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JECA TATU - A HISTÓRIA

MONTEIRO LOBATO

JECA TATU ERA UM POBRE CABOCLO QUE MORAVA NO MATO,


NUMACASINHA DE SAPÉ. VIVIA NA MAIOR POBREZA, EM
COMPANHIA DA MULHER, MUITO MAGRA E FEIA E DE VÁRIOS
FILHINHOS PÁLIDOS E TRISTES.

JECA TATU PASSAVA OS DIAS DE CÓCORAS, PITANDO


ENORMES CIGARRÕES DE PALHA, SEM ÂNIMO DE FAZER
COISA NENHUMA. IA AO MATO CAÇAR, TIRAR PALMITOS,
CORTAR CACHOS DE BREJAÚVA, MAS NÃOTINHA IDÉIA DE
PLANTAR UM PÉ DE COUVE ATRAS DA CASA. PERTO UM
RIBEIRÃO, ONDE ELE PESCAVA DE VEZ EM QUANDO UNS
LAMBARIS E UM OU OUTRO BAGRE. E ASSIM IA VIVENDO.

DAVA PENA VER A MISÉRIA DO CASEBRE. NEM MÓVEIS NEM


ROUPAS,NEM NADA QUE SIGNIFICASSE COMODIDADE. UM
BANQUINHO DE TRÊS
PERNAS, UMAS PENEIRAS FURADAS, A ESPINGARDINHA DE CARREGAR PELA BOCA,
MUITO ORDINÁRIA, E SÓ.

TODOS QUE PASSAVAM POR ALI MURMURAVAM:

QUE GRANDÍSSIMO PREGUIÇOSO!

JECA TATU ERA TÃO FRACO QUE QUANDO IA LENHAR


VINHA COMUM FEIXINHO QUE PARECIA

BRINCADEIRA. E VINHA ARCADO, COMO SE


ESTIVESSE CARREGANDO UM ENORME PESO.

POR QUE NÃO TRAZ DE UMA VEZ UM FEIXE


GRANDE?PERGUNTARAM-LHE UM DIA.
JECA TATU COÇOU A BARBICHA RALA E RESPONDEU:

NÃO PAGA A PENA.


TUDO PARA ELE NÃO PAGAVA A PENA. NÃO PAGAVA A PENA CONSERTAR A CASA, NEM
FAZER UMAHORTA, NEM PLANTAR ARVORES DE FRUTA, NEM REMENDAR A ROUPA.

SÓ PAGAVA A PENA BEBER PINGA.

POR QUE VOCÊ BEBE, JECA?


DIZIAM-LHE.BEBO PARA ESQUECER.
ESQUECER O QUÊ?
ESQUECER AS DESGRAÇAS DA
VIDA.E OS PASSANTES
MURMURAVAM:
ALÉM DE VADIO, BÊBADO...

JECA POSSUÍA MUITOS ALQUEIRES DE TERRA, MAS NÃO SABIA APROVEITÁ-LA. PLANTAVA
TODOS OS ANOS UMA ROCINHA DE MILHO, OUTRA DE FEIJÃO, UNS PÉS DE ABÓBORA E
MAIS NADA. CRIAVA EM REDOR DA
CASA UM OU OUTRO PORQUINHO E MEIA DÚZIA DE GALINHAS. MAS O PORCO E AS AVES
QUE CAVASSEMA VIDA, PORQUE JECA NÃO LHES DAVA O QUE COMER. POR ESSE MOTIVO
O PORQUINHO NUNCA ENGORDAVA, E AS GALINHAS PUNHAM POUCOS OVOS.
JECA POSSUÍA AINDA UM CACHORRO, O BRINQUINHO, MAGRO E SARNENTO, MAS BOM
COMPANHEIRO ELEAL AMIGO.
BRINQUINHO VIVIA CHEIO DE BERNES NO LOMBO E MUITO SOFRIA COM ISSO. POIS
APESAR DOS GANIDOSDO CACHORRO, JECA NÃO SE LEMBRAVA DE LHE TIRAR OS BERNES.
POR QUE? DESÂNIMO, PREGUIÇA...
AS PESSOAS QUE VIAM AQUILO FRANZIAM O NARIZ.
QUE CRIATURA IMPRESTÁVEL! NÃO SERVE NEM PARA TIRAR BERNE DE CACHORRO...
JECA SÓ QUERIA BEBER PINGA E ESPICHAR-SE AO SOL NO TERREIRO. ALI
FICAVA HORAS, COMO CACHORRINHO RENTE; COCHILANDO. A VIDA QUE
RODASSE, O
MATO QUE CRESCESSE NA ROÇA, A CASA QUE
CAÍSSE. JECA NÃO QUERIA SABER DE NADA.
TRABALHAR NÃO ERA COM ELE.
PERTO MORAVA UM ITALIANO JÁ BASTANTE
ARRANJADO, MAS QUE AINDA ASSIM TRABALHAVA O
DIA INTEIRO. POR QUE JECA NÃO FAZIA O MESMO?

