Avaliação Pós - Ocupação e o Design de Inetriores
Avaliação Pós - Ocupação e o Design de Inetriores
Avaliação Pós - Ocupação e o Design de Inetriores
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO
E DESIGN DE INTERIORES:
UMA EXPERIÊNCIA DIDÁTICA
Natal
Março de 2015
CARLA DA SILVA BASTOS
Natal
Março de 2015
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA,
DESDE QUE CITADA A FONTE.
CDU 727.1.004.14
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
BANCA EXAMINADORA
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Princípios do Design de Interiores ..................................................................27
Quadro 2 – Principais grupos de pesquisa em APO em março/2012. ................................36
Quadro 3 – Principais métodos/técnicas de pesquisa em APO – em ordem alfabética .....52
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13
esportes, hospitais, asilos, estabelecimentos penais, parques) e/ou implementados em
larga escala (ex.: conjuntos habitacionais, escolas, postos de saúde).
Atualmente, a APO é entendida como uma estratégia de pesquisa de caráter
interdisciplinar que identifica respostas das edificações diante de solicitações
construtivas, funcionais, econômicas, estéticas e comportamentais. De modo geral, ela
busca compreender aspectos relacionados à percepção ambiental e comportamentos dos
usuários, no sentido de levantar dados que promovam uma recuperação consciente dos
ambientes e permitam o aprimoramento de projetos futuros com temáticas e programas
semelhantes (ORNSTEIN, ROMÉRO, 1992).
A principal característica e o que distingue a APO de outras avaliações de
desempenho é que, sem minimizar a importância das avaliações técnicas, ela considera
fundamental aferir o atendimento das necessidades ou o nível de satisfação dos usuários
a partir do ponto de vista deles próprios, sejam técnicos ou leigos. Nesse sentido, a APO
tem grande validade “ecológica”, pois a avaliação, o diagnóstico e as recomendações são
desenvolvidos em/para um objeto arquitetônico em uso (ROMÉRO, ORNSTEIN, 2003),
incidindo diretamente sobre sua modificação.
Associada ao processo de projeto, a APO amplia o debate acerca da importância
do ambiente construído e suas interações no estudo de precedentes/referências e na
realimentação do ciclo projetual. Deste modo, segundo Elali e Veloso (2006), a avaliação
religa as sucessivas etapas que conduzem ao uso e apropriação do objeto arquitetônico –
fase mais longa no ciclo vital de uma edificação (Figura 1).
O processo projetual em si abrange desde o levantamento/análise de dados e materialização
das ideias em representações gráficas, aprimoramentos e redefinições até a obtenção da
solução projetual final, sendo caracterizado como um processo cíclico com muitas
variáveis e soluções ilimitadas. Ao considerar o período de uso e ocupação como fonte de
informação para a concepção projetual é possível repensar a intenção do projeto original e
se este ainda atende as demandas para a qual foi previsto (Kowaltovski, et al, 2006), para
tanto é preciso analisar os acertos e as deficiências do ponto de vista profissional/técnico e
do ponto de vista dos usuários, o que possibilita a manutenção do caráter cíclico da
atividade projetual e a ampliação da vida útil da edificação.
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14
Figura 1 – Esquema da APO
APO
15
usuários. Partindo desta argumentação, essa dissertação pretende explorar justamente
esta lacuna, propondo a incorporação da APO aos cursos de graduação em Design de
Interiores 1.
Diferentemente dos cursos de AU, o ensino e as pesquisas de RPA e APO nos
cursos de Design de Interiores ainda é pouco disseminado. Neste sentindo, discute-se a
aplicabilidade da APO no processo de projeto no campo de design de interiores, com o
objetivo de aperfeiçoar o entendimento do lugar, a identificação e caracterização dos
usuários e a identificação de problemas e soluções relevantes para projetos nessa área,
sobretudo no que se refere a ambientes comerciais e de serviços (corporativos,
institucionais, de saúde, etc.).
Embora sejam relativamente recentes enquanto formação de nível superior (a
mais antiga, na UFRJ, data de 1971), os cursos de Design de Interiores têm se consolidado
rapidamente, somando hoje 5 graduações regulares em Instituições Públicas de Ensino
Superior (IPES) (Figura 2), concentrados nos Estados da Bahia, Minas Gerais, Rio de
Janeiro e Goiás.
Outro modelo de formação na área de Design de Interiores são as graduações
tecnológicas, cursos superiores focados na educação profissional com duração média de 2
anos e meio. Essas graduações somam hoje 143 cursos em todo Brasil 2, concentrados,
principalmente, nas capitais da região Sudeste, Sul e Nordeste (Figura 3), com destaque
para São Paulo, com um número de graduações tecnológicas muito superior ao dos
outros estados, embora não sedie os cursos mais antigos (graduações regulares).
1
Embora nos últimos anos se verifique uma mudança de nomenclatura justificada pelo contexto de atuação de alguns
cursos, que a partir de reformas curriculares alteraram a titulação para Design de Ambientes ou apenas Design,
ampliando assim o campo de atuação profissional, nessa dissertação utilizaremos a nomenclatura Design de Interiores,
simplesmente por ser mais facilmente identificável no quadro nacional e por ser este o eixo principal de formação
desses cursos.
2
Levantamento realizado no sítio eletrônico de consulta as Instituições de Educação Superior e Cursos Cadastrados do
MEC, (http://emec.mec.gov.br/) em dezembro de 2014. Ver capítulo 3 Procedimentos Metodológicos.
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16
Figura 2 – Distribuição dos cursos de graduação regular em Design de Interiores nas IPES brasileiras
Figura 3 – Distribuição dos cursos de graduação tecnológica em Design de Interiores por região e
principais estados
Estados Cursos
SP 58
MG / PR 10
SC 9
RS 8
RJ / DF / PE 7
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De acordo com o Ministério da Educação, os cursos de Design de Interiores fazem
parte do campo de conhecimento do Design, caracterizado pelo desenvolvimento de
projetos para ambientes, produtos, processos e ideias, e seguem parâmetros curriculares
próprios.
Para fins de conceituação, se faz necessário definir e delimitar o campo do design
de interiores neste trabalho, embora esta seja uma tarefa difícil, uma vez que, tanto a
formação acadêmica quanto o campo de atuação ainda encontram-se em consolidação e,
muitas vezes, concorrendo com outras atividades que também são responsáveis pela
produção e intervenção do espaço físico.
Teoricamente, diferencia-se o campo da Arquitetura do Design de interiores a
partir do objeto trabalhado, ou seja, da escala de intervenção e dos elementos
envolvidos, já que o designer de interiores não está habilitado para realizar intervenções
nos elementos estruturantes de uma edificação (CHING, BINGGELI, 2013), e geralmente
lida com a microescala, enquanto a arquitetura dedica-se mais fortemente à macro e à
mega-escala (respectivamente, edifícios e meio urbano). De fato, em muitas situações
práticas, as profissões se complementam.
No que se refere à atuação profissional dos designers de interiores, o exercício
projetual é a principal atividade, ponto de convergência e de síntese entre os diversos
aspectos e condicionantes do espaço físico, dos clientes e usuários 3. De acordo com Cirne
e Geoffroy (2013), o designer de interiores atua no projeto, execução, pesquisa,
consultoria e na área de serviços relacionados aos espaços interiores.
Assim como na AU, no projeto (processo e produto final) de design de interiores
devem ser considerados aspectos funcionais, culturais, estéticos, psicológicos,
tecnológicos e econômicos, embora muitas vezes aconteça a ascensão dos valores
estéticos em detrimento dos demais, promovendo intervenções pouco conscientes em
termos de suas implicações/consequências comportamentais, o que Elali (2002) denuncia
3
Frequentemente, cliente e usuário não são a mesma pessoa. O cliente muitas vezes está representado na figura de um
investidor e o usuário é o consumidor final do produto arquitetônico. Logo, nessas situações, o projetista, arquiteto ou
designer de interiores, torna-se um mediador e precisa atender as exigências do cliente e as necessidades do usuário
final em sua proposta projetual.
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ser um lugar comum também a arquitetos e outros profissionais que lidam com o projeto
do espaço.
Na prática, os limites entre Arquitetura e Design de Interiores são bastante
flexíveis, principalmente quando considerado o caso de trabalhos desenvolvidos por
equipes multidisciplinares. Embora este seja um assunto de grande importância para
reflexão e debate, notadamente na academia, esta dissertação fará apenas uma breve
discussão desses temas e sobre o projeto de design de interiores, atendo-se mais
fortemente às experiências de utilização da APO nos cursos de AU e as possibilidades e
limitações da aplicação dos seus métodos e técnicas no processo de projetos de
interiores.
De maneira geral, os cursos de graduação em Design de Interiores objetivam a
formação de profissionais que planejam ambientes interiores (residenciais, comerciais,
corporativos e institucionais) considerando aspectos técnicos, funcionais, culturais,
econômicos e psicológicos do ambiente construído para a qualidade de vida dos usuários
(ABD, 2014a; CHING, BINGGELI, 2013; GIBBS, 2009; GURGEL, 2007).
A Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério do Trabalho e do Emprego
(CBO-MTE) descreve a atividade profissional dos Designers de Interiores de Nível Superior
da seguinte maneira:
Apesar dessa intenção geral, verifica-se nesses cursos poucas disciplinas que
abordam avaliações sistemáticas de edificações ou ambientes edificados e sua interface
com o projeto. Em função disso, os profissionais formados pouco conhecem (ou mesmo
desconhecem) métodos e técnicas de pesquisa no campo das RPA e da APO e seus
possíveis rebatimentos no projeto, limitando-se às atividades na área da ergonomia que,
embora fundamentais para o projeto, não investigam algumas variáveis necessárias ao
bom desempenho do ambiente (ELALI, 2011a).
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19
Entendendo-se as graduações regulares em Design de Interiores como os cursos
brasileiros mais completos nesse campo (dada a sua maior duração, 4 anos), analisamos
os Projetos Pedagógicos de Cursos (PPC) e os ementários das disciplinas 4 das instituições
anteriormente mencionadas (UFBA, UEMG, UFU, UFRJ e UFG). De acordo com esses
documentos, apenas os cursos da UFU e da UFG oferecem disciplinas que abordam de
forma indireta a APO e as RPA, contudo tratando o assunto apenas no campo teórico; a
interface entre APO e a prática projetual não é explorada ou não foi mencionada nesses
documentos.
Por sua vez, as graduações tecnológicas (com duração média de 2,5 anos), em sua
maioria estão ligadas às instituições privadas e informações relativas à PPC e ementários
não se encontram disponíveis nos sítios eletrônicos. Contudo, acredita-se que o contexto
de ensino de APO e RPA nestes cursos é equivalente ou menor do que o verificado nos
cursos regulares, pois, além da carga horária reduzida, essas graduações são direcionadas
para o mercado profissional e abordam de modo mais sucinto as disciplinas de
fundamentação.
Deste modo, como a formação na área precisa ser constantemente repensada e
aprimorada, entende-se que a inserção da APO como abordagem de análise de questões
ligadas ao uso do ambiente construído pode representar, a exemplo das experiências
realizadas nos cursos de AU (ELALI, 2011b; ELALI, VELOSO, 2006; ORNSTEIN, 2002), o
aprimoramento do processo de concepção projetual, conferindo a ele um caráter
interdisciplinar e participativo que possibilita o desenvolvimento de projetos e arranjos
espaciais menos padronizados e mais coerentes com a realidade e as necessidades dos
usuários.
É, portanto, ao valorizar as particularidades e as singularidades de ambientes e
usuários que a APO contribui para o projeto arquitetônico e pode contribuir também para
o projeto de interiores, permitindo ao profissional aprofundar o entendimento do
programa de necessidades, a compreensão do público alvo e suas expectativas, a
4
Apenas os cursos da UEMG, UFU e UFG disponibilizaram os PPC completos, seja através do sítio eletrônico ou através
de seus representantes. No curso da UFRJ as ementas estão disponíveis no sítio eletrônico, mas o PPC oficial está
desatualizado e o atual ainda não se encontra aprovado em todas as instâncias da Universidade, de acordo com a
coordenadora. O curso da UFBA não disponibilizou as informações solicitadas em tempo hábil. Ver Capítulo 3
Procedimentos Metodológicos.
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20
identificação de comportamentos padrões e a captação de valores e significados
socioculturais importantes para o projeto.
A experiência didática proposta por este trabalho pretende compreender essas
contribuições e refletir acerca da sistematização das visitas exploratórias e das
observações do ambiente construído no processo de projeto de interiores em âmbito
acadêmico, pois apesar da quantidade significativa de publicações sobre APO como
instrumento de pesquisa em arquitetura, pouco se discute sobre as experiências de APO
para o design de interiores.
A questão que se pretende investigar é, portanto, como inserir métodos e técnicas
de APO no desenvolvimento projetual de design de interiores em meio acadêmico.
Acredita-se que o entendimento e a utilização destes métodos e técnicas de APO será útil
para melhorar o desempenho dos estudantes nas disciplinas de projeto de interiores,
especialmente na elaboração do programa de necessidades e no desenvolvimento de
intervenções que priorizem a qualidade ambiental do projeto e a adequação das funções
às expectativas dos usuários.
Atuando de modo a responder tal indagação, o objetivo dessa dissertação é
discutir a utilização de métodos e técnicas de pesquisa da APO como abordagem
complementar ao exercício projetual de design de interiores, em contexto acadêmico de
graduação. Para auxiliar a discussão pretendida foram definidos 03 objetivos específicos:
21
partir da aplicação de questionários online a professores de referência e líderes de grupos
de pesquisa no campo da APO, cujas informações e orientações subsidiaram a etapa
subsequente. A segunda etapa foi o planejamento de uma experiência didática de
inserção da APO em uma disciplina de projeto de interiores e seu pré-teste em um curso
de graduação tecnológica de Design de Interiores.
Ainda que o universo de estudo dessa pesquisa sejam os cursos de graduação em
Design de Interiores, quer regulares quer tecnológicos, para realização da experiência
didática optou-se por trabalhar na graduação tecnológica, por entender ser este o
contexto mais frágil da formação superior na área. Acredita-se que o desenvolvimento
desta experiência num curso com carga horária menor implica em sua mais fácil
reprodução nos cursos de graduação regulares com carga horária mais extensa, processo
que poderia tornar-se menos simples no caso inverso.
Embora eventualmente a experiência realizada também possa vir a ter
rebatimento em disciplinas de arquitetura de interiores ministradas na graduação em AU,
nessa dissertação optamos por não enveredar por este tema, já que em muitos destes
cursos a prática de APO está consolidada, em geral ligando-se a disciplinas de projeto de
arquitetura, de modo que o alunado já teve contato anterior com o campo.
Em acordo com os objetivos aqui estabelecidos, para apresentar o percurso
realizado e os produtos obtidos essa dissertação desenvolve-se em 5 capítulos. O
primeiro capítulo introduz e contextualiza o problema investigado. O segundo desenvolve
a abordagem teórico-conceitual da APO, com ênfase na utilização da APO no processo de
projeto e os seus principais métodos e técnicas, assim como trata das principais etapas e
conceitos do projeto de interiores. No terceiro estão descritos os procedimentos
metodológicos realizados. O quarto capítulo traça um panorama da APO segundo a
opinião dos experts. No quinto são apresentados os resultados obtidos na experiência
didática. E, por fim, seguem-se as considerações finais, além de elementos pós-textuais.
