Diagnostico Politica Monitoracao Eletronica
Diagnostico Politica Monitoracao Eletronica
Diagnostico Politica Monitoracao Eletronica
Eletrônica
Criminal
evidências e leituras sobre
a política no Brasil
Monitoração
Eletrônica
Criminal
evidências e leituras sobre
a política no Brasil
Esta obra é licenciada sob uma licença Creative Commons -
Atribuição-Não Comercial-Sem Derivações. 4.0 Internacional.
M744
Monitoração eletrônica criminal [recurso eletrônico] : evidências e leitu-
ras sobre a política no Brasil / Conselho Nacional de Justiça ... [et al.] ; co-
ordenação de Luís Geraldo Sant’Ana Lanfredi ... [et al.]. Brasília : Conselho
Nacional de Justiça, 2021.
Inclui bibliografia.
210 p. : fots., tabs., grafs. (Série Fazendo Justiça. Coleção monitoração
eletrônica).
Versão PDF.
ISBN
ISBN 978-65-88014-06-6 (Coleção)
Coordenação Série Fazendo Justiça: Luis Geraldo Sant'Ana Lanfredi; Natalia Albuquerque Dino de Castro
e Costa; Renata Chiarinelli Laurino; Valdirene Daufemback; Talles Andrade de Souza; Débora Neto Zampier
Supervisão geral: Izabella Lacerda Pimenta, Fabiana de Lima Leite e Talles Andrade de Souza
Supervisão técnica: Izabella Lacerda Pimenta
Apoio: Comunicação Fazendo Justiça
Projeto gráfico: Sense Design & Comunicação
Revisão: Orientse
Fotos: CNJ; Unsplash
Apresentação
A Constituição brasileira alicerça nossas aspirações enquanto sociedade fundada no estado democrático de direito
ao mesmo tempo em que fomenta o avanço social com respeito aos direitos fundamentais e à dignidade humana.
Nesse sentido, é dever indelével das instituições, especialmente do Judiciário, zelar para que nossas ações apontem
para esse norte civilizatório, não apenas rechaçando desvios a essa finalidade, mas agindo já para transformar o
presente que almejamos.
Em 2015, o Supremo Tribunal Federal reconheceu que quase 1 milhão de brasileiros vivem à margem da lei máxima do
país enquanto dentro de nossas prisões, com efeitos nefastos para o grau de desenvolvimento inclusivo ao qual nos
comprometemos por meio da Agenda 2030 das Nações Unidas. É desse cenário que se ocupa o programa Fazendo
Justiça, parceria entre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimen-
to, com apoio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, na figura do Departamento Penitenciário Nacional.
Mesmo durante a pandemia de Covid-19, o programa vem realizando entregas estruturantes a partir da colaboração
e do diálogo entre diferentes atores em todo o país. São 28 ações desenvolvidas simultaneamente para diferentes
fases e necessidades do ciclo penal e do ciclo socioeducativo, que incluem a facilitação de serviços, reforço ao
arcabouço normativo e produção e difusão de conhecimento. É no contexto desse último objetivo que se insere a
presente publicação, agora parte integrante de um robusto catálogo que reúne avançado conhecimento técnico no
campo da responsabilização e garantia de direitos, com orientação prática para aplicação imediata em todo o país.
O presente estudo integra a coleção Monitoração Eletrônica da série Fazendo Justiça, contribuindo para a discussão so-
bre o controle da superpopulação prisional. A obra reúne análise qualitativa sobre o uso do aparato tecnológico em dez
capitais – Belém, Belo Horizonte, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Palmas, Porto Alegre, Recife e São Paulo – além
de estudo quantitativo de dados obtidos em outras quatro unidades federativas: Ceará, Pernambuco, Pará e Paraná.
A coleta teve como base autos processuais, além de entrevistas e observação de campo junto a magistrados, ges-
tores das centrais de monitoração, profissionais das equipes multidisciplinares e pessoas monitoradas. Foram iden-
tificadas práticas daqueles que integram os serviços de monitoração eletrônica, com descrição das normas e/ou
opiniões e juízos que orientam a aplicação da medida, discursos e representações sobre os serviços, assim como
situações não previstas em lei nas quais a monitoração é aplicada e os argumentos que embasam tais fundamenta-
ções. Espera-se que o conhecimento produzido possa respaldar intervenções estruturantes para o aperfeiçoamento
desta política, abordando questões estruturais e novos desafios a partir de evidências e com base na legalidade e
na garantia de direitos.
Ao final deste documento está a íntegra da Resolução CNJ nº 412/2021, que estabelece diretrizes e procedimentos
para a aplicação e o acompanhamento da medida de monitoramento eletrônico de pessoas. A normativa define a
política institucional do Judiciário para os serviços de monitoração eletrônica, oferecendo protocolos, procedimen-
tos e diretrizes para ampliar a segurança jurídica aos órgãos do Poder Judiciário e de administração penitenciária,
bem como aos destinatários da medida. Ademais, indica caminhos para o uso adequado e racional da monitoração
eletrônica, fortalecendo o papel do Poder Judiciário na construção e fomento de uma política pública fundada em
evidências, com reflexos efetivos no aprimoramento do sistema penal.
Luiz Fux
Presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça
CNJ (Conselho Nacional de Justiça)
Presidente: Ministro Luiz Fux
Corregedora Nacional de Justiça: Ministra Maria Thereza Rocha de Assis Moura
Conselheiros
Luiz Fernando Tomasi Keppen
Tânia Regina Silva Reckziegel
Mário Augusto Figueiredo de Lacerda Guerreiro
Flávia Moreira Guimarães Pessoa
Ivana Farina Navarrete Pena
Marcos Vinícius Jardim Rodrigues
André Luis Guimarães Godinho
Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho
Sidney Pessoa Madruga
Mário Henrique Aguiar Goulart Ribeiro Nunes Maia
Sub Coordenação:
Rafaelle Lopes Souza (CRISP/UFMG)
Frederico Couto Marinho (CRISP/UFMG)
Pesquisadores:
Fábia Berlatto (Centro de Estudos de Segurança Pública e Direitos Humanos da Universidade Federal do
Paraná - CESPDH)
Gregório Zambon Diniz (UNICAMP)
Ítalo Lima Siqueira (UFCE)
Laura Girardi Hipolyto (PUCRS)
Marcilaine Martins da Silva Oliveira (Núcleo de Estudos sobre Criminalidade, Violência e Justiça Criminal -
NECRIVI-UFG)
Jaime Luiz Cunha de Souza (UFPA)
Gilson Antunes (UFPE)
Naldson Ramos da Costa (UFMT)
Claret Costa (UFTO)
Najla F. Frattari (Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Goiás - IFG)
Consultor Estatístico:
Edmilson Antônio Pereira Júnior
Consultor de Conteúdo:
Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo (PUCRS)
SUMÁRIO
1. Introdução 11
8. Recomendações 152
Tabela 1 - Quantitativo de processos de execução penal nos quais foi aplicada a monitoração
eletrônica por cidade, em 12/2018 22
Tabela 2 - Quantidade de pessoas monitoradas, presas e variação anual, com base móvel,
no Ceará - 2013-2019 117
Tabela 3 - Quantidade de presos provisórios e pessoas monitoradas no Ceará - 2007-2019 118
Tabela 4 - Quantidade de pessoas monitoradas, presas e variação anual, com base móvel,
em Pernambuco - 2013-2019 120
Tabela 5 - Quantidade de pessoas monitoradas, presas e variação anual, com base móvel,
no Pará - 2014-2019 123
Tabela 6 - Quantidade de pessoas monitoradas, presas e variação anual, com base móvel,
no estado do Paraná - 2014-2019 126
Gráfico 1 - Síntese do perfil demográfico e de escolaridade das pessoas monitoradas nas
cidades que compõem a amostra do estudo em percentual (%), 2020, (N=94) 32
Gráfico 2 - Distribuição percentual (%), do sexo das pessoas monitoradas nas cidades que
compõem o estudo em 2020, percentual - (N=94) 33
Gráfico 3 -Distribuição percentual (%), da raça das pessoas monitoradas nas cidades que
compõem o estudo, 2020, - (N=94) 34
Gráfico 4 - Distribuição percentual (%) do grupo etário das pessoas monitoradas entrevistadas
nas cidades que compõem o estudo, 2020, - (N=94) 35
Gráfico 5 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que compõem o estudo segundo o estado civil, 2020, (N=94) 36
Gráfico 6 - Situação das pessoas monitoradas e relação com os filhos nas cidades que
compõem o estudo, 2020, percentual (%) - (N=94) 37
Gráfico 7 -Distribuição percentual (%) do responsável pelo cuidado dos filhos das pessoas
monitoradas entrevistadas nas cidades que compõem o estudo, 2020 - (N=94) 39
Gráfico 8 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas nas cidades que compõem
o estudo, segundo a crença religiosa, 2020, - (N=94) 40
Gráfico 9 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo a escolaridade, 2020 - (N=94) 41
Gráfico 10 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo a forma de inserção no mercado de trabalho, 2020,
(N=94) 42
Gráfico 11 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo o recebimento de algum tipo de auxílio, 2020
(N=94) 42
Gráfico 12 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo o tipo de moradia, 2020, percentual - (N=94) 43
Gráfico 13 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo o número de pessoas na moradia, 2020 - (N=94) 44
Gráfico 14 - Síntese dos relatos das pessoas monitoradas nas cidades que integram o estudo
segundo as condições em que ocorre a monitoração em percentuais (%), 2020 - (N=94) 45
Gráfico 15 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo a razão da monitoração, 2020 - (N=94) 50
Gráfico 16 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo o objetivo da monitoração, 2020, percentual - (N=94) 51
Gráfico 17 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas, segundo conhecimento sobre
o tempo de uso da tornozeleira, deveres e direitos, 2020 - (N=94) 52
Gráfico 18 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram a pesquisa segundo o recebimento de outra medida e seu tipo, 2020
(N=94) 53
Gráfico 19 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo a percepção do desconforto causado pela tornozeleira,
2020 - (N=94) 54
Gráfico 20 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo a percepção de comprometimento das relações
sociais pelo uso da tornozeleira, 2020 - (N=94) 54
Gráfico 21 - Distribuição percentual das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades que
integram o estudo, segundo a percepção de comprometimento de problemas de saúde
devido ao uso da tornozeleira, 2020 - (N=94) 55
Gráfico 22 - Distribuição percentual das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades que
integram o estudo segundo o consumo de álcool e outras drogas e dificuldades de
uso da tornozeleira, 2020 - (N=94) 56
Gráfico 23 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo segundo o motivo da prisão prévia a monitoração, 2020,
percentual - (N=94) 57
Gráfico 24 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo segundo a ocorrência de problemas com a tornozeleira, 2020
(N=94) 57
Gráfico 25 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo segundo a ocorrência de incidentes, 2020, percentual - (N=94) 59
Gráfico 26 - Sinóptico do Perfil das Pessoas Monitoradas e das suas Percepções sobre a
Medida de Monitoração Eletrônica 60
Gráfico 27 - Síntese do perfil e das percepções dos trabalhadores das Centrais de Monitoração
Eletrônica nas cidades, 2020, percentual (%) - (N=32) 61
Gráfico 28 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração nas
cidades que integram o estudo segundo o sexo, 2020 - (N=32) 64
Gráfico 29 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração
Eletrônica entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo o grupo
etário, 2020 - (N=32) 65
Gráfico 30 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores entrevistados nas Centrais de
Monitoração entrevistados nas cidades que integram o estudo, segundo a formação
acadêmica, 2020 - (N=32) 66
Gráfico 31 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração
entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo o tempo no Cargo, 2020
(N=32) 68
Gráfico 32 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração
entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo a rotina de trabalho,
2020, percentual - (N=32) 69
Gráfico 33 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração
entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo o setor de trabalho,
2020 - (N=32) 69
Gráfico 34 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração
entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo a ocorrência de seleção
para ocupar o cargo, 2020 - (N=32) 70
Gráfico 35 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração
Eletrônica entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo a percepção
das vantagens do trabalho na Central, 2020 - (N=32) 71
Gráfico 36 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração
Eletrônica entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo a percepção
de dificuldades no trabalho, 2020, percentual - (N=32) 72
Gráfico 37 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração
Eletrônica entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo a percepção
da relação com a chefia, 2020 - (N=32) 76
Gráfico 38 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração
Eletrônica entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo a percepção
da relação com as pessoas monitoradas, 2020, percentual - (N=32) 77
Gráfico 39 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração
Eletrônica entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo a avaliação
do trabalho, 2020, percentual - (N=32) 78
Gráfico 40 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração
Eletrônica entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo a percepção
da finalidade da medida, 2020 - (N=32) 79
Gráfico 41 - Quantidade de presos provisórios e condenados no Ceará - 2007-2019 116
Gráfico 42 - Taxa de presos para cada 100 mil habitantes no Ceará - 2007-2019 116
Gráfico 43 - Quantidade de presos provisórios e condenados em Pernambuco - 2007-2019 119
Gráfico 44 - Taxa de presos para cada 100 mil habitantes em Pernambuco - 2007-2019 120
Gráfico 45 - Quantidade de presos provisórios e pessoas monitoradas em Pernambuco -
2007-2019 121
Gráfico 46 - Quantidade de presos provisórios e condenados no Pará - 2007-2019 122
Gráfico 47 - Taxa de presos para cada 100 mil habitantes na cidade no Pará - 2007-2019 122
Gráfico 48 - Quantidade de presos provisórios e pessoas monitoradas no Pará - 2007-2019 123
Gráfico 49 - Quantidade de presos provisórios e condenados no estado do Paraná - 2007-2019 124
Gráfico 50 - Taxa de presos para cada 100 mil habitantes no estado do Paraná - 2007-2019 125
Gráfico 51 - Quantidade de presos provisórios e pessoas monitoradas no estado do Paraná -
2007-2019 126
Quadro 1– Capitais da Federação escolhidas para integrar o estudo, segundo características
da Monitoração Eletrônica realizada conforme os diagnósticos nacionais de
monitoração eletrônica (BRASIL, 2015a, 2018) 16
Quadro 2 - Distribuição dos autos processuais analisados segundo a situação jurídica de
aplicação da medida de monitoração eletrônica, em Belo Horizonte, Curitiba,
Cuiabá e Fortaleza, 2020, número (N=368) 28
Quadro 3 - Distribuição percentual das informações sobre características sociodemográficas
das pessoas monitoradas nos autos processuais analisados em Belo Horizonte,
Curitiba, Cuiabá e Fortaleza, segundo a categoria dominante, 2020 - (N=368) 28
INTRODUÇÃO
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa visa produzir conhecimento sobre a monitoração eletrônica, considerando
representações, práticas e impactos para as pessoas monitoradas e para o encarceramento no país.
Espera-se que o conhecimento produzido possa apoiar o aperfeiçoamento da política pública voltada
para o desenvolvimento de estratégias para promover a redução da superlotação e superpopulação
carcerária no Brasil, com enfoque na monitoração eletrônica de pessoas1.
A pesquisa foi realizada combinando uma dimensão qualitativa com uma dimensão quantita-
tiva de coleta e análise de dados. Após reuniões de alinhamento com o Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) foram discutidos e validados os instrumentos de coleta e as metodologias de análise de dados.
A escolha dos estados da federação para integrar a pesquisa considerou a necessidade de contem-
plar estados em que havia e em que não havia equipe multidisciplinar2 atuando nos serviços de moni-
toração eletrônica; e estados que adotassem a monitoração eletrônica na fase de execução penal e na
fase de instrução penal, bem como estados que a adotam em apenas uma destas fases. Desta forma,
foram eleitos os estados que integram o Quadro 1 (p. 18).
1 Nesta publicação, ressaltamos que os termos “monitoração eletrônica de pessoas” e “monitoramento eletrônico de pessoas” são
utilizados como sinônimos.
2 Equipe multiprofissional – composta por assistentes sociais, bacharéis em direito e psicólogos que atuam nas Centrais de Monitora-
ção e realizam o trabalho de acompanhamento das pessoas monitoradas visando a formação/restauração de vínculos e o adequado cum-
primento da medida. Fonte: PIMENTA, I. L. Modelo de Gestão para Monitoração Eletrônica de Pessoas. Brasília: Departamento Penitenciário
Nacional/Ministério da Justiça e Cidadania. 403 p. 2020. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/09/Modelo_Mo-
nitoracao_miolo_FINAL_eletronico.pdf. Acesso em: 5 jan. 2021.
A Organização das Nações Unidas (NACIONES UNIDAS, 1984) definiu a avaliação como o pro-
cesso de determinação sistemática e objetiva da pertinência, eficiência, eficácia e impacto de todas
as atividades à luz de seus objetivos. Trata-se de um processo organizativo para melhorar as ativida-
des em andamento e contribuir para a administração, planejamento, programação e futuras tomadas
de decisões.
A avaliação de um programa, projeto ou ação pode ser entendida ainda como o processo de
delinear, obter e prover informações para descrever, compreender e elaborar julgamentos e deci-
sões relacionadas ao programa. Além de prover informações sobre o funcionamento e os impactos
dos programas, as avaliações devem fornecer descrições dos contextos nos quais os programas/
Entende-se ainda que o exame do desempenho deve ocorrer uma vez que o projeto tenha
sido finalizado, ou após determinado tempo de implementação, ou seja, aqui se busca verificar seus
resultados ou impactos. A avaliação de impacto busca determinar em que medida o projeto ou ação
implementada alcança seus objetivos, seus efeitos antecipados, seus efeitos secundários (não pre-
vistos e previstos). Trata-se obviamente do tipo de avaliação que mais interessa aos gestores públi-
cos, pois diz respeito a questões fundamentais como sua eficácia e eficiência, a decisão quanto a sua
continuidade e o montante de recursos a ser aplicado para tal.
Nos modelos quase experimentais os membros dos casos e dos controles não são selecio-
nados aleatoriamente. Nesse tipo de modelo incluem-se as séries temporais, através das quais são
realizadas medições antes, durante e depois da realização do programa/projeto/ação. Nesse tipo de
pesquisa são formados grupos sem projeto, escolhidos de forma a compartilharem algumas carac-
terísticas com os membros do caso (não escolhidos aleatoriamente). Posteriormente são realizadas
medições antes e depois de introduzido o programa/projeto/ação. Outra possibilidade seria compa-
rar um grupo com ele próprio em momentos diferentes, antes e depois da intervenção.
No nosso caso, esse último modelo significaria comparar um território com ele próprio em
momentos diferentes (antes x depois). Assim, compararíamos as taxas de encarceramento de um
território antes e depois da adoção da monitoração eletrônica, bem como a aplicação da monitora-
ção eletrônica na fase cautelar antes e depois da introdução da medida neste mesmo território. Um
desenho de pesquisa com esses contornos foi sugerido no edital. Contudo, o estudo exploratório do
campo nos estados escolhidos para compor a amostra apontou o seguinte:
Equipe
Monitoração Monitoração Ano de
Multidisciplinar
Eletrônica Eletrônica Ínicio da Número de
Capitais no Serviço de
na Execução na Instrução Monitoração Monitorados
Monitoração
Penal Penal Eletrônica
Eletrônica
Esta etapa iniciou no mês de novembro de 2019 e perdurou até fevereiro de 2020. Buscou-se
representar a pluralidade das vozes das distintas organizações e dos atores que atuam no sistema
da monitoração eletrônica. Aqui é importante registrar que em alguns dos estados que integraram
a amostra, existem centrais nas capitais e em outras cidades. Neste estudo, foram contempladas
apenas as centrais localizadas nas capitais. Embora o planejamento original previsse a realização
das observações em 10 capitais dos estados da federação escolhidos para compor a amostra, não
foi possível a realização desta etapa no estado de São Paulo. Foram realizadas 130 entrevistas em
nove cidades, distribuídas da seguinte forma: 94 com as pessoas monitoradas e 36 com os traba-
lhadores (servidores e trabalhadores contratados por tempo determinado, alguns vinculados contra-
tualmente a empresas parceiras) da Central de Monitoração Eletrônica. Na cidade de Cuiabá foram
feitas 18 entrevistas (13 com pessoas monitoradas e 5 com trabalhadores da Central de Monitoração
Eletrônica). Na cidade de Belém também foram 18 (13 pessoas monitoradas e 5 servidores). Em Re-
cife foram 21 (17 pessoas monitoradas e 4 servidores). Na cidade de Palmas foram 13 (10 pessoas
monitoradas e 3 servidores). Em Goiânia foram 24 (20 pessoas monitoradas e 4 servidores). Em Belo
Horizonte foram 14 (11 pessoas monitoradas e 3 servidores). Na cidade de Fortaleza foram 13 (10
pessoas monitoradas e 3 servidores). Na cidade de Porto Alegre foram 4 (apenas servidores) e no Pa-
raná foram 5 (apenas servidores). As diferenças no número de trabalhadores entrevistados, quando
comparamos as capitais dos estados estudados, reflete diferenças no número de trabalhadores das
centrais, assim como a disposição desses trabalhadores em participar da pesquisa, lembrando que
a participação é voluntária e autônoma.
A observação foi orientada por roteiro, por um período de 30 dias, durante os quais intentou-se
identificar como ocorre a interação e articulação da Central de Monitoração Eletrônica com os órgãos
de segurança pública e sistema prisional no nível estadual e com o Poder Judiciário. Foram ainda pes-
quisados os fluxos e ferramentas de trabalho, as condições de infraestrutura de funcionamento dessas
centrais, as interações de seus trabalhadores com as pessoas monitoradas e o tratamento de informa-
ções sobre as pessoas monitoradas. Quando da presença de equipe multidisciplinar foi observada a
rotina de atendimento e a relação de seus profissionais com os demais trabalhadores da central.
4 O Modelo de Gestão para a Política de Monitoração Eletrônica de Pessoas (PIMENTA 2020, pg. 214) define incidente como: “qualquer
situação que interfira no cumprimento regular da medida de monitoração eletrônica conforme procedimentos apresentados no presente
manual, não envolvendo necessariamente comunicação ao juiz”. Na página 216, são apresentados os casos mais comuns de incidentes:
“incapacidade ou negativa de assinar termos; não comparecimento da pessoa em datas agendadas ou em situações emergenciais para: -
reparos técnicos no equipamento de monitoração eletrônica e substituições, visando a manutenção da medida judicial; - avaliação periódica
da equipe multidisciplinar (assistente social, bacharel em direito e psicólogo); - remoção e devolução do equipamento de monitoração ele-
trônica ao final da medida; - encaminhamentos; violação de áreas de inclusão e/ou exclusão; detecção de movimentação sem sinal de GPS
e/ou perda de sinal de celular; falha de comunicação do equipamento ou detecção de falsa geolocalização; incidentes de bateria (descarga
parcial ou nível baixo de bateria, descarga completa de bateria); inobservância de horários e/ou de restrições a locais específicos e danifica-
ção do equipamento, ruptura/violação da tira de fixação ou do invólucro do equipamento de monitoração eletrônica”.
5 A entrevista semiestruturada é realizada a partir de um roteiro de questões abertas, com eventual inclusão de outras perguntas que
emergem na medida da necessidade para entendimento do tema em questão. FRASER, M. T. D. G; GUEDES, S. M. Da fala do outro ao texto
negociado: discussões sobre a entrevista na pesquisa qualitativa. Paidéia (Ribeirão Preto), v.14, n.28, p.139-152, 2004.
A apresentação dos resultados integra uma análise quantitativa e qualitativa dos achados con-
forme previsto em edital. Ressalta-se, contudo, que os dados quantitativos apresentados sob a forma
de percentuais objetivam facilitar a compreensão da percepção dos envolvidos. Pelo fato da amostra
de trabalhadores e pessoas monitoradas abordadas ter sido de conveniência6 e não probabilística, os
percentuais apresentados não podem ser extrapolados para a população geral de pessoas monitora-
das.
Foram também realizadas 50 entrevistas com magistrados das 10 cidades pesquisadas me-
diante um roteiro de entrevista semiestruturada. Todos eram integrantes do judiciário estadual, ex-
ceto na cidade de São Paulo onde foram entrevistados magistrados do judiciário federal, devido ao
não acesso para realização da pesquisa junto à magistratura do judiciário do estado. As entrevistas
foram realizadas por meio de videoconferência e telefone, uma vez que esta etapa do estudo foi
iniciada concomitantemente à implementação de medidas de isolamento social, como estratégia
de proteção da população e contenção da disseminação do vírus Sars-Cov-2, responsável pela pan-
demia de COVID-19 no país. Ocorreu a transcrição síncrona da fala do entrevistado na maioria dos
casos e em outros, gravação com posterior transcrição dos achados.
Através de entrevistas com juízes, que atuam nas Centrais de Flagrantes, Varas de Inquéritos,
Varas Criminais, Varas de Execução Criminais, e Varas de Violência Doméstica buscou-se apreender
as opiniões e justificativas para a aplicação da monitoração eletrônica, a definição de prazos e as
reavaliações periódicas, os juízos de necessidade, a adequação e individualidade quanto à aplicação
da medida, as representações quanto ao público monitorado, os propósitos e sentidos da monitora-
6 Amostra de conveniência: Consiste em uma técnica de amostragem que não considera critério de representatividade estatística, ou
seja, não é probabilista e aleatória. A conveniência é ditada pela viabilidade operacional e menor custo. OLIVEIRA, T. M. V. Amostragem não
probabilística: Adequação de Situações para uso e Limitações de amostras por Conveniência, Julgamento e Quotas. Administração On Line,
v.2, n.3 2001.
A análise das transcrições das entrevistas foi realizada segundo a técnica de Análise de Con-
teúdo (BARDIN, 1977; CAMPOS, 2004) e observou as seguintes etapas: 1- Pré-exploração do material
durante a qual foram realizadas sessões de leituras flutuante do material (visando apreensão glo-
bal das ideias principais e os seus significados gerais); 2-Seleção das unidades de análise (temas)
orientada pelas questões de pesquisa - palavras, sentenças, frases, parágrafos; 3- Categorização
apriorística (grandes enunciados abarcando conjunto de temas por afinidade ou proximidade) das
dimensões e fatores que compõem a opinião dos participantes acerca dos mecanismos de controle
eletrônico da liberdade.
A partir da autorização dos juízes das respectivas Varas foi possível elaborar um banco de
dados em Excel (Microsoft® Office) com os autos processuais de pessoas que receberam a medida
de monitoração eletrônica em Varas Criminais, Varas Especiais de Violência Doméstica e Familiar e
em audiências de custódia em cada cidade integrante do estudo. Esta etapa da pesquisa, também
sofreu ajuste considerando as contingências impostas pelo estado de emergência em saúde pública7
em decorrência da pandemia da Covid-19, tendo sido executada em cinco capitais, cada uma repre-
sentativa de uma macrorregião do país, a saber: Belo Horizonte, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza e Palmas.
Contudo, para o município de Palmas foi encontrado número pequeno de processos de autos proces-
suais na fase de execução penal lançados no Sistema Eletrônico de Execução Penal (SEEU), quando
da realização do trabalho de campo, o que não permitiu uma análise adequada para esta cidade. As
contingências decorreram do funcionamento total ou parcialmente remoto do judiciário durante o pe-
ríodo de estudo, com impossibilidade ou restrições ao acesso aos autos processuais em meio físico.
O planejamento da pesquisa previu a realização do estudo dos autos processuais (quarta etapa) após
as entrevistas com magistrados (terceira etapa do estudo) o que acabou por coincidir com o período
da pandemia da Covid-19.
No caso das Varas de Execução Penal, foi consultado o Sistema Eletrônico de Execução Penal
(SEEU). Foi optado pela utilização deste sistema por ele ser alimentado regularmente pela maioria
dos estados integrantes da subamostra permitindo padronização das buscas e maior uniformidade
7 BRASIL. Portaria Nº 188, de 3 de fevereiro de 2020. Declara Emergência em Saúde Pública de importância Nacional (ESPIN) em decor-
rência da Infecção Humana pelo novo Coronavírus (2019-nCoV). Diário Oficial da União Publicado em: 04/02/2020 | Edição: 24-A | Seção:
1 - Extra | Página: 1
Foram consideradas as seguintes variáveis: perfil do monitorado, tipificação penal que ense-
jou a monitoração, situação de aplicação da monitoração eletrônica, experiência prisional anterior à
monitoração, medidas conjuntas impostas com a monitoração, período de utilização da tornozeleira
imposto judicialmente, incidentes durante uso da tornozeleira e sanções aplicadas nos casos de
descumprimento.
Para a análise dos autos processuais e construção do banco de dados, foram identificadas em
cada capital estudada as situações nas quais é possível a aplicação da monitoração e aquelas em
que a medida é efetivamente aplicada. Para isso, foram consideradas as situações previstas para a
monitoração eletrônica na Lei nº 7210/1984 - Lei de Execuções Penais (BRASIL, 1984) -, quais sejam:
a) quando o juiz autorizar a saída temporária no regime semiaberto; b) quando determinar a prisão
domiciliar. Assim como os casos de aplicação da monitoração eletrônica enquanto medida cautelar8
- Lei nº 12.403/2011 (BRASIL, 2011): a) ou protetiva de urgência - Lei nº 11.340/2006 (BRASIL, 2006).
Os dados quantitativos foram tabulados com a utilização do pacote estatístico Excel do Office
365 da Microsoft. Para o tratamento dos dados, foram utilizados métodos estatísticos descritivos,
frequências simples e percentuais.
