Desgaste em Ferramentas de Máquinas Agrícolas

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 50

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA


ENGENHARIA MECÂNICA

WILLIAN DE ALMEIDA LUZ

DESGASTE EM FERRAMENTAS DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS:


REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

LONDRINA
2019
WILLIAN DE ALMEIDA LUZ

DESGASTE EM FERRAMENTAS DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS:


REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial à
obtenção do título de Bacharel em
Engenharia Mecânica, do Departamento
de Engenharia Mecânica, da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná.

Orientadora: Profª. Drª. Claudia Santos


Fiuza Lima

LONDRINA
2019
Ministério da Educação
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Campus Londrina

Diretor Sidney Alves Lourenço


Coordenação Rafael Sene de Lima
Engenharia Mecânica

TERMO DE APROVAÇÃO

DESGASTE EM FERRAMENTAS DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS: REVISÃO


BIBLIOGRÁFICA
por:

WILLIAN DE ALMEIDA LUZ

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado em preencher o dia de


preencher o mês de preencher o ano como requisito parcial para a obtenção do título
de Bacharel em Engenharia Mecânica. O candidato foi arguido pela Banca
Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação, a
Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado.

__________________________________
Claudia Santos Fiuza Lima
Profª. Orientadora

___________________________________
Haustin Stelmastchuk Vieira
Membro titular

___________________________________
Janaína Fracaro de Souza Gonçalves
Membro titular

- O Termo de Aprovação assinado encontra-se na Coordenação do Curso -


Dedico este trabalho àqueles que tiveram
paciência comigo durante este período da
minha vida.
AGRADECIMENTOS

Existem muitas pessoas a quem devo agradecer, contudo, para não me


comprometer, serei breve.
Agradeço à minha orientadora Profª. Drª. Cláudia, por tanta atenção,
paciência, disponibilidade e sabedoria com a qual me guiou nesta jornada; e aos
professores Haustin e Janaína que dispuseram do seu tempo para avaliar meu
trabalho.
Gostaria de agradecer à minha família e amigos, que estiveram do meu lado
nos momentos mais difíceis e acreditaram em mim quando nem mesmo eu acreditei.
Eu denomino meu campo de Gestão do
Conhecimento, mas você não pode
gerenciar conhecimento. Ninguém pode.
O que você pode fazer, o que a empresa
pode fazer é gerenciar o ambiente que
otimize o conhecimento.
(PRUSAK, Laurence, 1997)
RESUMO

LUZ, Willian de Almeida. Desgaste em Ferramentas de Máquinas Agrícolas:


Avaliação Bibliográfica. 2019. 47 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Engenharia Mecânica) - Universidade Tecnológica Federal do
Paraná. Londrina, 2019.

A influência e necessidade da mecanização no campo vem aumentando ano a ano e


uma preocupação da comunidade agrícola é o desgaste prematuro das ferramentas;
pois a fratura das mesmas inutiliza a máquina, sendo necessária uma manutenção
corretiva, resultando em perda de produtividade. Com o advento da indústria 4.0,
todos os setores estão se obrigando a passar por modificações e no agronegócio não
é diferente: novas tecnologias são implantadas, novas habilidades de profissionais
são exigidas e novas tendências são observadas. Tendo em vista a criticidade deste
assunto, este trabalho tem por objetivo realizar uma pesquisa bibliográfica sobre as
novas tendências dos estudos que estão sendo realizados pela comunidade científica
no tema abordado, avaliando-os sob um ponto de vista crítico.

Palavras-chave: Arado, Colhedora, Adubadora.


ABSTRACT

LUZ, Willian de Almeida. Wear on Agricultural Machinery Tools: Bibliographic


Assessment. 2019. 47 sheets. Course Completion Work (Bachelor of Mechanical
Engineering) - Federal Technological University of Paraná. Londrina, 2019.

The influence and need for mechanization in the field has been increasing year by year
and a concern of the farming community is the premature wear of the tools; as their
fracture renders the machine unusable and corrective maintenance is required,
resulting in lost productivity. With the advent of industry 4.0, all sectors are forcing
themselves to change and agribusiness is no different: new technologies are deployed,
new professional skills are required and new trends are observed. Given the criticality
of this subject, this paper aims to conduct a bibliographic research on the new trends
of the studies that are being conducted by the scientific community on the topic
addressed, evaluating them from a critical point of view.

Keywords: Plow, Harvester, Fertilizer Machinery.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Principais tipos de desgastes .................................................................... 17


Figura 2 - Fluxograma das Máquinas de Preparo do Solo ........................................ 19
Figura 3 – Arado de Aivecas ..................................................................................... 19
Figura 4 – Escarificador ............................................................................................ 20
Figura 5 – Subsolador ............................................................................................... 20
Figura 6 - Cultivador Múltiplo..................................................................................... 21
Figura 7 - Semeadora-adubadora ............................................................................. 23
Figura 8 - Fluxo da cultura em uma colhedora tangencial ......................................... 25
Figura 9 - Mecanismos de uma colhedora do tipo axial ............................................ 25
Figura 10 - Representação de mecanismos de uma colhedora híbrida. ................... 26
Figura 11 - Etapas da Revisão Sistemática da Literatura ......................................... 27
Figura 12 - Diferentes tipos de arados rotativos utilizados no estudo: (A) Grade (B)
Enxada Rotativa de Trator (C) Enxada Rotativa de Motor Próprio ............................ 30
Figura 13 - Diagrama do dispositivo para o ensaio de amostras da resistência ao
desgaste abrasivo: 1 - abrasivo; 2 - Amostra; 3 - Eixo; 4 - corpo; 5 - Arruela; 6 -
Mancal; 7 – Capa ...................................................................................................... 32
Figura 14 - Vista posterior de uma ponteira inicialmente (A), após a primeira área (B)
e após a segunda área (C) ........................................................................................ 35
Figura 15 - ilustração indicando os mecanismos do implemento agrícola de lanço .. 36
Figura 16 - Palhetas em estudo de diferentes materiais: aço inoxidável, revestida
com solda e original 1020, respectivamente ............................................................. 36
Figura 17 - Diferentes revestimentos aplicados nas ponteiras, conjuntos 1, 2, 3, 4, 5
e 6 respectivamente .................................................................................................. 37
Figura 18 - Evolução do desgaste nas ponteiras a cada 30.000 m. A – Frontal, B –
Lateral ....................................................................................................................... 39

Quadro 1 - Classificação dos desgastes ................................................................... 16

Gráfico 1 - Desgastes em porcentagem .................................................................... 18


Gráfico 2 - Perda de massa em função do tempo (A) e em função do número de
revoluções (B), para rotações de 141, 171 e 201 rpm .............................................. 30
Gráfico 3 - Desgaste das amostras de aço 45 para diferentes acabamentos
superficiais: tratamento térmico volumétrico (TTV), tratamento térmico a laser (TTL),
soldagem por indução (SI) e soldagem a laser (SL) ................................................. 32
Gráfico 3 - Desgaste das amostras de aço 45 para diferentes acabamentos
superficiais: tratamento térmico volumétrico (TTV), tratamento térmico a laser (TTL),
soldagem por indução (SI) e soldagem a laser (SL) ................................................. 32
Gráfico 4 - Alteração do coeficiente de mudança de forma de acordo ao longo da
operação utilizando diferentes acabamentos superficiais: 1 - Tratamento térmico
volumétrico, 2 - Tratamento térmico a laser, 3 - Soldagem por indução, 4 - Soldagem
a laser ....................................................................................................................... 33
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Nível de Mecanização 2017 ..................................................................... 14


Tabela 2 - Evolução da perda percentual média ....................................................... 38
Tabela 3 - Desgaste, altura de corte e danos para cada face de corte ..................... 40
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÔNIMOS

LISTA DE ABREVIATURAS

Profª. Professora
Drª. Doutora
ha Hectare
µm Nanômetro
mm Milímetro
cm Centímetro
m Metro
min Minuto
h Hora
g Grama
Cr Cromo
Mo Molibdênio
Ni Níquel
Si Silício
Mn Manganês
C Carbono
HRC Rockwell C

LISTA DE SIGLAS

RSL Revisão Sistemática da Literatura


rpm Rotações por Minuto
ASTM American Society for Testing and Materials
LISTA DE ACRÔNIMOS

