O Complô para Aniquilar As Forças Armadas e As Nações Da Ibero-América
O Complô para Aniquilar As Forças Armadas e As Nações Da Ibero-América
O Complô para Aniquilar As Forças Armadas e As Nações Da Ibero-América
para aniquilar
as For~as
r"
Armadas
~
e as na~oes
da Ibero-América
'
.. Prefácio a edi9ao brasileira pelo
general Tasso Vil/ar de Aquino
Apresenta9ao do
coronel Mohamed Alí Seineldin
Prefácio de
' Lyndon LaRouche
2'! Edi~ao
EIR
'
Este Iivro foi escrito por urna equipe de investigadores da revista
Executive Inte/ligence Review (EIR):
Gretchen Small (coordenadora)
Dennis Small (coordenador)
Joseph Brewda
Lorenzo Carrasco
Silvia Palacios
Kathleen Klenetsky
Ana Maria Mendoza-Phau
Cynthia Rush
PeterRush
Valerie Rush
Luis Vasquez Medina
Capa:
Dulle Griet ou Margot, a enraivecida, quadro de Peter Bruegel, o Velho,
pintado por volta de 1562. Griet era um apelido pejorativo atribuído as
mulheres rabugentas e intratáveis, capazes, segundo um ditado flamento
da época, de "cometer atos de pilhagem sob o olhar do Jnfemo sem ser
importunadas". Bruegel a representa possuída de uma avidez insaciável,
dirigindo-se agoela do Infemo para continuar a pilhagem - "indo ao
lnfemo de espada em punho ", no dizer de outro ditado da época -,
embora o seu a/forje já esteja cheio com o produto da rapina praticada
por ela e seus estranhos companheiros, inspirados no universo de
Hieronymus Bosch. Dificilmente, a "Nova Ordem Mundial" poderia
encontrar melhor representar;iio pictórica.
Indice
.,
4 O Complo
IV. Democracia?
V. Falam os patriotas
•'
'f
algum modo, agradou ao Criador e, porisso, como recompensa, foi
t
tornado rico e seu poder e éxito sao indícios de que seus crimes
L contra a humanidade serao tolerados.
Esse é o conflito essencial entre a tendencia oligárquica e a ten-
dencia humanista crista, a única clássica desde os tempos do filóso-
fo judeu Fílon de Alexandria, na defini~ao de imago Dei.
A diferen~a essencial - a única diferen~a essencial - entre urna
sociedade platónica e urna crista é que o cristianismo introduziu o
princípio do agape e do imago Dei no pensamento europeu da tradi-
~ao platónica e isto define a nossa sociedade.
nossos días.
Esse tipo de crenya religiosa representa um conceito oligárquico
do homem. Quando falamos de um conceito oligárquico do homem,
o fazemos do ponto de vista religioso-mitológico. O protótipo des-
tas crenyas é a idéia mitológica do Monte Olimpo, na qual os vários
deuses sao mais ou menos como urna espécie de consórcios ou fun-
dayoes de beneficencia ou consórcios financeiros quase imortais,
que sao como personalidades ou pseudo-personalidades, mantendo
o seu poder através das gerayoes por meio de instrumentalidades
humanas - nao imortais, mas quase imortais. E as pessoas que ser-
vem estes afetados, estas entidades, estes deuses pagaos, sao
semideuses,
, como, tal vez, Henry Kissinger.
E sob essa ótica que ternos que compreender a geopolítica. En-
tender que eta representa esse tipo de fenómeno pagao dentro do
ambito da sociedade européia, na qual, evidentemente, incluímos as
Américas; que ela se baseia na concepyao paga da natureza, oposta
anoyaO de que o princípio da imago Dei dirige a História - o desen-
volvimento de idéias, suas aplicayoes aos mecanismos criativos, a
transmissao de idéias na prática de urna gerayao aseguinte por meio
desta capacidade do indivíduo, tudo isto como causa determinante
da História. Este deve ser esse o nosso ponto de vista, enquanto o
geopolítico per se é um pagao, essencialmente um satanico, consci-
ente ou inconsciente, que baseia suas idéias, como Jean-Jacques
Rousseau, no culto anatureza e no culto ao homem, considerando-o
em um estado natural totalmente depravado e assemelhado ao do
babuíno.
É sob essa ótica que podemos compreender, como devemos , fa-
zer com a geopolítica, os demais fenómenos deste período. E claro
que a geopolítica tem especial importancia, já que é o dogma reinan-
te, mais ou menos desde a década de 1880, entre a forma da forya
oligárquica responsável pelas duas guerras mundiais deste século e
pelas diversas aventuras colonialistas e neocolonialistas do final do
século 19 e do século 20, aí incluída a variante neocolonialista que
os britanicos e os pagaos do mesmo naipe (como os príncipes Philip
e Charles, da família real britanica, promotora do culto a Gaia, a
mae de Satanás) pretendem impor ao mundo.
Lyndon LaRouche
Rochester,Minnesota, EUA
19 de fevereiro de 1993
\
)
A atualidade do
complo
l
campo para negar a existéncia de planos para a redu~ao dos exér-
.. ci tos do continente. Em agosto de 1996, o general Lawson
Magruder, comandante do Comando Sul do Exército dos EUA,
sediado no Panamá, fez urna visita a Bolfvia, durante a qual ne-
gou veementemente a existencia de um chamado "Plano Bush"
contra as For~as Annadas ibero-americanas e acusou o fundador
da EIR, Lyndon LaRouche, de fomentar a discussao sobre seme-
lhante trama. Tal plano, disse ele, "nunca existiu como política
oficial" dos EUA.
A visita do general Magruder ocorreu duas semanas depois que
,
o correspondente da EIR no Brasil, Lorenzo Carrasco, visitou o
país e proferiu urna série de conferencias em institui~oes militares e
• civis sobre o tema do livro que tem provocado tal debate em toda a
• Ibero-América.
Armadas
No Brasil, a ofensiva para submeter os militares ao chamado "poder
civil" teve a sua primeira tentativa séria durante o governo do presi-
dente Fernando Collor de Mello, que obedecia cegamente aos desíg-
nios da "Nova Ordem Mundial", entao encabe<yada pelo presidente
George Bush. Todavía, coube ao presidente Fernando Henrique Car-
doso, membro fundador do Diálogo Interamericano, urna das insti-
tui<yoes-chaves do complo antimilitar, mudar a orienta<yao da políti-
ca de seguran~a nacional brasileira, submetida a constantes ataques
por parte dos desmilitarizadores.
Em novembro de 1996, após a reuniao de Bariloche, o Go-
verno brasileiro deu a conhecer a sua nova Política de Defesa
Nacional, em um documento vago e genérico. Como comentou
na ocasiao o jornal O Estado de Sao Paulo, "pela primeira vez na
história do Brasil, um govemo - e, ademais, civil - fixou diretri-
zes claras e públicas para as For~as Armadas, deixando claro que
está consolidada a subordina~ao dos militares ao poder civil".
O aspecto mais grave da nova política é que ela acaba com a
doutrina de seguran<ya nacional brasileira, baseada no binomio
seguran<ya e desenvolvimento. Ou seja, sob a perspectiva
"globalista" do atual Governo, as F.As. sao transformadas, de fato,
em um mero corpo de vigilancia submetido aos vaivéns políticos
internos e externos, afastando-se de seu compromisso histórico
fundamental de partícipe da constru~ao da soberanía económica
nacional e, até mesmo, de seu papel igualmente histórico como
poder moderador. Desvinculadas do desenvolvimento económi-
co, científico e tecnológico como eixo de urna política de defesa
nacional, as F.As. ficam limitadas as a<yoes estritamente militares
e a participa~ao nas missoes militares "unimundistas" da ONU.
20 OComplO
Retomo ao século 19
No que pese a resistencia encontrada pelo "complo", os planos da
oligarquia anglo-americana tem avan~ado quase cronometricamente
e os inimigos do Estado nacional soberano tem ganhado terreno. Em
toda a Ibero-América, as economias nacionais se desintegram sobo
látego da chamada "globaliza~ao", eufemismo que mal disfar~a a
submissao das economias nacionais aos ditames um sistema finan-
ceiro mundial regido pela usura, ou seja, urna nova fonna do mais
cru colonialismo. Particularmente, a partir do govemo de George
Bush - que, em alian~a com sua "parceira" britanica Margaret
Thatcher, desatou a insania "livrecambista" por todo o mundo-, a
Ibero-América tem perdido as suas empresas estatais, inclusive aque-
las consideradas de interesse estratégico para seus países, e está a
ponto de perder totalmente o controle de seus ricos recursos natu-
rais. No Brasil, o Govemo Femando Henrique Cardoso está decidi-
do a entregar o complexo mineiro-industrial da Cia. Vale do Rio
Doce e outras ricas reservas de minerais estratégicos as empresas de
minera~ao da Commonwealth.
Em nome de urna suposta "modemidade", que nos asseguram
ser a porta de entrada para o século 21, na realidade, o que estamos
presenciando em toda a regiao é um retorno ao mais puro
colonialismo do século 19, particularmente em sua faceta britanica.
Esse nao é um abuso de retórica ou um paralelo abstrato: a
guerra contra os Estados nacionais soberanos é dirigida com os
métodos e por institui~oes que executam a geopolítica do Império
BritAnico. Com o desmantelamento das For~as Armadas e a su-
pressao do princípio de autoridade central, dirigimo-nos a um novo
processo de "balcaniza~ao" do Hemisfério Ocidental, semelhante
ao ocorrido com as ex-colonias americanas da Espanha nas pri-
meiras décadas do século 19, por maquina~ao da própria Ingla-
terra, como propósito explícito de obstaculizar-lhes o desenvol-
vimento autonomo coma imposif;ao de sua doutrina do livre co-
mércio.