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22
2 PONTOS DE PARTIDA
Considerando a problemática em discussão, nesse capítulo são esclarecidos os
dois pontos de partida da dissertação: o Projeto de Interiores e a Avaliação Pós-Ocupação
(APO).
Inicialmente é apresentado brevemente o conceito de projeto de interiores e as
particularidades que o diferem de outros projetos, assim como as principais etapas do
processo de projeto, os conceitos e os princípios do design, de modo a apontar a
importância de procurar abordagens que o subsidiem promovendo maior conhecimento
da realidade a intervir.
Segue-se uma explanação sobre o contexto de surgimento e expansão da APO a
partir dos estudos das relações pessoa-ambiente, e sua consolidação no campo da
Arquitetura e Urbanismo brasileiros, com identificação de suas principais características e
definições e sua contribuição para processo de projeto em AU, realimentando o ciclo
projetual e ampliando o repertório dos projetistas. São descritas, ainda, algumas
particularidades metodológicas da APO e os principais métodos/técnicas de pesquisa que
a alimentam enquanto estratégia de pesquisa.
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23
ou Bacharel), têm a responsabilidade de considerar no desenvolvimento do projeto para
ambientes interiores questões que extrapolam o invólucro físico, tais como os elementos
estruturantes do edifício, as condições bioclimáticas do local e ainda o contexto sócio
cultural.
A Federação Internacional de Arquitetos/Design de Interiores 5 (IFI) publicou em
2011 um documento intitulado “IFI Interiors Declaration”, na qual expressava de forma
sucinta os principais pontos para uma aliança internacional que apresente aos órgãos
públicos e para a sociedade em geral os benefícios do design de interiores e da
colaboração multidisciplinar entre as diversas áreas do design. Destaca-se, neste
documento, o designer de interiores como o profissional responsável por sintetizar
ambientes, personalidades e comportamentos humanos e os traduzir sistematicamente
em medidas mensuráveis para o projeto.
Ainda de acordo com IFI (2014), o designer de interiores habilitado é capaz de
identificar, pesquisar e resolver de forma criativa problemas relacionados à função e a
qualidade do ambiente interior. Os serviços relacionados a estas atividades envolvem o
desenvolvimento de esquemas, desenhos e documentos necessários para um projeto que
preserve a qualidade de vida, saúde, segurança, bem-estar do usuário e do meio-
ambiente.
Considerando a proximidade entre os campos da Arquitetura de Interiores e do
Design de Interiores, e ainda o campo da Decoração de Interiores, Brooker e Stone (2007)
apresentam a seguinte definição para as áreas:
5
International Federation of Interior Architects/Designers
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24
compreende uma grande variedade de projetos como museus, galerias e
prédios públicos.
(...) Design de Interiores é uma prática interdisciplinar preocupada com a
criação de ambientes interiores que articulam a identidade e a atmosfera
através da manipulação do volume espacial, da disposição de elementos
específicos como mobiliários, e do tratamento de superfícies. De maneira geral,
os projetos requerem poucas ou nenhuma mudança estrutural da edificação
existente, embora existam muitas exceções. Em alguns casos a estrutura
original é mantida e um novo interior é inserido dentro dela. Muitos desses tem
qualidade efêmera e, normalmente, compreende projetos comerciais, para
exposições, residenciais e escritórios.
(...) Decoração de interiores é a arte de decorar espaços internos ou salas para
conferir um caráter diferenciado à arquitetura existente. A decoração de
interiores está preocupada com questões como padrão de superfícies,
ornamentação, mobiliário, textura, iluminação e materiais. Em geral desenvolve
apenas pequenas modificações estruturais na edificação existente. Exemplos
típicos desta prática são os design para residências, hotéis e interiores de
restaurantes. (p. 12-18)
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25
Figura 4 – Diagrama de atividades
Arquitetura e Urbanismo
Arquitetura de Interiores
Design de Interiores
Decoração
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26
Ching e Binggeli (2013) descrevem o processo de projeto em interiores de forma
similar com etapas sequenciais que, inicialmente, identificam necessidades e exigências
do cliente (definição do problema) para a construção do programa de necessidades e, em
seguida, formulação do conceito do projeto. O processo de criação inclui a avaliação,
comparação e teste das diversas alternativas propostas até se obter as decisões
projetuais definitivas.
No processo criativo descrito pelos autores de referências na área, o design de
interiores se utiliza de elementos como espaço, forma, linhas, texturas, padronagens, luz
e cor para solucionar problemas e alcançar soluções ideais para o projeto. Descrevem
ainda os princípios do design, os quais devem permear as relações entre os elementos
que compõem o ambiente como um todo (Quadro 1).
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27
No projeto, a função do desenho se expande para incluir o que já existe,
eliminar ideias e especular e planejar para o futuro. Ao longo do processo de
projeto, usamos desenhos para guiar o desenvolvimento de uma ideia, desde o
conceito até a proposta e a realidade construída.
(...) A tarefa central do desenho de arquitetura (de interiores) é representar
formas, construções e ambientes espaciais tridimensionais em uma superfície
bidimensional. (Ching e Binggeli, 2013, p. 70-71)
Gurgel (2010) afirma que para representar um projeto inúmeros recursos, técnicas
e processos são utilizados. Mas, de maneira geral, o processo criativo inicia-se com
plantas, elevações e perspectivas que permitem ao profissional pensar de forma
bidimensional e tridimensional o ambiente a ser projetado. As ferramentas
computacionais auxiliam este processo e constituem atualmente mais uma habilidade do
profissional da área de design de interiores.
As representações gráficas desenvolvidas para um projeto de interiores são,
geralmente, plantas (planos gerais, setorização, layout, piso, teto e localização de pontos
de elétrica, hidráulica, etc.), elevações, cortes, detalhes, perspectivas (Figura 5) e
documentos complementares (planilhas de especificações, memorial e outros).
Diferentemente do projeto arquitetônico e urbanístico que lidam com a macro
(edifícios) e a mega escala (urbano), o projeto de interiores dedica-se a micro escala, o
que reflete diretamente na escala gráfica das representações. As plantas, cortes e
elevações recorrem as escalas gráficas de 1:50, 1:33 1/3, 1:25 e 1:20 para representar
mais precisamente a concepção geral do desenho e os detalhes internos. Quando se faz
necessário detalhar elementos do desenho para execução (marcenaria, encaixes,
iluminação e etc.) as escalas utilizadas são 1:10, 1:5 e 1:1.
Convém destacar que, embora o processo varie entre instituições de ensino e
profissionais do mercado, as representações gráficas dos projetos de interiores seguem
os critérios definidos pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para boa
compreensão e uniformização dos projetos, assim como para determinar padrões
mínimos de qualidade, processos e procedimentos.
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28
Figura 5 – Projetos de Design de Interiores (Planta-baixa, Corte, elevação e Perspectivas)
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29
Diante do reconhecimento do perfil profissional, das atividades envolvidas no
projeto e, principalmente, da importância atual dos métodos e técnicas que investigam o
ambiente construído no campo maior da Arquitetura e do Urbanismo, considera-se
fundamental para o exercício projetual em design de interiores compreender
profundamente o objeto da intervenção e os seus usuários para propor soluções
adequadas para o espaço em estudo. E, embora os estudos de referência/precedentes e
as visitas exploratórias desenvolvidas durante o processo de projeto contribuam com esta
atividade, por ser um processo sistematizado e interdisciplinar de avaliação que considera
variáveis objetivas e subjetivas do ambiente construído, a APO mostra-se um caminho
promissor para atingir essa meta, conforme apresentado a seguir.
30
Aliada as avaliações e simulações físicas e funcionais, os estudos de RPA ganharam
contornos próprios à Arquitetura e Urbanismo com a Avaliação Pós-Ocupação (APO). Elali
(2002) comenta que a aproximação dos estudos de RPA veio acrescentar a perspectiva da
práxis aos estudos realizados no campo da Arquitetura e do Urbanismo, o que aumentou
o interesse nas avaliações ambientais e de edificações, proporcionando maior
participação do usuário nos processos de design.
Neste contexto, as primeiras pesquisas de APO foram realizadas entre as décadas
de 1950 e 1960, e representavam a emergência desse novo campo de estudos que se
interessava inicialmente pelo estudo dos conjuntos habitacionais europeus construídos
no período pós 2ª Guerra Mundial e por edificações complexas como alojamentos para
estudantes, hospitais e prédios multifamiliares (PREISER, VISCHER, 2005; RABINOWITZ,
1989). Uma das primeiras publicações que abordou diretamente a APO, reunindo as
pesquisas realizadas entre 1970 e 1985, apresentou a seguinte definição:
6
Tradução livre da autora, do original em idioma inglês: “Post-Occupancy Evaluation is the process of evaluating
buildings in a systematic and rigorous manner after they have been built and occupied for some time. POEs focus on
building occupants and their needs, and thus they provide insights into the consequences of past design decisions and
the resulting building performance. This knowledge forms a sound basis for creating better buildings in the future.”
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31
(Unicamp). Entre 1993 e 2011, 428 trabalhos brasileiros que incorporaram APO como
estratégia metodológica foram publicados nos encontros e seminários mais importantes
da área (GALVÃO, ONO, ORNSTEIN, 2012).
No Brasil as pesquisas realizadas pioneiramente por professores da FAU-USP,
empregavam a APO como uma metodologia que pretendia, a partir da avaliação de
fatores técnicos, funcionais, econômicos, estéticos e comportamentais do ambiente em
uso, e de acordo com a opinião de profissionais, clientes e usuários, diagnosticar aspectos
positivos e negativos de conjuntos edificados, definindo recomendações para o próprio
ambiente ou para projetos de ambientes semelhantes (estudos de caso), a fim de
aperfeiçoá-los (ORNSTEIN, ROMERO, 1992).
Posteriormente, em substituição a palavra metodologia a área passou a adotar os
termos abordagem, estratégia ou processo de avaliação do ambiente construído para
definir a APO, uma vez que os pesquisadores passaram a entender que, ao invés da
reprodução de procedimentos predeterminados, a APO corresponde a um conjunto de
métodos e técnicas de pesquisa a serem utilizados em função do problema de pesquisa e
dos objetivos pretendidos.
De acordo com Ornstein, Bruno, Roméro (1995), a APO é uma avaliação
retrospectiva, sistêmica e realimentadora, aplicada por meio de multimétodos e técnicas
que analisam o ponto de vista dos especialistas e dos usuários do ambiente, sejam eles
leigos ou não. E, considerando que pouco se conhece do comportamento das pessoas em
relação aos ambientes construídos, as APOs almejam apreender informações não
verbalizadas e compreender em que medida usuários e ambiente se relacionam e
modificam-se mutuamente.
A APO incorpora-se, portanto, aos processos participativos de projeto, buscando
dar voz aos usuários, geralmente excluídos da tomada de decisões. Ela cria, assim, uma
importante relação psicológica entre usuário e ambiente construído, considerando a
dimensão humana e as necessidades e expectativas reais com o ambiente (Adams, 2002).
Rheingantz et al (2009) destacam a interatividade do processo de APO que focaliza
os diferentes grupos de usuários e suas necessidades para avaliar a influência e as
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32
consequências das decisões projetuais no desempenho do ambiente após um tempo de
sua construção e ocupação.
Historicamente, os estudos de APO avaliam mais frequentemente os aspectos
técnico-construtivos da edificação (estrutura, alvenaria, revestimentos e acabamentos,
esquadrias, instalações, cobertura, impermeabilização e patologias construtivas), os
aspectos funcionais (dimensionamento, circulações, área útil, layout, fluxos, densidade
ocupacional, acessibilidade, segurança e conforto ambiental), e os comportamentais
(adequação ao uso, satisfação/aspirações, privacidade, interação, identidade e
comunicação visual). Podendo ainda incluir avaliações dos elementos estéticos,
econômicos, socioambientais e da estrutura organizacional (PREISER, RABINOWITZ,
WHITE, 1988; ORNSTEIN, ROMERO, 1992; ELALI, VELOSO, 2004). Deste modo, a APO pode
propor maior ou menor ênfase em determinados aspectos e aproximar-se mais da área
tecnológica ou das ciências sociais e humanas, sempre considerando como elemento
central da avaliação o uso/ocupação do ambiente pelos usuários (ELALI, VELOSO, 2004).
Neste trabalho a APO será empregada como uma abordagem sistematizada para
avaliação de ambientes construídos, cuja finalidade é auxiliar o desenvolvimento de
intervenções futuras no próprio ambiente ou alimentar as intenções projetuais de
edificações semelhantes, a partir da compreensão de aspectos objetivos do ambiente
construído e aspectos subjetivos relativos à percepção, satisfação e expectativas dos
usuários.
7
Tradução livre da autora, do original em idioma inglês: “The definition of POE herein excludes purely technical
evaluation, for example, of heating systems or new building materials. Technical elements of building performance are
considered only in terms of their effect on occupant health, safety, security, functional performance, and
psychological/physical comfort.”
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33
O diagnóstico da APO deve ainda descrever de modo preciso e abrangente,
independente do formato de apresentação, os critérios de desempenho adotados na
avaliação, assim como o contexto, valores e significados socioculturais do ambiente e dos
usuários (PREISER, NASAR, 2008).
Ornstein e Roméro (1992) reafirmam que ao término de qualquer avaliação que
envolve dezenas de aspectos técnicos, funcionais e comportamentais, a aplicabilidade dos
resultados extrapola o estudo de caso e gera insumo para projetos semelhantes; e esta é,
possivelmente, a maior contribuição do campo para a Arquitetura e Urbanismo.
No que se refere aos resultados das pesquisas, a literatura na área (ORNSTEIN,
ROMÉRO, 1992; THOMAZONI, 2009; GOMES, 2007; VALVERDE, 2014; SOUZA, et al, 2005)
indica que classicamente eles são apresentados no formato de relatórios, quadros de
recomendações (curto, médio e longo prazo) e/ou matrizes de descobertas, de acordo
com os objetivos estabelecidos previamente em seu planejamento. Por sua vez, Moreira
e Kowaltowski (2009) comentam que, entendendo-se que o ato de projetar está baseado
na comunicação visual, aparentemente a representação gráfica é o tipo de linguagem
mais apropriado para aplicação dos resultados da APO no processo projetual.
Embora, de maneira geral, se reconheça a importância da APO, as avaliações ainda
enfrentam problemas relacionados a aspectos como: tempo e custo envolvidos no
processo; resistência das instituições; clientes que temem ser avaliados negativamente;
desconfiança dos usuários que desconhecem o processo e se sentem pouco a vontade
para fazer julgamentos, principalmente no contexto profissional. Convém também
destacar, que os estudos de APO desenvolvidos no Brasil ainda carecem de consistência
metodológica, sistematização e clareza na definição dos indicadores de desempenho,
assim como de instrumentos de divulgação e implementação das recomendações e
diretrizes projetuais para auxiliar intervenções semelhantes (GOMES, 2007;
KOWALTOWSKI et al., 2006; SOUZA et al., 2005).