AGEITEC Agência Embrapa de Informação Tecnológica


EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
FEAGRI Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp
CAD Computer Aided Design
SAE Society of Automotive Engineers
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................13
1.1 OBJETIVO GERAL ...........................................................................................14
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................15
1.3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................15
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................16
1.4 DESGASTE ......................................................................................................16
1.5 MÁQUINAS DE PREPARO DO SOLO .............................................................19
1.6 ADUBADORAS .................................................................................................21
1.6.1 Adubadoras por Precipitação ..........................................................................22
1.6.2 Semeadora-Adubadora por Depósito .............................................................23
1.7 MÁQUINAS COLHEDORAS DE GRÃOS .........................................................24
1.7.1 Classificação das Colhedoras .........................................................................24
2 METODOLOGIA ...................................................................................................27
3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS TRABALHOS............................................29
3.1 MÁQUINAS DE PREPARO DO SOLO .............................................................29
3.1.1 Arados ............................................................................................................29
3.1.2 Escarificadores ...............................................................................................33
3.2 ADUBADORAS .................................................................................................35
3.2.1 Adubadoras por Precipitação ..........................................................................35
3.2.2 Semeadora-Adubadora por Depósito .............................................................37
3.3 COLHEDORAS .................................................................................................39
4 DISCUSSÃO DOS TRABALHOS ........................................................................41
5 CONCLUSÃO .......................................................................................................43
REFERÊNCIAS .......................................................................................................44
13

1 INTRODUÇÃO

A agricultura teve influência em diversas mudanças comportamentais da


sociedade ao longo da história. O homem primitivo, por exemplo, utilizava da coleta
de frutas, caça e pesca para se alimentar, por isso precisavam estar em constante
movimento, visto que os recursos eram limitados. Somente a partir do cultivo da terra
que foi possível se estabelecer em uma área, exercendo domínio sobre as condições
de sobrevivência e, futuramente, se apropriando da terra, criando-se as primeiras
civilizações agrícolas. Pode-se atribuir também à agricultura a transição para o modal
de civilizações comerciais, uma vez que foram os excedentes agrícolas que criaram
as condições para tal transição. Excedentes estes que foram a base da economia
fisiocrata do século XVIII e deixou grandes influências para a economia política
clássica difundida por Adam Smith (CORAZZA e MARTINELLI JÚNIOR, 2002).
Com o advento das máquinas a vapor, proveniente da Revolução industrial
do século XIX, a mão de obra humana passou a ser substituída também na agricultura,
contudo a produtividade biológica das lavouras era um fator limitante (GOODMAN e
REDCLIFT, 1991). Estudos foram realizados com o intuito de mudar este panorama e
baseado nas comprovações empíricas de Justus Von Liebig, passou-se a utilizar
fertilizantes sintéticos na Europa (VEIGA, 1994). Neste mesmo período, eram
observadas muitas perdas decorrentes de pestes e fungos, o que estimulou a
realização de pesquisas focadas no desenvolvimento de agrotóxicos, sobretudo nos
Estados Unidos, para erradicar ou atenuar tais perdas (STETTER, 1993). Outro
grande avanço no ramo foram as sementes geneticamente modificadas, criadas no
início do século XX; esta tecnologia fez com que a produtividade média dos cereais
dobrasse em um período de 30 anos (PRETTY, 1995).
Para acompanhar o aumento do nível de produtividade, a mão de obra
mecanizada começou a se difundir no Brasil, com maior intensidade, ao longo da
segunda metade do século XX. Segundo levantamentos do IBGE, em 1060 o nível de
mecanização era em torno de 400 ha/trator; esse número evoluiu para 93 ha/trator em
1990 e o último senso de 2017 mostra um valor de 65 ha/trator. Apesar de o índice ter
apresentado grande evolução, ainda está aquém dos padrões mundiais; países mais
eficientes, como o EUA, dispõem de 40 ha/trator (PORTELLA, 1993).
A relação de área plantada por colhedora também melhorou: em 1986 o índice
era de 1547 ha/colhedora, ele passou para 700 ha/colhedora em 1990 e para 463
14

ha/colhedora no último senso de 2017. A Tabela 1 indica o nível de mecanização atual


no país.

Tabela 1 - Nível de Mecanização 2017


Tratores Semeadoras Colhedoras Adubadoras Total
Região
(ha/máquina) (ha/máquina) (ha/máquina) (ha/máquina) (ha/máquina)
Brasil 65 223 463 316 40
Norte 70 361 1.025 573 51
Nordeste 144 668 1.374 1.249 100
Sudeste 40 233 353 176 26
Sul 41 100 249 185 23
Paraná 65 150 369 298 35
Santa Catarina 14 48 140 64 9
Rio Grande do Sul 37 83 198 166 20
Fonte: adaptado de IBGE - Levantamento Sistemático da Produção Agrícola

A partir deste incremento de frota, novas preocupações surgiram. Para


Stachowiak (2001), durante o projeto de uma máquina agrícola é necessário o
completo entendimento das variáveis operacionais do equipamento, para que o
desgaste causado por partículas abrasivas não acarrete em grandes problemas.
Diante de tal contexto, torna-se importante realizar estudos de desgaste com
o enfoque em máquinas agrícolas, visto que isso influencia nos custos e na
produtividade.
Este trabalho apresentará algumas informações sobre pesquisas realizadas
com relação ao desgaste de peças agrícolas, evidenciando qual o foco dos estudos
que estão sendo realizados e quais pesquisadores que se destacam no assunto, por
meio de um levantamento das pesquisas mais atuais, a fim de direcionar o leitor com
relação aos desafios da área. Além do levantamento bibliográfico, foram realizadas
comparações entre os trabalhos, destacando as informações mais importante e
inserindo um ponto de vista crítico.

1.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo geral deste trabalho é levantar dados e informações sobre os atuais


estudos de desgaste voltados para o ambiente agrícola, facilitando futuras pesquisas
nesta área.
15

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Levantar quais os enfoques dos estudos que estão sendo realizados para o
desgaste em máquinas agrícolas;
 Realizar o estudo bibliográfico, indicando a influência do desgaste nas
ferramentas;
 Discutir como estes estudos podem ser aplicados no campo e qual o retorno
esperado.

1.3 JUSTIFICATIVA

O ramo do agronegócio tem uma expressiva participação na economia do país,


com aproximadamente 50% das exportações e 23% do PIB (Produto Interno Bruto)
brasileiro (EMBRAPA, 2017). Uma constante preocupação na indústria de
equipamentos agrícolas é o desgaste prematuro de equipamentos devido ao grande
atrito, pois ele pode acarretar em paradas inesperadas e consequente perda de
produtividade, principalmente em períodos de safra, pois quando a máquina quebra,
o agricultor acaba pagando valores altos e injustos pela manutenção e reposição de
peças, de modo que não atrase a colheita. Este trabalho irá facilitar o desenvolvimento
de pesquisas que poderão contribuir com a economia local, atuando no ponto de
integração do curso de engenharia mecânica com o agronegócio, por meio do
levantamento das informações sobre as pesquisas realizadas na área de desgastes
de peças agrícolas.
16

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A seguir será apresentado o estudo realizado nas bibliografias, buscando


maiores esclarecimentos acerca dos assuntos que serão abordados no presente
trabalho.
Na seção 1.3 serão apresentados os conceitos do desgaste, destacando a
forma com que cada tipo ocorre, bem como a representatividade de cada um deles.
Na seção 1.4 serão apresentadas as máquinas utilizadas no preparo do solo
para o plantio, destacado quais os tipos de ferramentas utilizadas, bem como sua
função.
Na seção 1.5 estão indicadas as máquinas responsáveis por realizar a
adubação a lanço e por depósito, sendo que geralmente a segunda também realiza a
função de semear.
Por fim, na seção 1.6 estão expostas as máquinas colhedoras, indicando o
seu processo de funcionamento, os modelos que atualmente existem no mercado
nacional, bem como a aplicação de cada um deles.

1.4 DESGASTE

Segundo Moraes (1996), o desgaste consiste em danos ocasionados em uma


superfície devido ao movimento relativo entre corpos, ou entre corpo e substância,
geralmente apresentando perda de matéria.
Stoeterau (2004) propõe uma classificação que não é baseada em valores
numéricos, mas em características qualitativas, podendo ser leves ou severos. Como
indicado no Quadro 1.
Desgaste Leve Desgaste Severo
Resulta em superfícies ásperas,
Resulta em superfícies geralmente
geralmente mais rugosas que a
mais suaves que a original.
original.
Produz partículas pequenas. Produz partículas grandes.
Quadro 1 - Classificação dos desgastes
Fonte: Adaptado de Stoeterau (2004)
17

De acordo com Stoeterau (2004), o que define o tipo de desgaste é a superfície


do material. Aqueles que apresentam irregularidades maiores tendem a causar um
desgaste mais severo; enquanto que as superfícies mais homogêneas geram menos
atrito e menor perda de material, contudo o desgaste permanece ocorrendo, uma vez
que todas as superfícies sólidas possuem irregularidades, ainda que em escala
nanométrica. A este conjunto de irregularidades é dado o nome de rugosidade.
Também é possível classificar o desgaste a partir das características do
processo de interação entre os corpos, desta forma, ele pode ser dividido em:
abrasivo, adesivo, erosivo e corrosivo (BUCKLEY,1981). A Figura1 demonstra
esquematicamente os principais tipos de desgastes.

