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doi: 10.20396/rfe.v10i3.8653649
Walter Gomide 1
Resumo
Neste artigo, procuro mostrar como a teoria dos números transfinitos de
Cantor e a teoria dos números transreais admitem ser compreendidas
filosoficamente a partir de alguns conceitos da metafísica tomista. Para que tal
entendimento seja possível, admito a tese de que os conceitos tomistas de
matéria designada, não-designada e prima podem ser relacionados com as
noções cantorianas de número ordinal e cardinal transfinitos e com o número
“nullity”, da teoria dos números transreais, respectivamente. Com tal
correlação, creio estabelecer uma base dialógica entre a ontologia tomista e a
matemática do infinito e do indeterminado.
Resumen
En este artículo, procuro mostrar cómo la teoría de los números transfinitos de
Cantor y la teoría de los números transreales admite ser comprendidos
filosóficamente desde algunos conceptos de la metafísica tomista. Para que tal
entendimiento sea posible, admito la tesis de que los conceptos tomistas de
materia designada, no designada y prima pueden ser relacionados con las
nociones cantorianas de número ordinal y cardinal transfinitos y con el número
"nullity", de la teoría de los números transreales , respectivamente. Con tal
correlación, creo establecer una base dialógica entre la ontología tomista y la
matemática del infinito y de lo indeterminado.
1
Doutorado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Pós-
doutor em fundamentos da matemática pela UFRJ-HCTE. Professor de Filosofia do
Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Mato Grosso. (UFMT). E-mail:
[email protected]
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Um interessante livro sobre a temática do Infinito é CLEGG, B (2003): A Brief History
of Infinite. The Quest to Think the Unthinkable. Robinson, London.
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Sobre os trabalhos de Cantor sobre as funções expandidas em séries de Fourier, ver
GOMIDE, W (2006). pp15-45
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Ver CANTOR, G. Cantor´s Grundlagen. In: EWALD, W. ed. From Kant to Hilbert.
A Source Book in the Foundations of Mathematics. Volume I, Clarendon Press University,
[1999].
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Sobre a noção de agregado, ver também a primeira seção de CANTOR, G. ¨Beiträge
zur Begrundung der Transfiniten Lehre”. Contributions to the Founding of Transfinite
Numbers I. Dover Publications, New York, [1941]
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Um conjunto é infinito se, e somente se, existir uma parte própria desse
conjunto que admita uma correspondência bijetiva com o conjunto em
questão
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Ver PARKER, M. (2008). Philosophical Method and Galileo´s Paradox.
http://philsci-archive.pitt.edu/4276/
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ℕ* = Ord (ℕ) = 0 a1 < a2. < a3 < ... < a m < am + 1 <
...
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0 + 1 = 1 + 0 = 0.
Fica claro, pelo o que foi expresso acima, que quando tratamos de
conjuntos infinitos há uma diferença aritmética e operacional entre os
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A concepção de espaço subjacente à noção de número cardinal não é física, mas
metafísica, e se assemelha com a visão de Leibniz de que o espaço é um sistema de relações
que nos dá as possibilidades posicionais dos objetos. Ver ARTHUR R.T.W (2013).
https://www.humanities.mcmaster.ca/~rarthur/papers/Leibniz.Space6.pdf
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0 + m m + 0,
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Formalmente, um conjunto S é bem ordenado caso satisfaça à seguinte condição:
A formula acima nos diz, em linguagem lógica, que todo subconjunto não-vazio de S
tem um menor elemento.
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Sobre a ontologia de Santo Tomás de Aquino, ver HUGHES, P. (1993). Aquina´s
Principle of Individuation. https://digitalcommons.denison.edu/episteme/vol2/iss1/7/
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0;
0 + n, n ℕ;
0. 2 ;
0. 2 + n, n ℕ;
.
0 2;
.etc
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Ver HUGHES, (1993), p.56
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ℝ𝑇 = ℝ { , −, },
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Sobre os números transreais, ver ANDERSON, J, GOMIDE, W. & DOS REIS, T
(2016). "Construction of the Transreal Numbers and Algebraic Transfields" IAENG
International Journal of Applied Mathematics, vol. 46, no. 1, pp. 11-23, 2016.
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De fato, nullity pode ser associado ao indeterminado uma vez que admite
ser compreendido como a superposição indiferenciada de todos os números
reais. Como é sabido, a expressão 0/0 é indeterminada nos números reais.
Isso porque, se admitirmos a existência de um número real tal que
m) = 0/0,
então se segue que
n) . 0 = 0.
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Mas qualquer número real r satisfaz a equação acima, o que implica que
pode ser qualquer número real, sendo, portanto, um número matemático
indeterminado, o que quebra o esperado comportamento funcional da
divisão em ℝ. Por quebrar o caráter funcional da divisão nos reais, a
hipótese de haver um número real que seja o resultado de 0/0 está
interditada, uma vez que tal hipótese leva a uma contradição com o
comportamento da divisão com os números reais.
Para que a divisão com denominador nulo pudesse ser introduzida sem
contradição nos transreais, o conceito de divisão foi redefinido de tal forma
que, quando aplicada a números reais, um subconjunto de ℝ𝑇 , o seu
significado seja o usual e, com isso, nenhuma inconsistência é obtida. Uma
situação análoga acontece nos números complexos ℂ: o conceito de radiação
é redefinido de tal forma a permitir a existência de raízes quadradas de
números negativos, sem que, com isso, qualquer contradição seja obtida
entre esse novo sentido de radiação e o antigo válido nos reais, um
subconjunto de ℂ, em que é interditado a radiação de números negativos.
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A operação de superposição é pensada de tal forma que, de conjuntos bem definidos,
geramos agregados em que a relação de discernibilidade entre seus elementos não se
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o) = 0/0 = ℝ
verifique necessariamente. Uma teoria de conjuntos onde isso é possível é a teoria dos
quase-conjuntos, criada pelos lógicos brasileiros Décio Krause e Newton da Costa. Ver DA
COSTA, N.C.A e KRAUSE, D: Logical and Philosophical Remarks On Quasi Set Theory.
IN: http://philsci-archive.pitt.edu/3274/1/CosKra_LogicQsets.pdf
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Mas isso é assunto para uma outra oportunidade. Por enquanto, basta
mostrar como conceitos metafísicos tradicionais, com a matéria na visão
tomista, podem ser mapeados na matemática por meio da teoria dos
números transfinitos e dos números transreais.
Referências Bibliográficas:
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ANDERSON, J & DOS REIS, T., Transreal Limits Expose Category Errors
in IEEE 754 Floating-Point Arithmetic and in Mathematics. In World Congress
on Engineering and Computer Science 2014, San Francisco, USA, 22-24 October
2014, vol 1, pp. 86-91.
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