Real Gazeta Alto Minho N.º 36

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Real Gazeta

DO ALTO MINH

PÁG. 22 - ENTREVISTA AO EX.MO SENHOR


PROFESSOR DOUTOR ALEXANDRE FRANCO
DE SÁ
‘Quero formular votos de que um dia a instituição
monárquica possa contribuir para um reencontro de
Portugal consigo mesmo e com a sua história. (…) No
fundo, é aquela velha fórmula de que não se trata
simplesmente de restaurar a monarquia em Portugal,
mas de restaurar Portugal pela monarquia.’

EDIÇÃO DO CENTRO DE ESTUDOS ADRIANO XAVIER CORDEIRO | N.º 36 JUNHO 2023


REAL GAZETA DO ALTO MINHO

CONTEÚDOS
JUNHO 2023
4 AINDA VILA VIÇOSA - A CAPITAL
DO REINO
10 A CAUSA REAL, O REI E A
DEFESA DO HOMEM
12 XXVII CONGRESSO DA CAUSA
REAL

13 QUARTA EDIÇÃO DO PRÉMIO


GONÇALO RIBEIRO TELLES
PARA O AMBIENTE E PAISAGEM

19 18ª EDIÇÃO DO FESTIVAL


INTERNACIONAL DE JARDINS DE

15 SUA ALTEZA REAL O


SENHOR DOM DUARTE
EM PONTE DE LIMA
PONTE DE LIMA

20 QUIZ PARA REPUBLICANOS

22 EXCLUSIVO!
ENTREVISTA DA REAL GAZETA DO
ALTO MINHO AO EX.MO. SENHOR
PROFESSOR DOUTOR ALEXANDRE
FRANCO DE SÁ

30 REIS DE PORTUGAL
33 WAGNER PRELUDE – OPUS Nº 24
55 22 JUIN

OS 650 ANOS DA ALIANÇA ENTREVISTA AO EX.º SR.


36 HISTÓRIA DA CARBONÁRIA EM
ENTRE OS REINOS DE PROF. DOUTOR ALEXANDRE
PORTUGAL
INGLATERRA E DE FRANCO DE SÁ
PORTUGAL 42 REINO DE ESPANHA
- A MONARQUIA - GARANTE DA DEMOCRACIA
Neste sentido, no dia 15 de junho de ‘A ideia monárquica parte do E DAS LIBERDADES
2023, Sua Majestade o Rei Carlos III
pressuposto de que só seremos
do Reino Unido recebeu S. Exa. o
Presidente da República livres se pertencermos a um
51 FAVORECER A CULTURA DA
Portuguesa, Professor Marcelo povo livre, que viva e se FAMÍLIA E DA VIDA NA SOCIEDADE
Rebelo de Sousa, no Palácio de desenvolva livremente ao longo
Buckingham e de seguida
deslocaram-se ao Palácio de St.
da história e das gerações que
nela se entrelaçam. (…) Nesse
54 ELEIÇÕES NA REAL ASSOCIAÇÃO DE
James onde assistiram a uma TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
cerimónia de ação de graças na sentido, podemos dizer que a
Capela da Rainha (Catarina de Monarquia portuguesa, que
Bragança, rainha-consorte de
Inglaterra por casamento com o rei
partia da ligação essencial REAL GAZETA DO ALTO MINHO - Nº36
inglês Carlos II), em Londres, para entre o Rei de Portugal e os JUNHO 2023
assinalar os 650 anos da Aliança portugueses, foi a mais
Anglo-Portuguesa, a mais antiga
democrática das monarquias.’ Director Redactor
aliança diplomática do mundo
ainda em vigor. José Aníbal Marinho Gomes Porfírio Silva
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Editorial
JOSÉ ANÍBAL MARINHO

Em defesa da Instituição Real

“A Monarquia hereditária é uma concepção política tão profunda que não está ao
alcance de todas as inteligências compreender-lha”
Ernest Renan

Contrariamente ao que se passou em Portugal, todos os países que tiveram a sabedoria de


conservar as suas dinastias vincularam a Monarquia hereditária à continuidade histórica,
como representação nacional do presente e do passado, pelo que a Monarquia é um símbolo
da unidade e continuidade de um país, porque o Rei, ao contrário de um Presidente da
república, não foi eleito por uma parte dos votos, mas pela história, o que lhe permite
intervir com capacidade de arbitragem e moderação apenas em casos de crise extrema.
Como o Rei não é eleito, nem representante de nenhum partido, exerce como tal, uma
magistratura nacional, representando todos os cidadãos de forma igual, contrariamente a
um presidente da república que representará sempre os interesses dos votantes que o
elegeram.
Contrariamente a um Presidente da república, um Rei não exerce qualquer poder político, o
que lhe concede um poder moderador. Pois só ele é o árbitro de qualquer situação,
precisamente por não estar envolvido na política. Poder este que um presidente não pode
ter, porque, contrariamente a um Rei, o seu poder provém de um facção.
A este respeito, recordemos que um dos argumentos constantes do decreto da destituição
de Bernardino Machado em 1917, era o de que favorecia o partido político que o elegera, em
vez de favorecer o interesse público.
A Monarquia afirma as liberdades, pessoais e colectivas que receberam das nossas tradições
os direitos do cidadão à participação e intervenção na vida pública, bem como os direitos de
associação e representação, os da Família e do Município que, pela sua multiplicidade
valorizam a Pátria, todas enlaçadas e tuteladas pela Coroa, que é garantia do bom
funcionamento dos demais poderes.
As Monarquias são populares porque partem de um genuíno pacto entre o Rei e o Povo, que
são os dois constituintes essenciais e os mais firmes pilares da Instituição. Logo nenhum
problema é alheio à Monarquia, em virtude desse pacto, uma vez que os dois colaboram
diariamente em prol do bem-estar da nação.
Através dos seus órgãos representativos, o povo Português, encontrará sempre no Rei o
verdadeiro defensor das suas pretensões.
O Rei dos Portugueses, é o Rei constitucional que está sempre no seu lugar e cumpre, a todo
o momento, o seu dever, uma vez que consubstancia ao vivo o Estado.
A Família Real Portuguesa é, de certa forma, a família de todos os Portugueses. Porque o Rei
existe para servir o povo, não o povo para servir o Rei.

3 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Ainda Vila Viçosa


A capital do reino
JOÃO AFONSO MACHADO

ABSTRACT
The Monarchy is Portugal in its irreconcilable struggle against the republican State. It has everything
with it except the sanctuary of the Portuguese. This good could be Vila Viçosa.

Key words: Vila Viçosa; sanctuary; Dukes of Braganza.

RÉSUMÉ
La Monarchie, c'est le Portugal dans sa lutte irréconciliable contre l'Etat républicain. Il a tout avec lui
sauf le sanctuaire des Portugais. Ce bien pourrait être Vila Viçosa.

Mots Clés: Vila Viçosa; sanctuaire; Ducs de Bragance.

Tinha já referido o seu simbolismo, como o lugar natural da nossa Dinastia de Bragança. E, tantos anos
volvidos, lá regressei, entrementes, para dois dias de visita, desde logo ao Santuário de Nossa Senhora
da Conceição, a nossa Rainha e Padroeira de Portugal.
A deposição da Coroa dos Reis na imagem da Imaculada é de todos conhecida. O restante da História
também e o dia 8 de Dezembro, que lhe é consagrado, é de modo idêntico uma data veneranda para
os portugueses.

Pois bem:
Somos muitos, os monárquicos. Os verdadeiros monárquicos –
os tais muitos – mantém a fidelidade à Casa Real dos Senhores
Duques de Bragança, que um dia deixaram Vila Viçosa para
ocuparem em Lisboa o Trono que lhes pertencia por direito
nacional. Aliás – e famigeradamente – foi Vila Viçosa o
derradeiro tempo vivido por El-Rei D. Carlos antes do cruel
assassinato de que foi vitima – El-Rei e o Princípe Real – à
chegada ao Terreiro do Paço.
Por tudo o especial significado de Vila Viçosa no nosso contexto
histórico. Situada, como está, à mesma latitude de Lisboa,
somente no Interior, – que a República despreza – já muito perto
da fronteira com Espanha. Donde, in casu, decerto ora correm
bons ventos...
Ir a Vila Viçosa é recordar, encher a alma com todos – estes e
outros – os passos do sempiterno Reino de Portugal. Não que
seja uma urbe populosa; não que seja uma urbe animada por
extraordinário movimento industrial, turístico ou recreativo; não
que seja, enfim, uma urbe dotada de ambições e desenvoltos
planeamentos de futuro. Alguém de lá me confessou – estamos
na mesma há muitos anos!...

4 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Mas enquanto isso os monárquicos dispersam-se ou reunem em pequenas doses de pouca


acessibilidade. E eles são tantos, provincias afora! Não será difícil visualisar o meu horizonte – o de
uma Vila Viçosa (de reduzidas dimensões urbanas) estrategicamente situada a igual alcance dos
nortenhos e sulistas, - minhotos, transmontanos, beirões, alentejanos, algarvios; uma terra que
contemplaria – e participaria – com o maior agrado em quaisquer festejos monárquicos nela
celebrados; e, estando ou não El-Rei presente, se congratularia por receber as nossas gentes no seio
da Casa de Bragança. Mesmo com a República a cobrar imposto para visitar o Real Palácio...
Até estrategicamente... – como passariam despercebidos, dada a sua pacatez alentejana, os
monárquicos de visita e estadia em Vila Viçosa... só porque são monárquicos e como tal se afirmam?!
As gentes de lá facilmente empatizariam com o resto da Nação. O fosso aberto entre a República e
esta enfatizar-se-ia. Portugal demarcar-se-ia mais da República, como Fátima não é procurada pelos
incréus. E a Monarquia abriria as portas e janelas e vinha para a rua, para o seu povo, ajuntando-se a
quantos nela se revêem.
Será isto uma ideia tola? Diga quem sabe. Porque irrealizável não é.

5 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

D. Pedro V: O rei da
caixinha verde
HUMBERTO PINHO DA SILVA

ABSTRACT
During the short reign of D. Pedro V, the first kilometers of the Northern railway line were inaugurated
– 1856 (Lisbon - Porto) and the Higher Course of Letters was founded (1859), as well as the first
telegraph lines (1855); and the first submarine cable began, between Lisbon, the Azores and the
United States.
D. Pedro V was a king who always wanted to keep up-to-date and for whom freedom was "Man's
noblest feeling".

Key words: D. Pedro V; freedom; little green box.

RÉSUMÉ
Pendant le court règne de D. Pedro V, les premiers kilomètres de la ligne de chemin de fer du Nord
ont été inaugurés - 1856 (Lisbonne - Porto) et le Cours Supérieur de Lettres a été fondé (1859), ainsi que
les premières lignes télégraphiques (1855); et le premier câble sous-marin a commencé, entre
Lisbonne, les Açores et les États-Unis.
D. Pedro V était un roi qui a toujours voulu se tenir au courant et pour qui la liberté était "le sentiment
le plus noble de l'homme".

Mots-clés: D. Pedro V; liberte; petite boite verte.

Não é a primeira vez que me refiro à figura de D. Pedro V, Rei cultíssimo e de elevada sensibilidade.
Mas só depois de se ter descoberto, na livraria do Paço Ducal de Vila Viçosa, o famoso "Livro Negro",
que se pensava ter sido destruído pelo seu irmão, o Rei D. Luís I, é que se conheceu, verdadeiramente,
o carácter desse jovem Rei, semelhante a D. Pedro II, Imperador do Brasil, ambos amigos e
admiradores de Alexandre Herculano.

6 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Durante os curtos anos que dirigiu a Nação, inaugurou-se os primeiros quilómetros da linha-férrea do
Norte – 1856 (Lisboa - Porto); fundou-se o Curso Superior de Letras (1859); lançaram-se as primeiras
linhas telegráficas (1855); e deu-se início, ao primeiro cabo submarino, entre Lisboa, Açores e Estados
Unidos.
Mas, a meu ver, o que é merecedor e de se exaltar, foi o cuidado de se manter sempre atualizado, e
principalmente, o esforço que realizou em defesa da liberdade, que para ele, era:
"O sentimento mais nobre do homem."

(Escritos de el-rei D. Pedro V, vol 2º. pág.170)


Capa do livro "Escritos"

7 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

A 24 de março de 1856, D. Pedro V escreveu no seu diário:

"...Não sou tão tolo que goste de meu ofício, mas hei de trabalhar por ele com zelo e com

perseverança, e fazer bem e florescer um pouco a moralidade."

(Lembranças, fól.141 v)

Os escrúpulos extremados, e o amor à verdade, levaram-no a tomar atitude inédita na política.


Diz Oliveira Martins, que: "Tinha em tanta conta os que o rodeavam, cria tanto neles, que mandou

pôr à porta do seu palácio, uma caixa verde, cuja chave guardava, para que o seu povo pudesse

falar-lhe com franqueza, queixasse e acusar os crimes dos governantes."

Dizem que foi obrigado a retirá-la, porque o povo ou os políticos (?) lançavam em lugar de pedidos e
queixas, insultos e palavras incongruentes.
É bem verdade – quando se pretende dar voz a quem a não tem, os "democratas" não gostam...
Aos dez anos D. Pedro V teve como mestre D. Maria Carolina Mishisch, seguiu-se Martins Basto.
Aprende latim e com seis meses de estudo, traduz: Eutrópio e Fedro; aos doze, consegue verter para
língua pátria, textos de: Virgílio, Tito Lívio e Cícero.
Aprende, também música, pintura, filosofia e línguas vivas. Era admirador de Alexandre Herculano,
que foi seu preceptor.

" O Papá deu-me conta duma interessante conversa que tivera com A.

Herculano."

(10 de outubro de 1856 -Volume VI, fól. 65)


Aos dezassete anos (1854) viaja para Inglaterra, Bélgica, Alemanha, França, e no ano seguinte, Itália e
Suíça.
Não viaja para se divertir, mas para aprender e contactar políticos e homens da cultura.
Lê imenso: livros e revistas generalistas, mas mormente, de economia, para se manter sempre atual.
Era de sensibilidade delicada. Quando o pai (Papá - como escreveu no diário) adoecia, ficava grande
parte do dia junto do leito, lendo-lhe artigos publicados nos jornais:

" Estive no quarto do Papá, que está doente. Estive conversando com ele, e lendo-lhe artigos da

Revue des Deux Mondes."

(Diário de D. Pedro V. - 28 de novembro de 1855)


8 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Durante a epidemia de Cólera (1855-56) que se espalhou em Lisboa, seguido da Febre-amarela (esta

iniciou-se no Porto,) parte da população da cidade foge para a província. D. Pedro V não só não recusa

abandonar a Capital, como visita hospitais, entra nas enfermarias, e conversa, afetuosamente, com

doentes.

Fiz Damião Peres: "Quando deixavam Lisboa, aos cardumes, todos quantos fazê-lo podiam, o Rei

não desertou, como é sabido. Podia, porém, e já não era pouco, limitar-se a permanecer na capital,

dando exemplo de indefetível civismo; mas não, pois inúmeras vezes afrontando corajosamente os

riscos de contágio, visitou os hospitais, detendo-se à cabeceira dos doentes e levando-lhes com o

consolo da sua presença, o doce alívio duma animadora palavra."

Sabendo que muitas crianças ficavam órfãs, auxilia-as, correndo as despesas do seu próprio bolso.

Alves Mendes, em: "Orações e Discursos", na "Oração Fúnebre". Proferido nas exéquias do Rei D. Pedro

V, a 11 de dezembro de 1861. Mandada celebrar pela Câmara Municipal da Figueira da Foz", afirma a

determinado passo:

“(...) E em balde alguém o aconselha para que mudasse de sistema. Não! Dizia ele a seus ministros:

diante da crise que dizima meus povos, não será meu coração que descansa, nem meu braço que

deixe de trabalhar!..."

A 29 de Setembro de 1861, o rei desloca-se a Vila Viçosa, com os infantes D. Fernando e D. Augusto.

Após curtíssima estadia percorre várias localidades, sendo recebido acaloradamente pelo povo.

Chega a Lisboa, senta-se mal, vindo a falecer decorridos dias (11 de novembro de 1861, pelas 19H00).

Existe no Porto, na Praça da Batalha, estátua de bronze, com três metros de altura, e peso de noventa

arrobas. O monumento tem a legenda, em bronze: " Os artistas portuenses por gratidão a D. Pedro V,

em 1862.

Foi oferecido á Sociedade Portuguesa de Beneficência do Rio de Janeiro, réplica do monumento, em

prata, com o peso de nove quilos.

Assinatura de D. Pedro V

9 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

A CAUSA REAL, o Rei e a


defesa do Homem

PEDRO QUARTIN GRAÇA

ABSTRACT
It should be noted that the all Portuguese political class seems to be complicit, by action or omission,
in this agenda that involves the removal of human beings from a set of values and means with which
they have lived for centuries and which pass from and through the destruction of the concept of
Family to the disappearance of physical money, with all that that implies.

Key words: Artificial intelligence; humanity; danger.

RÉSUMÉ
Il convient de noter que l'ensemble de la classe politique portugaise semble être complice, par action
ou par omission, de cet agenda qui implique le retrait des êtres humains d'un ensemble de valeurs et
de moyens avec lesquels ils ont vécu pendant des siècles et qui passent de et par la destruction du
concept de Famille jusqu'à la disparition de l'argent physique, avec tout ce que cela implique.

Mots Clés: Intelligence artificielle; humanité; danger.

Portugal e o planeta em geral enfrentam actualmente um conjunto de desafios que se revelarão como
os da maior importância de sempre na história da humanidade. As populações do mundo são
diariamente confrontadas com uma narrativa oficial com origem numa “elite pensadora”, divulgada à
saciedade, que os responsabiliza por serem seres altamente poluidores da Terra, que transmite
diariamente, com o fortíssimo apoio da mainstream media, uma mensagem de grave crise climática,
apontada esta como estando na origem de tudo o que de mal se passa no mundo e para a qual,
dizem, os habitantes do planeta são os principais responsáveis.

10 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

No fundo está-se perante a imputação de responsabilidades múltiplas aos seres humanos, a maior
parte tida como sendo num futuro próximo como “dispensável” porque de meros comedores inúteis e
improdutivos se trata, e aos quais se exige já o pagamento de uma pesada factura pelo simples facto
de existirem, eles que se confrontam no seu duro dia com enormes dificuldades, de toda a sorte, e
que não mais almejam do que ter o suficiente para, através do seu trabalho, poderem sobreviver até
ao fim do mês.
Como é evidente esta situação vai ter consequências absolutamente desastrosas para o futuro do
Homem e do planeta onde vive, numa altura em que a própria existência física do género humano
começa a ser posta gravemente em causa e onde este tende a ser substituído por máquinas ou seres
robotizados, agora “altamente inteligentes”, fruto da inteligência artificial a qual permite, pasme-se,
que até o papel da mãe seja substituído por um útero artificial também ele fecundado por
inseminação artificial…
É, pois um duríssimo combate
civilizacional o que enfrentamos e
para o qual partimos em posição
extremamente frágil fruto da
desproporção de recursos
existentes.
Também neste campo uma
organização como a CAUSA REAL
não pode deixar de ficar
indiferente ao que se passa,
centrada que está num combate
que envolve pessoas, escolhas e a
defesa de uma agenda humanista
centrada em valores, princípios e
comportamentos que ligam
passado, presente e futuro e na
qual a figura do Rei desempenha
um papel de destaque. Ademais e
se outra razão não existisse, essa
acção é necessária porque, com
honríssimas excepções, toda a
classe política portuguesa parece ser cúmplice, por acção ou omissão, desta agenda que envolve a
retirada aos seres humanos de um conjunto de valores e meios com que estes secularmente convivem
e que passam desde e pela destruição do conceito de Família até ao desaparecimento do dinheiro
físico, com tudo o que isso implica.

Exorto, pois os monárquicos portugueses a adoptarem um comportamento à altura das suas


responsabilidades históricas e em defesa da sua Pátria.

Saudações monárquicas

11 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

XXVII Congresso da
Causa Real
FRANCISCO MARQUES*
Foi com muita honra e sentido de
responsabilidade que nos coube organizar e
acolher o XXVII Congresso da Causa Real na
cidade de Chaves.
Num fim-de-semana prolongado de sol,
acolhemos com muito gosto os congressistas e
as suas famílias na nossa cidade, para quem
preparámos um conjunto de actividades
turístico/culturais e gastronómicas para dar a
conhecer todas as maravilhas que a nossa
cidade tem para oferecer, como o Museu de
Arte Contemporânea Nadir Afonso, da autoria
do arquitecto Siza Vieira e outras maravilhas
como o recente Museu das Termas Romanas,
único no mundo pelas suas valências e
características, a ponta romana mais antiga de
Portugal, o castelo e a sua torre de menagem e
o centro histórico medieval.
Quanto ao congresso, que decorreu no
auditório do Centro Cultural de Chaves e que
foi divulgado por vários órgãos de comunicação
social, contámos com delegados e observadores
de Reais Associações de todo o Portugal
continental e ilhas onde foram discutidas todas
as questões prementes para o nosso
movimento, face à conjuntura que o país
atravessa.
Foi um prazer e cá esperamos recebê-los brevemente de volta ao nosso “Reino Maravilhoso de Trás-os-
Montes”, como muito bem dizia Miguel Torga.