Hoje, em seu afa de controlar os recursos naturais com os
quais espera sobreviver ao iminente colapso do sistema financei-
ro internacional, o Império BritAnico volta a atuar por conta pró-
pria, deixando a margem os seus acordos com os Estados Unidos
para atuar em consórcio nos assuntos do Hemisfério Ocidental.
A atuaJidalü do comp/IJ 21
A frente terrorista
Continuando com as semelhan~as com o século passado, quando o
Império Britanico, soba lideran~a de lorde Palmerston, desatou as
redes anarquistas e terroristas de Giuseppe Mazzini contra os inimi-
gos do Império, boje, um dos principais instrumentos da estratégia
desmilitarizadora é o fomento de "insurgencias" terroristas na Ibero-
América. No momento em que estas linhas sao escritas, há trés des-
tas frentes de guerra irregular abertas na regiao - no México, Co-
lOmbia e Peru - e, a qualquer momento, alguma outra na~ao pode
sofrer o mesmo processo. Os círculos de apoio político do lmpério
Britanico tem desatado o que o Establishment oligárquico considera
um "terrorismo étnico", empregando a arma do indigenismo, pro-
movido e sustentado do exterior pelo aparato "unimundista" da ONU,
que conduz suas a~oes por meio de urna pleiade de ONGs.
No México, o Exército Zapatista de Liberta~ao Nacional (EZLN)
foi erigido como urna for~a política para impor ao Governo todas as
condi~oes de negocia~ao, inclusive as mais estapafúrdias, como o
virtual direito a nao ser derrotado militarmente. Na ColOmbia, a
narcoguerrilha das For~as Armadas Revolucionárias da ColOmbia
(FARC) e do Exército de Liberta~ao Nacional (ELN), constituídas
no ''terceiro cartel" das drogas e com um forte respaldo da ONU,
conduzem um plano separatista na regiao de Urabá, o qual contem-
pla a presen~a na regiao dos "capacetes azuis" da organiza~ao. A
regiao é estratégica pela possibilidade de poder sediar um novo ca-
nal interoceanico paralelo ao Canal do Panamá. Como afirmou o
general Harold Bedoya Pizarro, comandante do Exército colombia-
no: "Se continuarmos permitindo que nos digam, internacionalmen-
te, como devemos salvaguardar nossas fronteiras, perderemos Urabá,
tal como ocorreu com o Panamá. A qualquer país do mundo interes-
saria a regiao de Urabá e se os colombianos continuarmos fazendo-
lhes o jogo, perderemos o canal Atrato...Urabá está na mira dos eu-
ropeus ..."
No Peru, a audaciosa invasao da residéncia do embaixador
japonés em Lima, efetuada pelo Movimento Revolucionário Túpac
Amaru (MRTA) em dezembro de 1996, coloca em evidencia o
fato de que as redes britanicas em toda a regiao estao ativadas
sem respeitar institui~oes ou fronteiras.
Esse é um plano de guerra continental executado por urna
alian~a entre o chamado Diálogo Interamericano e o Foro de Sao
22 OComplli
Seineldín e LaRouche
Nessa verdadeira guerra que se trava em nosso Hemisfério, cabe
destacar duas figuras que tém representado grandes obstáculos a
imposi~ao da "Nova Ordem Mundial" globalista: Lyndon LaRouche
e o coronel Mohamed Alí Seineldín, atualmente martirizado na pri-
sao por imposi~ao explícita dos próceres do lmpério Britanico.
As últimas advertencias feitas por Seineldín em urna carta
escrita ao presidente da Argentina, Carlos Menem, em 22 de agosto
de 1996, revelam a razao política do seu encarceramento. Nela,
Seineldín reitera o seu compromisso com os principios que moti-
varam o pronunciamento militar de dezembro de 1990, causa de
sua condena~ao a prisao perpétua - a defesa da soberanía nacio-
nal e das institui~oes militares argentinas -, e pede a Menem que
indulte os demais oficiais condenados pelo movimento, com a
exce~ao dele próprio.
"O tempo transcorrido até o presente, desde que fui condena-
do a prisao perpétua, longe de deprimir-me, fortaleceu as pro-
fundas convicftOeS que me levaram a tomar as atitudes militares
que sao do conhecimento público, tanto na ordem nacional como
internacional. Os ideais que defendí e continuarei defendendo até
a minha morte tem a ver com urna considera~ao ética da pessoa,
da famflia e da sociedade. Ademais da plena vigencia do 'fato
nacional', (eles) me impóem que eu siga combatendo os inimi-
gos intemacionais", enfatizou Seineldín.
O coronel Seineldín continua sendo a figura que representa
urna das maiores gestas do continente contra o Império Brit4nico,
A atualidade do compro 23
Silvia Palacios e
Lorenzo Carrasco
Correspondentes da
revista EIR no Brasil
Adendoa
segunda edi~áo
ecorridos tres anos desde a primeira edi9ao d'O Compló para aniquilar as
D Forr;as Armadas e as nar;oes da Ibero-América, constatamos pesarosos que
o projeto desestabilizador denunciado no livro vem sendo implementado
gradativamente sob o comando pessoal do presidente Femando Henrique Cardoso,
que, como peao da oligarquia anglo-americana, tem se esmerado no esfor90 de
debilitar as institui9~es militares e policiais do País.
O que co~u como programa de pri~ das grandes ernpresas públicas
e continuou com a desnacionaliza~o de grande parte do parque industrial privado, ao
ritmo da abertura comercial e da "globaliza~o", se direciona agora para a destrui~ do
aparato de seguran9a e inteligencia do Estado nacional brasileiro, aí incluída a insidiosa
campanha de desannamento civil. Dadas as presentes pré--condi~ de convul500 social,
se esse curso político-institucional nao for revertido, tal situa9ao pode facilmente
desaguar num processo de desmembramento territorial, pois o elemento separatista
nao pode ser subestimado em épocas de crise global como a que enfrentamos.
A intem;:ao do presidente da República é consolidar urna drástica mudan9a
na doutrina de seguran~ nacional, abandonando o princípio da soberanía e submetendo
o País, sob a bandeira de urna democracia meramente formal, aos desígnios de urna
estrutura de "govemo mundial" dominada pelo eixo de poder Londres-Wall Street,
que dita ao seu alvitre os rumos económicos do Brasil. Agora, este aparato pretende
transformar o Brasil num "gendarme sul-americano guardiao da democracia" e dócil
ao poder anglo-americano, como expressou o subsecretário de Estado para Assuntos
Políticos dos EUA, Thomas Pickering, referindo-se ao levante cívico-militar de 21
de janeiro de 2000 no Equador, que, segundo ele, nao teria sido neutralizado sem a
importante interven9ao diplomática do Govemo brasileiro.
O projeto de desmembrar o Brasil provém da inteligencia colonial britanica,
que ve o País como urna enorme reserva de matérias-primas suplementar as reservas
na África, o que outorgaria aoligarquia reunida em tomo da decadente Casa de
Windsor urna vantagem estratégica na restrutura9ao do poder mundial que,
imaginam, surgirá após o vindouro colapso do sistema financeiro mundial. Por isso,
as redes imperiais britanicas, especialmente por intermédio do Ministério de
Desenvolvimento e Coopera9ao Internacional, do Conselho Mundial de Igrejas
(CMI) e de organismos oficiais de países da Comunidade Britanica de Nayoes,
apóiam ativamente o exército irregular de organiza90es nao-govemamentais (ONGs)
ligadas ao aparato ambientalista, indigenista e de "direitos humanos" e as hostes
do Foro de Sao Paulo, especialmente o Partido dos Trabalhadores (PT) e o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em a9oes que possam
debilitar o que resta do aparelho de seguran9a e obstaculizar o dcsenvolvimento de
qualquer projeto de infra-estrutura contrário aos seus interesses.
Assim, nao surpreendeu a iniciativa presidencial no início do seu segundo
mandato, emjaneiro de 1999, procurando nas foryas da esquerda "internacionalista"
os aliados para culminar a obra de submissao do Estado nacional brasileiro aos
desígnios "globalistas". Oeste modo, em paralelo coma cria9ao do Ministério da
Defesa, foi guindado ao alto escalao do Govemo Federal um grupo de ativistas de
"direitos humanos" vinculados ao cardeal Dom Paulo Evaristo Ams e ao CMI. Tal
grupo, que integra o que era conhecido como "a esquerda do Departamento de
Estado" dos EUA - meros peoes da política de "direitos humanos" do Govemo
Jimmy Carter -, inclui, além do próprio casal presidencial: o ministro da Justi9a
José Carlos Dias; o secretário nacional de Direitos Humanos José Gregori; o
secretário-geral da Presidencia da República Aluisio Teixeira; e representantes do
aparato das ONGs, como: a secretária de Justi9a do Ministério da Justi9a, Elizabeth
Sussekind, fundadora do Movimento Viva Rio; a secretária da Amazonia Legal do
Ministério do Meio Ambiente, Mary Allegretti; e o presidente da Funda9ao
Nacional do Índio (FUNAI), Carlos Frederico Marés.
Como se sabe, a diplomacia dos "direitos humanos" foi o mote para as
políticas de balcaniza9ao elaboradas pelo assessor de Seguran93 Nacional de Carter,
Zbigniew Brzezinski, visando a desestabilizayao de na9oes potencialmente
opositoras dos designios hegemónicos do Establishment oligárquico.
Ao introduzir tais elementos na estrutura do Govemo, Femando Henrique
está cumprindo o seu compromisso de transformar as ONGs em "organiza9oes
neogovemamentais", para controlar a restrutura9ao político-institucional e, ao mesmo
tempo, assurnir tarefas correspondentes a um Govemo verdadeiramente representativo.