Contudo, essas deficiências justificam-se pela recente expansão, acadêmica e
profissional, da APO no contexto nacional e pela pouca tradição do nosso país nas
avaliações de produtos e serviços. Espera-se que, ao menos no contexto acadêmico, se
comece a discutir mais profundamente as possíveis interferências de avaliações
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34
sistemáticas, como a APO, no desenvolvimento de novos projetos (ELALI E VELOSO,
2006). A expectativa de expansão do campo está diretamente ligada ao ensino de APO
nos cursos de graduação e pós-graduação em AU; deste modo está assegurada a
manutenção das pesquisas e formação de futuros profissionais.
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35
destacaram 06 grupos (indicados no Quadro 2) com trabalhos relevantes na área, sendo
interessante observar a diversidade de instituições (6) e de regiões (3) que representam.
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36
deste nível. As autoras destacam, ainda, que em alguns casos é clara a influência da
avaliação do ambiente construído nos novos produtos projetados no ateliê.
Ainda sobre esse tema, Onstein (2002) pondera que um dos caminhos possíveis
para implementar o ensino de APO com maior eficácia nos cursos de graduação é
justamente reforçar a visão interdisciplinar e humanista da arquitetura como campo do
conhecimento que busca embasamento também em outras disciplinas, como a Psicologia
Ambiental, as Ciências Sociais e outras. A consolidação da APO em nível de graduação
também passa pela ampliação dos métodos e técnicas de pesquisa apresentados, uma
vez que quanto maior for a diversidade de abordagens utilizadas na avaliação, mais
variáveis do ambiente construído serão investigadas e maiores serão as possibilidades de
rebatimento dessas informações no desenvolvimento de novos objetos arquitetônicos.
Por outro lado, considerando a formação generalista proposta pelos cursos de
graduação em AU brasileiros, vários autores apontam que o ambiente da pós-graduação
talvez seja o lugar mais adequado para o desenvolvimento e aprofundamento de
abordagens específicas, como a APO. Neste sentido, é compreensível que grande parte
das pesquisas na área de APO seja fruto de trabalhos de mestrado e doutorado (ELALI,
VELOSO, 2004).
Nesse nível, de acordo com dados da Fundação CAPES do Ministério da Educação 8,
em setembro de 2014 havia 35 programas e cursos de pós-graduação brasileiros
cadastrados na Área “Arquitetura e Urbanismo” (inserida na Grande Área “Ciências
Sociais Aplicadas”), totalizando 51 cursos de pós-graduação reconhecidos e
recomendados (Mestrado Acadêmico, Mestrado Profissional e Doutorado). Em termos de
produção intelectual, entre artigos em periódicos, livros e trabalhos em anais de eventos,
ao longo do ano de 2013 foram produzidas 20 publicações vinculadas à APO
(considerando apenas as que continham a expressão “Avaliação Pós-Ocupação” no
8
Levantamento realizado na Plataforma Sucupira, na seção de Produção Intelectual dos programas de pós-graduação
(https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/producaoIntelectual/listaProducaoIntelectual.jsf/) em
setembro de 2014.
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37
título), o que indica a possiblidade de haver uma quantidade ainda maior de trabalhos
desenvolvidos nesse campo ou que utilizaram a APO como estratégia de pesquisa.
38
2011). Contudo, é importante destacar que cada processo de projeto tem suas
singularidades e varia de acordo com o projetista e sua formação acadêmica e
profissional.
De acordo com Voordt e Wegen (2013), elaborar o programa de necessidades,
projetar e construir são as três principais atividades envolvidas no processo construtivo e
devem ser verificadas sempre em relação às outras. Tal afirmação reforça a natureza
cíclica/espiralada9 do processo de projeto através das ações de análise, síntese e
avaliação defendida por Lawson (2011).
A atividade projetual ocupa, portanto, uma posição de centralidade nesse
processo e representa uma resposta técnica, funcional e plástica a uma série de aspectos
e condicionantes estabelecidos pelo ambiente e pelo cliente/usuário. No entanto, o
processo de projeto, seja em arquitetura, urbanismo ou design, compreende duas
dimensões humanas: a prática e a subjetiva (ELALI, 2011b). A primeira se refere aos dados
relacionados à identificação, caracterização e quantificação dos usuários. E a segunda,
mais complexa e imprecisa, abrange as questões imateriais como identidade,
apropriação, valores e significados socioculturais.
Enquanto estratégia avaliativa inserida no início do processo de projeto, a APO
busca reunir e analisar os dados objetivos do ambiente construído, como as questões
técnicas e funcionais próprias da área de projetos, e dados subjetivos dos usuários por
meio de métodos e técnicas próprios e/ou oriundos dos estudos das RPA que visam
apreender melhor as questões imateriais contidas na sua relação com o ambiente
construído.
De acordo com Souza et al (2005), se considerarmos as etapas sequenciais do
processo projetual – definição e limite do problema, e desenvolvimento do pensamento
arquitetônico – , as informações obtidas na APO poderão ser incluídas na segunda etapa,
9
O termo espiralado faz referência à evolução cíclica e dinâmica do processo de projeto pela dimensão temporal já que
a cada revisão de uma ação projetual o feedback desta recaí sobre um novo modelo que reúne neste momento novas
características e observações. De forma similar acontece com a produção do objeto arquitetônico, no qual o feedback
das avaliações desenvolvidas na fase de uso e operação da edificação nunca incidirá sobre a mesma edificação
considerada inicialmente (ELALI, PINHEIRO, 2003).
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39
quando o projetista utiliza apenas as suas vivências e experiências anteriores para
analisar, julgar e propor alternativas para o projeto.
Nas diversas atividades que se desenvolvem ao longo do processo de projeto, o
projetista convive, ou deveria conviver, com essas relações entre pessoa e ambiente,
prático e subjetivo, material e imaterial. O arranjo espacial (layout) do projeto, por
exemplo, reflete uma intenção do projetista de resolução dos aspectos espaciais (físicos)
do ambiente e dos aspectos psicológicos dos usuários, na qual elementos como conforto,
identidade, privacidade, segurança, motivação e outros, são considerados e organizados
de acordo com as relações interpessoais desse contexto socio-físico; sem desconsiderar a
influência das experiências e pressupostos próprios de quem projeta.
_____________________________________________________________________________________________________________
40
cliente, caso o mesmo não seja o usuário, é limitada já que este não compreende todas as
dimensões do uso diário da edificação.
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41
programa e projeto. Frequentemente são possíveis todos os tipos de versões
diferentes de projetos, cada uma das quais satisfaz o programa de necessidades
mas leva a uma qualidade de uso radicalmente diferente. (VOORDT, WEGEN,
2013, p. 17)
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42
Ademais, a incorporação da APO como abordagem complementar ao processo de
projeto, evidencia a perspectiva interdisciplinar e participativa do projeto. De acordo com
Adams (2002), a maioria das ideias do projeto virão dos arquitetos, mas muitas ideias
poderão surgir também dos usuários e o papel do arquiteto é analisá-las e representá-las
criticamente para defender os interesses daqueles que geralmente são deixados à
margem do processo.
Por outro lado, a definição do programa auxiliado pela APO representa ainda para
o projetista (estudantes ou profissionais) uma possibilidade de ampliação do seu
repertório formal individual, melhor compreensão dos genótipos, dos fenótipos
ambientais e do público alvo do projeto, seja ele arquitetônico ou de design de interiores.
O sucesso da abordagem, no entanto, não se encontra no levantamento perfeito
dos dados, nem no seu resultado plástico e estético, mas na tradução e aplicabilidade ao
projeto arquitetônico; bem como na divulgação dos resultados em meio acadêmico e
profissional de modo a contribuir com o crescimento da área e com a produção de novos
edifícios. A atividade do projetista deve ser orientada de modo a otimizar a utilização das
informações geradas pelos estudos das relações pessoa-ambiente como meio para
verificar/comprovar o funcionamento prático da sua atuação profissional (ELALI, 2003;
KOWALTOWSKI, MOREIRA, 2008).
Por fim, Vischer (2009) afirma que ainda são poucos os profissionais que utilizam o
conhecimento da APO para formulação do programa de necessidades e desenvolvimento
de novos projetos; mais comumente os resultados da APO são apenas publicados em
revistas e congressos acadêmicos que são pouco consultados por profissionais do
mercado. Contudo, acredita-se que a APO ainda é pouco aplicada no contexto profissional
porque o seu ensino não se encontra consolidado nos cursos de graduação, já que os seus
benefícios para o processo de projeto são amplamente discutidos em livros, congressos e
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43
programas de pós-graduação. Há de se considerar ainda questões relativas a prazo, custo,
disponibilidade e outros problemas/limitações relacionados à atuação profissional de
arquitetos e designers.
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44
Por exemplo, em estudos de avaliação pós-ocupação, adotando-se métodos de
observação (direta ou indireta, com ou sem obstruções), pode-se utilizar, para
tanto, técnicas de registro como os mapas comportamentais, o vídeo-teipe, a
fotografia, os croquis, os diários, entre outros, ou seja, método e técnicas são
conceitos distintos, embora muitas vezes sejam empregados como se fossem
sinônimos, sobretudo pelos pesquisadores em arquitetura e urbanismo.
(ORNSTEIN, BRUNA, ROMÉRO, 1995, p. 13)
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45
pesquisa e que fatores limitantes como tempo, dinheiro e especialização também devem
ser considerados.
A APO caracteriza-se, portanto, pela utilização de três ou mais métodos de
pesquisa que podem variar de acordo com o ambiente e com os objetivos estabelecidos
pelo pesquisador, estratégia que a literatura denomina perspectiva multimétodos ou
triangulação metodológica (GUNTHER, ELALI, PINHEIRO, 2011; SOMMER, SOMMER, 2002;
RHEINGANTZ et al, 2009; ORNSTEIN, BRUNA, ROMÉRO, 1995, entre outros). Além disso,
diferentemente das avaliações de desempenho desenvolvidas em laboratórios, analisar o
atendimento das necessidades, o nível de satisfação dos usuários e as suas relações com
o ambiente construído são entendidos como fundamentais para a avaliação (ROMÉRO,
ORNSTEIN, 2003).
Portanto, entre os vários métodos/técnicas de APO disponíveis, é essencial
considerar os que discutem o ponto de vista dos técnicos e especialistas (vistorias,
medições, etc) e os que discutem ponto de vista dos usuários, seja através de usuários
chaves ou de grupos de usuários distintos. Trata-se da variável básica da APO presente
em todas as pesquisas da área (ORNSTEIN, ROMÉRO, 1992).
Diante dessa variedade, os resultados obtidos pelos diferentes métodos/ técnicas
disponíveis deve apresentar correspondência entre si, de modo que garanta a
confiabilidade e a validação dos dados recolhidos. Resultados muito diferentes podem
representar algum erro ou influência do pesquisador nos procedimentos de coleta.
Resultados semelhantes, na maioria das vezes, são desejáveis e refletem com mais
precisão a realidade do ambiente e dos usuários.
Gunther, Elali e Pinheiro (2011) ressaltam que, sempre que possível, o pesquisador
deve adotar uma estratégia de pesquisa que aborde os diferentes aspectos do problema
(pessoas, ambientes, tempo e fenômenos investigados) e permita a clara identificação de
pontos de convergência ou divergência nos resultados obtidos.
Cabe observar que, por mais bem elaborados e aplicados que sejam, os
instrumentos não garantem o sucesso de uma avaliação de desempenho, uma
vez que são incapazes de, por si só, apreender a experiência que é produzida
em um mundo que não é pré-definido e que não depende do observador.
Acreditamos que a realidade de uma experiência no mundo relevante ou
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46
percebido é o produto inseparável do entrelaçamento do observador imerso na
situação ou experiência que ele se propõe a relatar ou traduzir. (RHEINGANTZ
[et al.], 2009, p. 14)
Sob esse ponto de vista, averiguar a satisfação dos usuários com o ambiente
construído exige a análise de suas relações atuais com o local (quer seja na
escala do cômodo, edifício ou bairro) e das experiências vivenciadas em
momentos anteriores pelo indivíduo ou grupo (isto é, seu background social,
educacional e cultural). (ELALI, 2008, p.2)
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47
De acordo com a literatura da área (ELALI, PINHEIRO, 2011; GUNTER, PINHEIRO,
2008; ORNSTEIN, BRUNA, ROMÉRO, 1995; ORNSTEIN, ROMERO, 1992; PREISER,
RABINOWITZ, WHITE, 1988; RHEINGANTZ et al., 2009; SOMMER, SOMMER 2002), os
principais métodos/técnicas de pesquisa em APO se relacionam à aspectos físicos,
funcionais e comportamentais da situação em estudo, e podem ser divididos entre
aqueles que se relacionam à avaliação técnica (trabalho profissional, geralmente os
pesquisadores) e aqueles referentes à análise perceptiva (contato direto com os usuários
para coleta de sua opinião). No primeiro grupo estão: walkthrough, avaliação técnico-
funcional (ou vistoria técnica), mapeamento comportamental, mapeamento visual,
análise de vestígios comportamentais e análise de behavior settings. No segundo grupo
encontram-se: questionários, poema dos desejos, entrevistas, grupos focais, mapa
mental, seleção visual. Além disso, a apresentação conjunta dos resultados obtidos na
avaliação geralmente recorre à matriz de descobertas e ao quadro de recomendações.
Os métodos/técnicas supracitados encontram-se resumidos no Quadro 3. A seguir
são descritos brevemente os métodos/técnicas mais utilizados pelos professores
participantes do painel de experts (Ver capítulo 4), e que foram empregados na
experiência de ensino realizada nesta dissertação.
48
complementar as observações e esclarecer possíveis dúvidas dos pesquisadores. O
registro dos resultados pode ser feito de diversas maneiras (mapas, plantas, check-lists,
gravações de aúdio e vídeio, fotografias, desenhos, diários, fichas, etc) (RHEINGANTZ et
al., 2009) e os instrumentos podem ser previamente estruturados.
49
intervalos regulares de tempo (ex.: 15 em 15 minutos). O segundo enfoca os usuários e as
atividades desenvolvidas por eles enquanto permanecem no local, sendo o registro feito
em instrumento específico, e o número de participantes definido de acordo com o fluxo
geral de pessoas naquele lugar. O desenvolvimento dos mapas comportamentais
demanda grande disponibilidade de tempo para pesquisa, pois as observações
necessárias devem abranger uma variedade considerável de dias e horários, e o
pesquisador deve evitar interferências no ambiente durante o período de permanência
(ELALI, 2006).
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50
estatisticamente calculada e o número de respondentes é superior a 30, os questionários
são uma fonte de informações bastante confiável (ROMÉRO, ORNSTEIN, 2003).
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51
Quadro 3 – Principais métodos/técnicas de pesquisa em APO – em ordem alfabética
Método/Técnica Descrição
Análise de Behavior A análise de uma situação comportamental como “um sistema limitado, auto-
setting regulado e ordenado, composto de integrantes humanos e não-humanos
substituíveis, que interagem de um modo sincronizado para realizar (...) o
programa do setting” (Wicker, 1979).