QUANDO LHE PERGUNTAVAM ISSO, ELE DIZIA:

NÃO PAGA A PENA PLANTAR. A FORMIGA COME TUDO.


MAS COMO É QUE O SEU VIZINHO ITALIANO NÃO TEM
FORMIGANO SÍTIO?
É QUE ELE MATA.
E PORQUE VOCÊ NÃO FAZ O MESMO?
JECA COÇAVA A CABEÇA, CUSPIA POR ENTRE OS DENTES E VINHA SEMPRE COM A MESMA
HISTÓRIA:

QUÁ! NÃO PAGA A PENA...


ALÉM DE PREGUIÇOSO, BÊBADO; E ALÉM DE BEBADO, IDIOTA, ERA O QUE TODOS DIZIAM.

UM DIA UM DOUTOR PORTOU LÁ POR CAUSA DA


CHUVA E ESPANTOU-SE DE TANTA MISÉRIA.
VENDO O CABOCLO TÃOAMARELO E CHUCRO,
RESOLVEU EXAMINÁ-LO.

AMIGO JECA, O QUE VOCÊ TEM É DOENÇA.

ESSA TAL MALEITA NÃO É A SEZÃO?


PODE SER. SINTO UMA CANSEIRA SEM FIM, E DOR DE
CABEÇA, E UMA PONTADA AQUI NO PEITO QUE
RESPONDE NA CACUNDA. ISSO MESMO. VOCÊ SOFRE
DE ANQUILOSTOMIASE.
ANQUI... O QUÊ?
SOFRE DE AMARELÃO, ENTENDE? UMA DOENÇA QUE
MUITOSCONFUNDEM COM A MALEITA.
ISSO MESMO. MALEITA, SEZÃO, FEBRE PALUSTRE OU FEBRE INTERMITENTE: TUDO É A
MESMA COISA, ESTÁ ENTENDENDO? A SEZÃO TAMBÉM PRODUZ ANEMIA, MOLEZA E ESSE
DESÂNIMO DO AMARELÃO; MAS É DIFERENTE. CONHECE-SE A MALEITA PELO ARREPIO, OU
CALAFRIO QUE DÁ, POIS É UMA FEBRE QUE VEM SEMPRE EM HORAS CERTAS E COM
MUITO SUOR. O QUE VOCÊ TEM É OUTRA COISA. É AMARELÃO.
O DOUTOR RECEITOU-SE O REMÉDIO ADEQUADO; DEPOIS DISSE: "E TRATE DE COMPRAR
UM PAR DE
BOTINAS E NUNCA MAIS ME ANDE DESCALÇO NEM BEBA PINGA, OUVIU?"
OUVI, SIM, SENHOR!
POIS É ISSO, REMATOU O DOUTOR, TOMANDO O CHAPÉU. A CHUVA PASSOU E VOU-ME
EMBORA. FAÇA OQUE MANDEI, QUE FICARÁ FORTE, RIJO E RICO COMO O ITALIANO. NA
SEMANA QUE VEM ESTAREI DE VOLTA.
ATÉ POR LÁ, SÊO DOUTOR!
JECA FICOU CISMANDO. NÃO ACREDITAVA MUITO NAS PALAVRAS DA CIÊNCIA, MAS
POR FIM RESOLVEU COMPRAR OS REMÉDIOS, E TAMBÉM UM PAR DE BOTINAS
RINGIDEIRAS.
NOS PRIMEIROS DIAS FOI UM HORROR. ELE ANDAVA PISANDO EM OVOS. MAS
ACOSTUMOU-SE, AFINAL...
QUANDO O DOUTOR REAPARECEU, JECA ESTAVA BEM MELHOR, GRAÇAS AO REMÉDIO
TOMADO. O DOUTORMOSTROU-LHE COM UMA LENTE O QUE TINHA SAÍDO DAS SUAS
TRIPAS.
VEJA, SÊO JECA, QUE BICHARIA TREMENDA ESTAVA SE CRIANDO NA SUA BARRIGA! SÃO
OS TAIS ANQUILOSTOMOS, UNS BICHINHOS DOS LUGARES ÚMIDOS, QUE ENTRAM PELOS
PÉS, VÃO VARANDO PELACARNE ADENTRO ATÉ ALCANÇAREM OS INTESTINOS. CHEGANDO
LÁ, GRUDAM-SE NAS TRIPAS E ESCANGALHAM COM O FREGUÊS. TOMANDO ESTE REMÉDIO
VOCÊ BOTA P'RA FORA TODOS OS ANQUILOSTOMOS QUE TEM NO CORPO. E ANDANDO
SEMPRE CALÇADO, NÃO DEIXA QUE ENTREM OS QUEESTÃO NA TERRA. ASSIM FICA LIVRE
DA DOENÇA PELO RESTO DA VIDA.
JECA ABRIU A BOCA, MARAVILHADO.
OS ANJOS DIGAM AMÉM, SÊO DOUTOR!
MAS JECA NÃO PODIA ACREDITAR NUMA COISA: QUE OS BICHINHOS ENTRASSEM
PELO PÉ. ELE ERA "POSITIVO" E DOS TAIS QUE "SÓ VENDO". O DOUTOR RESOLVEU
ABRIR-LHE OS OLHOS. LEVOU-O A UMLUGAR ÚMIDO, ATRÁS DA CASA, E DISSE:

