sua ação na atuação Figura 103- executiva
Fonte: https://cdn.pixabay.
com/photo/2017/12/19/09/11/
junto aos usuários. businesswoman-3027628_960_720.jpg

São eles:

• Ser distinto (diferente), quer dizer que o homem deve ser individual, singular,
ser ele mesmo, autêntico.
• A consciência é relativa, finita e subjetiva.
• O homem vem da natureza e não vive sem ela.
• O homem busca a individualidade em meio à sociedade, porém sem perder-se nela.
• O homem atualmente tornou-se um estranho para si mesmo, devido à grande
imposição de vontades e valores alheios.

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• O homem conformista vive de acordo com o que o grupo espera, pois não vê
chances de mudanças.
• Se o homem reproduz valores, não demonstra estilo próprio.
• O homem reflete aquilo que esperam dele.
• O homem vive de acordo com a opinião pública.
• A ansiedade aparece quando o homem não sabe se será aceito ou não
pelo grupo.
• A autenticidade implica na questão do indivíduo ser sujeito de si, de seus
pensamentos e sentimentos.
• Existe na vida do homem uma compartimentalização de valores, ou seja, vive-
se um valor de acordo com a situação vivenciada em sua vida.
• É preciso reencontrar o ponto de apoio do homem, reavaliar seus valores.
• As relações estabelecidas pelo homem devem contribuir para o seu
crescimento pessoal.
• “O indivíduo cresce na medida em que escolhe seu caminho
conscientemente...” (MILL apud MAY, 1987, p.77).
• Cada indivíduo sabe de si e conhece do outro aquilo que a consciência do
outro revela.
• Se o indivíduo não conhece a si próprio não é capaz de conhecer o outro.
• O indivíduo necessita de liberdade interior e exterior.
• A liberdade é gradativamente conquistada.
• Quanto menos consciência de si, menos liberdade.
• A liberdade é fruto da autoconsciência do homem.

O processo reflexivo somente começará a dar seus primeiros passos a partir do


momento em que o usuário fornecer elementos concretos, os quais o profissional se
estará valendo para trabalhar com este usuário: elementos sobre os quais o usuário
esteja aberto para refletir e que ele realmente queira refletir.
Como vimos: “o indivíduo cresce na medida em que escolhe seu caminho
conscientemente...” (MILL apud MAY, 1987, p.77), ou seja, se o profissional o força a
agir desta ou daquela forma, não estará respeitando a sua livre escolha.
A relação estabelecida entre ambos (profissional e usuário) deve contribuir para o
crescimento pessoal de ambos, por isto inter-ação.
De nada adiantará o profissional ficar perguntando sobre sua família e receber como
respostas simples sons como: “Hum! Hum! A família vai bem; nada...”. Ele demonstra
claramente que o assunto não o excita a estar conversando, por isso deve-se partir
de elementos que sejam importantes para o usuário naquele momento.

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Logo é necessário uma visão mais geral, sobre o


homem e suas relações no mundo e com o mundo,
uma leitura da realidade a fim de se facilitar o
processo reflexivo junto ao usuário.
Existem fatores que influenciam no
atendimento, alguns podendo passar
despercebido, outros que não dependem
apenas do profissional.
Idealizar o atendimento perfeito é fácil e não
é real, porque quando o profissional parte para
a prática, a situação pode ser outra.
O profissional em seu atendimento junto ao usuário Figura 104- escuta
Fonte: https://pixabay.com/pt/vectors/segredo-
sussurrando-orelha-mulher-3650080/
não deve colocar ideias prontas, pois em nada
acrescentará para o crescimento do usuário e ele continuará um autômato.
Deverá o profissional se valer da experiência vivida de seu usuário para poder com
ele trabalhar num nível mais concreto, sobre fatos, sentimentos que fizeram e fazem
parte da vida do mesmo. Fatos de como o usuário vivencia as relações em sua vida,
a relação com sua família, com seus amigos, colegas de trabalho, a sua relação com
as leis e normas da sociedade e como a partir do delito cometido, ele se relaciona
consigo mesmo, e como as suas relações estão se estabelecendo depois do mesmo.
Reafirmando: a reflexão só é possível com base no vivido, do concreto, somente a
partir disto, do que o usuário “sente na pele” no seu cotidiano é que é possível ser o
ponto de partida para a reflexão.
Como encontrar o ponto de partida? O profissional deve ter claro que ele não
deve conscientizar ou mudar ninguém, ou contrário tem-se que atingir o interior,
desmascarar os processos de defesa ou fuga do ego.
Na medida em que houve a exposição por parte do usuário, o profissional analisa
e interpreta o que está ouvindo, a fim de posteriormente, trabalhar com este usuário
as inquietudes percebidas.
Esta interpretação não poderá ocorrer de forma “apressada”. Se o profissional ou
o futuro profissional apresentar uma postura que demonstre a vontade de que o
atendimento se encerre logo, isso poderá fazer com que o usuário se retraia e limite-
se as informações necessárias a serem dadas, prejudicando o atendimento.