Análise de Vestígios Resíduos que a ocupação humana deixou no ambiente, verificados pelo
de comportamento pesquisador, pode entender o que ocorreu no local mesmo sem ter assistido à
ação ou visto os usuários. Podem acontecer por erosão (algo foi retirado do
local) ou por deposição (algo foi deixado no local).
Avaliação técnico- Investigação profissional sobre aspectos construtivos e funcionais da edificação
funcional (Exemplo: superestrutura, pisos, alvenarias, esquadrias, impermeabilizações,
instalações, coberturas, área construída e área útil, circulações, adensamento,
layout, acessibilidade, conforto ambiental e outros).
Entrevistas Conversação voltada para atender a um determinado objetivo, que resulta em
um conjunto de informações sobre sentimentos, crenças, pensamentos e
expectativas das pessoas.
Grupo Focal Entrevista em grupo que permite a discussão organizada de um tema, com a
presença de um moderador e assistentes. Os resultados são qualitativos e
complementam os dados quantitativos obtidos por meio de questionários.
Mapeamento Registros gráficos das observações relacionadas com as atividades dos usuários
comportamental em um determinado ambiente; o mapeamento pode ser centrado na pessoa
ou centrado no ambiente.
Mapa mental Elaboração de desenhos ou relatos de memória representativos das ideias ou
da imageabilidade que um usuário ou grupos de usuários tem do ambiente.
Mapeamento visual Identifica a percepção dos usuários em relação ao ambiente, com foco na
localização, na apropriação, na demarcação de territórios, nas inadequações a
situações existentes, no mobiliário excedente ou inadequado e nas barreiras.
Matriz de descobertas Principais achados da pesquisa (pontos positivos e negativos detectados)
apresentados de modo gráfico, associado a planta baixa e/ou corte.
Poema dos desejos Conjunto de sentenças escritas ou desenhos que exprimem as necessidades,
sentimentos e desejos dos usuários com relação ao edifício ou ambiente.
Quadro de Conjunto de recomendações para intervenção no local estudado, que podem
recomendações envolver ações a curto, médio e longo prazo.
Questionários Conjunto de questões relacionadas a um determinado assunto ou problema,
utilizado para obter informações sobre percepção ambiental, comportamentos
e atributos.
Seleção visual Identifica os valores e os significados agregados pelos usuários ao ambiente em
uso.
Walkthrough Percurso dialogado pelo local, complementado por fotografias, croquis gerais e
gravação de áudio e de vídeo, abrangendo todos os ambientes.
Fontes: Barker (1978); Elali, Pinheiro (2011); Gunter, Pinheiro (2008); Ornstein, Romero (1992); Ornstein,
Bruna, Roméro (1995); Preiser, Rabinowitz, White (1988); Rheingantz et al. (2009); Sommer, Sommer
(2002); Wicker (1979);trabalhados pela autora.
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3 PROPOSTA DE ESTUDO
Este capítulo trata das estratégias definidas para o desenvolvimento desta
pesquisa; considerando como o objetivo principal do trabalho discutir a utilização de
métodos e técnicas de pesquisa da APO como abordagem complementar ao exercício
projetual de design de interiores, em contexto acadêmico de graduação.
As etapas aqui descritas incluem os procedimentos e critérios necessários para a
realização da pesquisa preliminar (que consistiu no levantamento e análise dos cursos de
graduação em Design de Interiores, contextualização da questão de pesquisa), coleta de
dados referentes ao ensino de APO nos cursos de AU através da construção de Painel de
Experts (Estudo Empírico 1) e o planejamento da experiência didática proposta e seu pré-
teste (Estudo Empírico 2).
É importante ressaltar que, ao longo da pesquisa vários ajustes foram realizados
em razão das informações obtidas, das dificuldades encontradas e da emergência de
questões não previstas inicialmente.
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53
Posterior a este levantamento realizou-se uma pesquisa nos sítios eletrônicos das
instituições a fim de obter informações relativas aos cursos, como PPC, organograma e
ementário das disciplinas.
Dos 5 cursos considerados, apenas o curso de Design da UFU possui PPC
disponibilizado na internet, embora o mesmo seja de 2007 e esteja, aparentemente,
desatualizado (Curso e nomenclatura antiga: Design de Interiores). Os demais cursos
foram contatados via email e, prontamente, responderam a solicitação. Contudo, apenas
UEMG e UFU disponibilizaram os PPCs completos. O curso da UFRJ esclareceu, através de
sua coordenadora, que o PPC encontra-se desatualizado e em processo de aprovação na
Universidade. Enquanto os representantes do curso da UFBA responderam ao contato,
mas não enviaram o material em tempo hábil.
No que se refere a pesquisa do ementário das disciplinas, exceto o sítio eletrônico
do curso da UFBA, todos os sítios eletrônicos dos cursos possuem as ementas completas
disponíveis para consulta na internet. Em ambos os documentos (PPC e ementário das
disciplinas) a análise se deu através da busca das seguintes expressões: “Avaliação Pós-
Ocupação”, “Relação Pessoa-Ambiente”, “Avaliação de Desempenho” e “Psicologia
Ambiental”.
O levantamento do número de cursos de graduação tecnológica no Brasil se deu
através da mesma plataforma (E-mec) e a pesquisa foi direcionada por estado para
distribuir nacionalmente o ensino tecnológico na área. A expressão de consulta foi
“Design de Interiores” e como critérios de busca foi utilizado a modalidade presencial e o
grau tecnológico.
Esta etapa teve como objetivo conhecer os cursos de Design de Interiores no Brasil
e compreender se temas relacionados com APO e/ou avaliação de desempenho do
ambiente construído são apresentados nas disciplinas de projeto. Deste modo foi possível
traçar um panorama sobre o ensino de APO nesses cursos e perceber que os mesmos não
se encontram em consonância com os cursos de AU, que cada vez mais vêm discutindo o
uso das avaliações de desempenho no processo de projeto.
Contudo, é importante ressaltar que a ausência da APO como disciplina específica
ou como assunto abordado em outras disciplinas não significa necessariamente que este
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54
conteúdo não é ensinado ao longo do curso. Do mesmo modo que, a sua existência não
representa a necessária incorporação dos conceitos, métodos e técnicas nos processos de
projeto de design de interiores.
A abordagem teórico conceitual da APO, bem como sua interface com o processo
projetual de AU e os métodos e técnicas de pesquisa reconhecidos e amplamente
divulgados na área, desenvolveu-se através do levantamento de artigos, publicações,
livros, dissertações e teses que discorriam sobre a consolidação e uso da APO,
principalmente em âmbito nacional.
Esta etapa teve como objetivo compreender como o campo da APO expandiu-se
no Brasil e de que forma os pesquisadores da área argumentam sobre a beneficiação do
processo projetual pelos diagnósticos oriundos da avaliação e sobre as dificuldades
inerentes à ampliação do seu uso na formação projetual e na área profissional. Para
tanto, foram investigados como principais centros de atividade intelectual e de produção
de conhecimentos no assunto os grupos de pesquisa e professores/pesquisadores da
USP, UFRJ, Unicamp e UFRN. (GALVÃO, ORNSTEIN, ONO, 2012). Assim como se
considerou também a literatura internacional de referência no assunto.
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55
detalhadamente o contexto do ensino e prática da APO nos cursos AU, em especial a sua
utilização no processo de projeto. Diante disso, optou-se pela realização de um Painel de
Experts que permitisse compreender no cenário nacional o uso da APO nos cursos de AU,
a partir da identificação dos grupos de pesquisa e centros que desenvolvem trabalhos
nessa área e da aplicação de questionários para os respectivos líderes.
O painel de experts é uma técnica que possibilita o confronto de opiniões a
respeito de um tema em estudo, correspondendo ao levantamento da opinião de pessoas
consideradas capazes de contribuir para a elucidação das questões emergentes
(PINHEIRO; FARIAS; ABE-LIMA, 2013)
A quantidade de pessoas participantes não é definida previamente, podendo ser
delimitada a partir de uma rede de indicações entre eles, sendo sua “especialidade”
relacionada aos ambientes, situações ou fenômenos de interesse para a pesquisa (ELALI,
PINHEIRO, 2013).
Para fins de organização e melhor associação dos procedimentos metodológicos
realizados aos resultados obtidos, o desenvolvimento desse item encontra-se no Capítulo
4 “Estudo 1: Painel de Experts”.
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56
cursado previamente a disciplina de Psicologia Ambiental e os exercícios propostos foram
realizados em grupo (10 grupos de aproximadamente 4 alunos).
As atividades realizadas durante o planejamento didático e ao longo da execução
da disciplina encontram-se detalhadas no Capítulo 5 “Estudo 2: A Experiência Didática”,
assim como a análise das potencialidades e limitações de cada método e técnica utilizado
(walkthrough, vistoria técnica, mapeamento comportamental, poema dos desejos,
questionários) , seu resultado final (mapa de descobertas e quadro de recomendações) e
a análise das propostas projetuais apresentadas pelo alunos.
Em termos analíticos, os resultados relacionados à aplicação de métodos/técnicas
de APO recorreu à indicação dos procedimentos para sua aplicação, principais resultados,
e as dificuldades e limitações encontradas.
Quanto à avaliação das propostas projetuais, a análise recorreu às indicações orais
e escritas da APO que foram coletadas nas assessorias, ou apresentadas na Matriz de
Descobertas e no Quadro de Recomendações. Essas informações permitiram a definição
de quatro eixos analíticos – (i) programação arquitetônica, (ii) questão funcional, (iii)
solução formal e (iv) argumentação/justificativa das soluções -, cujo entendimento é
esclarecido seguir.
Programação arquitetônica: atividade pré-projeto que mapeia as atividades/funções
previstas e as condições mínimas necessárias para sua realização (dimensionamento,
fluxos, equipamentos, etc.).
Questão funcional: disposição espacial dos ambientes e do layout interno, previsão
das condições de conforto ambiental, segurança, acessibilidade e etc.
Solução formal: linguagem adotada pelo projetista para resolução do programa no
que se refere à composição dos elementos do projeto, cores e partido;
Argumentação/justificativa das soluções (oral ou escrita): discurso oral de defesa
das propostas do projeto e detalhamento e fundamentação das soluções no
memorial descritivo.
Finalizando o estudo é apresentada a apreciação crítica do professor responsável,
que procurou estabelecer comparações com resultados obtidos em semestres anteriores,
para tanto também foi considerado os critérios supracitados.
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57
4 ESTUDO 1: PAINEL DE EXPERTS
Na apresentação desse Estudo 1 recorremos a três subitens: Procedimentos
metodológicos resultados e indicações para o novo estudo. O primeiro é dedicado à
explanação mais detalhada do método, o instrumento de pesquisa e os participantes. A
seguir são relatados os principais resultados obtidos. No último item são destacadas as
indicações do painel de experts que foram importantes para a continuidade do trabalho
(Estudo 2).
O painel de experts desta dissertação foi formado por professores brasileiros com
atuação reconhecida no campo da APO. Os participantes foram contactados a partir das
informações obtidas em levantamento realizado no DGP-CNPQ, base que documenta a
existência de grupos de pesquisa em atividade, indicador considerado fundamental, pois
mostra a atividade intelectual e de produção de conhecimentos do grupo docente. A
busca resultou em um número de 34 grupos de pesquisa que utilizam a expressão
“Avaliação Pós Ocupação” no título, nas palavras chave e/ou para descrever suas
atividades.
Contudo, este número não refletiu com precisão os grupos de pesquisa que
trabalham com APO, pois algumas bases importantes como o Prolugar da UFRJ e o
NAURB da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) não constam nos resultados da busca,
pois, embora seus membros publiquem trabalhos de APO regularmente (que localizamos
por meio de eventos na área e periódicos), a expressão “Avaliação Pós-Ocupação” não
fazer parte do nome do grupo ou dos seus objetivos. Com base nesse conhecimento
adicional, acrescentou-se ao levantamento anterior mais alguns
professores/pesquisadores.
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58
Localizados os possíveis participantes, um total de 31 professores/pesquisadores
receberam, via email, a solicitação de participação na pesquisa, que, além de uma
mensagem inicial, incluiu o link do questionário e o convite para preencher o TCLE a fim
de validar a sua participação e preservar o caráter ético deste trabalho. Dos 31
contatados, 16 responderam ao questionário e confirmaram a participação na pesquisa,
passando a compor o grupo de experts.
O instrumento de pesquisa nessa etapa foi um questionário em versão digital (Ver
apêndice A) subdividido em 3 partes, cujo objetivo foi identificar:
4.2 Resultados
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59
reforçam a distribuição regional dos grupos de pesquisa (41% no Sudeste, 26% Nordeste,
22% Sul e 11% no Centro-Oeste) realizada por Galvão, Ornstein, Ono (2012).
Em consonância com o evidente crescimento da área nas últimas décadas,
observa-se que entre os professores participantes da pesquisa, 56% (9 respondentes)
lecionam disciplinas de APO entre 5 e 9 anos, enquanto 25% (4 respondentes) lecionam
há mais de 15 anos, 13% (2 respondentes) entre 10 e 14 anos, e 6% (1 respondentes) há
menos de 5 anos.
Os docentes entraram em contato com APO em seus estudos de pós-graduação,
por iniciativa própria, ou, ainda, através de pesquisas desenvolvidas em conjunto com
outro professor/pesquisador (31% ou 5 respondentes em cada item), havendo apenas 1
respondente que não se recorda. Note-se que nenhum deles teve contato com tal
conteúdo no curso de graduação ou de cursos isolados, situação que provavelmente está
em mudança, com a aproximação da APO da formação básica na área (Figura 6).
_____________________________________________________________________________________________________________
60
Figura 6 – Gráficos sobre a experiência dos professores/pesquisadores com APO.
Fonte: a autora
_____________________________________________________________________________________________________________
61
Nas experiências didáticas relatadas pelos experts nos cursos de graduação, o
ensino de APO está fortemente ligado a outras disciplinas (Figura 7), principalmente de
projeto arquitetônico, projeto urbanístico ou disciplinas do eixo tecnológico. Apenas um
curso aborda a APO através de uma disciplina específica obrigatória e outros 5 ofertam
uma disciplina específica optativa.
Fonte: a autora
Aguçar o espírito crítico dos graduandos em relação aos seus próprios projetos
assim como desenvolver um olhar mais atento aos detalhes arquitetônicos e
construtivos de quaisquer edifícios com vistas ao incremento da qualidade no
processo de projeto. (P2)
_____________________________________________________________________________________________________________
62
uma proposta pedagógica integradora, proporcionam aos estudantes/projetistas maior
entendimento dos aspectos positivos e negativos do ambiente construído e,
consequentemente, soluções projetuais mais adequadas às necessidades e peculiaridades
dos diferentes grupos de usuários.
Complementado a pesquisa preliminar desenvolvida nesta dissertação (Ver
capítulo 3 – Procedimentos Metodológicos), 2 respondentes esclarecem que o ensino de
APO está inserido nas disciplinas de ateliê como metodologia de projeto dos cursos de
graduação tecnológica em Design de Interiores do IFPB (Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia da Paraíba) e de graduação tradicional em Design da UFU. Embora, o
PPC e as ementas das disciplinas deste último não façam referências a esta prática.