*Presidente da Direcção da RATMAD


12 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Quarta edição do prémio


Gonçalo Ribeiro Telles
Para o Ambiente e Paisagem
JOSÉ CRAVEIRO LOPES LOBÃO

ABSTRACT
The delivery of the Gonçalo Ribeiro Telles Prize took place in the village of Ponte de Lima on the 25th
of May. It was organized by the City Council and the Royal Cause with the local support of the Royal
Association of Viana do Castelo The winner was Landscape Architect Maria Manuela Raposo
Magalhães. Architect Aurora Carapinha presented the prizewinner. The Prize was delivered by Dom
Duarte de Bragança. The ceremony was closed by the Mayor of Ponte de Lima, Eng.º Vasco Ferraz.

Key words: Environment; landscape; Gonçalo Ribeiro Telles award; Ponte de Lima.

RÉSUMÉ
La remise du prix Gonçalo Ribeiro Telles a eu lieu dans le village de Ponte de Lima le 25 mai. Il a été
organisé par le conseil municipal et la cause royale avec le soutien local de l'association royale de
Viana do Castelo. Le gagnant a été l'architecte paysagiste Maria Manuela Raposo Magalhães.
L'architecte Aurora Carapinha a présenté le lauréat. Le Prix a été remis par Dom Duarte de Bragança.
La cérémonie a été clôturée par le maire de Ponte de Lima, Eng.º Vasco Ferraz.

Mots clés: Environnement; paysage; prix Gonçalo Ribeiro Telles; Ponte de Lima.

Tal como havia sido decidido oportunamente, a cerimónia de entrega do Prémio Gonçalo Ribeiro
Telles para o Ambiente e Paisagem relativo ao ano de 2022 realizou-se na maravilhosa vila de Ponte
de Lima. Coincidindo com a data do aniversário de Gonçalo Ribeiro Telles, o prémio foi entregue no
dia 25 de Maio passado, aproveitando também, a inauguração nesse mesmo dia, do 18º Festival
Internacional de Jardins que tem como presidente do júri a primeira premiada com o premio GRT, a
Arquitecta Teresa Andersen.
A organização do evento foi da responsabilidade da Câmara Municipal de Ponte de Lima e da Causa
Real com o apoio local da Real Associação de Viana do Castelo. Estiveram representadas várias
entidades da sociedade cível além de todas as organizações que constituem o júri do Prémio: As
Universidades de Lisboa e Évora, a Ordem dos Engenheiros e a Associação Portuguesa dos Arquitectos
Paisagistas a Camara Municipal de Lisboa, a Causa Real e a Família Ribeiro Telles.
A premiada relativa ao ano de 2022 foi a Arquitecta Paisagista Maria Manuela Raposo Magalhães, é
uma das responsáveis pelo conhecimento referente aos instrumentos de sustentabilidade ecológica
essenciais ao planeamento, regulamentação e gestão da paisagem em Portugal. Manuela Raposo
Magalhães tem alertado sempre para a complexidade destes instrumentos fundamentais na
necessidade de uma intervenção interdisciplinar.
Ao longo da sua vida profissional acompanhou de perto Gonçalo Ribeiro Telles e, tanto como
profissional liberal como no desempenho de cargos administrativos, tem dado continuidade aos seus
ensinamentos.

13 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Tem contribuído para que as políticas públicas, nas cidades e na paisagem rural, sejam suportadas por
uma visão sistémica das infraestruturas ecológica e cultural.
Foi pioneira em conceitos e metodologias que ao longo de décadas têm balizado intervenções em
todo o território, em diversas escalas e âmbitos.
O Prémio Gonçalo Ribeiro Telles, uma iniciativa da Causa Real, que muito fica a dever à iniciativa de
Teresa Corte-Real, associando todas entidades envolvidas no Prémio.
A sessão decorreu no auditório municipal de Ponte de Lima.
Em representação da Família Ribeiro Telles falou o Embaixador Francisco Ribeiro Telles e em nome da
Causa Real seu presidente Prof. Pedro Quartin Graça.
A Arquitecta Aurora Carapinha, membro do júri em representação da Universidade de Évora e
anteriormente agraciada com este prémio, fez a apresentação da premiada deste ano, elogiando e
referenciando o seu trabalho ao longo da sua vida profissional.
O Prémio foi entregue por Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte de Bragança que fez uma
intervenção em que elogiou a criação deste prémio com o nome de Gonçalo Ribeiro Telles pelo
empenhamento deste na sua acção pioneira em prol da protecção do ambiente rural e urbano da
paisagem e nos fundamentos políticos de Henrique Barrilaro Ruas.
Logo de seguida a premiada fez a sua intervenção agradecendo a todos e no final falou o Sr.
Presidente da Câmara, o Eng.º Vasco Ferraz.
Antes de terminar a sessão, o Sr. Presidente ofereceu
uma lindíssima serigrafia representando a atribuição da
primeira carta de foral à vila de Ponte de Lima pela
Condessa D. Teresa de Leão na data de 4 de Março de
1125.
De seguida todos os presentes foram convidados a
beber um magnífico verde de honra no Centro de
Interpretação e Promoção do Vinho Verde.

14 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte em


Ponte de Lima

No dia 25 de Maio, Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte, esteve em Ponte de Lima, onde participou
em três iniciativas: Encontro Nacional do Turismo de Habitação, Prémio Gonçalo Ribeiro Telles,
para o Ambiente e Paisagem e na inauguração da 18.ª Edição do Festival Internacional de
Jardins de Ponte de Lima.

No Palacete Villa Moraes, Sua Alteza Real o Senhor


Dom Duarte participou no Encontro Nacional do
Turismo de Habitação, evento que assinalou os 40
anos da TURIHAB - Associação do Turismo de
Habitação, fundada em Ponte de Lima em 1983, cujo
Presidente é Francisco Calheiros, Conde de Calheiros.
O evento contou com a presença dos Presidentes das
Entidades Regionais de Turismo do Porto e Norte,
nomeadamente das regiões do Norte, Centro,
Alentejo e Ribatejo e Algarve, e da Direção Regional
do Turismo dos Açores que procederam à análise e a
reflexão sobre a nossa oferta turística. Estiveram
também presentes o Presidente da Associação
Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo,
Pedro Costa Ferreira e o Presidente da Confederação
do Turismo Português.
Francisco Calheiros, Conde Calheiros, referiu que
Ponte de Lima é considerado o berço do Turismo de
Habitação, no entanto está a transformar-se na
Capital do Turismo de Habitação, quer a nível
nacional quer a nível internacional.
A casa solarenga assumiu-se como um dos produtos
mais genuínos e mais representativos do Alto Minho
e a sua valorização e divulgação constitui um
poderoso fator de atratividade e de dinamização
deste território.
Nas últimas 4 décadas o Turismo de Habitação primou pela excelência de experiências que
proporcionaram aos turistas/visitantes, desde o contacto com a cultura, a gastronomia, a
hospitalidade, a simpatia, de um “Portugal autêntico”.
Ao longo destes 40 anos a TURIHAB foi vencedora de vários prémios nacionais e internacionais
incluindo o Prémio do Ano Europeu do Turismo em 1990 e o Prémio da Federação de Jornalistas
Europeus em 2002.
O Dr. Nuno Fazenda, Secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços encerrou o encontro.

15 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Prémio Gonçalo Ribeiro Telles para o


Ambiente e Paisagem
O Auditório Municipal de Ponte de Lima, foi palco da cerimónia da entrega do Prémio Gonçalo Ribeiro
Telles, que é uma iniciativa da Causa Real, do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de
Lisboa, da Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas, da Ordem dos Engenheiros, da
Universidade de Évora e da Câmara de Lisboa e conta com o apoio da Família Ribeiro Telles. Este
prémio pretende anualmente homenagear a visão de Gonçalo Ribeiro Telles, premiando
personalidades que se tenham destacado nas áreas do ambiente e da paisagem e com percursos
ligados ao serviço cívico.
A 4.ª Edição do Prémio Gonçalo Ribeiro Telles para o
Ambiente e Paisagem 2022 foi entregue, à arquitecta
paisagista Manuela Raposo Magalhães, uma das
responsáveis pelo conhecimento referente aos
instrumentos de sustentabilidade ecológica
essenciais ao planeamento e gestão da paisagem em
Portugal, que encarou esta distinção como uma
“enorme responsabilidade”, reforçando “o objectivo
de dar continuidade aos ensinamentos recebidos do
professor Ribeiro Telles”.
A apresentação da premiada esteve a cargo da
Arquitecta Aurora Carapinha, anterior premiada e
docente da Universidade de Évora.
Manuela Raposo Magalhães referiu que “Entre os
mestres que a vida me deu, o professor Ribeiro Telles
foi aquele com quem mais aprendi”, lamentando, na
sua intervenção, que Portugal esteja a “regredir”,
considerando que “os ensinamentos de Ribeiro Telles
não têm sido valorizados pelos políticos”.
A arquitecta referiu que é urgente realizar mudanças
nas questões relativas a água, aos incêndios rurais, à
protecção do solo, e à conservação da natureza.
“Acima de tudo é preciso que o Governo perceba que
tem de ser delimitada uma infra-estrutura ecológica
para este país, que esteja na base de todo o
planeamento”.
O Prémio foi entregue por Sua Alteza Real o Senhor
Dom Duarte de Bragança, que salientou: “se as elites
que governaram Portugal nas últimas décadas
tivessem prestado mais atenção ao pensamento de
Gonçalo Ribeiro Telles, a nossa situação actual seria
bem diferente do ponto de vista ecológico e da
degradação do meio urbano”.
Já o presidente da Câmara Municipal de Ponte de
Lima, Eng.º Vasco Ferraz, referiu na sua intervenção
que “compete a todos nós preservar aquilo que é de
todos e, em Ponte de Lima, cuidamos da área
ambiental a pensar no presente e nas gerações
vindouras, tendo desenvolvido projectos

16 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

reconhecidos nacional e internacionalmente nesta matéria”.


Em nome da Família, interveio o Embaixador Francisco Ribeiro Telles, Secretário-Geral do Ministério
dos Negócios Estrangeiros.
A primeira intervenção esteve a cargo do Presidente da Direcção Nacional da Causa Real, o Prof. Pedro
Quartin Graça, intervenção esta que aqui se reproduz na integra:

Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Ponte de


Lima,
Sua Alteza Real, Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança,
Ex.mo Presidente da Assembleia Municipal de Ponte de Lima,
Ex.mos representantes do Instituto Superior de Agronomia,
da Universidade de Évora, da Ordem do Engenheiros, da
Associação Portuguesa de Arquitectos Paisagistas, da Câmara
Municipal de Lisboa e da família Ribeiro Telles,
Ex.mos autarcas da região,
Ex.mo Director do Agrupamento Europeu de Cooperação
Territorial Galiza-Norte de Portugal
Ex.ma Premiada desta edição,
Ex.mos antigos premiados,
Ex.mos membros e antigos membros do Júri,
Demais autoridades civis e militares,
Amigos de Gonçalo Ribeiro Telles,

Cabe-me a honra, enquanto membro do júri e, ao mesmo tempo, Presidente da Direcção Nacional da
Causa Real, de fazer esta apresentação inicial do Prémio Gonçalo Ribeiro Telles para o Ambiente e a
Paisagem, este ano na sua 4ª edição, cuja entrega tem lugar na data do aniversário natalício de
Gonçalo Ribeiro Telles.
Um dia que, aliás, passou a ser, desde Novembro de 2022, também, Dia Nacional dos Jardins, em
memória precisamente de Gonçalo Ribeiro Telles, através de iniciativa do Parlamento português,
aprovada por unanimidade.
Este prémio é concedido anualmente à pessoa ou entidade de nacionalidade portuguesa que durante
esse período e na sequência de uma actividade anterior tiver sido protagonista de uma intervenção
particularmente relevante e inovadora nos sectores do ambiente e da paisagem urbana em Portugal,
pretendendo, portanto, homenagear a visão do Professor Gonçalo Ribeiro Telles, premiando
personalidades com percursos de vida ligados ao serviço cívico e à comunidade.
É também tempo e local de fazer justiça ao original autor da ideia deste prémio, alguém avesso a
protagonismos, mas um filho desta terra: o vice-presidente da Direcção da Causa Real, o nosso amigo
Dr. José Aníbal Marinho Gomes que, no ano de 2019, na presidência da minha antecessora, Dra. Teresa
Corte-Real, aqui presente e que saúdo, idealizou este prémio e lhe deu corpo.
À Causa Real em boa hora se juntaram um conjunto de entidades às quais o Arquitecto Ribeiro Telles
esteve profissionalmente ligado como o Instituto Superior de Agronomia, a Universidade de Évora, a
Ordem do Engenheiros, a Associação Portuguesa de Arquitectos Paisagistas, a Câmara Municipal de
Lisboa e ainda, naturalmente, a família Ribeiro Telles. A iniciativa passou, pois, a ser ampla e de
dimensão nacional com este feliz alargamento dos promotores do prémio, prémio este que se traduz
num troféu em forma de árvore da autoria do escultor Luís Cruz.
No passado ano de 2022 realizou-se em Lisboa a cerimónia de entrega do Prémio Gonçalo Ribeiro
Telles para o Ambiente e a Paisagem, relativo ao ano de 2021. Nessa terceira edição foram galardoados
ex aequo duas personalidades do paisagismo nacional: o Prof. Alexandre Cancela de Abreu e o Arq.
Paisagista Fernando Santos Pessoa.
Na edição de 2021, relativa ao ano de 2020, os vencedores ex aequo foram a Professora Aurora
Carapinha, arquitecta paisagista e professora da Universidade de Évora e o Dr. José Sá Fernandes,
advogado e antigo vereador do Ambiente da Câmara Municipal de Lisboa.

17 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Já na edição de 2020, referente ao ano de 2019, naquela que foi a 1ª edição do prémio, a vencedora foi
a Arquitecta Paisagista e Engenheira Agrónoma Teresa Andresen, fundadora do curso de Arquitectura
Paisagista na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e presidente da Associação Portuguesa
dos Jardins Históricos.
Este ano temos o gosto de ter como premiada a arquitecta paisagista Maria Manuela Raposo
Magalhães, uma das responsáveis pelo conhecimento referente aos instrumentos de sustentabilidade
ecológica essenciais ao planeamento, regulamentação e gestão da paisagem em Portugal e que
acompanhou de perto Gonçalo Ribeiro Telles e sobre a qual outros melhor do que eu falarão.
Gostaria de terminar agradecendo à Câmara Municipal de Ponte de Lima a disponibilidade revelada
desde o início para acolher esta edição do prémio e fazer votos que, assim que possível, o mesmo se
alargue a outros horizontes geográficos onde a obra e a mensagem de Gonçalo Ribeiro Telles chegou
de forma muito intensa. Afinal Gonçalo Ribeiro Telles, como visionário que sempre foi, era um homem
do mundo, mas sempre com os pés bem assentes na sua terra, Portugal.
Muito obrigado e parabéns à premiada deste ano.

18 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

18ª edição do Festival Internacional de


Jardins de Ponte de Lima
“Jardins Saudáveis"
“Jardins Saudáveis” é o tema do Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima iniciativa para a
qual S.A.R. o Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança foi o convidado de honra para a abertura oficial,
evento que contou com a presença de autores dos jardins, júri, patrocinadores e outras entidades.
Da Causa Real estiveram presentes o seu presidente, Prof. Dr. Pedro Quartin Graça, o Dr. José Aníbal
Marinho, Vice-Presidente da Direcção, o Eng.º José Lobão, Secretário-geral e o Dr. António Almeida,
Vogal da direcção.
A arquitecta Teresa Andresen, em
representação do júri, elogiou o trabalho da
equipa dos jardins que ano após ano constrói
os jardins, realçando que em todas estas
edições “já se contruíram cerca de 200
jardins”. A arquiteta, que acompanha este
projeto desde o seu início, em 2005, salientou
o trabalho dos autores, “provenientes de mais
de 30 países”.
O Diretor do Festival Internacional de Jardins,
Eng.º Francisco Calheiros, Conde de Calheiros,
destacou a participação das crianças no
Jardim Escolinhas, projeto com um “papel
extremamente pedagógico que assume na
comunidade escolar”.
S.A.R. D. Duarte de Bragança observou que
os jardins incentivam a sociedade a ter
responsabilidade ambiental. “Se
desumanizarmos as nossas cidades com
simples construções, elas tornam-se
desagradáveis. Em todas as terras os jardins
devem ser uma prioridade e estar presentes
por todo o lado”.
O Eng.º Vasco Ferraz, Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima, destacou os impactes
produzidos pelo Festival, em termos de notoriedade e visibilidade conferida a este território.
A edição deste ano, conta com a participação de projetos oriundos de países como Polónia, Áustria,
Alemanha, Espanha, Brasil, China (Macau), Argentina, França, República Checa, Suécia e Portugal, e do
jardim mais votado do ano passado, “Jardim da Reflexão”, que resultou de uma parceria entre autores
do Brasil e Espanha.
Por sua vez na 8.ª edição, do Jardim Escolinhas, há 11 jardins dos quatro agrupamentos de escolas do
concelho (CE de Freixo, CE de Gandra, CE da Facha, JI de Cepões, EB 2,3 António Feijó e EB1 de Ponte
de Lima), e do jardim mais votado do ano passado, “Que pegada queres deixar no Mundo?", da autoria
da turma P3B da Escola Básica de Ponte de Lima.

19 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Quiz para Republicanos

ANTÓNIO DE SOUZA-CARDOSO
ABSTRACT
The Portuguese, because they didn't think much about it, tend to say that they are republicans.
However, when asked about the reasons for such a relevant decision, things get complicated. And we
usually come across a stubborn and haughty: - "because yes!" or in the more puerile one: "because I
was born in the Republic!"

Key words: QUIZ, Monarchy and Republic.

RÉSUMÉ
Les Portugais, parce qu'ils n'y ont pas beaucoup réfléchi, se disent généralement républicains.
Cependant, lorsqu'on les interroge sur les raisons d'une décision aussi pertinente, les choses se
compliquent. Et normalement on tombe sur un têtu et hautain : - "juste parce que!" ou dans la plus
puérile: “parce que je suis né dans la République!

Mots Clés: QUIZ, Monarchie et République.

A política está contaminada de conceitos que desabrigados dos seus contextos históricos parecem
nada ter a ver com a realidade que hoje pretendem representar.
O exemplo mais comum vem do lado comunista. Como é possível ser, nos dias de hoje, comunista
consciente? Termos como ditadura do proletariado, sociedade sem classes e marxismo-leninismo,
deviam ter implodido com o muro de Berlim. E, no entanto, continuamos a ver jovens comunistas a
entrar nas hostes de um partido que sem nenhum pudor defende Putin, no momento mais claro de
nepotismo e totalitarismo que conhecemos na Europa do novo Milénio.
Mas deste mal de “insolvência ideológica” sofre também o Partido Socialista e, até o Social Democrata,
porque inspirados (com intensidade diferente) nos mesmos pressupostos, foram beber o essencial da
sua doutrina aos ardores revolucionários do nosso 25 de Abril. Diga-se, até, que está criado o estigma
de que o sistema suporta melhor a coerência comunista ou o excesso moralista e persecutório do
Bloco de Esquerda, do que por exemplo suporta o Chega, por aqueles e não este, terem sido
legitimados nas noites libertadoras da revolução.
Tudo isto para dizer que muitas vezes há um registo ou uma narrativa a que podemos chamar
“politiquez” que nos vai catalogando desta ou daquela maneira. E nós aceitamos essa arrumação
porque a verdade é que nunca pensamos muito nela.
E o ponto que queria trazer para esta reflexão é mesmo esse. Os portugueses que não pensaram
muito nisso normalmente dizem-se republicanos. Quando interpelados aos porquês de tão
relevante decisão, a coisa complica-se. E normalmente ou esbarramos num teimoso e
sobranceiro: - porque sim! ou naquele mais pueril e chão: – porque nasci em República! Como os
mitos e as verdades adquiridas são sempre complexos e difíceis de combater, opto não por uma
intrincada dialéctica sobre Monarquia e República, mas antes por um QUIZ de coisas simples que nos
orientam melhor para uma escolha esclarecida e consciente.
Peço a V. benevolência porque este é um primeiro ensaio e não querendo esgotar as razões que
existem (e são muitas), começo sem especial organização pelas mais simples ou mais recentes,
deixando a todos o desafio de irem completando o QUIZ.