Figura 1 - Principais tipos de desgastes


Fonte: Adaptado de Mundo Mecânico (2017).

O desgaste abrasivo é definido na ASTM G40-01 como “a perda de massa


resultante da interação entre partículas ou asperezas duras que são forçadas contra
uma superfície, ao longo da qual se movem” (ASTM, 2001). Ele ocorre durante o
movimento relativo de dois ou mais corpos, devido ao contato entre as irregularidades
das duas superfícies. A perda do material se dá ao estresse observado nos picos dos
diferentes corpos, que ficam em contato e são forçados um contra o outro (BLAU,
1995).
O desgaste por adesão é semelhante ao abrasivo, contudo após ocorrer a
ruptura do material, sua partícula permanece aderida ao outro corpo. Geralmente a
adesão não é observada quando dois corpos são casualmente colocados em contato,
pois as camadas contaminantes de oxigênio, água ou óleo das superfícies interagem,
impedindo tal adesão (STACHOWIAK, 2005).
O desgaste erosivo é decorrente do choque mecânico de partículas em uma
superfície. Os principais parâmetros que interferem na severidade são: dureza da
superfície, velocidade, tamanho e ângulo de incidência das partículas (BAYER, 2004).
18

O desgaste corrosivo ocorre a partir de uma reação físico-química entre um


material sólido e o meio onde ele se encontra. Esta reação pode ocorrer com gases,
como o oxigênio do ar; líquidos, como lubrificantes; ou até mesmo com outro material
sólido (BUCKLEY, 1981).
Entretanto, para Albertin (2003), o desgaste mais prejudicial é o abrasivo, como
representa o Gráfico 1, pois corresponde à metade dos desgastes observados em
sistemas mecânicos.

Gráfico 1 - Desgastes em porcentagem


Fonte: Adaptado de Albertin (2003)

Este cenário se mantém quando é analisado o ramo agrícola. Pesquisas


estatísticas de reparos agrícolas indicam que cerca de 90% das peças danificadas
são substituídas devido ao desgaste excessivo e por volta de 80% o desgaste em
questão é o abrasivo (BROZEK, 2012). Isso ocorre, porque há contato direto dos
equipamentos com materiais abrasivos durante a operação (VILLABÓN E SINATORA,
2006).
Entretanto, para que seja compreendido como e onde tal desgaste ocorre, é
necessária uma revisão que indique o processo de funcionamento de cada máquina,
que será apresentada na seção a seguir.
19

1.5 MÁQUINAS DE PREPARO DO SOLO

O preparo do solo é um conjunto de tarefas realizado antes do início da


implantação da cultura, com o objetivo de deixar torna-lo apto a receber o plantio,
melhorando suas características para extrair o máximo potencial. Nestas operações
estão inclusas as seguintes tarefas: desagregação, revolvimento, inversão,
destorroamento, compactação e corte (GADENHA JÚNIOR et.al. 1991). A Figura 2
indica o fluxograma dos processos realizados no solo por este tipo de maquinário.

Figura 2 - Fluxograma das Máquinas de Preparo do Solo


Fonte: Adaptado de Mialhe 1996

Os implementos agrícolas que realizam tais tarefas foram classificados por


Mialhe (1996) de acordo com a operação realizada. Desta forma tem-se as máquinas
de preparo primário: arados, escarificadores, subsoladores, dentre outros; e as de
preparo secundário: como grade niveladora e cultivadores, por exemplo.
Segundo Balastreire (1990) a função do arado é iniciar a preparação do solo
por meio do levantamento de uma secção cortada. Por estar em contato direto com o
solo, a lâmina sofre ação abrasiva, sujeitando-se ao desgaste. A seleção do material
com o qual será confeccionada a lâmina deve levar com consideração a substituição,
ou reforma desta, após níveis toleráveis de desgaste. A Figura 3 ilustra um arado de
aivecas.

Figura 3 – Arado de Aivecas


Fonte MF Rural, 2019.
20

Gardenha júnior et al. (1991) afirma que a função do escarificador é promover


a mobilização do solo de baixo para cima, desagregando-o a uma profundidade maior
que os arados e discos. O rompimento das camadas compactadas permite uma maior
infiltração de água, de modo que as raízes penetrem mais profundamente, reduzindo
os riscos de erosão e seca. É semelhante a um subsolador, porém trabalhando em
menor profundidade e com espaçamento entre hastes menor (GADANHA JÚNIOR et
al., 1991). A Figura 4 ilustra um escarificador.

Figura 4 – Escarificador
Fonte: Baldan 2019.

O subsolador é um implemento semelhante ao escarificador, contudo ele


trabalha em uma profundidade ainda maior e suas hastes são mais espaçadas. Sua
função é a mesma do escarificador, contudo sua utilização ocorre apenas quando a
compactação do solo é crítica para o desenvolvimento da cultura (GADANHA JÚNIOR
et al.,1991). A Figura 5 ilustra um subsolador.

Figura 5 – Subsolador
Fonte: Mec-Rul 2019
21

De acordo com a Agência Embrapa de Informação Tecnológica (AGEITEC),


a grade niveladora é um implemento secundário composta por um conjunto de discos.
Geralmente é utilizada após a aração para complementar o preparo do solo,
desagregando os torrões e nivelando a superfície para facilitar a semeadura.
De acordo com a apostila de agricultura Track Tractor Senior Specialist da
Challanger (2005) o Cultivador consta em um implemento capaz de realizar as
operações de subsolagem, cultivo e adubação em uma única passada. Ele apresenta
uma estrutura linear contendo cada uma das ferramentas citadas acima em linha,
otimizando o tempo de preparo. A Figura 6 indica este implemento.

Figura 6 - Cultivador Múltiplo


Fonte: Challanger 2005

1.6 ADUBADORAS

As máquinas que distribuem os fertilizantes são denominadas adubadora,


constituindo uma das classes mais diversas no ramo agrícola, devido à grande
variedade de adubos existentes no mercado. Elas podem ser classificadas em dois
grandes grupos: as que distribuem o material por precipitação sobre o solo; e as que
22

depositam o material abaixo da superfície, em sulcos que a própria máquina abre e


posteriormente fecha (SILVEIRA, 1989).

1.6.1 Adubadoras por Precipitação

Segundo Machado et al. (1996), as máquinas por precipitação podem operar


por gravidade ou a lanço. As que utilizam a força da gravidade para realizar a
distribuição de adubos possuem um formato trapezoidal e geralmente sua largura é
correspondente à do depósito. Elas podem operar das seguintes maneiras:

 Mecanismo de corrente: a movimentação longitudinal de seus elos


especiais realiza a distribuição do adubo;
 Depósito com fundo móvel: possui uma espécie de esteira que gira
longitudinalmente e suas paletas fazem a movimentação do adubo;
 Discos giratórios: localizados na parte inferior do depósito, a rotação
realiza o transporte do adubo;
 Sistemas pneumáticos: utilizam o ar pressurizado por uma turbina para
levar o adobo até os bocais por meio de tubulações.

Já as adubadoras a lanço utilizam a força centrífuga para realizar a distribuição,


um processo semelhante a máquinas de fluxo, como bombas, por isso sua área de
distribuição é muito maior que sua largura. De acordo com Machado et al. (1996), a
adubadora a lanço além de ser composto basicamente de um depósito, possuí os
seguintes mecanismos de distribuição:

 Disco único com aletas: este permanece girando na parte inferior do


reservatório. Assim que o adubo entra em contato com o disco, a força
centrífuga realiza seu lançamento;
 Dois discos: apresenta o mesmo processo de funcionamento citado
anteriormente, contudo com um disco a mais, girando em sentidos
opostos;

Distribuidor pendular: consiste em um tubo localizado horizontalmente, o qual


realiza em torno de 400 oscilações por minuto. O adubo entra no tubo e se
movimenta até as extremidades, onde é projetado por uma abertura.
23

1.6.2 Semeadora-Adubadora por Depósito

De acordo com Siqueira & Casão Jr (2004), uma semeadora deve realizar o
corte da palha, abrir os sulcos, depositar fertilizantes e sementes corretamente
dosados, cobrir com solo e palha e compactar o solo. A Figura 7 ilustra uma destas
máquinas.

