Introdução Ao Estudo Do Direito
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Introdução Ao Estudo Do Direito
A Constituição
As Constituições resultaram, fundamentalmente, de uma árdua e longa evolução histórica,
proveniente de lutas populares contra as monarquias absolutistas.
Observando as cicatrizes da História, a
Constituição
demonstra ser
forjada na luta, coroando insurreições
populares.
Assim, o constitucionalismo se revela na expressão jurídica da organização de determinado
povo.
Trata-se de uma expressão, fruto de um movimento social que tem raízes políticas,
econômicas, históricas, filosóficas, artísticas, culturais e ideológicas que "criam" constituições
nacionais.
Atenção:
O professor Gomes Canotilho atenta, tendo em vista as exigências da modernidade, que o
constitucionalismo é uma técnica específica de limitação do poder para fins garantísticos.
Com isso, há a necessidade de limitar o poder dos governantes diante do cidadão e da
exigência de leis escritas (destinadas, de igual forma, aos cidadãos).
A realidade social mudou e, com isso, há a necessidade de o Direito acompanhar essa
mudança. Deste modo, na era moderna, há uma concepção formal do ordenamento jurídico.
Surgem as Constituições cidadãs, liberais, formais e que preconizam a existência do Estado de
Direito.
Diante do prisma histórico, o constitucionalismo se opera em duas etapas:
a constitucionalismo clássico liberal (que ocorre na segunda metade do século XVIII);
b) constitucionalismo social (ocorreu no início do século XX);
Atenção:
O constitucionalismo brasileiro (após a Constituição da 1988) muda o aixo que até então havia
se consolidado no positivismo, passa a reconhecer a força normativa o hierárquica da
Constituição e novas fontes e métodos de interpretação constitucional. Busca-se atualmente
um a Constitulção adequada à realidade em detrimento do formallimo puro.
5.1 O conceito de Constituição
O conceito de Constituição não é algo fixo ou perene, pois esta não é uma realidade em si
mesma.
A relatividade do conceito de Constituição é fruto da análise de cada diploma existente.
No âmbito geral,
"Constituição" traduz o "ato de constituir", de "edificar", de
"formar", de "firmar" algo, alguma coisa, ou um grupo de pessoas - essencialmente refere-se a
uma organização sistematizada.
No âmbito jurídico, por seu turno, é concebida como a norma fundante, suprema,
organizadora de um Estado. A maioria dos países do mundo possui uma Constituição escrita.
A Constituição escrita é fruto da modernidade. Reveste-se na lei maior de um país que institui
e estrutura determinada comunidade política e não é, simplesmente, produto de pensamento,
mas resultado de ação.
A função da Constituição moderna, garantidora dos direitos fundamentais, é a de dellmitar as
ações do Estado diante do cidadão.
Se observarmos através da História, constataremos que povos do mundo antigo tais como os
hebreus, os gregos e os romanos também limitaram, a seu modo, o poder de seus governantes.
De fato, existiram organizações políticas, anteriores ao surgimento das Constituições escritas,
nas quais imperava um governo constitucional, sem a efetiva necessidade de articulação de
limites determinantes do poder político.
Estas limitações encontravam-se enraizadas tanto nas convicções da comunidade como nos
costumes nacionais que eram respeitados por governantes e governados.
6. A finalidade da Constituição
A constituição se revela no conjunto de normas que visam a regular a organização do Estado e
as suas funções, definindo essencialmente os direitos e deveres fundamentais dos cidadãos e,
de igual forma, a ordem jurídica do Estado. Trata-se de lei fundamental a que todos os
cidadãos - brasileiros ou estrangeiros em solo nacional - estão sujeitos.
Assim, a Constituição tem a finalidade de assegurar a unidade de um Estado, definindo o
regime político, o sistema jurídico, os poderes, sua efetiva soberania, , impondo-se às demais
normas do ordenamento jurídico. Ela encontra fundamento no povo, afirma-se com ele; se o
povo deixa de existir, inócuo o diploma constitucional.
7. Classificação da norma quanto à hierarquia
A classificação brasileira vem definida no art. 59 da Constituição de
1988 e estipula:
Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:
I - emendas à Constituição;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - leis delegadas;
V - medidas provisórias;
VI - decretos legislativos;
VII - resoluções.
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e
consolidação das leis.
a) Constituição Federal: é fruto de poder constituinte originário, tem por finalidade traduzir os
anseios do povo, bem como representá-lo, uma vez que foi concebida no momento histórico
democrático que reagia contra a ditadura militar. A Constituição (dentro de sua acepção
moderna) não está subordinada a nenhuma lei e revela-se norteadora e hierarquicamente
superiora a todas as normas do ordenamento jurídico brasileiro.
b)
Emendas à
Constituição:
elas têm previsão
constitucional e possuem força para mudar, ampliar ou complementar o texto da Constituição.