_____________________________________________________________________________________________________________
63
Nos apoiamos em multi-métodos, sempre mesclando instrumentos de natureza
quali e quantitativa, principalmente com o uso de questionários,entrevistas,
grupos focais e observações. (P10)
No que se refere ao produto final desenvolvido nas disciplinas, grande parte dos
respondentes (6/16) apontam a proposta projetual como principal produto, seguido das
recomendações de curto, médio e longo prazo (5/16), relatório técnico (4/16), matriz de
descobertas (4/16), entre outras formatos (3/16). Eles esclarecem, ainda, que geralmente
o objetivo principal do trabalho realizado é o rebatimento dos resultados da APO no
projeto arquitetônico, para o que a matriz de descobertas mostra-se muito eficiente, por
se tratar de um resultado gráfico que contribui bastante com o processo projetual junto
com os diagnósticos e recomendações.
Como a disciplina e voltada para projeto, se faz necessário uma analise técnico
do ambiente, juntamente com as necessidades dos usuários. Resultando em
uma proposta projetual. (P7)
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64
encaminhamento dos resultados da APO para o projeto e, principalmente, para divulgar
as principais falhas e os maiores acertos projetuais.
Quanto à participação dos professores/pesquisadores nos ateliês que
desenvolveram projetos arquitetônicos utilizando a APO como metodologia projetual, a
grande maioria relata ter tido essa experiência nos cursos de graduação, e identifica a
influência dos resultados da APO principalmente na questão funcional, na programação
arquitetônica e, menos frequentemente, na argumentação oral ou escrita das soluções
adotadas (Figura 8).
_____________________________________________________________________________________________________________
65
Figura 8 – Gráficos sobre a experiência da Instituição com o ensino de APO na graduação.
Fonte: a autora
_____________________________________________________________________________________________________________
66
Vários experts consultados acrescentaram ser essencial para a qualidade do
processo de projeto conhecer e criticar edificações existentes para posteriormente
projetar, de modo que as análises de precedentes sejam enriquecidas com dados mais
objetivos oriundos da APO. Um segundo grupo ressaltou, ainda, que geralmente o tempo
para realização de uma APO nas disciplinas de projeto é muito restrito, de modo que seria
mais adequado empregar pesquisas já desenvolvidas, apenas utilizando seus resultados
como base para o desenvolvimento dos projetos. Uma terceira opinião indica a
importância de planejar a disciplina e orientar o desenvolvimento da APO para que a
mesma não seja somente uma ferramenta para levantamento de dados, e sim uma
abordagem de análise do ambiente construído que alimente várias etapas e decisões do
processo projetual.
No que diz respeito ao ensino e as pesquisas de APO na pós-graduação de suas
respectivas instituições, a maioria dos experts confirmam que nesse nível as pesquisas
encontram-se bem consolidadas, sendo sistematicamente desenvolvidas há anos. No
entanto, alguns respondentes evidenciam que as pesquisas em APO ainda são pouco
difundidas e desenvolvidas em número significativo em seus programas, porém
vislumbram um futuro promissor para a área. Outros, ainda, fizeram referência a
pesquisas desenvolvidas nos cursos de pós-graduação das Escolas de Engenharias,
especificamente nos cursos de Engenharia Civil e Gerenciamento de Projetos.
67
ensino de APO. Nesse sentido, os participantes enfatizaram ser fundamental discutir mais
profundamente a importância das RPA e de ciências afins para arquitetura e, em especial,
para o projeto arquitetônico, sendo interessante estimular o interesse pelas pesquisas
nesse campo durante a iniciação científica, uma vez que posteriormente elas poderão ser
retomadas na pós-graduação. Até mesmo a formação profissional será beneficiada com a
inserção desses conteúdos que favorecem a formação de arquitetos e urbanistas mais
atentos e cientes de suas responsabilidades no ambiente construído.
_____________________________________________________________________________________________________________
68
5 ESTUDO 2: A EXPERIÊNCIA DIDÁTICA
A experiência didática desenvolvida neste trabalho, devidamente autorizada pela
instituição receptora (Ver Apêndice C), considerou o contexto da disciplina ‘Projeto de
Interiores Institucionais’ na qual seria aplicada, bem como o conhecimento prévio
acumulado pelos alunos em outros componentes curriculares, notadamente na disciplina
de Psicologia Ambiental. Ressalta-se, ainda, a importância do Painel de Experts para o
planejamento e desenvolvimento desta experiência, principalmente no que se refere à
definição dos métodos e técnicas de pesquisa.
As atividades realizadas encontram-se descritas a seguir obedecendo o seguinte
roteiro: planejamento da experiência; métodos e técnicas de pesquisa utilizadas,
desenvolvimento da avaliação e avaliação dos projetos. A fim de facilitar a leitura cada
item será apresentado seguido pelos resultados obtidos.
5.1 Planejamento
_____________________________________________________________________________________________________________
69
desenvolvido na disciplina Ensino de Projeto de Arquitetura, ministrada no PPGAU–UFRN
pela Prof.ª Drª Maisa Veloso no segundo semestre de 2012.
O cronograma de atividades proposto considerou o calendário acadêmico da
Instituição receptora e foi desenvolvido em 2 unidades de avaliação pré-determinadas: a
primeira unidade, com duração de 10 semanas, foi dedicada à APO; a segunda unidade,
com 8 semanas, foi destinada ao desenvolvimento da proposta projetual. Foram
conteúdos trabalhados na primeira unidade: estudo de referência, avaliação técnica,
funcional e comportamental; principais métodos e técnicas de APO; atividade de campo
para coleta de dados; análise de dados; apresentação dos resultados por meio de matriz
de descobertas e diretrizes para intervenção. Os conteúdos da segunda unidade
incluíram: composição do ambiente destinado a comércio e serviços; materiais,
acabamentos e revestimentos; relação entre projeto de arquitetura de interiores e
projetos complementares; desenvolvimento da proposta projetual em nível de estudo
preliminar.
A fim de agilizar a participação dos estudantes e evitar grandes deslocamentos,
buscou-se dentro da própria Instituição de ensino um ambiente que atendesse aos pré-
requisitos da ementa original e que representasse para o docente responsável os desafios
e possibilidades de intervenção considerados fundamentais para o desenvolvimento de
um projeto de interiores de cunho institucional, além de possuir características que
favorecessem o desenvolvimento de uma APO, tais como tratar-se de: (i) um ambiente
real, (ii) de interesse para grande quantidade de pessoas, (iii) de fácil acesso e (iv) familiar
aos alunos. Neste sentido, a Biblioteca da instituição (Figura 9) foi considerada um
ambiente adequado à proposta, sendo definida como o objeto a ser trabalhado.
Esperava-se que, ao final do semestre, os alunos elaborassem propostas para
adequação do espaço às suas funções, desenvolvida em termos gráficos e textuais, no
primeiro caso usando a linguagem técnica adequada, e no segundo, justificando suas
decisões em função da APO.
_____________________________________________________________________________________________________________
70
Figura 9 – Planta Baixa da Biblioteca.
_____________________________________________________________________________________________________________
71
5.2 O desenvolvimento da APO
72
5.2.1 Walkthrough
PROCEDIMENTOS:
Foi o primeiro método a ser aplicado e o primeiro contato dos alunos com o
objeto; todos os estudantes participaram. As orientações necessárias foram fornecidas
em sala de aula, juntamente com os formulários de registro. Em seguida os alunos se
dirigiram à biblioteca, sendo a visita acompanhada por um funcionário.
Esta atividade foi realizada no dia 04/03/2013, durou cerca de 2 horas e resultou
em um pequeno seminário apresentado no dia 11/03/2014, na qual todos os grupos
apresentavam suas primeiras impressões sobre o local em estudo.
RESULTADOS:
O walkthrough foi o método com o qual se propôs que os alunos tivessem um
contato diferenciado com a Biblioteca, justamente por se configurar como um
procedimento exploratório inicial que pode ser realizado com facilidade e rapidez. Neste
caso, os alunos/avaliadores já tinham um conhecimento prévio (teórico e prático) do
ambiente e da temática tratada, e a visita conduzida pelo funcionário foi direcionada
principalmente para os ambientes que tinham acesso restrito e para a rotina de
funcionamento da Biblioteca.
O desenvolvimento do Walkthrough possibilitou aos alunos reconhecer as
necessidades funcionais de cada ambiente e atividade, principalmente as necessidades de
mobiliários específicos, equipamentos e áreas de guarda. Assim como foi possível
compreender também, mesmo que superficialmente, os usos e principais fluxos dos
usuários de acordo com a distribuição de atividades ao longo do período acadêmico
(início de período, semana de provas, trabalhos e outras atividades).
Questões relacionadas a conforto térmico, acústico, acessibilidade e atendimento
a NBR 9050 foram muito discutidas pelos alunos nas apresentações em razão deste
conteúdo estar presente no curso como disciplina específica ou como conteúdo das
disciplinas de projeto. A segurança contra furto, depredação de bens e incêndio foi
_____________________________________________________________________________________________________________
73
amplamente apresentada pelo funcionário e ressaltada pelos alunos, assim como os
processos internos de cadastro, identificação e empréstimo de livros.
As análises dos aspectos relacionados à estética, identidade e comunicação visual,
embora pouco explorados durante a visita pelo funcionário e pelos alunos, foram
relacionados por quase todos os grupos que ressaltaram na apresentação dos resultados
a ausência de cores, texturas e acabamentos que favoreçam a criação de uma atmosfera
diferenciada para cada ambiente e atividade (Figuras 10).
DIFICULDADES E LIMITAÇÕES:
O desenvolvimento do Walkthrough por um número relativamente grande de
alunos (aproximadamente 20 alunos divididos em 5 grupos) favoreceu a dispersão e o
desinteresse de alguns ao longo da visita e, em situações específicas, interferiu no
_____________________________________________________________________________________________________________
74
funcionamento do ambiente devido, por exemplo, ao ruído de conversas paralelas e à
permanência por tempo além do necessário.
Os alunos demonstraram pouco apego ao instrumento de registro, indicando que
seu preenchimento foi secundário; a maioria mostrou-se mais preocupada em fotografar
os ambientes. Atribuímos esse comportamento a duas questões: a primeira está
relacionada ao fato das fichas de registro terem sido previamente elaboradas pela
pesquisadora e por isso os alunos não se apropriaram do instrumento; a segunda está
relacionada a um comportamento padrão dos estudantes, que atualmente se relacionam
de forma muito próxima com os equipamentos tecnológicos, atribuindo menor
importância aos equipamentos convencionais (lápis e papel). Entendemos que em uma
nova experiência este aspecto precisa ser levado em consideração, sendo adequado
adaptar este procedimento aos interesses do alunado.
Nas análises geradas pelo Walkthrough os grupos priorizaram aspectos negativos
do ambiente e poucas observações foram realizadas sobre aspectos que tem um bom
funcionamento e deveriam ser preservados. O formato de apresentação também foi
pouco explorado, no que se refere à diagramação visual, volume de informações, apelo
estético e, contraditoriamente, referências fotográficas (Figura 11).
75
5.2.2 Avaliação Técnico-Funcional
PROCEDIMENTOS:
Na experiência de ensino, o instrumento desenvolvido para esta avaliação técnico-
funcional compreendeu aspectos relacionados a 8 elementos do ambiente construído:
Programa Arquitetônico, Acessibilidade (NBR 9050), Mobiliários e Acessórios, Conforto
Ambiental, Infra-estrutura, Segurança, Características/Patologias Construtivas e Estética.
Na avaliação do desempenho de cada item foi utilizada uma escala que abrangeu 4
valores subjetivos, posteriormente transformados em numéricos (para facilitar a
tabulação dos dados e permitir o cálculo de médias): Ótimo (=4), Bom (=3), Regular (=2) e
Ruim (=1).
No caso específico desta APO, a avaliação técnica-funcional considerou apenas o
conhecimento técnico dos avaliadores (alunos) e não foram utilizados instrumentos ou
documentos para explicitar os critérios de julgamento.
A tabulação dos resultados se deu através de plataforma Excel, em planilha criada
pela pesquisadora, na qual os alunos fizeram apenas a transcrição dos resultados para
gráficos de barra pré-programados para cada elemento do ambiente construído descrito
acima (Figura 12). A Avaliação Técnico-Funcional ocorreu em 01/04 e durou cerca de 3
horas.
_____________________________________________________________________________________________________________
76
Figura 12 – Exemplo de gráfico gerado para a Avaliação Técnico-Funcional.
Fonte: a autora.
RESULTADOS:
A avaliação dos aspectos técnicos, funcionais e construtivos da Biblioteca não
exigiu dos alunos consulta em materiais normativos, resoluções ou bibliografia específica
sobre a temática. Contudo, sua própria experiência e conhecimento técnico da área
embasou a avaliação, já que sendo este o último período do curso os alunos tem a
capacidade de fazer julgamentos sobre assuntos relacionados à qualidade do ambiente
construído.
Os ambientes considerados fundamentais no Walkthrough foram avaliados
individualmente (Acesso e Consulta, Acervo, Sala de Estudos em Grupo, Sala de Estudos
Individuais, Cabine de Estudo em Grupo e Sala de internet) em função dos seguintes
aspectos: Programa Arquitetônico, Acessibilidade (NBR 9050), Mobiliários e Acessórios,
Conforto Ambiental, Infra-estrutura, Segurança, Características/Patologias Construtivas e
Estética.
Neste sentido, observa-se que os grupos que desenvolveram a Avaliação Técnico-
Funcional apresentaram na Matriz de Descobertas pontos que se relacionam diretamente
_____________________________________________________________________________________________________________
77
com os 8 aspectos considerados, como por exemplo: dimensionamento dos ambientes,
comunicação visual, acessibilidade, conforto acústico, instalações elétricas e internet,
segurança contra incêndio e uso de cores.
Os pontos ressaltados pelos alunos geram demandas que influenciam diretamente
a atividade de proposição projetual do espaço, objetivo fim da disciplina. Identificou-se
também no discurso dos alunos um vocabulário mais rico de termos técnicos e críticas
negativas.
DIFICULDADES E LIMITAÇÕES:
A Avaliação Técnico-Funcional é um dos poucos métodos de APO que tem sua
origem no campo da AU, por essa razão espera-se dele análises mais sólidas e
fundamentadas.
No desenvolvimento da avaliação, embora os alunos recebam orientações do
professor, é necessário recorrer ao conteúdo de outras disciplinas do curso para
compreender corretamente a avaliação e os aspectos avaliados, assim como para a
definição dos critérios de julgamento que serão adotados. Caso os alunos tenham
deficiências anteriores, o entendimento e a avaliação de determinados aspectos ficará
comprometida e pouco confiável.
No que se refere ao próprio método e ao instrumento utilizado, observa-se que
devido a falta de compreensão e domínio de todos os aspectos, o preenchimento de
alguns itens foi automatizado e praticamente nenhuma observação foi feita para
complementar a avaliação.
Por fim, a análise dos resultados obtidos e a construção da Matriz de Descobertas
se restringiram aos aspectos negativos do ambiente construído e, embora a tabulação
dos resultados tenha gerado gráficos específicos para cada aspecto avaliado por
ambiente, essas informações não foram utilizadas na Matriz de Descobertas e geraram
poucas demandas no Quadro de Recomendações para o projeto.