Figura 7 - Semeadora-adubadora
Fonte: adaptado de Embrapa

Na Figura 7 é observado o disco que realiza o corte da palha e abre um sulco,


sobre o qual os outros componentes trabalharão. Após ele se encontra o tubo de
depósito dos fertilizantes, seguido pelos sulcadores de sementes, compactadores e
limitadores de profundidade que também realizam o fechamento dos sulcos
(SIQUEIRA, 2008).
Machado et al. (1996) descreve o processo de funcionamento dos dosadores
de adubo destas máquinas da seguinte forma:

 Eixo com paletas: localizado na parte inferior do depósito de adubo. As


paletas são responsáveis por pegar o adubo e depositar ele no solo, por
meio do giro deste eixo;
 Rosca sem fim: processo de funcionamento semelhante ao anterior,
contudo ao invés de paletas, o eixo apresenta uma helicoide que realiza
a movimentação e depósito do adubo;
24

 Fundo giratório: consiste em um disco horizontal localizado na parte


inferior do reservatório individual de cada linha de plantio. Seu
movimento direciona o adubo para o orifício de saída e cai no sulco já
aberto por outro mecanismo da máquina;
 Roseta: processo de funcionamento semelhante ao fundo giratório,
contudo aplicado em máquinas que possuem um reservatório para todas
as linhas de semeadura;
 Cilindro acanalado: consiste em um cilindro com rebaixos localizado
abaixo do reservatório. Sua movimentação retira o adubo do depósito e
direciona ao tubo de distribuição.

1.7 MÁQUINAS COLHEDORAS DE GRÃOS

De acordo com Balastreire (1987) existem 5 etapas durante a operação de uma


máquina colhedora: corte, alimentação, trilha, separação e limpeza. A regulagem de
seus mecanismos deve ser feita conforme a cultura a ser colhida.
Os principais elementos do mecanismo de corte são: separadores, molinete,
barra de corte e condutor. Contudo, ele se difere de acordo com a cultura a ser colhida.
O mecanismo de alimentação consiste em uma esteira que conduz o material para o
mecanismo de trilha, que por sua vez realiza a separação do grão de suas envolturas;
no mecanismo de separação há a discretização da semente e da palha e por fim tem-
se o mecanismo de limpeza, constituído por peneiras (SANTOS FILHO, 2001).

1.7.1 Classificação das Colhedoras

De acordo com Dallmeyer (2014), há três diferentes mecanismos de trilha no


mercado nacional, responsável por debulhar o grão, são eles: o sistema tangencial ou
convencional, o axial e o híbrido.
25

A Figura 8 representa o mecanismo de trilha tangencial, localizado após a


esteira transportadora. Seu primeiro componente é o cilindro de trilha, posicionado
transversalmente à máquina, é formado por barras ou hastes, sendo o responsável
por soltar o grão da palhada. Este material é guiado pelo côncavo até entrar em
contato com o cilindro batedor, responsável por diminuir a velocidade da cultura e
homogeneizar no saca-palhas, que utiliza movimentos rotativos alternados e a
gravidade para separar os dois produtos. Devido aos repetidos lançamentos e
colisões, este sistema tente a danificar mais os grãos (SANTOS, 2014).

Figura 8 - Fluxo da cultura em uma colhedora tangencial


Fonte: Adaptado de Santos (2014)

O sistema axial, indicado na Figura 9, é semelhante ao convencional, contudo


os componentes de trilho e separação se encontram no mesmo eixo que fica
posicionado longitudinalmente na máquina. Nesta disposição, o peso é melhor
distribuído, permitindo o trabalho em terrenos acidentados. A principal desvantagem
é que caso a palha ainda esteja verde, ou úmida, o coeficiente de atrito sofre um
aumento, acarretando uma perda de potência. Nestas situações é necessário diminuir
a velocidade de avanço para que a máquina não sofra com um desgaste excessivo
(HOHER 2011).

Figura 9 - Mecanismos de uma colhedora do tipo axial


Fonte: Adaptado de DEERE&COMPANY.l
26

Já o sistema híbrido, indicado na Figura 10, apresenta características de ambos


os sistemas, mencionados anteriormente. O Trilho é o mesmo utilizado no sistema
convencional, já o sistema de separação é o mecanismo encontrado no axial, que
utiliza a força centrífuga. Este sistema, indicado esquematicamente na Figura 9,
possibilita a colheita de grandes volumes em culturas onde o nível de umidade é muito
elevado, sua principal aplicação é na cultura do arroz (SANTOS, 2014).

Figura 10 - Representação de mecanismos de uma colhedora híbrida.


Fonte: Massey Ferguson (2015).
27

2 METODOLOGIA

O presente trabalho se enquadra em uma aplicação do procedimento técnico


de revisão sistemática da literatura (RSL). Esta técnica foi utilizada para identificar,
interpretar e avaliar trabalhos realizados dentro do âmbito em questão, buscando
reunir o conhecimento obtido em um único local (KIETCHENHAM; CHARTERS, 2007;
GREENHALGH, 1997). O modelo de RSL utilizado na estruturação do trabalho, foi o
proposto por Kietchenham e Charters (2007), que constitui nas seguintes etapas:
planejamento, condução e apresentação da revisão, indicadas na Figura 11.

Figura 11 - Etapas da Revisão Sistemática da Literatura


Fonte: Kietchenham e Charters (2007) apud Tessarini e Saltorato (2018)

A etapa do planejamento se iniciou na revisão bibliográfica, onde primeiramente


foram apresentados os temas que são importantes para o bom entendimento do
trabalho; iniciando na seção 1.3 com informações técnicas sobre o desgaste, onde foi
confirmada a necessidade de realizar os estudos com enfoque no agronegócio, e após
isso nas seções1.4, 1.5 e 1.6, onde foi realizada uma imersão nos tipos de máquinas
agrícolas, para contextualizar o leitor no assunto abordado.
A partir de então, se iniciou a segunda etapa da RSL, por meio de uma busca
por títulos e palavras-chave, para encontrar trabalhos relevantes na bibliografia. A
priori, foi utilizado o constructo “desgaste em máquinas agrícolas”, entretanto foram
poucos os resultados obtidos por esta pesquisa; como solução para isso, foi adotada
a estratégia de utilizar constructos mais específicos, como: “desgaste em adubadoras”
e “desgaste em colhedoras”, obtendo-se um número maior de resultados, com os
exatos assuntos de interesse.
28

Os artigos escolhidos foram avaliados quanto à qualidade metodológica e


quanto à qualidade da análise de resultados, expondo-se o que poderia ser feito de
maneira diferente, quando necessário.
A terceira etapa da RSL foi realizada a partir da seção 3, onde escolheu-se a
mesma metodologia de segmentação utilizada na revisão bibliográfica, dividindo os
trabalhos quanto ao tipo de máquina em análise. Primeiramente foram apresentados
os estudos realizados em máquinas preparadoras de solo, seguindo por adubadoras
e plantadoras, para finalmente apresentar as colhedoras.
Na seção 4 foi realizada uma discussão geral dos trabalhos apresentados, bem
como a ligação entre eles, mesmo quando a ferramenta em análise era oriunda de
máquinas diferentes.
Com base nos pontos levantados na etapa de discussão, realizou-se uma
conclusão do que se pode observar, ao concluir as pesquisas e análises dos
resultados obtidos por ela.
29

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS TRABALHOS

As ferramentas que promovem o cultivo do solo, por possuírem interface


direta com o mesmo durante a operação, estão entre as partes típicas de máquinas
agrícolas onde é observado um desgaste abrasivo intenso. Portanto, torna-se uma
necessidade a busca por meios que permitam uma melhor resistência abrasiva,
tomando-se o cuidado de que não diminua a resistência a impactos (BROZEK, 2012).
A seguir, serão apresentados os trabalhos que realizam o estudo das influências do
desgaste e buscam por essas alternativas.

3.1 MÁQUINAS DE PREPARO DO SOLO

3.1.1 Arados

Pérez (2010) avaliou o desgaste, perda de material, perda de forma e


resistência das lâminas de um arado rotativo, para isso ele realizou testes em campo
e em laboratório.
Os testes de campo foram realizados no Centro Agrícola Paysandú, onde o
solo é argiloso. Durante os experimentos, foi mantida uma velocidade de avanço de 2
km/h e uma profundidade de 120 mm, utilizando três velocidades de rotação diferentes
no arado: 141, 177 e 251 rpm.
Já os testes de laboratório consistiram em determinar a resistência ao
desgaste das lâminas por meio de uma máquina de rodas de borracha e areia,
confeccionada para atender à norma ASTM G65, a fim de se ter uma base de
comparação para testes de campo. Foi utilizada uma rotação de 200 rpm e um fluxo
de 300 g/min de sílica entre 212 e 300 µm.
Além disso, foram usadas microscopia óptica, microscopia eletrônica de
varredura e espectrometria de raios X antes e após os testes de campo, para analisar
o desgaste.
O autor verificou que a perda de massa foi semelhante para as três
velocidades de rotação durante um mesmo período de tempo trabalhado, estando
dentro de uma faixa destacada no Gráfico 2 (A). Contudo, ao observar a perda de
30

massa por revolução, notou-se que para baixas velocidades a taxa de desgaste
aumentou exponencialmente, enquanto que para média e alta esse incremento foi
linear, como indicado no Gráfico 2 (B).