A carta de 1988 estipula efetiva rigidez para alterar o texto constitucional (isso implica em
mecanismo e critérios rigorosos e formais para ao procedimento de alteração). Porém,
observados os princípios constitucionais, ela pode ser alterada, e a
Emenda passa a integrar o corpo da Constituição.
c) Lei complementar à Constituição: a Constituição de 1988 vincula a elaboração de normas
jurídicas sobre assuntos definidos no seu texto. A lei complementar tem aprovação por maioria
absoluta, estão sujeitas a emendas e também ao veto do Presidente da República.
d) Lei ordinária: trata-se aqui de leis comuns do Brasil, uma vez que podem versar sobre
qualquer matéria que não seja destinada pela Constituição à Emenda Constitucional ou à lei
complementar. No caso, a lei ordinária é aprovada por maioria simples.
e) Leis delegadas: neste caso, o Presidente da República exerce função atípica, uma vez que a
sua elaboração é entregue, conforme previsto no texto constitucional, a ele. Obviamente que,
tratando-se de função atípica, o Presidente necessita de autorização do Congresso Nacional.
Observamos então que o Poder Legislativo, embora fiscalizando o Presidente da República,
abre mão de uma pequena parcela do poder de criar leis para o Poder Executivo.
f) Medidas provisórias: instituto oriundo do direito italiano, revela-se em atos normativos,
também editadas pelo Presidente da República, com força de lei, que trazem no seu corpo
duas exigências constitucionais: em "caso de relevância e urgência". Fruto de várias mudanças,
para que entre no ordenamento normativo brasileiro, deve ser aprovada pelo Congresso
Nacional no prazo de 60 dias a contar da data de sua publicação (prorrogável pelo mesmo
período, se necessário).
g) Decretos legislativos: são normas do Congresso Nacional com a finalidade de disciplinar
matéria de competência exclusiva deste órgão. São aprovados por maioria simples.
h) Resoluções: disciplinam
matéria de competência do
Congresso Nacional e produzem efeitos internos.
São
promulgadas pela Casa legislativa que as expedir.
8. Classificação das Constituições
Doutrinariamente costuma-se classificar as Constituições devido a uma razão pedagógica e
epistemológica para delimitarmos onde se encontra a nossa Constituição e as dos demais
países. Assim, podemos apontar a seguinte classificação das Constituições:
8.1 Quanto ao conteúdo
a Constituição material: traduz o conjunto de regras materialmente constitucionais,
relacionadas ao poder, quer estejam elencadas no corpo da Constituição ou fora dele (regras
de matéria constitucional são destinada a fixar a estrutura do Governo, a delimitação dos
poderes e forjar as Liberdades dos cidadãos).
Vale destacar neste ponto que nem todas as regras elencadas na Constituição são,
forçosamente, normas materiais. Deste modo, são formalmente constitucionais pelo simples
fato de estarem inseridas no texto constitucional.
b) Constituição formal: é estruturada de forma escrita, por meio de um documento solene
elaborado pelo poder constituinte originário.
8.2 Quanto à forma
a Constituição escrita: trata-se aqui de um conjunto de regras, codificadas de modo sistemático
e científico, inseridas num único documento (alguns doutrinadores apontam que este tipo de
Constituição traz consigo características de estabilidade e segurança jurídica.
b) Constituição histórica (dispersa, consuetudinária ou não escrita): este tipo de Constituição
não existe como um documento formal, mas é fruto da tradição histórica e do Costume legal
(que se acham, também, por escrito). São formadas por leis esparsas. Um exemplo clássico é
encontrado no sistema jurídico inglês, pois não há uma Constituição escrita.
8.3 Quanto ao modo de elaboração
a Constituição dogmática: é concebida racionalmente por um órgão incumbido de sua
elaboração, ou seja, por um órgão constituinte (em tese, consagra dogmas consagrados neste
momento).
b) Constituição histórica: trata-se de uma Constituição não escrita que é forjada por um longo
processo histórico, da lenta evolução das tradições e costumes consagrados pelo povo.
Concluímos então que a Constituição escrita será sempre dogmática e a
Constituição histórica sempre não escrita.
8.4 Quanto à origem da Constituição
a Promulgada (popular ou democrática): estas
Constituições são fruto de uma Assembleia Nacional Constituinte, formadas por
representantes do povo eleitos com a finalidade de realizar essa tarefa. É comum os autores
destacarem como exemplo as descontes Constituições brasileiras de 1891, 1934,
1946 e atual, de 1988.
b) Outorgada: sua redação e imposição são feitas pelo poder governante (que geralmente
exerce alguma forma de dominação), ou seja: exclui-se a participação popular (temos, no
Brasil, o exemplo das Constituições de 1824, 1937, 1967 e EC n. 1/69).
8.5 Quanto à mutabilidade
A estabilidade de uma constituição está intrinsecamente ligada à questão da rigidez dos
procedimentos legislativos que buscam sua reforma.
