Aula 1 - Controle Const. Leg. Local (Educa)
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Aula 1 - Controle Const. Leg. Local (Educa)
constitucionalidade
da legislação local
AULA 1
Controle de constitucionalidade e federalismo
Conteudista:
Rodrigo Lobo Canalli (STF)
Revisor de textos:
Rochelle Quito (STF)
Web designer:
Higor Bezerra Rodrigues (STF)
I – Apresentação do curso........................................................................ 4
II – Objetivos............................................................................................ 5
1. Introdução............................................................................................ 6
8. Competências concorrentes..................................................................17
9. Considerações finais..............................................................................20
Glossário..................................................................................................22
AULA 1 Controle de constitucionalidade e federalismo
I – Apresentação do curso
Desejo boas-vindas a todos os participantes do curso “Controle de
constitucionalidade da legislação local”.
Espero que, juntos, com base nos conhecimentos adquiridos ao longo das aulas
e nas dúvidas aqui compartilhadas, possamos ampliar os horizontes do nosso saber em
relação a este tema: o controle da constitucionalidade das leis editadas por Estados,
por Municípios e pelo Distrito Federal.
No âmbito do STF, são muitas as demandas cuja solução depende, senão
do juízo sobre a constitucionalidade de uma norma produzida por Assembleia
Legislativa ou Câmara Municipal, pelo menos da aferição segura acerca dos limites
da cognoscibilidade dessa questão, ou seja, de saber se a questão é ou não suscetível
de ser apreciada pelo STF nos termos em que apresentada.
Isso ocorre tanto em processos de competência originária do STF quanto no
exercício da sua competência recursal.
No primeiro caso (competência originária), podemos citar como exemplo o
ajuizamento de uma arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) em
que o STF seja chamado a se pronunciar sobre uma dada controvérsia constitucional
que tenha como objeto lei municipal.
No segundo (competência recursal), uma situação frequente é a interposição
de recurso extraordinário, com fundamento no artigo 102, III, “c”, da Constituição
Federal, contra decisão de Tribunal de Justiça
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal,
que tenha reputado válida lei ou ato de governo precipuamente, a guarda da Constituição,
local contestado em face da Constituição. cabendo-lhe:
(...)
Visando a conferir mais segurança ao III - julgar, mediante recurso extraordinário,
as causas decididas em única ou última instância,
enfrentamento de questões dessa natureza,
quando a decisão recorrida:
estudaremos as especificidades dos mecanismos (...)
c) julgar válida lei ou ato de governo local
de fiscalização da constitucionalidade das contestado em face desta Constituição.
normas quando aplicados pelo STF às leis
estaduais, municipais e distritais, seja no exercício da jurisdição constitucional
concentrada, seja no exame dos recursos apresentados ao Tribunal.
Atenção
Palavras destacadas em verde integram o glossário que está disponível para
consulta no final das aulas.
Vale a pena conferir!
II – Objetivos
Ao final deste curso, você deverá ter incorporado ao seu repertório de
conhecimentos técnico-jurídicos instrumentos que o auxiliarão a compreender a
discussão acerca da constitucionalidade de normas locais (estaduais ou municipais),
seja em controle concentrado de constitucionalidade, seja no campo do recurso
extraordinário.
Nesta aula, que marca nosso primeiro passo em direção a tal objetivo,
articularemos as controvérsias constitucionais sobre leis estaduais, distritais e
municipais com relação à estrutura constitucional de divisão das competências
legislativas entre os entes federados. Logo você verá que é menos complicado do
que parece.
Vamos lá?
Conheça o autor deste curso:
1. Introdução
A Constituição Federal delega ao STF a competência para exercer o controle de
constitucionalidade de leis e atos normativos.
Mediante diferentes mecanismos processuais, que estudaremos detidamente
no decorrer do curso, à Suprema Corte brasileira é submetida a tutela da
constitucionalidade de leis e outros atos normativos produzidos tanto pela União
quanto pelos Estados, pelos Municípios e pelo Distrito Federal.
Embora sejam mais frequentes processos em que discutida a constitucionalidade
de leis federais, o número de ações e recursos cujo objeto envolve questionamento
acerca da constitucionalidade de leis editadas por Estados e Municípios é significativo
e tem aumentado.
Disso decorre uma primeira observação: o STF não é um tribunal apenas da
União; é um tribunal da Federação. A ele cabe assegurar a observância da Constituição
por todos os entes que integram a Federação brasileira.
Conclui-se também que não é possível compreender devidamente o controle
de constitucionalidade de normas estaduais e municipais pelo STF sem antes abordar
a forma federativa do Estado brasileiro e a correspondente divisão de competências
normativas entre os entes políticos que o integram.
CORRETO
Leis Leis
estaduais municipais
Leis Leis
federais Constituição distritais
ERRADO
Saiba Mais
Em um Estado federal, a relação entre o governo central e os estados
federados é frequentemente marcada por momentos de tensão. Em 1798,
ainda estavam em construção, nos Estados Unidos da América, país berço do
federalismo, as interpretações sobre os limites das competências legislativas
da União e dos Estados. Após a aprovação, naquele ano, de duas leis que
ampliavam consideravelmente o escopo da competência legislativa da União,
os Estados de Kentucky e Virgínia, alegando que os Estados tinham o direito e
o dever de declarar a inconstitucionalidade de atos normativos do Congresso
que não encontravam autorização na Constituição, editaram resoluções para
declarar a inconstitucionalidade daquelas leis federais.