20 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

1. A OCDE faz anualmente um estudo que mede níveis de desenvolvimento e bem-estar de todos os
países do Mundo. Nos dez primeiros lugares estão mais monarquias ou repúblicas?
2. Portugal já foi um País grande e ainda é um País com uma grande história. Nos quase 9 seculos de
História que levamos quantos são os que passamos em Monarquia e os que passamos em República?
3. Passando para tempos mais recentes a ditadura que tivemos no seculo passado e que durou 48
anos foi uma ditadura monárquica ou republicana?
4. Acha que se Inglaterra fosse uma República a Commonwealth ainda existia?
5. Por falar em Inglaterra, assistiu na televisão à morte da Rainha Isabel e à Coroação do Rei Carlos?
Acha que esta afectividade e interesse dos britânicos e do Mundo por estes dois acontecimentos seria
possível se estivéssemos a falar de um Chefe de Estado em República?
6. Sabe que o papel do Presidente da República é assegurar que existe equidade e bom
relacionamento entre as diferentes instituições políticas. Depois de Ramalho Eanes que emergiu
naturalmente de uma revolução militar, conhece algum Presidente que não tenha sido Presidente ou
Secretario Geral de um dos dois maiores partidos? Acha que para arbitrar o jogo entre instituições
com interesses diferentes, o arbitro pode ter sido jogador de uma delas?
7. Que valor dá á continuidade na Chefia de Estado? Sabia que todos os Presidentes depois do 25 de
Abril foram reeleitos com maioria reforçada? Não fica a ideia de que o Presidente sai quando fica a
perceber alguma coisa do exercício do cargo? Continuidade e experiência ou precariedade e
experimentalismo?
8. Acha bem que o povo português nunca tenha sufragado a República? Não acha que tal seria o
mínimo dado que tudo começou com o assassinato do Rei e que o partido republicano existia e
nunca ultrapassava os 10% dos votos dos portugueses?
9. Agora um Exercício, coisa em que o Dr Google ajuda imenso: numa folha branca coloque ditaduras
ou, se preferir, ditadores e depois comece a percorrer os Países ou os Chefs de Estado desses Países.
No final, diga-nos quantos são monárquicos e quantos são republicanos?
10. Conhece o Chef de Estado em Espanha, em Inglaterra, na Bélgica ou na Holanda? E conhece o
Chef de Estado na Alemanha, na Itália, na Áustria ou na Grécia? Onde está o valor da notoriedade, nas
Monarquias ou nas Repúblicas?
Pronto, agora é só reflectir, juntar novas perguntas ao QUIZ e decidir sem falsos estigmas, ou ideia pré-
concebidas se é monárquico ou republicano. Eu, não sei porquê, acho que já sei qual é o resultado!

Filipe VI de Espanha | Carlos III de Inglaterra | Filipe da Bélgica | Guilherme dos Paises Baixos

Frank-Walter-Steinmeir Presidente República Federal da Alemanha | Sergio Mattarella Presidente da República de Itália |
Alexander Van der Bellen Presidente da República da Aústria | Katerina Sakellaropoulou Presidente da República Helénica (Grécia)

21 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

ENTREVISTA DA REAL GAZETA DO ALTO


MINHO AO EX.MO. SENHOR PROFESSOR
DOUTOR ALEXANDRE FRANCO DE SÁ
‘Muita gente fala contra a Monarquia sob o argumento de que se trataria de um regime
de privilégio, em que uma família ou uma pessoa é rica sem fazer nada e privilegiada
injustamente com uma vida de sonho. (…) A sucessão dinástica exige não um
privilégio, mas um sacrifício.’

22 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

RGAM. – Nasceu monárquico ou tornou-se monárquico?

AFS. – Tornei-me monárquico. Nasci em 1972. Na década de 80, havia grupos de jovens monárquicos
politicamente muito ativos. Era o caso da Nova Monarquia, dinamizada por figuras como o Miguel
Castelo Branco, ou das campanhas que quase elegeram o Miguel Esteves Cardoso como deputado
europeu pelo PPM. No meu caso, foi sobretudo no contexto da segunda campanha eleitoral do Miguel
Esteves Cardoso, e dos debates em torno do que viria a ser o Tratado de Maastricht e da integração de
Portugal na União Europeia, que me aproximei do PPM. No Liceu onde estudava, o Gil Vicente, além
de professores marcantes, tive a sorte de ter grandes amigos com quem discutia sobre política e
história entre namoros, copos e as primeiras noitadas. A Associação de Estudantes tinha como
Presidente o Diogo Sardinha, que era da Juventude Comunista, e depois foi presidida pelo Sérgio
Sousa Pinto, um grande amigo dos tempos de criança e que tinha entrado na Juventude Socialista.
Mas eu e o Mário Antunes Varela, por exemplo, que éramos monárquicos, também fazíamos parte
dela. Foi nesse contexto que me tornei monárquico, na adolescência.

RGAM. – Pertenceu à Juventude Monárquica e foi militante do PPM entre 1988 e 1992, onde teve
oportunidade de privar com nomes como Henrique Barrilaro Ruas, um dos maiores doutrinadores
monárquicos. Que ensinamentos retirou dessa convivência?

AFS. – Henrique Barrilaro Ruas é uma das pessoas que mais contribuiu para a minha formação
política. Conheci-o numa das conferências organizadas pelo António Quadros no IADE, que nessa
altura funcionava no Chiado. Filosoficamente, era um católico personalista para quem a política se
inseria numa estrutura complexa onde todas as dimensões da vida humana, da económica à
espiritual, tinham o seu lugar e estavam hierarquizadas. Por outro lado, era de um patriotismo total.
Falava da dignidade da política, que tinha de ter o seu lugar entre o económico e familiar e o
transcendente, e de Portugal como uma entidade marcada por uma dimensão espiritual e por uma
missão histórica. Das conversas com ele resultaram, por exemplo, as minhas primeiras leituras do
António Sardinha e dos integralistas. Mas não foi só no plano teórico ou doutrinário que Henrique
Barrilaro Ruas me marcou. No plano pessoal, era um homem de uma delicadeza de trato e de uma
generosidade extraordinárias. Quando o conheci, nessa conferência no IADE, tinha 15 ou 16 anos. Dias
depois, por mero acaso,encontrei-o numa pastelaria, a tomar um café. Os meus avós viviam na Rua
Luciano Cordeiro, perto da editora Aster, em que ele colaborava. Cumprimentei-o, falei-lhe da
conferência que ouvira dias antes e começámos a conversar. Teve paciência para conversar com um
miúdo sobre filosofia e política durante essa tarde, e ainda me convidou para o visitar na editora.

23 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

RGAM. – No caso particular de Portugal, e sempre tal


aconteceu desde o próprio Dom Afonso Henriques, o Rei
é Aclamado e nunca imposto, por isso pode dizer-se que
foi a mais democrática de todas as Monarquias, ou seja, o
poder do Rei sempre resultou de um pacto firmado com
a Comunidade portuguesa. Ao contrário da Monarquia
Portuguesa, o regime republicano não resultou de uma
vontade comum nem de uma emanação popular, não é
verdade?

AFS. – Sim, é verdade. O Rei de Portugal foi sempre Rei


dos portugueses. É disso testemunho a proclamação
simbólica atribuída às Cortes de Lamego: Nos liberi
sumus, rex noster liber est (somos livres e o nosso rei é
livre). É essa liberdade fundamental que está subjacente
à instituição monárquica. A liberdade tem várias
dimensões e não é redutível a um plano pessoal ou
individual, como um liberalismo individualista poderia ser
tentado a supor. A ideia monárquica parte do
pressuposto de que só seremos livres se pertencermos a
um povo livre, que viva e se desenvolva livremente ao
longo da história e das gerações que nela se entrelaçam.
A instituição monárquica permite tornar visível a
comunidade de vida constituída por essa sucessão de
gerações, sem a qual não faz sentido falar de liberdade
do povo. E permite tornar visível essa comunidade
personificando-a, incorporando-a numa pessoa concreta.
Em virtude das vicissitudes da nossa história, esta ideia, e
a noção de que a liberdade e independência dos
portugueses estava ligada à Monarquia, esteve sempre
muito presente em Portugal. Nesse sentido, podemos
dizer que a Monarquia portuguesa, que partia da ligação
essencial entre o Rei de Portugal e os portugueses, foi a
mais democrática das monarquias. Também por isso,
sobretudo se olharmos para a Primeira República, esta
ideia foi a mais combatida pelos republicanos, que
apresentavam o Rei de Portugal como alguém alheio ao
povo português, como uma figura extrínseca e
dispensável no corpo político nacional. A seu modo,
muitos republicanos também eram patriotas. Mas
pensavam a comunidade portuguesa como um corpo
social que prescindia da representação e funcionava em
autogestão. Por isso, se a monarquia portuguesa foi a
mais democrática das monarquias, a república
portuguesa foi a mais anárquica das repúblicas. Daí a
ditadura do Partido Democrático após 1910, a constante
agitação e os golpes e assassínios da Primeira República.
Depois, foi o Estado Novo, que perdurou, como forma
política estável, enquanto viveu a geração que tinha a
memória viva do que tinha sido a Primeira República. E
depois é, para citar o capitão Salgueiro Maia, o «Estado a
que chegámos».

24 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

RGAM. – Doutorado em Filosofia e, entre outras incumbências, lente da Faculdade de Letras da


Universidade de Coimbra. Qual é a ideia que na Academia existe sobre a Monarquia e se existe
alguma afinidade com a ideia de uma possível futura restauração da forma de governo monárquico?

AFS. – Há muitos estudantes e professores universitários que são monárquicos. Mas não há, ou não
tem havido, uma organização política dos monárquicos enquanto monárquicos. Isso tem sido, há que
reconhecê-lo, um problema geral dos movimentos monárquicos em Portugal. Felizmente, o Pedro
Quartin Graça, que conheço desde os tempos do PPM, foi eleito Presidente da Causa Real. Sei que ele
tem muito presente este problema e que, com esta direção, as coisas podem mudar neste plano. Mas,
de facto, para se poder pensar em restauração, não basta haver pessoas que simpatizam com a causa
monárquica ou que prefeririam, por razões diversas, que o país tivesse um Rei e não um Presidente da
República. É preciso haver um pensamento e um programa político. Não um programa partidário. Mas
um programa político, que torne compreensível o que se pretende, o que isso mudaria nas instituições
do país e as consequências dessas mudanças no plano político de fundo: no domínio institucional,
educativo, cultural; no plano das relações de Portugal com os países lusófonos e com a Europa, e por
aí adiante.

RGAM. – A sua tese de Doutoramento, em 2007, na Universidade de Coimbra, em Filosofia, intitulou-se


‘O Poder pelo Poder…’; quase que podia ser uma analogia simbólica sobre o regime republicano?

AFS. – A minha tese de doutoramento foi sobre o pensamento político de Carl Schmitt, um jurista tão
genial quanto controverso, o grande adversário intelectual de Kelsen nos tempos da República de
Weimar e que vai aderir ao nazismo na primeira fase do regime, tornando-se entre 1933 e 1936 uma
das suas maiores referências em teoria jurídica. O título da tese foi sugerido, não sem ironia, pelo meu
orientador, o Doutor Carmo Ferreira, quando brincava com a minha introdução e com uma reflexão de
Schmitt sobre a natureza do poder, que eu citava. Schmitt perguntava-se, de forma simples, se o
poder era algo intrinsecamente bom ou mau, e concluía que era bom. Daí retirava a conclusão de que
não seria preciso justificar o poder mediante uma concepção do bem que lhe fosse extrínseca,
legitimando-o normativamente. Por isso, dizia-me que Schmitt defendia não o poder em função de
um bem extrínseco que o justificasse a partir de fora, mas o poder pelo poder. É este o sentido do
título da tese. Mas quero aproveitar, a esse propósito, para aludir a um sentido do político de que
Schmitt fala, que acho que deveríamos ter presente. Ele tem a ideia de que o político se define por
relações de conflitualidade extrema – daí a sua definição do político a partir da relação amigo-inimigo
– mas, ao mesmo tempo, explica que a inimizade política requer um respeito pela dignidade moral do
adversário que combatemos. O inimigo político é, como ele diz em latim, um hostis, não um inimicus.
É importante salientar isso porque, hoje, numa sociedade muito moralista como a nossa, há sempre
tendência para demonizar os inimigos políticos, caricaturando-os ou depreciando-os como
moralmente maus. No nosso caso, como monárquicos, os republicanos são nossos adversários ou
inimigos políticos. Têm uma ideia diferente sobre o país, sobre a sua história e as suas instituições
fundamentais, que queremos derrotar. Mas isso não quer dizer que o republicanismo em Portugal se
resuma à conquista do poder pelo poder. Seria injusto, do meu ponto de vista, partir desse
pressuposto.

25 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

RGAM. – El-Rei Dom Pedro V de Portugal, personificação da virtude de dedicação ao bem da coisa
comum, escreveu sobre o papel dos Reis: ‘devemos também lembrar-nos que existe para eles uma lei
moral muito mais severa do que para os outros, porque quanto mais elevada é a posição tanto maior é
a influência do exemplo.’ De facto, nenhum Rei esquece que Reinar é uma função que deve ser
desempenhada com sentido de missão; por que será que os Reis sentem que têm essencialmente
deveres, e os políticos republicanos – a grande maioria – parecem pensar só ser honrados com direitos?

AFS. – Isso é, de facto, um aspecto curioso. Muita gente fala contra a Monarquia sob o argumento de
que se trataria de um regime de privilégio, em que uma família ou uma pessoa é rica sem fazer nada e
privilegiada injustamente com uma vida de sonho. Eu sempre achei que o argumento poderia ser
usado contra a Monarquia, mas ao contrário. A sucessão dinástica exige não um privilégio, mas um
sacrifício. O problema não está em o Rei ser um privilegiado. O problema está em saber se é razoável
pedir a uma pessoa, em virtude do acaso do seu nascimento, o sacrifício contido no dever de
representar simbolicamente, só por esse facto, uma nação e toda a sua história. Daí a expressão, que
me parece muito adequada, do Rei como um cativo da história. Penso que a história dos povos e a
própria ideia de res publica exige que alguém transporte esse peso e é nisso que se baseia a
instituição monárquica. A posição republicana é, neste sentido, negação. É negação de que em
política seja necessário trazer para a vida política o peso do passado, da história e dos grandes
exemplos. A tão propalada ética republicana é pura normatividade e formalismo. Por isso, temos o
que menciona: os políticos apenas honrados com direitos, os partidos clientelares a ocupar o Estado,
uma grande massa de população cada vez mais indiferente, etc. É também por isso que hoje,
habitualmente, o discurso político não consegue discernir uma comunidade política de uma qualquer
associação de moradores e fala do Estado como se fosse uma empresa.

RGAM. – Hoje consolida-se o prestígio dos


Monarcas e embora as Monarquias
Constitucionais no mundo contemporâneo
tenham muito pouco ou nada de executivas
e os Monarcas têm funções estritamente
cerimoniais ou poderes de reserva, parece
que a Coroa é a instituição chave das Nações,
até porque é uma ressalva capital contra
determinações políticas autoritárias e
conserva e eleva a democracia suprimindo
qualquer tentativa negativa de poder. Talvez
por isso aflorem ideias de restauração das
Monarquias depostas um pouco por toda a
Europa?

AFS. – A Monarquia, sobretudo quando é


pensada nos termos de uma restauração, tem
subjacente a ideia de uma reconciliação.
Trata-se de uma reconciliação de um povo
consigo mesmo, do reencontro de um povo
com a sua história. Esta ideia tem um
enorme potencial. Não admira, por isso, que
se possa falar, como afirma, de «poderes de
reserva». É como se fosse um património
guardado a que, num momento propício, se
pode recorrer.

26 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

RGAM. – Nunca o regímen republicano despertará uma intensidade de emoções ou uma atracção
comparável com qualquer assunto relacionado com a Monarquia. Verifica-se um interesse atento e
permanente a tudo o que são assuntos reais, e até o Povo português todo se alvoroça com
Casamentos Reais, a Coroação do Rei Carlos III, a Presença da Realeza europeia aqui e ali, mas no
entanto parece haver uma resistência ao movimento monárquico português; por que será que isso
acontece?

AFS. – Não creio que haja resistência ao movimento monárquico português. Creio, aliás, que há algo
pior: há indiferença. E a culpa é nossa, pelas razões de falta de um pensamento e de um programa
político, de que já falei. Tem toda a razão no que afirma: é evidente o interesse e mesmo o entusiasmo
das pessoas por assuntos relacionados com as monarquias, como mostrou o episódio recente da
Coroação do Rei Carlos III. Isso tem, como disse, um enorme potencial político. Mas a potência só é
verdadeiramente potência, como explicou Aristóteles, se for potência subjacente a actos. Um enorme
potencial político, se não se traduzir em obras, em realizações, em pensamento e acção, torna-se no
contrário do que é. Torna-se impotência.

RGAM. – Que fazer para evidenciar que a Monarquia não é apenas uma especulação teórica, muito
menos um tipo de regime ultrapassado?

AFS. – Não vejo que haja contradição entre especulação teórica e prática política. As duas coisas têm
o seu lugar e são imprescindíveis. No caso da monarquia, há um imenso património de pensamento
político, que deve ser conhecido, lido, discutido, debatido e atualizado em função dos tempos que
vivemos e dos problemas que enfrentamos. Tudo isso, mesmo o plano reflexivo, é já prática. Por outro
lado, tem de haver um debate sério sobre o que fazer, sobre organização e ações concretas, sobre a
prática política, que passa também pela teoria.

RGAM. – Quais as principais vantagens de um regime Monárquico em que há uma sucessão


hereditária na transmissão da Chefia do Estado face ao modelo republicano de eleição de um
presidente?

AFS. – Há, antes de mais, as vantagens conhecidas que são normalmente invocadas quando se faz a
comparação entre as duas coisas: há a educação e preparação do príncipe, a estabilidade política e as
consequências que daí decorrem; há a ligação do regime a uma história e a uma tradição, e a cultura
cívica que propicia esta ligação; há também a invocação do que se chamou o poder moderador e a
existência de uma instituição que coloca a Chefia do Estado num plano suprapartidário, acima das
lutas e das contendas entre partidos e facções. A isso, naturalmente, os republicanos respondem com
a ideia de que todos os titulares de instituições democráticas têm de ser escolhidos e de que,
portanto, a sucessão hereditária, sendo incompatível com a eleição do Chefe de Estado, seria
contraditória com a própria democracia. Mas creio que colocar a questão nos termos deste debate,
ponderando vantagens e desvantagens de um ou outro modelo, é limitado. O problema não é apenas
o de saber qual modelo de designação do Chefe de Estado (se o modelo eleitoral ou se o modelo
dinástico) traz mais ou menos vantagens. O problema é o de compreender que a Monarquia introduz
uma dimensão diferente do poder que um regime republicano, pela sua natureza, tende a ocultar e
ignorar. Falou há pouco na relação com as pessoas comuns e nos afetos despertados pela monarquia.
Essa relação não acontece por acaso. Acontece porque a Monarquia se liga a um plano da nossa vida –
vamos chamar-lhe um plano espiritual – e traz esse plano para a terra, para a vida política e familiar,
quotidiana e económica.

27 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

RGAM. – Quer deixar umas últimas palavras aos monárquicos portugueses?

AFS. – Quero formular votos de que um dia a instituição monárquica possa contribuir para um
reencontro de Portugal consigo mesmo e com a sua história. Isso significa, antes de mais, ter uma
perspectiva de Portugal que vai além da sua dimensão europeia, e o Senhor Dom Duarte tem sabido
dar corpo a essa perspectiva. Isso não é estranho, mas uma decorrência natural da instituição que
incorpora. No fundo, é aquela velha fórmula de que não se trata simplesmente de restaurar a
monarquia em Portugal, mas de restaurar Portugal pela monarquia.

Muito obrigado.

Entrevista realizada por Miguel Villas-Boas para a Real Gazeta do Alto Minho da Real Associação
de Viana do Castelo.

‘A ideia monárquica parte do pressuposto de que só seremos livres se pertencermos a um povo


livre, que viva e se desenvolva livremente ao longo da história e das gerações que nela se
entrelaçam. (…) Nesse sentido, podemos dizer que a Monarquia portuguesa, que partia da ligação
essencial entre o Rei de Portugal e os portugueses, foi a mais democrática das monarquias.’