Em razão de sua finalidade e importância, a Carta Magna precisa ser dotada de estabilidade
mais do que qualquer outra norma do ordenamento jurídico. Daí, este tipo de classificação
estar intimamente ligada à maior ou menor complexidade de que envolve o processo de
alteração da Lei Maior.
a) Imutável ou inalterável: esta Constituição é totalmente inflexível, não prevendo qualquer
hipótese de reforma (os autores convergem no sentido de elencá-las como verdadeiras
"relíquias históricas").
b) Flexível: são aquelas Constituições em que o processo legislativo que norteia sua reforma é o
mesmo adotado em relação à lei ordinária.
c) Semirrígida: neste tipo de Constituição a uma rigidez para parte de seus dispositivos, de seu
texto; os demais dispositivos são considerados flexíveis.
d) Rígida:
estas
Constituições
exigem um
procedimento legislativo mais solene, rigoroso, para a alteração do texto constitucional.
Um conceito que merece atenção, neste ponto, é o de cláusula pétrea. Estas cláusulas não
serão objeto de alteração. Assim, a atual Constituição Federal do Brasil, de 1988, em seu art.
60, § 4°, relaciona a suas cláusulas pétreas do seguinte modo:
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
§ 4° Não será objeto de deliberação a proposta de emenda
tendente a abolir:
1 - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
Vale destacar que ainda existem no copo da Constituição de 1988 as cláusulas pétreas
implícitas. Estas não estão necessariamente previstas no $ 49 do art. 60.
Como exemplo, destacamos os fundamentos da República Federativa do Brasil (art. 19) e seus
objetivos fundamentais (art. 39).
Art. 19 A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
1 - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Art. 39 Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do
Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades socials e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.
e Super-rígida: estas Constituições são escritas e possuem elencados no seu texto, alguns
dispositivos que não podem ser, de modo algum, alterados.
8.6 Quanto à sua extensão
a) Sintética (sucinta ou concisa): trata-se aqui de Constituições de menor extensão. Elas trazem
no seu corpo apenas princípios e normas gerais atinentes à organização do Estado (um
exemplo clássico é a Constituição dos Estados Unidos).
b) Analítica (prolixa): trata-se de um diploma que cuida em detalhes, com minúcias, temas que,
por sua relevância, poderiam ser abordados em outro plano (tal como a lei ordinária). Como
exemplo, destaca-se a Constituição brasileira de 1988 (o legislador optou ir além do
constitucionalismo clássico, analisando assuntos julgou relevantes para a formação de um novo
Brasil, em 1988).
8.7 Quanto à ideologia
a) Eclética: são diplomas que abrem espaços para mais de uma ideologia filosófica, econômica,
cultural e política.
b) Ortodoxa: este tipo de Constituição segue a batuta de uma única ideologia (ideologia
cultural), política, econômica, filosófica ou religiosa, proveniente de um grupo ou de um único
indivíduo).
9. Aplicabilidade das normas constitucionais
O tema em comento é exposto por meio da teoria proposta pelo professor e constitucionalista
José Afonso da Silva e que, com o passar do tempo, coloco ganhou abordagens diferentes por
parte de outros doutrinadores. Sendo assim, a classificação ocorre do seguinte modo:
a) Normas de eficácia plena: estas normas, como o próprio nome já indica, têm aplicação
imediata. Isso significa que não dependem de qualquer regulamentação posterior.
A professora Maria Helena Diniz propõe outra classificação: as normas de eficácia absoluta.
Seriam, portanto, normas intocáveis, uma vez que após sua elaboração pelo poder constituinte
originário não trazem hipótese de alteração (como é o caso já analisado das cláusulas pétreas).
b) Normas de eficácia contida: são normas que, à semelhança das normas de eficácia plena,
têm aplicação imediata.
Contudo, diferenciam-se destas, pois há uma porta aberta deixada pelo constituinte para que o
legislador restringisse a incidência da norma constitucional (eis a razão pela qual o professor
Michel Temer utilizou a denominação normas de eficácia restringível e redutível).
Assim, elencada na Constituição, sua aplicação pode ser reduzida pela lei comum. Vale lembrar
que, enquanto não vier a incidir lei restringindo o seu campo de atuação, ela terá, como é
óbvio, eficácia plena.
c) Normas da eficácia limitada: são normas que possuem aplicabilidade mediata. São
dispositivos que possuem eficácia apenas no campo jurídico.
Elas dependerão de uma norma inferior (infra constitucional) para que as torne aptas para
incidir no caso concreto (tendo em vista esta característica, nomeadamente o fato de que
dependem de complementação de lei inferior, a professora Maria Helena Diniz classificou-as
como normas de eficácia relativa complementável).
d) Normas de princípio institutivo: estas normas, inseridas no texto constitucional pelo
legislador constituinte, buscam estipular orientações gerais para que o legislador ordinário
possa estruturar órgãos, entidades em institutos, mediante o auxílio da lei.
e) Normas programáticas: são normas quem implementam política de governo, orientam,
norteiam o legislador ordinário quanto ao fim objetivado pelo Estado brasileiro. Trazem, no seu
texto, comandos-valores destinado ao legislador ordinário.
Atenção:
O estudo do tema proposto faz-se relevante, uma vez que o Brasil, por meio de sua
Constituição de 1988, que é formal e rígida, pode vislumbrar com clareza a questão da
hierarquia das normas constitucionais e normas infraconstitucional.
10. Poder constituinte