8 É um ato de precaução, que antecipa os efeitos da decisão, antes do seu julgamento e é concedido quando a demora da decisão pode
causar prejuízos. Substitui a prisão preventiva e nos termos da Lei 12.403 pode ser: I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas
condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela
permanecer distante; IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação
ou instrução; V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e traba-
lho fixos; VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de
sua utilização para a prática de infrações penais; VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência
ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou
em caso de resistência injustificada à ordem judicial; IX - monitoração eletrônica.
Tabela 1 - Quantitativo de processos de execução penal nos quais foi aplicada a monitora-
ção eletrônica por cidade, em 12/2018
Visando avaliar os resultados encontrados em cada uma das localidades e proceder à compa-
ração entre elas foi necessário desenvolver um método de amostragem probabilístico, cuja amostra
deveria ser representativa da população-alvo. O método de amostragem probabilística é aquele cujo
procedimento de seleção dos elementos ou grupos de elementos de uma população atribui a cada
elemento uma probabilidade de inclusão na amostra, calculável e diferente de zero (BOLFARINE;
BUSSAB, 2000). Já a amostra representativa da população é aquela em que os resultados obtidos
devem ser passíveis de generalização para todo o universo de análise. Optou-se por utilizar uma
amostra não probabilística de forma a contemplar todos os estratos da população que se pretendia
investigar. Dessa forma, ficou estipulado um número mínimo de 100 autos processuais por capital,
tendo sido possível concluir o trabalho em 4 capitais (Belo Horizonte, Curitiba, Cuiabá, Fortaleza).
O modelo proposto não permite aferir impacto, mas permite delinear os contornos da po-
pulação “contemplada” pela monitoração eletrônica e a identificação de regularidades e tipolo-
gias que orientam as decisões judiciais pela monitoração. Trata-se de um modelo que a literatura
(Tilley, 2001; 2002) chama de modelo de avaliação realista, o qual estaria preocupado com a com-
preensão de como os programas e políticas produzem diferentes efeitos em diferentes lugares e
entre diferentes pessoas.
Paralelamente, em quatro unidades da federação (Minas Gerais, Paraná, Ceará e Pará) foi de-
senvolvido um estudo de análise de série histórica9 baseada em dados coletados nos respectivos
estados e junto ao Departamento Penitenciário Nacional, sobre o encarceramento nestes estados.
Estes dados foram comparados com os dados de monitoração eletrônica nas capitais dos respecti-
vos estados. A escolha das unidades da federação foi orientada pela existência e disponibilização de
dados que permitissem a construção de uma série histórica, particularmente do número de pessoas
monitoradas, o que não foi possível para todos os estados. Foi organizado um banco, com dados
referentes a período anterior mínimo de 5 anos à introdução da monitoração eletrônica em cada um
desses estados, até dezembro de 2019. A partir desses dados foram obtidas taxas por meio das quais
foi verificada a ocorrência de redução no encarceramento a partir da introdução da monitoração ele-
trônica em cada um dos quatro estados.
A utilização da monitoração eletrônica para pessoas condenadas (em execução penal) con-
siderou as situações de cumprimento de pena em regime semiaberto (colônia agrícola, industrial ou
similar) e aberto (casa do albergado), nas situações de capitais que não possuem esses estabeleci-
mentos prisionais ou estes não possuem vagas suficientes, e para as quais foi aplicada a monitora-
ção eletrônica isoladamente ou com outras medidas (trabalho, estudo e outras atividades autoriza-
das durante o dia e recolhimento domiciliar noturno). Ocorre ainda de a medida de monitoração ser
9 “Uma série temporal, também denominada série histórica, é uma sequência de dados obtidos em intervalos regulares de tempo du-
rante um período específico. Na análise de uma série temporal, primeiramente deseja-se modelar o fenômeno estudado para, a partir daí,
descrever o comportamento da série, fazer estimativas e, por último, avaliar quais os fatores que influenciaram o comportamento da série,
buscando definir relações de causa e efeito entre duas ou mais séries”. LATORRE, M. do R. D.de O.; CARDOSO, M. R.A.. Análise de séries
temporais em epidemiologia: uma introdução sobre os aspectos metodológicos. Rev. bras. Epidemiol [online]. v..4, n.3, p.145-152, 2001.
Foi realizada análise de autos processuais que tenham resultado na aplicação de medida de
monitoração, nas capitais de quatro estados representando cada região do país, a saber: Fortaleza
(CE), Cuiabá (MT), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR). Foi definida uma amostra de conveniência
de 100 autos processuais em cada estado, assim divididos: 50 na fase de execução penal, 50 na
fase de conhecimento (30 provenientes de varas criminais, 10 de varas de violência doméstica)
e 10 autos identificados a partir das atas de audiências de custódia nas quais foi determinada a
monitoração eletrônica.
Embora, originalmente o estudo tenha sido planejado para 5 capitais, cada uma representa-
tiva de uma região da federação, como explicado na página 12 deste relatório, para o município de
Palmas foi encontrado número pequeno de autos processuais na fase de execução penal lançados
no SEEU, quando da realização do trabalho de campo, o que não permitiu uma análise adequada para
esta cidade.
Para cada capital estudada foi gerada uma planilha em Excel contendo as seguintes variáveis:
número do processo, estado, comarca, vara, naturalidade, gênero, idade, renda, cor/raça, estado civil,
escolaridade, ocupação, renda, município de residência, município da unidade de privação de liber-
dade (quando aplicável), tipificação penal, duração da pena (no caso dos processos em fase de exe-
cução penal), regime de cumprimento da pena, data do delito que ensejou a monitoração eletrônica,
data da aplicação da medida de monitoração eletrônica, duração da medida, prazo de reavaliação da
medida, fundamentação da aplicação da medida de monitoração eletrônica, outras condicionalida-
des aplicadas em conjunto com a monitoração eletrônica e observações.
Esta etapa da pesquisa ocorreu nos meses de setembro, outubro e primeira semana de novem-
bro de 2020. Infelizmente não foi possível atingir o número previsto para cada modalidade de processo
em todas as 4 capitais estudadas. Para algumas modalidades a amostra foi excedida em um caso.
Para a fase de execução penal, a busca dos autos processuais foi realizada no Sistema Ele-
trônico de Execução Unificada – SEEU, por meio de senha de acesso fornecida pelo CNJ e utilização
das chaves de busca. Foi possível concluir esta etapa na sua integralidade para Belo Horizonte (MG),
Fortaleza (CE) e Curitiba (PR).
Essa etapa não foi concluída para a cidade de Palmas, para a qual se verificou a existência
no SEEU de apenas cinco processos em fase de execução penal, embora a Central de Monitoração
Eletrônica do estado tenha informado aproximadamente 200 monitorados na comarca em execução
penal no mês 10/2020. Para os casos de aplicação da monitoração eletrônica na fase de conhe-
cimento, também não foi possível o estudo dos autos. Tal estudo deveria ser realizado por meio
Para a consulta aos autos processuais na fase de conhecimento foi solicitada a autorização
dos magistrados entrevistados na fase anterior da pesquisa, visando o acesso aos autos proces-
suais de suas respectivas varas. A maior parte dos magistrados das Varas Criminais relatou dificul-
dades para colaborar com esta etapa da pesquisa, a saber: 1- as Varas, de regra, não tem controle dos
processos nos quais houve aplicação da medida de monitoração eletrônica; 2- não aplicação, pelo
magistrado titular da Vara, da medida de monitoração eletrônica; 3- sobrecarga dos trabalhadores
administrativos das varas para colaborar na identificação dos casos, considerando o contexto da
pandemia (afastamento de vulneráveis, trabalho remoto ou semipresencial, necessidade de imple-
mentação de medidas de distanciamento social, sobrecarga de trabalho). Isso posto, e considerando
a observância das medidas sanitárias necessárias no contexto de pandemia, não foi possível na
maior parte das capitais a consulta e seleção, em meio físico, dos autos processuais nos quais ocor-
reu a aplicação da monitoração eletrônica pelos magistrados.
Os números de 10 processos nos quais a monitoração eletrônica foi determinada nas au-
diências de custódia foram disponibilizados pela 4ª Vara de Crimes de Tóxico e consultados no SAJ.
Registre-se que nos processos constam as atas das audiências de custódia.
Nesta comarca não foi obtido acesso a processos tramitando nas Varas de Violência Domés-
tica. Uma magistrada informou o número de 10 processos, mas não forneceu as respectivas chaves
10 SISCOM - Sistema de Informatização dos Serviços das Comarcas – Trata-se de um sistema de movimentação processual que é
adotado em todas as comarcas do estado de Minas Gerais e no qual são lançadas as principais movimentações, bem como suas respecti-
vas datas. Não foi concedida senha para os pesquisadores acessarem o sistema. Os dados foram extraídos do sistema por servidores da
Corregedoria mediante demanda dos pesquisadores.
11 O portal e-SAJ (Sistema de Automação de Justiça) é um sistema eletrônico que visa facilitar a troca de informações e agilizar o
trâmite processual no estado do Ceará, por meio de diversos serviços web voltados para os advogados, cidadãos e serventuários da justiça.
Os dados fornecidos pela CME permitiram acessar 29 processos tramitando em Varas Crimi-
nais, 10 em Varas de Violência Doméstica e 10 processos de pessoas cuja monitoração foi determi-
nada em audiências de custódia.
Foram obtidas, por meio do coordenador em Palmas do Programa Fazendo Justiça, consultor
em audiências de custódia, atas de audiências de custódia ocorridas no ano de 2019, contudo devido
à descontinuidade do contrato firmado pelo estado do Tocantins para o fornecimento de tornozeleiras
e Monitoração Eletrônica naquele ano14, as pessoas que receberam a medida de monitoração na au-
diência de custódia não foram de fato monitoradas.
12 Projudi (Processo Judicial Digital) é um sistema eletrônico de consulta eletrônica via internet do andamento dos processos, utilizado
no estado do Paraná, aberto para o público em geral (apenas os atos públicos) magistrados, ministério público e advogados, exceto nos
casos que correm em segredo de justiça para os quais é necessário login de acesso. Os casos de natureza criminal, podem ser consultados
apenas pelo número processual.
13 e-Proc Processo Eletrônico. Trata-se de processo de tramitação processual em meio eletrônico utilizado no âmbito do Tribunal de
Justiça do estado de Tocantins.
14 A empresa contratada para a locação de tornozeleiras e monitoração eletrônica no estado do Tocantins interrompeu a prestação de
serviços em dezembro de 2018 por problemas de pagamento do contrato. Os serviços de monitoração eletrônica foram normalizados após
contratação emergencial de outra empresa prestadora de serviços de monitoração eletrônica em dezembro de 2019.
Belo
Variáveis Jurídicas Curitiba Cuiabá Fortaleza
Horizonte
O quadro 2 apresenta a distribuição dos autos processuais analisados em cada capital, se-
gundo a situação jurídica na qual foi aplicada a medida de monitoração eletrônica. Como mencio-
nado anteriormente, o munícipio de Palmas não integra o quadro devido à insuficiência dos dados
coletados para análise.
Belo
Variáveis Jurídicas Curitiba Cuiabá Fortaleza
Horizonte
Para este relatório final de pesquisa, optou-se por apresentar a análise agregada das entrevistas
realizadas em sete capitais estudadas: Palmas, Recife, Belém, Cuiabá, Goiânia, Belo Horizonte e Forta-
leza. Para as capitais de Curitiba e São Paulo não são apresentados resultados. Em Curitiba esta etapa
da pesquisa ficou inconclusa por atrasos no acesso ao campo e, portanto, não houve conclusão da
etapa de observação da Central e em São Paulo esta etapa não foi autorizada. Em Porto Alegre não foi
concluída a etapa de entrevista aos monitorados em tempo hábil para inclusão no relatório.
Para expandir o escopo dessa síntese e prover os responsáveis pelas políticas públicas (federal
e estaduais) de uma compreensão ampla da complexidade da monitoração eletrônica nas cidades pes-
quisadas, selecionamos três eixos: a vulnerabilidade da população monitorada, a percepção dos moni-
torados sobre a medida e seus impactos. Cada um desses eixos é composto por vários componentes.
A vulnerabilidade da população monitorada incluiu quatro componentes: idade, raça, escolaridade, for-
ma de inserção no mercado de trabalho e recebimento de auxílios. A percepção dos monitorados sobre
a medida e seus impactos incluiu quatro componentes: o objetivo da medida, a adequação da medida,
ocorrência de problemas de saúde causados e o comprometimento das interações sociais atribuídos
ao uso da tornozeleira.
Cada seção foi dividida em duas partes: a primeira analisa as informações coletadas com os
monitorados e se desdobra em quatro tópicos: (I) Perfil socioeconômico, (II) Percepções sobre a mo-
nitoração eletrônica, (III) Impactos na sociabilidade e saúde e (IV) Incidentes e Descumprimento15; a
segunda analisa as informações coletadas com os operadores das centrais de monitoração eletrônica e
se desdobra em três tópicos: (I) Perfil do Operador da Central de Monitoração Eletrônica, (II) Atuação na
monitoração eletrônica e (III) Percepções sobre outros atores como as polícias.
Como se verá detalhadamente a seguir, o perfil das pessoas monitoradas pesquisadas revela
as desigualdades sociais do país expressas pela clivagem de classe social, gênero, raça, escolaridade,
renda, e indica que o campo judiciário responsável pela aplicação da monitoração eletrônica continua
atuando quase que exclusivamente sobre a população mais vulnerável. A criminalização da pobreza
pode ser verificada através do perfil dos monitorados, quando analisamos o contexto social e econô-
mico precário em que vivem. Os dados mostram que as pessoas monitoradas nas cidades possuem
o que a literatura sociológica define como déficit de integração às políticas públicas de educação, tra-
15 O Modelo de Gestão para a Política de Monitoração Eletrônica de Pessoas (PIMENTA 2020, p.177) define descumprimento como:
“situação excepcional, que ocorre quando não há solução do incidente com ou sem o ajustamento de cumprimento da medida, de acordo
com os protocolos previstos no presente manual. Neste caso é realizada a notificação ao Juiz. PIMENTA, I. L. Modelo de Gestão para Mo-
nitoração Eletrônica de Pessoas. Brasília: Departamento Penitenciário Nacional/Ministério da Justiça e Cidadania. 403 p., 2020. Disponível
em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/09/Modelo_Monitoracao_miolo_FINAL_eletronico.pdf. Acesso em: 5 jan. 2021.
Gráfico 1 - Síntese do perfil demográfico e de escolaridade das pessoas monitoradas nas cida-
des que compõem a amostra do estudo em percentual (%), 2020, (N=94)
50,0
45,0 43,0
40,0 37,0
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0 12,0
10,0 8,0
5,0
0,0
1
19 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos Acima de 50 anos
A maioria das pessoas monitoradas (66%) é do sexo masculino, quase a totalidade (85%) é de
pretos e pardos. 43% são adultos jovens, com idades variando entre 19 e 29 anos. 48% frequentaram
a escola até o ensino fundamental (incompleto e completo).
Quase a metade das pessoas monitoradas (47%) estava desempregada quando da pesquisa
de campo. Dentre aqueles que trabalhavam, 87% não tinham carteira assinada, sendo que 46% se
declararam autônomos. Estas pessoas trabalhavam por conta própria, sem contrato de trabalho, su-
bordinação a outra pessoa, contribuição para a previdência social ou outros benefícios do contrato
legal de trabalho, sendo tecnicamente trabalhadores informais.
16 Em São Paulo não foi autorizada a realização da pesquisa na central de monitoração, momento no qual foram acessadas as pessoas
monitoradas. Em Curitiba esta etapa da pesquisa ficou inconclusa por atrasos no acesso ao campo e, portanto, não houve conclusão da etapa
de observação da Central, e em Porto Alegre não foi concluída a etapa de entrevista aos monitorados em tempo hábil para inclusão no relatório.
Entre as pessoas monitoradas, 53% não recebem qualquer tipo de auxílio. Quanto ao número
de pessoas que vivem no domicílio, 74% dos entrevistados informaram coabitar com outras 3 a 6
pessoas, sendo que 77% vivem com filhos com idade inferior a 18 anos.
O perfil das pessoas monitoradas nas sete cidades pesquisadas corrobora as clivagens de
classe social, raça, escolaridade e renda, há muito descritas nas pesquisas sobre sistema prisional
(LOURENÇO & ALVAREZ, 2018) e explicita a atuação seletiva do campo judiciário e penal sobre a
população mais vulnerável do país. Há uma farta literatura da seletividade do sistema de justiça
criminal e penal sobre os grupos sociais vulneráveis em termos de renda, escolaridade, moradia,
ocupação (AZEVEDO & SINHORETTO, 2018).
Essa seletividade se inicia com a abordagem policial, muito concentrada nas áreas periféricas
das grandes cidades, sendo responsável por boa parte dos crimes que são trazidos à justiça (MUNIZ,
CARUSO & FREITAS, 2018), mas é selada com a maior propensão à atribuição de prisão preventiva
e condenação a homens, jovens e negros (LAGES & RIBEIRO, 2019). São esses os públicos que têm
suas medidas cautelares e penas privativas de liberdade convertidas para o formato eletrônico da
monitoração (BOTTINO & PRATES, 2017), o que explica a enorme homogeneidade dos monitorados
em termos de sexo, raça, escolaridade e ocupação.
Gráfico 2 - Distribuição percentual (%), do sexo das pessoas monitoradas nas cidades que
compõem o estudo em 2020, percentual - (N=94)
80,0
70,0 66,0
60,0
50,0
40,0 34,0
30,0
20,0 42
10,0
0,0
Masculino Feminino
Todavia, quando comparamos a distribuição dos monitorados quanto ao sexo com os presos
do sistema prisional, as mulheres estão sobre representadas: enquanto elas perfazem, em média,
6,5% das internas (DEPEN, 2019), são 34% das controladas eletronicamente. Maidment (2002) ao
analisar a experiência do Canadá destaca que as mulheres tendem a ser as clientes preferenciais
desta forma de restrição da liberdade, posto que o controle eletrônico “perpetua e reforça certos pa-
péis tradicionais de gênero, incluindo a noção de que as mulheres devem manter a responsabilidade
primária pelo cuidado dos filhos e tarefas domésticas” (p. 48). Assim, a autora destaca que, para as
mulheres, a monitoração eletrônica “pode na verdade ser uma forma de punição mais onerosa e dra-
coniana do que o encarceramento” (Ibidem), razão pela qual ela sugere que as percepções acerca do
significado desta medida sejam desagregadas por sexo do monitorado.
Gráfico 3 - Distribuição percentual (%), da raça das pessoas monitoradas nas cidades que
compõem o estudo, 2020 - (N=94)
80,0
70,0 68,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0 17,0
12,0
10,0
3,0 0,0
0,0
Pardo Preto Branco Amarela Indígena
Quando se compara a distribuição dos monitorados com relação à cor da pele com o restante
da população prisional, percebe-se novamente que há sobrerrepresentação de pessoas negras. Nas
prisões, os negros somam 64% (DEPEN, 2019), mas entre os entrevistados esse percentual (que é
o somatório de pretos e pardos) atinge 76%, indicando a necessidade de uma análise de raça/cor
também em termos de quem recebe essa medida de controle eletrônico e em quais situações ela
é aplicada (medida cautelar, medida protetiva ou execução da pena). Embora estejamos neste item
tratando da raça enquanto categoria autorreferida pelos entrevistados, é importante ressaltar que
a análise dos autos processuais identificou na maioria dos autos analisados, que embora a coleta
do dado sobre raça esteja prevista nos formulários institucionais, este campo quase sempre não é
preenchido, e quando isto ocorre não há nenhum indicativo de como o dado foi colhido (auto ou hete-
rodeterminado). Na página 127 deste relatório apresentaremos uma discussão sobre os significados
e impactos desta negligência na coleta destes dados para a política pública.
Gráfico 4 - Distribuição percentual (%) do grupo etário das pessoas monitoradas entrevistadas
nas cidades que compõem o estudo, 2020 - (N=94)
50,0
45,0 43,0
40,0 37,0
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0 12,0
10,0 8,0
5,0
0,0
1
19 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos Acima de 50 anos
Em relação à idade das pessoas monitoradas, 43% são adultos jovens, entre 19 e 29 anos,
37% têm entre 30 e 39 anos, 8% têm entre 40 e 49 anos e 12% têm mais de 50 anos. Essa distribuição
não corresponde à observada na população brasileira por dois fatores: primeiro, o sistema de justiça
criminal engloba apenas maiores de 18 anos (que somam 75% da população brasileira) e, segundo
a seletividade da justiça penal (anteriormente destacada) se concentra majoritariamente nos jovens
com idade até 30 anos (AZEVEDO & SINHORETTO, 2018). Assim, apesar de a faixa etária entre 19 e 30
Gráfico 5 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que compõem o estudo segundo o estado civil, 2020 - (N=94)
50,0
40,0 40,0
35,0
30,0
20,0
Em relação ao estado civil, 40% das pessoas monitoradas entrevistadas se declararam soltei-
ras, 35% amasiadas, 10% separadas, 10% casadas e 5% divorciadas. Esse perfil é um pouco distinto
do verificado em outras pesquisas sobre pessoas presas em flagrante (IDDD, 2019) e daquelas que
estão encarceradas (DEPEN, 2019), em que os solteiros perfazem 60% dos internos. Novamente, o
maior percentual de pessoas casadas e amasiadas pode indicar preferência por este perfil no esta-
belecimento da medida de monitoração eletrônica, dada a expectativa dos magistrados de que os
sujeitos com vínculo familiar terão maior facilidade com o cumprimento das restrições impostas,
entre as quais está a obrigação de permanecer maior tempo no lar (GACEK, 2019), ainda que na rea-
lidade brasileira nem todas as pessoas que recebem a medida de monitoração eletrônica possuam
moradia ou estejam inseridas em um contexto de coabitação que possa ser considerado um lar, dada
a diversidade de arranjos sociais.
Interessante notar que, apesar da maioria dos entrevistados ser solteiro, 75% das pessoas
monitoradas têm filhos. Novamente, há diferenças entre o perfil das pessoas monitoradas com re-
lação ao perfil da população encarcerada. Segundo o relatório do INFOPEN (2016, p. 39), “53% dos
homens privados de liberdade não têm filhos” enquanto, entre as mulheres, somente 26% não têm
filhos. Esses percentuais podem indicar certa tendência dos juízes a impor a medida de monitoração
eletrônica às pessoas que têm filhos, já que elas tenderiam a se empenhar mais no cumprimento
das medidas para não terem que retornar ao cárcere, onde estariam separadas de suas crianças e
adolescentes (MAIDMENT, 2002).
Das pessoas entrevistadas que têm filhos, 77% vivem com o(s) filho(s), crianças e/ou ado-
lescentes, sendo que 91% das pessoas entrevistadas com filhos reportaram ter entre 1 e 4 filhos.
A preferência pelo controle eletrônico da liberdade da população com filhos pode apontar para o
entendimento de que o encarceramento da pessoa monitorada coloca em risco a saúde financeira e
emocional de alguns outros indivíduos, como os filhos menores de 18 anos que requerem cuidados
(MORENOFF & HARDING, 2014). Essa é mais uma indicação trazida pela literatura internacional, que
merece ser investigada em outras pesquisas sobre o tema no nosso país.
Da leitura das entrevistas realizadas com as pessoas monitoradas apreende-se que os entre-
vistados não têm a percepção de que a medida de monitoração eletrônica tenha sido aplicada devido
à condição de companheiro, marido ou mãe/pai. Aqui há o relato frequente dos homens, de filhos de
relações distintas, parte dos quais fica aos cuidados das mães ou avós. A maior parte das mulheres
Entrevistada: Sim, eles são menores. Uma, quando eu fui presa, ela era recém-nascida.
Entrevistada: Olha, quem cuida da minha filha é a minha tia e a outra é uma amiga que tem a
guarda da minha filha. Eu não posso ir nem na esquina...
No Brasil, o informativo sobre monitoração eletrônica para órgãos de segurança pública (DE-
PEN, PNUD, 2020) traz recomendações claras, baseadas na legislação nacional (BRASIL, 1990; BRA-
SIL, 2016; BRASIL, 2018) e em regras internacionais (CNJ, 2016) que prescrevem a substituição da
prisão preventiva de grávidas e mães de crianças menores de 12 anos por prisão domiciliar sem
monitoração eletrônica (PIMENTA, 2020).
De acordo com os princípios do Modelo de Gestão (Brasil, 2017), especificamente àqueles que
dizem respeito ao reconhecimento e respeito às diferenças e das políticas para as mulheres,
ressaltamos o dever do Poder Público na garantia de direitos e políticas para as mulheres,
de acordo com as especificidades de gênero. Levando em conta as leis e demais normativos
destacados, especialmente no caso das mulheres gestantes, de puérperas ou de mães com
crianças com até 12 anos de idade e/ou crianças deficientes sob sua responsabilidade, é
recomendada a prisão domiciliar sem monitoração eletrônica (DEPEN, PNUD, 2020, p.51).
40,0
35,0 33,3
31,7
30,0 27,0
25,0
20,0
15,0
10,0 7,9
5,0
0,0
Respondente e a Mãe Avó Mãe Família Extensa
Sobre quem é o responsável pelos cuidados com os filhos, o monitorado e o cônjuge repre-
sentam 33%, a avó 32%, a mãe 27% e a família extensa 8%. A importância das avós no cuidado com
os netos retrata mudanças na configuração contemporânea das famílias nas quais pais e mães
têm dificuldades de conciliar as atribuições profissionais, pessoais e parentais (CARDOSO e BRITO,
2014). A literatura aponta ainda que as causas mais frequentes de delegação do cuidado de crianças
para os avós são: gravidez na adolescência, trabalho em horário integral ou desemprego dos pais,
recasamento de pais separados e não aceitação da criança pelo novo cônjuge, abandono, uso de
drogas, doença mental, negligência e morte. Assim, os avós assumem a criação dos netos diante
de situações de crise e perdas dos progenitores (ARAÚJO e DIAS, 2010; COELHO e DIAS, 2016). As
situações apontadas pela literatura frequentemente foram descritas pelas pessoas entrevistadas.
Acrescente-se que nas famílias de mais baixa renda a situação é agravada pela ausência de
creches e escolas de tempo integral, conferindo à família extensa um papel muito fundamental no
cuidado com as crianças e adolescentes.
60,0
50,0 48,0
40,0
30,0 26,0
20,0 18,0
10,0 7,0
1,0
0,0
Pentecostal Católica Sem Religião Espiríta Ubandista
35,0
30,0
28,0
23,0
21,0 19,0 20,0
14,0
7,0 7,0
0,0
Curso Ensino Médio Ensino Médio Fundamental Fundamental
Superior Completo Incompleto Completo Incompleto
No que diz respeito à escolaridade, 30% das pessoas monitoradas possuíam o ensino fun-
damental incompleto, 20% o ensino fundamental completo, 23% o ensino médio incompleto, 19% o
ensino médio completo e 7% o ensino superior incompleto. Também neste quesito, os monitorados
têm perfil distinto da população brasileira. Segundo o IBGE (2019), “a proporção de pessoas de 25
anos ou mais de idade que finalizaram a educação básica obrigatória, ou seja, concluíram no mínimo
o ensino médio era em 2019 de 48,8%”. Entre os monitorados tão somente 19% dos entrevistados
tinham conseguido chegar neste patamar, sendo que 73% “pararam” antes deste marco, o que indica
o baixo capital cultural deste grupo.
54,0
53,0
52,0
50,0
19
48,0
47,0
46,0
44,0
Trabalha Desempregado
Quanto à atividade profissional, como apresentado, 47% das pessoas monitoradas informa-
ram que estavam desempregadas. 53% estavam trabalhando, destas 46% trabalhavam por conta
própria. Na população como um todo, o IBGE (2019) estima que 12% estavam desempregadas – isto
é, não tinham trabalho, mas buscavam uma inserção no mercado – reforçando a indicação de que a
clientela do sistema de justiça criminal possui baixa escolaridade e inserção precária no mercado de
trabalho (IDDD, 2019).
Gráfico 11 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo o recebimento de algum tipo de auxílio, 2020 - (N=94)
Gráfico 12 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo o tipo de moradia, 2020, percentual - (N=94)
Própria 56,0
Alugada 26,0
Familiar 16,0
Em relação à moradia, a maioria (56%) das pessoas monitoradas informou residir em casa
própria, 26% vivem em residências alugadas, 16% vivem na casa de familiares e 2% são pessoas em
situação de rua. O relato de viver em casa própria também merece esclarecimento. A leitura atenta
das entrevistas revela que grande parte das pessoas que respondeu viver em casa própria, ao longo
da entrevista explicitou residir em construções edificadas em lotes de parentes ou cedidas por paren-
tes, geralmente pais, sogros ou avós. O percentual, ainda que pequeno, de pessoas em situação de
rua merece destaque, uma vez que esta condição é absolutamente incompatível com a monitoração
eletrônica, que implica em uso de dispositivo eletrônico, cuja bateria exige recargas regulares em
fonte de energia elétrica. Pessoas monitoradas em situação de rua relataram depender da boa von-
tade de comerciantes para carregar baterias, o que é bastante incerto e leva à ocorrência de vários
incidentes relacionados à impossibilidade de carregar o dispositivo.
Pesquisadora: Deixa, eu te perguntar, você falou que morava em situação de rua e aí como
que você carrega a tornozeleira?