O exemplo mais nítido dessa interferencia exógena é a atua9ao do Movimento
Viva Rio na restrutu~ao da política de seguran9a nacional, amargem nao só das foiyas
militares e policiais, mas também dos poderes Legislativo e Judiciário. Os vínculos
diretos da organiza9ao com o Establishment se mostram no apoio que recebe do
banqueiro David Rockefeller e de várias funda90es oligárquicas, como a MacArthur, .
Brasean e outras. O Viva Rio encabe9a também os esforyos para o desarmamento civil
e a supressao das polícias militares, atuando como um instrumento local de urna estrutura
internacional da qual o CMI é integrante destacado. Por outro lado, a alianya FHC-PT
se mostra nítidamente nos esfor9os do govemador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra,
em suas repetidas investidas contra a tradicional Brigada Militar, como urna experiencia-
chave do projeto de desmantelamento das fo~as de seguran9a
A primeira edi9ao deste livro, que constituiu um grato sucesso editorial,
deu uma significativa contribui9ao para o entendimento desse sombrío cenário
estratégico entre as for9as patrióticas que resistero aescalada "globalista". Coma
nova edi9ao, pretendemos refor9ar tal contribui9ao, esperando que os patriotas
brasileiros compreendam a urgencia de urna rea9ao decidida a essa maquinayao que
amea9a o próprio futuro do País.
Rio de Janeiro, mar90 de 2000
Silvia Palacios e Lorenzo Carrasco
1
A campanha
anti.militar e a "Nova
Ordem Mundial"
1 A história do
projeto antimilitar
bém é preciso ter bem claro o motivo pelo qual se luta, porque só
assim é possível mobilizar toda a populayao em defesa da Pátria.
Assim sendo, urna parte importante <leste livro é a que explica
"como sobreviver sem o FMI". Já transcorreu muito tempo desde
que os oficiais militares nacionalistas ibero-americanos deixaram o
desenvolvimento económico de suas na~oes, precisamente, nas maos
de banqueiros e tecnocratas que, na verdade, estavam mais devota-
dos a destruir as suas na~oes. Como demonstrou detalhadamente o
estadista e economista Lyndon LaRouche, em recente entrevista a
Resumen Ejec utivo de EJR, 1 as vitórias obtidas contra os
narcoterroristas no campo de batalha serao passageiras, a menos que
os militares assegurem a adoyao de solu~oes viáveis dos problemas
reais aos problemas reais nacionais. Isto, porém, requer dar um fim
ao saque
, patrocinado pelo FMI.
"E quase impossível combater as guerrilhas e, ao mesmo tem-
po, submeter-se ao FMI", acentuou Lyndon LaRouche na entrevista.
"Se alguém executa o programa do FMI ou programas semelhantes
contra a sua própria popula~ao e tenta, ao mesmo tempo, combater
as guerrilhas, está empreendendo urna batalha perdida, porque, en-
quanto o FMI ' recruta' os guerrilheiros, vem o Departamento de
Estado dos Estados Unidos e amea~a cortar qualquer pequena ajuda
forem mortos mais guerrilheiros, e os ma~ons vem e o acusam de
violar os direitos humanos. Assim sendo, para se travar essa luta,
necessita-se de urna política firme e decidida, mas baseada em afir-
mar o bem-estar do povo. Sem isto, pode-se perder", enfatizou ele.
O saque e a destruiyao da Ibero-América nao é um fenómeno
natural nem um castigo ordenado por Deus para esses povos, mas o
resultado da usura imposta pelas for~as financeiras transnacionais,
cuja política perversa tem destruído as mesmas nayoes do Norte em
cujo nome dizem trabalhar. Se mobilizar os seus recursos morais e a
sua vontade política, a Ibero-América, pode colocar de joelhos o
inimigo anglo-americano.
O "Projeto Democracia"
As medidas propostas pelo Diálogo Interamericano em escala
regional provinham do "temário global" que o Establishment
anglo-americano conseguiu impor como política oficial dos Es-
tados Unidos. O conjunto de medidas conhecido sobo nome ge-
nérico de "Projeto Democracia" foi anunciado como política ofi-
cial pelo presidente Ronald Reagan, justamente em um discurso
no Parlamento britanico, em 8 de junho de 1982. Mas nao se
tratava de urna política partidária. A idéia fora cozinhada nos anos
70, entre os mesmos artífices que modelaram o Diálogo
Interamericano - elementos da Comissao Trilateral de David
Rockefeller. Na verdade, um dos autores intelectuais do projeto
foi o mesmo Samuel Huntington, academico da Universidade de
Harvard, que, em 1982, publicou urna espécie de manual prático
para a destrui~ao das For~as Armadas de todas as na~oes em vías
de desenvolvimento (ver capítulo 4).
As teses do "Projeto Democracia" já se haviam esb~ado no
relatório final do Grupo de Trabalho sobre a Governabilidade das
Democracias da Comissao Trilateral, emitido em 1975, do qual
Huntington foi um dos tres autores. O mundo entrava em período
E prossegue:
A filosofia do projeto
Desde o princípio, o projeto se fundamenta nas premissas
anticatólicas e antiespanholas da Legenda Negra. Mais ao fundo,
entretanto, encontramos urna das tendencias filosóficas mais de-
generadas que algum ser humano já pode engendrar: o chamado
p6s-modernismo e o desconstrucionismo, propalados pela Escola
de Frankfurt da Internacional Comunista e por urna depravada
rede de professores franceses comunistas-existencialistas.
A dupla Rial-Perelli exprime da forma mais direta a perspec-
tiva desconstrucionista que anima o projeto em sua totalidade.
Ambos asseguram em seus escritos, por exemplo, que os mi
7 A American University, e de modo particular a Faculdade de Servi~o
Internacional chefiada por Goodman, serve de centro-chave de treinamento para os
estudantes que se preparam para fazer carreira no servi~o exterior, as agencias de
informa~oes, o Congresso e o Exército dos Estados Unidos, ou que serao nomeados
para a tecnocracia de organiza9oes globalistas como o Banco Mundial, o FMI, as ONGs
etc. Seu currículo está permeado de temas da "Nova Era". Os cursos oferecidos
apresentam títulos como "Além da soberanía", "Direitos Humanos", "Organiza~Ao
internacional" etc. A Drug Policy Foundation (DPF, Funda~ao de Política de Drogas),
principal organiza9ao promotora da legaliza9ao das drogas nos Estados Unidos, funciona
na mesma universidade. O presidente da DPF, Arnold Trebach, dirige também o Instituto
de Drogas, Crime e Justi9a da mesma universidade, que oferece cursos defendendo nao
apenas a legaliza9ao do consumo de drogas como o próprio consumo das mesmas. A
universidade foi objeto de grande escandalo em 1990, quando seu reitor confessou ~
polfcia ter cometido certas pervers0es sexuais das quais era acusado.
48 o Complo
Eliminar a oposi~áo
A reforma da OEA e da
Junta Interamericana de Defesa
Em dezembro de 1990, durante visita aos países do Cone Sul, o
presidente George Bush batizou esse projeto global da era pós-
Guerra Fria com a pomposa denomina~ao de "Nova Ordem Mun-
dial". Esta "Nova Ordem", disse Bush, tinha de ser imposta por
intermédio das "democracias". "As na~oes das Américas se acham
no limiar de algo completamente sem precedentes na História do
mundo: o primeiro hemisfério completamente democrático", gor-
56 O Compl8
poderoso e faz tudo é falso ... Nao existe um centro de poder único ...
existem posi~oes muito diferentes; e mais, existem os que estáo ern
total desacordo com esta posi~ao e, expressarnente, em setores do
Departamento de Defesa, há quem considere que tomar este tipo de
atitudes contra as For~as Armadas é um disparate".
A argurnenta~ao do casal com referéncia a necessidade de mu-
dan~as é exatarnente a apresentadaos pelos presumidos "opositores"
do "projeto de desmilitariza~ao" no Departamento de Defesa e no
Exército dos Estados Unidos. Ah, siro, dizem, as na90es necessitam
de For~as Armadas, mas estas devem ser "restruturadas" segundo as
normas estabelecidas pela "Nova Ordem Mundial": cortes dramáti-
cos em seus or~amentos, redu~ao do número de efetivos, abandono
da missao histórica de defesa do Estado nacional, participa~ao nas
for~as supranacionais etc. Exatamente como tinha dito o jornal Pre-
sencia, cinco meses antes: "Nao existe Plano Bush, mas as For~as
Armadas serao drasticamente reduzidas".
"As For~as Armadas terao de aceitar que as coisas nao podem
continuar como até agora, que é preciso fazer algumas mudan~as",
argumentou Rial, porque há urna "transforma~ao muito grande em
nível mundial, indicando que as grandes organiza~oes, de tipo esta-
tal, se acham em crise... As For~as Armadas, como institui~ao esta-
tal, sofrem o mesmo destino que todos os outros órgaos do Estado:
elas perdem poder, perdem dinheiro, perdem urna situa~ao determi-
nada". De pleno acordo, Perelli aconselhou os militares a trabalhar
para assegurar que tais mudan~as "nao se limitern a urna imposi~ao
de fora" . Rial insistiu: "Será preciso um redimensionamento das
For~as Armadas ... debater... que tipo de for~a querernos, para que a
queremos, como a queremos... As For~as Armadas também tem que
estar dispostas a perder algumas áreas de influencia".
Dito sem rodeios: na visao deles, a única op~ao para os milita-
res seria a de adotar o programa de seus inimigos.
Na medida em que cresce entre os militares ibero-americanos a
oposi~ao aos planejamentos abertos de desmantelamento. 9
Marcena elogia o trabalho de Rial e Perelli, bem como o "pe-
queno rnovirnento intelectual entre uns tantos estudiosos do Chile,
Argentina e Uuruguai" e se pos a ampliar "o estudo da
socioJogiamilitar" e "as novas missioes profissionais dos militares".
