Fragmentação Partidária
Fragmentação Partidária
Fragmentação Partidária
2014
Os problemas políticos no Brasil são visíveis e são assuntos muito
comentados, principalmente no ano de eleições. Parece presente e solidificado
no imaginário da população uma incredulidade genérica no funcionamento do
sistema político. A relação de representação parece fraca, mesmo com 32 [1]
partidos políticos existentes, não se sabe ao certo se a crise representativa é
devido a essa conciliação partidária. Ou se a fragmentação partidária traz
benefícios ou prejudica ainda mais o ponderado sistema politico brasileiro. A
existência de uma extremada fragmentação partidária possui diversas
consequências, mas para avalia-las deve-se avaliar o princípio histórico antes e
após a redemocratização.
1 [1] TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Partidos políticos registrados no TSE. Brasília, agos/2014. Disponível
em: <http://www.tse.jus.br/partidos/partidos-politicos/registrados-no-tse>. Acessado em 26 de agosto de 2014.
[2] FICO, Carlos. Versões e controvérsias sobre 1964 e a ditadura militar. Revista Brasileira de História, São Paulo,
v. 24, nº 47, 2004
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(Produto Interno Bruto) e economia brasileira cresceu 11,1% ao ano [3]
. Mas
não diminuíram o déficit da balança de pagamentos, não diminuíram as
diferenças regionais, nem controlaram a inflação.
Por volta de 1974, começou uma crise mundial, com o aumento do preço do
petróleo e outros produtos. O projeto que os militares tinham em mente não
poderia sustentar-se, caso não tivessem poderes excepcionais nas mãos. Eles
apelaram para a legitimidade revolucionária e se atribuíram tais poderes,
mediante Atos Institucionais, como o Ato Institucional nº 2 (AI-2) que dava mais
poderes ao presidente quanto à apresentação de projetos de lei; Justiça Militar
passa a julgar civis incursos em crimes contra a segurança nacional; eleições
indiretas para o futuro presidente; autorização para caçar mandatos e
suspender direitos políticos por dez anos; extinção dos partidos políticos e
autorização para a organização de apenas dois: ARENA (Aliança Renovadora
Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro); e o Ato Institucional nº 5
(AI-5) que dava autorização ao Presidente da República para: decretar o
recesso do Congresso, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais;
intervir nos estados, municípios e territórios; cassar mandatos por dez anos;
decretar estado de sítio; decretar o confisco de bens [4].
3[3] CYSNE, Rubens Penha. Economia Brasileira no Período Militar. Est. Econ., São Paulo, v.23, nº 2, 1993.
[4] ALBUQUERQUE, Caio Rodrigo. AI-1, AI-2, AI-5... JP. INTERCOM, Campo Grande/MS, 2001.
[5] REBELLO, Mauricio Michel. A fragmentação partidária no Brasil: visões e tendências. São Paulo, 2012.
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Então depois de vinte anos vivendo sob regime militar, no período de 1964 à
1985, finalmente a população brasileira poderia escolher seus dirigentes
governamentais, passam a viver sob a Constituição da Republica Federativa do
Brasil, sancionada na Câmara dos Deputados, em Brasília no dia 5 de outubro
de 1988. Através do movimento “Diretas Já” foi restaurado o sistema de
eleições democráticas o Brasil deixa de ser bipartidário e passa a ser
multipartidário.
6[6] REBELLO, Mauricio Michel. A fragmentação partidária no Brasil: visões e tendências. São Paulo, 2012.
[7] DUVERGER, Maurice. Os partidos políticos. Rio de Janeiro: Zahar, 1970.
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Até os próprios deputados divergem opiniões quanto a fragmentação política,
em entrevista ao portal da câmara dos deputados o deputado Marcio França a
fragmentação partidária é reflexo da pluralidade brasileira levando em
consideração que a principal característica do nosso País é a variedade
cultural, política e racial. Já para o deputado Ibsen Pinheiro muitas legendas
geram impasses políticos, onde os grandes partidos perdem poder de
deliberação e as minorias ganham poder de obstrução e barganha [8].
