Petição Inicial - Laboral

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AO

EXMO SENHOR Dr. JUÍZ DE DIREITO DA SALA DE TRABALHO


DO TRIBUNAL DE COMARCA DE BELAS

LUANDA DATA: 08/11/2022

Antónica Pedro Sebastião, solteiro de 32 anos de idade, residente em


Luanda, Município do Kilamba Kiaxi, Bairro Palanca, Zona 12, casa n.º
29, Titular do Bilhete de Identidade e NIF n.º 0032535842LA032,
emitido pela Direcção Nacional de Luanda, aos 07/04/2018 doravante
designada por Requerente, poderá ser contactada pelos seguintes
terminais telefónicos 926514383/990514383, vem por intermédio
dos seus mandatários judiciais, ao abrigo dos artigos 282.º e 307.º da
Lei n.º 7/15, de 15 de junho – Lei Geral do Trabalho (doravante LGT),

Requerer e fazer seguir contra:

UBORAMÓVEIS, LDA, com sede em Luanda, Distrito Urbano do


Rangel, Bairro Vila Alice, Rua da Liberdade, Vivenda n.º 94, doravante
designada por Requerida, poderá ser contactada pelos seguintes
terminais telefónico 944585687

ACÇÃO DE CONFLITO LABORAL

Nos termos e com fundamentos seguintes:

I. OS FACTOS

1.º

No dia 13 de Agosto de 2020, a Requerida celebrou um contrato de


trabalho por tempo indeterminado com a Requerente (doc. 1).

2.º
A Requerente desempenhava a função ocupacional de Gestora de
Recursos Humanos, com a categoria de Técnica Sénior Administrativa,
onde auferia o salário base mensal de AOA 440.000,00 (Quatrocentos e
Quarenta Mil Kwanzas) e os subsídios de alimentação e transporte no
valor mensal de AOA 18.000, 00 (Dezoito Mil Kwanzas), por cada
subsídio.
3.º
No exercício das suas funções, a Requerente executava com zelo,
pontualidade e assiduidade as funções a ela adstritas.

4.º
A Requerente, durante o tempo que esteve vinculada a Requerida
nunca foi-lhe instaurado nenhum processo disciplinar, deixando
perfeitamente nítida a responsabilidade e empenho no
desenvolvimento das suas funções.

5.º
Acontece que, num dia normal de trabalho, a Requerente foi intimada
a comparecer na sala da Dra. Cassia Neliko, Responsável pela Área do
Recursos Humanos da UBORAMÓVEIS.

6.º
Posta na sala desta, ouviu o seguinte: “Não estamos satisfeitos com o
seu trabalho, a senhora tem facilitado outros colegas no ponto
biométrico, por outro lado, a Senhora será despedida também, porque
mesmo estando aqui tem procurado outras propostas de emprego na
internet e etc”.
7.º
No dia 11 de Maio de 2021, a Requerida tentou extinguir o contrato de
trabalho por meio de uma proposta de cessação da relação contratual
por mútuo acordo, mas a Requerente recusou-se em assinar porque
não concordava com os termos. (doc. 2)

8.º
Assim, no dia 03 de Junho de 2021, a Requerente foi surpreendida,
pela Direçção da UBORAMÓVEIS, com apresentação da carta de
rescisão pelo o não interesse em manter a relação juridico-laboral,
desde já estava extinguindo de forma unilateral o contrato por tempo
indeterminado. (doc.3)

9.º
Inconformada com a situação a Requerente, no dia 19 de abril de
2021, por meio dos seus mandatarios judiciais, apresentou uma
proposta de acordo para cessação do vínculo laboral e a Requerida
por sua vez respondeu negativamente. (doc. 4)
10.º
Em face deste fatídico e repugnante acontecimento, a Requerente
procurou os serviços de Inspecção Geral de Trabalho – IGT, com o fito
de mediar o conflito ora instalado, porém, sem sucessso.

11.º
Diante deste prisma, aos 13 de Agosto de 2021, pelas 9h, o Inspector
do LGT, lavrou a declaração de impossibilidade de acordo entre as
partes. (doc. 5).

12.º
Importa ainda referir que, a carta de rescisão absteve-se em descrever
detalhadamente os factos que serviram de causa para o Despedimento,
pelo que não resta menor dúvida de que a Requerente recebeu a mais
pesada sanção que é a do despedimento, sem fundamento.

13.º
Tudo quanto acima ficou disposto, trata-se em nosso entender de uma
situação com gravidade elevada, por estarem a ser violados os
legítimos direitos e interesses da Requerente, por isso questiona-se:

a) Como termina uma relação laboral por tempo indeterminado?


b) E de que maneira se processa?
c) Será que não estamos diante de um acto arbitrário do aqui
Requerido?

II – DO DIREITO

14.º
Os factos acima descritos subsumem, a um conflito individual de
trabalho, previsto nos termos do artigo 272.º da LGT, segundo o qual:

“surge entre o trabalhador e a entidade empregadora, em detrimento da


constituição, manutenção, suspensão e extinção da relação jurídico –
laboral, com a execução do contrato de trabalho e a satisfação dos
direitos e cumprimentos das obrigações entre ambos”

15.º
Acresce, ainda que, a Constituição da Republica de Angola – CRA, no
seu art. 76.º, consagra a garantia da segurança no emprego e a
proibição do despedimento sem justa causa.