9
Gabriel Marcella, · ~Latín American Military, Low lntensity Contlict, and Democracy",
Journal of lnteramerican Studies and WorldAffairs, Spring 1990, Vol. 32, no. 1.
A hist6ria do projeto antimilitar 67
Assim, o que pensam Rial e Perelli sobre "o papel das for~as
latino-americanas hoje"? Quando isto lhe foi perguntado na entrevis-
ta radiofónica de maio, Rial respondeu, seco: "(Nas na~oes) da Amé-
rica do Sul, fundamentalmente, sobreviver". Urna missao, certamen-
te, um tanto limitada!
A escola de "profissionalismo militar democrático", que, presu-
midamente, tenta ordenar as For~as Annadas, nas palavras de Marcella,
"urna missao legítima profissional dentro da democracia", parte, na
verdade, das mesmas premissas que o desconstrucionismo lunático
subjacente ao projeto de erradicar do planeta a Civiliza~ao Ocidental
e o Estado nacional. Examinemos, por exemplo, por que Rial sustenta
que os militares enfrentam atualmente "urna crise existencial", tema
constante do projeto do "Manual Bush":
"A fun~ao militar, vista em escala mundial, perde prestígio e per-
de espa~o ou posi~ao permanente", disse ele aos seus rádio-ouvintes
uruguaios em maio. "As fun~oes heróicas, boje, nao sao bem vistas
em sociedade alguma do mundo e, pouco a pouco, predomina outro
tipo de valores e outro tipo de fun~oes. Em urna sociedade que muitos
qualificam de de pós-industrial ou pós-moderna, nao se sabe clara-
mente qual é a fun~ao que devem ter as For~as Armadas perante urna
sociedade que proclama constantemente a necessidade da paz e a pros-
cri~ao da guerra''.
A frente económica
A contínua aceita~ao do predominio do FMI na Ibero-América per-
mitiu ao inimigo estrangular economicamente as For~as Armadas,
exatameote como foi esbo~ado por Robert McNamara em abril de
1991.
O fato de que essa é urna política sistemática das institui~s fi-
nanceiras intemacionais ficou demonstrado por um relatório surgido
no boletim do FMI, IMF Survey, de 14 de dezembro de 1992. O bole-
tim noticiava um fórum realizado na sede do FMI, em Washington,
para debater o tema de saber se as institui~0es financeiras intemacio-
nais "rem a responsabilidade e os recursos para pressionar os países...
a reduzir o nível dos seus gastos militares".
Os participantes do fórum responderam, de modo muito enfático,
que sim. Pierre Landell-Mills, veterano assessor do Banco Mundial,
jactava-se de que esta institui~ao havia pressionado pelo menos vinte
países a reduzir os seus gastos militares e estava assessorando vários
outros para "desmobilizar grandes exércitos" e converter as indústri-
as militares em aplica~oes civis. Na ocasiao, ele anunciou que o Ban-
co Mundial tem um programa de pesquisa sobre "as melhores formas
de reduzir de escala os exércitos".
Landell-Mills advertiu, entretanto, que, por motivos políticos, o
Banco Mundial dissimulava os seus objetivos como simples parte do
Apindice Especial 71
Pastor também apresenta em seu artigo urna das mais antigas e peri-
gosas estratégias que já foram empregadas para impedir que as na-
~é>es ibero-americanas se unam contra a "Nova Ordem Mundial": os
conflitos fronteiri~os. Desde a independencia dos países ibero-ameri-
canos, o fomento de conflitos fronteiri~os tem sido a estratégia favo-
rita do Império Britanico na regiao, com base no preceito simples de
"dividir para conquistar".
Pastor declarou que as disputas territoriais também poderiam ser
submetidas ao controle supranacional. Como exemplos, citou as dis-
putas territoriais entre El Salvador e Honduras, Peru e Equador, Bolí-
via e seus vizinhos do Pacífico, Venezuela e Colómbia, entre outras
que sao
...
como "palha a espera de urna fagulha" na regiao.
A primeira vista, o que Pastor deseja é criar um mecanismo ínter-
~
nacional para dar fim a esses conflitos. Escreve ele: "E necessário um
esfor~o hemisférico para conseguir que todos os litigantes aceitem a
arbitragem obrigatória em um período definido. A equipe de arbitra-
gem seria composta por cinco pessoas; cada parte indicarla um mem-
bro e o secretário-geral da OEA indicarla os demais, tudo sob o enten-
dimento de que qualquer parte pode vetar qualquer um dos nomeados.
Todos os Estados que aceitassem o processo estariam obrigados a acei-
tar também o resultado. O processo deve come~ar o mais rápido pos-
sível e todos os acordos se ratificariam até o ano 2000".
A verdadeira inten~ao de Pastor, no entanto, é muito clara: para
ativar os controles supranacionais, é necessário, em primeiro lugar,
acender a "palha", pelo que devem ser ati~ado!i os conflitos fronteiri-
~os. Samuel Huntington, ideólogo da Comissao Trilateral, falou de
modo mais direto da planifica~ao ativa para contingencias, que já se
discutem em meios vinculados a Comissao, para precipitar choques
fronteiri~os na regiao, caso seja necessário desestabilizar a oposi~ao
unificada aos seus planos. Huntington escreveu:
gue:
1. A "preparayao para urna nova era" entre as superpoténcias e a
''política econ6mica internacionalista", tipo Fundo Monetário Inter-
nacional, exige a restruturayao total das instituiyoes militares ibero-
americanas, sob supervisao estadunidense, e a criayao de urna "nova
cultura política civil".
2. O principal obstáculo a isso é a perspectiva imperante, ao me-
nos entre certas facyoes dos militares ibero-americanos, de modo es-
pecial na Argentina e no Brasil, de que tém a missao nacional de de-
fender os valores do "Ocidente cristao... a honra, a dignidade, a leal-
dade ... [e] salvaguardar e assegurar o processo de desenvolvimento~'
Na opiniao dos autores, tal doutrina de seguranya nacional é equivo-
cada e perigosa.
3. Essa perspectiva é qualificada de "messiAnica", "fundamenta-
,
lista", "autoritária", "patriarcal" e "inflayao ideológica". E um crité-
rio, dizem eles, "cuja base ideológica remonta a um período histórico
anterior ARenascenya" e considera que, no fundo das coisas, há urna
"Juta entre o bem e o mal".
4. Essa filosofia foi "compartilhada" e reelaborada pelas Foryas
Armadas do Cone Sul [e] se dissemina pelo resto do subcontinente
mediante diversas missoes técnicas ... A mais conhecida foi a presen-
~a do coronel Mohamed Ali Seineldín no Panamá, de 1986 a 1988.
5. Deve-se extirpar essa corrente militar "ética" e suplantá-la com
o ''pragmatismo" e urna nova "doutrina democrático-liberal. .. de esta-
bilidade nacional'', que defina aos militares urna nova missao mais
estreita, que seria, por exemplo, a de converter-se em "urna
gendarmeria nacional com treinamento especial".
6. Citam-se trés modelos para o desmantelamento das institui-
yoes militares ibero-americanas a que se prop5e o Departamento de
Estado: "Os militares envaidecidos que tinham forjado alianyas "nao-
santas" com as oligarquías locais ... foram derrotados por levantes po-
pulares no México (1910-1917), Bolívia (1952) e Nicaragua (1978).
Novos paradigmas
O livro nao foi o primeiro estudo do genero feito por tais círculos
sobre os militares ibero-americanos. Na verdade, muitos especialistas
passaram a vida trabalhando neste tema e preparando o terreno para o
atual movimento político. Ternos como exemplo o caso de Luigi
Einaudi, que tem quase um quarto de século com o Departamento de
Estado como perito de planejamento programático para a Ibero-Amé-
rica, em govemos tanto democratas como republicanos. Einaudi, ex-
82 OComplo
Queixa-se Rial:
Redefini~áo da missáo
Tais dificuldades, entretanto, nao bastam para amedrontar os nacio-
nalistas militares, argumenta o estudo financiado pelo Departamento
;
A guerra as drogas
Sobre o tema do narcotráfico, os autores do estudo se interessam ape-
nas em limitar a participa~ao militar nas opera~oes antidrogas que
poderla levar a cabo urna "gendarmería nacional especialmente ades-
trada", que funcione "em um contexto de coopera~ao internacional".
Os argumentos em favor da "gendanneria nacional'' sao simples:
os autores nao se propoem a esmagar o império narcotraficante que
atenta contra a vida civilizada nas Américas, mas garantir que a crise
do narcotráfico nao conduza a um maior apoio político as for~as mili-
tares nacionalistas que se erigiriam, assim, em baluartes da paz na
regiio.
A ansiedade pela possibilidade de que se renovem o prestfgio e a
for~a dos militares ibero-americanos reflete-se até mesmo no capítulo
sobre o narcotráfico, intitulado "A amea~a das novas missoes: os mi-
litares latino-americanos e a guerra as drogas". Os autores deste capí-
tulo, Louis Goodman e Johanna Mendelson, professores da American
University de Washington, dizem desde o início que a sua preocupa-
~ªº limita-se ao seguinte: "Devem-se empregar os militares, tanto nos
Estados Unidos como nas na~oes latino-americanas, para interceptar
e controlar os narcóticos ilegais?"
Desse modo, descartam-se logo as op~0es de erradicafiio do nar-
cotráfico nas Américas. Supoe-se apenas o objetivo limitado de inter-
ceptar e controlar o tráfico de drogas. Os autores parecem também
dispostos a dar por perdida urna parte da regiao e criticam as opera-
~0es antidrogas estadunidenses, como a Blast Fumace e a Snow Cap,
nao porque tenham falhado, mas porque "alentam a a~ao militar
irrefreada em territórios basicamente incontroláveis (frisos nossos).