TIRE A BOTINA E ANDE UM POUCO


POR AÍ.JECA OBEDECEU.

AGORA VENHA CÁ. SENTE-SE. BOTE O PÉ EM CIMA


DO JOELHO. ASSIM. AGORA EXAMINE A PELA COM
ESTA LENTE. JECA TOMOU A LENTE, OLHOU E
PERCEBEU VÁRIOS VERMES PEQUENINOS QUE JÁ
ESTAVAM PENETRANDO NA SUA PELE, ATRAVÉS DOS
POROS. O POBRE HOMEM ARREGALOU OS OLHOS
ASSOMBRADO.

E NÃO É QUE É MESMO? QUEM "HAVERA" DE


DIZER!... POIS É ISSO, SÊO JECA, E DAQUI POR
DIANTE NÃO DUVIDE MAIS DO QUE A CIÊNCIA
DISSER.
NUNCA MAIS! DAQUI POR DIANTE NHA CIÊNCIA ESTÁ
DIZENDOE JECA ESTÁ JURANDO EM CIMA!
T'ESCONJURO! E PINGA, ENTÃO, NEM P'RA
REMÉDIO...
TUDO O QUE O DOUTOR DISSE ACONTECEU DIREITINHO! TRÊS MESES DEPOIS NINGUÉM
MAIS CONHECIA OJECA.

