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02/10/2023, 21:58 “O Brasil é o país do nepotismo”, afirma sociólogo | Política

INÍCIO  POLÍTICA
ELEIÇÕES 2018
“O Brasil é o país do nepotismo”, afirma
sociólogo
Oligarquias políticas dominam o Poder Legislativo brasileiro e podem se perpetuar a
partir das eleições de 2018
Leonardo Fernandes
Brasil de Fato | São Paulo | 25 de Julho de 2018 às 13:41

Ouça o áudio:

56:39:16

Políticos herdeiros são a maior bancada do Congresso Nacional, afirma ONG Transparência Brasil

Políticos herdeiros são a maior bancada do Congresso Nacional, afirma ONG Transparência Brasil -
Marcos Oliveira/Agência Senado

Quase a metade dos deputados federais eleitos em 2014 são herdeiros políticos, ou seja,
foram eleitos graças ao capital político de parentes diretos que já ocupavam algum
cargo eletivo. O levantamento foi feito pela Organização Não-Governamental
Transparência Brasil logo após as eleições legislativas e revelou um aumento de 5% do
número de herdeiros políticos eleitos, em comparação ao pleito de 2010. No Senado
Federal, a proporção é ainda maior: seis de cada dez senadores fazem parte de clãs
familiares.

“A transferência de poder de uma geração a outra de uma mesma família tanto é uma
forma de manter no cenário político figuras tradicionais já desgastadas – muitas das
quais chegam a ser rejeitadas pelas urnas – como uma maneira de perpetuar práticas
políticas arcaicas, que garantem a defesa dos interesses de determinados grupos locais
e dificultam mudanças”, destaca o documento.

A diretora de operações da ONG responsável pelo estudo, Juliana Sakai, explica que a
iniciativa buscava fazer uma radiografia dos quase 600 parlamentares, entre deputados
e senadores, sobre vários aspectos, como a assiduidade ao trabalho e os perfis de

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projetos apresentados. Mas a genealogia dos representantes foi o que chamou a


atenção.

“A partir desse levantamento feito naquela época, nós fechamos o quadro do que eram
os clãs políticos. E algo interessante que vimos é que existia um percentual muito alto
desses clãs dentro do Congresso, particularmente no Senado. E a gente vê que existem
uma série de fatores que ajudam um determinado político a se eleger ou a se reeleger.
E a família política, o clã político é um desses fatores”.

Para Ricardo da Costa Oliveira, professor de sociologia política da Universidade Federal


do Paraná (UFPR), a estrutura político-eleitoral do Brasil é permissiva a esse tipo de
situação.

“O Brasil é uma república do nepotismo, entendendo o nepotismo como uma relação


entre parentesco e poder político”.

Segundo Oliveira, é preciso ‘entender a influência das famílias políticas e sua lógica de
riqueza e poder’ para compreender a história da política brasileira. “Isso aumentou
exatamente devido ao controle que estas famílias políticas possuem sobre todas as
instituições políticas no Brasil e até ajuda a explicar o golpe de 2016, que foi um golpe
destas famílias políticas, dessas oligarquias familiares. E elas controlam de maneira
substantiva, e muito mais depois do golpe, o Poder Executivo, Legislativo, Judiciário,
Ministério Público, tribunais de contas, a grande mídia, que é toda dominada por
interesses familiares, e grande parte do empresariado brasileiro também é formado por
estas mesmas famílias”.

De acordo com o relatório da Transparência Brasil, as regiões com maior quantidade de


representantes com herança política na Câmara dos Deputados são o Nordeste e o
Norte, com 63% e 52%, respectivamente. Já no Senado, Sul, Sudeste e Centro-oeste
lideram com 67% de políticos herdeiro em cada região. O que demonstra que se trata
de um fenômeno nacional.

De acordo com o levantamento, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB, ex-PMDB)


é o partido com a maior quantidade de deputados e senadores eleitos com parentes na
política. O Partido dos Trabalhadores (PT) é a legenda com o percentual mais baixo de
herdeiros políticos, com 27%.

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Um caso emblemático das dinastias parlamentares vigentes até os dias de hoje é o


deputado federal por Minas Gerais, Bonifácio de Andrada (PSDB). No seu décimo
mandato legislativo, ele garante a permanência da família há cerca de dois séculos. Ele
é descendente direto de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), membro de uma
tradicional família da aristocracia portuguesa e importante figura política do período
colonial, tendo exercido papel decisivo no processo de independência do Brasil.

Um aspecto que chama a atenção é o caráter conservador dos políticos herdeiros.


Andrada, por exemplo, foi favorável ao golpe de estado, votando a favor do
impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Mais tarde, votou pela rejeição das duas
denúncias apresentadas pelo Ministério Público contra o presidente Michel Temer. E
também se posicionou favorável ao projeto de redução da maioridade penal e à emenda
constitucional 95, que congelou os investimentos públicos pelos próximos 20 anos.

Perspectivas para 2018

Uma combinação certeira para a vitória eleitoral de um candidato, principalmente no


Poder Legislativo, é o capital político herdado e uma capacidade financeira para custear
a campanha eleitoral, já que as doações empresariais de campanha estão proibidas, por
decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Existe uma relação bastante forte, como é de se esperar, entre financiamento eleitoral
e quantidade de votos. Ou seja, você precisa de um recurso significativo para conseguir
se eleger ou se reeleger. Ai agora a gente tem um cenário onde os recursos são mais
limitados e quem tem mais poder para repassar esse dinheiro são os partidos. Então
você vai ter uma parte do fundo eleitoral que são dos partidos e quem define para
quem vai são os ‘donos’ desses partidos”, afirma Sakai.

Para o cientista político e assessor parlamentar Enrico Ribeiro, as reformas eleitorais


realizadas em 2015 e 2016 serviram justamente para garantir a manutenção dos
parlamentares em seus cargos, principalmente graças ao sistema de distribuição do
Fundo Especial para Campanhas Eleitorais, que tem um valor superior a R$ 1,7 bilhão
nas eleições de 2018. Segundo a regra, 98% dos recursos serão destinados às legendas
de acordo com a atual representação no Congresso Nacional e a distribuição interna dos
recursos ficará a cargo dos líderes das legendas.

“Essa distribuição, da forma como foi feita, nitidamente, é para garantir que a maior
parte dos recursos sejam encaminhados àqueles partidos que tenham as maiores
bancadas. Então você acaba fazendo com que haja pouca perspectiva de mudança na
correlação de forças partidárias para o ano que vem. A reforma eleitoral veio para
tentar fazer com que se preservasse o mandato daqueles que já estão no cargo”.

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Segundo o professor Ricardo Oliveira, as reformas eleitorais realizadas nos últimos


anos não impede a influência do poder econômico nas eleições, pelo contrário, dá mais
poder às oligarquias políticas que controlam o funcionamento interno dos partidos. E
lembra ainda a reputação nada ilibada daquele que liderou o conjunto de reformas.

“Então essa é uma eleição para uma plutocracia. Quanto mais rica a família política,
maiores as chances de elegibilidade, tanto na questão do financiamento, na questão do
horário eleitoral gratuito… Na verdade, quem fez toda essa reforma foi o Eduardo
Cunha!”

Nas eleições de 2018, além dos cargos de presidente e vice-presidente da República


serão eleitos os 513 representantes da Câmara dos Deputados, 54 dos 81 senadores,
além dos governadores dos 27 estados mais o Distrito Federal e suas respectivas
assembleias legislativas. As eleições ocorrerão no dia 7 de outubro, em primeiro turno,
e no dia 28 do mesmo mês, o segundo turno.

Edição: Juca Guimarães

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