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Figura 105- relógio


Fonte: https://cdn.pixabay.com/photo/2019/03/08/01/28/hypnosis-4041583_960_720.jpg

Como vimos, o homem tem uma forte tendência a reagir de acordo com o que
o grupo e a sociedade esperam dele. E qualquer imposição ou demonstração de
impaciência pode levar o indivíduo a sentir-se rejeitado ou diminuído.
Perguntas como: por quê? Como assim? O que você quis dizer com isso? São formas
de se questionar e aprofundar sobre o que foi falado pelo usuário durante o atendimento.
O atendimento eficaz: “... consiste numa relação permissiva, (...) que permite ao
[usuário] alcançar uma compreensão de si mesmo num grau que o capacite para
progredir...” (Rogers apud HESS,1983, p.137).
Não é possível adivinharmos qual é o problema do usuário sem que ele antes nos
relate qual é. Cada indivíduo é diferente, mesmo que por vezes seus problemas sejam
similares, o que obrigará o profissional a buscar uma linha de raciocínio também
diferente, para cada caso.
Não existe finitude no conhecimento e na capacitação profissional.
Logo é falho afirmar que o profissional possui um conhecimento pronto e acabado.
Se ele não consegue fazer autorreflexão, autoquestionamentos, na busca de uma
liberdade interior dele próprio, se ele não se encontrou e não se percebeu enquanto
cidadão de direitos e deveres, ele não terá condições de estar viabilizando tal processo
de reflexão junto com seu usuário.

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Isto é o que chamamos na profissão de visão de homem e de mundo. Se a reflexão e


o diálogo não estiverem incorporados enquanto parte de visão de mundo do profissional,
este não conseguirá escutar ninguém.
Quer dizer, este processo implica na expansão e na maturação das potencialidades
tanto do profissional, quanto do usuário. Implica na coragem de ser, de encarar a vida
como ela é e se apresenta.
O processo reflexivo é uma prática que requer dedicação, empenho e afinco, pois
não se obtém resultados imediatamente. Tal processo exige do profissional um
ordenamento mental pois:

... é impossível separarmos agir-pensar-falar , e sempre que isto


é feito, seja teoricamente, seja em termos de valores, ocorre uma
alienação da realidade; agir-sem pensar é ser um autômato, falar
sem pensar é ser como um papagaio; falar sem agir... ‘de boas
intenções o inferno está cheio’. [grifo nosso] (LANE,1991, p.28-29).

Agir, pensar e falar devem ser compreendidos


dentro do processo reflexivo, pois não podemos
deixar escapar nenhum momento de raciocínio
com o usuário. A reflexão é ampliada na medida
em que o usuário é questionado, na medida em
que ele pensa sobre si, os fatos, acontecimentos e
relações vivenciadas.
Praticamente falando, não se pode abordar o
usuário, impondo que a partir daquele momento
ele terá que refletir, tornar-se senhor de sua vida,
abandonar ideologias dominadoras etc. Isso acabará Figura 106- Mente pensante
Fonte: https://cdn.pixabay.com/
photo/2015/11/13/20/15/light-bulb-1042480_1280.jpg
sendo uma confirmação do tipo de ideologia da
sociedade que o Assistente Social em discurso julga desmistificar.
O usuário sendo dotado de emoções acaba também sendo dotado de reações
algumas vezes imprevisíveis, o que exige atenção. É preciso saber ler nas entrelinhas.
A preocupação encontra-se voltada à questão de se estar sabendo perceber
informações que estão presentes, porém de maneira indireta e oculta. Uma preocupação
com a coleta de informações, de não deixar que elas se percam.