28 JUNHO 2023
NOTA
INFORMATIVA
A Direcção da Real Associação de Viana do Castelo, com mandato para o
triénio 2020-2023, cumprimenta V. Exas, desejando desde já a continuação de
um bom ano de 2023.
A Real Associação de Viana do Castelo tem um plano de actividades e
orçamento para 2023, que inclui diversas iniciativas, que vão desde a
organização de conferências à publicação da Real Gazeta do Alto Minho,
órgão oficial de comunicação da Real Associação de Viana do Castelo, do
qual muito nos orgulhamos, e que se pretende sejam executadas com a
participação de todos os associados, simpatizantes e entidades que
entendam colaborar, com o intuito de contribuir e ajudar a dinamizar o ideal
Monárquico que todos nós abraçamos convictamente. Atendendo à
necessidade imperiosa que temos em angariar recursos financeiros
necessários ao normal funcionamento da Real Associação, e tendo em conta
que uma das competências da Direcção é a cobrança de quotas, eu, em
nome da Direcção e na qualidade de Tesoureiro, venho por este meio solicitar
a V. Exas. a regularização da QUOTA DE ASSOCIADO REFERENTE ao ano de 2023,
no valor de 20,00 € (vinte euros), preferencialmente por transferência
bancária, para:

Titular da Conta: Real Associação de Viana do Castelo


Entidade bancária: Caixa de Crédito Agrícola
Agência: Ponte de Lima
IBAN: PT 50 0045 1427 40026139242 47
Número de conta: 1427 40026139242
SWIFT: CCCMPTPL

Caso seja possível, pede-se o favor de enviarem por e-mail


([email protected] e [email protected]) informação da
regularização da quota (ex: comprovativo), após o que procederemos de
imediato à emissão do recibo de liquidação.
Cordiais cumprimentos e saudações monárquicas,

Filipe Amorim
Tesoureiro da RAVC

Ficha Técnica
JUNHO 2023

TÍTULO: REAL GAZETA DO ALTO MINHO


PROPRIEDADE: REAL ASSOCIAÇÃO DE VIANA DO CASTELO
PERIODICIDADE: TRIMESTRAL
DIRECTOR: JOSÉ ANÍBAL MARINHO GOMES
REDACTOR: PORFÍRIO SILVA
WEB: WWW.REALVCASTELO.PT TF agency
EMAIL: [email protected] Agência de Marketing & Comunicação
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Nascimento Dinastia
15 de Maio de 1945, Legação de Portugal em Bragança.
Berna, Suíça.

Devia ter reinado Cognome


24 de Dezembro de 1976 até á actualidade. "Um Homem de Causas".

Consorte Como Duque de Bragança/Chefe da


D. Isabel Inês de Castro Curvello de Herédia, Casa Real Portuguesa
filha do arquiteto Jorge de Freitas Branco de É Grão-Mestre da Ordem de Nossa Senhora da
Herédia e de D. Raquel Leonor Pinheiro Conceição de Vila Viçosa.
Curvelo.

30 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Filhos D. Duarte Pio em pessoa


D. Afonso de Santa Maria de Herédia e Bragança “É com profundo reconhecimento que, na
(25 de Março de 1996, Lisboa), Príncipe da Beira e simplicidade de umas palavras que
Duque de Barcelos. pretendem tão somente alargar a voz de
D. Maria Francisca Isabel de Herédia e Bragança
tantos militantes de uma Causa para
(3 de Março de 1997, Lisboa), Infanta de Portugal e
Portugal, me permito prestar homenagem
Duquesa de Coimbra.
D. Dinis de Santa Maria de Herédia e Bragança ao Senhor Dom Duarte de Bragança, um
(25 de Novembro de 1999, Lisboa), Infante de Homem de Causas, Causa de Rei, mas
Portugal e Duque do Porto. principalmente homenagear um Português
cujo primeiro tempo de vida começa por ser
um percurso de mudanças sem rumo, longe
da sua terra, em exílios forçados, em tempos
de guerra… Se Portugal está no seu coração e
na sua razão, como é motivador interiorizar
quanto os seus amigos pelo mundo e tão
especialmente os sempre mais
desfavorecidos, como os povos de Timor ou
Cabinda, estão presentes quando as
questões de ordem internacional são
levantadas. Educado para ser
Português(…)Homem de Estado e,
concomitantemente, o Homem de Família,
que na sua simbologia encontra o sentido do
futuro da Pátria afirmando que esta é,
também, «a simbologia da identidade
nacional e da continuidade de Portugal
como país e como nação…» (Teresa Costa
Títulos e Honrarias Macedo)
Sua Alteza Real o Senhor Dom Duarte, Duque de
“Dom Duarte é uma personalidade que
Bragança, Duque de Barcelos, Marquês de Vila prima pela correcção de atitudes e por um
Viçosa, Conde de Arraiolos, Conde de Ourém, relacionamento extremamente afável e bem
Conde de Barcelos, Conde de Faria, Conde de educado. Tudo isto tem vindo a ser
Neiva e Conde de Guimarães. Cavaleiro da Ordem reconhecido. É um patriota, como tem
insigne do Tosão de Oiro (austríaco), Bailio Grã- demonstrado ao longo dos anos e
Cruz de Honra e Devoção da Ordem Soberana de nomeadamente procurando manter
Malta e Cavaleiro Grã Cruz da Ordem de Cavalaria
excelentes relações com os Povos das nossas
do Santo Sepulcro de Jerusalém.
ex-colónias e, em especial, com Timor-Leste”
(Mário Soares).
“Para além do seu papel institucional há a
Pai sua personalidade. A sua simpatia, a sua
D. Duarte Nuno de Bragança (D. Duarte II). modéstia natural, a sua capacidade de
comunicação com todos os estratos sociais,
Mãe o seu interesse pelos acontecimentos
D. Maria Francisca de Orléans e Bragança. portugueses e a sua vontade de participação
cívica dão realidade, consistência e calor
humano ao que são as suas obrigações

31 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

institucionais… Dom Duarte de Bragança já provou ser um amigo seguro de Portugal e


merecedor da estima e da admiração de todos os que o conhecem” (Vasco Rocha Vieira).
“É de realçar o profundo conhecimento que tem sobre as verdadeiras dificuldades que o país
enfrenta, mas também sobre os aliciantes desafios e oportunidades que se nos deparam e
oferecem nestes tempos de aceleradas incertezas e efémeras, mudanças globais. A sua visão
abrangente e as suas ideias claras alimentaram sempre as nossas conversas enriquecidas
pela sua disponibilidade ao diálogo, aberto e construtivo…
Aberto ao conhecimento, verdadeiro Democrata, o Senhor Dom Duarte está bem consciente
dos seus legítimos e irrefutáveis pergaminhos e Direitos mas está sobretudo ciente, o que
enaltece a sua incontestável posição como Chefe da Casa Real Portuguesa, dos seus imensos
e indeclináveis deveres.
É por tudo isto que, para mim, o Senhor Dom Duarte é hoje, sem dúvida alguma, um dos
mais ilustres representantes da dignidade da Nação Portuguesa.” (Fernando Nobre).”
“Um homem desempoeirado, com um sorriso espontâneo e um grande sentido de humor,
que é, como todos sabem, um dos mais seguros indicadores de inteligência (Manuela
Gonzaga).
“Numa sociedade cada vez mais marcada pelo egoísmo e, sobretudo, pelo materialismo, é
surpreendente encontrar pessoas que entregam a sua vida aquilo em que acreditam. Dom
Duarte defende com convicção os valores da Família, o bem-estar dos portugueses, a
agricultura biológica, o mutualismo, os traços da nossa cultura espalhados pelo mundo, as
comunidades de língua portuguesa e Timor – reconhecidamente a sua maior luta. O que
menos interessa ao herdeiro da coroa portuguesa são os bens materiais, o dinheiro, o lucro e
o consumo desenfreado.
O que mais me tocou foi a naturalidade, a espontaneidade e até em alguns momentos a
inocência com que Dom Duarte defende aquilo em que acredita” (Palmira Correia).
Das boas recordações que levarei deste mundo, é a oportunidade que a vida me deu de ter
servido o Senhor D. Duarte por longos anos, de o ter conhecido de perto e em variadas
circunstâncias. Posso afirmar que, pela atitude, pela grandeza moral, pela bonomia, pela
permanente disponibilidade, pelo bom humor com que sempre aborda a realidade, pelo
guião de valores por que se pauta, sempre o vi como alguém que, se o País tivesse tido juízo
e sabedoria, haveria de ter sido um ótimo Rei. Alguém que teria trazido para a instituição da
chefia de Estado melhor prestígio, mais serenidade e maior moderação. Um chefe de Estado
que não procurasse popular(unch)idade pelas selfies, nem protagonismo pela
sobreprodução verbal. Certamente teria contribuído para o mais regular funcionamento da
política e não para acrescentar a esta mais problemas.
Estaria, aliás, em melhores condições para fazê-lo do que um Presidente eleito por sufrágio
universal, que se apoia na mesma legitimidade do que o Parlamento, para mais,
desencontrada no tempo. E que, por isso, constitui uma fonte de perturbação se enfrenta o
Executivo, ou um perigo para a liberdade e a alternância democrática quando com ele alinha
cegamente (Augusto Ferreira do Amaral).

32 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Wagner Prelude – Opus n.º 24 juin


SUSANA CUNHA CERQUEIRA

ABSTRACT
The 24th of June will go down in history as a half dozen hours in wich the Wagner Group rebelled
against those who instituted it. The world is decaying, instituions are collapsing, fashion follows trends
and young people demonstrate the absence of a future and values. Societies felt the need to find a
path that would bring man closer to his origins.

Key words: Wagner; Zara; Ukraine; death.

RÉSUMÉ
Le 24 juin restera dans l’histoire comme un jour d’une demi-douzaine d’heures au cours desquelles le
Groupe Wagner s’est rebellé contre ceux qui l’ont institué. Le monde se décompose, les institutions
s’effondrent, la mode suit les tendances et les jeunes révèlent l’absence d’avenir et recherchent des
valeurs. Les sociétés ressentent le besoin de trouver une voie qui rapproche l’homme de ses origines.

Mots clés: Wagner; Zara; Ukraine; mort.

Na realidade, a música de Wagner impressiona pela sua força crescente e ímpeto físico letal...
Exatamente…

Richard Wagner

É “exatamente” disso que se pretende falar: a força letal do Grupo Wagner. Creio que o mundo parou e
se fez silêncio, quando, repentinamente, o Grupo Wagner se rebelou… contra Putin, contra o exército
russo, contra… saiba-se lá contra quem…

33 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Creio que, quem teve oportunidade de seguir os acontecimentos de forma mediática, ficou
literalmente colado, apreensivo, inquisitivo e reflexivo perante o que via… Uma coluna militar de
arsenal bélico, com homens que apresentavam uma boa constituição física, que se dirigia para
Moscovo… Assim… Sem que nada acontecesse…
Porquê? Como? Onde estava a guerra cirúrgica? Onde estavam os drones? Não se viam mísseis?
Apenas umas escavadoras e umas minas no chão como armadilhas para ratos?
E, afinal, o mundo não parou… Continuou a girar…. sobre si mesmo… Parece que ensandeceu, mas tudo
continuou…
Os comentadores falaram, extrapolaram, adivinharam acontecimentos futuros (redundância?) e
voltaram a ser feiticeiros do futuro que desconheciam, desconhecem e que também desconheço e,
creio, apenas uns illuminati e somente “uns” conhecem, ainda que nem mesmo esses na totalidade… A
morte acontece!

Grupo Wagner

Estrategicamente, sensivelmente às 19h, tudo tinha acabado… Estrategicamente, o Grupo Wagner foi
enviado para as bases e o Sr. Prigozhin ficou a salvo de tudo… ou não (talvez aconteça mais um
envenenamento daqui a uns anos… ou mais cedo… ou um acidente em que tropeça nos próprios pés
por causa de atacadores mal apertados, se é que vai colocar em cima da mesa tudo o que sabe!).
Sinceramente, quando acabou, fiquei desiludida… Esperava algo mais sanguinário, com umas mortes
pelo meio, porque a morte está banalizada… Isto é: todos sabemos que morremos, mas a forma como
se morre é deveras uma ânsia para o ser humano e não saber como vai morrer é a sua própria e maior
frustração - certo… já temos a eutanásia! Fiquem bem tranquilos… Em algum momento, o homem
pode ser justiceiro de si mesmo e nem por sombras se pretende abordar este tema, neste momento!
Certo, morremos, mas o espectável naquela tarde de 24 de junho, seria algo cirúrgico, contundente…
Não!
Mais uma lição para a vida: jogue pelo seguro, vá até onde pode, esmere-se, finque o pé e, depois,
safe-se! De preferência, fique bem, salvaguarde-se! Não se enforque numa qualquer cadeia da África
do Sul… Independentemente das motivações, das punições, das autocomiserações, das frustrações da
vida… Não faça isso!
Safe-se! Apre! Safe-se!!

34 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Até porque a guerra na Ucrânia, já aqui ao lado, continua, mas continua mesmo, e parece que lá para
2024 talvez haja uma acordo (???), o Sudão morre de fome, a NASA inventa uma máquina que produz
chuva, Portugal, daqui a uns milhões de anos, talvez se situe na atual Antártida, algures num polo
Norte, em França o governo pede aos pais para que controlem os filhos (não se percebe… os pais não
tentam controlar e educar os filhos ou abandonam-nos nas escolas para que sejam educados? A culpa
é da Esquerda, da Direita, do Centro, dos Extremos? Não se compreende este apelo!) e na Suécia os
tablets são substituídos por livros... Com um bocadinho de jeito, o homem volta à pradaria e coloca
novamente bisontes, mas isto não tem piada, pois já está acontecer nos States… Nada inovador: voltar
às origens… A Zara já faz isso… lança moda para teenagers só com metade de tecido ou de lã, em
pleno Inverno… Esta é uma excelente iniciativa: preparação para o frio ou para as mudanças
climáticas… E ainda por cima, gera lucros que deve distribuir pelos trabalhadores do Bangladesh. Claro
que tem obras sociais! Se o Ronaldo pratica o bem, até dão comida a quem peneira os diamantes…
Preparar as jovens para as mudanças climáticas é extremamente importante… Educação em primeiro
lugar – sobretudo em soutien nas escolas ou no meio da rua… Sobretudo (gosto muito desta palavra
“sobretudo”… claro que é necessário no Inverno!) em Portugal cujo conforto das casas prima pela falta
de aquecimento ou pelo excesso do mesmo, onde ainda há zonas sem saneamento básico… Será que
já há água canalizada em todas as casas? -Sim!! -Não??

Zara

O mundo está fantástico, a vida é fantástica, só é pena que a terra no seu movimento de rotação ande
mais depressa segundo os relógios atómicos…
Afinal já podemos dormir sossegados… A Terra ensandeceu, só que nem nos damos conta…

35 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

História da Carbonária em
Portugal
ANTÓNIO PIMENTA DE CASTRO
ABSTRACT
In this study, we reflect on the history of Carbonária and when it came to Portugal, originating the so-
called Carbonária Portuguesa. Its influence on the more radicalPortuguese republicans and the
transmission of its terrorist ideals and its internal organization. Its Organization, Grades and
Symbolism. The foundation of Carbonária Lusitana. The foundation of several “Carbonaria Shops”, The
initiation of the “Carbonaria dos Anarchistas”: The Fusion of the various Portuguese Carbonárias.

Key words: The Carbonari; founders; ritual; terrorismo.

RÉSUMÉ
Dans cette étude, nous réfléchissons à l'histoire de Carbonária et à son arrivée au Portugal, à l'origine
de la soi-disant Carbonária Portuguesa. Son influence sur les républicains portugais les plus radicaux
et la transmission de ses idéaux terroristes et de son organisation interne. Son organisation, ses grades
et son symbolisme. La fondation de Carbonária Lusitana. La fondation de plusieurs "Carbonaria Shops",
L'initiation de la "Carbonaria dos Anarchistas": La Fusion des différentes Carbonárias portuguesas.

Mots Clés: La Charbonnerie; fondateur; rituel; terrorisme.

Muito se tem falado na Carbonária, mas muito pouco se sabe


desta associação secreta, que em Portugal muitos crimes
cometeu, sobretudo antes e durante a chamada primeira
república. Não compreendo como haja, mesmo hoje em dia,
pessoas que se dizem defensores da democracia e se
afirmam carbonários, ou que simpatizam com esta terrível
“associação”. Vamos fazer uma pequena “viagem”, sobre esta
terrífica seita, guiados, em grande parte pelo livro “A
Carbonária em Portugal”, do Prof. Doutor António Ventura[1].
A grande dificuldade para este estudo resulta do facto de
não haver muita informação sobre ela, na medida em que
era altamente secreta e não há muitos documentos sobre
ela.
É muito difícil escrever sobre esta “associação” uma vez que,
sobre ela há, como disse o autor:
“a carência quase absoluta de fontes que possibilitem
reconstituir as origens, estruturas, actividade e morte dessa
mítica organização. A explicação para tal míngua de fontes
é bem fácil: sendo uma organização secreta, sob vigilância
das autoridades, tinha que desenvolver métodos de defesa
que passavam, naturalmente, pela inexistência de
documentos susceptíveis de comprometer pessoas,
estruturas e objectivos”[2].

[1] “A Carbonária em Portugal”, autor Prof. Doutor António Ventura, Edição da Biblioteca Museu República e Resistência, de 12 de Outubro de 1999.
[2] -Idem, página 7.

36 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Sendo uma organização secreta, há, ainda hoje, muito pouca divulgação sobre a Carbonária
portuguesa. A Carbonária, não tinha “arquivos” pelas razões já expostas. Se procurarmos livros ou
informações sobre a Carbonária portuguesa, quase todos eles se baseiam nas mesmas fontes e nunca,
ou quase nunca, são originárias. Como escreveu o Dr. António Ventura:
“E o nosso ponto de partida é a constatação de que, na passagem do século XIX para o século XX,
houve entre nós não uma, mas três Carbonárias: A Carbonária Lusitana, exclusivamente
coimbrã[3],a Carbonária Portuguesa, republicana, dirigida por Luz de Almeida, a mais conhecida e
sobre a qual existe maior número de informações, e a Carbonária Lusitana, de pendor anarquista,
também conhecida popularmente por «Carbonária dos Anarquistas» a cuja acção nas jornadas
revolucionárias de 4 e 5 de Outubro de 1910 Hermano Neves dedicou algumas dezenas de páginas
do seu “ Como triunfou a República”[4]São estas duas últimas que constituem o objecto do nosso
interesse. Mas as fronteiras entre ambas nunca foram muito nítidas, com pontos de contacto e uma
posterior fusão, a par da existência de grupos com alguma autonomia. Mas claramente
carbonários.[5]”
Vamos então ver como foi fundada e como “funcionava” a Carbonária Portuguesa’.

COMO E ONDE, NASCEU A CARBONÁRIA?

O Fundador da Carbonária Portuguesa foi Luz de Almeida. Mas quem era este homem? Citando o
historiador António Ventura: Artur Augusto Duarte Luz de Almeida6nasceu em Alenquer, a 25 de
Março de 1867, e veio a falecer em Lisboa, em 4 de Março de 1939. Fez o Curso dos Liceus e Superior de
Letras em Lisboa. Bibliotecário e arquivista, foi nomeado inspetor das Bibliotecas Populares e Móveis
na reorganização dos Serviços das Bibliotecas e Arquivos Nacionais. Foi fundador e Venerável da Loja
«Montanha», do Grande Oriente Lusitano Unido. Foi preso do dia 28 de Janeiro a 6 de Fevereiro de
1908 e exilado na Bélgica e em Paris, desde 22 de Janeiro de 1909, só regressou a Portugal após a
implantação da República, sendo eleito deputado às Constituintes. Pertenceu ao primeiro diretório da
“Liga Portuguesa dos Direitos do Homem”, sendo seu vice-presidente. Mas fisicamente e
psicologicamente quem era Luz de Almeida?: “O ajudante era um rapaz magro, baixo, pálido, de
poucas falas, sem gestos, sem vivacidade, sempre vestido de negro e com uma grande gravata
Lavalliére pendente sobre o colete[7]”. Passava os dias e quase todas as noites a ler. Este é um breve
perfil do seu Fundador. Mas Luz de Almeida participou na formação de várias organizações
republicanas, e em várias publicações, como por exemplo, um “Centro (ou Grémio) Republicano
Académico”, que tinha como finalidade espalhar, com palavras “duras e inequívocas”, as ideias
republicanas. Muitas vezes os autores dos artigos, usavam pseudónimos, para não serem identificados.
Citando o autor António Ventura: ”A consequência mais importante desta movimentação académica
de inspiração republicana desencadeada em 1897 foi a fundação, pelo mesmo núcleo organizador do
Grémio ou Centro Republicano Académico, de uma estrutura secreta, a Maçonaria Académica”[8]. A
Maçonaria Académica era, como não podia deixar de ser, uma organização secreta, mas sem ligações
orgânicas à maçonaria portuguesa, ou a obediências de outros países. Luz de Almeida, o grande
impulsionador e dirigente daquela organização: “descreveu com algum pormenor os trabalhos da
fundação da mesma e sua metamorfose na Carbonária Portuguesa. (…) Teria o nome profano de Junta
Revolucionária Académica, mas esta designação só a encontramos referida uma única vez, nas
Memórias de Magalhães Lima. A propósito do grande comício republicano de 26 de Julho de 1897, A
Marselhesa informava que João Gonçalves representava o «Grupo Revolucionário Académico[9]».
Cremos que se trata da mesma organização”[10].
[3] - V. a Carbonária de Coimbra, Do relatório inédito do Dr. António Augusto Martins, in História do Regime Republicano em Portugal, vol. citado, pp 252
a 256.
[4] - Hermano Neves, Como triunfou a República – Subsídios para a História da Revolução de 4 de Outubro de 1910, Lisboa, Editora Liberdade, 1910, pp. 45
a 74.
[5] - António Ventura, obra citada, página 8.
[6] - Segundo Rocha Martins.
[7] António Ventura, obra citada, página 8.
[8] -idem., página 12.
[9] - A Marselhesa, Suplemento ao n.º 272, 27-6-1897, p.2.
[10] -António Ventura, Idem, página 12.