Gráfico 2 - Perda de massa em função do tempo (A) e em função do número de revoluções (B),
para rotações de 141, 171 e 201 rpm
Fonte: Adaptado de Pérez (2010)

A hipótese levantada, foi de que a baixa rotação gera tendência a um desgaste


abrasivo entre dois corpos, pois a energia cinética transferida para o solo é menor; já
em médias e altas velocidades há mais desagregação do solo, promovendo uma
predominância pelo desgaste entre três corpos, desta forma, baseado no trabalho de
Zum Gahr (1987), o desgaste tende a ser menor.
De acordo com o próprio autor, faltou realizar o estudo das condições do solo
antes e após os testes realizados, pois a análise da redução da resistência à
penetração para cada uma das velocidades pode validar a hipótese levantada.
González (2007) realizou um estudo para verificar o grau de desgaste
causado pelo solo em três tipos diferentes de arados rotativos: grade e enxadas (de
trator e de motor próprio), como indicado na Figura 12. Para isso foram realizados
experimentos em laboratório e em campo, no Centro Agrícola de Cotové, onde o solo
possui características argilosas. Nos testes foram utilizadas as pás comerciais de aço
AISI 15B30, caracterizando sua microestrutura, dureza, superfície de trabalho e
massa, antes e após os testes.

Figura 12 - Diferentes tipos de arados rotativos utilizados no estudo: (A) Grade (B) Enxada
Rotativa de Trator (C) Enxada Rotativa de Motor Próprio
Fonte: Adaptado de González (2007)
31

Nos ensaios de laboratório foi utilizada a mesma máquina que Pérez (2010)
com areia de sílica apresentando granulometria AFS 50-70 para verificar o desgaste
das lâminas. Para limpar os corpos de prova foi utilizado banho ultrassônico e
secagem com ar quente. A avaliação do desgaste foi feita a partir da perda de massa
das amostras; levando em consideração o tempo de trabalho efetivo, visto que na
grade o contato com o solo é constante e nas enxadas é intermitente.
Os testes de campo indicaram um baixo nível de desgaste na enxada de motor
próprio quando comparados aos arados acoplados no trator, de acordo com o autor,
isso ocorre devido à profundidade de trabalho e nível de consumo de energia;
enquanto que no laboratório os valores obtidos foram semelhantes, o que era
esperado, já que os materiais eram os mesmos.
Os corpos de prova apresentaram deformação plástica na aresta de corte,
devido ao contato com o solo que possui características abrasivas, além disso
comprovou-se a característica dúctil do material, uma vez que não foram observadas
fraturas frágeis.
O autor concluiu que o teste conforme indica a norma ASTM G65 é bom para
caracterizar e determinar o material a ser utilizado, contudo ele não é representativo
para avaliar diferentes mecanismos, pois o modo de trabalho gera grande influência
no desgaste.
Aulin et al. (2016) avaliou o desgaste e o efeito da autoafiação em lâminas de
arados, para quatro diferentes tipos de acabamento superficial: tratamento térmico
volumétrico, tratamento térmico a laser, soldagem por indução e soldagem a laser. Os
estudos foram realizados no campo experimental e no laboratório da Universidade
Técnica Estadual de Kirovograd (Ucrânia).
O teste de laboratório foi utilizado para verificar o desgaste das lâminas de
aço 45, por meio da perda de massa. A Figura 13 ilustra o mecanismo do equipamento
utilizado.
32

Figura 13 - Diagrama do dispositivo para o ensaio de amostras da resistência ao desgaste


abrasivo: 1 - abrasivo; 2 - Amostra; 3 - Eixo; 4 - corpo; 5 - Arruela; 6 - Mancal; 7 – Capa
Fonte: Aulin et al. (2016)

Os resultados obtidos no laboratório após 100 h de experimento estão indicados


no Gráfico 3.

Gráfico 3 - Desgaste das amostras de aço 45 para diferentes acabamentos superficiais:


tratamento térmico volumétrico (TTV), tratamento térmico a laser (TTL), soldagem por indução
(SI) e soldagem a laser (SL)
Fonte: adaptado de Aulin et al. (2016)

Os testes de campo verificaram o efeito de autoafiação para os quatro tipos de


Gráfico 4 - Desgaste das amostras de aço 45 para diferentes acabamentos
acabamento, monitorando
superficiais: tratamento o raio volumétrico
térmico de curvatura(TTV),
da aresta de cortetérmico
tratamento a cada 5aha. O gráfico
laser (TTL),
soldagem
4 por induçãode
indica o coeficiente (SI) e soldagem
mudança a laser
de forma (SL) arestas.
destas
Fonte: adaptado de Aulin et al. (2016)
33

Gráfico 5 - Alteração do coeficiente de mudança de forma de acordo ao longo da operação


utilizando diferentes acabamentos superficiais: 1 - Tratamento térmico volumétrico, 2 -
Tratamento térmico a laser, 3 - Soldagem por indução, 4 - Soldagem a laser
Fonte:adaptado de Aulin et al. (2016)

O Gráfico 4 comprova o efeito de autoafiação, pois ao longo da operação, o


formato da lâmina vai se aproximando das condições iniciais, para os quatro
acabamentos, ou seja, o raio de curvatura da aresta de corte diminui.
Ao final dos testes, constatou-se que o acabamento que apresentou melhores
resultados, em ambos os experimentos, foi por soldagem a laser. O acabamento por
soldagem a indução apresentou desgastes muito semelhantes ao tratamento térmico
a laser, contudo o por soldagem apresentou uma recuperação maior da sua forma ao
longo do trabalho no campo. Já o tratamento térmico volumétrico apresentou os piores
resultados em ambos os experimentos.

3.1.2 Escarificadores

Sverzut et al. (2007) comparou o desgaste das 5 ponteiras de um escarificador


em tipos diferentes de solo, um destinado a plantações e outro utilizado para
pastagens. Para quantificar o desgaste, ele utilizou a variação da massa das
ponteiras, que também foram caracterizadas quanto às propriedades mecânicas,
onde foi constatado um alto nível de tenacidade.
34

Após os testes, foi verificado que na área de pastagem o desgaste abrasivo


se apresentou mais intenso do que nas áreas de cultivo, o que pode ser explicado
pela compactação do solo ocasionada pelos animais.
O autor também concluiu que o material utilizado nas ponteiras é mais
eficiente para evitar fraturas ocasionadas por impacto contra possíveis objetos rígidos
encontrados no solo, como pedras, por exemplo, mas é pouco eficaz do ponto de vista
de resistência á abrasão. Foi verificado também que a posição das ponteiras no
escarificador não influencia na perda de massa, resultando em um desgaste uniforme.
BOLZANI, ATÍLIO et al. (2007) avaliou o desgaste ocorrido nas ponteiras de
um escarificador no Instituto de Zootecnia de Nova Odessa, localizado no estado de
São Paulo. O experimento ocorreu em duas áreas, com 19 e 11,5 ha; entretanto a
área menor apresentava um solo com características mais grosseiras.
Essa caracterização foi verificada após analisar a porosidade, densidade e
granulometria do solo; as amostras foram coletadas a 150-250 mm de profundidade,
equivalente à operação do escarificador. Este estudo foi realizado de acordo com a
metodologia descrita pela EMBRAPA (1997) no Laboratório de Solos da
FEAGRI/UNICAMP
Foi determinada uma taxa de desgaste em g/ha para comparações
estatísticas de variância, por meio do teste de média de Tukey a 5%. Os corpos de
prova foram caracterizados por perda de massa, metalografia, análise de tração e
dureza.
As análises realizadas em laboratório indicaram que o material é um aço
manganês, apresentando uma dureza uniforme ao longo da aresta de corte e boas
características mecânicas (material com alta tenacidade). Essas características
tornam este material adequado para a sua função, pois apresenta boa resistência à
abrasão e a possíveis impactos contra objetos estranhos, como pedras, por exemplo.
O autor observou que mesmo a segunda área sendo menor, a perda de
massa foi mais intensa, na primeira área foi observado um déficit de 7,6%, enquanto
na segunda o número foi 9,5%. Isso indica o alto grau de influência do tipo de solo no
desgaste das ponteiras. Também é afirmado que o desgaste foi elevado, já que houve
alteração significativa na forma da ferramenta, como indicado na Figura 14.
35

Figura 14 - Vista posterior de uma ponteira inicialmente (A), após a primeira área (B) e após a
segunda área (C)
Fonte: BOLZANI, ATÍLIO et al. (2007)

Como sugestão ao trabalho realizado, poderiam ter sido utilizadas ponteiras


novas na segunda área, para comparar o desgaste a partir das mesmas condições
iniciais. Como o estudo foi realizado com as mesmas ferramentas, no início da
segunda área a forma da ponteira já estava alterada, conforme indica a Figura 14 (B),
o que pode ter intensificado o processo de desgaste.