Pessoa Monitorada: Às vezes eu carrego, às vezes não. Se o juiz chegar a me prender, aí fica
melhor, posso dá entrada com o advogado no processo contra o Estado. Porque eu estou
usando tornozeleira e não era pra eu estar usando.
Pesquisadora: E aí como é que você faz? Por exemplo, alguém empresta para você a energia?
O que você faz?
Pessoa Monitorada: Ah, eu vou na Subway… eu já pego e pago o lanche, sento na mesa e car
rego. Faço isto em todos os lugares.
Gráfico 13 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo o número de pessoas na moradia, 2020 - (N=94)
Seis 14,0
Duas 14,0
Quatro 15,0
Cinco 16,0
Três 2 29,0
Quanto ao número de pessoas que vive na casa da pessoa monitorada, 29% informaram coa-
Gráfico 14 - Síntese dos relatos das pessoas monitoradas nas cidades que integram o estudo
segundo as condições em que ocorre a monitoração em percentuais (%), 2020 - (N=94)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Esta concepção não impede que outros potenciais efeitos da monitoração eletrônica sejam
vislumbrados pelos magistrados, pelas próprias pessoas monitoradas e pelos trabalhadores do poder
executivo que atuam nas centrais de monitoração eletrônica, ainda que não tenhamos no país evidên-
cias empíricas de que tal ocorra no nosso cenário, tal como descrito na literatura internacional (TELLE,
2016; WILLIANS, WEATHERBURN 2019; HENNEGUELLE et al., 2016). Nesta literatura parece existir
consenso de que a redução do recidivismo ou reincidência criminal17 em pessoas monitoradas está
menos vinculada ao dispositivo eletrônico do que à oferta concomitante de suporte social por meio do
acompanhamento por equipes multidisciplinares que favoreçam o acesso a direitos como assistência
jurídica, apoio à inclusão no mercado de trabalho, na família, escola e em outras dimensões da vida
comunitária.
Entre os pesquisados, 61% afirmaram que sabem quanto tempo usarão a tornozeleira. Quanto
aos deveres e direitos em relação à medida, 76% afirmaram ter sido orientados na central de moni-
17 Recidivismo ou reincidência criminal pode ser definido como novo ato delituoso cometido por um indivíduo que já havia cometido um
ou mais atos delituosos anteriormente. SAPORI, Luís Flávio, CAETANO, André Junqueira, SANTOS, Roberta Fernandes A reiteração de atos
infracionais no Brasil: o caso de Minas Gerais. Rev. direito GV, v.16, n.3, 2020. Nos termos do Código Penal Art. 63 - Verifica-se a reincidência
quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime
anterior (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).
Do ponto de vista da justeza procedimental da medida, 50% das pessoas monitoradas en-
tendem que essa foi adequada para sua situação, sendo assim bastante considerável (50%) o per-
centual daquelas que avaliam como não adequada a monitoração eletrônica para o seu caso. Os
motivos mais relatados para esta percepção de não adequação foram: o fato de já ter cumprido
muitos anos em regime fechado, ainda não ter sido julgado no caso de pessoas que receberam a
monitoração em audiências de custódia e o fato de considerar a determinação da utilização do dis-
positivo uma punição. Outros motivos para considerar inadequada a aplicação da medida foram: ter
tido bom comportamento no sistema prisional, não considerar o crime cometido como violento, se
julgar inocente, não entender que tenha cometido um crime (abuso de incapaz, tráfico de pequenas
quantidades de droga, violência contra a mulher, estupro) e por ser velho.
Contudo, o motivo mais citado foi o entendimento de que a monitoração é uma punição extra,
por conta do preconceito e estigma que desperta e a consequente dificuldade de ingresso no mer-
cado de trabalho. Outros motivos citados foram constrangimentos a frequência à escola, no acesso
ao comércio e serviços de saúde. Estes achados sinalizam uma possível incompatibilidade entre a
medida e o suposto da reintegração social e redução das vulnerabilidades.
Para aqueles que consideraram a medida adequada os motivos alegados foram: oportunida-
de de não ingressar ou de se libertar das agruras do sistema prisional, oportunidade de estar perto
da família e considerar que a infração cometida não merecia maior punição.
O uso da tornozeleira traz desconforto para 84% das pessoas monitoradas. Na descrição dos
desconfortos predominaram os problemas de interação social, particularmente preconceito, estig-
ma, vergonha e dificuldades de acesso ao mercado de trabalho e os incômodos físicos por portar a
tornozeleira (tais como prurido, alergias, ferimentos na área de contato com a pele, queimação, dor-
mência, calos e formigamento). Foram também relatados sintomas sugestivos de sofrimento mental
como insônia, tristeza e ansiedade.
Novamente, essas mesmas queixas foram apontadas pelos “presos da web”, categoria criada
por Gacek (2019) para definir as pessoas sob a monitoração eletrônica entre as quais persistiria o
sentimento de estarem presas, no caso, presas pela web que garante a vigilância por satélite e os
mantém presos em territórios estritamente definidos.
Problemas de saúde foram relatados por 30% dos entrevistados. A percepção dos efeitos so-
bre a saúde merece comentários. A concepção do que seja um problema de saúde variou bastante,
tanto entre pessoas monitoradas, quanto entre os pesquisadores de campo. A percepção de saúde e
doença tem fortes componentes pessoais, culturais e sociais (BOLTANSKI, 1989). Para fins de alinha-
mento neste estudo, valorizou-se como problema de saúde o relato de qualquer problema físico ou
psíquico (por mais discreto que possa parecer) pela pessoa monitorada (coceira, calos, machucados,
feridas, choques, inchação das pernas, dormência, perda de massa muscular, sensação de peso nas
pernas, perturbações de sono, ansiedade e tristeza). Parte destas queixas também é descrita em
Outra questão de difícil apreensão foi quanto à aplicação concomitante de outras medidas,
além da monitoração eletrônica, tais como obrigatoriedade de se submeter a tratamentos de saúde,
de não frequentar determinados ambientes, de ter trabalho com carteira assinada etc. Aparentemen-
te as pessoas monitoradas não entendem a medida prescrita pelo judiciário e consideram as outras
condicionalidades como integrantes da medida de monitoração, tornando a resposta a este item de
apuração pouco confiável.
47% das pessoas monitoradas foram abordadas pela polícia após o início da monitoração. Com
relação a esta questão existe grande variação entre as cidades pesquisadas. Em algumas cidades, esta
abordagem é menos comum e não foi qualificada como violenta pelos participantes (Belo Horizonte e
Recife). Em Palmas, quando questionados a respeito da ocorrência de abordagem policial, os entrevis-
tados negaram esta ocorrência. Em outras cidades quando questionados a respeito, os entrevistados
relataram ter sido mais abordados pela polícia (Cuiabá, Fortaleza, Belém, Goiânia) e quase sempre,
com o emprego de violência física e ameaça segundo, principalmente os entrevistados em Cuiabá. Na
cidade de Belém também chamou atenção o relato da presença de milícias18 atuando em algumas
comunidades. Alguns entrevistados relataram que o uso da tornozeleira os torna vulneráveis à ação
destas milícias que os identificando como pessoas acusadas ou condenadas pelo cometimento de
algum ilícito, os transformariam em alvos de violência. Algumas abordagens realizadas pela polícia no
domicílio criaram tamanho constrangimento e humilhação que levaram à mudança de bairro. Outras
realizadas no local de trabalho tiveram como desfecho a perda do emprego.
18 Cano e Duarte (2012) definem as milícias em função de cinco eixos: “1) controle de pequenos territórios e das suas respectivas popu-
lações por parte de grupos armados irregulares que fazem uso efetivo ou potencial da violência; 2) coação contra moradores e comerciantes
locais; 3) motivação de lucro individual dos componentes desses grupos; 4) posições de comando ocupadas por agentes de segurança pú-
blica do Estado, que agem de forma privada; 5) imposição de taxas obrigatórias a moradores ou comerciantes em troca de suposta proteção
e/ou aplicação de monopólios coativos sobre certos produtos e serviços consumidos na comunidade”.
Gráfico 15 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo a razão da monitoração, 2020 - (N=94)
. 45,0
40,0 39,0
35,0
30,0 29,0
25,0
20,0
15,0
10,0 9,0 10,0
6,0 3,0 3,0
5,0
0,0
Tráfico Roubo Medida Prisão Maria Progressão Outros
Cautelar Domiciliar da Penha de pena
Quanto ao motivo para a medida de monitoração eletrônica, 39% das pessoas monitoradas
informaram que foi o crime de tráfico de drogas, 29% informaram que foi o crime de roubo, 9% medida
cautelar, 6% prisão domiciliar, 3% aplicação da Lei Maria da Penha, 3% progressão de pena e 10% por
outros motivos.
Bottino & Prado (2017, p. 725) no Rio de Janeiro encontraram que “em mais de 86% dos ca-
sos o sistema de monitoração é utilizado na fase de execução da pena, ou seja, em indivíduos que
já foram condenados, sendo muito pouco empregada em casos de medidas protetivas de urgência
(p. ex. Lei Maria da Penha) ou medidas cautelares diversas da prisão”. Com isso, o potencial deste
recurso em prevenir o primeiro contato do sujeito com a prisão (como medida cautelar, por exemplo),
Gráfico 16 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo o objetivo da monitoração, 2020, percentual - (N=94)
50,0
46,0
45,0
40,0
35,0
30,0
25,0
20,0
20,0
15,0 13,0 12,0
10,0 10,0
5,0
0,0 0,0
Controlar Ressocializar Sair da prisão Prisão Punir Não sabe
e trabalhar Domiciliar
No que diz respeito ao objetivo da monitoração eletrônica, para 46% dos respondentes ela
visa controlar o comportamento da pessoa monitorada, 20% disseram que ela tem como objetivo a
“ressocialização”. As entrevistas não nos permitem aprofundar na concepção de ressocialização dos
entrevistados, provavelmente, trata-se de uma vocalização do discurso dos profissionais das cen-
trais. 13% afirmaram que o objetivo é desencarcerar e possibilitar o acesso ao trabalho. Estas falas
são curiosas na medida em que uma das principais dificuldades relatadas pelas pessoas monitora-
das foi a de obter e manter um trabalho regular em função do uso da tornozeleira. Contudo, a maior
parte das decisões pela monitoração vem acompanhada de pacote de condições do qual faz parte
a obtenção e comprovação de um “trabalho lícito”. Isto provavelmente leva as pessoas monitoradas
a considerarem a obtenção do trabalho como um objetivo a ser alcançado quando da aplicação da
monitoração. 12% entendem que ela apenas pune a pessoa monitorada e 10% não responderam à
questão o que pode sinalizar que o entrevistado de fato, não foi informado o suficiente, quando da
aplicação da medida pelo judiciário ou quando da sua operacionalização na Central de Monitoração,
da sua finalidade.
90,0
80,0 80,0
70,0
61,0
60,0
50,0
40,0 39,0
30,0
20,0 20,0
10,0
0,0
0
Sabe Não sabe Não foram informados Não foram
Quanto ao conhecimento sobre o tempo de uso da tornozeleira eletrônica, 61% das pessoas
monitoradas informaram saber o tempo da medida. 80% afirmaram que foram informadas sobre os
direitos e deveres em relação à monitoração eletrônica geralmente quando da instalação da torno-
zeleira. Esta orientação é oferecida em todos os estados entrevistados de forma verbal, pelo profis-
sional que faz a instalação. Na maioria das vezes a informação é reiterada no atendimento por mem-
bros da equipe multidisciplinar, distribuição de folders e veiculação de vídeos em salas de espera.
Contudo, não foram identificados mecanismos informais e interacionais de aferição da apreensão
da informação oferecida.
70,0
60,0 59,0
50,0
40,0
30,0
23,0
20,0 19,0 18,0
10,0
0,0 0
Houve outra Restrição Acompanhado por Tratamento
medida Local/Horário Familiar para pegar o filho Dependência
Química
Cerca de um quinto das pessoas monitoradas recebeu, simultaneamente, outra medida, além
da monitoração eletrônica. Dentre aqueles com outra medida, 59% afirmaram que houve restrição de
local e horário, 23% foram obrigados a levar um parente para pegar o filho e 18% receberam a pres-
crição do magistrado de aderir a tratamentos oferecidos por unidades de saúde locais dedicadas ao
tratamento para uso abusivo de álcool e outras drogas. Com esta combinação de várias condições
simultâneas a monitoração eletrônica é analisada em detalhes na página 108 deste relatório, quando
é apresentada a percepção dos magistrados sobre a monitoração eletrônica.
A maioria das pessoas monitoradas (84%) informou que a tornozeleira eletrônica incomoda
nas suas atividades rotineiras como interações sociais na comunidade, frequência à escola, trabalho
e vida familiar. Belur et al. (2020) destaca que essa é uma conclusão de todos os estudos com mo-
nitorados, uma vez que a monitoração eletrônica é uma forma de controle do Estado muito mais do
que um método de reabilitação e, por isso, demanda alterações diretas nas rotinas dos controlados,
assim como de suas famílias e demais pessoas com as quais esses sujeitos venham a interagir.
Atender às prescrições legais que miram o retorno da pessoa monitorada à convivência na socieda-
de de forma aderente às suas normas de convivência implica na capacidade do Estado oferecer-lhe
acesso à assistência social, material, jurídica, educacional, religiosa (quando for o caso) e atenção
à saúde física e mental conforme previsto na Lei de Execuções Penais (BRASIL, 1984) e nas nor-
mativas e recomendações para implementação da monitoração eletrônica no país (BRASIL, 2011;
Gráfico 19 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo a percepção do desconforto causado pela tornozeleira, 2020 - (N=94)
90,0 84,0
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0 16,0
10,0
0,0
Sim Não
Gráfico 20 - Distribuição percentual (%) das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades
que integram o estudo, segundo a percepção de comprometimento das relações sociais pelo uso da
tornozeleira, 2020 - (N=94)
90,0
80,0 81,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0 19,0
10,0
0,0
Sim Não
Oito em cada dez pessoas monitoradas informaram que a tornozeleira eletrônica comprome-
te suas relações com outras pessoas. Resultados semelhantes foram encontrados na metanálise
de Belur et al. (2020). Ao revisar os surveys com monitorados, os autores verificaram que há maior
Gráfico 21 - Distribuição percentual das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades que
integram o estudo, segundo a percepção de comprometimento de problemas de saúde devido ao uso
da tornozeleira, 2020 - (N=94)
80,0
70,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0 30,0
20,0
10,0
0,0
Sim Não
Oliveira & Azevedo (2011, p. 106) destacam que o dispositivo eletrônico não poderia apresentar
aspecto aviltante, ostensivo ou colocar a saúde do investigado ou acusado em risco, como indicam: o
Decreto 7627 de 2011 que regulamentou a monitoração eletrônica de pessoas (BRASIL, 2011) e que
determina no Art. 5º que “O equipamento de monitoração eletrônica deverá ser utilizado de modo a
respeitar a integridade física, moral e social da pessoa monitorada”; a Resolução CNPCP nº 5, de 10 de
novembro de 2017, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (BRASIL, 2017) ao apon-
tar que a determinação da medida de monitoração eletrônica deve considerar os princípios da digni-
dade, necessidade, adequação social, individualização e menor dano; e o modelo de gestão da política
de monitoração eletrônica de pessoas (PIMENTA, 2020). 70% das pessoas monitoradas entrevistadas
informaram que a tornozeleira eletrônica não trouxe problemas à saúde19 após o início do uso. Os 30%
que reconhecem estes problemas, os descrevem como relatado no início desta seção (machucados,
ferimentos, sensação de queimação, dormência, formigamento etc.). Além das manifestações físicas,
foram relatadas ansiedade, insônia e depressão associadas ao uso da tornozeleira. Aqui reitere-se a
variabilidade dos entendimentos sobre o que é um problema de saúde segundo o grau de escolaridade
e classe social.
19 A pesquisa não ofereceu aos entrevistados um conceito de saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1946, definiu saúde
como um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade. SILVA, M. J. de
S.; SCHRAIBER, L. B.; MOTA, A. Das possibilidades de um conceito de saúde. Trab. educ. saúde, v. 17, n.1, 2019.
A saúde mental me abalou muito. Ansiosa, não consigo mais dormir. Fico pensando "quero
logo tirar", fico pensando em como vai fazer, para poder tirar, para sair. É ruim porque a gente
fica presa lá dentro e presa aos pensamentos, né? É difícil.
Gráfico 22 - Distribuição percentual das pessoas monitoradas entrevistadas nas cidades que
integram o estudo segundo o consumo de álcool e outras drogas e dificuldades de uso da tornoze-
leira, 2020 - (N=94)
70,0
60,0
55,0
50,0 45,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Sim Não
45% das pessoas monitoradas informaram que consomem regularmente álcool ou outras
drogas. Destas, apenas uma reportou que esse consumo dificulta o uso da tornozeleira, reconhe-
cendo que os efeitos do álcool podem comprometer a observância das regras de uso do dispo-
sitivo. Mas considerando os relatos, a maioria das pessoas monitoradas que faz uso regular de
bebidas alcóolicas sugere o fazer da forma coloquialmente denominada “uso social”, por ocorrer
em quantidades e em condições que não afrontam o socialmente aceitável, as rotinas e os com-
promissos sociais e familiares.
40,0 37,0
32,0
30,0
20,0
14,0 12,0
10,0 18 5,0
0,0
Tráfico Roubo Porte de Arma Homicídio Outros
Quando questionadas se já foram presas anteriormente à monitoração eletrônica, 60% das pes-
soas monitoradas informaram que sim. Destas, 37% o foram pelos crimes de tráfico de drogas, 32%
por roubo, 14% porte de arma, 5% homicídio e 12 % por outras causas. Estes relatos remetem a grande
utilização da monitoração na execução penal e a grande reentrada da parcela mais vulnerável da popu-
lação no sistema prisional principalmente quando do envolvimento com o comércio ilegal de drogas.
80,0
70,0 65,0
60,0
50,0
40,0 35,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Tornozeleira não apresentou problema Tornozeleira apresentou problema
O mesmo documento, na página 237, apresenta os casos mais comuns de incidentes: “inca-
pacidade ou negativa de assinar termos; não comparecimento da pessoa em datas agendadas ou
em situações emergenciais para: - reparos técnicos no equipamento de monitoração eletrônica e
substituições, visando a manutenção da medida judicial; - avaliação periódica da equipe multidis-
ciplinar (assistente social, bacharel em direito e psicólogo); - remoção e devolução do equipamento
de monitoração eletrônica ao final da medida; - encaminhamentos; violação de áreas de inclusão e/
ou exclusão; detecção de movimentação sem sinal de GPS e/ou perda de sinal de celular; falha de
comunicação do equipamento ou detecção de falsa geolocalização; incidentes de bateria (- descarga
parcial ou nível baixo de bateria, descarga completa de bateria); inobservância de horários e/ou de
restrições a locais específicos e danificação do equipamento, ruptura/violação da tira de fixação ou
do invólucro do equipamento de monitoração eletrônica”.
Quando questionadas se houve abordagem policial após o uso da tornozeleira, 47% das pes-
soas monitoradas pesquisadas informaram que foram abordados pela polícia. Essa, inclusive, é uma
crítica feita à monitoração eletrônica, que tende a controlar tão excessivamente a vida dos sujeitos
que a qualquer momento ele pode ser novamente trazido para o cárcere (GACEK, 2019). Isso traria a
falsa impressão de que o controle eletrônico de liberdade pode potencialmente aumentar o número
de delitos pelo excesso de controle sobre condutas que passariam despercebidas em outros contex-
tos (BELUR et al., 2020). Outros estudos foram inconclusivos sobre a capacidade do uso de tornoze-
leiras reduzir a reincidência (RENZEMA e WILSON, 2015; MEUER e WOESSNER, 2020).
A tornozeleira eletrônica não apresentou problemas no seu funcionamento para 65% das pes-
soas monitoradas. A revisão de Belur et. al., (2020, p. 12) destaca que, com o avanço da tecnologia,
esses problemas tendem a ser cada vez menores, mas continuam a ocorrer em razão da perda do si-
nal de GPS, o que “pode causar sérios problemas para os infratores, especialmente se isso acontece
em seu local de residência ou trabalho”.
80,0
70,0
69,0
60,0
50,0
40,0
30,0
31,0
20,0
10,0
0,0
Nega ocorrência de incidentes Relata ocorrência de incidentes
Igual esses dias aí, eu sou reformador, reformo no meu serviço. Aí eu comecei, o meu patrão
mandou eu descarregar uns caminhões lá em Aparecida… Aí, eu fui e deu errado e eles cortaram
meu benefício, minha carta de emprego e eles viram que eu estava dentro de uma empresa…
Se deslocar, né? Tem que fazer uma declaração de deslocamento. A Polícia foi me buscar lá.
Foi quando eu saí, que pegou e botou como foragido e aí para você ver, cheguei 20:30 em casa,
foram lá no meu serviço e me passou a maior vergonha. (Pessoa monitorada - Goiânia).
Idade (22 a 29) 46% 29% 20% 53% 45% 70% 31%
Raça (Preto e Pardo) 77% 100% 60% 76% 100% 90% 85%
Trabalha (Sem Carteira) 100% 100% 100% 64% 100% 100% 89%
Objetivo da Medida
69% 47% 60% 41% 60% 60% 54%
(Controlar)
Medida Adequada (Não) 85% 59% 50% 65% 60% 80% 46%
O quadro 4 apresenta uma síntese dos dados que informam os principais achados (a catego-
ria predominante) de cada variável objeto das perguntas, quando da realização das entrevistas com
as pessoas monitoradas em cada capital onde foi realizada a observação nas Centrais de Monito-
ração Eletrônica e das entrevistas com trabalhadores destas centrais. Nas seções anteriores foram
descritos e analisados os achados de forma agregada para toda a amostra. No quadro, a variável
sobre o comprometimento da vida social pelo uso da tornozeleira foi agregada à variável que trata de
problemas de saúde decorrentes do uso da tornozeleira.
20 O município de Palmas integrou a pesquisa na fase de estudo das Centrais de Monitoração e entrevistas de pessoas monitoradas e
trabalhadores das centrais.
Os policiais penais foram selecionados por concursos públicos e possuem carreiras bem de-
finidas na maioria das cidades. Praticamente todos possuem curso de graduação e alguns de pós-
graduação. Com relação aos trabalhadores que integram as equipes multidisciplinares, muitos são
selecionados por processos de seleção simplificados e temporários, que não fornecem expectativa
de construção de carreira e nem todos executam exclusivamente atividades da equipe, sendo mais
demandados por atividades burocráticas do processo de monitoração, o que explica o fato da maior
parte das pessoas monitoradas não reconhecer como relevante o acompanhamento por estas equi-
pes, ao contrário do que mostram os estudos internacionais (GACEK, 2019).
A maioria dos trabalhadores fez concurso para agente penitenciário (atual policial penal) e foi
lotada na central após trabalho em unidades prisionais. Essa transição de identidade profissional ocor-
reu no curso da pesquisa e em que pese ser percebida por vários dos entrevistados como uma alte-
ração que aumentaria o reconhecimento social para a profissão e abre a possibilidade de isonomia
salarial com outras carreiras policiais. A nova identidade também reforça os aspectos disciplinadores
e repressivos do cargo em detrimento das dimensões acolhedoras, cuidadoras e educadoras neces-
sárias no trabalho com pessoas monitoradas ou acauteladas. Favorece ainda uma confusão com as
carreiras de segurança pública, particularmente a polícia militar. Em alguns estados a adoção de far-
damentos, insígnias, hinos, bandeiras e conteúdo das propostas de treinamento apontam esta direção.
21 Policiais Penais são profissionais responsáveis pela manutenção da disciplina dos detentos em instituições penais, escolta penal
etc. Os policiais penais eram conhecidos como Agentes/Inspetores Penitenciário/Carcereiros até a aprovação da Emenda Constitucional
nº 104/2019 que alterou do inciso XIV do caput do artigo 21, o §4° do artigo 32 e o artigo 144 da Constituição Federal de 1988 que criou a
Polícia Penal.
72% dos trabalhadores das Centrais declararam ter passado por um processo seletivo para
policial penal. 28% foram submetidos a processos seletivos específicos para o trabalho em Central
de Monitoração. Neste caso, na maioria das vezes trata-se de membros da equipe multidisciplinar
contratados por tempo determinado, apontando opção dos estados por não investir na constituição
de carreiras para estas equipes nas Centrais de Monitoração, ainda que sua presença seja determi-
nada no Decreto 7627/2011, que regulamenta a monitoração eletrônica de pessoas, e que prevê no
seu artigo 3º que aos órgãos da administração penitenciária cabe a responsabilidade pela adminis-
tração, execução e controle da monitoração eletrônica; também cabe manter programas e equipes
multiprofissionais de acompanhamento e apoio à pessoa monitorada condenada (BRASIL, 2011).
Grande parte dos trabalhadores (41%) está há mais de quatro anos na Central de Monitora-
ção Eletrônica. Quando interrogados sobre a rotina de trabalho, quase a metade (47%) informou que
desempenha um trabalho operacional (instalação e desinstalação de tornozeleiras, orientação às
pessoas monitoradas sobre o seu funcionamento, manutenção e substituição de tornozeleiras e
A principal dificuldade enfrentada no trabalho, apontada por 34% dos respondentes, foi a falta
de estrutura (ausência de privacidade para atendimento das pessoas monitoradas, computadores,
instalações sanitárias, e espaços para espera do atendimento com o mínimo de conforto para a pes-
soa monitorada) e de efetivo (falta de policiais penais e de equipe multidisciplinar) para atender às
demandas das pessoas monitoradas.
Gráfico 28 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração nas
cidades que integram o estudo segundo o sexo, 2020 - (N=32)
80,0
70,0 68,0
60,0
50,0
40,0
32,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Masculino Feminino
Quanto à distribuição dos trabalhadores das Centrais de Monitoração por sexo, 68% são ho-
mens e 32% mulheres. A predominância de homens pode ser atribuída à composição majoritariamen-
te masculina dos policiais penais, categoria hegemônica entre os trabalhadores das centrais. Tema
secundário que emerge das entrevistas é o relato das dificuldades das mulheres na atuação nesta
categoria, algo também observado nas pesquisas que envolvem o staff responsável pela administra-
ção das medidas de controle eletrônico de liberdade (BONTA et al., 2000).
Contudo, os percentuais apontam uma presença feminina nas centrais discretamente superior
àquela encontrada no sistema prisional como um todo, a qual seria de 28% de mulheres (INFOPEN,
2016). Uma possível explicação, que encontra amparo nos relatos das entrevistas, é a percepção de
que o trabalho nas Centrais seria mais leve e menos perigoso do que nas unidades prisionais e por
este motivo a lotação nestas unidades seria reivindicada por um número maior de mulheres.
Gráfico 29 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração Eletrô-
nica entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo o grupo etário, 2020 - (N=32)
45,0
41,0
40,0 37,0
35,0
30,0
25,0
20,0
16,0
15,0
10,0
6,0
5,0
0,0 0
21 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos Acima de 50 anos
Em relação à idade dos operadores, temos quatro grupos: 6% são jovens, variando entre 21
e 29 anos, 37% têm entre 30 e 39 anos, 41% têm entre 40 e 49 anos e 16% têm mais de 50 anos.
Uma possível explicação para a relativa juventude dos profissionais das centrais de monitoração
pode se relacionar ao fato dessas estruturas serem novas no contexto brasileiro, e de necessitarem
de trabalhadores com conhecimentos e habilidades em informática. Vários gestores entrevistados
apontaram que essas habilidades pesavam positivamente na escolha do trabalhador para a central.
Possivelmente, a detenção dessas habilidades possui um recorte geracional que explica o perfil etá-
rio da força de trabalho.
Direito 68 18,8
Gestão TI 15,6
Letras 6,3
Outros 21,9
Sim no início bem no começo no curso [para policial penal], eles estavam dando preferência
pra quem tivesse facilidade né com tecnologia é… e no próprio curso quem não tinha meio que
não foi chamado né, então deu preferência pra isso, pra quem já tinha mais facilidade com
essas tecnologias. (Policial Penal, Goiânia)
Em relação ao cargo, 66% dos trabalhadores são policiais penais, 13% são técnicos em ad-
ministração, 9% são assistentes de socialização e 6% supervisores de monitoração. Talvez, o fato
de as equipes serem majoritariamente compostas por policiais penais ajuda a entender porque os
monitorados percebem a medida como uma estratégia de maior controle sobre as suas rotinas e, até
mesmo, uma punição extra.
Destaca-se ainda que o dimensionamento dos profissionais das Centrais não observa o pres-
crito pelo Modelo de Gestão da Monitoração Eletrônica de Pessoas (PIMENTA, 2020), que seria para
as equipes multidisciplinares de 1 psicólogo, 1 assistente social e 1 bacharel em direito para cada
150 pessoas monitoradas.
Nenhuma das Centrais pesquisadas possui este dimensionamento, sendo que três não pos-
suíam equipe multidisciplinar quando da realização do trabalho de campo. O modelo não prescreve
dimensionamento para as equipes administrativas e operacionais, mas os gestores das centrais são
unânimes em apontar uma grande defasagem entre o número de pessoas monitoradas e o número
de trabalhadores.
Quando questionados sobre a existência de metas e indicadores claros para orientar a orga-
nização do trabalho, a maioria dos trabalhadores disse desconhecê-los. Este conteúdo aparece nas
falas dos gestores das Centrais.