37 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

A FUNDAÇÃO DA CARBONÁRIA PORTUGUESA


A Carbonária é originariamente Italiana, daí que se estranhem, os
nomes, o rito, os graus, o simbolismo e expressões usadas na
Carbonária, que são diferentes dos da Maçonaria. Como se disse, é
muito diminuta a informação sobre a Carbonária uma vez que há
pouquíssimo material escrito e muito foi queimado ou destruído
por causa das perseguições que se seguiram. Temos de recorrer
mais uma vez a António Ventura para, neste capítulo fazermos a
descrição da sua fundação, em Portugal. Vejamos:
“Mais uma vez recorremos a Luz de Almeida para reconstituir o
processo de transformação da Maçonaria Académica em
Carbonária[11]: As Lojas «Independência», «Justiça», «Pátria» e
«Futuro», passavam a Choças[12], sendo os seus membros divididos
em grupos de vinte. Cada um desses grupos, ou choças, adoptou
um título da sua livre escolha. Foram vinte as choças que se
criaram. Os presidentes dessas choças formaram a Alta-Venda –
Provisória, que era uma espécie de Parlamento Carbonário que, ao
inaugurar os seus trabalhos, elegeu um Bom Primo a quem
conferiu plenos poderes para, secretamente, escolher, entre os
membros daquela entidade, quatro Bonos Primos que, juntamente com ele, constituíram a Suprema
Alta-Venda. Numa das primeiras sessões da Alta-Venda, efectuada num 1º andar desabitado do Largo
de Silva e Albuquerque, que o republicano Silva Fernandes tinha posto à disposição, foi apresentada
uma proposta para serem admitidos elementos populares na Carbonária Portuguesa [13]. A discussão
dessa proposta foi bastante agitada, originando a sua aprovação a saída de vários académicos. José
Maria Furtado de Mendonça, absolutamente contrário à admissão de populares, abriu a dissidência,
arrastando consigo Francisco Cristino da Silva, Manuel Marques, José Viale e outros estudantes
pertencentes à Alta-Venda. Os populares iniciados foram distribuídos pelas Choças que tinham ficado
incompletas com a saída de bastantes académicos. Das Choças mistas passou-se às populares. os
primeiros populares – operários, quase todos – foram iniciados na antiga Rua de S. Roque, 107, último
andar – sede provisória da Carbonária Portuguesa. A primeira Choça popular foi registada com o título
de «República», depois fundaram-se mais…(…) a Suprema Alta-Venda desapareceu da organização,
passando os seus membros para a nova Alta-Venda, que ficou sendo o Corpo dirigente da Carbonária
Portuguesa. Fizeram parte desta Venda Superior quatro académicos: Luz de Almeida, presidente, José
Maria Cordeiro, Ivo Salgueiro, José Soares e o popular Silva Fernandes. As diferentes secções da
Carbonária tinham as seguintes denominações: Choças, Barracas, Vendas e Alta-Venda. Os Bons Primo,
que pertenciam às Choças, possuíam os graus primeiro e segundo – Rachadores e Carvoeiros – e eram
presididos por um carbonário decorado com grau terceiro – Mestre. Às Barracas e Vendas só
pertenciam os Mestres, presidentes de um certo número de Choças ou Barracas.
Nem todos os estudantes transitaram da Maçonaria Académica para a Carbonária Portuguesa, mas
alguns chegaram a ocupar elevados cargos nesta última organização, casos de José Maria Cordeiro,
dirigente da Maçonaria Académica e da Junta Revolucionária. Académica, que pertenceu à 1ª e à 2ª
Alta-Venda da Carbonária, de Ivo Salgueiro, José Soares e de Emílio Costa, que fez parte da 3ª Alta-
Venda. O grande problema do precioso texto de Luz de Almeida é a ausência de uma cronologia
precisa, situando-se os eventos, neles referidos entre 1896-7 e 1907, por um lado, e 1908 e 1910, por
outro. Os avanços e restruturações da Carbonária não são datados, o que prejudica uma melhor
compreensão de todo o processo[14].”

[11] - Luz de Almeida, in História do Regime Republicano em Portugal, Dir. de Luís de Montalvor, Lisboa, 1932, página 216,
[12] - Na Maçonaria eram Lojas, na Carbonária eram Choças. Os carbonários chamavam-se «primos» e não irmãos, como na maçonaria.
[13] - O Sublinhado é meu.
[14] - António Ventura, idem, páginas 13 e 14.

38 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Graus e Simbolismo

Depois desta explicação sobre a formação, vamos ver,


muito brevemente o seu simbolismo. Com uma grande
precaução, "Todos os filiados se chamam primos e
tratam-se por tu nas sessões, não se conhecendo entre
si mais do que cinco homens, o que tornava difícil a
descoberta dos chefes, os quais, todavia conheciam os
seus homens.”[15] Os chefes conheciam os seus homens,
mas esses homens não conheciam os seus chefes. Na
Carbonária havia, como nos disse Luz de Almeida: “Na
Carbonária há quatro graus que são respetivamente:
Rachador, Aspirante, Mestre e Mestre Sublime. Os
filiados chamam-se por primos e tratam-se por tu nas
sessões, havendo entre eles sinais de reconhecimento e
palavras especiais[16]”. Como se pode ver, eles eram
uma associação secreta, só se conhecendo os Altos Graus
entre si.
Mas muito grave era que, ainda segundo Luz de Almeida:
“Além do elemento civil eram incluídos na Associação,
oficiais e sargentos; cabos e marinheiros eram iniciados
de uma maneira especial, na ramificação militar da
Carbonária[17]”. Isto vai ser muito perigoso pois este
ramo militar iria cometer muitos crimes e abusos, como
sabemos pela nossa História.
Outros símbolos da Carbonária são-nos ainda explicados por Luz de Almeida, como por exemplo:
“O simbolismo da Carbonária era simples. «A estrela de cinco pontas, que encima o globo terrestre,
representa a figura máscula dum Bom Primo, de pé, com as pernas afastadas, os braços abertos e a
cabeça erguida, como que a dizer: Pronto sempre para a luta contra todas as tiranias! O termo
choça é adoptado em obediência à tradição. Os primitivos carbonários italianos reuniam-se nas
choças dos carvoeiros, disseminadas pelas florestas, e daí vem chamar-se Maçonaria florestal à
Carbonária. Os três pontinhos, dispostos em forma triangular com o vértice na parte inferior; as
Barracas: as Vendas; o cepo; a lenha: as raízes; o ramo florestal; a corda nodosa; o carvão; a coroa
de espinhos; o machado; o punhal: a cadeia de ferro; as estrelas; as constelações; o firmamento; o
sol; etc. – têm igualmente significação emblemática[18]”.

A iniciação na Carbonária

Como todas as sociedades iniciáticas, a Carbonária também tinha os seus rituais, para além dos que já
escrevemos neste artigo. De uma forma ligeira, vamos descrever mais alguns. O Ritual de iniciação na
Carbonária, era feita, geralmente no interior das casas, nas sedes da associação ou em outros lugares
escolhidos, pelos dirigentes. Vejamos uma descrição de uma iniciação, descrita por Armando Ribeiro:
“O iniciado sobe â mansarda e na porta de entrada, o apresentante, o padrinho bate três pancadas,
soturnas, misteriosas, espaçadas, seguidas de mais três, pouco custoso cenário servia às iniciações. Na
última sala, convertida em tribunal secreto, cerravam-se portas e janelas. Tomavam lugar a uma mesa
os chefes iniciadores, envergando os seus balandraus, os rostos encobertos pelas máscaras negras. Ali
presidindo, um Chefe de Barraca, o Primo Presidente; o 1º Secretário, um Chefe de Choça, o Primo do
Olmo: o 2º Secretário, igualmente um Chefe de Choça, o Primo Carvalho; o 1º Vogal, o Primo do
[15] - Luz de Almeida, op. Cit., p 222.
[16] - Idem, pag. 222.
[17] - Idem, Ibidem.
[18] - António Ventura, obra citada, página 15.

39 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Choupo e o 2º Vogal, o Primo Vigia. O neófito, conduzido pelo padrinho, recebia, à entrada da
moradia, a venda, que lhe era colocada nos olhos. Conduzido era pela mão até ao aposento de
iniciação, a cuja porta o condutor batia as pancadas simbólicas.
O primo presidente bradava de dentro, com uma voz soturna:
- Quem bata à porta da nossa humilde choupana?
- É um primo acompanhado de um pagão.
- Pode entrar o primo e também o pagão. A nossa casa é pobre, mas não faltaremos aos deveres de
hospitalidade!
(…) - Um primo que vem apresentar um pobre pagão!
- Entre e bem-vindo seja!

Abria-se a porta, lentamente, ao gesto grave do Primo do Choupo e na semiescuridão cintilavam as


lâminas dos punhais, agitavam-se os machados dos rachadores e erguiam-se canos de revólveres. O
iniciado deixava-se cair de olhos vendados sobre uma cadeira até onde o amparavam, enquanto o
Primo Vigia saía para, corroborando o seu nome, vigiar pelas autoridades. Fazia o neófito o declinar do
seu cadastro pessoal, desde o nome até à religião que professava, esta, com negativa, pois de contrário
tinha a expulsão.
Interrogado era depois sobre o seu credo político. Depois da parte trágica: se se sentia com forças para
dar o seu sangue pela República., derrama-lo em revolução e se não seria capaz de recuar ante a
sentença de morte que lhe fosse incumbida para bem dos fins da sociedade ou para o castigo de um
traidor. Conhecendo de antemão as exigências, e quase sempre disposto a acatá-las, por coesão no
mesmo ideal, o carbonário em preparo jurava o respeito das ordens e a sua própria sentença em caso
estranho de um desvario pela recusa à obediência ou pelo tentar à traição.
Repetia, pois, trémulo, o juramento ditado pelo Primo Presidente com a voz sepulcral coada pelo
pano negro da mascarilha e que o fuzilar dos olhos acompanhava tétrico (segue-se a fórmula de
juramento). Depois vinham as perguntas do Primo Presidente ao Primo do Olmo:
- O que se faz aos traidores?
- Matam-se.
E se ele Fugir?
- Procurar-se-á por toda a parte até que o atinja o braço vingador!

40 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Ao gesto presidencial, o Primo do Choupo arranca a venda ao iniciado, que recuava, vendo apontados
ao seu peito indefeso punhais de dois gumes, com cabo de pé-de-cabra chapeado de metal, e as
pistolas automáticas e sobre a sua cabeça os machados dos rachadores.
E de novo as vozes soturnas ameaçavam:
- Se faltares ao juramento serás morto sem remissão!
- Abaixavam-se as armas e em silêncio lhe era estendido um papel, o cadastro, apontando-se-lhe o
local onde devia assinar, o documento esse que, desde essa data, se constituía posse da Alta-Venda,
para o seu registo e para a procura do traidor, caso o fosse[19]”.
Como se pode verificar, a Carbonária era uma associação, não só secreta, como extremamente
violenta, sobretudo quando lá começaram a entrar muitos militares e marinheiros. Como escreveu
António Ventura: “A iniciação de António José de Almeida trouxe à Carbonária não só um prestigiado
caudilho, mas facilitou as suas relações com a maçonaria, cada vez mais sensível ao ideal republicano
e no seio da qual laboravam lojas exclusivamente constituídas por republicanos”. Também a Loja
«Montanha» tinha uma ideologia republicana e anticlerical.
Antes do 5 de Outubro de 1910, Luz de Almeida fala de uma associação secreta em Évora que ”até
planeou o rapto do rei e da família real em Vila Viçosa…[20]”.
Como o artigo já vai longo, num próximo artigo falarei na “Carbonária Lusitana”, da sua importância
para a implantação da República e durante esse período da Primeira República.

[19] - Armando Ribeiro, citado por António Ventura, páginas, 17 e 18.


[20] - V. Rocha Martins, op. Cit. Página 242, nota.

41 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Reino de Espanha
- A Monarquia - garante da democracia e
das liberdades –
ANTÓNIO PINHEIRO MARQUES

ABSTRACT
The evolution of Spain: from constitutional monarchy to republic and from the republic and
dictatorship to constitutional parliamentary monarchy.

Key words: Republic, monarchy, constitutionalism, parliamentary democracy, welfare state.

Résumé
L’évolution de l’Espagne: de la monarchie constitutionnelle à la république et de la république et de
la dictature à la monarchie constitutionnelle parlementaire.

Mots clés: République, monarchie, constitutionalisme, démocratie parlementaire, état-providence.

Evolução histórica dos primeiros tempos aos reinos peninsulares

Uma breve abordagem da evolução dos povos da península ibérica poderá talvez contribuir para
melhor compreendermos a diversidade existente e as influências recebidas nesta parte da Europa.
Aos primeiros habitantes da península com identificação própria, os iberos, juntaram-se em sucessivas
vagas os celtas, dando origem aos celtiberos. Do século IX ao VI a.C. também se desenvolveu na zona
do rio, depois conhecido por Guadalquivir, a civilização dos Tartessos, com influências fenícias e
egípcias. Por sua vez os fenícios, com técnicas de navegação muito desenvolvidas, já tinham chegado
às costas da península desde o século XII a.C. vindo a estabelecer entrepostos comerciais (em locais
hoje conhecidos como Cádis, Cartagena, Málaga ou Ibiza) seguidos por gregos e cartagineses. No
século III a. C. é iniciada a conquista e romanização da península, que como é sabido, que viria a ser
dividida em regiões designadas por “Lusitania”, “Baetica”, “Hispania Ulterior”, “Hispania Citerior” e
“Hispania Tarraconensis”. Várias grandes figuras surgem, oriundas do sul peninsular, de “Corduba” ou
de “Italica” (localidade próxima da que viria a ser Sevilha) entre as quais Séneca, Trajano, Adriano e
Teodósio I.

42 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

O ano de 476 é considerado como marcando o fim do Império Romano do Ocidente, com a queda de
Roma e a batalha de Ravena, a conquista desta cidade e a abdicação de Rómulo Augusto perante
Odoacro, chefe das hostes provenientes da Germânia.
O Cristianismo, já religião oficial do império nos seus últimos tempos, reclamava na península tradições
apostólicas, como as que se referem a Santiago Maior ou a da vinda de S. Paulo a Tarragona. O primeiro
bispo de Toledo, Melancio, participou no Concílio de Elvira, no ano 300, aparecendo a sua assinatura em
documento do referido concílio. Pouco a pouco, o culto cristão foi superando o paganismo, cada vez mais
residual. Com a chegada de alanos, suevos e visigodos, o arianismo fez a sua entrada na península ibérica.
Os reis visigodos viriam a abandonar esta heresia, consolidando-se o apoio recíproco entre o monarca e a
Igreja. Os concílios regionais, como os de Toledo, convocados pelo rei e em que também participavam
autoridades laicas, constituíram assembleias onde eram discutidas, além de questões religiosas, muitas
matérias de governo.
A monarquia visigótica sucumbiria à onda de expansão dos Omíadas, tendo o último rei, Rodrigo, sido
derrotado na batalha de Guadalete pelo general Tárique, logo em julho de 711. Os territórios dominados
pelos muçulmanos, sob a autoridade do Emir de Córdoba, seriam conhecidos por Al-Andalus.

Dos reinos peninsulares ao Reino de Espanha

A resistência cristã aos invasores concentrou-se na cordilheira cantábrica, ao norte da península, tendo
em 718 sido eleito como seu chefe Pelágio, considerado o primeiro rei. O reino das Astúrias viria a
expandir-se para sul tendo chegado ao rio Douro, integrando parte do que seria mais tarde o Condado
Portucalense e a Galiza e dando origem ao reino de Leão. Dele se separou Castela, reino desde 971.
Paralelamente surgiram na península outros reinos cristãos, em consequência da reconquista, como
Navarra e Aragão, para além do Reino de Portugal.
Como sabemos, é pelo casamento de Isabel de Castela e de Fernando de Aragão (também foi rei de
Navarra, da Sicília, de Nápoles e da Sardenha) que se viria a dar a união pessoal destes dois reinos
peninsulares, tendo a conquista do Emirado de Granada, em 1492, e a sua integração em Castela, selado a
união dos territórios constitutivos de Espanha. O casamento de Joana, filha e sucessora dos Reis
Católicos, Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão, com o Arquiduque de Áustria Filipe, o Formoso,
contribuiria para a consolidação do poderio espanhol. O filho destes ficaria à frente de vastíssimos
domínios, sendo conhecido como Carlos V, por ser Imperador do Santo Império Romano-Germânico, e
por Carlos I, como Rei de Espanha. Casou em 1526 com a Infanta Isabel de Portugal, filha de D. Manuel I e
foi por dois períodos de tempo regente em seu nome.

Império espanhol

A expansão espanhola para o Atlântico tinha-se


iniciado com os Reis Católicos. Na sequência do
Tratado de Tordesilhas e com a chegada de
Cristóvão Colombo às Índias Ocidentais abriu-se
caminho ao estabelecimento de um vasto império
que se subdividiu administrativamente em vários
vice-reinos. O primeiro a ser criado, ainda pelos Reis
Católicos, foi atribuído a Colombo em 1492 vindo a
extinguir-se em 1535. No ano seguinte, foi instituído
o vice-reino de Nova Espanha, com capital na cidade
do México e territórios do Alasca até à Costa Rica e O Imperador Carlos V (Carlos I como Rei de Espanha) com a Imperatriz
Filipinas, que perdurou até 1821, quando o processo Isabel, Rainha de Espanha, filha de D. Manuel I

de independência lhe pôs termo. Em 1535, com capital em Lima, surge o vice-reino do Peru, abrangendo
boa parte da América do Sul (com excepção dos domínios portugueses) que desapareceu também em
1821. Por último, e ambos criados no século XVIII, os vice-reinos de Nova Granada, com capital em Santa
Fé de Bogotá, de 1727 a 1819, e o do Rio da Prata, com capital em Buenos Aires, de 1776 a 1810. O sistema
colonial espanhol nas Américas completava-se com as capitanias-gerais de Guatemala, Cuba, Venezuela
e Chile.

43 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Além da sua enorme importância económica e estratégica, estes territórios tiveram uma implantação da
estrutura eclesiástica católica muito rápida, com uma primeira diocese, a de Santo Domingo, a ser criada
em 1531, (pelo que a sua Sé é designada como Primaz das Américas) e um Patriarca titular das Índias
Ocidentais (ainda hoje existente, mas vacante), título concedido pelo Papa a pedido de Fernando, o
Católico em 1513, e finalmente atribuído em 1524. No âmbito universitário, foram instituídas na América
espanhola, desde 1551 (Real e Pontifícia Universidade de S. Marcos, em Lima) e até 1792 (Real
Universidade de Guadalajara, México) vinte e seis universidades.
De mencionar também o “Século de Ouro” espanhol, que apesar da designação corresponde a um
período de mais de cem anos (de 1492 até à morte de Calderón de la Barca, em 1681) período de
esplendor cultural, do pensamento e das humanidades à literatura e à pintura, de Cervantes a Quevedo e
Tirso de Molina, passando por Luis Vives e pelos místicos Santa Teresa de Ávila e S. João da Cruz, a
Velásquez (de ascendência paterna portuguesa) e El Greco, entre tantos outros. Foi também o período
em que na península ibérica existiam trinta e sete universidades (entre as quais as portuguesas de
Lisboa/Coimbra e Évora) e também de grande preponderância política e militar da Monarquia hispânica.
Os anos de 1820 e 1821, período das independências, marcaram o fim do império espanhol no continente
americano. Por último, em 1898, Espanha teve de renunciar à soberania sobre Cuba (que tinha chegado a
produzir 80% do açúcar mundial) em consequência da derrota frente aos Estados Unidos que intervieram
na guerra de independência cubana. Porto Rico, as Filipinas e Guam foram igualmente cedidas, pondo
fim ao domínio espanhol no continente americano e no Oriente.
Surgiu a chamada “Geração de 98”, movimento maioritariamente de escritores e poetas (entre tantos,
poderemos lembrar Miguel de Unamuno, Ramón del Valle-Inclán, Jacinto Benavente, Ramón Menéndez
Pidal ou Ramiro de Maeztú, intelectuais marcados pela crise da derrota espanhola, com consequenciais
morais, políticas e sociais muito graves. Espanha ficaria apenas com uma presença reduzida a África
(protetorado de Marrocos, Ifni, Saara e Guiné espanhóis) que desapareceu entre os anos 50 e 70 do século
passado.