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Isto é relevante para a prática profissional. Realmente deve-se ter atenção para
com a coleta de dados e informações, pois como dissemos, anteriormente, são os
elementos concretos e vividos que darão rumo ao trabalho.
Pois somente quando temos a oportunidade de pessoalmente mantermos contato
com o usuário é que se pode chegar a tais conclusões: ele é ou não uma pessoa aberta
à reflexão? Ou este usuário necessitará de mais um tempo para aceitar a situação na
qual se encontra e se abrir para refletir?
E isso vai ocorrendo na medida em que cada vez mais o indivíduo se percebe
como ser distinto, que ele é dotado de individualidade de singularidade, de unicidade
na medida em que ele consegue olhar para dentro de si e ver que ele tem direito de
ser ele mesmo, como colocamos no capítulo anterior.
Para isso, o usuário necessita de um tempo para que possa assimilar que o
profissional pode ser seu intermediário em tal processo.
De uma maneira ou de outra o profissional estará aos poucos tomando conhecimento
de fatos pessoais deste usuário (fatos que o usuário permita que o profissional
conheça), contudo deve-se atentar para os usuários mais introspectivos, pois os
questionamentos por parte do profissional podem representar uma “invasão” na vida
pessoal deste indivíduo.
Por isso, o processo reflexivo avança à medida em que o usuário vai abrindo seu
interior para que o profissional possa estar procurando auxiliá-lo.
A formação teórica é de fundamental importância, pois ela embasa e fundamenta
a prática. A teoria não se “aplica” na prática, mas é na prática que esta teoria é
experenciada, fazendo com que o referencial teórico, a visão de homem e de mundo
vá se aperfeiçoando. É como uma rua de duas vias, uma ação conjunta a qual recebe
o nome de práxis (teoria-ação-teoria).
É bom lembrar que nem a sociedade está acima dos indivíduos e nem os indivíduos
estão acima da sociedade. Segundo Marx (1989, p.204-205), “a sociedade não consiste
em indivíduos, senão que expressa a soma das relações e condições, mas quais esses
indivíduos se encontram reciprocamente situados”.
Elas não conseguem perceber-se como agentes participativas, não sabendo muitas
vezes como posicionar-se frente ao indivíduo problemático. Estas são realmente
questões relevantes que são abordadas na formação profissional e que envolvem o
“como fazer”.

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Todos os indivíduos estabelecem algum tipo de relação em sua vida, e os


acontecimentos tanto os bons quanto os ruins são enfrentados por cada indivíduo
de maneira diferente, as reações tidas ao vivenciarem alguma situação é variável de
indivíduo para indivíduo. E isto é o que faz a diferença nos atendimentos é o que exigirá
uma postura ética, porém diferenciada do profissional frente a cada caso.
E nisso podemos perceber o quanto é válido também para o profissional o princípio
filosófico que diz que o indivíduo que não conhece a si próprio não é capaz de conhecer
o outro. E também se este profissional apenas reproduzir valores, não demonstrará estilo
próprio, autoconsciência de si e de sua profissão. Este conteúdo filosófico transcende
a Psicologia em si. Ela é apenas uma das diversas disciplinas que compõem a área
social que devem se preocupar com o conhecimento do homem e de sua relação
com o mundo que o cerca.
Pois é no campo de estágio que se vivencia
e se apreende uma postura profissional.
É onde se tem a oportunidade de crescer
profissionalmente e consequentemente
pessoalmente. O campo de estágio é onde a
práxis começa a dar seus primeiros passos
e a “... nossa atividade só será práxis se for
impregnada por uma reflexão crítica, capaz de
elucidar todas as suas implicações” (SEVERINO,
1994, p.195). Figura 107- vitória
Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/a-beira-mar-acao-
alegria-alto-40815/
Esta reflexão crítica, da qual fala o autor, diz
respeito ao que vimos anteriormente: fazer a relação entre o teórico-filosófico e aquilo
que a realidade nos apresenta.

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CONCLUSÃO

Pois bem, primeiramente parabéns por concluir mais uma etapa do seu processo
formativo. Mas lembre-se retome do conteúdo desta disciplina sempre que necessário,
pois em outros momentos você precisará destes conhecimentos, pois as disciplinas
de fundamentos ainda não encerraram.
Ressalto que as disciplinas se somam, elas são articuladas de maneira que você
possa compreendê-las com maior profundidade, mas ao final você precisará ter domínio
de conhecimento de todas, você irá percebendo que elas se somam e se complementam
nas busca pela formação teórica, técnica e metodológica.
Vimos especificamente nesta disciplina, que o homem é um ser de relação, que
ele age no mundo, influenciando-a e sendo ao mesmo tempo influenciado por ela. As
relações que se dão na sociedade dizem respeito a diferentes variáveis que exigem
uma análise crítica e fundamentada.
Muitas pessoas dizem que ser Assistente Social é fácil, que não precisa de muito
estudo, mas o que poucas pessoas sabem é que para compreender o ser humano,
suas relações, o sistema socioeconômico no qual estamos inseridos é preciso muito
estudo, dedicação, empenho, discussão, reflexão e a transcendência do senso comum
para o senso crítico.
Compreender as correntes filosóficas que influenciaram/influenciam o Serviço
Social não é tarefa fácil e como eu disse lá no início: se fosse fácil qualquer um faria.
É preciso domínio das teorias, das metodologias além de um amplo conhecimento
sobre Leis, políticas programas etc.
Iniciamos nosso estudo compreendendo para que serve a Filosofia e como superar
o senso comum e desenvolver nosso senso crítico, em seguida, vimos o que é e como
se dá atitude filosófica, por fim, vimos como a Filosofia se aproxima e influenciou e
influencia o Serviço Social.
Em seguida precisamos alinhar nosso entendimento sobre o homem, sua relação
com os grupos e com a comunidade, pois somos seres sociais.
Depois das reflexões iniciais vimos o que são as teorias sociais e porque elas
são importantes para a profissão. Após entendido isso vimos as principais correntes
filosóficas que influenciaram o Serviço Social, como o Neotomismo, Positivismo,
Fenomenologia e o Marxismo.