3.2 ADUBADORAS

3.2.1 Adubadoras por Precipitação

Zuffo e da Silva (2017) verificaram o desgaste dos implementos rotativos do


mecanismo de lançamento das adubadoras. De acordo com os autores, estes
mecanismos ficam em contato direto com os fertilizantes que apresentam
características abrasivas. No trabalho, foram avaliados dois tipos de fertilizantes
(adubo e calcário) para três diferentes materiais de palheta (convencional, revestida
com solda dura e aço inoxidável). O desgaste foi avaliado de acordo com a perda de
massa e alteração das dimensões das palhetas, fazendo o uso de um paquímetro. A
Figura 15 ilustra as o mecanismo utilizado no experimento.
36

Figura 15 - ilustração indicando os mecanismos do implemento agrícola de lanço


Fonte: Adaptado de Jan Implementos (2008)

Os autores constataram que as palhetas revestidas por solda dura


apresentaram um desempenho ligeiramente menor do que as originais, entretanto as
de inox se destacaram nas análises, apresentando pequenas variações de massa e
nenhuma variação de espessura. A Figura 16 ilustra as palhetas utilizadas nos testes,
nela é possível observar o revestimento duro por cordão de solda na região mais
afetada pelo desgaste.

Figura 16 - Palhetas em estudo de diferentes materiais: aço inoxidável, revestida com solda e
original 1020, respectivamente
Fonte: adaptado de Zuffo e da Silva (2017)

Foi observado também que as palhetas de inox são consideravelmente mais


resistentes ao adubo do que ao calcário, fator que não é observado nos outros
materiais, pois o desgaste é semelhante, independente do fertilizante.
Apesar de ser observado maior desgaste na palheta revestida por solda, o
autor não destacou o local onde isso ocorreu. Caso a perda de massa observada seja
referente ao cordão de solda, a prática faz sentido, por preservar o material base da
ferramenta, aumentando a sua durabilidade.
37

3.2.2 Semeadora-Adubadora por Depósito

Ferreira (2008) analisou uma alternativa técnica para aumentar a vida útil, por
meio da diminuição do desgaste, das hastes sulcadoras contidas em semeadoras-
adubadoras. Para isso, foi proposta uma adição de soldagem em locais estratégicos.
O autor realizou procedimentos laboratoriais padronizados, afim de
caracterizar o solo da região onde foi feito o experimento, analisando textura, teor de
água e densidade. Chegou-se à conclusão de que o solo é franco-arenoso altamente
compactado.
Para as ponteiras, foram utilizados cinco revestimentos duros, variando a
direção do cordão de solda, além do original. Para a solda, foram utilizadas diferentes
combinações de dois tipos de eletrodo revestido e um arame tubular. A Figura 17
indica os seis tipos de ponteira utilizados.

Figura 17 - Diferentes revestimentos aplicados nas ponteiras, conjuntos 1, 2, 3, 4, 5 e 6


respectivamente
Fonte: Ferreira (2008)

O conjunto 1 foi soldado com o uma camada do eletrodo revestido A (2,50 mm


de aço contendo 28,20% de Cr, 0,01% de Mo, 10,30% de Ni, 0,84% de Si, 0,78% de
Mn e 0,04% de C), seguido de um passe do eletrodo revestido B (3,25 mm, de aço
contendo 30,00% de Cr, 3,68% de C, 1,75% de Si, 0,18% de Mn, e dureza de 60 HRC)
O conjunto 2 foi revestido com uma camada de solda do eletrodo A, seguido
por passes transversais do eletrodo B, enquanto que o conjunto 3 foi revestido com
dois passes do eletrodo B.
O conjunto 4 foi coberto por uma camada de solda de arame tubular (2,40 mm
de diâmetro, de aço contendo 23,50% de Cr, 3,68% de C, 1,95% de Si, 1,30% de Mn,
apresentando uma dureza de 57 HRC).
38

O conjunto 5 foi soldado da mesma maneira que o conjunto 2, contudo utilizou-


se somente o eletrodo B para as duas operações. Já o conjunto 6 não foi utilizado
nenhum tipo de revestimento.
O autor também realizou um estudo de custos, incluindo mão de obra, para
avaliar qual dos revestimentos apresenta melhor rentabilidade.
Ao final do estudo, foi verificado que a ponteira revestida com solda de arame
tubular é a que sofreu menos desgaste, contudo a que apresentou melhor custo e
benefício foram as revestidas com o eletrodo B. Também foi verificado que os
conjuntos 3 e 5 sofreram estatisticamente os mesmos desgastes, ou seja, a direção
do cordão de solda não interferiu no desgaste.
Machado et al. (2009) propôs uma maneira diferente para verificar o desgaste
de implementos agrícolas que trabalham em contato com o solo, geralmente feito por
meio do monitoramento da perda de massa. Para isso, foi avaliada uma nova
metodologia baseada em fotografia digital, possibilitando a verificação rápida e precisa
do desgaste, por meio da alteração da forma.
O estudo foi realizado em com ponteiras de hastes sulcadoras de adubo
confeccionadas em aço SAE 1060 forjado, trabalhando com 12 cm de profundidade.
As amostras foram analisadas a cada 5.000 m de uso, avaliando as vistas frontal e
lateral, além da pesagem para embasar o estudo. As fotografias foram utilizadas para
a confecção do desenho em CAD (computer aided design), onde foi calculada a
variação da geometria, por meio da redução das áreas frontal e lateral. O solo onde
foi realizado o experimento também foi caracterizado em relação à textura e
granulometria, se enquadrando como franco-arenoso. A Tabela 2 indica as perdas
percentuais médias de cada análise.

Tabela 2 - Evolução da perda percentual média


Etapa (m) Frontal (Fotográfico) Lateral (Fotográfico) Convencional (massa)
0 0 0 0
5.000 7,97 7,57 3,57
10.000 11,81 10,05 7,21
15.000 17,36 12 10,46
20.000 21,55 14,89 13,45
25.000 24,68 22,42 17,43
30.000 32,38 31,4 22,86
35.000 36,52 34,31 28,22
40.000 42,86 38,3 34,29
45.000 48,43 42,15 39,53
39

Etapa (m) Frontal (Fotográfico) Lateral (Fotográfico) Convencional (massa)


55.000 63,26 48,98 52,16
60.000 67,93 54,77 57,75
Fonte: Adaptado de Machado et al. (2009)

O autor afirma que a partir de 10.000 m os resultados dos métodos passa a


divergir, isso porque a fotografia considera apenas a parte da ferramenta ativa,
enquanto que a análise utilizando a massa se leva em conta a ferramenta como um
todo.
Foi verificado também que a análise da área lateral apresentou
inconsistências nos valores obtidos, mas esta possibilitou a análise da variação do
ângulo de ataque e consequentemente na qualidade da mobilização do solo. A Figura
18 mostra as fotografias das vistas frontal e lateral das ponteiras.

Figura 18 - Evolução do desgaste nas ponteiras a cada 30.000 m. A – Frontal, B – Lateral


Fonte: Machado et al. (2009)

O autor afirma que o método proposto é mais eficiente que o convencional,


por ser uma análise focada somente na porção ativa da ferramenta, trazer resultados
tanto quantitativos quanto qualitativos, possibilitar a identificação das áreas mais
afetadas pelo desgaste e apresentar agilidade na análise, visto que não é preciso
retirar as ferramentas da máquina, bastando colocar um gabarito com escala
milimétrica ao fundo da foto e o desenho no CAD é feito com a máquina em operação.

3.3 COLHEDORAS

Cassia, Marcelo Tufaile et al. (2014) avaliaram o desgaste das facas de


colhedoras e o reflexo disso na qualidade do corte da cana-de-açúcar. Para esta
40

análise, foi utilizada a colheita simultânea de dois talhões localizados em Guaratiba –


SP.
A colhedora utilizada continha dois discos com cinco facas retangulares de
aço SAE 9260 em cada um. O desgaste das facas foi quantificado pela perda de
massa em gramas, por hora de trabalho; enquanto que para qualidade do corte foram
considerados dois itens: os danos causados à cana, e a altura do corte. Os danos
foram classificados visualmente por um avaliador em: sem dano, danos periféricos e
danos fragmentados. Já a altura foi determinada por meio da distância do solo até o
ponto de ataque das facas na cana. A Tabela 3 apresenta a taxa de desgaste, a altura
de corte e a porcentagem dos tipos de dano, para cada face das lâminas.