Oficialmente não há nada que defina metas ou indicadores para aferir o cumprimento. Elas
surgem a partir de demandas ou necessidades específicas ao longo do trabalho. (Gestor
Central de Monitoração 2)
Gráfico 31 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração entre-
vistados nas cidades que integram o estudo segundo o tempo no Cargo, 2020 - (N=32)
45,0 40,6
40,0 37,5
35,0
30,0
25,0 21,9
20,0
16
15,0
10,0
5,0
0,0
Acima de 4 anos Entre 1 e 3 anos Até 12 meses
Quando interrogados sobre o tempo no cargo, 41% dos trabalhadores informaram estar há
mais de quatro anos na atividade, 37% entre 1 e 3 anos e 33% até 12 meses, ou seja, 70% tem menos
de 4 anos de trabalho em Centrais de Monitoração. Trata-se, portanto, de uma expertise em constru-
ção considerando que a Central mais antiga entre as pesquisadas é de 2011 (Recife) e a mais recente
de 2015 (Palmas).
50,0 46,9
40,6
40,0
30,0
20,0
Quando interrogados sobre a rotina de trabalho, 47% dos servidores informaram que desempe-
nham um trabalho operacional, 41% realizam tarefas administrativas (atividades de recepção e ligadas
à gestão de recursos humanos, financeira, e de manutenção da estrutura física), 6% ligadas à tecno-
logia (verificação dos sinais de GPS e telefonia celular em campo) e 6% administrativa e operacional.
Gráfico 33 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração entre-
vistados nas cidades que integram o estudo segundo o setor de trabalho, 2020 - (N=32)
Cadastro 6,3
Tecnologia 6,3
Gestão 15,6
Gráfico 34 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração entre-
vistados nas cidades que integram o estudo segundo a ocorrência de seleção para ocupar o cargo,
2020 - (N=2)
80,0
71,9
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
28,1
20,0
10,0
0,0
Não houve seleção Houve seleção
Outro ponto bastante destacado nas análises sobre efetividade do controle eletrônico de li-
berdade são os processos seletivos para trabalho nessas unidades. É preciso que os profissionais
entendam a natureza do trabalho e compreendam que a sua tarefa é maior do que apenas ligar e
desligar a tornozeleira ou verificar se a pessoa monitorada está dentro ou fora da área determinada
(BALES, 2012). Assim, chama atenção o fato de que 72% dos trabalhadores informaram que não
22 SMS (Short Message Service) ou Serviço de Mensagens Curtas em português. Trata-se de um serviço oferecido pelas operadoras de
celulares que permite o envio e o recebimento de mensagens de textos breves pelos aparelhos de celular.
Gráfico 35 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração Ele-
trônica entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo a percepção das vantagens do
trabalho na Central, 2020 - (N=32)
45,0
40,0 37,5
35,0 31,3
30,0
25,0
20,0 18,8
15,0 12,5
10,0
5,0
0,0
Contribuir na Menor Risco Trabalhar com Aprendizado
Ressocialização Tecnologia Jurídico
Quando interrogados sobre as vantagens de trabalhar na central, 38% dos servidores infor-
maram acreditar que o seu trabalho contribui para o processo de inclusão social e redução das vul-
nerabilidades das pessoas monitoradas. 31% declararam que a principal vantagem é o risco menor,
quando comparado ao trabalho nas penitenciárias, onde a chance de motins, conflitos com pessoas
presas e agressões físicas e verbais seria maior. 19% afirmam que trabalhar com tecnologia é a
principal vantagem e 12% mencionam o aprendizado jurídico. Para estes entrevistados o trabalho
na central exigiria/permitiria maior conhecimento dos ditames da legislação penal, o que é de maior
interesse para aqueles que tem formação jurídica.
Bom, vantagens eu entendo como vantagem no sentido que aqui seria um local mais, um
local diferenciado do que a unidade prisional em si, aquela pressão, o risco de fuga, o risco
de… de resgate, uma rebelião. Então assim essa atmosfera é diferente, e a gente trabalha
com monitorado, recuperando, aquele que tá preste a ser concedido a liberdade e uma outra
Eu acho que é mais a questão, isso também é uma pergunta bem pessoal, eu acho que é mais
a questão de se identificar mesmo. Aqui, você está sempre de frente com situações inéditas,
você tem que analisar e tem que resolver, lógico que com o auxílio e conhecimento da direção.
Mas, é isso que motiva a permanecer aqui. Então eu acho bem interessante isso. (Policial
Penal, Belo Horizonte)
Conhecimento né a gente aprende coisas novas aqui, todo dia sempre tem alguma coisa
diferente aqui, não é uma coisa rotineira tem sempre casos diferentes pessoas diferentes né.
(Equipe Multidisciplinar, Recife)
Gráfico 36 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração Ele-
trônica entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo a percepção de dificuldades no
trabalho, 2020, percentual - (N=32)
Quando interrogados sobre as dificuldades do trabalho na Central, 34% dos trabalhadores elen-
cam a falta de estrutura das instalações físicas, de efetivo para atender à demanda, com ênfase na
falta de uma equipe multidisciplinar completa quanto às categorias profissionais que a integram etc.
Porque como a gente só tem a equipe de serviço social, mas tem diferenças da psicologia e
do direito, né? Se os estiverem aqui, eles não vão... por exemplo, essa demanda da questão da
angústia de querer quebrar a tornozeleira, a gente precisa de um psicólogo para poder abarcar
essa demanda. Porque se ele estiver angustiado e precisar falar com alguém, tem o psicólogo.
O que é que eu faço? Eu encaminho para os CRAS, né? É a única maneira que eles podem ter
contato com o psicólogo na rede de assistência, né? Aqui, a gente não tem psicólogo. (Equipe
Multidisciplinar)
Outra dificuldade relatada foram os conflitos com o judiciário (19%) como os que emergem
da determinação de monitoração de pessoas em situação de rua, que não têm condições concretas
de utilização das tornozeleiras, ou de determinações pouco claras ou que parecem inadequadas etc.
Então assim, outro dia eu atendi um rapaz que ele era cego, como que ele vai enxergar as
luzes? Eu falei com ele, você vai precisar da ajuda da sua família e assim quando ela está no
vermelho e no roxo ela vibra, né? Como que ele vai saber? Então é isso, sabe? Não tem, é tudo…
vem lá do judiciário que deveria ter um filtro dessas coisas porque se não vai na mesma lógica,
né? Incha as cadeias, as tornozeleiras e aí? (Equipe Multidisciplinar, Goiânia)
Atender o judiciário. O judiciário tem uma demanda assim que eu acho que eles tão no mundo
da lua, literalmente. Acho que eles não pegam o caso concreto, coloca a tornozeleira em
andarilho em morador de rua, então acho que eles não tão pegando o caso concreto mesmo.
(Policial Penal, Goiânia)
...a falta de filtro do judiciário, a gente sempre fica nesse embate com o judiciário, a gente fala
assim, “gente, o juiz é de outro planeta, né?”, banalizou, sabe? Eu sinto uma banalidade porque
aí caí na mesma lógica, aí incha as cadeias e aí incha as tornozeleiras, tem uns casos que a
gente vê... sabe? Tem uma menina que ela veio aqui, jovem, ela devia ter uns 19 anos, e aí teve
um negócio que a amiga dela teve um bebê e aí o motorista não quis deixar elas ficarem na
frente e aí ela brigou com o motorista, foi um negócio assim, aí chamou a polícia e ela colocou
a tornozeleira. Mas, gente, isso é caso de colocar a tornozeleira? Fica banalizado assim, né? E
não tem esse filtro judiciário, então, né? Eu acho que… Não sei se é o juiz que não quer trabalho,
né? Porque dá trabalho mesmo, né? Você escutar o sujeito, fazer um filtro… Então por exemplo
assim, acontecia muito, né? Não acontece mais, mas, no início acontecia muito de morador de
rua com tornozeleira, poxa, ele não tem endereço como ele vai ficar recolhido? Tem diminuído,
Alguns trabalhadores se queixam ainda do que consideram “pouca firmeza” do judiciário dian-
te dos incidentes, o que no entender de alguns enfraqueceria a medida.
Mas por outro lado, eu acho é… como é um benefício pra que ele saia da superlotação dos
presídios que estão superlotados, mas às vezes ele fica é… mesmo que ele saia de lá com
regras pra ser cumpridas que o juiz coloca, impõe regras e eles não cumprem as vezes eles
deixam de cumprir, não carregam a tornozeleira, desliga a tornozeleira ou fica aí vários dias e
troca número de celular, a Central não consegue entrar em contato e mesmo assim ele volta lá
e coloca a tornozeleira, então eu acho que nesse caso deveria ter a punição, não cumpriu volta
pra cadeia né então nesse lado aí eu acho que o juiz, o judiciário deveria é ser mais rígido ser
mais, pegar mais firme nessa questão. (Policial Penal, Cuiabá)
Então às vezes eles cometem crime com a tornozeleira entendeu e o juiz vai lá e bota
tornozeleira de novo nele, então eu acho que o estado deveria ser mais efetivo em relação a
isso. (Policial Penal, Recife)
Para 16% dos trabalhadores a falta de adesão das pessoas monitoradas às regras é a prin-
cipal dificuldade com incidentes sistemáticos relacionados a não observância de horários e limites
territoriais de forma intencional ou não e a não justificação de incidentes etc.
As situações dos monitorados a gente sempre está aqui para... para ajudar de qualquer forma
possível. Para tentar dar esse apoio que eles precisam. O muito é que eles não sabem é passar
informações. Muitos não têm informações. Muitas vezes a gente fala uma vez, fala duas
vezes e parece que entra pelo ouvido e sai pelo outro. Mas, a gente sempre passa a mesma
informação de novo, para tentar de forma que o cara não cometa de novo o erro. A gente ajuda
bastante aí... (Policial Penal Pará)
As dificuldades às vezes é eles entender que eles estão em prisão domiciliar. Em vez deles
estarem na unidade prisional, eles alcançaram o benefício, porque estão em casa. Mas tem
regras, não pode sair sem autorização da central, não pode sair para qualquer local, tem que
fazer pedido, tem algumas situações que eles saem, casos de saúde, emergência médica, eles
são liberados, defensoria e fórum eles são liberados para saber informações do processo, mas
por exemplo: para tirar uma documentação, tem que passar pelo serviço social, a gente explica
passo a pessoa, né? A gente explica porque perguntam as violações. Às vezes eles acabam
fazendo algumas violações, às vezes por não entenderem que estão em prisão domiciliar. "Vou
Então nosso público varia muito, mas na… eu digo que a maior parte assim mais de 80% são
pessoas bem leigas né que as pessoas que estão em situação de prisão... É… aquele que tem
o ensino médio incompleto se formou em colégio público ou né municipal, estadual, e que
bem ruim mesmo. Então tem que ter paciência, muitos dos que ligam aqui são pessoas não
entendem nem o que como funciona a monitoração direito, eu ainda consigo ter essa né, igual
no início eu te contei eu fiz uma pós-graduação em docência ensino superior, eu tenho uma
habilidade em ensinar as pessoas, então eu tenho paciência. (Assistente Social – Goiás)
A gente ouve bastante e pergunta, "mas como é que é lá fora, que você está usando", eles
dizem "a gente tem muita vergonha porque onde a gente passa as pessoas ficam olhando".
Tem muitos casos que acontece o que? Pessoas que é monitorada porque, em questão de
bebida, discutiu com a mulher, entra a lei Maria da Penha. O cara nunca teve passagem pela
polícia, nada, aí a discussão que ele teve com a mulher, ele usa. Ele já é, querendo ou não... para
ele conseguir um trabalho fica mais difícil. A sociedade é um pouco preconceituosa. Mas, por
questão de cor, não. Eu acho que pela questão do uso da tornozeleira em si, não pela questão
da cor, racial. (Equipe Multidisciplinar, Fortaleza)
Na realidade hoje é um preconceito muito grande em relação ao uso do dispositivo, eles vêm
aqui, eles falam até que quem não usava calça comprida passa a usar, para que ninguém veja
na rua, para que alguns familiares não saibam também. Eles têm a questão da dificuldade do
acesso ao trabalho por conta disso, tanto faz, para negro, branco, mulher homem. Existe esse
preconceito bem mais no negro, eu acho, mas fixou o dispositivo, eles já são taxados como
marginais. A questão é o uso do dispositivo. (Equipe Multidisciplinar, Pará)
50,0
40,0
30,0
21,5 19,0
20,0
10,0
0,0
Cooperativa Profissional Estressante
Solicitados a avaliar a relação com a chefia, 59% dos trabalhadores informaram que é de
cooperação, 22% afirmaram ser profissional e 19% estressante. A qualificação de uma relação como
profissional sinaliza que atende aos requisitos formais, legais e burocráticos de respeito e cordialida-
de, a qualificação de estressante remete à queixa de pressão pelo desempenho no trabalho em con-
dições insuficientes de recursos materiais e humanos e de interações na ausência de cordialidade,
cooperação ou supervisão efetiva. A maior parte dos entrevistados enfatizou a condição de exercício
do trabalho, incluindo das chefias em situações de grande constrição por ausência de número ade-
quado de trabalhadores considerando as demandas crescentes por monitoração.
Bem tranquilo, o gerente é bem pacífico bem entendedor né sabe das nossas dificuldades,
tenta resolver também né vamos dizer assim que ele é um bom gerente. (Trabalhador da
Central, Mato Grosso)
É uma relação boa, né? Independente de qualquer coisa a gente precisa ser profissional, a
gente não vai adorar todo mundo mas, a gente precisa ser profissional e trabalhar em equipe,
em conjunto para desenrolar tudo aquilo que é nos passado. Porque senão a gente realmente
não consegue. (Policial Penal, Pará)
E assim é… tem problemas também, a gente tem problemas tem dificuldades né, realmente assim
um pouco essa perseguição da questão do homem, do chefe masculino né. Tem realmente, a
gente é assediada pelos colegas tá, assim não só comigo não só eu porque aconteceu comigo,
mas com outras… eu porque sou tranquila assim, eu gosto de conversar com as pessoas,
gosto de fazer amizade, brincar, é o meu jeito. Mas assim, às vezes eu levo na brincadeira aí
Gráfico 38 - Distribuição percentual (%) dos trabalhadores das Centrais de Monitoração Ele-
trônica entrevistados nas cidades que integram o estudo segundo a percepção da relação com as
pessoas monitoradas, 2020, percentual - (N=32)
70,0
60,0 56,0
50,0
40,0
30,0 28,0
20,0 16,0
10,0
0,0
Profissional Controle Respeitosa
Quanto à relação com as pessoas monitoradas, 56% dos trabalhadores informaram que essa
relação é profissional, 28% de controle e 16% de respeito. A qualificação da relação com a pessoa
monitorada de profissional, quase sempre significa a busca de uma relação formal e impessoal de
forma e evitar a singularização ou “intimidade com a pessoa monitorada”.
Nossa relação é uma relação estritamente profissional, né? Eu costumo, colocar para os
monitorados... eu sempre coloco para eles que eu estou ali fazendo o meu trabalho. Não estou
ali para desfavorecer ou favorecer alguém, tá? Eu sou completamente neutro. E é isso, você ser
profissional e mostrar esse profissionalismo para o monitorado. Que é para que ele respeite,
né, você... é um respeito mútuo. Você respeita, eles e eles respeitam você. (Policial Penal, Pará)
De profissionalismo até porque a gente não pode é… ter uma relação de digamos de amigos né,
eles também nos tratam assim, a senhora, é bem formal. (Policial Penal, Mato Grosso)
Aí varia. Tem monitorado que é tranquilo, tem monitorado que é estressado. Chega já quer
assinar e ir embora e fala alto, edney? Tipo, vai de acordo com o monitorado. (Trabalhador da
Central, Pará)
40,0
31,3
30,0
20,0
18,8
10,0
0,0
Relevante: atua Restrições de Funciona quando o
na ressocialização recursos e pessoal monitorado adere às regras
50% dos trabalhadores das Centrais consideram a monitoração eletrônica relevante, por atuar
na inclusão social e na redução das vulnerabilidades das pessoas monitoradas. Este achado vai ao
encontro de uma fala de “manual”, mas, contradita com as falas dos monitorados e de um percentual
significativo de trabalhadores da Central. Nesse último caso, 31% dos trabalhadores consideram
que o trabalho não é eficiente devido às restrições de recursos e de pessoal que dificultam um aco-
lhimento e atendimento individualizado e singular e 19% entendem que o trabalho é efetivo quando
as pessoas monitoradas aderem às regras da medida, ou seja, têm como parâmetro de sucesso da
Central a obediência da pessoa monitorada às regras do uso da tornozeleira, e a não ocorrência de
incidentes. Contudo, os próprios trabalhadores reconhecem que a não ocorrência de incidentes não
depende apenas da disciplina e do desejo da pessoa monitorada, mas de imponderáveis tecnológi-
cos e do contexto de vida das pessoas monitoradas.
Aí eu chego do colégio dez e meia, coloco ela pra carregar e vou dormir com ela carregando
porque demora. (Pessoa Monitorada, Goiânia)
Não, lá é ocupação, então o fato que eu vim até aqui assinar a advertência porque eu não tenho
o carregador universal e tomei a advertência porque não tinha energia e eu só tinha o outro
carregador. (Pessoa Monitorada, Belo Horizonte)
Podemos ter como hipótese que considerando-se que a maior parte das pessoas que recebe
a medida de monitoração eletrônica no país está na fase de execução penal, acrescida da percepção
das dificuldades que a monitoração impõe à vida de muitos monitorados, parte dos trabalhadores
entendam a medida como integrante de um processo de punição.
De qualquer forma, trata-se de uma compreensão que guarda distância da ideia de um serviço
de monitoração eletrônica cuja finalidade é o “atendimento e acompanhamento da pessoa moni-
torada para permitir a formação/restauração de vínculos e o adequado cumprimento da medida”
(BRASIL, 2017).
Eu acho que tem, não só um motivo né porque a monitoração ela vem pra pessoa terminar
de cumprir pena que é o semiaberto e o aberto, tem aquele preso provisório que passa pela
audiência de custódia e já vai, já sai de tornozeleira até que se apure melhor ou inquérito,
alguma coisa. É… eu penso que o, a ideia originária foi realmente diminuir a quantidade de
pessoas presas, fechadas, no regime fechado. (Policial Penal, Goiás)
A monitoração serve como uma espécie de punição, porque a pessoa precisa ser
responsabilizada pelos seus atos. Ela é uma forma de crimes menos gravosos, a pessoa poder
estar vivendo em sociedade, ela pode estar estudando, trabalhando, em contato com a família.
(Equipe multidisciplinar, Pará)
Então é uma possibilidade muito eficiente de controle né e também, outro ponto que eu acho
tão importante quanto, oferecer para as pessoas em cumprimento de pena essa possibilidade
de terem esse acesso maior a família, ao trabalho, aos estudos, aquilo que eu já havia falado
anteriormente. (Policial Penal, Rio Grande do Sul)
Neste tópico apresentamos a síntese dos principais achados da observação realizada nas
Centrais de Monitoração. Foi possível realizar estas observações nas Centrais localizadas nas ci-
dades de Fortaleza, Recife, Cuiabá, Goiânia, Palmas, Belém, Belo Horizonte e Porto Alegre. A maior
parte dessas centrais se localiza na região central das capitais, sendo bem servidas por coletivos
urbanos, metrôs, ponto de táxi, mototáxi e hidrovias (quando é o caso) o que pode favorecer o acesso
das pessoas monitoradas.
No Rio Grande Sul também ocorre separação entre a unidade em que é realizada a monitora-
ção eletrônica, localizada no Centro Integrado de Comando e Controle da Secretaria de Segurança
Pública do Porto Alegre (CICC), que fica no bairro Floresta, na capital e a unidade de atendimento às
pessoas monitoradas que se localiza no Instituto Penal Padre Pio Buck, bairro Vila João Pessoa.
Em algumas capitais (Goiânia Recife, Belém, Belo Horizonte, Cuiabá, Porto Alegre, Palmas)
a edificação da Central de Monitoração Eletrônica abriga outros serviços de órgãos da segurança
pública (Polícia Civil e Polícia Militar) ou localiza-se nas vizinhanças de outros serviços públicos
e de comércio. Nas cidades de Recife e Belo Horizonte as Centrais também abrigam carceragem.
Na cidade de Goiânia, a Central localiza-se em um bairro de classe média, o que gerou protestos e
acionamento do Ministério Público por parte da população residente por se sentir insegura com a
presença de pessoas monitoradas.
Nenhuma das edificações que abriga as Centrais foi construída para receber esse tipo de
serviço. Dessa forma, algumas são muito pouco funcionais para a atividade a que se destinam, o
que implica em ausência de áreas de recepção, ou áreas muito acanhadas, deixando as pessoas a
serem atendidas aguardando na rua, expostas ao sol, chuva etc. (Fortaleza, Belo Horizonte), ou aglo-
meradas no seu interior (Recife). Algumas não possuem espaço para coleta privativa de dados de
cadastro (Recife, Belo Horizonte, Cuiabá, Palmas) ou para receber a justificativa para a ocorrência de
incidentes pelas pessoas monitoradas. Na cidade de Goiânia existe espaço privativo para o atendi-
mento das mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
Em algumas cidades o acesso ao prédio é monitorado por câmaras e ocorre por liberação de
portão eletrônico, por revista (Recife, Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre) ou passagem de mochilas
e bolsas por máquina de Raio X e de pessoas por portal detector de metais (Fortaleza). Câmaras
também estão presentes nas salas de cadastro de Goiânia e nas salas de instalação de tornozeleiras
em Recife.
Essa situação gera conflitos com trabalhadores das centrais, considerando que em alguns
estados a espera por atendimento pode durar horas comprometendo a diretriz de que as Centrais
constituam locais de acolhimento e criação de vínculo de tal forma a encorajar o comparecimento aos
atendimentos e favorecer a adesão aos encaminhamentos sociais e o cumprimento integral da medi-
da provendo condições mínimas de conforto às pessoas “antes, durante e após qualquer tipo de aten-
dimento/procedimento, como: banheiros feminino e masculino; sala de espera com número suficiente
de cadeiras para comportar demandas agendadas e espontâneas, incluindo sala de espera reservada
unicamente para mulheres em situação de violência doméstica; bebedouros; iluminação adequada;
ventilação condizente com as condições climáticas locais; serviços de limpeza.” (PIMENTA, 2020).
Os longos períodos de espera são atribuídos em algumas centrais à ida da pessoa monitorada
sem agendamento prévio, à sobrecarga de atendimentos e à falta de efetivos. Pessoas monitoradas
por sua vez argumentam que tentam agendar insistentemente, sem sucesso, por meio de telefones
que não atendem ou estão sempre ocupados, o que leva à busca direta dos serviços sem garantia
de atendimento. Quando isso ocorre, algumas Centrais orientam a aguardar até o atendimento dos
agendados ser concluído para um possível atendimento ou reagendam o atendimento. Essa situa-
ção contraria as diretrizes do modelo de gestão da política de monitoração de pessoas que reco-
menda realização de agendamentos dos atendimentos visando evitar longos períodos de espera ou
permanência nas Centrais (BRASIL, 2017).
Um ou outro que às vezes vai um pouco alterado, às vezes chateado porque liga no 0800
e... como a demanda é muito grande e os monitores não são muitos, se torna um pouco
estressante porque eles ficam ligando o dia todo ligando lá para fazer manutenção e não
conseguem. (Policial Penal, Fortaleza)
A maioria das centrais atende situações de medidas cautelares diversas da prisão, regime
semiaberto, regime aberto, e medidas protetivas no caso da violência doméstica (exceto em Belém
onde não é oferecida a UPR - Unidade Portátil de Rastreamento, e Porto Alegre, onde a monitoração
só ocorre na execução penal). A Unidade Portátil de Rastreamento (URP) é um equipamento que a
mulher em situação de violência doméstica pode utilizar caso o autor de violência esteja monitorado.
Esse dispositivo monitora em tempo real a localização de quem porta a UPR e de quem utiliza a “tor-
nozeleira” de tal modo a permitir identificar a aproximação entre o autor e a mulher quando o primeiro
viola o distanciamento determinado pelo judiciário (PIMENTA, 2020).
A jornada de trabalho dos policiais penais é na maioria dos casos de esquema de plantões 24/72h
ou 12/36h principalmente na supervisão e no monitoramento, mas existem jornadas administrativas
em dias úteis exclusivamente diurnas, de forma a garantir a continuidade da monitoração eletrônica e o
atendimento à pessoa monitorada por telefone, SMS ou e-mail e, em horário administrativo, dependen-
do da atividade executada. As equipes multidisciplinares trabalham em horário administrativo.
Três centrais não possuíam equipe multidisciplinar (Goiânia, Cuiabá, Palmas) o que obvia-
mente reduz o papel da Central de Monitoração quanto à atividade de controle.
Segundo os entrevistados, as chefias das Centrais são indicadas por merecimento técnico
(Goiânia) ou por indicação das lideranças do órgão de administração prisional (maioria dos casos).
As Centrais das cidades de Goiânia, Cuiabá, Palmas e Fortaleza não possuem um organograma pró-
prio. Não existem metas ou indicadores definidos na totalidade das centrais segundo relatos dos
entrevistados, e a avaliação do trabalho ocorre por meio da elaboração de relatórios gerenciais perió-
dicos aos quais os pesquisadores não tiveram acesso.
Cada Central de Monitoração é atendida por uma empresa de monitoração eletrônica contra-
tada por meio de processo licitatório de responsabilidade do ente estadual. Três empresas que atuam
no cenário nacional atendem as necessidades das cidades que integraram o estudo. Na maioria dos
estados estas empresas é que treinam os policiais penais que atuarão na atividade de monitoração.
Ocorre ainda uma transmissão intergeracional do conhecimento (o trabalhador mais experiente en-
sina para os novatos) e em poucas cidades existe uma política de capacitação continuada.
De forma geral todos os policiais penais que trabalham nas Centrais têm acesso às informações
sensíveis23 de pessoas monitoradas e mulheres em situação de violência doméstica, seus familiares e
vizinhos, ainda que em graus distintos de níveis de acesso. Em Belém, só a equipe de coleta de dados
tem acesso. Em Recife existem níveis diferenciados de acesso entre os policiais penais. Em Cuiabá,
além dos policiais penais, juízes, promotores e policiais militares com autorização da chefia e justificati-
va, também acessam os dados. Em Porto Alegre só a coordenação tem acesso a todas as informações,
os demais servidores têm níveis de acesso distintos de acordo com a função exercida.
Na cidade de Goiânia todos os policiais penais têm acesso aos dados das pessoas monitora-
das e, mediante autorização da coordenação, esses dados podem ser obtidos pelas polícias militar
e civil e, centrais de inteligência. Em Palmas e Belo Horizonte todos os policiais penais têm acesso
às informações das pessoas monitoradas e pessoas externas podem ser autorizadas a acessar os
dados pela coordenação da Central de Monitoração.
23 A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) Lei 13.709 de 14/08/2018 define no Art. 5 “Para os fins desta lei considera-se: I informação
relacionada a pessoa natural identificada ou identificável; II dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção re-
ligiosa, opinião política, filiação a sindicato ou organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou a vida sexual,
dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural.” O Manual de Gestão para a Política de Monitoração Eletrônica de
Pessoas (DEPEN, PNUD, 2017) define, na pg. 101, dados sensíveis como: “os dados pessoais do monitorado, incluindo sua geolocalização,
são dados sensíveis que podem afetar direta e indiretamente sua vida”. Na página 107 os dados são discriminados: “Os dados pessoais de-
vem ser coletados de acordo com o princípio do mínimo informacional e somente quando necessários para o cumprimento da medida. Eles
devem ser compostos por, no máximo, as seguintes informações: - nome; - foto; - números de documentos de identificação pessoal; - ende-
reço residencial, de trabalho, de estudo, de hospitais ou afins (em caso de trabalho, estudo e tratamentos continuados de saúde); - número
de telefone; - e-mail; - data de nascimento; - estado civil; - origem racial ou étnica; dados de tráfego, ou seja, informação relativa à localização
pessoal (através de sistemas de geolocalização, por exemplo); - identificadores eletrônicos”.
Apenas nas Centrais das cidades de Recife, Fortaleza e Porto Alegre existe plano de contin-
gência para proteger dados diante de catástrofes.
Assim, como pode ser constatado pelas descrições, o compartilhamento de dados das pes-
soas monitoradas ocorre por meio da integração de banco de dados e acesso com diferentes níveis
de privilégios não apenas à ampla gama de profissionais das centrais, mas também unidades do
sistema prisional, profissionais e órgãos de segurança pública.
Há um enorme déficit de proteção dos cidadãos, visto que não há regulação geral sobre a
licitude, a transparência ou a segurança do tratamento de dados em matéria penal, tampouco
direitos estabelecidos ou requisitos para utilização de novas tecnologias que possibilitam
um grau de vigilância e monitoramento impensável há alguns anos. Apesar do crescimento
vertiginoso de novas técnicas de vigilância e de investigação, a ausência de regulamentação
sobre o tema gera uma assimetria de poder muito grande entre os atores envolvidos (Estado
e cidadão). Nesse contexto, o titular dos dados é deixado sem garantias normativas mínimas
e mecanismos institucionais aplicáveis para resguardar seus direitos de personalidade, suas
liberdades individuais e até a observância do devido processo legal (PIMENTA, 2020)
O anteprojeto de Lei de Proteção de Dados para Segurança Pública e Persecução Penal, en-
tregue ao presidente da Câmara dos Deputados em 05/11/2020, que propõe o tratamento de dados
pessoais para fins de segurança pública, defesa nacional e atividades de investigação encontra-se
em tramitação na Câmara dos Deputados e vai ao encontro da necessidade de maior regulação do
tema, uma vez que o tratamento de dados nestes âmbitos não foi abordado pela Lei 13.709 Lei Geral
A essencialidade deste regramento jurídico emerge da lacuna regulatória deixada pela LGPD
quanto ao uso cada vez mais intenso de tecnologias que permitem intercepção de comunicações,
localização dos indivíduos e coleta e armazenamento de dados pelos órgãos de segurança pública
no âmbito da investigação e repressão de infrações penais. Assim, é necessária a definição do trata-
mento de dados amparada por uma norma baseada na ideia de autodeterminação informativa.