_____________________________________________________________________________________________________________
78
5.2.3 Mapa Comportamental
PROCEDIMENTOS:
O Mapeamento Comportamental Centrado no Lugar (MCCL) foi utilizado em razão
de ser mais facilmente aplicável e gerar resultados relacionados à distribuição espacial
dos usuários por setor e padrões de comportamento nas áreas de maior interesse para o
projeto de intervenção (Acesso, Consulta e Acervo).
A tabulação dos resultados também foi feita através de plataforma Excel, em
planilha criada pela pesquisadora, na qual os alunos fizeram a transcrição do somatório
geral das fichas de registro para gráficos de pizza pré-programados a fim de gerar
informações relativas aos comportamentos, setores e gênero (Figura 13).
Além dos gráficos, era esperado que os estudantes produzissem plantas baixas do
local (mapas) com manchas relativas aos locais mais ou menos ocupados, ou indicando os
comportamentos mais observados na relação dos usuários com o espaço.
O Mapeamento Comportamental foi realizado no dia 01/04 e durou cerca de
02h30min, considerando o intervalo de registro de 15 em 15 minutos.
_____________________________________________________________________________________________________________
79
Figura 13 – Exemplo de gráficos gerados para o Mapeamento Comportamental.
Fonte: a autora.
RESULTADOS:
O desenvolvimento do mapeamento comportamental identificou os
comportamentos predominantes na Biblioteca e os setores mais utilizados pelos usuários
através das observações e dos registros fotográficos. No entanto, os resultados foram
pouco considerados pelos grupos na construção da Matriz de Descobertas e no Quadro
_____________________________________________________________________________________________________________
80
de Recomendações (nestes constavam apenas as informações obtidas no Walkthrough) e
o discurso não fez nenhuma referência aos setores mapeados e aos comportamentos
identificados.
DIFICULDADES E LIMITAÇÕES:
Corroborando as indicações da literatura, o MCCL foi certamente a técnica mais
difícil de ser aplicada. De maneira geral, nota-se que os alunos não compreenderam qual
era seu objetivo e como deveriam proceder na aplicação. Notou-se, inclusive, que os
grupos participaram ativamente do ambiente enquanto desenvolviam as observações, o
que alterou os resultados. O uso do MCCL em outras experiências precisa, portanto, ser
planejado mais detalhadamente, exigindo maior treinamento prévio do grupo.
• PROCEDIMENTOS:
A aplicação do Poema dos Desejos teve como objetivo identificar as principais
aspirações dos professores da Instituição e construir o “cenário” ideal através da
sentença “Eu gostaria que essa biblioteca fosse...”.
Embora aparentemente a técnica pudesse aparentar exigir uma resposta escrita,
os participantes foram orientados a completar a sentença-estímulo da maneira que
preferissem, inclusive com desenhos. Apesar dessa possibilidade, a maioria dos
participantes optou pela escrita de textos.
A tabulação dos resultados aconteceu em duas etapas. (i) Com relação aos dados
objetivos relativos ao perfil dos frequentadores foi feita uma tabulação dos resultados
por meio de plataforma Excel, em planilha criada pela pesquisadora, na qual os alunos
fizeram a transcrição dos dados objetivos para gráficos de pizza pré-programados para
gerar informações. (ii) Em relação aos poemas em si, inicialmente foi feita a leitura e
análise do material produzido e as respostas foram categorizadas de modo a sintetizar os
principais desejos mencionados nos textos dos participantes (Figuras 14 e 15).
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81
Figura 14 – Exemplo de gráficos gerados para os Poemas dos Desejos.
Fonte: a autora
Fonte: a autora
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82
A realização dos poemas envolveu 2 grupos, foi realizada no dia 01/04 e durou
cerca de 3 horas, tendo sido coletadas 40 respostas, analisadas quantitativamente e
utilizadas como citação nos relatos. Participaram como respondentes apenas professores
da Instituição.
RESULTADOS:
A aplicação do Poema dos Desejos foi desenvolvida de maneira muito simples e
gerou resultados relevantes para o desenvolvimento da Matriz de Descobertas.
A partir da sentença “Eu gostaria que essa Biblioteca fosse...” os professores
ressaltaram questões relacionadas ao espaço físico, conforto ambiental, acessibilidade,
ampliação do acervo de livros, maior apelo estético dos ambientes, sinalização e
organização. A grande variedade de respostas obtidas foi categorizada pelos grupos que
através de gráficos identificaram o perfil dos professores respondentes (sexo, idade, há
quanto anos leciona na instituição, etc.) e os seus principais desejos e anseios para a
Biblioteca.
Em termos de análise e apresentação, esta foi a técnica que gerou os melhores
resultados. Nas Matrizes de Descobertas os grupos fizeram cruzamento dos dados e
consideraram de forma equilibrada as informações obtidas no Walkthrough e o resultado
do Poema dos Desejos, identificaram inclusive se a descoberta estava relacionada à
análise do avaliador ou à opinião do professor respondente. O Quadro de
Recomendações listou os principais problemas dos ambientes e as possíveis soluções
projetuais para resolvê-los.
Os resultados evidenciaram, portanto, a relevância desta técnica para
compreender o que um determinado grupo de usuários espera do ambiente avaliado,
principalmente quando esses usuários vivenciam frequentemente o objeto arquitetônico
e incluem questões de cunho mais objetivo nos seus desejos.
DIFICULDADES E LIMITAÇÕES:
Devido ao Poema dos Desejos ter um caráter propositivo e estimular respostas
que reforçam as necessidades do ambiente, é importante realizar o cruzamento dos seus
_____________________________________________________________________________________________________________
83
resultados com outros métodos e técnicas para que os mesmos fiquem mais realísticos e
confiáveis.
Apesar dessa aparente vantagem, em alguns casos o Poema dos Desejos pode
gerar respostas imprecisas e difíceis de serem categorizadas. No entanto, essa atividade
mostrou favorecer a apropriação das respostas pelos alunos, repercutindo na Matriz de
Descobertas e na proposta projetual.
5.2.5 Questionário
PROCEDIMENTOS:
A aplicação de questionários foi presencial e direcionada aos alunos
frequentadores da Biblioteca (em geral vinculados à instituição). Diferentemente dos
outros métodos/técnicas, 4 grupos ficaram responsáveis pela sua aplicação, cada um dos
quais devendo aplicar 20 questionários, o que totalizou 80 respondentes 10. A aplicação
dos questionários aconteceu em 01/04 e durou cerca de 3 horas.
O questionário visou conhecer a opinião dos estudantes sobre aspectos da
Biblioteca comuns à Avaliação Técnico-Funcional e sua percepção sobre os diferentes
ambientes (Entrada e Consulta, Acervo, Sala de Estudos em Grupo, Sala de Estudos
Individuais, Sala de internet e Cabines de Estudo em Grupo). A escala de avaliação
utilizada abrangeu 4 valores: Ótimo (4), Bom (3), Regular (2) e Ruim (1).
A tabulação dos resultados recorreu a plataforma Excel, em planilha criada pela
pesquisadora, na qual os alunos transcreveram o resultado geral para gráficos de pizza
pré-programados para gerar informações relativas ao perfil dos frequentadores e sua
percepção de alguns aspectos e dos ambientes (Figura 16).
10
Quantidade definida a partir de cálculo de amostra casual simples, com nível de confiança de 92% e
margem de erro de 10%, considerando uma população total de aproximadamente 5000 pessoas, segundo
orientação da Consultoria de Estatística (CONSULEST) do Departamento de Estatística da UFRN.
_____________________________________________________________________________________________________________
84
Figura 16 – Exemplo de gráficos gerados para os Questionários.
Fonte: a autora
_____________________________________________________________________________________________________________
85
RESULTADOS:
Os questionários aplicados aos alunos da Instituição avaliaram aspectos
relacionadas à Avaliação Técnico-Funcional, percepção ambiental e perfil dos
respondentes. Os resultados obtidos neste método tinham como objetivo compreender
como os alunos se sentem com relação a alguns ambientes da Biblioteca, como esta pode
ser melhorada e comparar com o ponto de vista dos outros participantes da pesquisa.
Os respondentes, em sua maioria, avaliaram os ambientes físicos (Acesso e
Consulta, Acervo, Sala de Estudos em Grupo, Sala de Estudos Individuais, Cabine de
Estudo em Grupo e Sala de internet) como bom e regular. No entanto, fizeram muitas
sugestões para melhoramentos nos aspectos relacionados à dimensão dos ambientes,
acessibilidade, conforto acústico, ampliação da área de acervo e uso de cores. Esses
resultados demostram conformidade com os desejos e anseios descritos pelos
professores no Poema dos Desejos.
Quanto a utilização dessas informações para a construção da Matriz de
Descobertas, dos 4 grupos que aplicaram o método, apenas 2 atingiram o objetivo e
desenvolveram correlações adequadas entre os resultados obtidos nos questionários e o
Walkthrough. Como foi feito, por exemplo, na análise da Sala de Estudo em Grupo, que
foi avaliada como insatisfatória pelos alunos, e os avaliadores complementaram esta
percepção com base em suas observações relacionadas ao dimensionamento, tratamento
acústico e ausência de tomadas no local.
Verifica-se, portanto, que quando utilizados da maneira correta os questionários
permitem conhecer a opinião de uma grande amostra de usuários e ainda compará-la e
complementá-la com outros métodos e técnicas; de modo que se faça uma leitura fiel do
ambiente construído e recomendações projetuais adequadas para cada problema
encontrado.
DIFICULDADES E LIMITAÇÕES:
A aplicação dos questionários requer uma amostra contabilizada e disposta a
participar da pesquisa. Neste caso específico isso não se configurou como uma
_____________________________________________________________________________________________________________
86
dificuldade, pois se tratando de um ambiente universitário as pessoas estavam dispostas
a colaborar e dar a sua opinião na pesquisa.
Na análise dos resultados, embora os gráficos sejam bastante representativos e
expressem graficamente as perguntas e opiniões, é necessário extrapolar a mera
descrição dos resultados e desenvolver discussões mais profundas correlacionando os
outros métodos e técnicas. Apenas os gráficos gerados pelos questionários e um ponto de
vista exclusivo não gera insumos para o projeto.
PROCEDIMENTOS:
Os resultados da APO foram sintetizados e apresentados graficamente e
oralmente por cada grupo nos dois formatos, Matriz de Descobertas e Quadro de
Recomendações. A construção de ambos, assim como a aplicação dos métodos/técnicas,
foi direcionada por uma cartilha de orientação desenvolvida pela pesquisadora (Ver
apêndice K) no dia 15/04/2013 durante 03h30min.
O seminário de apresentação dos resultados foi realizado no dia 22/04/2013
durante 2 horas, com formato de apresentação também desenvolvido pela pesquisadora
(Figuras 17 e 18). Por fim, todos os trabalhos foram disponibilizados para que todos os
grupos tivessem acesso às análises oriundas dos outros métodos/técnicas utilizados na
avaliação e desenvolvessem um breve exercício de concepção em classe. Na unidade
seguinte, essas informações foram retomadas para elaboração do projeto de intervenção
de interiores para a Biblioteca.
_____________________________________________________________________________________________________________
87
Figura 17 – Modelo de Matriz de Descobertas.
Fonte: a autora
Fonte: a autora
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88
RESULTADOS:
Ao resumir os achados da APO na Matriz de Descobertas e no Quadro de
Recomendações (Figuras 19 e 20), de maneira geral os alunos apresentaram um discurso
diferenciado sobre o ambiente analisado (sobretudo sobre os pontos críticos da
avaliação), bem como um vocabulário mais rico de termos técnicos. Demonstraram,
ainda, um grande interesse pelas expectativas/aspirações dos professores participantes
do Poema dos Desejos e nas respostas dos alunos aos Questionários
Contudo, houve dificuldade para compreender inteiramente o objetivo da APO e
alguns dos métodos e técnicas desenvolvidos, o que talvez exigisse uma etapa
preparatória maior. Em poucos casos houve cruzamento dos dados obtidos, de modo que
a maioria das matrizes apresentadas (grafica e oralmente) trabalharam apenas os
resultados de um método/técnica, quer Walkthrough, Avaliação Técnico-Funcional,
Poema dos Desejos ou Questionário.
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89
Figura 20 – Quadro de Recomendações
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90
Figura 21 – Matriz de Descobertas
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91
DIFICULDADES, LIMITAÇÕES E CONTINUIDADES:
Acredita-se que a utilização de instrumentos desenvolvidos pela pesquisadora, a
partir das demandas do Walkthrough e de outras pesquisas de APO com o mesmo tema,
pode ter contribuído negativamente para a experiência com esse perfil de aluno, pois
muitos não se apropriaram completamente dos métodos e das técnicas. Entretanto, a
construção dos instrumentos de avaliação por eles seria inviável em razão do tempo
previsto para a realização da APO (Unidade 1) e para o desenvolvimento do projeto
(Unidade 2).
É importante ressaltar que o desenvolvimento desta avaliação considerou o
princípio da triangulação metodológica descrita por vários autores e que, além da
apresentação oral dos resultados, ao concluir esta unidade os grupos trocaram as
Matrizes e Recomendações para que todos os grupos tomassem ciências das análises
geradas pelos outros métodos e técnicas antes de começar a atividade projetual.
Realizou-se também um pequeno exercício de concepção projetual, inspirado na
disciplina Ensino de Projeto de Arquitetura (ministrada Prof.ª Drª Maisa Veloso no PPGAU
–UFRN), no qual os grupos propuseram em planta-baixa ou perspectiva pequenas
intervenções/resoluções para algum problema identificado por outro grupo, cujo objetivo
foi estimular os alunos a utilizar os resultados da APO nas etapas posteriores de projeto.
92
No que se refere ao processo de criação, iniciado logo após a apresentação dos
resultados da APO, os alunos foram assessorados ao longo de 5 aulas, de acordo com o
ritmo e as necessidades específicas de cada grupo. As assessorias tinham como objetivo
fazê-los refletir sobre as soluções propostas e questionar possíveis problemas de ordem
técnica, funcional ou estética.
A primeira análise do rebatimento do conhecimento obtido na APO nas propostas
projetuais desenvolvidas pelos grupos se deu durante as assessorias, por meio de uma
Ficha de Acompanhamento (Apêndice L), na qual eram indicados: grupo, data da
assessoria, o material apresentado, um resumo das orientações do professor e as
principais referências verbais ou projetuais dos alunos aos resultados da APO. Tais
registros tiveram como finalidade auxiliar na avaliação da proposta final apresentada,
tanto no que se refere a sua evolução quanto em termos da consistência das descobertas
e recomendações da avaliação.
A segunda análise se deu através do projeto final, incluindo parte gráfica e
material escrito. Nesta etapa as análises se concentraram nas informações
disponibilizadas na Matriz de Descobertas e no Quadro de Recomendações enquanto
produto final da APO nessa experiência didática, por reunirem os dados (positivos e
negativos) considerados mais relevantes pelos estudantes, de maneira que o rebatimento
dessas informações no projeto representaria a influência da APO sobre os novos
produtos.