A PREGUIÇA DESAPARECEU. QUANDO ELE AGARRAVA NO MACHADO, AS ARVORES


TREMIAM DE PAVOR.ERA PAN, PAN, PAN... HORAS SEGUIDAS, E OS MAIORES PAUS NÃO
TINHAM REMÉDIO SENÃO CAIR.
JECA, CHEIO DE CORAGEM, BOTOU ABAIXO UM CAPOEIRÃO PARA FAZER UMA ROÇA DE
TRÊS ALQUEIRES. EPLANTOU EUCALIPTOS NAS TERRAS QUE NÃO SE PRESTAVAM PARA
CULTURA. E CONSERTOU TODOS OS BURACOS DA CASA. E FEZ UM CHIQUEIRO PARA OS
PORCOS. E UM GALINHEIRO PARA AS AVES. O HOMEM
NÃO PARAVA, VIVIA A TRABALHAR COM FÚRIA QUE ESPANTOU ATÉ O SEU VIZINHO
ITALIANO.
DESCANSE UM POUCO, HOMEM! ASSIM VOCÊ ARREBENTA... DIZIAM OS PASSANTES.
QUERO GANHAR O TEMPO PERDIDO, RESPONDIA ELE SEM LARGAR DO MACHADO. QUERO
TIRAR A PROSADO "INTALIANO".
JECA, QUE ERA UM MEDROSO, VIROU VALENTE. NÃO TINHA MAIS MEDO DE NADA, NEM DE
ONÇA! UMA
VEZ, AO ENTRAR NO MATO, OUVIU UM MIADO
ESTRANHO.
ONÇA! EXCLAMOU ELE. É ONÇA E EU AQUI SEM
NEM UMAFACA!...
MAS NÃO PERDEU A CORAGEM. ESPEROU A ONÇA,
DE PÉ FIRME. QUANDO A FERA O ATACOU, ELE
FERROU-SE TAMANHOMURRO NA CARA, QUE A
BICHA ROLOU NO CHÃO, TONTA. JECA AVANÇOU DE
NOVO, AGARROU-A PELO PESCOÇO E
ESTRANGULOU-A
CONHECEU, PAPUDA? VOCÊ PENSA ENTÃO QUE ESTÁ
LIDANDOCOM ALGUM PINGUÇO OPILADO? FIQUE
SABENDO QUE TOMEI REMÉDIO DO BOM E USO
BOTINA RINGIDEIRA...
A COMPANHEIRA DA ONÇA, AO OUVIR TAIS
PALAVRAS, NÃOQUIS SABER DE HISTÓRIAS - AZULOU! DIZEM QUE ATÉ HOJE ESTÁ
CORRENDO...
ELE, QUE ANTIGAMENTE SÓ TRAZIA TRÊS PAUSINHOS, CARREGAVA AGORA CADA FEIXE
DE LENHA QUE METIA MEDO. E CARREGAVA-OS SORRINDO, COMO SE O ENORME PESO
NÃO PASSASSE DE BRINCADEIRA.
AMIGO JECA, VOCÊ ARREBENTA! DIZIAM-LHE. ONDE SE VIU CARREGAR TANTO PAU DE UMA
VEZ?
JÁ NÃO SOU AQUELE DE DANTES! ISTO PARA MIM AGORA É CANJA, RESPONDIA O
CABOCLO SORRINDO. QUANDO TEVE DE AUMENTAR A CASA, FOI A MESMA COISA.
DERRUBOU NO MATO GROSSAS PEROBAS,ATOROU-AS, LAVROU-AS E TROUXE NO
MUQUE PARA O TERREIRO AS TORAS TODAS. SOZINHO!
QUERO MOSTRAR A ESTA PAULAMA QUANTO VALE UM HOMEM QUE TOMOU REMÉDIO DE
NHA CIÊNCIA,QUE USA BOTINA CANTADEIRA E NÃO BEBE NEM UM SÓ MARTELINHO DE
CACHAÇA.
O ITALIANO VIA AQUILO E COÇAVA A CABEÇA.
SE EU NÃO TROPICAR DIREITO, ESTE DIABO ME PASSA NA FRENTE, PER BACCO!
DAVA GOSTO VER AS ROÇAS DO JECA. COMPROU ARADOS E BOIS, E NÃO PLANTAVA NADA
SEM PRIMEIROAFOFAR A TERRA. O RESULTADO FOI QUE OS MILHOS VINHAM LINDOS E O
FEIJÃO ERA UMA BELEZA.

O ITALIANO ABRIA A BOCA, ADMIRADO, E CONFESSAVA NUNCA TER VISTO ROÇAS ASSIM.
E JECA JÁ NÃO PLANTAVA ROCINHAS COMO ANTIGAMENTE. SÓ QUERIA SABER DE ROÇAS
GRANDES, CADAVEZ MAIORES, QUE FIZESSEM INVEJA NO BAIRRO.
E SE ALGUÉM LHE PERGUNTAVA:

MAS PARA QUE TANTA ROÇA, HOMEM? ELE RESPONDIA:


É QUE AGORA QUERO FICAR RICO. NÃO ME CONTENTO COM TRABALHAR PARA
VIVER. QUERO CULTIVARTODAS AS MINHAS TERRAS, E DEPOIS FORMAR AQUI UMA
ENORME FAZENDA. E HEI DE SER ATÉ CORONEL...
E NINGUÉM DUVIDAVA MAIS. O ITALIANO DIZIA:

E FORMA MESMO! E VIRA MESMO CORONEL! PER LA MADONNA!...