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Encerramos aprendendo mais sobre o Racionalismo Formal Abstrato, a influência


marxista no Serviço Social, encerrando a apresentação de como se dá o método
abstrato-concreto proposto por Marx, o qual também é chamado de método da
economia política.
Depois de tudo isso, te pergunto: quais foram os conhecimentos novos que você
aprendeu nesta disciplina? O que mais achou interessante? Quais foram as suas
maiores dificuldades e dúvidas? Queremos saber de você, conte para nós como esta
disciplina contribuiu para a sua formação, compartilhe conosco, estamos aqui para
te apoiar.
Encerro este nosso momento lembrando do Mito da Caverna de Platão, visto lá no
início da nossa disciplina: que você ao sair da caverna, ter contato com o conhecimento,
veja o quanto é libertador, pois uma mente que se abre para o saber nunca mais volta
ser igual.
Neste momento, nem você e nem eu (ao encerrar esse livro) somos iguais, somos
maiores, melhores e mais fortes.
Não pare de buscar o conhecimento, não pare de aprender, não pare de crescer, busque
sempre o seu melhor, saiba que você é muito maior e muito mais capaz que imagina!
Grata pela oportunidade, até uma próxima oportunidade!

Prof.ª Daniela Sikorski

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da UFPE, 2002.TOMAZI. Nelson Dacio (coord.). Iniciação à sociologia. São
Paulo: Atual, 200.

TRIVIÑOS, Augusto N. Silva. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais.


São Paulo: Atlas, 1987.

VÁSQUEZ, Adolfo Sánchez. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1985.

FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 199


FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS
DO SERVIÇO SOCIAL
PROFª. ESP. DANIELA SIKORSKI

WAMBIER, J. de F. Formação da individualidade humana: uma história de


necessidade e liberdade. Ponta Grossa, 1996. 161p. Dissertação (Mestrado
em Serviço Social) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

YAZBEK, Maria Carmelita. (Org). Projeto de revisão curricular da Faculdade de


Serviço Social da PUC/SP. Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, 1984.

YAZBEK, Maria Carmelita. Os fundamentos históricos e teórico-metodológicos


do Serviço Social brasileiro na contemporaneidade. Revista Serviço Social:
Direitos Socais e Competências Profissionais. 2009a.

YAZBEK, Maria Carmelita. O significado sócio-histórico da profissão. In:


Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais. Brasília: CFESS/
ABEPSS, 2009b

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ELEMENTOS COMPLEMENTARES

LIVRO

Título: Serviço Social e Filosofia: das origens à Araxá


Autor: Antônio Geral de Aguiar
Editora: Cortez Editora
Sinopse: Esta obra representa uma contribuição de
grande alcance no processo de formação profissional
de assistentes sociais. O autor procura mostrar o
surgimento do Serviço Social brasileiro atrelado ao
projeto de reforma social da Igreja Católica, como
também a influência europeia e americana. Num
segundo momento, mostra o atrelamento do Serviço
Social à ideologia desenvolvimentista, através da ação
desenvolvida pela ONU e pela posição de diferentes
governos brasileiros. Por fim, busca situar o Documento de Araxá dentro do processo
de reconceituação do Serviço Social e o momento histórico que era o da implantação do
regime militar, bem como realizar uma análise interna e uma crítica do próprio documento.