Tabela 3 - Desgaste, altura de corte e danos para cada face de corte


Face de Taxa de Altura de --------------------------Tipo de Dano (%)--------------------------
Corte desgaste (g/h) corte (mm) Sem danos Danos periféricos Danos Fragmentados
A 3,96 33,4 26,01 39,04 34,95
B 2,84 40,6 20,25 54,13 25,62
C 3,19 42,7 13,52 50,95 35,52
D 4,04 34,5 24,07 36,16 39,76
Fonte: adaptado de Cassia, Marcelo Tufaile et al. (2014)

A Tabela 3 indica que as faces A e D sofreram um desgaste mais acentuado,


entretanto a coluna seguinte evidencia que a altura de corte não é influenciada por
este fator. Já os danos causados ocorreram predominantemente nas faces B e C, que
apresentaram menor desgaste.
Os autores concluíram que a altura de corte não depende do desgaste,
contudo não evidenciaram com clareza a correlação entre os tipos de danos com a
taxa de desgaste, possivelmente porque os resultados não foram os esperados. Isso
pode ter ocorrido devido à inconsistência na análise visual dos danos, que apresenta
caráter subjetivo, ou ao efeito de autoafiação estudado por Aulin et al. (2016). Para
comprovar esta hipótese, deveria ser feito um acompanhamento da evolução do raio
de curvatura das arestas de cortes ao longo do experimento.
41

4 DISCUSSÃO DOS TRABALHOS

No geral, a produção acadêmica no assunto abordado neste trabalho é


expressiva, isso pode ser explicado por o Brasil se tratar de um país com grande
produção agrícola, havendo um foco científico neste ramo, proveniente dos cursos de
agronomia e semelhantes.
Entretanto, na grande maioria dos trabalhos desenvolvidos, foi utilizada a
perda de massa das ferramentas para mensurar o desgaste. Esta análise se
apresenta inviável durante a operação das máquinas, pois é necessário retirar as
ferramentas, pesar, tomar a decisão se elas ainda estão em parâmetros aceitáveis,
para depois recolocar. Neste caso, a manutenção corretiva, que sempre deve ser
evitada, ainda seria a melhor opção.
Uma possível solução para este impasse, é utilizar a metodologia de desgaste
proposta por Machado et al. (2009), pois além de ser rápida, é mais fidedigna, por
analisar somente a área da ferramenta em que houve o desgaste.
Outro assunto amplamente discutido pelos pesquisadores, foram os diversos
parâmetros que influenciam no desgaste das ferramentas. Pérez (2010) avaliou o
impacto ocasionado por diferentes configurações operacionais das máquinas,
determinando qual a velocidade de giro ideal do rotor buscando manter a qualidade
do processo e minimizar os efeitos do desgaste.
Contudo, Pérez (2010) não avaliou as características do solo, fator discutido
no trabalho de BOLZANI, ATÍLIO et al. (2007), onde foi constatado que a composição
do solo pode interferir mais do que a área trabalhada, devido ao alto índice de
arenosidade observado; Já Sverzut et al. (2007) fez um estudo para analisar a
influência da compactação das superfícies, comparando a escarificação em uma área
de plantio com outra em pastagem, onde foi verificado um desgaste mais intenso.
BOLZANI, ATÍLIO et al. (2007) e Sverzut et al. (2007) também destacaram a
importância das características mecânicas dos materiais utilizados na fabricação das
ferramentas, pois durante a operação a máquina está suscetível a possíveis impactos
com pedras, portanto deve apresentar uma alta tenacidade, o que foi observado.
Contudo, após os ensaios foram verificadas diferenças significativas no formato das
ferramentas, devido ao desgaste que as inutilizou, isso destaca a ineficiência da
resistência à abrasão dos materiais.
42

Para amenizar tal fator e aumentar a vida útil das ferramentas, Ferreira (2008)
propôs utilizar diferentes configurações de revestimentos de solda nas hastes
sulcadoras de uma semeadora. Em seu estudo, foi realizada uma análise de custo e
benefício, onde foi verificado que o eletrodo revestido B apresentou bons resultados
e um custo baixo, sendo o ideal para a aplicação, dentre as opções em questão. Foi
verificado também que a direção dos cordões de solda não interfere no desgaste.
Os estudos realizados nas máquinas de colheita, realizados por Cassia,
Marcelo Tufaile et al. (2014), foram focados na qualidade do corte da cana-de-açúcar.
Os autores destacaram que todas as amostras estavam dentro dos parâmetros
aceitáveis e que a altura de corte não varia com o desgaste. Contudo, as ferramentas
que apresentaram maior desgaste geraram menos danos à cana-de-açúcar colhida e
os autores não evidenciaram tal peculiaridade.
A questão anterior pode ser explicada pelo efeito de autoafiação, que foi o
foco do estudo realizado Aulin et al. (2016). O autor fez o acompanhamento do raio
de curvatura das arestas de corte em diferentes níveis de desgaste, para diferentes
acabamentos superficiais. Foi constatado que o desgaste ocorreu de tal forma, que a
aresta de corte apresentou uma recuperação do coeficiente de mudança de forma, ou
seja, a lâmina foi afiada pelo próprio processo. Essa recuperação foi mais acentuada
para o acabamento superficial de soldagem por indução, contudo o melhor
desempenho foi o acabamento por soldagem a laser, pois ele apresentou uma queda
menor do coeficiente de mudança de forma e ao final do estudo, o raio de curvatura
estava mais próximo do inicial.
Apesar da grande produção acadêmica em análises das ferramentas que
estão em contato direto com o solo ou com a matéria prima, no caso das colhedoras,
há pouquíssimo estudo em cima das máquinas que realizam adubação a lanço, área
que pode ser explorada futuramente. O único trabalho encontrado foi o desenvolvido
por Zuffo e da Silva (2017), onde foi verificado que caso seja utilizado um material
diferente nas palhetas, sua vida útil pode ser incrementada e que diferentes tipos de
fertilizantes podem gerar diferentes níveis de desgaste.
43

5 CONCLUSÃO

Devido à importância que a agricultura tem frente à economia nacional, há


uma produção acadêmica bastante expressiva. Entretanto, por não ser um uma forma
de desgaste clássico, apresentar menor intensidade e não ter contato com o solo, há
pouco material com o foco em adubadoras a lanço, podendo este ser alvo de próximos
estudos.
Estão sendo desenvolvidas novas alternativas para acompanhamento de
desgaste, visto que a forma clássica de quantizar é inviável durante a operação no
campo. A metodologia de acompanhamento por fotografia digital apresenta de
maneira ágil, uma análise tanto quantitativa como qualitativa, sendo ideal para
pesquisas e manutenção preditiva, visto que pode ser realizada com a máquina em
operação.
Vários parâmetros interferem na intensidade do desgaste (tipo de máquina,
carga aplicada, configurações operacionais e composição do solo), contudo existem
algumas formas de retardar este efeito. Outra possibilidade é utilizar o desgaste em
favor da ferramenta, pois estudos recentes comprovaram que o desgaste pode
recuperar o fio de corte das ferramentas ao longo de sua utilização.
A constante produção acadêmica na área indica a relevância do assunto
abordado. A tendência é o desenvolvimento de ligas específicas para cada tipo de
solo/aplicação no campo, de modo a aumentar a vida útil da ferramenta, a partir de
análises realizadas durante utilização, aumentando também a produtividade agrícola.
44

REFERÊNCIAS

AGEITEC – Preparo do Solo e do Plantio. Disponível em <


https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/arroz/arvore/CONT000fq6x5lxh02wyiv
80bhgp5ps6ra6re.html> Acessado em 07 de outubro de 2019.

ALBERTIN E. Desgaste abrasivo – Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São


Paulo. In: 58° Congresso Anual da ABM: Rio de Janeiro: ABM, 2003.

ASTM – American Standart for Testing Materials. G40-01 – Standard Terminilogy


Relating to Wear and Erosion. Annual Book of Standards Volume 03.02: Wear and
Erosion; Metal Corrosion. Philadelphia, USA, 2001.

AULIN, Victor et al. Improving of the wear resistance of working parts agricultural
machinery by the implementation of the effect of self-sharpening. 2016.

BALASTREIRE, L. A. Máquinas Agrícolas. Ed. Manole: São Paulo, 1987. Cap. 8.

BALDAN. Disponível em <https://www.baldan.com.br/conteudo/ceh-cultivador-


escarificador-hidraulico.html>. Acessado dia 16 de dezembro de 2019.

BAYER, Raymond G; Mechanical Wear: Fundamentals and Testing. Marcel Dekker:


New York, 395 p., 2004.