POR ESSE TEMPO O DOUTOR PASSOU POR LÁ E FICOU ADMIRADÍSSIMO DA


TRANSFORMAÇÃO DO SEU
DOENTE.
ESPERARA QUE ELE SARASSE, MAS NÃO CONTARA COM TAL MUDANÇA.
JECA O RECEBEU DE BRAÇOS ABERTOS E APRESENTOU-O À MULHER E AOS FILHOS.
OS MENINOS CRESCIAM VIÇOSOS, E VIVIAM BRINCANDO CONTENTES COMO PASSARINHOS.
E TODA GENTE ALI ANDAVA CALÇADA. O CABOCLO FICARA COM TANTA FÉ NO CALÇADO,
QUE METERABOTINAS ATÉ NOS PÉS DOS ANIMAIS CASEIROS!

GALINHAS, PATOS, PORCOS, TUDO DE SAPATINHO NOS PÉS! O GALO, ESSE ANDAVA DE

BOTA E ESPORA! ISSO TAMBÉM É DEMAIS, SÊO JECA, DISSE O DOUTOR. ISSO É CONTRA A

NATUREZA!
BEM SEI. MAS QUERO DAR UM EXEMPLO A ESTA CAIPIRADA BRONCA. ELES APARECEM POR
AQUI, VÊEM
ISSO E NÃO SE ESQUECEM MAIS DA HISTÓRIA.
EM POUCO TEMPO OS RESULTADOS FORAM MARAVILHOSOS. A PORCADA AUMENTOU DE
TAL MODO, QUE VINHA GENTE DE LONGE ADMIRAR AQUILO. JECA ADQUIRIU UM
CAMINHÃO FORD, E EM VEZ DE CONDUZIR OS PORCOS AO MERCADO PELO SISTEMA
ANTIGO, LEVAVA-OS DE AUTO, NUM INSTANTINHO, BUZINANDO PELA ESTRADA AFORA,
FON-FON! FON-FON!...

AS ESTRADAS ERAM PÉSSIMAS; MAS ELE


CONSERTOU-AS ÀSUA CUSTA. JECA PARECIA UM
DOIDO. SÓ PENSAVA EM MELHORAMENTOS,
PROGRESSOS, COISAS AMERICANAS.
APRENDEU LOGO A LER, ENCHEU A CASA DE LIVROS
E POR FIMTOMOU UM PROFESSOR DE INGLÊS.

QUERO FALAR A LÍNGUA DOS BIFES PARA IR


AOS ESTADOSUNIDOS VER COMO É LÁ A
COISA.
O SEU PROFESSOR DIZIA:
O JECA SÓ FALA INGLÊS AGORA. NÃO DIZ PORCO; É
PIG. NÃODIZ GALINHA! É HEN... MAS DE ÁLCOOL,
NADA. ANTES QUER
VER O DEMÔNIO DO QUE UM COPINHO DA "BRANCA"...
JECA SÓ FUMAVA CHARUTOS FABRICADOS ESPECIALMENTE PARA ELE, E SÓ CORRIA AS
ROÇAS MONTADOEM CAVALOS ÁRABES DE PURO SANGUE.

QUEM O VIU E QUEM O VÊ! NEM PARECE O MESMO. ESTÁ UM "ESTRANJA" LEGÍTIMO, ATÉ
NA FALA. NA SUA FAZENDA HAVIA DE TUDO. CAMPOS DE ALFAFA. POMARES BELÍSSIMOS
COM QUANTA FRUTA HÁNO MUNDO. ATÉ CRIAÇÃO DE BICHO DA SEDA; JECA FORMOU
UM AMOREIRAL QUE NÃO TINHA FIM.
QUERO QUE TUDO AQUI ANDE NA SEDA, MAS SEDA
FABRICADAEM CASA. ATÉ OS SACOS AQUI DA
FAZENDA TÊM QUE SER DE SEDA, PARA MOER OS
INVEJOSOS...
E NINGUÉM DUVIDAVA DE NADA.

O HOMEM É MÁGICO, DIZIAM OS VIZINHOS.


QUANDO ASSENTA DE FAZER UMA COISA, FAZ
MESMO, NEM QUE SEJAUM DESPROPÓSITO...