Não é rara a confusão que os políticos fazem entre defesa dos ideais do
partido com defesa dos próprios interesses, essa confusão explica as
ocorrências das divergências internas, pois o que se espera dos
8 [8] PORTAL DA CÂMARA DOS DEPUTADOS. Deputados e especialistas divergem sobre fragmentação
partidária. Brasilia/DF, 2010. Disponível em <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/150816-
DEPUTADOS-E-ESPECIALISTAS-DIVERGEM-SOBRE-FRAGMENTACAO-PARTIDARIA.html>. Acessado em 26 de
agosto de 2014.
9[9] NETTO, Leôncio Martins Rodrigues. Nome do artigo ou livro em negrito. Cidade ou estado da publicação. Ano
da publicação
representantes sociais é a coesão das suas ideologias e as do grupo político.
As divergências também acontecem entre os partidos afiliados.
Cabe ressaltar que a existência de diversos partidos a princípio não pode ser
apontada como trágica ao funcionamento das instituições. Seria mais
democrático, permitindo a representação das opiniões de maneira mais correta,
protegendo melhor os direitos do cidadão, sendo assegurado pela Constituição.
Se a sociedade é heterogênea não há porque homogeneizar a representação
política.
10[10] NETTO, Leôncio Martins Rodrigues. Nome do artigo ou livro em negrito. Cidade ou estado da publicação,
Ano da publicação
Foi criado um neologismo para caracterizar a atual conjuntura do legislativo
brasileiro, o “hiperpartidarismo”, é quando ultrapassam-se as barreiras do que
seria um multipartidarismo, ou uma simples fragmentação partidária. Trata-se
de verdadeira proliferação, onde partidos são criados sem possuir programas
partidários com ideologias indefinidas e nem um compromisso com a
representação de seus eleitores [11].
Das 32 (trinta e duas) legendas existentes, pode-se considerar que muitas não
são dotadas de expressividade, contudo só esse fato não desvirtua a ideia do
“hiperpartidarismo”, diante da existência de diversos partidos medianos e da
grande quantidade de pequenos partidos. Tal número de agremiações torna
impossível o exercício do governo sem a existência de uma coalizão, muitas
vezes, com uniões esdrúxulas de partidos, que, a priori, são ideologicamente
opostos. Atingir a maioria em tratativas no Congresso Nacional com apoio à
atuação governamental se torna difícil, sendo necessária a negociação com
uma base partidária heterogênea, acarretando em um alto custo do processo
decisório, com o comprometimento do nível do processo eleitoral e a demora
nas deliberações Legislativas.
11[11] ARRETCHE, Marta; RODDEN, Jonathan. Política Distributiva na Federação: Estratégias Eleitorais,
Barganhas Legislativas e Coalizões de Governo. Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 47, nº 3, 2004.
Hoje vive-se o chamado presidencialismo de coalizão [11]. Daí decorrem muitas
consequências positivas como ganhos de representatividade e maior
capacidade efetiva de controle do poder executivo e menor potencial de abuso
de poder presidencial. No entanto, os ganhos marginais decorrentes da
formação de coalizões são decrescentes a partir de um certo limiar e, no limite,
tornam-se negativos. Isto ocorre por duas razões. Em primeiro lugar, pelo
aumento dos custos de transação que podem minar os ganhos de troca no
sistema político. Em segundo, pelo aumento da heterogeneidade ideológica da
coalizão de governo. Mesmo com toda a força do Executivo, para se colocar
em prática determinado programa de governo o apoio do Legislativo é
imprescindível. Diante da necessidade de lei para a realização de reformas e
implementação de diversos projetos, impõe-se alianças excessivas.
Debater a política Nacional não é uma tarefa simples e as repostas estão longe
de serem certíssimas. Tudo se desenvolve no âmbito da subjetividade não é
mais do que uma questão de perspectiva. Não existem soluções mágicas ou
imediatas, trata-se de um processo de maturação democrática. Espera-se o
desenvolvimento das instituições.