BLAU, J. P. (1995). Friction, Lubrication and Wear Technology. ASM Handbook.


v.18, p. 20.

BOLZANI, ATÍLIO et al. DESGASTE DE PONTEIRAS DE UM ESCARIFICADOR


PELA ABRASÃO DO SOLO/CHISEL PLOW TOOLS CONSUMING BY THE SOIL
ABRASION. Revista Brasileira de Engenharia de Biossistemas, v. 1, n. 3, p. 271-
276, 2007.

BROZEK, Milan et al. Wear resistance of multi-layer overlays. In: 11th International
Scientific Conference: Engineering for rural development, Jelgava, Latvia, 24-25
May, 2012. Latvia University of Agriculture, 2012. p. 210-215.
45

BUCKLEY, Donald H; Surface Effects in Adhesion, Friction and Lubrification.


Elsevier: Amsterdam, 623 p., 1981.

CASSIAI, Marcelo Tufaile et al. Desgaste das facas do corte basal na qualidade da
colheita mecanizada de cana-de-açúcar. Ciência Rural, v. 44, n. 6, p. 987-993, 2014.

CHALLENGER. TRACK TRACTOR Senior Specialist 2005.

CORAZZA, Gentil; MARTINELLI JÚNIOR, Orlando. Agricultura e questão agrária na


história do pensamento econômico. Revista Teoria e Evidencia Econômica, 2002.

DE CASTRO, Cristóvão Américo Ferreira; MARANHO, Ossimar; DA SILVA, Carlos


Henrique. resistência ao desgaste abrasivo das sapatas de trator de esteira após
processos de recuperação. 2010.

DEERE&COMPANY. Disponível em
<http://salesmanual.deere.com/sales/salesmanual/images/BR/pt/combines_headers/
combines/9070sts_threshing_13.jpg> Acessado em 02 de outubro de 2019.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Notícias.


2017. Disponível em: <https://www.embrapa.br/noticias>. Acessado em: 30 de
setembro de 2018.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Máquinas


para adubação e semeadura (Plantabilidade). Disponível em:
<file:///C:/Users/cs316455/AppData/Local/Packages/Microsoft.MicrosoftEdge_8weky
b3d8bbwe/TempState/Downloads/Máquinas%20para%20adubação%20e%20semea
dura%20(Plantabilidade)%20-%20Osmar%20Conte%20(1).pdf>. Acessado em 02
de outubro de 2019.

FERREIRA, Mauro Fernando; DOS REIS, Ângelo Vieira; MACHADO, Antônio Lilles
Tavares. Utilização de revestimento soldado para o aumento da vida útil de
sulcadores em semeadoras adubadoras. Revista Brasileira de Engenharia e
Sustentabilidade, v. 2, n. 2, p. 39-44, 2016.

GONZÁLEZ, Hugo et al. Resistencia al desgaste de cuchillas de arados rotativos en


operación en suelos tropicales. Scientia et technica, v. 13, n. 36, p. 479-484, 2007.
46

GOODMAN, D. & REDCLIFT, M. (1991). Refashioning nature: food, ecology and


culture. Londres: Routledge.

HOHER, Junior Alberto, Design de uma peneira rotativa para colhedora de


grãos,2011. 134f. Dissertação (mestrado) Universidade do Rio Grande do Sul,
Escola de Engenharia, Porto Alegre, 2011.

JAN IMPLEMENTOS. Catalogo JAN: lancer 12000. 1, 2008. Disponível em:


<http://www.jan.com.br/web/files/files/47.pdf>. Acesso em: 02 nov. 2019.

TESSARINI, Geraldo; SALTORATO, Patrícia. Impactos da indústria 4.0 na


organização do trabalho: uma revisão sistemática da literatura. Revista Produção
Online, v. 18, n. 2, p. 743-769, 2018.

KONIG, R.G.; OLIVEIRA,C.A.S.; GILAPA,L.C.Mª. Estudo do efeito de revestimentos


na resistência ao desgaste em matrizes de corte para a conformação a crio de
elementos de fixação. In: CONGRESSO IBEROAMERICANO DE ENGENHARIA
MECÂNICA,8. 2007.Cusco, Peru. Anais eletrônicos...

MACHADO, A. L. T.; REIS, A. V.; MORAES, M. L. B.; ALONÇO, A. S. Máquinas para


preparo do solo, semeadura, adubação e tratamentos culturais. Pelotas: UFPel,
1996.

MACHADO, A.L.T. et al. Metodologia para avaliação do desgaste em ferramentas


simétricas de mobilização do solo. R. Bras. Eng. Agríc. Ambiental, v. 13, n. 5, p. 645-
650, 2009.

MASSEY FERGUSON. Catálogo de produtos. 2015. Disponível em:


<http://www.masseyferguson.com.br/>. Acessado em: 02 de outubro de 2019.

MEC-RUL. Disponível em<https://mec-rul.com.br/produtos/subsolador/subsolador-


49>. Acessado dia 16 de dezembro de 2019.

MF RURAL. Disponível em <https://www.mfrural.com.br/detalhe/arado-de-aiveca-


311704.aspx>. Acessado dia 16 de dezembro de 2019.

MORAES, Luiz Brenner et al. Ed única. Editora universitária UFPEL, p.33, 1996.
47

MUNDO MECÂNICO. Mecanismos de desgaste dos metais. 2017. Disponível em:


<http://mundomecanico.com.br/mecanismos-de-desgaste-dos-metais/>. Acessado
em: 02 de outubro 2019.

PÉREZ, WILMER; GONZÁLEZ, HUGO; TORO, ALEJANDRO. Desgaste abrasivo de


cuchillas de arado rotativo en un suelo franco arenoso. Dyna, v. 77, n. 162, p. 105-
114, 2010.

PORTELLA, J. A. (1993). A mecanização agrícola no Brasil. Passo Fundo:


EMBRAPA-CNPT. Trabalho apresentado no Seminario Latinoamericano de
Mecanizacion de la Agricultura Sostenible, Quito, Equador, 1993.

PRETTY, J. N. (1995). Regenerating agriculture: policies and practice for


sustainability and self-reliance. Londres: Earthscan.

SANTOS, C. G. dos; DALLMEYER, A. U. Colhedoras: Diferentes Sistemas de Trilha


e Separação. Revista a Granja. Porto Alegre, v. 792, p. 40-42, 2014.

SANTOS, J. de V.; BATISTA, P. B.; KIECKOW, F.. Avaliação do desgaste do


polietileno uhmw em meio abrasivo de arroz em casca. Cuiabá: Cbecimat, 2014.

SANTOS FILHO, A. G, DOS SANTOS, J. E. G. G.. Apostila de máquinas agrícolas –


UNESP. Bauru/SP, 2001.

SILVEIRA, G. M. As máquinas de plantar: aplicadoras, distribuidoras, semeadoras,


plantadoras, cultivadoras. Rio de Janeiro: Globo, 1989.

SIQUEIRA, R. Milho: semeadoras-adubadoras para sistema de plantio direto com


qualidade. XXVII Congresso Nacional de Milho e Sorgo. Londrina-PR, setembro de
2008.

STACHOWIAK G.B.;Stachowiak G.W. The Effects of Particle Characteristics on


Three-body Abrasive Wear. Elsevier Science B.V. v.249, p. 201-207, 2001.

STACHOWIAK, Gwidon W.; Batchelor, Andrew W. Engineering Tribology. 3.ed.


ButterworthHeinemann: Boston, 832 p., 2005.
48

STETTER, J. (1993). “Trends in the future development of pest and weed control: a
industrial point view.” Regulatory Toxicology and Pharmacology 17(3): 346-370.

STOETERAU. R. L. Tribologia – EMC 5315 – Universidade Federal De Santa


Catarina, 2004.

TEIXEIRA, Jodenir Calixto. Modernização da agricultura no Brasil: impactos


econômicos, sociais e ambientais. Revista Eletrônica AGB-TL, v. 1, n. 2, p. 21-42,
2005.

VILLABÓN. L.R.; SINATORA, A. Construção e instrumentação de abrasômetro do


tipo roda-de-borracha para o estudo do comportamento tribológico de aços. APAET -
Mecânica Experimental - 2006, Vol. 13, Pag. 1-11.

VEIGA, José Eli. Metamorfoses da política agrícola dos Estados Unidos. São Paulo:
Annablume, 1994.

ZUFFO, Matheus David de Freitas ; DA SILVA, Edson Roberto. ESTUDO DO


DESGASTE EM COMPONENTES DE IMPLEMENTO AGRÍCOLA LANÇO, 2017.

ZUM GAHR, K.H., Microstructure and wear of materials, Elsevier, Amsterdam, 80 -


350, 1987.

Você também pode gostar