Por fim, a terceira e última análise foi desenvolvida pelo professor responsável,
em função da sua experiência no ensino da disciplina Projeto de Interiores. A opinião do
professor foi coletada por meio da entrevista semi-estruturada via telefone (Apêndice M)
e compreendeu os seguintes aspectos: (i) Experiência do docente no ensino de projeto;
(ii) Experiências anteriores na disciplina de Projetos Institucionais; (iii) Repercussões da
APO nas soluções de projetos. A apreciação dos projetos por parte do professor
considerou os mesmos critérios analíticos adotados para avaliação dos projetos (solução
formal, questão funcional, programação arquitetônica e argumentação oral ou escrita das
soluções), embora, por tratar-se de uma entrevista semiestruturada, houvesse liberdade
_____________________________________________________________________________________________________________
93
para que ele tratasse outros aspectos e fizesse as observações que considerasse
necessárias.
94
PROGRAMAÇÃO ARQUITETÔNICA:
No que se refere ao programa desenvolvido nas propostas dos estudantes, não
foram verificadas ousadia ou contestação: todos os trabalhos mantiveram o programa
inicialmente existente, com reestruturação das áreas e incorporação de soluções que
proporcionassem maior conforto aos usuários.
Nesse aspecto as principais alterações se relacionaram à ampliação do acervo
(impresso, digital e periódicos), sala de estudo individual e cabines de estudos em grupo.
Dentre essas, a área destinada ao acervo da biblioteca foi o espaço que sofreu menos
modificações e, na maioria dos trabalhos, teve os limites físicos preservados quase que
completamente. Destaca-se neste ambiente a ampliação da área e a inclusão de espaços
adjacentes para leitura ou espera, conforme foi constatado no Quadro de
Recomendações (sobretudo pelos grupos que desenvolveram o Poema dos Desejos e os
Questionários).
Nesse sentido, 8 grupos incorporaram ao espaço investigado (pré-existente) uma
área lateral (salas adjacentes), acrescentando à biblioteca cerca de 50 m².
Note-se, ainda, que as áreas internas pouco foram modificadas, sendo as
principais intervenções relacionadas ao atendimento direto das necessidades expostas
pelos usuários como, por exemplo, a realocação espacial da Sala de Estudos Individuais
em virtude do estudo de fluxo de pessoas na Biblioteca.
É importante destacar que as reformulações propostas para o acervo interferiram
diretamente na disposição da entrada principal da biblioteca, do balcão de atendimento e
controle de entrada e saída, do terminal de consulta e empréstimo, da área do guarda
volumes e vice-versa. Poucas alterações foram feitas aos outros ambientes (Sala de
Estudo em Grupo, Sala Internet e outras mídias e áreas administrativas) e, na maioria dos
casos, estes permaneceram dispostos espacialmente próximos à planta original,
conforme ilustra a Figura 23.
_____________________________________________________________________________________________________________
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Figura 23 – Estudo para disposição geral dos ambientes
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QUESTÃO FUNCIONAL:
Em termos funcionais, as principais ações propostas relacionaram-se a: definição
de novo layout (alteração da distribuição dos espaços internos); reestruturação e
ampliação das estantes do acervo; relocação do balcão de atendimento e controle de
empréstimos; incorporação de elementos de acessibilidade (Figura 24), notadamente um
aspecto bastante discutido nas disciplinas de projeto.
Além disso, para melhorar as condições de privacidade dos usuários, foram
indicadas: a ampliação do número de cabines para estudo individual, a melhoria na
iluminação, inclusive com possibilidade de controle individual nas cabines; a ampliação da
sala de internet e reformulação do mobiliário (Figura 25), e o incremento das instalações
elétricas, pela incorporação de maior número de tomadas, permitindo o uso de laptops.
Figura 24 – Acessibilidade
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97
Em termos de detalhes, as principais preocupações se relacionaram à introdução
de portas automáticas, aumento da quantidade de pontos elétricos, segurança contra
incêndio e segurança contra furtos, os quais, no entanto, na grande maioria das
propostas se reduziram a indicações orais e textuais, sem indicação clara na proposta
gráfica, com exceção da localização de extintores de incêndio e do controle de entrada e
saída de usuários.
Além disso, a previsão de tratamento acústico foi recorrente na argumentação
oral dos grupos, principalmente daqueles que desenvolveram a Avaliação Técnico-
Funcional. No entanto, as plantas de layout com descrição sumária dos elementos
utilizados no projeto (planta falada) não faziam referência à utilização de materiais que
contribuíssem com a qualidade acústica do ambiente, bem como também não constava
no painel amostras ou no memorial descritivo (figura 26).
SOLUÇÃO FORMAL:
Em geral, a maior parte das alterações propostas pelos estudantes se relacionou a
introdução de nova escala cromática, aplicação de materiais decorativos (adornos,
revestimentos e acabamentos), incorporação de mobiliário confortável em termos
ergonômicos e com apelo estético e visual (Figuras 27).
_____________________________________________________________________________________________________________
98
Em termos de tendência formal, a grande maioria dos participantes optou pela
uniformização dos revestimentos com paredes e pisos claros em materiais de fácil
limpeza e manutenção, como pintura lavável, pisos cerâmicos e revestimentos
melamínicos.
_____________________________________________________________________________________________________________
99
dessas proporções dimensionais entre usuários e mobiliário fica comprometida, pois não
há nas representações gráficas escala humana de comparação, assim como, na maioria
dos projetos, não são identificados outros elementos de humanização do espaço (como
adornos, vegetação, etc.).
Quanto à escala cromática do mobiliário, principalmente mesas e cadeiras, os
projetos exploraram tons pastéis e alguns contrastes. Note-se, ainda, a utilização das
cores da instituição nos painéis de fundo da entrada principal.
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100
É preciso ressaltar, no entanto, que nem todos os grupos conseguiram traduzir
efetivamente as intenções verbais em soluções (gráficas) de projeto, com exceção dos
itens relativos à acessibilidade e às indicações de mobiliário básico.
A influência da APO foi evidente nos discursos dos grupos, especialmente nas
primeiras assessorias após a conclusão da atividade, na qual foram discutidas questões
relacionadas ao programa de necessidades e distribuição geral dos ambientes,
corroborando com a afirmação de Ornstein (2002) sobre a notória influência das APOs na
fase de programação e pré-projeto (estudo preliminar).
As principais observações foram relativas aos dados obtidos através do
Walkthrough, da Avaliação Técnico-Funcional, do Poema dos Desejos e dos
Questionários. A técnica de Mapeamento Comportamental, devido as dificuldades já
mencionadas, não gerou análises que os grupos aproveitassem nas assessorias.
A transição entre as assessorias realizadas para desenvolvimento do estudo
preliminar e as realizadas para desenvolvimento do ante-projeto demonstrou uma
mudança no discurso dos alunos justificada por duas razões. A primeira delas refere-se ao
fato de algumas propostas já estarem consolidadas e requererem apenas
aprofundamento para a próxima etapa. A segunda razão está relacionada ao
distanciamento temporal da APO e do conhecimento procedente da avaliação.
Observa-se que os grupos que mantiveram maior coerência na argumentação oral
do projeto ao longo das assessorias foram os que tiveram maior domínio e entendimento
dos métodos e técnicas de APO utilizados e, consequentemente, atribuíram maior
importância aos resultados da APO incluindo-os na parte escrita do projeto (Matriz de
Descobertas e Quadro de Recomendações).
101
No que se refere às consonâncias entre Matriz de Descobertas, Quadro de
Recomendações e propostas projetuais, observou-se que os resultados da APO foram
pouco profundos e refletiram de forma pragmática e sucinta os pontos negativos
encontrados na avaliação, como fora descrito anteriormente. Verificou-se também
similaridade entre os problemas e as soluções destacados pelos grupos, em virtude da
maioria ter trabalhado mais intensamente os resultados do Walkthrough.
As matrizes e quadros apresentados evidenciaram, principalmente, questões
relacionadas à introdução de elementos decorativos (10/10), tratamento acústico (8/10),
acessibilidade (8/10), insuficiência de pontos elétricos (7/10), iluminação geral e do
acervo (7/10), saída de emergência (7/10), ampliação do acervo da biblioteca (6/10),
ampliação do número de cabines individuais (5/10), comunicação visual (5/10), entre
outros pontos destacados isoladamente por alguns grupos.
_____________________________________________________________________________________________________________
102
daquela ideia inicial e, demonstrando independência, buscarem caminhos diversos desse
modelo inicial.
O rebatimento das recomendações da APO sobre os projetos desenvolvidos pelos
alunos demonstra que determinados aspectos do ambiente construído e dos usuários
foram apreendidos e que, ainda com as dificuldades relacionadas à compreensão da APO
e aplicação dos métodos e técnicas, a avaliação contribuiu para um maior
reconhecimento das necessidades funcionais das atividades ali realizadas, enriquecendo a
argumentação oral do projeto.
Contudo, ressalta-se que a resposta projetual às principais recomendações da
APO, em especial aquelas que se aproximam de questões já discutidas ao longo do
processo de projeto de interiores, pode não representar, necessariamente, uma
influência direta da APO nos projetos. Nota-se que as maiores contribuições da avaliação
foram, certamente, sobre os aspectos funcionais do projeto (programa, disposição
espacial, função x equipamentos x dimensionamento mínimo, etc.) e sobre os discursos
dos grupos.
103
instituição de ensino. A primeira concentra a parte teórica e metodológica explorando
aspectos históricos, funcionais e técnicos (conforto, segurança, normas vigentes),
complementados pela utilização do círculo cromático como instrumento de composição.
Na segunda unidade é apresentada a problemática de projeto, normalmente escolhida
pelo próprio professor, e o perfil do cliente e suas especificidades, construído em
conjunto com os alunos. Nessa unidade são realizadas também as assessorias de
orientação para desenvolvimento do projeto. O produto final é entregue em formato
impresso com material escrito e representações gráficas, e, geralmente, ocorrem também
apresentações digitais para a turma.
A temática mais recorrente da disciplina é espaços culturais, sendo esta a primeira
experiência com uma temática diferente (Biblioteca) e com um objeto existente.
Em relação à aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos pelos alunos em outras
disciplinas, em especial Psicologia Ambiental, ao projeto de interiores institucional, o
professor afirma que este conteúdo não é resgatado pelos professores de projeto,
inclusive por ele mesmo. Em razão disto, a maioria dos alunos apresenta grandes
deficiências nesta questão e normalmente não consideram a percepção do usuário na
elaboração do programa de necessidades, muitas vezes desconsiderando-o totalmente no
processo projetual.
No que diz respeito à inserção da APO na primeira unidade da disciplina, ressalta
que a mudança não comprometeu o conteúdo original e que foi extremamente benéfica
para os alunos compreenderem de forma mais ampla o espaço e seu usuário, podendo
ser facilmente inserida no início da unidade e retomada por professores e alunos nas
assessorias de projeto da unidade seguinte.
A apreciação crítica dos projetos realizada pelo professor identificou que as
propostas apresentadas estavam fortemente relacionadas aos problemas levantados e
diagnosticados pela APO. Destacou ainda que os alunos mostraram-se mais atentos às
questões ligadas ao uso do espaço pelos alunos e à dinâmica diária dos funcionários no
exercício das suas funções, aspectos diretamente ligados à distribuição dos ambientes em
planta baixa e funcionalidade adequada do layout interno dos ambientes.
_____________________________________________________________________________________________________________
104
A solução formal do projeto ficou subjugada pela questão funcional que,
evidentemente, foi o aspecto mais influenciado pela APO. Alguns projetos buscaram
atender prioritariamente, e quase exclusivamente, as demandas colocadas pelos usuários
(Poema dos Desejos e Questionário), comprometendo assim a liberdade de criação e a
busca por soluções formais inovadoras que proporcionassem ao novo produto uma
organização espacial diferente e uma atmosfera mais ousada (Figura 29).
_____________________________________________________________________________________________________________
105
A programação arquitetônica mostrou-se muito rígida e dominada, novamente,
pela visão dos usuários, segundo a avaliação do professor. Alguns projetos apresentados
pelos grupos limitaram-se, inclusive, à estrutura organizacional, atividades e ambientes
existentes. Ressalta-se nesse ponto que a atividade de Estudos de
Precedentes/Referências realizado antes da APO tinha como objetivo conhecer projetos
de interiores bem sucedidos para diferentes bibliotecas e que este conhecimento poderia
contribuir também com a programação arquitetônica dos novos projetos. No entanto,
não foram verificadas influências deste tipo (Figura 30).
_____________________________________________________________________________________________________________
106
Em todos os momentos a experiência da APO vinha à tona. Não só no processo
durante as assessorias, mas na defesa final. E impressionante como a
experiência da APO ficou latente para esses alunos.
Por fim, o professor destaca que, embora alguns métodos e técnicas não tenham
sido plenamente compreendidos pelos alunos por razões variadas (deficiências
anteriores, tempo restrito do curso, perfil do aluno e outros) e este ponto mereça uma
reflexão diferenciada em experiências futuras, as propostas projetuais mostraram-se
muito atentas aos resultados da APO e a experiência trouxe grandes benefícios aos alunos
participantes. Evidentemente, considerando uma turma grande e heterogênea, alguns
grupos conseguiram conjugar melhor os resultados da APO com a questão formal e
estética do projeto, enquanto outros se limitaram a solucionar os problemas destacados
pelos usuários e ousaram muito pouco na criação.
_____________________________________________________________________________________________________________
107
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A experiência didática proposta nesta dissertação tomou como referência o
conhecimento já produzido no campo da AU, na qual se discute a APO como uma das
possibilidades norteadoras do processo de projeto, principalmente em âmbito
acadêmico. A importância da APO neste contexto excede o próprio conceito da avaliação
enquanto um processo sistematizado de investigação e análise do ambiente construído,
nestes casos a avaliação representa a possibilidade de colaboração interdisciplinar
(Ciências Sociais, Humanas e Tecnologia) e discussão de aspectos relacionados às
subjetividades e expectativas dos usuários.
Nos cursos de graduação e pós-graduação em AU que vêm desenvolvendo
experiências com APO nos ateliês de projeto, ainda que de forma isolada sob liderança de
professores/pesquisadores referências no assunto, entende-se que este tipo de exercício
possibilita ao aluno refletir sobre as interações entre pessoa e ambiente. Mesmo as
avaliações que são desenvolvidas com um enfoque mais técnico e funcional, favorecem o
entendimento de aspectos relacionados aos usos, comportamentos e percepção do
ambiente pelos usuários, propiciando subsídios para intervenção naquele objeto
arquitetônico ou para elaboração de novas propostas.
Diante do reconhecimento da importância da APO para o projeto arquitetônico e
urbanístico, e da identificação da carência deste conteúdo nos cursos de graduação
(regular e tecnólogo) em Design de Interiores, área correlata à AU, verificou-se a
relevância de um estudo que considerasse a utilização dos métodos e técnicas de
pesquisa da APO como abordagem complementar ao exercício projetual de design de
interiores, contribuindo assim para uma análise mais profunda das particularidades do
ambiente construído.
Neste sentido, essa dissertação analisou primeiramente como os cursos de AU
desenvolviam pesquisas de APO nos ateliês de projeto através da opinião de
professores/pesquisadores considerados experts no assunto. As experiências descritas
_____________________________________________________________________________________________________________
108
nesse estudo fortaleceram a premissa de que a APO gera insumos, diretos e indiretos,
para o projeto arquitetônico e estimula capacidades relacionadas à observação crítica e
criteriosa de edificações ou ambientes.