Durante o atendimento das pessoas a serem monitoradas são veiculados vídeos explicativos
sobre a monitoração eletrônica na cidade de Goiânia. Na cidade de Belém estão expostos banners
com explicações e em todos os estados as instruções de uso da tornozeleira são dadas logo após a
instalação pelas pessoas encarregadas da instalação e/ou pela equipe multidisciplinar.
Esta recaptura ocorreria mesmo na ausência de autorização judicial. A existência deste grupo
francamente inverte a orientação definida no modelo de gestão da monitoração eletrônica no Brasil
(PIMENTA, 2020), além de ferir a constituição brasileira (BRASIL, 1988) no seu art. 5º, inciso LXI se-
gundo o qual “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada
de autoridade judiciária competente (...)”. Assim o acionamento da polícia ao invés de ser subsidiá-
rio, e mobilizado, após esgotadas as medidas adotadas pela equipe técnica especializada e pelo
acompanhamento da equipe multidisciplinar, transforma-se na primeira medida adotada diante da
ocorrência de incidentes, quando a prioridade deveria ser a manutenção ou restauração da medida.
Aqui cabe lembrar que as alternativas penais ou medidas cautelares são disciplinadas pela Lei
nº 12.403/2011 (que alterou dispositivos do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código
de Processo Penal, relativos à prisão processual, fiança, liberdade provisória, demais medidas cau-
telares). Elas podem ser determinadas pelo juiz no curso da investigação, quando a pena privativa
de liberdade máxima prevista para o crime apurado não for superior a quatro anos e, ao decretá-las,
o juiz deve considerar a “necessidade para aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução
criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais; e adequa-
ção da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do indiciado ou
acusado” (BRASIL, 2011).
Em grande parte dos estados a falta de investimentos do poder público na construção de ca-
sas de albergado25, de tal forma a comportar todos que progridem para o regime aberto, praticamente
25 Existem no Brasil 4 tipos de estabelecimentos penais definidos na Lei de Execuções Penais (LEP) 7210/1984. Nos termos do Art. 87
da LEP a penitenciárias são os locais onde se abrigam os condenados ao regime fechado. As colônias agrícolas e similares estão voltadas
para o regime semiaberto. Os apenados trabalham nas próprias colônias e com este trabalho reduzem a duração da pena. Muitas dessas
unidades são centros de progressão que não possuem estrutura para o trabalho dos presos, situação em que o apenado no regime semia-
berto pode trabalhar ou estudar fora da prisão durante o dia e retornar para a unidade antes das 19 horas. A casa do albergado constitui o
terceiro tipo de estabelecimento prisional e se destina a apenados que cumprem o regime aberto, além dos condenados à pena de restrição
de final de semana. Essa unidade deve localizar-se em regiões urbanas, separadas de outros estabelecimentos, conter espaços para ativida-
des didáticas e não possuir obstáculos físicos a fuga. A quarta modalidade é de cadeia pública que constitui unidade específica para presos
provisórios. Deve localizar-se em centro urbano ou nas suas proximidades, na razão de uma por comarca.
Ressalta-se que a inexistência das Casas de Albergado constitui uma inconformidade com a
Lei de Execuções Penais (BRASIL, 1984).
Ter que usar a tornozeleira faz a pessoa carregar um certo estigma, dificuldade de arrumar
emprego, de se integrar na sociedade. No regime aberto não há necessidade de aplicar a
medida. Existem ainda problemas de funcionamento, falhas no sinal, trocar o equipamento,
para os quais não há uma resposta eficiente. (Magistrado 11)
Na execução ela é pouco eficiente, ela é aplicada de forma indiscriminada, de forma arbitrária
sem critérios por razões espúrias (falência do sistema prisional, falta de investimento do
executivo estadual) e não o perfil da pessoa. Não há apoio aos egressos do sistema prisional.
Não há políticas públicas para inserir os egressos no trabalho e educação. (Magistrado 17)
Além disso, a vigilância contínua nestes casos contraria o fundamento do regime semiaberto
(Art. 36 do Código Penal) que é autodisciplina e o senso de responsabilidade do condenado (BRASIL,
1940), onera o Estado e, na prática, significa um complemento à privação de liberdade e agravamento
do regime de execução, uma vez que não há justificativa legal para o monitoramento naqueles pe-
ríodos em que o condenado não teria a obrigação de permanecer no estabelecimento penitenciário
(CORRÊA JR, 2012; SOUZA, 2013; SOUZA, 2019, BRASIL, 2017).
Quanto à sua finalidade, alguns veem a tornozeleira como uma ferramenta para garantir e re-
duzir o custo do controle e como uma pena humanizada que não restringe totalmente a locomoção:
26 Na ausência de casa de albergado os condenados são autorizados a cumprir a pena em “prisão albergue domiciliar”, por meio de re-
colhimento em residência particular e não em estabelecimento penitenciário, conforme o art. 117 da Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984).
Segundo Correa Jr. (2012), tendo-se em conta “que a prisão albergue domiciliar é uma forma de cumprimento do regime aberto, será possível
impor o monitoramento eletrônico do condenado que cumpre pena nessa condição em face da ausência de estabelecimento penitenciário
adequado”.
Porque é um custo para o Estado. Para a pessoa também, ela tem que entender como um
benefício, ela não está sendo presa. (Magistrada 23)
O significado da palavra benefício é bastante elástico, e vai da ideia de ato ou efeito de fazer
o bem, auxílio, favor, graça, privilégio ou provento concedido a alguém; proveito, vantagem até a ideia
de direito. O Dicionário Jurídico Brasileiro (SANTOS, 2001) define benefício como “Serviço ou bem
que se faz gratuitamente; favor, mercê; vantagem, ganho, proveito”. O termo aparece na Lei de Exe-
cução Penal e Código Penal ao tratar a progressão de regime, da autorização para saída temporária
do estabelecimento penal sem vigilância direta, do livramento condicional, e ao tratar do recebimen-
to de pagamentos da previdência social.
A monitoração eletrônica está submetida a decisão subjetiva de cada juiz. A maior utilidade
é na fase processual. A monitoração eletrônica não é uma pena, é um meio de fiscalização
Outros magistrados entendem como uma pena, já que restringe a liberdade plena do indivíduo
e permite continuidade do controle da sua localização.
Acho a monitoração eletrônica fantástica para os crimes de menor potencial ofensivo. Quando
não existe grave ameaça. Eu concedo as medidas cautelares que seriam o recolhimento
noturno. Aí ele é monitorado o tempo inteiro acho ótimo para crimes de menor potencial. Acho
que é uma pena, porque é uma prisão também, é uma pena privativa da liberdade. A pessoa
não tem a liberdade plena. (Magistrada 45)
O desafio que eu vejo na monitoração eletrônica é fazer com que o monitorado entenda o
objetivo, se ela é uma aplicação de pena ela pode ter um caráter mais educativo e punitivo,
para ele ressocializar. Por exemplo, ele foi condenado ao regime semiaberto, ele está usando
a monitoração eletrônica, ele tem que entender que aquilo ali tem um caráter punitivo, mas
também educativo. (Magistrada 31)
Quanto aos desafios na aplicação da medida, os magistrados chamam atenção para a neces-
sidade de adequada avaliação do perfil do indivíduo que receberá a medida, ressaltando, neste caso,
a importância das equipes multidisciplinares que apoiam o juiz na identificação do perfil da pessoa
a ser monitorada, quando de medida cautelar, no que diz respeito à sua capacidade de compreensão
da medida, de utilizar corretamente o equipamento (carregamento das tornozeleiras, não imersão
em água, interpretação dos sinais luminosos etc.) e grau de vulnerabilidade social (morador de rua,
pessoa com deficiência etc.).
Ela (a pessoa) pode porque aquela pessoa que não é dada a prática de atos ilícitos de forma
contumaz, que foi uma infelicidade na vida, um tropeço, essa pessoa tem condição de não
ser jogada dentro do sistema carcerário, que é um sistema cruel. É preciso que haja muito
cuidado (na verdade seria um "feeling"), aquele juiz que faça essa triagem juntamente com
uma equipe multidisciplinar, nunca prescindindo da equipe. Porque o profissional adquire ao
longo do tempo a experiência, mas ele não tem a técnica. (Magistrado 20)
Não coloco em morador de rua, viciado em crack, em casos de crimes menos graves e sem
antecedentes criminais, evito ao máximo a monitoração eletrônica só coloco quando é uma
alternativa real a prisão, quando o caso tem perfil para ser preso. (Magistrado 9)
Há casos que a medida, por exemplo: vigilante, que inviabiliza alguns tipos de trabalho, eles
sofrem muita discriminação. Em região de praia, muitos são trabalhadores da construção civil
e sofrem problemas e discriminações no trabalho. Discriminação e estigma que a medida
gera. (Magistrado 16)
As mulheres que são mães as condições são diferentes. O acompanhamento delas é mais
complexo, elas têm muitas demandas e isso implica em maior flexibilização senão elas são
colocadas em situação de violação e descumprimento. (Magistrada 24)
Com o passar do tempo a gente percebe que a tornozeleira é prejudicial e a forma como
você coloca é, porque às vezes aquele indivíduo que por um crime de menor potencial, você
coloca a tornozeleira nele e já dá uma pecha de bandido mesmo. Ele vai para rua e conseguir
um emprego de tornozeleira percebe-se que não é tão simples assim, porque ninguém quer
ter aquela pessoa ali. Às vezes sabe que aquela pessoa está de liberdade provisória, mas a
tornozeleira demonstra isto claramente e expõe esta pessoa. Se há a mínima possibilidade
de ele sair sem... Se ele preenche dos requisitos que a lei exigia anteriormente e ele tem
possibilidade de cumpri-los eu acho que ele deveria sair sem a tornozeleira. (Magistrado 41)
Os desafios é que nunca temos tornozeleira em número suficiente para a quantidade que a
gente necessitaria. Já tivemos preso que ficou aguardando um ano. Isto é inviável. Hoje isto
normalizou, mas a gente fica muito na dependência do dinheiro do estado para fazer contrato
de aluguel para as tornozeleiras e disponibilizava uma determinada quantidade. (Magistrada 36)
No começo a Central informava de forma quase instantânea, quando a pessoa reiterava nas
violações, hoje a Central demora muito pra informar as violações e descumprimento, falta
equipe nas Centrais. (Magistrado 2)
Tem inclusive pessoas de rua, que dependem de favor, de um amigo, onde possa carregar.
Então, tanto a questão da monitoração como um preconceito e agravados pela ineficiência
do sistema em algumas questões. Não sei se é no Brasil inteiro esse problema, mas aqui no
estado a gente tem esse problema de sinal para poder monitorar adequadamente, o problema
da tornozeleira que descarrega muito rápido e também dá muito problema técnico. É bem
comum que venha notícia da defesa no sentido de a tornozeleira está descarregando muito
rápido, que está apitando sem a pessoa ter feito nada. (Magistrado 18)
Não é toda região que tem sinal adequado para a monitoração eletrônica, a gente tem que
improvisar, ou você manda de volta para prisão ou você tem que ir em uma certa periodicidade
ao fórum para comprovar que está com a tornozeleira. Porque o sistema não pega tudo, eu
também acho um sistema bastante obsoleto que você tenha que carregar a tornozeleira por
5, 6 horas. A gente tem outras tecnologias que ainda que precise carregar a bateria. Uma boa
parte a gente acaba revogando [a medida] porque a pessoa não consegue carregar naquela
periodicidade. Tem inclusive pessoas de rua, que dependem de favor, de um amigo, onde
possa carregar. Então, tanto a questão da monitoração como um preconceito é agravados pela
ineficiência do sistema em algumas questões. Não sei se é no Brasil inteiro esse problema, mas
aqui a gente tem esse problema de sinal para poder monitorar adequadamente, o problema da
tornozeleira que descarrega muito rápido e também dá muito problema técnico. (Magistrado 19)
Os benefícios da Unidade Portátil de Rastreamento (UPR) constituiu um dos temas mais in-
controversos da pesquisa. O consenso entre os magistrados ampara-se na percepção de que o uso
da UPR reduz o risco de novas agressões e a necessidade de aprisionamento, embora em algumas
capitais ela ainda não esteja disponível. Em várias capitais os magistrados alertam para o fato de as
pessoas em situação de violência doméstica e familiar não buscarem a URP, ou de situações em que
procuram o equipamento, mas o autor não está monitorado. Isso acontece, particularmente, em es-
Nas audiências de custódia, por exemplo, normalmente só vai o réu, a vítima não comparece.
Aí, o juiz não tem oportunidade de ter o contato presencial com a vítima de esclarecer "é
necessário que você use, que você vá até lá e pegue o 'URP', que você faça uso constante
disso". Porque não adianta ela deixar isso em casa, isso é uma forma de contribuir para que a
gente consiga êxito na monitoração eletrônica. Então, nas audiências de custódia, esse contato
fica prejudicado, às vezes o processo não tem o telefone ou endereço correto da vítima, às
vezes ela recebe uma intimação, ela entende aquilo como uma pena. Ela pensa assim "ele que
aprontou e eu que...". Entendeu? Uma falta de conhecimento, mesmo. (Magistrada 31)
O nosso problema é que não ficamos sabendo se a mulher pegou ou não o botão do pânico. Não
somos comunicados pela Central. Se tivesse um sistema eu veria imediatamente e chamaria
para audiência. As informações chegam também de forma confusa. Eu acho que seria muito
importante personalizar o sistema, colocar o nome de cada um ali. Saber se compareceu ou
não compareceu. (Magistrada 45)
Ressalta-se, contudo, que as medidas protetivas de urgência podem ser cumpridas sem a
utilização da Unidade Portátil de Rastreamento, que a mulher pode decidir não a utilizar e que o seu
uso não é compulsório. Assim, mesmo quando a UPR não é utilizada o monitoramento do autor da
violência doméstica ocorre com o uso da tornozeleira sendo que a inobservância das áreas de exclu-
são é tratada pela Central e comunicada ao juiz.
Quanto às fases processuais em que pode ser feita a aplicação da monitoração eletrônica, a
maior parte dos juízes avalia que a medida de monitoração eletrônica pode ser aplicada em qualquer
fase processual, principalmente na fase de instrução. Alguns magistrados tecem críticas à forma
como ela tem sido aplicada no regime semiaberto.
Como uma das medidas acautelatórias, por um período ela tem eficácia. Antes eu deixava
em aberto, mas agora deixo por tempo definido de 6 meses e vou reavaliando, até porque a
tornozeleira diminui o tempo da pena. (Magistrada 43)
Como forma de prevenir que a pessoa esteja reclusa eu não vejo nenhuma fase que o juiz
esteja impedido de aplicar a monitoração, desde que seja uma forma mais branda que a
prisão. Se você está em uma Audiência de Custódia e você vê é a única medida que pode evitar
o acautelamento eu não vejo como evitar. (Magistrado 40)
[...] instrumento de controle, atuando como alternativa à liberdade e não como ferramenta de
alternativa à prisão. A monitoração eletrônica, utilizada nesses casos, soma-se à privação de
liberdade e agrava o regime de execução, concretizando-se como um mecanismo de maior rigor
na gestão das penas privativas de liberdade. Antes da referida lei, os presos que conquistavam
benefícios como a saída temporária e a prisão domiciliar não se submetiam a qualquer tipo
de controle eletrônico. Com a lei, estes mesmos presos poderiam agora se sujeitar à medida
(PIMENTA, 2020).
Com a introdução da Lei nº 12.403/11 que alterou o Código de Processo Penal, permitindo a
monitoração eletrônica como medida cautelar diversa da prisão (artigo 319, inciso IX) esta medida
passou a se configurar como medida alternativa à prisão para indiciados (no curso do inquérito po-
licial) ou acusados (ao longo da ação penal), evitando a prisão preventiva dessas pessoas no curso
do processo, e ampliando a aplicação da monitoração para além da execução penal. Deve-se lembrar,
contudo, que a Lei nº 12.403/11 apresenta nove medidas cautelares27 diversas da prisão preventiva,
27 I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; II - proibição
de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer
distante desses locais para evitar o risco de novas infrações; III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circuns-
tâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a
permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de
Da mesma forma, no que diz respeito às medidas protetivas de urgência aplicadas pelo juiz ao
homem autor de violência contra a mulher, podem incluir de forma cumulativa a aplicação de medida
cautelar com a monitoração eletrônica. Contudo, recomenda-se análise singular de cada caso de for-
ma a buscar a utilização da monitoração apenas quando necessária e de modo estrito, uma vez que
a aplicação indiscriminada da medida pode agravar a violência e não substitui a escuta empática e
qualificada das partes e o apoio para a resolução dos conflitos (BRASIL, 2017).
folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de
natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; VII - internação provisória
do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-im-
putável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a
atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; IX - monitoração eletrônica
(BRASIL, 2011).
28 Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 641.320 Rio Grande do Sul, 11/05/2016. Disponível em: http://redir.stf.jus.br/pagi-
nadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=11436372.
A relação dos magistrados com as pessoas monitoradas quase sempre ocorre por intima-
ção quando de incidentes reiterados comunicados pela Central via ofício, reavaliação da medida,
descumprimento da medida. Ocorre ainda por iniciativa da pessoa monitorada, quase sempre com
mediação do defensor público ou do advogado visando a solicitação de revogação da medida ou
de outras condicionalidades. Muitos magistrados relatam que esse movimento é pouco frequente,
o que pode ser atribuído ao baixo grau de escolaridade e a falta de informações da maior parte das
pessoas monitoradas.
Às vezes o monitorado vai à secretaria para informar que a distância aplicada não o possibilita ir
ao trabalho sem passar na frente da vítima, aquela forma de aplicação da monitoração é muita
extensa, ele precisa ir a outro local para trabalhar. Então há esta liberdade das varas de violência
doméstica para adequação desta medida. Às vezes, a medida saí da vara de flagrante, da vara
de custódia e ela não está adaptada, mas a gente precisa desta possibilidade do monitorado
colocar a condição dele. Então há esta interlocução sim. E no caso da monitoração indo como
medida protetiva, a gente precisa deste contato. (Magistrada 32)
Alguns monitorados entram em contato com a gente por meio de advogados, mas não é
comum. A maioria não tem muito desconhecimento. O que tem de réu que aparece lá porque já
passou o prazo da monitoração. Aí ele aparece lá para fazer uma audiência, quando vejo, ele já
está monitorado há mais de 6 meses. Ele não tem conhecimento, não vai na Central para tirar, a
Central não chama. É muita falta de conhecimento e de assistência de advogada. Antigamente
era 180 dias, eu passei para 90. Eu acho que se não descumpre tem de ir dando credibilidade, é
uma educação, não adianta ficar muito tempo. Ele vai conquistando a liberdade. Mas a maioria
cumpre a medida. (Magistrada 29)
Eu atendo todos que me procuram. Normalmente é para pedir para retirar, pois está
atrapalhando no trabalho ou ele arrumou outro emprego que fica em área que não tem sinal
etc. (Magistrada 48)
Se acabar tornozeleira, não sei se vão comunicar para mim, vão comunicar para o supervisor
do GMF que depois nos repassa. Mas, quando tem esta questão de que não podemos esperar
mais tempo, estava demorando 15 dias para colocar a tornozeleira, por isto estava sendo
concedida tornozeleira com alvará de soltura. (Magistrada 31)
Apliquei a medida muitas vezes e depois recebi mensagem do estado que não tinha
condições de aplicar a medida por falta de tornozeleira. Não existe fluxo de informação do
estado recebemos apenas informação genérica de que não tem tornozeleira e que estariam
providenciando. (Magistrado 38)
Na cidade somos informados dos descumprimentos muito tempo depois que ocorrem.
(Magistrada 48)
As condutas diante dos incidentes e descumprimentos comunicados pela central fazem parte
de um modus operandi característico de cada juiz, não existindo a priori um padrão. Contudo, existem
algumas regularidades que permeiam o trabalho de vários magistrados. Desta forma parece existir
tendência a relevar incidentes pontuais e de curta duração de violação de horários ou de áreas de in-
clusão. Quando notificados pela Central de Monitoração Eletrônica de incidentes reiterados da medi-
da, os magistrados convocam as pessoas monitoradas para justificativas que podem ser aceitas, cul-
minar em advertências, resultar em adaptações da medida, prisão preventiva ou regressão de regime.
Existem protocolos padronizados para o tratamento dos incidentes pelas Centrais que são
responsáveis pela gestão destes eventos, e que não envolvem necessariamente o acionamento do
juiz, o qual só deve ser acionado quando de descumprimentos, ou seja, quando a Central não conse-
gue solucionar o incidente (com ou sem ajustamento de cumprimento de medida).
A nossa Central tem as justificações, não se aplica uma penalidade se não for grave como
invasão a área (no caso de medida protetiva). Mas essas situações pontuais a gente sempre
tem justificativa. Ele é intimado para justificar sobre o que está acontecendo. Numa questão
desta de horário, justifica-se é encaminhado e a gente vai analisar se há como adaptar, estender
horário, reduzir horário. Eles são chamados às audiências de justificação quando ocorre estas
situações. O caso mais contundente é a violação, no nosso caso gera a prisão ou adaptação
de outro tipo de medida. Existe rigor, mas este rigor sempre traz a possibilidade de justificativa.
(Magistrado 34)
Nos casos de violência doméstica, na maioria dos relatos, a aplicação da monitoração eletrô-
nica é gradativa à medida protetiva, ocorrendo a aplicação de várias medidas protetivas (advertência,
29 Adequação social, pelo qual deve-se avaliar a plena capacidade e as condições de cumprimento pela pessoa a cumprir, considerando
horários e demais elementos relativos a condições sociofamiliares e de trabalho, saúde, crença religiosa, estudo, entre outros; Individualiza-
ção da pena ou da medida, pelo qual deve-se considerar as particularidades de cada pessoa a cumprir, com reconhecimento de trajetórias e
potencialidades individuais; X – Normalidade, pelo qual as restrições impostas nas medidas devem se ater ao mínimo possível e necessário
à tutela do provimento judicial, assegurando-se o menor de prejuízo possível à rotina normal da pessoa monitorada eletronicamente. Menor
dano, pelo qual os serviços de monitoração eletrônica deverão buscar minimizar os danos físicos, psicológicos e sociais causados pela
utilização do equipamento e pelas restrições que as medidas impõem (PIMENTA, 2020).
Quando aplicada a monitoração eletrônica, as outras condições mais comuns impostas con-
comitantemente são: proibição de aproximar-se da vítima, manter atualizada a informação de seus
endereços residencial e comercial além de telefones fixos e celular, compromisso de manter seu
endereço atualizado, receber visitas dos servidores responsáveis pela monitoração eletrônica, res-
ponder aos seus contatos e cumprir suas orientações.
Na violência doméstica quando tem muito uso de bebida alcoólica eu coloco também o
recolhimento domiciliar, proteção de contato por telefone, mensagens. (Magistrada 45)
Eu coloco limitação de horário para recolhimento nos casos do pessoal que trabalha. Horário
de saída, proibição de frequentar determinados lugares é o trivial que todo mundo aplica.
(Magistrada 43)
Com relação às necessidades específicas das pessoas monitoradas, como o estudo, prática
religiosa etc., os entrevistados consideram que a monitoração eletrônica favorece a sua continuida-
de. Com relação às mulheres grávidas e mães de crianças, todos os entrevistados consideram que a
monitoração favorece o cuidado com os filhos.
Amparado por este acervo normativo, o Modelo de Gestão (PIMENTA, 2020) e o documento
Monitoração eletrônica de pessoas: Informativo para órgãos de segurança pública (BRASIL, 2020)
recomendam a prisão domiciliar sem monitoração eletrônica para estas mulheres, uma vez que o uso
da tornozeleira: impede ou dificulta rotinas de cuidado a saúde e acompanhamento médico das mu-
lheres grávidas, dificulta a acessos dos filhos destas mulheres a serviços básicos (que dependem do
acompanhamento da mãe como consultas médicas, reuniões na escola etc.), o que contribui para no-
vos processos de criminalização destas mães impedidas de assumir as responsabilidades de cuidado
que lhes são socialmente atribuídas. A monitoração eletrônica viola ainda o princípio da precaução30
pois na inexistência de evidências suficientes para comprovar os danos físicos e psíquicos do uso das
tornozeleiras nas mulheres e na sua prole, este uso deve ser evitado. Reitere-se ainda que o uso das
tornozeleiras gera constrangimentos e estigmatização das mulheres e sua prole devido a representa-
ção social de que as pessoas que portam tornozeleiras são criminosas.
Nas situações de violência doméstica, na maioria das vezes os juízes determinam uma distân-
cia mínima, em metros, que deve ser mantida entre ofensor e vítima. Contudo, a Lei Maria da Penha
- Lei n. 11.340/2006 (BRASIL, 2006) - não garante a fiscalização da medida, o que tenta-se garantir
com a monitoração eletrônica, pois acredita-se que ela pode coibir a desobediência à decisão, trazen-
do mais segurança às mulheres.
Mas não se deve olvidar da importância do convívio familiar para a restauração de vínculos
nos casos de violência doméstica e familiar, evitando o uso desnecessário da monitoração eletrônica
quando é possível aplicar outras medidas protetivas.
A maioria dos magistrados relatou que, quando da aplicação da monitoração eletrônica busca
estar atento(a) ao atendimento de outras necessidades das pessoas que recebem a medida.
30 O princípio da precaução indica estratégias para lidar com a incerteza decorrente da impossibilidade de se antecipar às consequên-
cias de uma atividade humana. No caso, sendo desconhecidas as consequências de determinada ação potencialmente lesiva à saúde, ela
deve ser evitada.
O trabalho, a acessibilidade à família, a maior locomoção possível, acho que estes são os
papeis que a gente pode debitar à monitoração. Mas depende muito de cada caso. Você
tem monitoração que você restringe a pessoa de bairro, de rua. A gente busca preservar as
estruturas importantes para a vida do monitorando, a possibilidade de inserção e reeducação
dele. (Magistrado 35)
Porque é a gente fica muito preocupada com a manutenção do trabalho porque eles são
os provedores e se ficam presos não tem como trabalhar e é o que nos ajuda também a
fundamentar a monitoração [ao tratar de autor de violência doméstica]. (Magistrada 41)
Para as pessoas com melhores condições financeiras, elas têm advogado constituído então
para qualquer situação ela prorrogam, ah eu vou viajar eu tenho trabalho. Mas diante de alguma
falha algum problema elas já vêm se justificar, o que a gente não tem nos demais, quando a
gente tem de ligar, comunicar acionar o oficial de justiça. (Magistrada 36)
31 Classe social é um dos conceitos mais importantes no estudo da estratificação. É uma distinção e uma divisão social que resulta
da distribuição desigual de vantagens e recursos, tais como riqueza, poder e prestígio. JOHNSON, A. G. Dicionário de Sociologia. Rio de
Janeiro: Zahar, 1995.
Nos casos de violência doméstica, vários autores da violência, aparentemente encontram di-
ficuldades de elaborar autocrítica com relação ao comportamento violento e se sentem injustiçados
com a medida. Nesses casos, os magistrados afirmam confrontá-los com a alternativa da prisão.
Mas iniciada a monitoração, tendem a apresentar menos violações.
Na violência doméstica os réus de classe mais alta ficam revoltados. Os de classe mais baixa
tem uma autoestima tão baixa, que é nossa sociedade as pessoas são excluídas e se sentem
aliviadas de não serem presas, dá graças a Deus. De classe mais alta ficam revoltados com
a decisão do juiz, não se reconhecem como agressores e se acham inatingíveis. Os de classe
mais baixa aceitam mais fácil. As mulheres de classe alta denunciam muito pouco, tentam
resolver nas varas de família. (Magistrada 29)
Para as mulheres eu acho que é o que mais atende, mas eu vejo que alguns colegas acabam
aplicando as tornozeleiras para as mulheres junto à prisão domiciliar, então não sei se surte
tanto efeito. Porque elas estão saindo da cadeia para cuidar dos filhos, mas os filhos demandam
que elas saiam. Com relação às mulheres, deveria também existir uma conscientização dos
magistrados, porque só colocar essa tornozeleira quando for muito imprescindível, mas não
colocar junto da domiciliar. Eu vejo muito disso, com mulheres é mais forte ainda, parece que
tem um olhar mais moralizante. (Magistrada 13)
Eu acho as mulheres muito mais disciplinadas e corretas nas coisas e no geral são mais
disciplinadas. Mas acho que em geral os juízes não levam em consideração as necessidades
das mulheres (de cuidado e acompanhamento de filhos). No geral os juízes são muitos
severos. (Magistrada 30)
Com isto, muitos reforçam a necessidade de uma melhor comunicação do judiciário com a
sociedade sobre a medida.