Vale lembrar, ainda, que toda declaração de direitos fundamentais titularizados por
indivíduos ou grupos, na Constituição, traduz, em si mesma, uma modalidade de restrição
do poder legislativo. Sempre que a Constituição declara um direito, automaticamente
restringe o poder legislativo de todos os entes políticos – União, Estados, Distrito
Federal e Municípios – na medida em que vincula a produção legislativa de todos eles,
no alcance das suas competências específicas, à observância desse direito.
EXPECTATIVA
REALIDADE
“§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, “§ 2º Cabe aos Estados explorar diretamente,
instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas ou mediante concessão, os serviços locais
e microrregiões, constituídas por agrupamentos de de gás canalizado, na forma da lei, vedada
municípios limítrofes, para integrar a organização, a edição de medida provisória para a sua
o planejamento e a execução de funções públicas de regulamentação.”
interesse comum.”
8. Competências concorrentes
O artigo 24 da Constituição Federal enumera as matérias sobre as quais
compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente. São
matérias acerca das quais os entes federados podem editar leis ao mesmo tempo.
“Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
II - orçamento;
III - juntas comerciais;
IV - custas dos serviços forenses;
V - produção e consumo;
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção
do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,
estético, histórico, turístico e paisagístico;
IX - educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação;
X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas;
XI - procedimentos em matéria processual;
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde;
XIII - assistência jurídica e Defensoria pública;
XIV - proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência;
XV - proteção à infância e à juventude;
XVI - organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis.”
Fonte: Wikimedia
A existência da legislação federal sobre pesca, todavia, ainda que válida para
todo o território nacional, não impede os Estados de implementar suas próprias
legislações a respeito da matéria, desde que elas não comprometam a vigência da
legislação federal.
Alguns Estados podem, por exemplo, decretar moratória da pesca de espécies
que não constam na lista federal de espécies protegidas. Mas por que fariam isso?
Pode ser que uma espécie abundante quando tomamos por base o Brasil inteiro – o
Ente Limites de
federativo competência Alcance Escopo Proteção
Editar normas
especiais e
suplementares Limite Adaptar a Pode
(em caso de territorial do regra geral às aumentar o
Estado ausência de Estado- peculiaridade nível de
norma geral -membro s locais proteção
da União, a
competência
é plena)
9. Considerações finais
Nesta aula, apresentamos, em linhas gerais, os contornos da estrutura
constitucional do federalismo brasileiro e suas implicações para a produção legislativa
dos diferentes entes federados. Preparamos, assim, o caminho para adentrarmos o
estudo dos mecanismos de tutela constitucional das normas locais (estaduais, distritais
e municipais) no âmbito do STF.
Por ora, fico por aqui. Despeço-me com um abraço e votos de enriquecimento
intelectual para você. Até a próxima aula!
Glossário
Assembleia Legislativa – ente colegiado que exerce o poder legislativo no âmbito
do Estado federado. É formada por deputados estaduais, representantes eleitos pelo
voto direto dos eleitores registrados em cada Estado da Federação, para mandatos de
quatro anos, em número proporcional à população do Estado.
Câmara Municipal – ente colegiado que exerce o poder legislativo no âmbito do
Município. É constituído por representantes eleitos pelo voto direto dos eleitores
registrados no território do Município, chamados vereadores, em número proporcional
à respectiva população.
Cláusula pétrea – norma constitucional que não pode ser alterada nem mesmo pelo
procedimento especial de emenda à Constituição.
Cognição/conhecimento – em direito processual, cognição, ou conhecimento, diz
respeito à aferição dos elementos subjetivos e objetivos cuja presença é requisito
para que o mérito de uma dada questão seja examinado.
Competência – regra definidora da autoridade judicial ou administrativa responsável
por apreciar determinado processo ou realizar determinado procedimento. Diz-se que
um órgão tem competência originária sobre uma questão quando a ele cabe apreciá-la
e decidi-la direta e primeiramente, e recursal quando a ele cabe revisar a decisão de
outro órgão.
Competência legislativa – competência para editar leis. A competência pode ser
privativa, quando a sua atribuição a um ente exclui os demais, ou concorrente, quando
pode ser exercida simultaneamente por diferentes atores.
Constituição – lei fundamental de uma organização política (um Estado, uma federação
ou uma comunidade de nações), na qual são definidos os limites do exercício do poder
político. Funciona como parâmetro para a atividade executiva (por exemplo, o poder
de polícia), para a edição de leis e outros atos normativos e para a atuação dos juízes
e dos tribunais.
Controle de constitucionalidade – procedimento pelo qual é verificada a
compatibilidade entre uma lei ou ato normativo e a Constituição.
Ente federado/federativo – ver estado federado.