Os autores se queixam de que, em resposta a crise do narcotráfi-
co, surgiu novamente o espectro da participa~ao militar ativa na tare-
fa de assegurar o desenvolvimento e a seguran~a nacional, o que, para
eles, ao que se afigura, é um perigo maior do que a tomada do poder
88 OCompllJ
3 A soberania limitada:
objetivo do Diálogo
Interamericano
Redefini~áo da soberania
Em jaoeiro de 1992, sob a direirao de Richard Feinberg, o Diálogo
Interamericano iniciou formalmente o seu projeto de redefinirao da
soberania, encarregando academicos e funcionários governamentais
de redigir os termos jurídicos e conceptuais da pretendida "Nova Or-
dem Mundial". Tanto o relatório como a conferencia de imprensa
iodicam que a preocupairao do DI reside elimina~ao da soberanía.
O entao presidente do DI, Richard Feinberg, declarou a impren-
sa, em Washington, que ele e seus colegas estao de acordo em que a
soberanía nao deve ser "um escudo atrás do qual os govemos ou gru-
pos armados" se possam esconder. O que o DI propoe para o Hemis-
fério Ocidental, acrescentou, "coincide com o que está fazendo a co-
munidade internacional na Somália". Segundo Peter Bell, co-diretor
interino do DI, "todo esse campo [da soberanía] se acba em evolu~ao.
O que conta é a consciencia de que estamos entrando em um novo
período". Bel1 disse aos jornalistas que se estao assentando preceden-
tes contra a soberanía, primeiramente no Haiti, Pero e agora Somália.
Bruce Babbitt, membro do DI e futuro secretário do Interior do
Governo Clinton, qualificou o período atual de "um marco na história
do hemisfério", do qual o DI espera "construir um modelo para o res-
to do mundo", com as instituiiroes que requer o mundo "pós-guerra
fria". Citando a sua própria autoridade como membro destacado do
Partido Democrata, Babbitt assegurou aos presentes que o Governo
Clinton "acolherá calidamente" os elementos do programa do DI. De
fato, vários assessores do Governo Clinton integram a organiza~ao.
Polltica~ y diplon\iticae
. .; .· ..
•·
• Oenegacíón de visas para loa dírigentes ~ista•. y sus ce roanos oolllboradores que de...n viajar.
e Suapensión de la oaldad de miembro d'el país infrae'l(lf er¡ (lfganizacionet subregionales (oomo
: el Grupo de Río) y en instituoion" regionale!I m'9 ¡¡~~. (comó le OEA}.
• Exclualón de lot cónclav.. de organi9m~s itilernaCl91\aleade.América Latina y el hemisferio
occidental. ···=:·= '· · · •
O FMI e as ONGs
A terceira coluna da "comunidade" que o Diálogo Interamericano
'
propoe sao os programas oficiais de "Juta contra a pobreza". A sua
própria pergunta: "por que preocupar-se com a pobreza e a desigual-
dade?", o DI responde de acordo comos preconceitos de seus patronos
banqueiros, com a terminología do movimento pela eugenia. Urgem
programas, diz o relatório, nao para eliminar a pobreza, mas para re-
frear o fermento político da "subclasse alienada e socialmente
destrutiva" que seus planos de "livre comércio" causarao.
Requerem-se programas que controlem os "possíveis perdedores
da integra~ao hemisférica", na medida em que o NAFTA vá
enclausurando grandes setores das atuais economías e a "democra-
cia" se veja amea~ada por "trabalhadores que percam o emprego e
pelas comunidades que percam meios de vida importantes, na medida
que o Iivre comércio transfonne as características da investimento e a
produ9ao".
As medidas "antipobreza" que o Diálogo Internacional propoe
acabarao por destruir as capacidades produtivas da Ibero-América. O
dinheiro que propoem para a assistencia para os mais pobres terá de
sair de aumentos tributários em todo o hemisfério, redu~oes dos or~a
mentos militares e desinvestimento em saúde.. e educa~ao. Promovem
apenas os "setores informais" menos produtivos das economías e iden-
tificam a mulher ibero-americana como o principal recurso do traba-
lho subutilizado. Seus programas de emprego de mulheres na "agri-
cultura de subsistencia e no comércio em pequena escala" nao sao
mais do que um mal dissimulado plano de controle demográfico.
O programa que propoem teria que ser imposto por meio de
condicionalidades externas. Dizem eles: "Os organismos externos
desempenham o papel principal no estabelecimento global para fazer
ªº
frente problema-chave e adetermina~ao de prioridades para aª~ªº·· ·
As institui~oes financeiras, entre elas o BID, o Banco Mundial e o
FMI tem urna margem considerável. .. para exercer pressao económi-
ca sobre os regimes inconstitucionais". Estas institui~oes "deveriam
apoiar. .. iniciativas para fortalecer as legislaturas e o sistema judiciá-
rio". Richard Feinberg chegou ao extremo de sugerir, em Washington,
que o FMI "ensinasse" ao Congresso brasileiro como elaborar os or-
~amentos do país e "condicionar seu apoio com vistas a... pressionar
para que se tomem iniciativas tais como a reforma tributária e redu-
~oes dos gastos militares".
96 OComplO
A arquitetura institucional
O relatório do DI propoe a criayao de quatro novas instituiyoes
supranacionais para supervisionar a destruiyao das soberanías nacio-
nais do hemisfério e ampliar os poderes já existentes do sistema judi-
ciário e de direitos humanos interamericanos e da OEA. lsto incluí:
1. Urna nova organizayao multilateral que "guíe e coordene o
progresso para urna comunidade económica do Hemisfério Ociden-
tal". A referida organizayao "poderla surgir da comissao da ALCAN",
ou da colaborayao do Banco Interamericano de Desenvolvimento, a
OEA e a Comissao Económica para a América Latina e o Caribe
(CEPAL), da ONU, de empresários privados, sindicatos e organiza-
~oes nao-govemamentais.
A tarefa dessa instituiyao seria a de "recompilar, sistematizar e
difundir estatísticas sobre o comércio, os fluxos de capital e os indica-
dores macroeconomicos; analisar assuntos e políticas relacionados a
integrayao regional, entre eles ... a harmonizayao dos regulamentos
económicos; examinar e avaliar os projetos de acordos comerciais e
de outros acordos conexos entre países diferentes; e servir de fonte de
conhecimento e ajuda técnica para os países. Com o tempo, poder-se-
lhe-iam confiar tarefas mais delicadas, como formular normas para
mediar as negociayoes, investigar as infrayoes aos acordos comerci-
ais e resolver controvérsias com respeito a diversos aspectos da
integra~ao hemisférica".
A soberania limitada: objeti.vo do Di4logo Interamericano 91
Apendice
Membros do Diálogo Interamericano, em 1992
Estados Unidos e Canadá Don Johnston
Peter D. Bell, codiretor Juanita M. Krep
McGeorge Bundy Sol M. Linowitz
Bruce Babbitt Abraham F. Lowenthal
Yvonne Brathwaite Burke Mónica Lozano
Michael D. Bames Modesto A. Maidique
Terence C. Canavan Jessica Tuchman Mathews
Margaret Catley-Carlson Charles McC. Mathias, Jr.
Jimmy Carter David T. McLaughlin
Henry Guerra Cisneros Robert S. McNamara
A.W. Clausen William G. Milliken
Ralph P. Davidson Ambler Moss
Karen DeYoung Edmund S. Muskie
Jorge l. Domínguez Luis Nogales
Katherine W. Fanning Sylvia Ostry
Dianne Feinstein Federico Peña
Antonio Luis Ferré John R. Petty
Maurice Ferré Charles J. Pilliod, Jr.
Richard W. Fisher Robert D. Ray
Albert Fishlow Elliot L. Richardson
Andrew J. Goodpaster Sally Shelton
Allan Gotlieb Adele Simmons
Hanna Holbom Gray Anthony M. Solomon
David A. Hamburg Peter Tamoff
Ivan l . Head VironP. Vaky
Antonia Hernández Fred F. Woerner
•
104 O CompllJ
Brasil: Nicarágua:
Fernando Henrique Cardoso Xabier Gorostiaga
Roberto Civita
Celso Lafer Panamá:
Celina V. do Amaral Peixoto Nicolás Ardito Barletta
Jacqueline Pitanguy
Luís Inácio Lula da Silva Paraguai:
Carlos Filizzola
Colombia:
Rodrigo Botero, Pero:
Augusto Ramfrez Ocampo Osear Espinosa
Pedro-Pablo Kuczynski
Costa Rica: Beatriz Merino
Souza Picado Javier Pérez de Cuellar
Javier Silva Ruete
Chile: Mario Vargas Llosa
Sergio Bitar
Fernando Leniz República Dominicana:
Gabriel Valdés José Francisco Peña Gómez
Equador: Venezuela:
Osvaldo Hurtado Larrea Mercedes Briceño de Pulido
Alberto Quirós Corradi
Guiana: Julio Sosa Rodríguez
Shridath Ramphal
Uruguai:
Jamaica: Enrique V. Iglesias
Oliver F. Clarke Julio Maria Sanguinetti
México:
Mariclaire Acosta Urquidi
Agustín F. Legorreta
Lorenzo Meyer
4 A democracia
corrupta: arma da
Comissao Trilateral
dos Estados Unidos, mas o ano de 1828, no qual foi eleito o pre-
sidente Andrew Jackson, que lan~ou as multidoes contra os pro-
gramas de dirigismo económico que haviam salvaguardado até
entao o bem comum.