Evolução constitucional

As abdicações forçadas, em 1808, de Carlos IV e Fernando VII, em Baiona, foram seguidas da


proclamação, no mês de junho, de um dos irmãos de Napoleão como José I, Rei de Espanha, Surge assim
um texto constitucional outorgado (o Estatuto ou Constituição de Baiona) de inspiração francesa e
napoleónica. Mas já a 2 de maio ocorrera o levantamento de Madrid, marcando o início da Guerra da
Independência que
perduraria até 1814. Durante esta guerra, e num país parcialmente sob domínio napoleónico, as Cortes
Gerais reunidas em Cádis, desde 1810, aprovaram uma constituição no dia de S. José de 1812 (por esse
motivo ficou conhecida como "La Pepa") estabelecendo o princípio da soberania popular e uma
monarquia constitucional.

XXII Cimeira Ibero-americana, realizada em Cádis, no bicentenário da Constituição de 1812

44 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Influenciou os debates políticos da época, tanto na Europa como nos países americanos com origem no
império espanhol, e também a elaboração de outros textos constitucionais. Restaurado no trono,
Fernando VII derrogou esta Constituição. Em 1833 sucedeu-lhe, em virtude da alteração da lei de
sucessão, sua filha Isabel II. Durante a sua menoridade e logo em 1834, foi proclamado o Estatuto Real,
em que surgiu o bicameralismo pela primeira vez, sendo em 1837 elaborada uma nova constituição.
Ao mesmo tempo decorria a primeira guerra carlista, motivada pela rejeição tanto do novo sistema
constitucional como da alteração da ordem de sucessão com o afastamento do Infante D. Carlos,
considerado Carlos V, pelos seus fiéis. Em 1845, surgiu nova constituição, por sua vez substituída em 1869
por outro texto.
Boa parte do século XIX foi marcada em Espanha pela guerra civil e pelos pronunciamentos militares,
com enfrentamentos entre absolutistas, moderados e liberais e com discussão do federalismo do estado.
Amadeu de Sabóia, eleito rei quando da deposição de Isabel II, reinou brevemente de 1870 a 1873,
seguindo-se uma igualmente breve república federal, que em poucos meses foi substituída pela
república unitária, a que em dezembro de 1874 sucedeu D. Afonso XII, restaurado pelo pronunciamento
do General Martínez Campos.
A Restauração trouxe nova Constituição, a de 1876, que até à presente data foi a de mais longa duração,
tendo estado vigente até 1923, quando do golpe de estado de Primo de Rivera. O agravamento da
situação política e a crise económica e social tiveram como desfecho a precipitada partida de Afonso XIII
para o exílio em 1931 e a proclamação da Segunda República, com nova Constituição ainda nesse ano.
Na sequência da guerra civil espanhola, e no período entre 1938 e 1978, estiveram vigentes em Espanha
um conjunto de seis documentos com estatuto de leis fundamentais (do Foro do Trabalho, de 1938, à Lei
Orgânica do Estado, de 1967) entre as quais a Lei de Sucessão na Chefia do Estado, que declarava que
Espanha era um reino e a forma de designação do futuro rei, o que não sucedeu até 1969.

D. João Carlos de Borbón


O jovem príncipe aceitou a designação de sucessor como rei, ante os protestos do Conde Barcelona, no
chamado Manifesto do Estoril (um dos vários que publicou desde as declarações de Genebra, em 1942, e
os anteriores manifestos, de Lausana em 1945, e também do Estoril em 1947). D. João Carlos foi
proclamado rei em sessão especial das Cortes Gerais a 22 de novembro de 1975, iniciando-se um período
de transição política, feito “da lei à lei”, sob a orientação do monarca e com o apoio de um grupo de
políticos reformadores, provenientes do regime anterior, entre os quais destacaram o Presidente das
Cortes, Torcuato Fernandez-Miranda e também António Hernández-Gil e Adolfo Suãrez. O Conde de
Barcelona, em maio de 1977, veio a ceder
os seus direitos sucessórios ao novo rei de Espanha, numa cerimónia no Palácio da Zarzuela, atribuindo-
lhe legitimidade histórica. Viria a falecer, em 1990, sendo sepultado no Panteão de Reis do Mosteiro do
Escorial, com a designação dinástica de João III. Tinham-lhe sido concedidas as patentes honorárias de
Almirante, em 1978, e depois de Capitão-General da Armada, em 1988.
Com a aprovação da última lei fundamental desse período e a culminar a fase da transição política,
surgiu a atual Constituição de 1978, prosseguindo o processo de adaptação das instituições à nova
realidade política e social da Espanha do último quartel do século XX, não sem oposição de certos
setores. A 21 de fevereiro de 1981, surgiu uma tentativa de golpe de estado, com um grupo de militares a
sequestrar o governo e os parlamentares, no Palácio das Cortes Gerais, durante uma sessão de investidura
do proposto para Presidente do Governo, Leopoldo Calvo-Sotelo. O rei nessa noite dirigiu-se aos
espanhóis, pela televisão, em defesa da Constituição e condenando veementemente o golpe e os
golpistas. No dia 24 de fevereiro o sequestro tinha fim. Todos os dirigentes políticos espanhóis, tanto
nacionais como regionais, e uma imensa manifestação de mais de dois milhões de pessoas saíram à rua,
em Madrid, em apoio ao Rei, “Pai da Democracia”, e à Constituição.

45 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Como é do conhecimento geral, os problemas da


sua vida privada, alvo de discussão e controvérsia
pública, levaram à abdicação do Rei D. João Carlos I,
num ambiente de forte crítica e à sua posterior
saída de Espanha, fixando residência no estrangeiro.
De lembrar também que o rei foi absolvido de todas
as acusações e que os processos judiciais foram
todos arquivados.
Mensagem do Rei aos espanhóis na noite de 23 de Fevereiro de 1981

Sistema político
A Constituição de 1978
Na sequência da aprovação (por 425 votos a favor e 59 contra) pelas Cortes Espanholas da Lei para a
Reforma Política, com carácter de lei fundamental, obrigando a referendo, este foi realizado em
dezembro de 1976, com voto favorável de 94,45% dos votantes. As novas Cortes Gerais, dotadas de
poderes constituintes, aprovaram a Constituição, referendada em 6 de dezembro de 1978, com aprovação
de 88,54% e sancionada e promulgada pelo Rei de Espanha a 29 de dezembro desse mesmo ano. Trata-
se de um texto muito completo, com cento e sessenta e nove artigos, além das disposições adicionais e
transitórias. A revisão pode ser efetuada por processo ordinário e por processo agravado, previsto quando
diga respeito a todo o texto ou a determinadas partes expressamente mencionadas, exigindo neste caso
a aprovação por maioria de dois terços em ambas as câmaras e a intervenção de duas legislaturas, duas
consultas ao eleitorado e posterior referendo.

A Coroa
A monarquia parlamentar é a forma política do
Estado Espanhol, conforme determina o artigo 1º - 3
da Constituição, contendo o “Título II – Da Coroa”
disposições relativas ao Rei, que é o Chefe do
Estado, símbolo da sua unidade e permanência,
arbitra e modera o funcionamento regular das
instituições, assumindo a mais alta representação do
Estado espanhol nas relações internacionais. Além
de determinar o seu título (Rei de Espanha)
concede-lhe a faculdade de usar outros títulos que
correspondam à Coroa (como sejam Rei de Aragão,
de Navarra ou de Jerusalém ou Conde de Barcelona,
entre muitos outros). Uma vez que é proclamada a
inviolabilidade do Rei e a sua não responsabilidade
política, esta deve ser assumida pelo Presidente do
Governo e pelos ministros competentes, como é
prática nas democracias parlamentares.
A Coroa é declarada hereditária nos sucessores do
Rei D. João Carlos I, como legítimo herdeiro da
dinastia histórica, sendo mantida a preferência, no
mesmo grau, do varão à mulher. Esta questão
provocou em tempos alguma discussão, tendo o
chefe do governo, quando do nascimento em 2005
da primeira filha dos Reis, levantado a possibilidade
de uma reforma da Constituição, para a qual já tinha
a concordância do principal partido da oposição. No
Constituição Espanhola de 1978
entanto, sendo o processo de revisão constitucional

46 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

complexo e moroso, o assunto acabou por perder oportunidade uma vez que nasceu mais uma filha e o
casal real não teve mais filhos, motivo pelo qual o debate foi abandonado.
A constituição espanhola em matéria de casamentos dinásticos estabelece que estes não podem ser
contraídos havendo proibição do Rei e das Cortes Gerais, sob pena de perda do lugar na linha de
sucessão.
Também a instituição da regência é prevista, para monarca menor, devendo ser exercida pelo pai ou mãe
ou, na sua falta, pelo parente mais próximo, hábil para a sucessão. Sendo necessário as Cortes Gerais
providenciarão um regente, podendo escolher também uma regência coletiva até cinco membros.

Poder legislativo
As Cortes Gerais têm a sua mais remota
origem na assembleia da curia regia, que
em 1188 foi alargada aos representantes de
cidades e vilas, pelo Rei Afonso IX de Leão e
da Galiza. Estas primeiras Cortes de Leão são
consideradas como o mais antigo registo
documentado de um parlamento.
As Cortes Gerais, nos termos da Constituição
de 1978, representam o povo espanhol,
exercem o poder legislativo, aprovam o
orçamento geral do Estado e fiscalizam a
1978 - o Rei assina a Constituição atuação do Governo. As Cortes Gerais são
invioláveis. Além do processo legislativo detêm o poder de revisão constitucional, por iniciativa do
Governo, do Congresso dos Deputados ou do Senado.
Na atualidade, as Cortes Gerais são formadas por duas câmaras, o Congresso dos Deputados e o Senado,
ambas eleitas por quatro anos, com uma predominância do primeiro no exercício do poder legislativo e
sendo a presidência das Cortes Gerais exercida por quem presidir ao Congresso dos Deputados. O
Congresso dos Deputados conta com 350 membros, eleitos pelo sistema de representação proporcional.
O Senado é uma câmara de representação territorial, com membros eleitos por escrutínio plurinominal
de listas abertas. Cada província elege quatro senadores, sendo a representação das províncias insulares
determinadas em proporção ao número de ilhas agrupadas; as cidades de Ceuta e Melilha, por sua vez
elegem dois senadores cada e as comunidades autónomas elegem senadores suplementares, num total
de 266 representantes.

Referendos
Previstos na Constituição, os referendos são convocados pelo Rei, sob proposta do Presidente do Governo,
com autorização prévia do Congresso dos Deputados.
Na vigência da atual Constituição apenas foram convocados dois referendos, um sobre a permanência de
Espanha na NATO, em 1986, e outro sobre a aprovação da Constituição Europeia, em 2005, ambos com
resultado positivo. Por outra parte, desde 1979 foram realizados referendos regionais para aprovação dos
processos autonómicos, com aprovação dos estatutos da Andaluzia, Catalunha, Galiza e País Basco.

Poder Executivo
O Governo de Espanha, nos termos da Constituição, tem como funções dirigir a política interna e externa,
a administração civil e militar e a defesa do Estado, devendo exercer a função executiva e regulamentar a
legislação aprovada. É constituído pelo Conselho de Ministros, composto, além do presidente, por três
vice-presidentes que detêm pastas ministeriais e por dezanove outros ministros, que contam com a
colaboração de três dezenas de secretários de estado; o Governo abrange também quatro Comissões
Delegadas e o Conselho de Segurança Nacional.
O Rei propõe o nome do Presidente do Governo e depois da sessão parlamentar de investidura procede à
sua nomeação formal, bem como dos restantes ministros, sob proposta do Presidente do Governo.
O Rei preside o Conselho de Ministros, para ser informado dos assuntos do governo, quando entender que
é oportuno e a pedido do Presidente do Governo, o que sucedeu já duas vezes no atual reinado.
47 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Poder judicial

Conselho Superior do Poder Judicial


Este Conselho, na cúpula do Poder Judicial, é o órgão de governo do poder judicial nos termos
estabelecidos pela Constituição, zelando pela independência de juízes e magistrados. É formado por um
presidente que também é presidente do Supremo Tribunal e vinte outros membros, eleitos pelas Cortes
Gerais, sendo doze escolhidos entre juízes e magistrados, e os restantes oito entre juristas de
competência reconhecida publicamente.

Supremo Tribunal
O Presidente do Supremo Tribunal é escolhido pelo Conselho Superior do Poder Judicial, sendo a sua
nomeação formal feita pelo Rei. Os seus setenta e nove juízes dividem-se por cinco Salas e este Tribunal
inclui órgãos especiais para conflitos de jurisdição, conflitos de competência e com competência em
matéria de ilegalização de partidos ou declarações de erro judicial.

Audiência Nacional
A Audiência Nacional, tribunal central com jurisdição sobre todo o território espanhol, tem competência
sobre uma série de crimes cometidos a nível nacional, como terrorismo, falsificação de moeda, tráfico de
droga ou fraude médica ou alimentar. Está previsto recurso da Audiência Nacional para o Supremo
Tribunal.

Tribunais Superiores de justiça


São a cúpula do poder judicial em cada comunidade autónoma, fazendo parte do sistema judicial
nacional e tendo sido criados para substituir as audiências territoriais, totalizando dezassete,
correspondentes a outras tantas comunidades autónomas, estando Ceuta e Melilha incluídas na
jurisdição do Tribunal Superior de Justiça da Andaluzia.

Tribunal Constitucional
Os seus doze magistrados são nomeados por nove anos, por decreto real, entre juristas de competência
reconhecida, sendo quatro selecionados pelo Senado, outros quatro pelo Congresso dos Deputados, dois
são apresentados pelo Governo e ainda dois pelo Conselho Superior do Poder Judicial. Este órgão não
forma parte do sistema judicial, cabendo-lhe interpretar a Constituição.

Partidos políticos
O sistema partidário é muito fragmentado com treze partidos políticos representados no Congresso dos
Deputados, formando nove grupos parlamentares, mais um grupo misto e dezassete partidos no Senado,
integrando sete grupos, mais um grupo misto.
Nos parlamentos das comunidades autonómicas, têm representação vinte e quatro partidos regionais e
nacionalistas. Em Espanha, existem ainda trinta e oito partidos sem qualquer tipo de representação e as
estatísticas relativas a partidos registados indicam que ultrapassam os quatro mil.

As Comunidades Autonómicas
O texto constitucional de 1978 consagra o Título VIII à Organização Territorial e dedica o respetivo
Capítulo III às Comunidades Autónomas. A Espanha abrange dezassete comunidades autónomas (em
que se agrupam as províncias) e duas cidades autónomas (Ceuta e Melilha). Podem ter designações várias
como Comunidade Foral de Navarra, Principado das Astúrias, País Basco ou a Comunidade Valenciana e a
Comunidade de Madrid, a Região de Múrcia ou as Ilhas Baleares. Todas possuem competências
legislativas, executivas e administrativas, estando dotadas de órgão, para o efeito, também com
designações diferentes, por vezes como reminiscência histórica. Em Aragão ou Castela e Leão o órgão
legislativo corresponde às Cortes, nas Astúrias é designado por Junta Geral; noutras comunidades surgem
também como assembleias ou parlamentos; quanto ao executivo no País Basco o Presidente do Governo

48 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Basco é designado por Lendakari, Navarra tem como governo a Deputação Foral e noutras comunidades
é designado por governo. Aragão tem um cargo de origem medieval (1115) o Justiça de Aragão, que é hoje
um defensor dos direitos e liberdades dos cidadãos e da autonomia da comunidade.
O artigo 2º da Constituição de 1978 reconhece o direito à autonomia e simultaneamente consagra a
“indissolúvel unidade da Nação espanhola”, à semelhança do estabelecido noutros textos constitucionais,
como na Eslováquia, em Itália e em França que também garantem a integridade do território (a
Constituição da República Francesa, no artigo 5º, declara que o Presidente da República é o garante da
integridade do território e no artigo 89º proíbe expressamente a revisão constitucional no sentido de um
“atentado à integridade do território”).

A monarquia espanhola atual

A família real, além dos reis Filipe e Letizia, é


formada pelos Reis anteriores que, à semelhança
do que sucedeu na Bélgica, conservaram a
designação como tal e o tratamento de Majestade,
e pelas duas filhas do casal real, D. Leonor, Princesa
das Astúrias e D. Sofia, Infanta de Espanha.
Da família do Rei, fazem parte os descendentes do
Conde de Barcelona, avô do atual monarca.

Popularidade da monarquia
O atual rei teve como sucessor na Coroa uma
preparação rigorosa e muito completa. O então
Príncipe das Astúrias teve preparação na Academia
Militar, na Escola Naval (foi guarda-marinha no
navio-escola Juan Sebastian Elcano) e também na
Academia da Força Aérea. Posteriormente formou-
se em Direito pela Universidade Autónoma de
Madrid e concluiu um mestrado em Relações
Internacionais na Universidade de Georgetown, em
Família Real

Washington. Felipe VI, além da língua materna, fala fluentemente inglês, francês e catalão.
Praticante de desportos, nomeadamente vela, classificou-se para participar nos jogos olímpicos de
Barcelona, tendo sido porta-bandeira da delegação espanhola aos Jogos e obtido um sexto lugar na
classe soling.
O rei teve em 2017 uma importante
intervenção pública, através de uma
mensagem institucional dirigida aos
espanhóis (conhecida pelo Discurso
de 3 de Outubro) em consequência do
referendo convocado pelo Parlamento
da Catalunha, em contravenção da
Constituição e da legislação vigente,
lembrando a gravidade do momento
e “o direito de todos os espanhóis a
decidir democraticamente a sua vida
em comum”.

O Príncipe Filipe como porta-bandeira nos Jogos Olímpicos de Barcelona

49 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Nos seus discursos o rei tem manifestado sempre apoio à


convivência e cooperação entre os espanhóis e entre as
regiões que compõem a Espanha, bem como o seu orgulho no
Estado de Direito e de bem-estar social e também na
democracia plena (Espanha tem-se mantido nessa
classificação entre as 25 democracias plenas mundiais) e com
elevado nível de vida, que faz parte do grupo das 20 maiores
economias mundiais (15º lugar em 2022).
A popularidade do rei é crescente, com aprovação de cerca de
60% enquanto cerca de 50% consideram que os atuais
soberanos têm modernizado a instituição e continuarão nesse
caminho. A Casa Real conta com uma dotação modesta, para
o seu funcionamento, de 8.431.150 euros anuais, com prestação
de contas regidas pela transparência.
Também a popularidade da rainha tem igualmente vindo a
consolidar-se. Não detendo funções atribuídas pela lei
fundamental (excepto em caso de regência), tem procurado,
como sucede com os consortes noutras monarquias da
Europa, criar áreas de atuação própria junto das instituições e
Reis de Espanha da sociedade civil.

Tal como no anterior reinado, quando uma parte da


população aderia mais à pessoa do que à instituição,
identificando-se como “juancarlistas”, também na atualidade
surgem os que se consideram “felipistas”. Desde a abdicação
do Rei D. João Carlos I, em 2014, D. Filipe VI, com a
colaboração permanente da Rainha D. Letizia, o casal real
manteve-se diariamente ativo, apoiando instituições e
associações através das comunicações digitais, durante os
confinamentos e restrições provocadas pela pandemia em
2020. Com o apoio da Rainha D. Sofia, tem vindo a
consolidar a posição da Coroa. Cerca de 70 % dos espanhóis Juramento de Filipe VI ante as Cortes Gerais, 19 de Junho de
consideram o monarca em sintonia com a sociedade atual e 2014
80% avaliam positivamente as suas mensagens, nomeadamente as de Natal. Não deixa de ser
interessante lembrar que em certo momento, os dirigentes de um partido republicano espanhol
reconheceram os “acertos” do rei na forma de exercer as suas funções, que tem sido sempre pautada
pelo estrito cumprimento da Constituição. O monarca é visto como o melhor promotor da “Marca
Espanha”.
D. Leonor, sucessora na Coroa de Espanha, é habitualmente designada como Princesa das Astúrias e
igualmente como Princesa de Gerona (em Aragão) Princesa de Viana (em Navarra), Duquesa de
Montblanc (na Catalunha) e Senhora de Balaguer (em Valencia). Completou os estudos secundários
seguindo um muito diversificado programa no Colégio do Atlântico, em Gales, dos United World
College, entre 2021 e 2023. Futuramente terá formação universitária e também nas academias dos três
ramos das Forças Armadas Espanholas. A princesa, além de ter seguido aulas de mandarim durante os
estudos secundários, fala catalão, inglês e árabe, e desde muito jovem toca violoncelo e pratica hipismo.
A nova sucessora na Coroa tornou-se, em 2014, Presidente de Honra do Patronato da Fundação Princesa
das Astúrias, instituição que promove valores científicos, culturais e humanistas universais e atribui
anualmente prémios em oito setores, das Artes à Investigação, passando pelo Desporto e pelas Letras.
Ao chegar à maioria de idade, o que ocorrerá a 31 de outubro de 2023, a Princesa D. Leonor deve prestar
juramento perante as Cortes Gerais, conforme determinado pela Constituição.