É quando ele vai até a residência ou entra em contato com a vítima. Ou entra em contato por
meio de celular, facebook etc., o que ocorre inclusive da prisão. Quando há aproximação da
residência e do trabalho da vítima. (Magistrada 36)
Olha para ser bem sincero eu não tenho um critério em favor do preso. A gente acaba observando
um caso ou outro, a pessoa reside na zona rural. As pessoas não têm lugar para carregar, mas
não tenho critério pré-definido. É lógico que uma pessoa que descumpre sistematicamente e
chega na segunda audiência de justificação com aquela história que não cola a gente acaba
fazendo uma regressão de regime. (Magistrado 40)
32 Fake significa falso em inglês e é expressão que se tornou coloquial em português para designar objetos, situações e notícias como
falsas, forjadas, falsificadas.
Aqui mais uma vez, vários ressaltam a importância da equipe multidisciplinar no apoio ao juiz
por meio da escuta qualificada e empática dos envolvidos no sentido de entender as contingências
das condições de vida destas pessoas que podem estar levando aos descumprimentos e a identi-
ficação de vulnerabilidades que podem ser minimizadas por meio do encaminhamento à rede de
políticas de proteção social. Os relatórios da equipe multidisciplinar contextualizando a situação da
pessoa monitorada que descumpre a medida oferecem mais segurança para a tomada de decisão
pelo magistrado. Ressalta-se que o apoio da equipe multidisciplinar nestas situações é previsto no
modelo de gestão (PIMENTA, 2020) e no documento Monitoração Eletrônica: Informativo para os
órgãos de Segurança Pública (BRASIL, 2020).
Se acabou a carga a bateria, alguma coisa nesse sentido, não dá para ser tão rígido. É por
isso que eu sou refratário ao uso da tornozeleira de pessoas com determinado perfil. Eu
penso que a pessoa que vai fazer uso da tornozeleira tem que demonstrar perfil para uso da
tornozeleira. Vai falar que a pessoa que vai direto para prisão, é porque ela já preenche, o juiz
já deslumbra um perfil. Mas eu sempre insisto, seria bom que nós tivéssemos sempre uma
equipe multidisciplinar. Porque fica muito complicado definir esse perfil. Você tem que evitar o
preconceito. (Magistrado 20)
Os juízes foram instados a se posicionarem sobre casos de prisão do monitorado sem de-
terminação judicial, ainda que esse procedimento não seja rotina no seu estado de atuação. Alguns
afirmaram que tal não constituiria uma infração no caso da violência doméstica, uma vez que o des-
cumprimento de medida protetiva é crime, mas a maioria se posiciona pela ilegalidade da prisão de
pessoas monitoradas por conta de incidentes ou descumprimentos sem mandado judicial.
Se não tiver nenhum delito junto, deveria ter uma medida judicial para a prisão, mas, por
exemplo, na medida protetiva se ele se aproximar da residência da vítima e a polícia prender ela
pode prender porque é um flagrante de descumprimento de medida protetiva. (Magistrada 31)
Não vejo com bons olhos, porque o ser humano tende a abusar do poder, se a gente não for
controlado, não só polícia, a gente tem que ter uma barreira. Se ele estiver cumprindo um crime
em flagrante, ele está com a tornozeleira, ok, a prisão é justa. Agora, só assim, não. Porque
Não. Dois anos atrás estava acontecendo isso, a gente reuniu uma equipe de juízes e autoridades
policiais e explicamos que não estava correto. Sem uma decisão judicial determinando a prisão
é impossível fazer esse tipo de prisão. (Magistrada 33)
Olha e acho que depende muito da situação. Às vezes o juiz já consta da decisão para que
se tiver violação da monitoração que seja expedido mandado. Eu não costumo fazer isto. Na
execução constava que se ele violasse a tornozeleira deveria ser expedido imediatamente
mandado e depois de encontrado a pessoa que está sofrendo a execução seria feita a
regressão e a prisão e depois seria levada para audiência de justificação. Já no processo de
conhecimento não costumo fazer isto porque a pessoa não tem uma pena definida. Quando
a pessoa passou pelo regime fechado e já tem uma decisão judicial prevendo a busca dela eu
não vejo problema. (Magistrado 31)
Eu acho que estamos nos interligando. Hoje nós conseguimos levar o nosso sistema para Polícia
Militar, Polícia Civil e o MP. Todos esses órgãos têm acesso ao nosso sistema onde a PC tem
acesso aos processos ativos e baixados, os outros só têm acesso aos processos ativos. Então
eu acho que quanto mais a gente compartilhar com estes órgãos mais efetividade daremos a
nossa ação. O compartilhamento é o que eu queria. Eu vejo as críticas ao compartilhamento
como improcedentes. Para mim, na violência doméstica deve estar integrada com os
conhecimentos da vítima, dos antecedentes do réu inclusive com outros estados, pois se ele
matou uma mulher em outro estado, eu não vou saber aqui. Porque o agressor de mulheres
tem uma personalidade machista, alguns praticam crimes em outros estados e a gente nem
sabe e é muito importante saber o histórico dele para a gente decidir. Seria muito importante
na violência doméstica a gente unificar isto em nível nacional. (Magistrada 45)
33 O Modelo de Gestão para a Política de Monitoração Eletrônica de Pessoas (DEPEN, PNUD, 2017) define, na pg. 101, dados sensíveis
como: “os dados pessoais do monitorado, incluindo sua geolocalização, são dados sensíveis que podem afetar direta e indiretamente
sua vida”. Na página. 107 os dados são discriminados: “Os dados pessoais devem ser coletados de acordo com o princípio do mínimo
informacional e somente quando necessários para o cumprimento da medida. Eles devem ser compostos por, no máximo, as seguintes
informações: - nome; - foto; - números de documentos de identificação pessoal; - endereço residencial, de trabalho, de estudo, de hospitais
ou afins (em caso de trabalho, estudo e tratamentos continuados de saúde); - número de telefone; - e-mail; - data de nascimento; - estado
civil; - origem racial ou étnica; dados de tráfego, ou seja, informação relativa à localização pessoal (através de sistemas de geolocalização,
por exemplo); - identificadores eletrônicos”.
Para este ponto do debate se aplicam as mesmas considerações realizadas quando da discus-
são do compartilhamento de dados sensíveis das pessoas monitoradas pelas Centrais de Monitoração.
Uma das finalidades mais enunciadas da adoção da Monitoração Eletrônica no país foi a redu-
ção da superpopulação prisional. Este objetivo acompanha as discussões desde os seus primórdios
quando da apresentação dos Projetos de Lei no Congresso Nacional. Obviamente, a verificação da
ocorrência desta redução, decorridos praticamente 10 anos de introdução da Monitoração Eletrônica
no país é alvo de grande expectativa.
Neste trabalho, esta verificação deparou-se com dificuldades, sendo a maior delas, a falta
de dados públicos, confiáveis e coletados de forma padronizada em todo o país sobre a população
monitorada. Desta forma, a análise a seguir apresenta quatro estados que compuseram a amostra
investigada nesta pesquisa e onde foi possível acesso aos dados por meio de negociações entre os
pesquisadores com os coordenadores das Centrais de Monitoração. Chamamos atenção do leitor
para o fato de nas etapas anteriormente descritas deste estudo, termos trabalhado com capitais,
mas neste item a unidade analisada foi o estado da federação, considerando que os dados disponibi-
lizados apresentavam maior confiabilidade quando trabalhados na unidade da federação.
Os resultados adiante se referem aos quantitativos de presos, seja de forma provisória ou por
condenação, e de pessoas monitoradas eletronicamente registrados nos estados do Ceará, Pernam-
buco, Pará e Paraná. O período estudado inicia-se 5 anos antes do início da monitoração eletrônica
na cidade, ou da existência de dados sobre essa monitoração.
30.000
20.000
10.000
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Presos
7.113 7.380 6.964 8.275 9.511 9.935 10.907 11.205 23.413 13.800 14.132 14.675 17.226
Condenados
Presos
5.073 5.296 6.071 6.926 7.442 7.018 8.338 10.443 11.079 11.747 13.614 15.213 14.550
Provisórios
Gráfico 42 - Taxa de presos para cada 100 mil habitantes no Ceará - 2007-2019
500
387,3
400
348,0
307,6
300
227,8 329,3
152,5 200,7 286,9
200 244,3
200,7
100 177,8
0
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Tabela 2 - Quantidade de pessoas monitoradas, presas e variação anual, com base móvel, no
Ceará - 2013-2019
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Pessoas
0 0 0 0 0 0 226 298 645 1.137 1.737 2.747 5.695
Condenadas
Presos
5.073 5.296 6.071 6.926 7.442 7.018 8.338 10.443 11.079 11.747 13.614 15.213 14.550
Provisórios
A quantidade de pessoas com monitoração eletrônica foi cada vez maior ao longo do tempo,
desde a sua implantação em 2013 (Gráfico 42). No primeiro ano de implantação, 226 pessoas foram
monitoradas. Esse número aumentou até chegar a 5.695 pessoas em 2019. Em relação ao número
de presos provisórios, a tendência verificada é de aumento com o passar do tempo. Em 2007, havia
5.073 presos provisórios. Já em 2019, esse valor passou para 14.550 presos provisórios. Embora no
último ano analisado (2019) o número de pessoas monitoradas tenha mais que duplicado, a dimi-
nuição no número de presos condenados foi pequena. Por fim, a linha de tendência aponta para um
aumento de presos condenados nos próximos anos.
40.000
30.000
20.000
10.000
12.249
0
2007 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Ano 2007 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Presos
8.692 10.188 10.673 10.766 11.661 13.182 17.129 31.926 19.462 17.633 21.457 -
Condenados
Presos
11.243 12.349 13.737 15.177 18.003 19.233 13.627 14.635 13.952 13.623 14.555 12.249
Provisórios
600
500 490,9
400
327,07 288,5 338,95
300 271,56
351,23 349,25 352,68
226,79 339,9
200 293,88
238,82
100
0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Presos
Fonte: INFOPEN, 2020; Central de provisórios
Monitoração Eletrônica, Recife, 2020. Presos condenados
A taxa de presos para cada grupo de 100 mil habitantes teve um aumento contínuo de 2008
a 2013, saindo de 226,79 para 351,23 (Gráfico 44). Em 2014, a taxa caiu para 288,5 e aumentou nos
dois anos seguintes até atingir 490,9 presos por 100 mil habitantes, em 2016.
Tabela 4 - Quantidade de pessoas monitoradas, presas e variação anual, com base móvel, em
Pernambuco - 2013-2019
20.000
15.000
R2= 0,6109
10.000
5.000
0 5.073
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Pessoas
- 0 0 0 0 0 1.911 3.628 4.789 5.898 5.898 5.130 6.960
Monitoradas
Presos
- 11.243 12.349 13.737 15.177 18.003 19.233 13.627 14.635 13.952 13.623 14.555 12.249
Provisórios
Em 2013 passou a ser feita a monitoração eletrônica de pessoas na cidade de Recife, tendo
sido monitoradas 1.911 pessoas nesse ano (Gráfico 45). Essa quantidade aumentou consideravel-
mente ao longo do tempo, sendo que em 2019 foram monitoradas 6.960 pessoas. Em relação aos
presos provisórios, houve um aumento crescente de 2008 a 2013. Em 2014, o número abaixou e, no
decorrer do tempo, apresentou variações, ora apresentava aumento, ora permanecia estável, ora di-
minuía. Entretanto, ao analisar a linha de tendência do número de presos provisórios, a expectativa é
que em 2020 ocorra aumento desse grupo.
Ano 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Presos
5.782 5.389 7.817 6.714 6.849 7.227 7.191 9.139 11.655 12.728 15.456
Condenados
Presos
4.507 4.291 4.388 5.092 5.348 5.395 5.652 6.114 5.771 6.796 5.823
Provisórios
De 2015 até 2019, a quantidade de presos condenados aumentou ao longo dos anos (Gráfico
46). Nesse período, mais que dobrou o quantitativo, tendo passado de 7.191 para 15.456 presos conde-
nados. Em relação aos presos provisórios, os números variaram de 4.291 em 2010, até 6.796 em 2018.
Gráfico 47 - Taxa de presos para cada 100 mil habitantes na cidade no Pará - 2007-2019
300
247,4
208,3
200
160,8 160,7 157,1 229,3
138,5 186,6
155,6 156,0
100
130,3
0
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Tabela 5 - Quantidade de pessoas monitoradas, presas e variação anual, com base móvel, no
Pará - 2014-2019
Pessoas
0 0 0 0 0 397 502 1.024 1.291 2.047 2.611
Condenadas
Presos
4.507 4.291 4.388 5.092 5.348 5.395 5.652 6.114 5.771 6.796 5.823
Provisórios
Em 2014 foi iniciada a monitoração eletrônica de pessoas na cidade de Belém, tendo abrangi-
do 397 pessoas (Gráfico 49). Esse quantitativo aumentou ano após ano até chegar a 2.611 pessoas
monitoradas em 2019. Em relação aos presos provisórios, existe uma variação ao longo do tempo de
tal forma que a tendência aponta para crescimento em 2020.
Ou seja, ao longo do período estudado ocorreu crescimento tanto do número de pessoas pre-
sas quanto do número de pessoas monitoradas. Embora a variação de crescimento do número de
monitorações seja maior do que a variação do aumento do número de pessoas presas, este cresci-
mento não aponta para redução do número de presos provisórios.
5.4. PARANÁ
Gráfico 49 - Quantidade de presos provisórios e condenados no estado do Paraná - 2007-2019
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
0
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Pessoas
32.246 32.848 31.405 27.288 24.750 22.587 48.686 41.795 37.011 29.562 21.170
Condenadas
Presos
3.194 3.117 2.181 4.024 2.850 5.417 3.922 4.599 4.677 4.959 8.597
Provisórios
No período 2009-2014, a quantidade de presos condenados foi diminuindo ao longo dos anos,
saindo de 34.246 até chegar a 22.587 presos condenados (Gráfico 49). Em 2015, o quantitativo de
presos condenados teve um salto significativo, chegando a registrar 48.686 presos nessa situação.
De 2016 em diante, esse número foi diminuindo com o passar do tempo. Em relação aos presos
provisórios, desde 2015 o quantitativo aumenta ao longo do tempo. Se em 2015 havia 3.922 presos
provisórios, em 2019 passou a 8.597.
Gráfico 50 - Taxa de presos para cada 100 mil habitantes no estado do Paraná - 2007-2019
500 471,3
0
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Presos
Fonte: INFOPEN, 2020; Central provisórios Eletrônica Paraná, 2020.
de Monitoração Presos condenados
A taxa de presos, condenados e provisórios, para cada grupo de 100 mil habitantes apresen-
tou tendência de queda no período 2009-2014 (Gráfico 50). Em 2015 houve um grande salto na referi-
da taxa, atingindo 471,3 presos por 100 mil habitantes. De 2016 em diante, a taxa foi diminuindo até
chegar a 260,3, em 2019.
Pessoas
0 0 0 0 0 3 412 1.676 2.696 3.820 8.369
Monitoradas
Presos
3.194 3.117 2.181 4.024 2.850 5.417 3.922 4.599 4.677 4.959 8.597
Provisórios
Assim, nas cidades estudadas cuja série histórica de aprisionamento e monitoração eletrô-
nica foi objeto de análise, não se pode dizer que o emprego da monitoração apresentou impacto no
sentido de reduzir a população carcerária.
A análise da evolução do aprisionamento nas cidades estudadas não confirma esta tese. A
quantidade absoluta de presos, assim como a taxa de indivíduos encarcerados, relativa à população
total dos estados veio aumentando (exceto no Paraná), mesmo com a adoção e expansão da moni-
toração eletrônica.
Ademais, muitas das pessoas que progrediram para o regime semiaberto e aberto o fizeram
em uso de monitoração eletrônica, mesmo em situações nas quais, na ausência da oferta de monito-
ração, elas circulariam livres pelo espaço público, autorizadas a realizarem atividades de trabalho e
estudo. Algumas continuam sendo monitoradas mesmo quando do retorno noturno à casa do alber-
gado. As situações citadas aumentam o controle e os gastos para o Estado.
Assim, os anos que se seguiram à implantação da monitoração não significaram recuo no apri-
sionamento, frustrando a expectativas de que o controle via satélite, localização georreferenciada e
intercomunicação policial e penitenciária, favoreceriam o desencarceramento. Os dados disponíveis
não avalizam a suposição de ocorrência de substituição da prisão pelo controle eletrônico, sugerindo
na verdade, relação de complementaridade entre a monitoração e o aprisionamento, com expansão
das políticas punitivas, por meio das quais o Estado redimensiona o seu controle dos indivíduos sob
a custódia penal, hipótese sinalizada por outros estudos no Brasil (CAMPELO, 2015).
O rastreamento das pessoas presas significa uma reformulação do regime de punições que
não abdica do confinamento, mas se instrumentaliza com tecnologias que favorecem a hipertrofia
do sistema penal e dissolve as fronteiras entre o cárcere e a vida comunitária com uma supervisão
contínua sobre ofensores liberados para a convivência com a família, a comunidade e para o traba-
lho fora da prisão (COHEN, 1985; WACQUANT; 2001; GARLAND, 2008). Não se ignora, contudo, que
a substituição da prisão preventiva pela liberdade provisória monitorada está subordinada à deli-
beração do juiz - conforme previsto no Art. 146-B da Lei 7.210/84 - sobre a aplicação das medidas
cautelares e da monitoração (Art. 282, Parágrafo 2o da Lei 12.403/11).
Outro evento cuja ocorrência no período estudado não deve ser ignorada é o das audiências
de custódia. O projeto Audiências de Custódia lançado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em
fevereiro de 2015, tem o objetivo de garantir a apresentação imediata de pessoas presas em flagran-
te a um juiz que, com a participação do preso, sua defesa e do promotor de justiça, decide sobre a
manutenção da liberdade do suspeito ou a necessidade de manutenção da sua prisão ao longo do
inquérito policial e do processo penal.
O projeto objetiva melhor análise da necessidade da prisão preventiva, qualificar a decisão ju-
dicial e destinar a prisão preventiva às situações excepcionais, além de coibir o uso abusivo de força
pela polícia. O impacto das audiências de custódia ainda não foi suficientemente estudado no país,
mas estudos recentes (REIS, 2017; RIBEIRO et al., 2020) apontam redução dos encarceramentos no
âmbito dessas audiências. Reis (2017) revela que 61,3% dos suspeitos que passaram por audiência
de custódia na cidade de São Paulo em 2012 foram colocados em prisão preventiva. No ano de 2016,
dos 18.418 suspeitos que passaram por essas audiências 53,6% foram colocados em prisão preven-
tiva, evidenciando redução não desprezível do aprisionamento.
A confiabilidade das variáveis demográficas é muito baixa com exceção de sexo e da data
do nascimento. Mesmo para naturalidade, ainda que em número menor de processos, encontramos
informações divergentes. Para a variável raça, quando registrada nos autos, não é possível saber se
foi hetero ou autodeterminada.
Este não registro dificulta o fortalecimento, no âmbito das políticas públicas, de uma agenda
de promoção da equidade racial e do desenvolvimento e implementação de estratégias para identifi-
car, prevenir e enfrentar as desigualdades e a criminalização de populações historicamente excluídas
conforme previsto no Estatuto da Igualdade Racial (BRASIL, 2010).
Nos sistemas em que a foto da pessoa em monitoração acompanha o processo (em algumas
situações fotos de excelente qualidade) o registro da cor/raça é passível de bastante controvérsia
entre vários observadores, reiterando a importância de que documentos públicos registrem sempre
que possível a raça autodeclarada. Especificamente no que diz respeito à população negra, o Esta-
tuto da Igualdade Racial (BRASIL, 2010) reconhece como população negra “o conjunto de pessoas
que se autodeclaram pretas e pardas”. Ressalta-se ainda o exemplo da determinação do registro da
autodeclaração de raça nos sistemas de informação em saúde do país, por meio da Portaria Nº 344,
de 1º de fevereiro de 2017, que dispõe sobre o preenchimento do quesito raça/cor nos formulários
dos sistemas de informação em saúde (BRASIL, 2017).
Embora não constitua variável da planilha, conforme definido em edital, da leitura dos autos de-
preende-se que grande parte das pessoas monitoradas em todas as fases processuais pesquisadas
está inserida em núcleos familiares com a presença de filhos e companheiros/companheiras, o que
amplifica os efeitos sociais das decisões adotadas pelo sistema de justiça criminal. A literatura (VA-
NHAELEMEESCH e VANDER, 2014; PAYNE e GAINEY, 1998) e os relatos das pessoas monitoradas no
âmbito desta pesquisa apontam que o uso da tornozeleira compromete as rotinas dos familiares das
pessoas monitoradas na medida em que as prescrições da medida podem transcender a rotina do indi-
ciado ou condenado para se impor sobre toda a família, por meio das restrições de horários, territórios,
as dificuldades que impedem a pais e mães o acompanhamento dos filhos à escola, cuidados à saúde,
lazer etc. A marca visível do controle e punição do Estado sobre a pessoa monitorada pode ainda se
impor como um estigma de cortesia34 para seus familiares, em particular os filhos. Tal vai ao encontro,
no limite, do inciso XLV do artigo 5º da Constituição Federal do Brasil, que pressupõe que a sanção, em
matéria penal, não deve ultrapassar a pessoa a qual as prescrições da medida são dirigidas.
Registre-se ainda, que há uma sobrerrepresentação das varas de tóxicos nos autos proces-
suais da fase de conhecimento oriundos das varas criminais. Isto se deve ao fato de, coincidente-
mente, terem sido os magistrados titulares destas varas os mais dispostos a conceder acesso aos
34 Estigma de cortesia trata-se do preconceito e a discriminação que se estendem às pessoas porque elas estão, de alguma forma,
ligadas ao indivíduo com a marca estigmatizante (GOFFMAN, 1988).
Chama ainda atenção o grande número de aplicações da monitoração para as quais não foi
definida a duração da medida, o prazo. Esse achado encontra ressonância em achados das entrevis-
tas, quando alguns magistrados informaram que ao aplicar a monitoração eletrônica, na audiência
de custódia, deixam a critério do magistrado da vara criminal a manutenção, revogação ou pror-
rogação da medida (evento pouco comum nos autos processuais consultados oriundos de varas
criminais). Tal contraria o disposto na Resolução 213 do Conselho Nacional de Justiça que dispõe
sobre a apresentação de toda pessoa presa à autoridade judicial no prazo de 24 horas e tem como
diretriz a provisoriedade na aplicação e no acompanhamento das medidas cautelares diversas da
prisão, assim como o disposto no Modelo de Gestão para Monitoração Eletrônica de Pessoas (BRA-
SIL, 2015; PIMENTA, 2020).
Registre-se ainda que alguns juízes de varas de tóxicos entrevistados na fase anterior desta
pesquisa destacaram reservas quanto à aplicação da monitoração eletrônica em acusados de deli-
tos envolvendo drogas, uma vez que essa medida não impediria a continuidade da prática do delito.
Trazemos aqui o entendimento da política de monitoração eletrônica em vigor no país e de que a
monitoração constitui “os mecanismos de restrição da liberdade e de intervenção em conflitos e
violências, diversos do encarceramento, no âmbito da política penal, executados por meios técni-
cos que permitem indicar a localização das pessoas monitoradas para controle e vigilância indireta,
orientados para o desencarceramento” (PIMENTA, 2020). Isso posto, a política não objetiva mudar
comportamentos, ainda que reconheça que em um contexto virtuoso de sua gestão, o apoio das
equipes multidisciplinares no acompanhamento do cumprimento da medida e no apoio ao acesso
aos serviços de saúde, educação, moradia, acesso à renda e trabalho pode favorecer a adesão às
regras de convivência.
Observou-se ainda certa padronização nas outras condições aplicadas juntamente com a
monitoração. Não existe padrão nacional, mas existe certo padrão regional e no interior da mesma
vara (mesmo quando ocorre mudança de magistrado) com a aplicação de “pacotes” que associam
a monitoração eletrônica com outras medidas e condições, como analisado em passagem anterior
deste texto.
Por fim, destaca-se a natureza bastante artesanal do levantamento e a condição pouco amis-
tosa de alguns sistemas consultados. Para alguns autos processuais, os dados foram “minerados”
manualmente por meio de abertura de até centenas de abas para buscar a informação necessária. É
comum a presença de documentos repetidos nos processos, organização que não observa a ordem
cronológica, preenchimento incompleto de formulários institucionais, documentos não datados e
assinados e, por vezes, ausência de documentos e dados fundamentais para o entendimento da
situação colocada, além de travamentos dos sistemas exigindo suspensão da consulta etc. Esses
A condição fundamental para a definição de um problema como público é existir uma atitu-
de reivindicatória que obtenha êxito em conseguir uma resposta estatal, principalmente através de
definições legais e de dispositivos institucionais (GUSFIELD, 1981). Há uma dimensão simbólica (e
eminentemente moral) que envolve qualquer tema que seja tratado como um problema público. Ele
é, antes de tudo, algo que deve ser transformado. Algo a respeito do qual alguém tem a obrigação de
tomar uma providência.
Por outro lado, o aumento da população encarcerada gera múltiplos efeitos sociais, econômi-
cos, comunitários e na saúde pública. Schnittker e John (2007) mostraram que o encarceramento
tem uma série de efeitos negativos na saúde física e mental daqueles que passaram por essa expe-
riência. A prisão pode levar a pessoa a passar por eventos traumáticos, incluindo violência, divórcio e
perda de emprego, cujos efeitos na saúde são sentidos após a saída do cárcere, e cujas consequên-
cias vão desde a dificuldade de reintegração social até a pobreza crônica. Foram inúmeros os rela-
tos realizados por pessoas monitoradas aos pesquisadores no âmbito deste estudo que apontam
experiências de perda de emprego, problemas de saúde e vitimização por violência institucional ou
na comunidade, que os entrevistados atribuem ao uso da tornozeleira eletrônica.
...eu só posso arrumar emprego se for um cargo de empresa e comunicar o juiz. Um emprego, que
eu possa arrumar qualquer um, eu não posso. De jeito nenhum. (Pessoa Monitorada, Fortaleza)
Aqui também cabe o estabelecimento de paralelos com as pessoas que recebem a medida de
monitoração eletrônica. Os relatos evidenciaram trajetórias com vários episódios de monitoração.
Os mesmos princípios e diretrizes devem se aplicar ao período de tempo em que a pessoa permane-
ce monitorada, quando por meio do apoio das equipes multidisciplinares e da inclusão em políticas
públicas de seguridade social e educação o Estado pode investir na redução das vulnerabilidades
deste público e contribuir para o cumprimento da medida na sua integralidade.
Nas últimas três décadas, desde o contexto da consolidação democrática, a sociedade brasi-
leira presenciou a mobilização de diversos setores da sociedade civil e de organizações não governa-
mentais que denunciaram as violações aos direitos humanos no sistema penitenciário e a necessida-
Um dos maiores problemas do nosso sistema prisional é a superlotação, que contribui para a
maior disseminação de doenças e também para uma série de violações de direitos. O último relatório
do INFOPEN noticiava que, no Brasil, no espaço onde deveria ser aprisionado somente um indivíduo,
em média, dois estavam encarcerados (DEPEN, 2019). O ambiente é propício para o domínio do meio
carcerário por facções ou coletivos criminais, que dentro da prisão estabelecem relações de confian-
ça e proteção, e fora gerenciam os mercados ilegais.
Por isso, é imprescindível que sejam estruturadas políticas públicas de prevenção e redução
dessas violações de forma integrada, conjugando ações da União, dos estados e dos municípios. É
preciso criar políticas públicas integradas que promovam alternativas penais à prisão, com redução
da população encarcerada, prevenção e redução das violações no sistema penitenciário, inclusão e
acompanhamento educacional e profissional das pessoas presas.
No bojo dessas alternativas, uma opção que tem se colocado com cada vez maior ênfase
36 Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) trata-se de uma ação do controle concentrado de constitucionalidade
regulamentada pela Constituição Federal a partir de seus artigos 102, § 1º e 103, § 1º e § 3º designando a competência de julgamento ao
Supremo Tribunal Federal (STF).
Os controles eletrônicos de liberdade têm sido cada vez mais utilizados, e provavelmente essa
tendência irá se manter pelas próximas décadas, com o desenvolvimento tecnológico e a demanda
de controle punitivo, o que aciona os seguintes questionamentos: pode a monitoração eletrônica, por
meio de atuações multidisciplinares e por intermédio do apoio a programas de trabalho, educacio-
nais e de saúde, ter um impacto consistente na redução da população penitenciária? Qual é a dimen-
são deste impacto? A monitoração eletrônica tem algum impacto na desistência do crime? Qual é o
impacto da monitoração eletrônica na sociabilidade e saúde dos indivíduos monitorados? Como de
fato funciona a monitoração eletrônica no país? Em que medida a monitoração eletrônica abre novas
possibilidades para a resposta ao delito e a redução da violência, ou apenas amplifica um modelo
punitivo seletivo, inquisitorial e reprodutor de desigualdades e arbitrariedades na relação do Estado
com os cidadãos, características dos nossos padrões culturais de relação entre a burocracia estatal
e a sociedade? Este estudo tenta responder algumas dessas questões.