Do ponto de vista de Huntington a política é a antítese da reli-
giao, verdade e moralidade. Ele nao poderla ser mais explícito quan-
do lan~a, em A terceira onda, urna diatribe contra o confucionismo,
tido por antidemocrático. Isto, diz ele, se deve a que "a legitimidade
política na China confucionista se derivava do Mandato do Céu, o
qual definía a política em termos de moralidade. Mas se se modifica
essa cultura, afirma ele, a "democracia" pode funcionar, como por
fim ocorreu nos países onde prevalece a Igreja Católica. Enquanto,
antes, a cultura católica era "autoritária, hierárquica e profundamente
religiosa", agora, diz ele, isto mudo u, gra~as ao impacto da Teología
da Liberta~ao e a "igreja do povo".
Execu~ao na prática
Como já se mencionou, em maio de 1976, o Conselho de Seguran~a
Nacional emitiu o seu "Primeiro relatório anual sobre política
demográfica internacional dos Estados Unidos", um relato dos pro-
gressos referentes ao NSSM-200 e outros memorandos do mesmo teor.
O relatório secreto analisa o ano anterior de execu~ao do memorando
de Kissinger e foi remetido ao entao diretor da CIA, George Bush,
entre outros encarregados da área de informa~oes.
Pelo referido relatór.io, a resistencia principal aos esfor~os
estadunidenses buscando reduzir a popula~ao do antigo,, setor colonial
concentrou na Ibero-América, no Oriente Médio e na Africa, regioes
dominadas ou com forte influencia do catolicismo ou do islamismo.
Ambas as religioes se opoem as restri~oes a natalidade, enfoque que o
CSN condena como "pró-natalista":
A necessidade de "disciplina"
Em contraste com os países "nao-convencidos", os quais devem ser
submetidos a opera~oes especiais encobertas, o relatório indica quais
países, presumidamente, estao dedicados aredu9ao da natalidade, ou,
pelo menos, nao se lhe opoem. Conta-se entre eles a maioria dos paí-
ses asiáticos e de modo particular a República Popular da China. O
estudo diz que "quase metade da popula~ao mundial vive em países
em desenvolvimento cujos dirigentes sao partidários da política e dos
programas demográficos. lsto representa aproximadamente dois ter-
~os do mundo em desenvolvimento". Esta propor~ao contrasta com
as declara~oes do memorando de Kissinger em 1974, no qual se con-
siderava muito mais difundida a hostilidade dos referidos Estados para
com os programas de redu~ao da popula~ao.
O despovoamento: polfJica oficial dos EUA 121
Até agora, o Ocidente tem sido mfope. O caso iraquiano revela todas as
contradi~oos ocidentais. Agora é necessário que os ocidentais adotem medidas
de apartheid tecnológico para como Terceiro Mundo... Oapartheid tecnológico
é urna fórmula brutal; no entanto, é a última o~ao, antes da pressao militar
direta, para enfrentar as for~as cegas do Terceiro Mundo.
refém das manipuJa~oes dos pre~os das matérias-primas por cartéis contingen-
tes e, neste caso, a declarar a guerra depois de se pór em posi~ao de perdS-Ia.
obter pennissao para contruir urna usina nuclear nos Estados Unidos.
Se os empresários violarem as restri~oes de qualquer maneira,
serao submetidos a duros castigos penais, entre eles possfveis conde-
na~oes a dez anos de cárcere.
Mas os prejudicados nao serao apenas os industriais
estadunidenses e o Terceiro Mundo. As novas restri~oes sao dirigidas
também a Europa Ocidental e, em especial, a Alemanha e ao Japao,
porque estas duas na~oes insistem em exportar tecnologías modernas
ao setor em desenvolvimento e acham que isto é razoável (como está
claro que sim). Washington pressiona para conseguir um acordo mun-
dial que apóie as suas restri~oes e se vale de todos os tipos de chanta-
gens para conseguí-lo, como, por exemplo, fazer com que os peritos
em desinforma~ao produzam várias "denúncias" de que a Alemanha
vendeu deliberadamente gás venenoso ao !raque para ser usado con-
tra Israel. Está claro que a inten~ao é ressuscitar o espectro do
holocausto nazista contra os judeus. A Liga Antidifama~ao da B 'nai
B'rith (ADL) tem estado muito ativa nesta campanha, assim como o
Instituto Simon Wiesenthal.
Se alguns setores da indústria estadunidense nao ficaram conten-
tes com a nova política, os propagandistas malthusianos estao adoran-
do porque sabem o que significa o genocfdio e isto é o que querem.
Querem fazer desaparecer o Terceiro Mundo e as popula~oes de cor
para roubar mais facilmente os seus recursos.
Passemos ao tema da prolifera~ao de armas, tendo em vista que
Washington colocou nele tanta ~nfase e se vale do temor provocado
para ver aprovada a sua medida genocida de restringir as exporta~oes
tecnológicas. Antes de tudo, é certo que o Departamento de Estado
quer deter a prolifera~ao de armas, pelo menos em certos países em
desenvolvimento. Mas nao se trata de que desejem garantir urna paz
mundial verdadeira e duradoura. O que querem é assegurar-se de que
nenhum país seja capaz de montar um tipo de opera~ao remotamente
eficaz para defender-se do saque colonial que caracteriza a política da
"Nova Ordem Mundial".
Por isso, quase todas as na~oes em desenvolvimento que tem urna
indústria annamentista nacional avan~ada - como o Brasil e a Argen-
tina - constituem alvos especiais. Washington quer assegurar-se de
que nenhum país em desenvolvimento possa proporcionar armas-ou
tecnología moderna de qualquer tipo - a outras na~oes em desenvol-
vimento, posto que isto solaparla o dominio estadunidense.
7 O govemo
supranacional:
a reorganiza~o da ONU
para seu novo papel
Reorganiza~áo da ONU
Para fazer das Na~oes Unidas um organismo mais apropriado para
govemar o mundo, os anglo-americanos lá colocaram no final de 1991,
o secretário-geral, Boutros Boutros-Ghali, ex-ministro de Rela~ües
Exteriores do Egito e que por toda a vida foi agente dos britanicos.
Em seguida, o ex-procurador-geral de Justi~a do Govemo Bush,
Richard Thomburgh, foi nomeado subsecretário-geral administrativo
das Na~oes Unidas. Os dois levam a cabo a maior reorganiza~ao das
Na~oes Unidas em toda a sua história.
Como contribui~ao ao processo, o premier britanico, John Major,
convocou em janeiro de 1992 urna cúpula de chefes de Estado mem-
bros do Conselho de Seguran~a, a qual determinou ao organismo a
sua nova missao: a "diplomacia preventiva". Major qulificou esta cú-
pula de "divisor de águas da História" e ordenou ao secretário-geral
formular propostas concretas para o cumprimento da nova missao.
A resposta do secretário-geral ao pedido anglo-americano foi urna
"Agenda de Paz", na qual se definem novas regras de opera~oes mili-
tares ofensivas dos "capacetes azuis" da ONU, violando os limites
estabelecidos pela própria Carta das Na~éSes Unidas. O documento
prop0e também ampliar a capacidade do organismo para recolher infor-
ma~oes; a forma~ao de urna for~a militar de resposta rápida da ONU; e
avan~a rumo a cria~oes de um corpo diplomático das Na~oes Unidas,
cujos embaixadores nos países do Terceiro Mundo teriam a mesma con-
di~ao que os govemadores britanicos nas colonias durante o século 19.
A fim de impor essa transforma~ao, os anglo-americanos tem
provocado ou manipulado guerras por todos os lados, ao mesmo tem-
po em que proclamam que apenas as Na~oes Unidas ou organismos
intemacionais semelhantes estao em condi~oes de enfrentar as referi-
das conflagra~oes. Por sua vez, os agentes da Gra-Bretanha propalam
a linha de que a única forma de conteros Estados Unidos, agora que a
Uniao Soviética desmoronou, seu principal rival, é conferir maiores
poderes as Na~oes Unidas.
As organiza~óes regionais
Em paralelo com esse ataque asoberanía nacional, o relatório também
O governo supranacional: a reorgani1Jl,fiio da ONU para seu novo papel 131
Reimposi~áo do colonialismo
Um sentido adicional do relatório é o de reintroduzir o colonialismo
(no estilo do) século 19 sobo disfarce da "manuten~ao da paz depois
dos conflitos". Neste sentido, Boutros-Ghali argumenta que para po-
derem ser realmente bem sucedidos, a pacifica~ao e a manuten~ao da
paz devem ser acompanhadas pela "constru~ao da paz", outra expres-
sao de inven<;ao recente. A constru9ao da paz é definida como: "es-
132 OComplA
lente a urna senten9a de prisao perpétua, assim como muitos de seus cama-
radas que participaram do pronunciamento de dezembro de 1990.
Muitos dos militares mais competentes, submetidos apenúria pe-
los ditames do Fundo Monetário Internacional, tiveram de reformar-
se prematuramente. A dedica9ao crescente do governo ao
supranacionalismo e a agenda global da ONU, de modo especial sob
Carlos Menem e seu chanceler anglófilo Guido di Tella, criaram um
marco no qual a dire9ao civil militar argentina pode já ufanar-se de
que suas For9as Armadas estao a caminho de ser "as For~as Armadas
da Nova Ordem Mundial".
Interesses supranacionais
Outro elemento do programa de desmantelamento das For~as Arma-
das argentinas é o ativo papel do Governo Menem em favor do
supranacionalismo, tanto na Ibero-América como intemacionalmen-
Completaráo a 'desmalvinizafiio' das ForfQS Annmlas? 147
te. A essencia desta postura foi a de redefinir o papel das For~as Ar-
madas, já nao como defensoras da soberanía nacional, mas como par-
ticipantes de aventuras internacionais de "manuten~ao da paz" que
coartam, quando nao eliminam completamente, a soberanía de outras
na~oes.