A FAZENDA DO JECA TORNOU-SE FAMOSA NO PAÍS


INTEIRO. TUDO ALI ERA POR MEIO DO RÁDIO E DA
ELETRICIDADE. JECA,
DE DENTRO DO SEU ESCRITÓRIO, TOCAVA NUM BOTÃO E O COCHO DO CHIQUEIRO SE
ENCHIA AUTOMATICAMENTE DE RAÇÕES MUITO BEM DOSADAS. TOCAVA OUTRO BOTÃO,
E UM REPUXO DE MILHOATRAIA TODO O GALINHAME...

SUAS ROÇAS ERAM LIGADAS POR TELEFONES. DA CADEIRA DE BALANÇO, NA VARANDA,


ELE DAVA ORDENSAOS FEITORES LÁ LONGE.

CHEGOU A MANDAR BUSCAR NO ESTADOS UNIDOS UM TELESCÓPIO.

QUERO AQUI DESTA VARANDA VER TUDO QUE SE PASSA EM MINHA FAZENDA.
E TANTO FEZ, QUE VIU. JECA INSTALOU OS APARELHOS E ASSIM PODE, DA SUA
VARANDA, COM O CHARUTÃO NA BOCA, NÃO SÓ FALAR POR MEIO DO RÁDIO PARA
QUALQUER PONTO DA FAZENDA, COMOAINDA VER, POR MEIO DO TELESCÓPIO, O QUE
OS CAMARADAS ESTAVAM FAZENDO.

FICOU RICO E ESTIMADO, COMO ERA NATURAL; MAS NÃO PAROU AÍ. RESOLVEU ENSINAR
O CAMINHO DASAÚDE AOS CAIPIRAS DAS REDONDEZAS. PARA ISSO MONTOU NA
FAZENDA E VILAS PRÓXIMAS VÁRIOS POSTOS DE MALEITA, ONDE TRATAVA OS ENFERMOS
DE SEZÕES; E TAMBÉM POSTOS DE ANQUILOSTOMOSE, ONDE CURAVA OS DOENTES DE
AMARELÃO E OUTRAS DOENÇAS CAUSADAS POR BICHINHOS NAS TRIPAS.

O SEU ENTUSIASMO ERA ENORME. "HEI DE


EMPREGAR TODA A MINHA FORTUNA NESTA OBRA DE
SAÚDE GERAL, DIZIA ELE. O MEU PATRIOTISMO É
ESTE. MINHA DIVISA: CURAR GENTE.
ABAIXO A BICHARIA QUE DEVORA O BRASILEIRO..."

E A CURAR GENTE DA ROÇA PASSOU JECA TODA A


SUA VIDA. QUANDO MORREU, AOS 89 ANOS, NÃO
TEVE ESTÁTUA, NEM GRANDES ELOGIOS NOS
JORNAIS. MAS NINGUÉM AINDA MORREU DE
CONSCIÊNCIA TRANQÜILA. HAVIA CUMPRIDO O SEU
DEVER ATÉ O FIM.

MENINOS: NUNCA SE ESQUEÇAM DESTA HISTÓRIA; E,


QUANDOCRESCEREM, TRATEM DE IMITAR O JECA. SE FOREM FAZENDEIROS, PROCUREM
CURAR OS CAMARADAS DA FAZENDA. ALÉM DE SER PARA ELES UM GRANDE BENEFÍCIO, É
PARA VOCÊ UM ALTO NEGÓCIO. VOCÊ VERÁ
O TRABALHO DESSA GENTE PRODUZIR TRÊS VEZES MAIS.

UM PAÍS NÃO VALE PELO TAMANHO, NEM PELA QUANTIDADE DE HABITANTES. VALE PELO
TRABALHO QUEREALIZA E PELA QUALIDADE DA SUA GENTE. TER SAÚDE É A GRANDE
QUALIDADE DE UM POVO. TUDO MAIS VEM DAÍ.

NOTA DA REDAÇÃO:

ESTE CONTO FOI ADOTADO COMO PEÇA PUBLICITÁRIA DO LABORATÓRIO FONTOURA.


ADAPTADO EM HISTÓRIAEM QUADRINHOS OU NA FORMA DE FOLHETO, OU AINDA
FAZENDO PARTE DE ALMANAQUES, TEVE ATÉ OS ANOS 60 UMA TIRAGEM DE CERCA DE 18
MILHÕES DE EXEMPLARES. HÁ TESTEMUNHOS DE QUE SUA LEITURA TRANSFORMOU A
VIDA DE MUITA GENTE.

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