LIVRO

Título: Convite à Filosofia


Autor: Marilena Chauí
Editora: Editora Ática
Sinopse: CONVITE A FILOSOFIA é um marco no ensino
da Filosofia no Brasil. Por meio de uma linguagem
acessível, trata de forma contextualizada os temas
importantes da reflexão filosófica, conduzindo o leitor à
profundidade dos grandes pensadores. Razão, Verdade,
Conhecimento, Ciência, Ética, Política, Arte, Técnica,
Religião, Metafísica, História e Lógica emergem de suas

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páginas em abordagens que suscitam fecundas discussões sobre o mundo das ideias
e sobre a história do pensamento.

LIVRO

Título: Por que fazemos o que fazemos? Aflições vitais


sobre trabalho, carreira e realização
Autor: Mario Sergio Cortella
Editora: Editora Planeta
Sinopse: Um guia para quem sonha com realização
profissional sem abrir mão da vida pessoal. Questionar-
se sobre sua carreira atual e sobre como você estará no
futuro concomitantemente a tudo mais que sonha fazer
faz parte do ser humano e traz, muitas vezes, muita
apreensão. Com os ensinamentos da obra “Por que
fazemos o que fazemos? Aflições vitais sobre trabalho,
carreira e realização”, saiba que é possível caminhar
nessa trilha da vida com grande propósito e motivação, seguindo seus valores e sendo
leal a si e ao seu emprego. Aflições vitais sobre trabalho, carreira e realização” .

LIVRO

Título: O que é Positivismo?


Autor: João Ribeiro Jr.
Editora: Brasiliense
Sinopse: O século 19 e a França são os dois marcos do
positivismo, nome com que foi batizado o pensamento
filosófico de Augusto Comte, e que pregava a
implantação de um Estado autoritário como a única
via para o desenvolvimento da sociedade e para a
construção de uma ordem social harmônica. Esse

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pensamento polêmico difundiu-se rapidamente na Europa e logo alcançou o Brasil,


onde influenciou decisivamente os pensadores republicanos.

FILME

Título: Sociedade dos poetas mortos


Ano: 1989
Sinopse: O novo professor de Inglês John Keating é
introduzido a uma escola preparatória de meninos que é
conhecida por suas antigas tradições e alto padrão. Ele
usa métodos pouco ortodoxos para atingir seus alunos,
que enfrentam enormes pressões de seus pais e da
escola. Com a ajuda de Keating, os alunos Neil Perry,
Todd Anderson e outros aprendem como não serem
tão tímidos, seguir seus sonhos e aproveitar cada dia.

FILME

Título: Matrix
Ano: 1999
Sinopse: Um jovem programador é atormentado por
estranhos pesadelos nos quais sempre está conectado
por cabos a um imenso sistema de computadores do
futuro. À medida que o sonho se repete, ele começa a
levantar dúvidas sobre a realidade. E quando encontra
os misteriosos Morpheus e Trinity, ele descobre que é
vítima do Matrix, um sistema inteligente e artificial que
manipula a mente das pessoas e cria a ilusão de um
mundo real enquanto usa os cérebros e corpos dos
indivíduos para produzir energia.

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FILME

Título: O Jovem Karl Marx


Ano: 2016
Sinopse: Aos 26 anos, Karl Marx embarca para o exílio
junto com sua esposa, Jenny. Na Paris de 1844, ele
conhece Friedrich Engels, filho de um industrialista
que investigou o nascimento da classe trabalhadora
britânica. Dândi, Engels oferece ao jovem Marx a peça
que faltava para completar a sua nova visão de mundo.
Entre a censura e a repressão, os
tumultos e as repressões políticas, eles lideram o
movimento operário em meio a era moderna.

FILME

Título: Alice no país das maravilhas


Ano: 2010
Sinopse: Alice (Mia Wasikowska) é uma jovem de 17
anos que passa a seguir um coelho branco apressado,
que sempre olha no relógio. Ela entra em um buraco
que a leva ao País das Maravilhas, um local onde esteve
há dez anos apesar de nada se lembrar dele. Lá ela é
recepcionada pelo Chapeleiro Maluco (Johnny Depp)
e passa a lidar com seres fantásticos e mágicos, além
da ira da poderosa Rainha de Copas (Helena Bonham
Carter).

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FILME

Título: O show de Truman. O show da vida


Ano: 1998
Sinopse: Truman Burbank é um pacato vendedor de
seguros que leva uma vida simples com sua esposa
Meryl Burbank. Porém algumas coisas ao seu redor
fazem com que ele passe a estranhar sua cidade, seus
supostos amigos e até sua mulher. Após conhecer a
misteriosa Lauren, ele fica intrigado e acaba descobrindo
que toda sua vida foi monitorada por câmeras e
transmitida em rede nacional.

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