50 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Favorecer a cultura da família


e da vida na sociedade
CARLOS AGUIAR GOMES

ABSTRACT
Promoting a CULTURE OF LIFE from its conception is a challenge for all of us, at every hour of the day
and every day of our lives. Scientific truth gives us reasons for our struggle.

Key words: Life; children; euthanasia; abortion.

RÉSUMÉ
Promouvoir une CULTURE DE LA VIE depuis sa concepcion c`est un défi de nous tous, tous les heures
du jour et tous les jours de notre vie. La vérité scientifique nous donne des raisons pour notre combat.

Mots clés: La vie; les enfants; l'euthanasie; l'avortement.

SILERE NON POSSUM - Não me posso calar


Santo Agostinho

“Para destruir um povo é preciso destruir as suas raízes.”


Alexandre Soljenitsyne

… Porque o dia 1 de Junho, todos os anos, é o DIA


MUNDIAL DAS CRIANÇAS…
A luta pelo Direito à Vida começa pelo direito a
nascer, o primeiro direito humano fundamental
e que sem ele nada mais faz sentido.
As crianças, de qualquer idade e geografia tem
esse direito inalienável. E esse direito inalienável
começa quando a criança inicia a sua vida.

«…favorecer a cultura da família e da vida na


sociedade, de modo que surjam propostas e
objetivos úteis para as políticas públicas»
(Papa Francisco - 31.V.23)

Em 1998, escrevi para o Diário do Minho, uma


série de artigos a que dei o título de “A
AVENTURA HUMANA” e que o então director
daquele quotidiano (Cónego João Aguiar) me
pediu autorização para editar em livro, pedido a
que acedi imediatamente. Trouxe nesta
sequência de artigos semanais o conhecimento
científico sobre essa aventura, ou como se
intitula um livro recente (Maio de 2023) e que
51 JUNHO 2023 acabei de ler, livro prefaciado pelo Papa
Francisco: “IL MIRACOLLO DELLA VITA –
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

riscoprire oggi l`aventura di nascere” (Milano, maggio 2023). Neste livro os autores, um deles
fisiopatologista (Gabriele Sempredon), perito em Biologia humana e bioeticista e autor
consagrado no meio científico internacional, socorre-se dos mais rigorosos conhecimentos
científicos da actualidade para demonstrar que a vida humana começa precisamente na
fusão do núcleo do óvulo com o núcleo do espermatozoide. Nem antes nem depois.
Nesse momento começa um continuum desenvolvimencionista que só a morte põe fim.
Este desenvolvimento é, segundo os autores deste magnífico livro:
SINCRÓNICO, CONTÍNUO, GRADUAL
O Professor Jérôme Lejeune, o
descobridor da causa cromóssimica do
Síndrome de Down dizia que o nosso
desenvolvimento, de cada um de nós,
era como uma “cassete” áudio, cuja
qualidade só se pode constatar no seu
final: integridade do texto, correcção
da gravação, qualidade desta, etc.
Como referi várias vezes, a Ciência e
não a vontade/desejo de cada adulto,
mostra à saciedade que a VIDA
HUMANA, a aventura de “aparecer”,
crescer, nascer, desenvolver-se é um
continuum de fases que se sucedem
sem hiatos ou paragens. Onde não há
um antes e um depois, separados com
alguma pausa. O ser humana formado
na concepção nunca foi uma parte da
Mãe ou do Pai, vive na Mãe até ao
nascimento, da Mãe e do Pai vai
depender até à sua autonomia total
que se vai “tecendo” ao longo de
muitos anos. Cada um de nós,
“produto” dos contributos dos pais, é portador, geneticamente falando, de características de
um e de outro, sem nunca ser um ou outro. É uno, único e irrepetível. Esta verdade
científica, é combatida pelo obscurantismo ideológico, pela ignorância e promovida pelos
políticos ditos progressistas, que se recusam a admitir a verdade que a Ciência prova e
comprova.
Todos os anos celebramos o DIA MUNDIAL DAS CRIANÇAS esquecendo intencionalmente
aquelas a quem não deram o direito de nascer, o que é uma hipocrisia. Todas as crianças,
nascidas ou não nascidas, têm o direito primeiro e fundamental de as deixarem viver, de as
proteger, de as ajudar a desenvolverem-se integralmente.
Não há crianças oportunas e inoportunas. Há crianças! Crianças que precisam de ser
ajudadas a viver. É esse o seu direito primordial.
No livro que escrevi e a que me referi, (pág. 33) digo o seguinte:
“A pena de morte, na actualidade, perde cada vez mais adeptos. Há um sentimento que
ultrapassou determinados limites da lei e da conveniência inter-pessoal. Os abolicionistas
são cada vez mais numerosos, ainda que aqui e ali existam os defensores dessa forma
52 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

retrógrada e indigna de castigar. A escravatura, a pena de morte e a tortura são dos mais
graves atentados à AVENTURA HUMANA. Mas o aborto e a eutanásia devem, também,
integrar obrigatoriamente a lista negra das agressões à humanidade.”
A AVENTURA HUMANA é “O MILAGRE DA VIDA” e, por isso, nunca é demais ajudar a
“DESCOBRIR HOJE A AVENTURA DE NASCER”! Esta foi a proposta dos autores italianos a que
acima me referi. Nascer, ou melhor, ser concebido, é uma aventura! Uma aventura com
riscos, como qualquer aventura e a quem ninguém se pode dar o poder de interromper.
Pode-se e deve-se ajudar a crescer em plenitude e em todas as dimensões do humano.
Se os defensores do aborto ou da eutanásia nunca dão tréguas ao seu combate pela morte,
como me posso calar na defesa e combate pela CULTURA DA VIDA? Se aqueles se repetem,
sem novidades e sempre com as mesmas mentiras cheias de “compaixão”, como me posso
calar de anunciar, a tempo e a contra-tempo, no anúncio da verdade científica que cada
VIDA HUMANA começa precisa e rigorosamente na concepção e só a morte põe fim terreno?
E já reparam os meus Amigos-leitores de que as leis que liberalizam o aborto se vão
progressivamente ampliando chegando, já, ao ponto de se defender o chamado “aborto pós-
nascimento”?
Que dizer da venda, sem prescrição médica da chamada “Pílula do Dia Seguinte” que não é
mais do que um abortivo químico de emergência?
“Em nome de tantas vítimas inocentes, Deus abençoe todos os que não desistem de discutir
e reflectir juntos sobre este “milagre” que é a vida.” (Papa Francisco, in Prefácio à obra
supracitada).
Os autores do livro a que me referi, “IL MIRACOLO DELLA VITA”, quase a terminar o seu livro,
escrevem:
“Qual é hoje, a nossa abertura à vida? O que é que estamos dispostos a fazer para acolher a
vida que quer nascer?”
Nas “bodas de prata” da edição do meu livro, quero recordar o que então escrevi:
“… A vida humana para uns vale por si, apesar de todas as limitações, e para outros o
valor da vida humana é relativo e terá que ser aferido em cada momento à realidade
sócio-económica, psicológica, cultural, etc., etc”. … “É este deus” antropofágico que o
Homem está acabando de criar!” …” Não se pode deixar que a mentira se arrogue de
condutora das consciências” (l.c. pág. 39).
Nos dias chamados DIA MUNDIAL DAS CRIANÇAS não posso deixar de reafirmar que não me
cansarei de desmascarar, por todos os meios ao meu alcance, e sem desistir, os que negam
que a Vida Humana começa na concepção, nem antes nem depois!
Em nome da Justiça, da Verdade e do Direito, sobretudo do DIREITO À VIDA das crianças por
nascer, não me posso calar!
SILERE NON POSSUM!

53 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Eleições na Real Associação de


Trás-os-Montes e Alto Douro

No passado dia 2 de Abril de 2023, a RATMAD realizou em Mirandela a sua Assembleia-Geral


electiva de onde saiu a nova equipa para liderar os seus destinos para o triénio 2023-2025. A
nova equipa conta com elementos da anterior Direcção e outros novos elementos, cujo
presidente da Direcção é agora Francisco Mendes Marques e que têm pela frente três anos
de trabalho na persecução do objetivo de continuar o bom trabalho da Direcção anterior e
de fazer ainda mais pela nossa nobre causa.
Os novos corpos socias ficaram assim constituídos:

ASSEMBLEIA GERAL
Presidente: Manuel da Ressurreição Cordeiro, associado nº 31
Vice-Presidente: Mário Joaquim Mendonça de Abreu Lima, associado nº 4
Secretário: Sofia Tenreiro Ataíde da Costa Gomes, associada nº 40

DIRECÇÃO
Presidente: Francisco José Mendes Marques, associado nº 41
Vice-Presidente: João de Oliveira Nápoles de Carvalho, associado nº 6
Secretário: Jorge Nuno Correia de Magalhães Mendonça Pimentel, associado nº 48
Tesoureiro: Rosa Maria Lobo Morais Sarmento de Campos, associada nº 13
Vogal: João Baptista de Castro Girão de Azeredo Leme, associado nº 7

CONSELHO FISCAL
Presidente: Rui Jorge da Silva Costa, associado nº 23
Vogal: Nuno de Sampaio e Melo Rapazote, associado nº 39
Vogal: João Bettencourt Cyrne Pacheco, associado nº 14

54 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Os 650 Anos da Aliança entre os Reinos de


Inglaterra e de Portugal

MIGUEL VILLAS-BOAS

ABSTRACT
In this sense, on June 15, 2023, His Majesty King Charles III of the United Kingdom received H.E. The
President of the Portuguese Republic, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, at Buckingham Palace and
then they went to St. James's Palace where they attended a thanksgiving ceremony in the Queen's
Chapel (Catherine of Braganza, queen-consort of England by marriage to the English King Charles II),
in London, to mark the 650th anniversary of the Anglo-Portuguese Alliance, the oldest diplomatic
alliance in the world still in force.

Key Words: Treaty; Anglo-Portuguese Alliance; Kings.

Resumé
Il marque le 650e anniversaire du Traité de paix, d’amitié et d’alliance ou Traité de Westminster, signé
le 16 juin 1373 dans la cathédrale Saint-Paul, à Londres, entre les plénipotentiaires d’El-Rei D. Fernando
I du Portugal et du roi Édouard III d’Angleterre et du prince de Galles.
En ce sens, le 15 juin 2023, Sa Majesté le Roi Charles III du Royaume-Uni a reçu S.E. le Président de la
République portugaise, le Professeur Marcelo Rebelo de Sousa, au Palais de Buckingham, puis ils se
sont rendus au Palais Saint-James où ils ont assisté à une cérémonie d’action de grâce dans la
Chapelle de la Reine (Catherine de Bragance, reine-consort d’Angleterre par mariage avec le roi
anglais Charles II), à Londres, pour marquer le 650e anniversaire de l’Alliance anglo-portugaise, la plus
ancienne alliance diplomatique au monde encore en vigueur.

Mos Clés: Traité; Alliance anglo-portugaise; Rois.

55 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Completaram-se 650 anos sobre o Tratado de Paz, Amizade e Aliança, o Tratado de Westminster, firmado,
a 16 de Junho de 1373, na Catedral de São Paulo, em Londres, entre os plenipotenciários d'El-Rei Dom
Fernando I de Portugal e o Rei Eduardo III de Inglaterra e do Príncipe de Gales (Eduardo de Woodstock,
"o Príncipe Negro"). O Tratado de 'perpétua amizade, sindicato e aliança' entre as duas nações, a mais
antiga aliança do mundo, confirmou o anterior Tratado de Tagilde. O chamado Tratado, ou melhor Pacto
de Tagilde, que o Rei D. Fernando I de Portugal assinou com os delegados de John de Gaunt, Duque de
Lencastre, e 4.º filho do Rei Eduardo III de Inglaterra, é considerado o preambulo da Aliança Luso-
Britânica, e foi firmado a 10 de Julho de 1372, na Igreja de São Salvador de Tagilde, marcando o início da
mais velha aliança diplomática do mundo, que perdura até aos nossos dias. Assim, o prelúdio da
formalização da Aliança, baseada na amizade perpétua entre os dois países, ocorreu com a assinatura do
Tratado de Tagilde a 10 de Julho de 1372 (no município de Vizela, distrito de Braga) e a sua concretização,
o seu instrumento jurídico, com a assinatura do "Tratado de Paz, Amizade e Aliança", a 16 de Junho 1373,
em Londres, selando a Aliança:
'...haverá daqui em diante uma verdadeira, fiel,
constante, mútua e perpétua paz e amizade,
união e aliança e liga de sincero afeto' (Artigo I,
Tratado da Aliança, Londres 16 Junho 1373).
Esta Aliança foi posteriormente reforçada de
várias formas pelo Tratado de Windsor de 9 de
Maio de 1386 e por outros tratados ao longo da
história, no âmbito das relações diplomáticas
entre os dois “Países Amigos”: 1643, 1654, 1660,
1661, 1703, 1815 e por uma declaração secreta,
em 1899, entre os Reis D. Carlos I de Portugal e
Eduardo VII do Reino Unido, para cessar as
consequências nefastas do Ultimatum britânico
de 11 de Janeiro de 1890.
Pacto de Tagilde

De facto, a Aliança teve vários momentos considerados chave para as relações entre as duas tão grandes
Nações.
Em boa hora a Comunidade dos Portugueses reunidos
em Cortes elegeu e alçou Rei, Dom João I, Mestre de
Avis, pois comandou com o precioso auxílio estratégico
do Condestável D. Nun’Álvares Pereira, em 14 de Agosto
de 1385, os Portugueses à Vitória na Batalha de
Aljubarrota, um dos acontecimentos mais decisivos da
História de Portugal, e que resolveu a disputa que
dividia o Reino de Portugal e o Reino de Leão e
Castela, permitindo a afirmação de Portugal como
Reino Independente e, no campo diplomático, com a
participação, ao lado dos portugueses, dos arqueiros
ingleses desbaratando as fileiras castelhanas e a
cavalaria francesa, com as mortais flechas disparadas
do poderoso e inovador arco longo, cimentando a
Aliança entre Portugal e a Inglaterra, pois no ano
seguinte foi assinado o Tratado de Windsor.
Consumada a Vitória na Batalha de Aljubarrota sobre
os Castelhanos, El-Rei D. João I informou prontamente
os seus aliados ingleses através do futuro sogro John
de Gaunt, Duque de Lencastre e filho do Rei Eduardo
III de Inglaterra.
John of Gaunt, Duque de Lencastre

56 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Bem sabia Dom João I que a situação do Reino de Portugal era ainda periclitante e que certamente seria
ainda acossado por Castela se não fosse encontrado um equilíbrio externo para defender Portugal de
uma eventual guerra com o Reino vizinho. Importava, pois, garantir o futuro político português como
Nação independente, através da consolidação dos acordos de amizade e apoio mútuo entre Portugal e a
Inglaterra.
Para isso, Dom João I enviou a Inglaterra os plenipotenciários D. Fernando de Albuquerque (Mestre da
Ordem de Sant'Iago) e o chanceler Lourenço João Fogaça para negociar um acordo de aliança política e
militar, favorável a ambos.
Agora no trono inglês sentava-se o Rei Ricardo II, filho
de Eduardo III e meio-irmão de John de Gaunt, e que
partilhava das mesmas ideias que os familiares, pelo
que após as conversações iniciais, designou,
prontamente, três procuradores para a elaboração do
texto final do Tratado de amizade com Portugal.
O Tratado foi finalmente assinado, no Castelo de
Windsor, a 9 de Maio de 1386, tendo cinco
procuradores testemunhado a assinatura do acordo
entre o Soberano inglês e os delegados régios
portugueses.
O Tratado possuía carácter quer defensivo, enquanto
salvaguarda dos interesses de ambas as partes, em
aliança, contra inimigos que passavam a ser comuns,
quer ofensivo, porque visava uma colaboração entre
Portugal e Inglaterra contra Castela e França. Todavia,
era também uma aliança que visava a manutenção do
bem e da tranquilidade pública das populações dos
Rei Ricardo II de Inglaterra
reinos de Inglaterra e Portugal.
O comércio marítimo era também um dos
objectos abrangidos no tratado. De acordo com
o tratado de Windsor nenhuma das partes
contratantes poderia fretar navios ou
embarcações inimigas ou prestar socorros a
nações que se encontrassem em conflito com
qualquer um dos reinos. Se alguma das partes
tomasse conhecimento de algo que fosse contra
as disposições do tratado ou os interesses da
outra parte, teria que intervir rapidamente para
que depressa se eliminasse esse perigo ou
infracção do tratado. Antes do Tratado de
Windsor nenhuma outra aliança concertada na
Casamento de D. João I e D. Filipa de Lencastre Europa tinha sido tão abrangente.
A aliança consolidou-se, em 1387, pelo casamento, no Porto, d’El-Rei D. João I com a Princesa Inglesa
Dona Filipa de Lencastre. Philippa of Lancaster, nasceu a 31 de Março de 1360 no Castelo de Leicester e
era uma princesa inglesa da Casa de Lencastre e da Dinastia Plantageneta. Dinastia Plantageneta é o
sobrenome dos monarcas ingleses, conhecidos como dinastia Plantageneta ou Angevina (de Anjou), que
reinaram em Inglaterra entre 1154 e 1485. O nome tem na sua origem a giesta (plant genêt em língua
francesa), que o fundador da casa Godofredo V, Conde de Anjou adoptou como símbolo pessoal.
Lady Philippa era a filha mais velha de John de Gaunt ou Gante, 1.º Duque de Lencastre iuris uxoris , i.e.,
"em direito de uma esposa", e de Blanche de Lancaster. Neta do Rei Eduardo III de Inglaterra, quando
tinha 18 anos, Philippa foi agraciada com a dignidade inglesa de Dama da Ordem da Jarreteira.