O sistema punitivo e prisional brasileiro vem sendo alvo de reiteradas, variadas e merecidas
críticas. O aumento da criminalidade violenta, e a pressão de parte da população pelo endurecimento
das penas levaram ao crescimento da população encarcerada, culminando no posicionamento do
país no terceiro lugar no ranking dos países que mais aprisionam no mundo, atrás apenas dos Esta-
dos Unidos e da China (WALMSLEY, 2020). Esse cenário tem colocado as prisões no centro de um
debate sobre os rumos da justiça criminal no país.
O debate sobre os caminhos para a redução da criminalidade no Brasil por meio do sistema
penal divide opiniões, com predominância, tanto na opinião pública quanto em instâncias estatais
de tomada de decisão dos defensores de medidas mais duras e repressivas de contenção do crime.
Do outro lado, temos os defensores do respeito aos direitos e garantias individuais, com o res-
peito a todos os princípios e salvaguardas das mesmas pelo sistema penal, com parcimônia na uti-
lização da tutela penal, e mais ainda do encarceramento, maior utilização dos modelos alternativos
de cumprimento de pena (de modo a restringir o encarceramento aos crimes com uso de violência e
grave ameaça) e fortalecimento da proteção social, particularmente nas comunidades mais carentes
e vulneráveis, incluindo programas de prevenção à criminalidade, apoio aos egressos do sistema
prisional, e outras políticas que possam contribuir para redução da criminalidade (renda mínima,
educação, saúde, habitação etc.) e possam atuar preventivamente para evitar a adesão à uma vida à
margem da lei, muitas vezes tão atrativa para a juventude.
Parece não existir dissenso quanto à precariedade do sistema prisional, alvo de denúncias
constantes da mídia e de organizações humanitárias. O sistemático desrespeito aos direitos funda-
mentais foi tratado pelo Supremo Tribunal Federal, em 9/9/2015, no julgamento da medida cautelar
na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental - ADPF n. 347, ajuizada pelo Partido Socia-
lista e Liberdade (PSOL). Nessa ocasião, o STF declarou o “estado de coisas inconstitucional”, tendo
o Plenário considerado que a ocorrência de violação generalizada de direitos dos presos no que diz
respeito à dignidade, higidez física e integridade psíquica, converte as penas privativas de liberdade
nos presídios em punições cruéis e desumanas.
Dessa forma, para além das considerações de natureza econômica que surgem das avaliações
dos custos do aprisionamento em larga escala, as atuais condições do sistema afrontam os padrões
aceitos de decência. Dentre os problemas identificados no sistema prisional brasileiro chamam atenção:
Essas condições estão muito distantes daquelas preconizadas na Lei de Execuções Penais
(Lei n. 7.210/84), nos termos em que a execução penal tem por objetivo propiciar condições para a
harmônica integração social do condenado e do internado (art. 1º). Essa Lei determina que os conde-
nados sejam classificados segundo seus antecedentes e personalidade, de forma a orientar a indivi-
dualização da execução de sua pena (art. 6º). Determina ainda, que as instalações sejam higiênicas
e a alimentação digna (art. 12), que os presos tenham acesso à educação e à formação profissional
(art. 17), assistência religiosa (art. 24), social (art. 25) e acesso ao trabalho com finalidade educativa
e produtiva (art. 28). O artigo 41 garante ainda outros direitos cuja finalidade seria propiciar adequa-
do processo de inclusão social e redução das vulnerabilidades.
O debate acadêmico sobre prisões também chama atenção para outras disfuncionalidades
do aprisionamento como a perda de agência e promoção de raiva, frustração e senso de injustiça em
relação à sociedade convencional (IRWIN e OWEN 2005), dificuldades de inclusão social e redução
das vulnerabilidades e desenvolvimento do fenômeno da prisionização (AKERS et al., 1977; BARRE-
TO, 2006). Essas desvantagens implicam em profundos impactos na vida pós-prisão, comprometen-
do o processo de reintegração comunitária, e tem justificado em vários países do mundo a busca de
alternativas para o aprisionamento, o qual vem perdendo credibilidade e legitimidade enquanto puni-
ção, mecanismo de contenção da criminalidade, de dissuasão e interrupção de carreiras criminosas.
Dessa forma, a monitoração eletrônica foi implantada no país por meio das Leis Federais Nº.
12.258, de 15 de junho de 2010 e Nº 12.403, de 4 de maio de 2011, que alteraram o Código Penal (pre-
vendo a possibilidade de utilização pelo condenado de dispositivo de vigilância indireta) e o Código de
Processo Penal, incluindo entre as medidas cautelares diversas da prisão, a monitoração eletrônica.
Com a Lei Nº 12.403, a prisão preventiva passa a ser excepcional, devendo o juiz criminal
buscar aplicar medidas cautelares diversas à prisão, entre as quais a monitoração eletrônica. Adi-
cionalmente, a monitoração eletrônica vem sendo utilizado como benefício nos acordos de dela-
ção premiada (plea bargain), firmados entre o Ministério Público e colaboradores com amparo na
Lei n. 12.850/2013.
Ressalta-se que a monitoração eletrônica desde a sua institucionalização no país foi imple-
mentada nos 26 estados da federação e no Distrito Federal. Constitui ainda prática corrente em ou-
tros países do mundo, que a aplicam tanto na fase processual quanto na execução penal.
O DEPEN, por meio da Portaria Nº. 250 de 12/08/2015, estabeleceu procedimentos, critérios e
prioridades para o funcionamento de projetos de implementação de Centrais de Monitoração Eletrô-
nica de Pessoas Cumpridoras de Medidas Cautelares Diversas da Prisão e Cumpridoras de Medidas
Protetivas de Urgência e de Centrais Integradas de Alternativas Penais com recursos do Fundo Pe-
nitenciário Nacional- FUNPEN.
Apesar de enunciada como forma de aliviar o sistema prisional, a introdução legal da moni-
toração eletrônica se restringiu às saídas temporárias no regime semiaberto e ao cumprimento da
Talvez o motivo pelo qual a monitoração eletrônica pode ser mais claramente considerada
uma forma de controle punitivo “moderado” é a comparação com as prisões e, em particular, na
medida em que é utilizada e expressa efetivamente como uma alternativa ao encarceramento e, em
reconhecimento aos problemas e aos danos infligidos àqueles que são aprisionados (JONES, 2014;
BUNGERFELDT, 2014). Porém, os achados desta pesquisa indicam que a instituição da monitoração
eletrônica no Brasil tem se configurado como um reforço do controle penal e não como uma alterna-
tiva efetiva ao encarceramento.
A monitoração eletrônica pode envolver uma mistura (em proporções incertas) de retribuição
(inflição deliberada de dificuldades através da restrição da liberdade), incapacitação (virtual), dissua-
são (seja para o infrator individual ou ao público em geral) e “reabilitação” (por meio de estabilização
da vida ou através da adesão da pessoa monitorada ao tratamento de reabilitação). No entanto, as
dimensões que sobressaem na prática e, portanto, são as mais características da medida, podem va-
riar ao longo do tempo e do local e, por isso trata-se de uma questão de determinação empírica. Além
disso, a incerteza ou o debate em torno desses objetivos e o grau em que a monitoração eletrônica é
vista como meio de alcançá-los, pode ser um elemento direcionador para conduzir o desenvolvimen-
to da medida de uma maneira ou de outra (JONES, 2014).
Embora a literatura brasileira tenha ainda uma produção discreta sobre a monitoração eletrô-
nica, outros países do mundo apresentam produções mais robustas e identificam problemas que se
mostram comuns àqueles identificados nesta pesquisa, mas também experiências de sucesso que
podem inspirar aperfeiçoamentos para esta política no Brasil, motivo pelo qual consideramos opor-
tuno apresentá-los.
Uma das questões mais candentes da discussão sobre a monitoração eletrônica diz respeito
à sua natureza intrusiva. Para alguns pesquisadores trataria-se de uma invasão imoral da privacida-
de, aqui entendida como direito de limitar e controlar o acesso às informações pessoais, pensamen-
tos e ao corpo (BULOW, 2014). Trata-se de uma afirmação controversa, uma vez que vivemos em uma
sociedade que abre mão espontaneamente de sua privacidade ao utilizar celulares que rastreiam
localização de seus portadores, que compartilha quase compulsivamente sua intimidade nas redes
sociais, que autoriza aplicativos baixados nos celulares o acesso a textos, imagens, gravações etc.
Trata-se de uma sociedade que instala, reivindica e se submete aos circuitos de TV nas edificações
(aeroportos, rodoviárias, estações de trem e metrô, unidades de saúde, escolas, estabelecimentos
comerciais) e no espaço público, quando não, no próprio domicílio e utiliza drones para coleta de
imagens e vigilância do espaço público.
Nellis (2013) observa que, em um mundo em que muitos cidadãos são localizáveis por meio
de telefones celulares, pelo Estado ou pela iniciativa privada com interesses comerciais, a capacida-
de de identificar o paradeiro de um ofensor que infringiu o toque de recolher noturno ou monitorar
um ofensor 24 horas por dia, 7 dias por semana, seria dificilmente o espectro apavorante da distopia
desenhada por George Orwell em meados do século XX (no livro 1984); sendo apenas um ponto em
direção ao fim coercitivo de um continuum de localização. Para esse autor, a questão que se coloca
é menos por que o Estado deseja monitorar e gerenciar remotamente os locais de estadia dos infra-
tores, e mais por que não. De fato, à luz de revelações recentes sobre vigilância em massa, pode ser
que, no futuro, os cidadãos do mundo se tornem mais cautelosos com as tecnologias que usam, e
exijam controles de privacidade sobre seus dados (incluindo dados posicionais geográficos) (NEL-
LIS, 2013; JONES, 2014).
Familiares co-residentes se sentem ainda inseguros pelo fato de terem pouco contato com o
sistema prisional e terem de se fiar nas informações transmitidas pela pessoa monitorada. Como as-
pectos positivos, relatam a maior convivência dos parentes com a pessoa monitorada e menor ônus
financeiro no sustento do lar, quando a pessoa monitorada trabalha. A despeito das dificuldades, to-
dos relatam que os benefícios da medida superam a desvantagens (MARTINOVIC, 2007; VANHAELE-
MEESCH; VANDER, 2014). Não foi diferente no âmbito da pesquisa apresentada neste relatório, em
que as pessoas entrevistadas na sua maioria apontaram benefícios da monitoração eletrônica tais
como libertá-las da insalubridade do ambiente prisional e permitir maior proximidade com a família.
Um dos problemas que tem relação com a questão da privacidade diz respeito ao estigma ge-
rado pela monitoração eletrônica. O registro de sua ocorrência foi unânime nos relatos das pessoas
monitoradas, dos juízes e dos trabalhadores das Centrais participantes desta pesquisa. Ressalta-se
ainda ser um dos grandes problemas relatados na literatura nacional e internacional sobre o tema
(MENDONÇA et al., 2018; NELLIS, 2012; KILGOUR, 2020). Destaca-se que a tornozeleira não é apenas
um artefato tecnológico, mas também possui conteúdo social e cultural que leva à estigmatização
do indivíduo que a porta.
A forma como é aplicada a medida em nosso meio torna difícil a construção de novas redes
de interação e convívio, pois dificulta o estabelecimento de relações de confiança e mantêm sobre a
pessoa monitorada a marca do criminoso. A visibilidade da tornozeleira torna a pessoa monitorada
alvo constante de suspeição quando da ocorrência de ilícitos no mundo do trabalho e no espaço
comunitário, expõe a questionamentos constantes com relação à trajetória pregressa que levou ao
seu uso, e por vezes, gera no outro repulsa e medo. Esses aspectos podem acabar por restringir a
convivência ao território no qual a pessoa monitorada possui vínculos, com pessoas e grupos com
trajetórias infracionais.
Não por acaso, algumas das pessoas monitoradas afirmam, quando questionadas sobre o
comprometimento das interações sociais pelo uso da tornozeleira, que tal não ocorreu, porque res-
tringiram seu território de sociabilidade às pessoas que já a conheciam, a família, ao seu bairro ou a
círculos nos quais o uso da tornozeleira não causa estranhamento. Para outras nem isto é possível.
Como evidenciado em relatos anteriores, o uso da tornozeleira nos territórios antes frequentados
pela pessoa monitorada pode implicar em riscos diante de grupos de milicianos que eventualmente
atuam nestes locais.
Em locais onde existem milícias atuando nas comunidades, o uso da tornozeleira constitui
ameaça à vida de pessoas monitoradas. A tornozeleira enquanto marca de uma trajetória infracional
ou da condição de suspeito atrai justiceiros locais que não apenas defendem publicamente, como
buscam praticar a eliminação física de “criminosos” das comunidades.
Uma maneira de lidar com esse problema, diretamente relacionado ao design tecnológico
do artefato, é tornar o dispositivo eletrônico mais discreto - por exemplo, tornando-o menor e mais
leve do que atualmente. Essa foi a sugestão de algumas das pessoas monitoradas, que se senti-
ram beneficiadas pela monitoração eletrônica que as poupou do ingresso e ou de uma permanên-
cia mais prolongada no sistema prisional, mas tem de conviver com as desvantagens decorrentes
da percepção negativa do público em geral sobre as pessoas que usam tornozeleira, particular-
mente no mercado de trabalho.
Estudo realizado na Noruega (ANDERSEN; TELLE, 2016) indicou que a Monitoração Eletrônica
reduziu em dois anos de acompanhamento a taxa de recidivismo em aproximadamente 19%. Não fo-
ram encontrados efeitos na intensidade ou gravidade da reincidência, ou seja, a monitoração eletrôni-
ca tem potencial para desviar algumas pessoas do estilo de vida criminoso, mas não para alterar sig-
nificativamente as características do comportamento criminoso reincidente. Os resultados são mais
intensos para aqueles que têm trabalho e nunca cumpriram pena de restrição de liberdade. O estudo
sugere também que políticas que mantêm os infratores fora da prisão e/ou permitem que os infrato-
res com relações trabalhistas cumpram suas sentenças monitorados, tendem a ter mais sucesso.
Henneguelle et al., (2016), na França, identificaram efeitos benéficos duradouros sobre a rein-
cidência com a conversão do aprisionamento em monitoração eletrônica, com reduções estimadas
na probabilidade de nova condenação de 9 a 11% após cinco anos. Verificam também, que quando
reincidentes, pessoas que foram monitoradas eletronicamente cometem crimes menos graves em
comparação com aquelas que estiveram presas. Esses efeitos são mais intensos nas pessoas, que
quando monitoradas eletronicamente, receberam visitas no domicílio de agentes do estado e traba-
lharam enquanto monitoradas.
A despeito de muitos encararem a monitoração eletrônica como panaceia para redução dos
problemas do sistema prisional (superlotação e alto custo), o que por ora é questionável no caso
brasileiro, ela proporciona oportunidades para outras intervenções sociais que tornem mais segura a
execução penal na comunidade, conforme experiência relatada em Portugal (CAIADO, 2020).
Nesse caso, a Monitoração Eletrônica constituiria uma ferramenta para a redução do crime
durante o tempo da sua vigência, tempo durante o qual a oferta de intervenções profissionais, a
melhoria da supervisão e medidas de acompanhamento para a reinserção profissional contribuiriam
para a desistência do crime.
Nesse modelo, a tornozeleira eletrônica deve obrigatoriamente estar combinada com outras
intervenções profissionais e medidas efetivas de reinserção social do indivíduo (CONSELHO DA EU-
Como pudemos constatar nas observações de campo e nas entrevistas realizadas nesta
pesquisa, uma das maiores fragilidades na aplicação da medida é a oferta de acompanhamento/
supervisão pelas equipes multidisciplinares. Na maioria dos capitais pesquisados, mesmo quando
existentes, essas equipes não possuem dimensão adequada e proporcional ao número de pessoas
monitoradas, são incapazes de apoiar o processo de reintegração social por meio de um plano sin-
gular de apoio à pessoa monitorada com minucioso diagnóstico social e busca de inserção na rede
de assistência social com acesso à renda, trabalho, cuidado à saúde, escolarização, assistência jurí-
dica etc. Em algumas capitais os profissionais são contratados de forma temporária e precária, não
existem evidências de processo de capacitação permanente desses quadros e nem de capacitação
inicial que possa propiciar maior entendimento e alinhamento a uma proposta consistente de apoio
à reinserção social.
Ressalta-se que a relação entre monitoração eletrônica e a reintegração social das pessoas
monitoradas é complexa e depende de como a reintegração é definida. A monitoração eletrônica
pode ser utilizada para incentivar um estilo de vida pró-social, incentivando o cumprimento das con-
dições impostas para a liberdade. Pode também ser utilizada para incentivar o envolvimento com o
tratamento da saúde, para atividades de aconselhamento, e atividades recreativas positivas, facili-
tando o retorno do ofensor à sua família, reforçando os ritmos diurnos e noturnos e desencorajando a
associação com criminosos (SCOTTISH GOVERNMENT, 2019). Tudo isso considerado, o aperfeiçoa-
mento da monitoração eletrônica, no âmbito dos executivos estaduais, exigiria: maior conformidade
das estruturas montadas ao previsto no Modelo de Gestão para a Política de Monitoração Eletrônica
de Pessoas (PIMENTA, 2020) e uma maior adequação do tamanho das equipes multiprofissionais ao
número de pessoas monitoradas, assim como diretrizes técnicas e protocolos para a sua atuação,
incluindo processos de capacitação das equipes.
Acreditamos que os resultados aqui apresentados podem contribuir para esclarecer estes
possíveis efeitos, a forma como vem sendo implementada a monitoração em cada contexto e os
desafios colocados, para juízes, gestores e demais operadores, para que as melhores possibilidades
da monitoração possam ser identificadas e implementadas.
Tendo em vista todos os dados coletados e as análises realizadas, foi possível identificar
elementos importantes que de alguma forma dificultam a obtenção de resultados positivos por meio
da monitoração eletrônica, ou que, de outro lado, constituem boas práticas e exemplos de sucesso.
Neste sentido, entendemos possível indicar, de forma sintética, algumas recomendações para o con-
junto de atores que se relacionam com a monitoração eletrônica no Brasil:
1. Uma vez que nenhuma política penal pode, por si só, dar conta da complexi-
dade das questões relacionadas com a violência, a criminalidade e a segu-
rança pública, é imprescindível que sejam estruturadas políticas públicas de
prevenção e redução dessas violações de forma integrada, conjugando ações
da União, dos estados e dos municípios. É preciso criar políticas públicas in-
tegradas que promovam alternativas penais à prisão, redução da população
encarcerada, prevenção e redução das violações no sistema penitenciário,
inclusão e acompanhamento educacional e profissional das pessoas presas.
Assim como é importante que se desenvolva o debate sobre a administração
de conflitos criminais por caminhos como a justiça restaurativa, a implemen-
tação de políticas de prevenção ao delito em âmbito comunitário e que se
promova o debate sobre uma nova política de drogas, tendo em vista o peso
da prisão de pequenos traficantes sobre o total da população carcerária, com
resultados pífios para o controle dos mercados ilegais.
2. Para que a Monitoração Eletrônica tenha uma utilização eticamente e cons-
titucionalmente aceitável, levando em conta o direito à privacidade, as infor-
mações relevantes devem ser extraídas apenas para fins gerais e devem ser
obtidas pelos meios menos invasivos possíveis. É preciso que as Centrais de
Monitoração possam dar conta do acompanhamento necessário, evitando
compartilhar dados com as polícias, pela possibilidade de reforçar estereóti-
pos e a seletividade penal já existente. A preocupação com o estigma gerado
pelo aparelho de monitoração deve ser levada em consideração, por todos os
possíveis efeitos negativos na reinserção social. Uma maneira de lidar com
esse problema, diretamente relacionado ao design tecnológico do artefato, é
tornar o dispositivo eletrônico mais discreto - por exemplo, tornando-o menor
e mais leve do que atualmente.
ADORNO, S. Discriminação racial e justiça criminal em São Paulo. Novos estudos CEBRAP,
v. 43, p. 45-63, 1995.
ADORNO, S.; DIAS, C. C.N. Articulação entre o mundo interno e externo às instituições
prisionais: questões para a construção de um novo paradigma no domínio da
sociologia das prisões. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS, 37, 2013, Águas de
Lindóia. Anais ...São Paulo: ANPOCS, 2013.
BEATO, C. C. et. al. Atlas da Criminalidade e Violência de Belo Horizonte. São Paulo: CRISP, 2005.
BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas, São Paulo: Ed. Papirus, 1996.
BRASIL. Lei n. 12.288, de 20 de julho de 2010. Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera
as Leis n. 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24
de julho de 1985, e 10.778, de 24 de novembro de 2003. Diário Oficial da União de
21.7.2010.
BRASIL. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição
Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar
a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código
Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial
da União, 8 de agosto de 2006.
BRASIL. Lei nº 13.257, de 8 de março de 2016. Dispõe sobre as políticas públicas para a
primeira infância e altera a lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (estatuto da criança
e do adolescente), o decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (código de
processo penal), a consolidação das leis do trabalho (CLT), aprovada pelo decreto-
lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, a lei nº 11.770, de 9 de setembro de 2008, e a
lei nº 12.662, de 5 de junho de 2012. Diário Oficial da União. Brasília, 9 mar. 2016.
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente
e dá outras providências. Brasília: República Federativa do Brasil, 1990.
BRASIL. Regras de Bangkok:- Regras das Nações Unidas para o tratamento de mulheres
presas e medidas não privativas de liberdade para mulheres infratoras. Brasília:
Conselho Nacional de Justiça, 2016.
BUNGERFELDT, Jan. Old and new uses of electronic monitoring in Sweden: Jan Bungerfeldt
describes integration with social work and uses in other agencies. Criminal Justice
Matters, v. 95, n. 1, p. 4-5, 2014.
Cardoso, A. R.; Brito, L. M. T. de. Ser avó na família contemporânea: que jeito é esse?. Psico-
USF, v.19, n.3, p.433-441, 2014.
Clark, L. P. Desenhos de Pesquisa para Avaliação de Programas. Recife: [S. L], 2000.
CORREA JR, A. Monitoramento Eletrônico de Penas e Alternativas Penais. 2012. 285f. Tese
(Curso de Direito Penal). Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2012.
CRESWELL, J. W.; PLANO CLARK, V. L. Designing and conducting mixed methods research.
2. ed. Los Angeles: SAGE Publications, 2011.
DAUFEMBACK, V. (Orgs.). Para além da prisão: reflexões e propostas para uma nova política
penal no Brasil. Belo Horizonte: Editora Letramento, 2018.
FOGLESONG, T. et al. Measuring Progress toward Safety and Justice: A Global Guide to the
Design of Performance Indicators across the Justice Sector. Vera Institute of
Justice, 2003.
GAMA-ARAUJO, I. S. et al. Physical violence inside female prisons in Brazil: prevalence and
related factors. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, p. 623-632, 2020.
GUSFIELD, J. The Culture of public problems. Chicago: University of Chicago Press, 1981.
JONES, R. The electronic monitoring of offenders: penal moderation or penal excess?. Crime,
Law and Social Change, v. 62, n. 4, p. 475-488, 2014.
KANT DE LIMA, R. Éticas e Práticas na Segurança Pública e na Justiça Criminal. In: LIMA, R.
S. de; RATTON, J. L; AZEVEDO, R. G. de. (Org.). Crime, Policia e Justiça no Brasil.
São Paulo, SP: Editora Contexto, p. 471-482, 2014.
KEILITZ, I. Standards and measures of court performance. Criminal Justice, v. 4, p. 559-593, 2000.
KILGOUR, L. The ethics of aesthetics: stigma, information, and the politics of electronic ankle
monitor design. The Information Society, v. 36, n. 3, 2020.
KIRK, D. S. Residential change as a turning point in the life course of crime: Desistance or
temporary cessation? Criminology, v. 50, n. 2, p. 329-358, 2012.
KITSUSE, J. CICOUREL, A. A note on the uses of statistics. Social Problem, v. 11, p. 131-139, 1963.
LOPES, F. Para além da barreira dos números: desigualdades raciais e saúde. Cad. Saúde
Pública, v. 21, n. 5, p. 1595-601, 2005.
MANSO, B. P; DIAS, C. N. PCC, sistema prisional e gestão do novo mundo do crime no Brasil.
Revista Brasileira de Segurança Pública, v. 11, n. 2, 2017.
MANSO, B. P; DIAS, C. N. A guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil. [S. L.]:
Todavia, 2018.
MARTINOVIC, M. Home detention: Issues, dilemmas and impacts for detainees' co-residing
family members. Current Issues in Criminal Justice, v. 19, n. 1, p. 90-105, 2007.
MELO, F. A. L. de. Modelo de Gestão da Política Prisional. Brasília: Ministério da Justiça, 2016.
NACIONES UNIDAS. Pautas básicas para el seguimiento y evaluación de programas, Roma, 1984.
NELLIS, M. Surveillance, stigma and spatial constraint: the ethical challenges of electronic
monitoring. In: NELLIS, M; BEYENS, K; KAMINSK, D. Electronically Monitored
Punishment: International and Critic Perspectives. London: William, 2012.
PALHARES, C. Cada pena a seu tempo: o monitoramento eletrônico como sanção no Direito
Penal Brasileiro. 2013. Tese, (Doutorado em Direito Penal). Faculdade de Direito
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Departamento de Sociologia, 2013.
PAYNE, B. K; MAY, D. C; WOOD, P. B. The ‘pains’ of electronic monitoring: a slap on the wrist or
just as bad as prison? Criminal Justice Studies, v. 27, n. 2, p. 133-148, 2014.
QUIROGA, Ana Maria. Religiões e Prisões no Rio de Janeiro: presença e significados, in:
ISER, Prisões e Religiões. Comunicado. Comunicações do ISER N.61, v 59, n.3,
p. 13-21, 2016.
REIS, T. N. dos. Presos no Palco: Avanços e Desafios das Audiências de Custódia Recém-
Implementadas na Justiça Estadual da Cidade de São Paulo. São Paulo: Stanford
Law School, 2017.
SALES, A. dos S. Who is black in Brazil? A timely or a false question in Brazilian race relations
in the era of affirmative action? Latin Am. Perspect., v.33, n.4, p.30-48, 2006.
SANTOS, M. V. dos et al., A saúde física de mulheres privadas de liberdade em uma penitenciária
do estado do Rio de Janeiro. Escola Anna Nery, v. 21, n. 2, 2017.
Tilley, N. Evaluation and evidence-led crime reduction policy and practice In: MATTHEWS, R;
PITTS, J. Crime, disorder and community safety. London: Routledge, 2001.
TILLEY, N. Introduction. In: TILLEY, N. Evaluation for crime prevention. Crime Prevention
Studies, v 14. Devon: Willan Publishing, 2002
TRISOTTO, F. Prender mais e manter preso: o custo da proposta de Bolsonaro para a segurança.
Gazeta do povo. 2018. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/politica/
republica/prender-mais-e-manter-preso-o-custo-da-proposta-de-bolsonaro-para-a-
seguranca-e489eq94tc3iujetcxdd8z937/. Acesso em: 7 jan. 2020.
WACQUANT, L. J. D. Punir os pobres: a nova gestão da miséria nos Estados Unidos. [S. L.]:
Freitas Bastos Editora, 2001.
YIN, R. Case Study Research: Design and Methods. Applied Social Research Methods series.
Thousand Oaks, London: Sage Publications. 5: 25, 2006.
CONSIDERANDO as Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos - “Regras
de Nelson Mandela” -, as Regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas
não Privativas de Liberdade para Mulheres Infratoras - “Regras de Bangkok” - e as Regras Mínimas Pa-
drão das Nações Unidas para a Elaboração de Medidas Não Privativas de Liberdade - “Regras de Tóquio”;
RESOLVE:
III – saída antecipada do estabelecimento penal, cumulada ou não com prisão domiciliar;
§ 3o As hipóteses previstas no caput poderão ser adotadas como medida de controle de vagas
em estabelecimentos penais que estejam acima de sua capacidade máxima, em situações excepcionais.
§ 4o As pessoas menores de 18 (dezoito) anos e aquelas com até 21 (vinte e um) anos de idade,
submetidas à legislação especializada em infância e juventude, não serão submetidas à medida de
monitoramento eletrônico.
Parágrafo único. A medida será excepcional e substitutiva da prisão preventiva, sendo aplicada
por tempo determinado, recomendando-se o prazo máximo de 90 (noventa) dias para reavaliação da
necessidade de manutenção por igual período, nos moldes do disposto no art. 316, parágrafo único,
do Código de Processo Penal.
Art. 5o A medida de monitoramento eletrônico nos casos de saída temporária no regime se-
miaberto poderá ser determinada mediante decisão que indique a necessidade e adequação ao caso
concreto, recomendando-se a reavaliação da medida quando não houver descumprimento anterior.
Art. 6o O período durante o qual a pessoa estiver submetida ao monitoramento eletrônico nos
casos de saída antecipada ou em substituição à privação de liberdade em estabelecimento penal,
com regular cumprimento das condições impostas, será considerado como tempo de cumprimento
de pena, assegurando que o período total de sua aplicação não exceda o tempo para cumprimento do
requisito objetivo para a progressão de regime.
Art. 7o O monitoramento eletrônico nos casos de violência doméstica e familiar tem como ob-
jetivo aprimorar a fiscalização do cumprimento das medidas determinadas com fulcro no art. 22, II e
III, da Lei no 11.340/2006.
I – estudo e trabalho, incluindo a busca ativa, o trabalho informal e o que exige deslocamentos;
b) quando se tratar de pessoa que reside em moradia sem fornecimento regular de energia
elétrica ou com cobertura limitada ou instável quanto à tecnologia utilizada pelo equipamento;
d) quando se tratar de gestante, lactante, mãe ou pessoa responsável por criança de até 12
(doze) anos ou por pessoa com deficiência.