16.º

O que não se verificou no caso em apreço, porquanto o despedimento


aplicado à Requerente por parte da Requerida é injustificado por
falta de fundamento para a sua promoção, se não vejamos:

a) Baseando-se no princípio da liberdade contratual, válido no


domínio da relação laboral, as partes têm autonomia para
escolher a modalidade do contrato que quiserem, mas já não de
escolherem os efeitos do contrato escolhido.
b) Como a Requerida e a Requerente, celebraram um contrato de
trabalho por tempo indeterminado, contrato este que não
estabelece prazos de caducidade, só podia ser extinto por mutuo
acordo ou através de uma medida disciplinar, precedida do
competente processo disciplinar.
c) Todavia, por razões que a própria razão desconhece e o direito
não contempla, a Requerida viu-se na legitimidade para
extinguir de forma unilateral a relação contratual.
d) Mesmo sabendo que o art. 198.º da LGT consagra a estabilidade
do emprego, proibindo veemente ao empregador de extinguir a
relação-laboral, por fundamentos não previsto na lei.
e) Assim, não há equívoco que o despedimento aplicado foi uma
medida precipitada, porque não se verificaram cumulativamente
os pressupostos previstos nos artigos 205.º e 206.º da Lei Geral
Trabalho.

17.º
Logo, o presente despedimento é ilegal, portanto deve ser considerado
inválido e não num mero despedimento irregular.

18.º

Por conseguinte, defende NORBERTO CAPEÇA que, “A invalidade do


despedimento opera retroactivamente eliminando o acto extintivo e
implica a reconstituição do vínculo laboral, devendo as partes ser
colocadas, na medida do possível, na posição em que estariam se tal
acto não tivesse ocorrido”

19.º

Diz também LUÍS MENEZES LEITÃO que, a ausência de fundamento


constitui causa bastante para alegação da anulabilidade ou nulidade do
despedimento, razão pela qual se requer a declaração de nulidade do
referido despedimento disciplinar promovido pela Requerida.

Pois,

20.º
Tais factos que serviram de fundamento para aplicação de tal medida,
não correspondem à orientação da lei, sendo por isso, infundados, pois
em nenhum momento a Requerente incorreu por razões bastante ou
lhe foi movida um processo disciplinar.

21.º
É de realçar, aqui e agora, que a Requerida usou de forma abusiva o
seu poder enquanto empregadora, aplicando o Despedimento de forma
unilateral e sem causa justa, pois entende-se que não existia
fundamentos fácticos e muito menos legais que justificasse o
despedimento.

Portanto,
22.º
Na ausência de fundamento ou de uma infracção perpetrada pelo
trabalhador, não se instaura processo disciplinar e, na falta de
processo disciplinar, não se pode aplicar medidas disciplinar, como é o
caso.
23.º
Na sequência do n.º 4 do artigo 76.º da Constituição da República de
Angola que proíbe o despedimento sem justa causa, o n.º 1 do artigo
198.º da LGT. Consagra o direito e, consequentemente, o princípio da
estabilidade de emprego, proibindo a extinção da relação jurídico-
laboral alicerçado em fundamentos não previstos na lei.

Assim,
24.º
O despedimento iniciado pela Requerida contra a Requerente, à luz
do preceituado no artigo 206.º da LGT, carece de fundamentos sendo,
por isso, ilegal nos termos do artigo 76.º da Constituição da República
de Angola, pelo facto de não ser considerado de justa causa os
fundamentos usados.

III – DO PEDIDO

NESTES TERMOS E FUNDAMENTOS, SEMPRE COM O MUI DOUTO


SUPRIMENTO DESTE AUGUSTO TRIBUNAL, SE REQUER QUE AS
RAZÕES DE FACTO E DE DIREITO SEJAM JULGADAS PROCEDENTES
E EM CONSEQUÊNCIA:

a) Que seja decretada nulo o despedimento/desvinculação


b) Que a Requerente seja reintegrada na Requerida
c) Que sejam pagos a Requerente AOA 7.800.000,00 (Sete
milhões e oitocentos mil Kwanzas) de todos os complementos
não recebidos até a presente data (Salários, subsídios de
férias e de natal)
d) Que a Requerente seja indemnizada nos termos da lei com
AOA1.000.000,00 (Um milhão de Kwanzas)

Valor da Acção: AOA 8. 800.000,00 (Oito milhões e oitocentos mil


Kwanzas)

Junta: Cópias da procuração forense, do BI, Contrato de trabalho,


Cessação de contrato por mútuo acordo, Recisão contractual,
Declaração de impossibilidade de Acordo, recibo de salário, duplicados
legais.

E.D

O Advogado
____________________________
Dambi Trinta
Cédula Profissional nº 10.784/ NIF: 0003979019LA037

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