Durante todo o ano de 1992, quando as for~as civis e militares de
vários países desafiaram abertamente os regimes "democráticos" cor-
ruptos do FMI, em especial na Venezuela e no Peru, os governos ar-
gentino e venezuelano foram os que exigiram a cria~ao de mecanis-
mos hemisféricos que esmagassem qualquer for~a ou governo que se
atrevesse a prosseguir a tomar tais iniciativas.
Nos últimos dois anos, o Governo Menem tero sido, juntamente
com o presidente venezuelano Carlos Andrés Pérez, um agente de
Washington para a tentativa de emendar a carta constituinte da OEA,
a fim de permitir a mobiliza~ao de tropas multinacionais contra qual-
quer na~ao que refute a "democracia" administrada pelo FMI. Em
mar~o de 1992, falando aos chanceleres dos países do Grupo do Rio,
Menem sugeriu que "a OEA deveria ter um Conselho de Seguran~a
como a ONU, para intervir na preven~ao ou condena~ao de golpes
militares na regiao". Um mes depois, o chance.ler Guido di Tella reite-
rou que o "nosso diagnóstico é que, se a OEA servir apenas para exor-
tar, será um organismo fraco. Porisso, interessa-nos dotar a OEA de
um cardápio de alternativas com diferentes graus de intrusividade".
Menem e di Tella discutiram com visitantes, como o general
Bernard Loeffke, presidente da Junta Interamericana de Defesa (JID),
que esteve em Buenos Aires em maio de 1992, como colocar esse
organismo militar adisposi~ao da OEA. A JID, afirmou Loeffke, "de-
veria ter mais fun~oes que as atuais". Em urna confe~ncia de impren-
sa realizada no mesmo mes, Menem defendeu "a cria~ao de for~as
continentais que garantam a estabilidade e a democracia". Na ocasiao,
Di Tella insistiu em que a OEA deveria formar "tropas de paz, como
a ONU".
A abjeta solicitude do governo argentino em integrar a OTAN
reflete ainda mais a sua política antimilitar. Em artigo ·de 28 de junho
de 1993, intitulado "O exército argentino tao inclinado aos golpes en-
contra nova voca~ao na ONU", o jornal estadunidense Washington Post
cita Carlos Escudé, ex-assessor da Chancelaria argentina, dando a en-
tender que seria muito natural a OTAN incorporar a Argentina de al-
guma forma. "A integra~ao da Espanha a OTAN automaticamente
redefiniu algumas for~as militares inquietas, fascistas", dizia. O
148 OComplO
A troco de que?
Em fevereiro de 1992, o entao ministro da Defesa argentino, Antonio
Ennan González, explicou a decisao de seu govemo de destruir o mís-
sil Cóndor 11 com a justificativa de que "estamos entrando em um
novo cenário mundial, dentro do qual existem acordos de paz. Cede-se
para obter outras vantagens". As vantagens que poderiam atualmente
ser brindadas a Argentina por um Primeiro Mundo no fundo da de-
pressao económica serao, ao final, ilusórias. E, para aqueles dirigentes
militares que engoliram o conto da reforma e da moderniza~ao e tole-
raram a destrui~ao da institui~ao castrense esperando, talvez, salvar as
suas próprias peles, agora se afirma amplamente urna realidade con-
trária, em dois sentidos.
Em primeiro Jugar, o pretexto de For~as Armadas mais "eficien-
tes" nao passa de lorota. A Argentina nao póde enviar navíos de guer-
ra urna segunda vez para participar no bloqueio do Iraque por falta de
fundos. Em meados de 1992, a Marinha teve que liberar o seu pessoal
por duas semanas, também por falta de dinheiro. Por sua vez, o minis-
tro da Economía Domingo Cavallo se negou- a financiar a participa~ao
militar em outras "missoes de paz" da ONU. Segundo um relatório
confidencial sobre as atuais condi~oes do Exército, este carece do equi-
pamento mais elementar, que já data dos anos 60 e 70. Faltam mochi-
las, uniformes, armamento antiaéreo, equipamento para guerra quími-
ca, biológica e radiológica, sem mencionar máscaras antigases ou tra-
jes protetores. Os novos subtenentes e cabos se veem agora obrigados
a comprar os seus uniformes - que até 1991 recebiam sem pagar -
em cinco parcelas de 160 pesos, descontados em seus soldos já
baix.íssimos.
E, para quem pensava que a ONU é o melhor patrao, aí está a notícia
Complttariio a 'desmalvinizMíjo' das ForfQS Armadas? 151
Imperialismo "ecológico"
A despeito da resistencia de alguns setores nacionalistas, a "Nova
Ordem Mundial" anglo-americana tem logrado obter algumas impor-
tantes vitórias políticas no país.
Para amansar o Brasil, os estrategistas da "Nova Ordem" deposi-
taram as suas esperan~as no "fator ecológico". Este abarca a forma~ao de
urna ampla corrente internacional de opiniao pública favorável a limita-
~ªº da soberanía das na~oos, sobo absurdo pretexto malthusiano de que os
recursos naturais sao finitos e estao se esgotando, que é preciso proteger o
meio ambiente a qualquer custo etc. Como corolário direto, pensa-se em
criar um organismo ecológico supranacional com poderes policiais, a fim
de administrar o meio ambiente mundial e supervisionar as atividades
potencialmente daninhas ao mesmo, acima da autoridade do govemo na-
cional, como propuseram a partir de 1989 o condomínio anglo-america-
no-soviético e seus bons aliados franceses. A Comissao Brundtland, em
seu relatório Nosso fu.turo comum, a "bíblia" que inspirou o temário da
Conferencia das Na~oos Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimen-
to, realizada no Rio de Janeiro emjunho de 1992, sugere a cria~ao de urna
entidade, possivelmente subordinada a ONU, que supervisione o meio
ambiente em escala mundial.
Altos representantes das grandes potencias e seus principais gru-
pos de poder come~aram a manifestar-se em variados foros intemaci-
onais com a mesma linguagem "verde" e a favor da supranacionalidade.
O entao chanceler soviético Eduard Shevarnadze tomou explícita
a adesao da URSS a"agenda verde global", em um discurso pronunci-
ado na ONU em 27 de setembro de 1988: "Diante da amea~a de urna
catástrofe ambiental as linhas divisórias do mundo ideológico bipolar
se desvanecem. A biosfera nao reconhece divisoes em blocos, alian~as
ou sistemas... ninguém está em posi~ao de edificar a sua própria linha
Brasil: a batalha contra a "Nova Ordem Mundial" 151
Pressóes tecnológicas
O contlito no golfo Pérsico acelerou os planos anglo-americanos de
impor ao Brasil um apartheid tecnológico, como descarado apoio
Governo Collor de Mello, contra os setores tecnológicos mais avan~a
dos do país: o nuclear e o aeroespacial, sob a responsabilidade das
For~as Armadas. A orienta~ao do Governo Collor implicava na ade-
sao aos preceitos dos principais sistemas internacionais de controle
tecnológico. Entre outras iniciativas suas, ressalta a assinatura do acordo
coma Argentina e a Agencia Internacional de Energía Atómica (AIEA)
para o controle das atividades nucleares nos dois países, e qual faz o
Brasil aderir implicitamente as normas do Tratado de Nao-Prolifera-
~ªº (TNP), que o país sempre recha~ou.
Um dos pontos decisivos do acordo é a possibilidade de que um
terceiro país denuncie o Brasil ou a Argentina por realizar pesquisas nu-
cleares secretas, o que capacitarla a AIEA a pedir ao Conselho de Segu-
ran~a das Na~ües Unidas urna interven~ao ad hoc, semelhante a que so-
freu o !raque, após a guerra. lsto foi admitido com grande franqueza pelo
diretor-geral da AIEA, Hans Blix, em entrevista concedida a imprensa
brasileira em dezembro de 1991. Depois de mencionar o precedente
intervencionista da AIEA no Iraque para eliminar todo o vestigio de seu
programa nuclear, Blix explicou: "A agencia deverá ter o direito de exigir
ins~ües em instala~ües nao declaradas, se, evidentemente, achar que
existam instala~oes nao declaradas. A agencia tem que dispor de todo o
tipo de infonna~oes para saber se existem instala~ües nao declaradas. lsto
é possível dentro do Tratado de Nao-Prolife~ao, mas no acordo que assi-
naremos como Brasil e Argentina há um dispositivo semelhante". E acres-
centou: "Se acreditarmos que um país nao esteja cumprindo com suas
obriga~ües, isto será informado ao Conselho de Seguran~a da ONU".
Além disto o Governo Collor se comprometen com as diretrizes do
Regime de Controle de Tecnología de Mísseis (MTCR) e do Comité de
162 OComplO
A existencia institucional
A resposta das For9as Armadas brasileiras a esse assalto anglo-ameri-
cano foi expressa com rapidez e vigor. Já que a Regiao Amazonica, a
zona de maior preocupa9ao estratégica para as For9as Armadas, se
acha claramente na mira dos anglo-americanos, a partir de 1990, a
hipótese principal de guerra das For9as Armadas brasileiras se concen-
tra naquela regiao, o que significou, na prática, um deslocamento de
for9as terrestres para lá.
Em abril de 1990, o general Osvaldo Muniz Oliva, comandante da
Escola Superior de Guerra, divulgou o estudo intitulado 1990-2000: a
década vital, no qual afirma a decisao das For9as Armadas de chegar até
a declarar o "estado de guerra" em defesa da Amazonia, contra as inten-
Brasll: a bata/ha contra a "Nova Ordem Mundial" 163
Alvo: os militares
Desde que, descaradamente, revelou-se ao público a política anglo-
americana de despovoamento, mais de urna década se passou. Tam-
bém se deu a conhecer que as Foryas Armadas da Ibero-América seri-
am alvos. Em 1988, o diretor do Programa de Relayoes Exteriores e
Meios de Comunicayao da Universidade de Columbia, James Chace,
marcou a agenda com artigo publicado no número de inverno de 1988-
89 da revista trimestral Foreign Affairs, do Conselho de Relayoes Ex-
teriores (CFR) de Nova York, órgao de planejamento estratégico do
Establishment anglo-americano. Chace escreve que o problema de El
Salvador eram os militares. Nao se tratavam de violayoes de direitos
humanos, esclareceu ele, mas de que as Foryas Armadas tinham oeste
país sido "o que mais se parece a urna instituiyao nacional efetiva".