Parágrafo único. Em até 180 (cento e oitenta) dias, o CNJ possibilitará a expedição do manda-
do de monitoramento pelos sistemas informatizados de tramitação processual.
Art. 10. O Poder Judiciário manterá interlocução constante com a Central de Monitoramento
Eletrônico acerca da disponibilidade dos equipamentos de monitoramento.
§ 1o Caso não haja equipamento disponível para instalação imediata no momento do recebi-
mento do alvará de soltura com imposição de medida de monitoramento eletrônico, a pessoa será
intimada a comparecer ao órgão competente para a instalação no primeiro dia útil seguinte.
Art. 11. O juiz competente zelará para que o acompanhamento da medida por parte da Central
de Monitoramento Eletrônico, no âmbito do Poder Executivo, observe os procedimentos previstos na
Resolução CNJ no 213/2015 e no Protocolo anexo à presente Resolução, especialmente:
IV – adoção de padrões adequados de segurança, sigilo, proteção e uso dos dados das pes-
soas em monitoramento, respeitado o tratamento dos dados em conformidade com a finalidade das
coletas, nos termos do art. 13.
Art. 13. Os dados coletados durante o acompanhamento das medidas de monitoramento ele-
trônico possuem finalidade específica, relacionada ao cumprimento das condições estabelecidas ju-
dicialmente, podendo ser utilizados como meio de prova para apuração penal e estando, de qualquer
forma, abrangidos pelo direito previsto no art. 5o, X, da Constituição Federal e legislação de proteção
de dados pessoais.
§ 8o O titular dos dados tem livre acesso à integralidade dos dados produzidos durante o acom-
panhamento de medidas de monitoramento eletrônico e à consulta facilitada sobre a forma e duração
do tratamento.
Art. 14. Os tribunais expedirão os atos necessários e auxiliarão os juízes no cumprimento desta
Resolução, em consideração à realidade local, podendo realizar os convênios e gestões necessárias ao
seu pleno cumprimento.
Art. 15. O acompanhamento do cumprimento da presente Resolução contará com o apoio técni-
co do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e de Execução das Medi-
das Socioeducativas.
1. Introdução
O Protocolo condensa e sintetiza o conhecimento produzido nos últimos anos acerca da maté-
ria, destacando-se os dois Diagnósticos Nacionais sobre a Política de Monitoração Eletrônica e o Mo-
delo de Gestão para a Política de Monitoração Eletrônica de Pessoas (publicados pelo Departamento
Penitenciário Nacional, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, nos anos de 2015, 2017 e 2018)
e a Resolução CNJ no 213/2015.
2. Mandado judicial
IV – hipótese de aplicação;
Atuam elas como longa manus do juízo, buscando viabilizar o cumprimento da medida nos ter-
mos em que estabelecida judicialmente, respeitando os direitos fundamentais da pessoa monitorada,
bem como a competência jurisdicional para a imposição de condições, readequação e reavaliação do
monitoramento eletrônico.
IX – articulação com a rede de proteção social para inclusão, de forma não obrigatória, da
pessoa monitorada e da pessoa em situação de violência doméstica e familiar, a fim de possibilitar o
exercício de direitos ou para suprir necessidades circunstanciais, como saúde, alimentação, vestuário,
moradia, transporte e assistência judiciária, bem como necessidades relativas a trabalho e estudo,
entre outras;
X – cuidado pela gestão adequada dos dados pessoais obtidos por meio do acompanhamento
da medida, devendo adotar os padrões de segurança, sigilo e proteção;
O art. 146-C, I, da Lei de Execuções Penais, estabelece o dever de a pessoa monitorada “rece-
ber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica, responder aos seus contatos e cumprir
suas orientações”.
O juiz competente deve zelar para que as visitas sejam realizadas de forma a não acarretar res-
trição a direitos não atingidos pela decisão que determinou a medida, nem prejuízos desproporcionais
à rotina normal da pessoa monitorada eletronicamente ou, ainda, de modo a atingir a esfera de direitos
de terceiros, como familiares, vizinhos e amigos, evitando-se situações vexatórias, constrangimento,
uso abusivo e desproporcional da força. As visitas devem ocorrer em harmonia com os direitos funda-
mentais à imagem, honra e privacidade da pessoa monitorada e de integrantes de seu círculo social,
respeitando-se a inviolabilidade de domicílio (art. 5o, X e XI, da Constituição Federal). Nesse sentido,
não se justificam, em regra, visitas a locais de trabalho, estudo, ou à moradia da pessoa durante o
repouso noturno.
Este item define o conceito de “incidente” e apresenta os critérios aplicáveis em seu tratamen-
to, com o objetivo de garantir a execução das ordens judiciais que determinam o monitoramento ele-
trônico de forma regular e padronizada.
Ademais, propõem-se tratamentos específicos a serem realizados diante dos incidentes mais
comuns, destacando-se procedimentos diferenciados nos casos de medidas protetivas de urgência,
nos termos da Lei no 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).
4.1. Conceito
O conceito de incidente, portanto, é abrangente, incluindo situações causadas por força maior,
culpa e dolo, que vão desde a corriqueira perda do sinal do equipamento em razão de a pessoa estar
em local com instabilidade da rede de telefonia celular, até o rompimento injustificado do dispositivo.
Os diagnósticos já realizados no país apontam que reduzida parcela dos incidentes, por sua natureza,
configura eventual descumprimento das condições estipuladas na decisão que determinou a medida
de monitoramento eletrônico.
Por se tratar de medida que acompanha a pessoa monitorada diuturnamente, às vezes por
longos períodos, os incidentes são inevitáveis. Serão necessariamente numerosos e se sucederão
enquanto durar o monitoramento. A maioria deles pode ser resolvida sem qualquer intervenção dos
funcionários da central, como, por exemplo, pela simples recarga da bateria do equipamento de mo-
nitoramento ou retorno do sinal. Outros incidentes, contudo, demandam intervenção da equipe da
Central de Monitoramento Eletrônico, que atua para restabelecer o regular andamento da medida por
meio de ações gradativas, multidisciplinares e em interlocução com a pessoa monitorada.
Como consequência, o acionamento das instituições de segurança pública por parte da Cen-
tral de Monitoramento Eletrônico é atividade excepcional e incide primordialmente no tratamento de
incidentes específicos envolvendo medidas protetivas de urgência, nos termos da Lei Maria da Penha,
com o objetivo de assegurar a proteção integral da pessoa em situação de violência doméstica e
II – descarga de bateria;
Para os outros tipos de incidente, menos corriqueiros, podem-se utilizar as proposições a se-
guir como referência de atuação.
A detecção de movimentação sem sinal pode ser ocasionada por conduta humana e pelos fa-
tores de interferência secundários, tais como mau funcionamento do equipamento de monitoramento,
cobertura reduzida ou instabilidade nos sinais de telefonia celular e GPS, entre outros.
Em razão disso, em significativa parcela dos incidentes dessa natureza, o sinal pode ser reto-
mado, em poucos minutos, com a normalização das condições técnicas de funcionamento do siste-
ma, sendo desnecessária qualquer intervenção por parte da Central de Monitoramento Eletrônico.
d. Contato telefônico com familiares, amigos, vizinhos e conhecidos que tenham dados for-
necidos à central pela pessoa monitorada, 3 (três) vezes, alternando o contato quando possível, com
intervalos de 10 (dez) minutos entre as tentativas, para localizar a pessoa e informá-la acerca da ur-
gência em entrar em contato com a central.
Caso o incidente permaneça sem solução, há a repetição do mesmo procedimento nas 24 (vin-
te e quatro) horas subsequentes.
Caso o incidente permaneça sem solução após a repetição dos procedimentos descritos aci-
ma, o juízo competente será comunicado, com o registro detalhado das tentativas efetuadas para
restabelecer a regularidade da medida. O relatório incluirá data, horário e identificação do funcionário
operador de cada etapa do tratamento do incidente.
b. Caso seja detectada falha técnica no equipamento, haverá sua substituição ou a troca das
peças defeituosas;
b. Contato telefônico com a pessoa monitorada, 3 (três) vezes, com intervalos de 5 (cinco)
minutos entre as tentativas, informando o incidente e a necessidade de retorno imediato às áreas
com cobertura de sinal de GPS e de celular. A quantidade de ligações poderá ser ampliada e o tempo
reduzido sempre que se entender necessário e adequado;
d. Contato telefônico com a pessoa em favor de quem foi estabelecida a medida, com inter-
valos de 3 (três) minutos entre as tentativas, para localizá-la e verificar, por telefone, sua proteção,
conforme determinada judicialmente, e alertar sobre eventual aproximação da pessoa monitorada;
e. Contato telefônico com familiares, amigos, vizinhos e conhecidos que tenham fornecido
dados à central, 3 (três) vezes, alternando o contato quando possível, com intervalos de 5 (cinco)
minutos entre as tentativas, para localizar o cumpridor e informá-lo acerca da urgência em entrar em
contato com a central;
g. O incidente será comunicado ao juízo competente, com o registro detalhado das tentativas
efetuadas para restabelecer a regularidade da medida. O relatório incluirá data, horário e identificação
do funcionário operador de cada etapa do tratamento do incidente.
b. Caso seja detectada falha técnica no equipamento, haverá sua substituição ou a troca das
peças defeituosas;
c. Contato telefônico com a pessoa monitorada, 3 (três) vezes, com intervalos de 15 (quinze)
minutos entre as tentativas, informando o incidente e a necessidade de efetuar a recarga da bateria.
b. Contato telefônico com a pessoa monitorada, 3 (três) vezes, com intervalos de 20 (vinte)
minutos entre as tentativas, informando o incidente e a necessidade de efetuar a recarga de bateria;
c. Contato telefônico com familiares, amigos, vizinhos e conhecidos cujos dados tenham sido
fornecidos à central pela pessoa monitorada, 3 (três) vezes, alternando o contato quando possível,
com intervalos de 10 (dez) minutos entre as tentativas, para localizar a pessoa monitorada e infor-
má-la acerca da urgência de efetuar a recarga da bateria;
Caso o incidente permaneça sem solução após a repetição dos procedimentos por 48 (quaren-
ta e oito) horas seguidas, o juízo competente será comunicado, com o registro detalhado das tentati-
vas efetuadas para restabelecer a regularidade da medida. O relatório incluirá data, horário e identifi-
cação do funcionário operador de cada etapa do tratamento do incidente.
Caso a pessoa monitorada compareça à central, nos casos de descarga parcial ou descarga
completa:
b. Caso seja detectada falha técnica no equipamento, haverá sua substituição ou a troca das
peças defeituosas;
c. Contato telefônico com a pessoa monitorada, 3 (três) vezes, com intervalos de 10 (dez)
minutos entre as tentativas, informando o incidente e a necessidade de efetuar a recarga da bateria.
b. Caso seja detectada falha técnica no equipamento, haverá sua substituição ou a troca das
peças defeituosas;
b. Contato telefônico com a pessoa monitorada, 3 (três) vezes, com intervalos de 5 (cinco)
minutos entre as tentativas, informando o incidente e a necessidade de efetuar a recarga de bateria;
c. Contato telefônico com a pessoa em favor de quem foi estabelecida a medida, com inter-
valos de 3 (três) minutos entre as tentativas, para localizá-la e verificar, por telefone, sua proteção,
conforme determinada judicialmente, e alertar sobre eventual aproximação da pessoa monitorada;
d. Contato telefônico com familiares, amigos, vizinhos e conhecidos cujos dados tenham sido
fornecidos à central pela pessoa monitorada, 3 (três) vezes, alternando o contato quando possível,
com intervalos de 5 (cinco) minutos entre as tentativas, para localizar a pessoa monitorada e infor-
má-la acerca da urgência de efetuar a recarga da bateria;
g. O incidente será comunicado ao juízo competente, com o registro detalhado das tentativas
efetuadas para restabelecer a regularidade da medida. O relatório incluirá data, horário e identificação
do funcionário operador de cada etapa do tratamento do incidente.
Quando a descarga completa ocorrer mais de uma vez durante o cumprimento da medida pro-
tetiva de urgência, a pessoa monitorada deverá comparecer à central, ocasião em que:
b. Caso seja detectada falha técnica no equipamento, haverá sua substituição ou a troca das
peças defeituosas;
c. Contato telefônico com a pessoa monitorada, 3 (três) vezes, com intervalos de 20 (vinte)
minutos entre as tentativas, informando o incidente e a necessidade de retornar às áreas permitidas;
d. Contato telefônico com familiares, amigos, vizinhos e conhecidos que tenham dados for-
necidos à central pela pessoa monitorada, 3 (três) vezes, alternando o contato quando possível, com
intervalos de 10 (dez) minutos entre as tentativas, para localizar a pessoa e informá-la acerca da ur-
gência em entrar em contato com a central.
Caso o incidente permaneça sem solução, o mesmo procedimento será repetido nas 24 (vinte
e quatro) horas subsequentes.
Caso o incidente permaneça sem solução após a repetição dos procedimentos descritos aci-
ma, o juízo competente será comunicado, com o registro detalhado das tentativas efetuadas para
restabelecer a regularidade da medida. O relatório incluirá data, horário e identificação do funcionário
operador de cada etapa do tratamento do incidente.
b. Caso seja detectada falha técnica no equipamento, haverá sua substituição ou a troca das
peças defeituosas;
4.3.3.1. Violação das áreas de inclusão e/ou exclusão nos casos de medida protetiva
de urgência aplicada no âmbito da Lei Maria da Penha
c. Contato telefônico com a pessoa monitorada, 3 (três) vezes, com intervalos de 5 (cinco)
minutos entre as tentativas, informando o incidente e a necessidade de retornar imediatamente às
áreas permitidas. A quantidade de ligações poderá ser ampliada e o intervalo diminuído sempre que
se entender necessário e adequado;
d. Contato telefônico com a pessoa em favor de quem foi estabelecida a medida e ligação
para terceiros cadastrados no sistema, com intervalos de 3 (três) minutos entre as tentativas, para
localizá-la e checar, por telefone, sua proteção, conforme determinada judicialmente, e alertar sobre
eventual aproximação do autor de violência;
e. Contato telefônico com familiares, amigos, vizinhos e conhecidos cujos dados tenham sido
fornecidos à central pela pessoa monitorada, 3 (três) vezes, alternando o contato quando possível,
com intervalos de 5 (cinco) minutos entre as tentativas, para localizar a pessoa monitorada e infor-
má-la acerca da urgência de efetuar a recarga da bateria;
Caso a pessoa monitorada retorne à área determinada, deverá comparecer à central, ocasião em que:
b. Caso seja detectada falha técnica no equipamento, haverá sua substituição ou a troca das
peças defeituosas;
b. Contato telefônico com a pessoa monitorada, 3 (três) vezes, com intervalos de 10 (dez) mi-
nutos entre as tentativas, checando o incidente e suas causas possíveis, solicitando comparecimento
urgente à central;
c. Contato telefônico com familiares, amigos, vizinhos e conhecidos que tenham dados forneci-
dos à central pela pessoa monitorada, 3 (três) vezes, alternando o contato quando possível, com inter-
valos de 10 (dez) minutos entre as tentativas, para localizar a pessoa e informá-la acerca da urgência
em entrar em contato com a central.
Caso o incidente permaneça sem solução, o mesmo procedimento será repetido nas 24 (vinte
e quatro) horas subsequentes.
Caso o incidente permaneça sem solução após a repetição dos procedimentos descritos aci-
ma, o juízo competente será comunicado, com o registro detalhado das tentativas efetuadas para
restabelecer a regularidade da medida. O relatório incluirá data, horário e identificação do funcionário
operador de cada etapa do tratamento do incidente.
b. Caso seja detectada falha técnica no equipamento, haverá sua substituição ou a troca das
peças defeituosas;
Caso a pessoa não compareça à central e o sinal não seja restabelecido, a equipe comunicará
ao juízo, com o registro detalhado das tentativas efetuadas para restabelecer a regularidade da medida.
O relatório incluirá data, horário e identificação do operador de cada etapa do tratamento do incidente.
b. Contato telefônico com a pessoa monitorada, 3 (três) vezes, com intervalos de 2 (dois) minutos
entre as tentativas, informando o incidente e a necessidade de retornar imediatamente às áreas permitidas;
c. Contato telefônico com a pessoa em favor de quem foi estabelecida a medida e ligação
para terceiros cadastrados no sistema, com intervalos de 5 (cinco) minutos entre as tentativas, para
localizá-la e verificar, por telefone, sua proteção, conforme determinada judicialmente, e alertar sobre
eventual aproximação da pessoa monitorada;
d. Contato telefônico com familiares, amigos, vizinhos e conhecidos que tenham fornecido
dados à central, 3 (três) vezes, alternando o contato quando possível, com intervalos de 5 (cinco)
minutos entre as tentativas, para localizar o cumpridor e informá-lo acerca da urgência em entrar em
contato com a central;
f. O incidente será comunicado ao juízo, com o registro detalhado das tentativas efetuadas
para restabelecer a regularidade da medida. O relatório incluirá data, horário e identificação do opera-
dor de cada etapa do tratamento do incidente.
Caso a pessoa monitorada retorne à área determinada, deverá comparecer à central, sendo
realizados os seguintes procedimentos:
b. Caso seja detectada falha técnica no equipamento, haverá sua substituição ou a troca das
peças defeituosas;
Tribunal _______
Vara _______
Nome: _____________________________________________________
Sexo: ______________________________________________________
Filiação: ___________________________________________________
Naturalidade/UF: ___________________________________________
CPF: ______________________________________________________
Profissão: _________________________________________________
* Considerar o art. 8o, parágrafo único, inciso III, alínea “c”, da Resolução CNJ no 412/2021 e, sub-
sidiariamente, a Resolução CNJ no 287/2019, no tocante ao registro de informações pessoais (Art. 4o).
2. Hipótese de aplicação
3. Prazo
Observações:
4. Condicionalidades
__________________________________________________________________________________________
Observações:
a) restrições de horário;
d) exercício das seguintes atividades: trabalho, incluindo o informal e o que exige deslocamen-
tos; estudo; aquisição regular de itens necessários à subsistência; atenção à saúde; comparecimento
(II) Entrar em contato com a Central de Monitoramento Eletrônico caso perceba defeito ou falha
no equipamento de monitoramento, ou caso excepcionalmente tenha que sair do perímetro estipulado.
(IV) Atender aos contatos do funcionário responsável pelo monitoramento eletrônico e cumprir
suas orientações.
Para o fiel cumprimento da decisão que determinou a presente medida de monitoramento ele-
trônico, a Central de Monitoramento
Endereço: __________________________________________________
Telefone: ___________________________________________________
E-mail: _____________________________________________________
LOCALIDADE, DATA.
NOME DO MAGISTRADO.
Por determinação do Presidente do Conselho Nacional de Justiça, Ministro Luiz Fux, a Se-
cretaria-Geral torna pública a inclusão dos processos abaixo na pauta da 337ª Sessão Ordinária a
ser realizada no dia 31 de agosto de 2021 (terça-feira), a partir das 10 (dez) horas, por videoconfe-
rência. Os senhores(as) advogados(as) e partes que tiverem interesse em sustentar oralmente de-
verão entrar em contato com a Secretaria Processual pelo telefone (61) 2326-5180 ou pelo e-mail
[email protected] até o dia 30 de agosto de 2021para envio de link para participar da sessão por
videoconferência, ocasião em que poderá realizar sua sustentação.
Equipe
Adriana Kelly Ferreira De Sousa, Alessandra Amâncio Barreto, Alexandre Abreu da Silva, Alexandre Padula
Jannuzzi, Alisson Alves Martins, Ana Clara Rodrigues da Silva, Anália Fernandes de Barros, Camilo Pinho da
Silva; Caroline Xavier Tassara, Carolini Carvalho de Oliveira, Danielle Trindade Torres, Emmanuel de Almeida
Marques Santos, Gabriel Richer Oliveira Evangelista, Giovane Maciel da Costa, Helen dos Santos Reis, Jessica
Sales Lemes, Joaquim Carvalho Filho, Joseane Soares da Costa Oliveira, Karla Marcovecchio Pati, Karoline Alves
Gomes, Larissa Lima de Matos, Lino Comelli Junior, Luana Alves de Santana, Luana Gonçalves Barreto, Mariana
Py Muniz, Marcus Vinicius Barbosa Ciqueira, Melina Machado Miranda, Nayara Teixeira Magalhães, Rayssa
Oliveira Santana, Rogério Gonçalves de Oliveira, Sirlene Araújo da Rocha Souza, Thaís Gomes Ferreira, Valter dos
Santos Soares, Wesley Oliveira Cavalcante
Equipe Técnica
Coordenação-Geral
Valdirene Daufemback; Talles Andrade de Souza; Adrianna Figueiredo Soares da Silva; Amanda Pacheco Santos;
Ana Virgínia Cardoso; André Zanetic; Arletiane da Silva Azevedo; Débora Neto Zampier; Edson Orivaldo Lessa
Júnior; Francisco Jorge H. Pereira de Oliveira ; Gustavo Bernardes; José Lucas Rodrigues Azevedo; Liliane Frez
da Silva; Luciana da Silva Melo; Marcela Moraes; Marília Mundim da Costa; Mário Henrique Ditticio; Natália
Caruso Theodoro Ribeiro; Semilla Dalla Lasta de Oliveira; Sérgio Peçanha da Silva Coletto; Tatiany dos Santos
Fonseca; Vivian Coelho.
Eixo 1
Fabiana de Lima Leite; Rafael Barreto Souza; Izabella Lacerda Pimenta; Ednilson Couto de Jesus Junior; Janaina
Homerin; Zuleica Garcia de Araújo
Eixo 2
Fernanda Machado Givisiez; Dillyane de Sousa Ribeiro; Eduarda Lorena de Almeida; Flavia Palmieri de Oliveira
Ziliotto; Mayara Silva de Souza
Eixo 3
Felipe Athayde Lins de Melo; Pollyanna Bezerra Lima Alves; Juliana Garcia Peres Murad; Natália Ribeiro; Sandra
Regina Cabral de Andrade
Eixo 4
Alexander Cambraia N. Vaz; Alexandra Luciana Costa; Alexandre Lovantini Filho; Alisson Alves Martins; Ana Teresa
Iamarino; Anderson Paradelas; André Ferreira Moreira; Andréa Letícia Carvalho Guimarães; Ângela Christina Oliveira
200
Paixão; Angélica Santos; Antonio Pinto Jr.; Aulus Diniz; Bruna Nascimento; Camila Primieri; Carlos Sousa; Cledson
Alves Junior; Cristiano Nascimento Pena; Daniela Correa Assunção; Elenilson Chiarapa; Emanuelli Caselli Miragluio;
Felipe Carolino Machado; Fernanda Coelho Ramos; Flavia Franco Silveira; Francisco Jorge H. Pereira de Oliveira; Gildo
Joaquim de Alves de A Rêgo; Gustavo Ferraz Sales Carneiro; Gustavo José da Silva Costa; Hely Firmino de Sousa;
Inessa Diniz Luerce; Jeferson Rodrigues; Jéssika Lima; João Batista Martins; Joe Chaves; Jorge Silva; Karla Luz; Keli
Rodrigues de Andrade; Kleiber Faria; Lian Carvalho Siqueira; Luciana Barros; Lunna Luz Costa; Marcel Phillipe Silva
e Fonseca; Maria Alves; Neidijane Loiola; Rafael Marconi Ramos; Reryka Silva; Marcelo Pinheiro Chaves; Roberto
Marinho Amado; Rodrigo Cerdeira; Roger Araújo; Rose Marie Botelho Azevedo Santana; Thais Barbosa Passos; Valter
dos Santos Soares; Vanessa Branco; Virgínia Bezerra Bettega Popiel; Vivian Murbach Coutinho.
Coordenações Estaduais
Arine Caçador Martins (RO e RR); Cláudia Gouveia (AM e MA); Daniela Bezerra Rodrigues (PB e RN); Fernanda
Nazaré Almeida (AP e PA); Isabela Cunha (AL e SE); Jackeline Freire Florêncio (ES e PE); Juliana Marques Resende
(MS e PR); Lucas Pereira de Miranda (MG e RS); Mariana Cavalcante de Moura (PI); Mariana Leiras (RJ e TO);
Mayesse Silva Parizi (BA e SC); Nadja Furtado Bortolotti (CE e MT); Pâmela Dias Villela Alves (AC e GO)
Equipe
Ana Luiza Villela de Viana Bandeira; Ana Maria Cobucci; Ana Paula Cruz Penante Nunes; Annie Akemi Palandi Yanaga;
Camilla Zanatta; Daniela Carneiro de Faria; Daniela Dora Eilberg; Denise de Souza Costa; Flora Moara Lima; Gabriel
Roberto Dauer; Gabriella de Azevedo Carvalho; Igo Gabriel dos Santos Ribeiro; Lívia Zanatta Ribeiro; Luis Gustavo
Cardoso; Mariana Andrade Cretton André Cruz; Mariane Franco Ferreira; Marina Lacerda e Silva; Matheus de Oliveira
Ranna; Nara Denilse de Araújo; Nathália L. Mendes de Souza; Rafael Gomes Duarte; Pedro Lemos da Cruz; Thays
Marcelle Raposo Pascoal; Tuane Caroline Barbosa; Vinicius Assis Couto; Viviane Pereira Valadares Felix
Consultorias Especializadas
Ana Claudia Nery Camuri Nunes; Cecília Nunes Froemming; Dillyane de Sousa Ribeiro; Eduardo Georjão Fernandes;
Felipe da Silva Freitas; Fhillipe de Freitas Campos; Helena Fonseca Rodrigues; José Fernando da Silva; Leon de
Souza Lobo Garcia; Letícia Godinho de Souza; Maria Gorete Marques de Jesus; Maíra Rocha Machado; Maria
Palma Wolff; Mayara Silva de Souza; Natália Ribeiro; Natasha Brusaferro Riquelme Elbas Neri; Pedro Roberto da
Silva Pereira; Suzann Flavia Cordeiro de Lima; Raquel da Cruz Lima; Silvia Souza; Thais Lemos Duarte; Thais Regina
Pavez; Thaisi Moreira Bauer.
Ex-Colaboradores
DMF/CNJ
Ane Ferrari Ramos Cajado; Auristelia Sousa Paes Landino; Gabriela de Angelis de Souza Penaloza; Kamilla
Pereira; Liana Lisboa Correia; Lucy Arakaki Felix Bertoni; Rennel Barbosa de Oliveira; Ricardo de Lins e Horta;
Rossilany Marques Mota; Túlio Roberto de Morais Dantas; Victor Martins Pimenta
PNUD/UNODC
Ana Carolina Renault Monteiro; Ana Pereira; Ana Carolina Guerra Alves Pekny; André José da Silva Lima; Ariane
Gontijo Lopes; Beatriz de Moraes Rodrigues; Carlos José Pinheiro Teixeira; Carolina Costa Ferreira; Celena Regina
Soeiro de Moraes Souza; Cesar Gustavo Moraes Ramos; Christiane Russomano Freire; Cláudio Augusto Vieira
da Silva; Cristina Gross Villanova; Cristina Leite Lopes Cardoso; Daniel Medeiros Rocha; Daniela Marques das
201
Mercês Silva; David Anthony G. Alves; Dayana Rosa Duarte Morais; Flávia Saldanha Kroetz; Filipe Amado Vieira;
Fernanda Calderaro Silva; Gabriela Lacerda; Isabel Oliveira; Iuri de Castro Tôrres; João Marcos de Oliveira; Joenio
Marques da Costa; Julianne Melo dos Santos; Luana Natielle Basílio e Silva; Lucas Pelucio Ferreira; Luciano
Nunes Ribeiro; Luiza Meira Bastos; Luis Gustavo Cardoso; Luiz Scudeller; Manuela Abath Valença; Marcus Rito;
Marília Falcão Campos Cavalcanti; Michele Duarte Silva; Noelle Resende; Olímpio de Moraes Rocha; Paula
Jardim; Rafael Silva West; Regina Cláudia Barroso Cavalcante; Ricardo Peres da Costa; Rogério Duarte Guedes;
Solange Pinto Xavier; Tania Pinc; Thayara Castelo Branco; Vânia Vicente; Vanessa Rosa Bastos da Silva; Vilma
Margarida Gabriel Falcone; Wellington Pantaleão; Wesley Oliveira Cavalcante; Yuri Menezes dos Anjos Bispo
PRODUTOS DE CONHECIMENTO
Publicações editadas nas séries Fazendo Justiça e Justiça Presente
202
• Cadernos de Dados I – Covid-19: Análise do Auto de Prisão em Flagrante e Ações Institucionais
Preventivas
• Caderno de Dados II – Dados Gerais sobre a Prisão em Flagrante durante a Pandemia de Covid-19
SOCIOEDUCATIVO (EIXO 2)
CIDADANIA (EIXO 3)
203
• Modelo de Gestão da Política Prisional – Caderno II: Arquitetura Organizacional e Funcionalidades
• Modelo de Gestão da Política Prisional – Caderno III: Competências e Práticas Específicas de
Administração Penitenciária
• Diagnóstico de Arranjos Institucionais e Proposta de Protocolos para Execução de Políticas
Públicas em Prisões
• Os Conselhos da Comunidade no Brasil
204
Acesse o código QR
e conheça outras
publicações do Programa
Fazendo Justiça