57 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Lady Philippa foi primorosamente educada para uma mulher da época e estudou ciências com Frei John,
poesia com Jean Froissart, e filosofia e teologia com John Wycliffe.
Foi no encontro com John of Gaunt, pai de Philippa, para negociar o apoio que o monarca português D.
João I poderia dar à causa do duque inglês - que se proclamava rei de Leão e Castela e queria
reconquistar o trono -, em Ponte de Mouro a 1 de Novembro de 1386, que D. João I tomou a decisão de
casar com Philippa of Lancaster.
Assim, D. Filipa de Lencastre como passou a chamar-se, chegou a Portugal, com 27 anos – idade avançada
para a época para uma donzela contrair matrimónio – e casa com D. João I, a 2 de Fevereiro de 1387, no
Paço Episcopal anexo à Sé Catedral da cidade do Porto, tornando-se Rainha-consorte de Portugal. O
matrimónio, esse, foi comemorado por todo o reino durante quinze dias, cimentando a Aliança Luso-
Britânica.
Em 1372, El-Rei D. Fernando de Portugal e o poderoso magnate inglês John de Gaunt, Duque de
Lencastre (filho de Eduardo III de Inglaterra) firmaram uma aliança contra Castela e Aragão, que o duque
se preparava para guerrear, aliança que cimentou o Tratado Anglo-Português de 1373. Foi com base neste
Tratado de aliança que os ingleses, com os seus poderosos arqueiros, lutaram ao lado da Casa de Avis na
Batalha de Aljubarrota, em 14 de Agosto de 1385. Depois dos ingleses lutarem ao lado dos portugueses
contra os castelhanos e franceses na batalha, foi assinado o Tratado de Windsor, em 9 de Maio de 1386,
com o intuito de renovar a Aliança. Foi no âmbito desta aliança que se organizou o casamento entre o
Rei D. João I e a Princesa Philippa, para cimentar as relações e a aliança anglo-portuguesa.
Chegada à corte portuguesa, D. Filipa não negou a Sua estirpe, e tratou de implementar o protocolo,
etiqueta e regras do seu país natal. Também, a praxe das refeições foi alterada introduzindo o hábito de
se lavar as mãos antes e depois das refeições, e os alimentos passam a ser manuseados de forma
higiénica. Desempenhou, também, um importante papel na política da Corte e, apesar de não mais ter
pisado solo inglês, não se manteve alheia da inglesa, correspondendo-se por carta com o pai e irmão o
Rei Henry IV.
A Rainha foi tocada pela peste em 1415, morrendo, em
Odivelas a 19 de Julho, poucos dias antes da partida da
expedição a Ceuta.
A 21 de Agosto de 1415 o exército Português sob o
comando d’El-Rei D. João I de Portugal, desembarca em
Ceuta, conquistando a cidade norte-africana.
Finda uma noite de intensa peleja, pela manhã de 22 de
Agosto, Ceuta estava abduzida pelas tropas portuguesas,
e coube a D. João Vasques de Almada hastear a bandeira
de Ceuta, com os gomos brancos e pretos como na
bandeira de Lisboa, e com o então brasão de armas do
Reino de Portugal ao centro, e que perdura até aos dias
de hoje.
Após a tomada da mais bela e mais florescente cidade
da Mauritânia, no norte de África, El-Rei Dom João I
procede ao ritual de armar cavaleiros os filhos D. Duarte,
D. Pedro e D. Henrique, que se haviam ilustrado pelas
armas no campo de batalha.
Após a Santa Missa, os três Infantes, usando reluzentes
armaduras, foram armados cavaleiros pelo Rei seu Pai,
com a espada abençoada pela Rainha Dona Filipa de
Lencastre, mulher de D. João I e mãe de tão Ínclita
Geração.
Em 1661, a Rainha regente D. Luísa de Gusmão,
digníssima viúva d’El Rei Dom João IV, o Restaurador,
D. Filipa de Lencastre
declarou em Cortes o contrato nupcial, aprovado pelo
Conselho de Estado, do casamento da Infanta Dona

58 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Catarina Henriqueta de Portugal com o Rei Carlos II de Inglaterra. Seguiu-se um contrato de paz, com
artigos muito curiosos, publicado no Gabinete histórico, de Frei Cláudio da Conceição, onde vem a
descrição do real consórcio:
«0 nosso augusto Soberano Lorde Carlos II,
pela Graça de Deus, rei da Grã-Bretanha,
França e Irlanda, Defensor da Fé e a
Ilustríssima Princesa D. Catarina, Infanta de
Portugal, filha do falecido D. João IV, e irmã
de D. Afonso, presente rei de Portugal, foram
casados em Portsmouth na quinta-feira,
vigésimo segundo dia de Maio, do ano do N.
Sr. de 1662, 14.º do reinado de SM, pelo R. R. F.
in G. Gilbert, Bispo Lorde de Londres, Deão da
Real Capela de Sua Majestade na presença de
grande parte da nobreza dos domínios de Sua
Majestade e da de Portugal.»
Dona Catarina não foi uma rainha popular em
Inglaterra por não ter descendência e por ser
católica - o que a impediu de ser coroada -,
mas uma infanta nascida e criada no seio de
uma família real ilustrada, culta; educada nos
costumes e hábitos tradicionais portugueses
não podia deixar de ter uma influência
indelével na nação que, apesar de tudo, a não
acolhera. Assim, entre muitos hábitos e
práticas que levou, ficará, para sempre, como
a responsável pela introdução do chá em
Inglaterra. De facto, Dona Catarina levou
como dote os territórios de Bombaim (actual
Mumbai) e Tânger – ganhando assim a
Inglaterra o início de um Império -, mas muito
mais. El-Rei D. João I
Natural da China, o chá foi introduzido na Europa pelos portugueses no século XVI. Assim, este foi um
hábito que Dona Catarina levou de casa e que continuou a seguir em Inglaterra,
organizando reuniões de senhoras a meio da tarde na qual se bebericava a famosa e reconfortante
bebida.
O hábito de beber chá já existiria, num período em que a Companhia das Índias Orientais o estava a
vender abaixo do preço comercializado pelos Holandeses e o anunciava como uma panaceia para a
apoplexia, epilepsia, catarro, cólica, tuberculose, tonturas, pedra, letargia, enxaquecas e vertigem – um
verdadeiro cura tudo e mais alguma coisa -, mas foi Dona Catarina de Bragança que o transformou na
"instituição" que os ingleses hoje conhecem por “Chá das Cinco”, o tão famoso quanto imprescindível "five
o'clock tea". Bom, na realidade o chá não era tomado às cinco, mas sim às quatro, e o nome chá em
inglês é TEA, ora essa palavra é oriunda do português pois referia-se ao nome dos barcos que o
transportavam e que eram chamados de 'Transporte de Ervas Aromáticas'.
Acresce que, o consumo deste produto era apanágio das esferas mais altas da sociedade. Em
consequência, também, surgiu a expressão: “Ter falta de chá!”, dirigida a alguém que não tem educação
ou que não tem maneiras, uma vez que o chá era originariamente consumido por famílias nobres,
presumidamente mais sofisticadas. Hoje, claro que numa sociedade burguesa e plutocrata, em que o
dinheiro é o mote, não está garantido que haja na alta-roda muito chá, até porque podem-no não ter
tomado em pequeno!

59 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Assim, Dona Catarina de Bragança deixou pelo menos a Inglaterra a rotina de beber chá que se tornou
um dos hábitos tipicamente britânicos, mas que não foi o único: deixou, também, o costume do consumo
da geleia de laranja. A compota de laranja que os ingleses designam de “marmelade”, usando,
erroneamente, o termo português marmelada, foi levada pela Infanta portuguesa que recebia
regularmente as remessas de cestas de laranjas enviadas pela mãe, algumas das quais azedavam na
viagem. Dona Catarina conservara o costume português de fazer compotas e, curiosamente, a Rainha de
Inglaterra servia a sua vingançazinha ao guardar a compota de laranjas doces para si, para as suas damas
de companhia e amigas e a de laranjas amargas para as inimigas, particularmente, para as concubinas de
Carlos II.
Mas a revolução cultural que Dona Catarina, Infanta de Portugal e Rainha de Inglaterra, operou na Corte
inglesa não ficou por aqui. Também lá introduziu o uso dos talheres – pois antes disso os ingleses, mesmo
a realeza e a aristocracia mais fina, comiam com as mãos, levando os alimentos à boca com três dedos
(polegar, indicador e médio) da mão direita. Apesar de o garfo já ser conhecido só era usado para trinchar
ou servir, ora na Corte Portuguesa, que à época ditava o bem ser, Catarina estava habituada a utilizá-lo
para levar os alimentos à boca e, em breve, todos começaram a seguir o exemplo da Rainha portuguesa
de Inglaterra.
Também foi Dona Catarina a introduzir o tabaco em Terras de Sua Majestade e em breve todos os
ingleses passaram a andar de caixinha de rapé no bolso do colete.
Há já muito tempo que, em Portugal, se utilizavam pratos de porcelana para comer, ora em Inglaterra,
ainda comiam em pratos de ouro ou de prata, muito menos higiénicos e que não conservavam a refeição
quente; ora com a Infanta de Portugal a utilizar a ‘fine china', a partir de aí, o uso de louça de porcelana
generalizou-se, também, por lá.
Era hábito na Corte portuguesa os saraus em que se ouvia ópera, ora como Dona Catarina levara no seu
séquito uma orquestra de músicos portugueses, foi por sua mão que se ouviu a primeira ópera em
Inglaterra, legando dessa forma mais uma importante herança cultural.
E não é que a Infanta e Rainha da Casa de Bragança ainda
lançou moda para equitação.
E haveria Império britânico sem o fabuloso dote de Dona
Catarina de Bragança que para além da uma exorbitante
quantia em dinheiro incluía ainda a cidade de Tânger, no
Norte de África e a ilha de Bombaim, na Índia?! Pelo que,
depois de receber a importante e estratégica Bombaim dos
portugueses, o monarca inglês rei Carlos II autorizou a
Companhia das Índias Orientais a adquirir mais territórios,
nascendo, desse modo, o Império Britânico!
Por último, deram o seu nome a um bairro da Colónia de
Nova Iorque (ainda não existiam os EUA), Queens, onde
existe uma estátua de D. Catarina de Bragança.
Às 19h30m do dia 16 de Fevereiro de 1909, na Capela de São
Jorge, no Castelo de Windsor, Inglaterra, El-Rei Dom Manuel
II de Portugal torna-se o 838.º Cavaleiro da Ordem da
Jarreteira a ser investido por um Soberano inglês. Numa
cerimónia de investidura com impressionante pompa e
ritual, a El-Rei de Portugal foi conferida pelo primo, o Rei
britânico Eduardo VII, a mais importante de todas as
Rainha D. Catarina de Bragança, que casou com o Rei inglês
Carlos II Ordens de Cavalaria e as suas insígnias. Dom Manuel II foi
simultaneamente o último português, de um selecto e estrito clube, a receber esta honraria e, também,
até hoje, o mais jovem cavaleiro de sempre da mais distinta das Ordens Honoríficas britânica e mundiais.
Excepcionalmente, a comitiva portuguesa de D. Manuel II pode assistir à cerimónia, normalmente
reservada apenas aos membros Companheiros/as da Ordem, assim como ao sumptuoso Banquete de
Estado em St. George’s Hall, com cerca de 200 convivas.

60 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

Se Sua Mercê o Rei Dom João I de Portugal foi o primeiro português a receber esta distinção, D. Manuel II
seria o derradeiro, uma vez que não mais existiu personalidade portuguesa que pudesse ser honrada com
tal distinção.
A Mais Nobre Ordem da Jarreteira, também conhecida, simplesmente, como Ordem da Jarreteira, é uma
ordem de cavalaria britânica, a mais antiga de Inglaterra e do sistema de honras britânico, atribuída,
exclusivamente, ‘por desejo do Soberano’: ‘Le Souverain le vault’. Fundada, em 1348, para destacar os
esforços do reino e aliados, é uma ordem militar, criada pelo Rei Eduardo III de Inglaterra e baseada nos
nobres ideais das demandas ao gosto do espírito do cavaleiro medieval: ‘uma sociedade, uma companhia
e uma escola de Cavaleiros’, e o conceito foi seguido durante séculos por outros monarcas europeus, que
constituíram as suas próprias e prestigiadas ordens de cavalaria, mas sem a relevância da Jarreteira, que
nunca caiu no anedotário de certas irmandades de mantos.
‘Order of the Garter – Ordem da Jarreteira’, a tradução correcta seria antes Ordem da Garrotea ou Ordem
da Liga – até porque os agraciados são contemplados com uma liga para colocar no joelho esquerdo -,
com supramencionado, a Ordem da Jarreteira é a mais antiga, a mais prestigiada ordem de cavalaria, a
mais restrita e a mais importante comenda do sistema honorífico do Reino Unido - e não só, pois não há
par para ela em qualquer recanto do mundo - desde essa altura até aos dias de hoje.
A exclusividade é a pedra de toque da Jarreteira, pois os membros da Ordem são limitados ao Soberano,
ao Príncipe de Gales e a não mais que vinte e quatro membros ou companheiros, embora também
incluam cavaleiros e damas extranumerários como membros da família real e monarcas estrangeiros.
‘Conceder a honra’ é uma prerrogativa executiva remanescente do monarca inglês de carácter
verdadeiramente pessoal.
O emblema da Ordem, retratado na insígnia, é uma jarreteira com a divisa em anglo-normando o dito
francês antigo, que à época da criação da Jarreteira era o idioma oficial da corte inglesa: ‘Honni soit qui
mal y pense’, em letras douradas sobre fundo azul-escuro. A lenda conta que Eduardo III estaria a dançar
com a Condessa de Salisbury num baile da corte, quando esta deixou cair a sua liga/Jarreteira da perna.
Ao gosto do cavalheiresco medieval,
para evitar o constrangimento da aristocrata, o monarca decidiu apanhar a liga do chão e amarrá-la à
volta da própria perna. Não obstante o gesto, o Rei reparou que os presentes os fitavam com sorrisos e
murmúrios. Irado, exclamou: ‘Honni soit qui mal y pense - Envergonhe-se quem nisto vê malícia’, frase
que se tornou o lema da Ordem que depois fundou. Afirmou, ainda, o Rei inglês que tornaria aquela
pequena jarreteira azul tão gloriosa que todos a haveriam de desejar – assim foi. Sendo esta uma história
verdadeira ou simplesmente uma estória, a Ordem da Jarreteira foi, de facto, criada por Eduardo III e o
seu símbolo é uma jarreteira azul-escura, de rebordo dourado, em que aparecem inscritas, em francês as
palavras, supostamente, proferidas pelo Rei inglês. Assim, os membros da Ordem recebem essa liga nas
ocasiões cerimoniais de agraciamento da Ordem. Mas o uso da liga como um emblema, também, pode
ter derivado de tiras utilizadas para fixar as armaduras pelos cavaleiros medievais.
Além do grão-mestre da Ordem que é sempre o Soberano inglês existem
os cavaleiros reais (nos quais se inclui sempre o Príncipe de Gales podendo
o monarca ainda nomear vários membros da família real), os cavaleiros
estrangeiros (vários monarcas reinantes de países estrangeiros nomeados
pelo monarca britânico), tidos como cavaleiros extranumerários e os
cavaleiros ou damas-companheiras (24 personalidades nomeadas pelo
monarca britânico). Somente o monarca pode conceder a adesão: ele/ela é
conhecido/a como ‘Soberano/a da Jarreteira’, e o Príncipe de Gales é
conhecido como um ‘Cavaleiro Companheiro da Jarreteira’.
Os membros masculinos da Ordem são intitulados ‘Cavaleiros
Companheiros’, e os membros do género feminino são chamadas de
‘Damas Companheiras’. As nomeações são vitalícias e intransmissíveis (não
são hereditárias). Os cavaleiros são nomeados em 23 de Abril, dia de São
Jorge e como a cor de São Jorge é o azul é tradição vestir algo azul para a
cerimónia. Nessa ocasião, deverá usar-se a jarreteira na perna esquerda,
D. Manuel II com as vestes de Cavaleiro da
Ordem da Jarreteira logo abaixo da cintura da mesma. A Ordem da Jarreteira realiza os seus

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serviços na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, onde, desde o primeiro cavaleiro, no alto, estão
colocados os elmos com crista, a espada e estandartes de armas dos cavaleiros.
Com a morte de um membro, o emblema e a estrela são devolvidas pessoalmente ao soberano pelo
parente do sexo masculino mais próximo do ex-membro e as outras insígnias para a Chancelaria Central
das Ordens de Cavalaria.
Cavaleiros e Damas companheiros usam as letras ‘KG’ e ’LG’ após o nome, respectivamente. Um membro
da Ordem tem na hierarquia do sistema nobiliárquico britânico um grau inferior ao filho mais velho de
barões e superior às restantes ordens e titularia.
Regressando à ligação da Ordem da Jarreteira com a Casa Real Portuguesa, sendo a Aliança entre
Portugal e Inglaterra a mais antiga do Mundo, datada de 1386, altura em que foi assinado o Tratado de
Windsor, e que resultou também no casamento entre El-Rei Dom João I de Portugal e a Princesa Inglesa,
da Dinastia Plantageneta, Lady Phillippa of Lencastre, a nossa Dona Filipa de Lencastre, filha de John de
Gaunt, Duque de Lancaster, e neta do então monarca inglês Eduardo III Plantageneta, é natural que Dom
João I tenha sido o primeiro português – de uma lista muito restrita – a ser agraciado com a Ordem da
Jarreteira, o que aconteceu em 1400, tornando-se o 102º Cavaleiro da Ordem. A Rainha Dona Filipa de
Lencastre já era Dama da Ordem desde 1378, sendo até hoje a única portuguesa com essa distinção.
A lista de portugueses agraciados não viria a incluir mais do que 15 personalidades, sobretudo reis e
infantes e um único membro da nobreza e de sangue não real confirmado: D. Álvaro Vaz de Almada,
Conde de Avranches. Dom Álvaro Vaz de Almada ou Álvaro Vasques de Almada (1392-1449) foi um dos
mais insignes cavaleiros da Europa do seu tempo. Alferes Mor de Portugal, Capitão Mor do Mar, Alcaide
Mor de Lisboa, combateu na guerra dos 100 anos ao lado do Rei Henrique V de Inglaterra na Batalha de
Azincourt (1415), onde se ilustrou pelas armas e praticou inúmeros actos de heroísmo, tendo-lhe sido
atribuído, pelo monarca inglês, o título de Conde de Avranches e agraciado com o grau de Cavaleiro da
Ordem da Jarreteira figurando as suas armas no exclusivíssimo St. George Hall no Castelo de Windsor. Foi
ainda um dos chamados Doze de Inglaterra, e a sua vida dava uma epopeia como a de Baudolino. Assim
foi porque o bravo cavaleiro português, no meio de vagas de soldados franceses, quando decorria a
Guerra dos Cem Anos contra a França, auxiliou o Rei inglês Henrique VI na conquista da Normandia e fez
cair a seus pés Avranches, razão pela qual foi agraciado pelo monarca inglês com o título de Conde de
Avranches (Earl of Avranches), a seu favor e seus descendentes (de jure et herdade), por carta de 4 de
Agosto de 1445. Entende-se que já antes, em 1415, tinha participado na batalha de Azincourt ao lado dos
Plantageneta. Por isso, também, foi dos poucos estrangeiros e como se disse acima o único português
que não da realeza a ser agraciado cavaleiro da Ordem da Jarreteira, da qual foi o 162° Cavaleiro.
Assim, da lista de membros portugueses da Ordem da
Jarreteira, além do inaugural D. João I (102.° Cavaleiro
Companheiro) e dos acima mencionados, fazem ainda
parte: o Rei D. Duarte I; D. Pedro, Duque de Coimbra; o
Infante D. Henrique; o Rei D. Afonso V; o Rei D. João II,
o Rei D. Manuel I; o Rei D. João IV; o Rei D. João VI; o
Rei D. Pedro V (investido em 1854); o Rei D. Luís I
(investido em 1886); o Rei D. Carlos I (investido em
1904); o Príncipe Real D. Luís Filipe (investido em 27 de
Junho de 1902 como 821.° Cavaleiro pelo Duque de
York, futuro George V); e D. Manuel II, o derradeiro Rei
de Portugal – o último Cavaleiro Português.
Como o tratado político mais antigo da Europa, a
Aliança Anglo-Portuguesa tem sido uma fonte de
séculos de cooperação e amizade entre Inglaterra e
Portugal. Sobre a aliança mais antiga do mundo, o
Primeiro-Ministro Sir Winston Churchill, num discurso
na Câmara dos Comuns, em Outubro de 1943,
descreveu famosamente a amizade única e antiga Insígnias da Ordem da Jarreteira

62 JUNHO 2023
REAL GAZETA DO ALTO MINHO

entre Inglaterra e Portugal como uma aliança "sem paralelo na história mundial.”
Na manhã de quinta-feira, 15 de Junho de 2023, Sua Majestade O Rei Carlos III do Reino Unido recebeu
S.E. O Presidente da República Portuguesa, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de
Buckingham onde, depois de tocados os hinos nacionais no terreiro do Palácio Real, o Rei britânico e o
Presidente português passaram revista a militares ingleses e portugueses em parada. Depois recolheram-
se a uma das 19 salas de Estado onde o Monarca concede audiências, isto é, onde o convidado fica em
Presença de Sua Majestade, permanecendo em reunião privada durante 20 minutos, e tendo o Presidente
português condecorado Sua Majestade o Rei Carlos III do Reino Unido com o Grande-Colar da Ordem da
Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, a maior ordem honorífica portuguesa - a mesma
condecoração que, em 1993, também, foi atribuída à falecida Rainha Elizabeth II do Reino Unido,
endereçando, ainda a Sua Majestade, um convite para visitar Portugal. Em seguida saíram na limousine
de Estado em direcção ao Palácio de St. James onde assistiram a uma cerimónia de acção de graças na
Capela da Rainha (D. Catarina de Bragança, Rainha consorte de Inglaterra pelo casamento com o Rei
inglês Carlos II), em Londres, para assinalar o 650º aniversário da Aliança Anglo-Portuguesa, a mais antiga
aliança diplomática do mundo ainda em vigor. Depois, os dois Chefes de Estado observaram, ainda, o
original do Tratado de Tagilde de 1373 do Arquivo Nacional britânico. Depois da cerimónia, Sua Majestade
O Rei Carlos III regressou ao Palácio de Buckingham, enquanto o Chefe de Estado português seguiu para
uma cerimónia privada, em Apsley House, a morada londrina dos Duques de Wellington e que fica
sozinha no Hyde Park Corner, no canto sudeste do Hyde Park, virado a sul em direcção à movimentada
rotunda de trânsito no centro da qual se ergue o Arco de Wellington. Aí foi recebido pelo 9.º Duque de
Wellington, que detém também os títulos nobiliárquicos portugueses de Duque da Vitória, Marquês de
Torres Vedras, Marquês do Douro e Conde do Vimeiro, com que foi agraciado o seu antepassado, o 1.º
Duque de Wellington Arthur Weslleley, títulos criados pelo príncipe-regente D. João (futuro D. João VI), a
favor do general britânico que comandou os exércitos que expulsaram as tropas napoleónicas de
Portugal. Foi o primeiro título de Duque português concedido a um estrangeiro. Nessa recepção
estiveram, ainda, presentes SAR o Príncipe Richard, Duque de Gloucester, primo 2º do Rei e em Sua
representação, assim como SAR os Duques de Bragança, o Senhor Dom Duarte Pio de Bragança e a
Senhora Dona Isabel de Herédia e Bragança.
Assim, conforme se plasmou no próprio tratado de 1373, se 'perpétua amizade, sindicato e aliança' entre
as duas nações, a mais antiga aliança do mundo.

Rei Carlos III e Presidente da República passam revista às tropas em parada

63 JUNHO 2023
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