Verificou-se também conformidade entre os principais métodos e técnicas de APO
empregados nos ateliês de projeto e, ainda que, as instituições de ensino e os professores
respondentes tenham interesses e linhas de pesquisa diferentes, há um consenso entre
eles sobre os fundamentos gerais da APO, procedimentos de pesquisa e principais
contribuições.
O desenvolvimento da experiência didática focada no uso da APO no processo de
projeto em design de interiores, interesse central desse trabalho, compreendeu o
universo da graduação tecnológica na área e propôs uma reflexão acerca das
possibilidades de uso e expansão dos estudos de APO nesses cursos, replicáveis às
graduações regulares em Design de Interiores.
A aplicação da APO na disciplina Projeto de Interiores Institucionais foi direcionada
para a temática biblioteca e o planejamento pedagógico evitou que houvesse prejuízo no
conteúdo original. De modo que, ementa, conteúdo programático e exigências mínimas
fossem apenas complementados pela avaliação do objeto em questão. Contudo, ainda
foram considerados os Estudos de Precedentes/Referências para ampliar ao máximo o
repertório dos projetistas, em consonância com as informações fornecidas pelos
respondentes do Painel de Experts.
O desenvolvimento da APO compreendeu a aplicação dos principais métodos e
técnicas de pesquisa na área: Walkthrough, Avaliação Técnico-Funcional, Mapa
Comportamental, Poema dos Desejos, Questionários, Matriz de Descobertas e Quadro de
Recomendações. A coleta de dados, análise e apresentação dos resultados ocorreu ainda
na primeira unidade da disciplina e o exercício projetual ao longo na segunda.
Verificou-se na pesquisa que os métodos e técnicas aplicados têm potencialidades
e limitações específicas e que, de maneira geral, os dados obtidos em cada um deles
gerou informações aplicáveis ao projeto de design de interiores.
As principais dificuldades encontradas nesta etapa estiveram relacionadas à
compreensão dos objetivos dos métodos e técnicas, em especial do Mapeamento
_____________________________________________________________________________________________________________
109
Comportamental, e refletiram, muitas vezes, dificuldades anteriores com termos técnicos,
conceitos básicos de Psicologia Ambiental e manipulação dos instrumentos. No entanto,
convém destacar novamente que os pontos de favorecimento e as limitações
identificadas nos métodos e técnicas utilizados nessa dissertação referem-se a um
determinado universo de pesquisa, e que a aplicação da APO nas disciplinas de projeto
das graduações regulares em Design de Interiores pode minimizar as dificuldades
encontradas e demonstrar outras potencialidades.
Outro aspecto a explorar é a própria característica dos instrumentos de pesquisa
que, embora tenham sido similares aos utilizados em outras investigações nesse campo,
talvez pudessem ser aperfeiçoados no sentido de incorporar mais tecnologia. Nesse
sentido, acredita-se que a substituição/complementação dos instrumentos convencionais
por equipamentos com os quais os estudantes tenham maior afinidade (como o
preenchimento de formulários por meio de smartphones, tablets e similares, ou o uso de
câmeras de celulares para acompanhamento fotográfico ou fazer vídeos) pode contribuir
com a coleta de dados e despertar maior interesse dos estudantes pela pesquisa.
Em relação aos projetos apresentadas ao término da disciplina, foi possível
verificar relação direta da proposta com a APO realizada na etapa anterior. As assessorias
para desenvolvimento do estudo preliminar e do anteprojeto evidenciaram a influência
da avaliação na argumentação oral dos alunos e, até mesmo os grupos que tiveram maior
dificuldade na aplicação dos métodos e técnicas, apresentaram um discurso diferenciado
e fundamentavam as decisões do projeto nos resultados da APO.
Entre as citações mais recorrentes nas assessorias, destacaram-se a ampliação do
acervo da biblioteca mencionada pelos professores respondentes do Poema dos Desejos
e a insuficiência das cabines de estudo em grupo, ineficiência da sala de internet e
subdimensionamento da sala de estudos em grupo mencionada pelos alunos
respondestes do Questionário.
De acordo com o professor responsável, e considerando suas experiências
anteriores com a disciplina de Projetos Institucionais, os alunos participantes da
experiência apresentaram um discurso diferenciado, uma visão mais complexa e
completa do ambiente construído e das necessidades funcionais dos usuários. Os
_____________________________________________________________________________________________________________
110
projetos, de maneira geral, caracterizam-se por uma responsabilidade funcional
desconhecida até então.
A riqueza da argumentação oral, segundo o professor, ratifica a importância deste
tipo de avaliação para o projeto de interiores, pois comprova que a experiência da APO
introduziu os alunos na dinâmica diária da biblioteca e fez emergir problemas funcionais
muito específicos, ainda que nem todos esses pontos não tenham sido considerados e
solucionados no projeto por razões variadas.
O profundo apego da maioria dos projetos ao programa de necessidades original e
a disposição dos ambientes de forma muito similar ao existente levantou um questão que
merece reflexão futura, pois o objetivo da avaliação não é inibir o processo de criação
com referências atuais, mas sim ampliar a experiência do projetista no ambiente a fim de
que ele possa conhecê-lo profundamente e diagnosticar os pontos que devem ser
preservados e aqueles que necessitam de mudanças de ordem formal, funcional ou
técnica.
Por fim, os resultados obtidos nessa experiência didática, complementados pelos
resultados do Painel de Experts, contribuíram sobremaneira para a formulação de
diretrizes que orientem experiências similares que busquem complementar o processo de
projeto de design de interiores com a APO do ambiente construído. Nesse sentido,
recomendamos:
111
Desenvolvimento da APO em paralelo às aulas programadas (coleta de
dados como atividade extraclasse obrigatória);
Maior ênfase na apresentação final dos resultados.
_____________________________________________________________________________________________________________
112
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_____________________________________________________________________________________________________________
118
APÊNDICES
_____________________________________________________________________________________________________________
119
APÊNDICE A
_____________________________________________________________________________________________________________
120
Caso tenha respondido as opções 3 ou 4 da questão anterior, explique em qual(ais) disciplina(as)
e de que forma acontece:
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
5. Além de divulgar e ensinar uma estratégia de pesquisa, a aplicação da APO nessas disciplinas
tem algum outro tipo de objetivo? Qual?
6. Quais são os principais métodos e técnicas de pesquisa de APO ensinados em suas disciplinas
e por que foram escolhidos?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
7. Qual o produto final desenvolvido pelos alunos da disciplina? (Marque no máximo 2 opções)
( ) relatório técnico
( ) matriz de descobertas
( ) recomendações para curto, médio ou longo prazo
( ) proposta projetual
( ) outro, qual? __________________________________________
_____________________________________________________________________________________________________________
121
10. Com que frequência a APO tem sido utilizada como embasamento teórico nos TFGs da sua
instituição?
11. De que maneira a integração entre APO e processo projetual pode ser aprimorada nas
disciplinas de projeto?
_____________________________________________________________________________________________________________
122
APÊNDICE B
Pelo presente instrumento, declaro que fui esclarecido(a) sobre os objetivos e métodos da
pesquisa “O uso da Avaliação Pós-Ocupação no processo de projeto de design de interiores:
uma experiência didática” (título provisório) realizada pela mestranda Carla da Silva Bastos,
vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (PPGAU-UFRN) e orientada pela Profa., Dra. Gleice Azambuja Elali. Aceitei
participar livremente da pesquisa através do questionário "APO nos cursos de Arquitetura e
Urbanismo", estando ciente de que as informações fornecidas poderão ser utilizadas pela
pesquisadora em sua dissertação e em publicações futuras, mas que não serão vinculadas
diretamente ao meu nome e serão tratadas de modo impessoal.
Nome: CPF:
Assinatura:
_____________________________________________________________________________________________________________
123
APÊNDICE C
Pelo presente instrumento, declaramos que fomos esclarecidos(as) sobre os objetivos e métodos
da pesquisa “O uso da Avaliação Pós-Ocupação no processo de projeto de Design de Interiores:
uma experiência didática” realizada pela pesquisadora Carla da Silva Bastos, mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, sob orientação da Profa. Dra. Gleice Azambuja Elali.
A pesquisa em desenvolvimento tem como meta discutir a aplicabilidade da Avaliação Pós-
Ocupação (APO) no processo de concepção projetual de arquitetura de interiores, analisando sua
colaboração para a elucidação das reais necessidades e expectativas dos usuários, elaboração do
programa de necessidades e, por conseguinte, para a tomada de decisões de projeto que
abarquem os aspectos ambientais, psicológicos e culturais dos usuários e do contexto na qual
estes se inserem.
Fomos convidados(as) a participar livremente, estando cientes que a pesquisadora utilizará
informações e registros das atividades desenvolvidas na disciplina Projeto de Interiores
Institucionais, ministrada pelo professor Thiago de Carvalho Brito, e que os mesmos serão
futuramente divulgados para fins acadêmicos, desde que mantidas a condição de anonimato
completo da instituição e dos participantes.
Pelo presente manifestamos nossa concordância e nosso consentimento para realização da
referida pesquisa. Assinam esse termo de consentimento livre e esclarecido:
___________________________________________________________
Coordenador(a) do curso de CST em Design de Interiores
___________________________________________________________
Professor Responsável
_____________________________________________________________________________________________________________
124
APÊNDICE D
I. Identificação
Disciplina: Projeto de Interiores Institucionais
Docente: ------- Período: 4ª Série
II. Objetivo
Elaborar proposta projetual de arquitetura de interiores (nível de anteprojeto) para edificação
destinada a comércio e serviços a partir da Avaliação Pós-Ocupação (APO) do ambiente construído,
com especial ênfase para as necessidades e expectativas dos usuários, funcionalidade e estética.
IV. Conteúdo
• Estudo de referência;
• Composição do ambiente destinado a comércio e serviços;
• Aspectos técnicos e funcionais;
• Materiais, acabamentos e revestimentos;
• A relação entre projeto de arquitetura de interiores e projetos complementares;
• Avaliação Pós-Ocupação;
• Avaliação técnica, funcional e comportamental;
• Métodos e técnicas em APO;
• APO do objeto arquitetônico: Coleta, análise de dados e elaboração da matriz de descobertas
e diretrizes para intervenção;
• Desenvolvimento da proposta projetual para arquitetura de interiores em nível de estudo
preliminar e anteprojeto;
V. METODOLOGIA
• Aulas expositivas dialogadas;
• Realização de trabalho de campo em grupo;
• Palestra de profissional da área;
• Exercícios individuais de atelier com assessoramento;
• Apresentação de trabalhos referentes a cada unidade.
• Recursos didático-pedagógicos: Datashow, quadro, computadores e pranchetas de desenho.
125
• 2ª UNIDADE
1ª Avaliação
Estudo Preliminar (Planta baixa-Layout) - Data: 20/05/2013 (10,0 pontos)
2ª Avaliação
Ante-projeto (Planta baixa, 1 corte, 3 vistas, 4 perspectivas e painel amostra) – Data: 12/06/2013
(10,0 pontos)
VII. OBSERVAÇÕES
• Os exercícios, exceto o trabalho de campo, serão executados no ateliê e controlados através
de relatos de andamentos e evolução.
• A entrega dos trabalhos fora do prazo determinado implicará na redução da nota máxima.
• Tolerância de faltas: 25%.
VIII. CRONOGRAMA
DATA CONTEÚDO
SEGUNDA Apresentação da disciplina, conteúdo programático e tema - Biblioteca UNP.
18/02 Apresentação de projetos referências para bibliotecas.
SEGUNDA Composição do ambiente, aspectos funcionais, técnicos, materiais e revestimentos.
25/02 Estudo de referências: divisão dos grupos, pesquisa e apresentação.
SEGUNDA Avaliação Pós-Ocupação. Métodos e técnicas para avaliação.
04/03 Walkthrough: orientação para trabalho de campo.
SEGUNDA Apresentação dos resultados da Walkthrough.
11/03 Normas e Diretrizes para Bibliotecas.
SEGUNDA Palestra de profissionais da área (Bibliotecária da UNP e Arquiteta e Urbanista – 45
18/03 minutos para cada profissional).
SEGUNDA Avaliação técnica e funcional; Avaliação comportamental; Opinião dos usuários:
25/03 apresentação das ferramentas, discussão e orientação para trabalho de campo.
SEGUNDA Realização do trabalho de campo e dúvidas.
01/04
SEGUNDA Orientação para análise dos dados e construção da matriz de descobertas e das
08/04 recomendações de curto, médio e longo prazo.
SEGUNDA Construção da matriz de descobertas e recomendações de curto, médio e longo prazo.
15/04
SEGUNDA Apresentação da matriz de descobertas e recomendações projetuais.
22/04 Exercício de Concepção Projetual.
QUARTA Provão
24/04
SÁBADO TÉRMINO U1
27/04
SEGUNDA Assessoria para elaboração do estudo preliminar.
29/04 Orientações
SEGUNDA Assessoria para elaboração do estudo preliminar.
06/05
SEGUNDA Assessoria para elaboração do estudo preliminar.
13/05
SEGUNDA Entrega do Estudo Preliminar (Planta baixa-Layout)
20/05 Assessoria para elaboração do anteprojeto
_____________________________________________________________________________________________________________
126
SEGUNDA Assessoria para elaboração do anteprojeto.
27/05
SEGUNDA Assessoria para elaboração do anteprojeto.
03/06
SEGUNDA Assessoria para elaboração do anteprojeto.
10/06
QUARTA Entrega do Banner
12/06
SEGUNDA 2° chamada
17/06
SEGUNDA Recuperação
24/06
SABADO TÉRMINO U2/SEMESTRE LETIVO
29/06
_____________________________________________________________________________________________________________
127
APÊNDICE E
_____________________________________________________________________________________________________________
128
APÊNDICE F
_____________________________________________________________________________________________________________
129
_____________________________________________________________________________________________________________
130
APÊNDICE G
_____________________________________________________________________________________________________________
131
APÊNDICE H
_____________________________________________________________________________________________________________
132
APÊNDICE I
QUESTIONÁRIO
_____________________________________________________________________________________________________________
133
6. Como você avalia a sala de estudos em grupo:
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Regular ( ) Ruim
Observações e críticas:
11. Em sua opinião, o que deveria ser modificado no espaço físico da biblioteca para torná-lo melhor?
_____________________________________________________________________________________________________________
134
APÊNDICE J
_____________________________________________________________________________________________________________
135
APÊNDICE K
_____________________________________________________________________________________________________________
136
APÊNDICE L
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137
APÊNDICE M
7. Você considera que os alunos estão preparados para aplicar todos os conhecimentos
adquiridos em outras disciplinas do curso, em especial Psicologia Ambiental?
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10. Como você avalia as propostas projetuais apresentadas? Quais são as principais
deficiências e qualidades?
11. Foi possível verificar repercussões da APO nas propostas projetuais? De acordo com
os critérios abaixo, descreva-as:
Solução formal:
Questão funcional:
Programação arquitetônica:
Argumentação oral ou escrita das soluções:
Outras:
12. De que modo você avalia os projetos apresentados em relação aos semestres
anteriores?
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