Deviam-se refutar, argumentou ele, as medidas para "profissionalizar
as Foryas Armadas salvadorenhas porque isso criaria urna nova edi-
yao das Foryas de Defesa do Panamá (FDP)". Em vez disto, declarou
ele, "a melhor tática para os Estados Unidos é trabalhar para a
desmilitarizayao de El Salvador - e, na verdade, de toda a América
Central - com o que, oeste caso, significam novas negociayoes entre
as foryas rebeldes e o governo".
O subsecretário de Estado para Assuntos Interamericanos, Bernard
Aronson, resumiu essa posiyao em um comentário publlicado em 12
de outubro de 1990 no Washington Post. Dizia Aronson que, anterior-
mente, os Estados Unidos nao haviam querido "cortar a ajuda militar
em meio a urna guera travada por um exército guerrilheiro sanguiná-
rio e decidido". Aronson prometeu que nao se voltaria a cometer este
"erro". Todavia insistiu em urna drástica reduyao de escala das Foryas
Armadas salvadorenhas como base para a adoyao de "propostas de
modificayao na estrutura e no tamanho das Foryas Armadas, pelas
quais, há um década, teriam matado um esquerdista salvadorenho".
Hoje constituí fato trágico que o acordo de paz dirigido pela ONU
em El Salvador nao apenas está desmantelando as Foryas Armadas
desta nayao, como, além disto, está entregando todos os aspectos da
soberanía nacional a "comissoes" dominadas por representantes ou
simpatizantes da FMLN, que, nos últimos doze anos, tem sido a
insurgencia marxista mais estreitamente aliada a ditadura de Fidel
Castro nas Américas.
Isso nao teria sido possível sem a ajuda do govemo estaduniden-
se. Como evidenciará, os Estados Unidos desempenharam um papel
170 OCompw
Fideicomisso da ONU
Em 26 de abril de 1991, o governo do presidente Alfredo Cristiani,
fraco e sob coac;ao, assinou coma FMLN um acordo que assegurava
formalmente a intervenc;ao mediadora ativa das Nac;oes Unidas. De-
terminou-se o calendário de cessar-fogo e o plano para "modificar" as
func;oes do sistema judiciário e eleitoral salvadorenhos; além disto,
formarla-se urna comissao "de expurgos" enc:irregada de qualificar a
conduta de todos os oficiais das Forc;as Armadas e obrigou-se o go-
verno a aceitar a criac;ao da "Comissao da Verdade", auspiciada pela
ONU, a fim de investigar acusac;oes de violac;ao dos direitos humanos
nesta guerra de dez anos. Na verdade, os elementos de controle
supranacional da ONU já estavam estabelecidos desde antes que se
negociasse qualquer "acordo de paz".
Como parte do arreglo, o governo do presidente Cristiani e a As-
sembléia Nacional de El Salvador concordaram em reescrever a Cons-
titui~ao Nacional para incluir nela muitas das reformas que a FMLN
exigia para manietar o Exército, enquanto a FMLN ainda empreendia
a guerra! Entre as reformas, incluía-se a revoga<tllo do artigo 30 da
Constitui<tllO, que determina que o Exército cumpra fun~oes de polí-
cia em momentos de desordem pública. Em lugar dele, seria criada
urna polícia civil nacional encarregada de "mantera ordem pública",
em meio a guerra total. As reformas assinalam que a Assembléia Na-
cional poderá revogar qualquer decreto presidencial por maioria sim-
ples de votos, e que o Exército restabele~a a ordem em caso de emer-
gencia nacional.
Desse modo, enquanto o governo comec;ava a "desmilitarizac;ao",
a FMLN afinava a sua estratégia militar. Em abril, foram capturados
documentos internos da organiza~ao descrevendo cinicamente as suas
táticas de negociac;ao: "Aproveitaremos a luta de massas, as negocia-
foes, a obten<tao de acordos e as eleictoes como parte de nossos esfor-
fOS estratégicos militares. Nosso objetivo militaré o uso ótimo das
forc;as e meios para atingir as metas trac;adas. Tentaremos chegar a
acordos relativos ao problema das Forr;as Armadas na mesa de nego-
ciac;oes, no momento em que convertemos a FMLN em for~a política-
militar. Nunca aceitaremos a nossa dissolufiio como forfa política ou
,
,
174 OCompM
A sociedade ONU-FMLN
Quando o acordo de paz salvadorenho foi assinado na Cidade do
México, em 16 de janeiro de 1992, nao era mais segredo para pessoa
alguma que havia sido cozinhado um acordo entre a ONU e a FMLN.
O Establishment anglo-americano atingira o seu objetivo, com lucro.
Robert White, ex-embaixador dos Estados Unidos em El Salvador,
resumiu tudo em um comentário publicado em 16 de janeiro no Wa-
shington Post: "O poder será compartilhado comas Na95es Unidas".
Assinou-se a liquida9ao da soberanía nacional e mais de mil observa-
dores estrangeiros e da ONU chegaram a El Salvador para "vigiar o
processo de paz".
A FMLN também atingiu o seu objetivo, abundando em elogios
ao Governo Bush por te-lo tornado possível. "Desejamos estender a
mao ao governo dos Estados Unidos", disse o chefe da FMLN, Chafik
Handal, ex-secretário geral do Partido Comunista salvadorenho. O
"teólogo da liberta9ao" salvadorenho Cardenal reconheceu posterior-
mente, em sua apresenta9ao no foro de 1992, em Bogotá, que "o acor-
do de paz em El Salvador nao teria sido possível sem o apoio dos
Estados Unidos. Nada há na América Central que se possa fazer se
nao se contar com a aprova9ao dos Estados Unidos". Jesus Antonio
Bejarano, embaixador colombiano em El Salvador e ex-conselheiro
presidencial de paz, disse no mesmo foro que "a coa9ao dos Estados
Unidos foi a chave em todo o processo de paz em El Salvador".
Na cerimonia de assinatura do acordo, o comandante Handal
manifestou o seu contentamento pelo fato de que o resultado principal
176 OComplO
do acordo tinha sido "o fim da hegemonía militar sobre a na'Yao civil"
O que quer dizer isto?
Urna vez entrado em vigor o cessar-fogo, todas as instituiyoes
políticas de El Salvador seriam reformadas e redefinidas em urna nova
Constituiyao, tudo vigiado pelas Nayoes Unidas. O flamante secretá-
rio-geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali, qualificou o acordo como
urna "revoluyao ganha mediante a negociayao", frase prontamente
regurgitada pelos dirigentes da FMLN.
No processo de "paz", foram assinados pelo menos seis docu-
mentos que representavam mudanyas radicais no govemo, a econo-
mía e o exército de El Salvador, como exige o acordo supranacional.
Igualmente, foi acordado o calendário para aplicayao das referidas
modificayoes. A dimensao dos aspectos da sociedade salvadorenha
que terao que ser recompostos é assombrosa e deixa em segundo pla-
no qualquer cessar-fogo e qualquer desmobilizayao das guerrilhas.
Os documentos determinam: a reduyao, o expurgo e a redefiniyao
da tarefa das Foryas Armadas; ordenam a criayao de urna nova polícia
civil, urna academia de seguran'Ya pública e urna entidade estatal de
informayoes dirigida por civis, além de detalhar como serao selecio-
nados os diretores destas reparti9oes, seus critérios operacionais e os
limites de suas funyoes; fixam os prazos para a altera9ao do sistema
eleitoral e judiciário e, para este último, exigem um novo programa de
treinamento e a nomeayao de novos membros da Suprema Corte; de-
finem os critérios do "Programa de Constru9ao Nacional" e a cria9ao
de novas instituiyoes que fi scalizem desde o cumprimento da distri-
buiyao de terras até a apJicayao dos mecanismos de coopera9ao, os
programas de ajustamento fiscal, a política de crédito, a ajuda técnica,
a privatiza9ao etc.
Todas essas reformas se acharo sujeitas asupervisao ou vigil§n-
cia, quer da Comissao Nacional para a Consolida9ao da Paz (Copaz)
das Na9oes Unidas ou de ambas. A Copaz foi criada a pedido das
Na9oes Unidas para servir de poder alternativo ao govemo de Cristiani.
Ela incluí dois representantes do Govemo (um das Foryas Armadas),
dois da FMLN e um de cada um dos diversos partidos políticos ou
coa1izoes políticas do país, incluindo-se os grupos de fachada da
FMLN. O Copaz, assim sendo, foi criado para favorecer a FMLN e
assegurar-lhe a maioria efetiva no corpo "nacional" encarregado de
resolver as disputas que pudessem surgir durante a execu9ao dos acor-
dos. Por cúmulo, a lgreja Católica salvadorenha, dominada por for9as
favoráveis a FMLN e a ONU, recebeu a categoría de observadora na
El Salvador e Col8mbia 111
A verdade suspeita
Como chegou a Comissao aos seus cálculos de que 85% das viola9oes
dos direitos humanos foram cometidas pelos militares, "fato" presu-
mido e difundido por todo o mundo? Os membros da Comissao e um
grupo de 20 investigadores e "peritos em direitos humanos" entrevis-
taram quase 2.000 salvadorenhos e receberam informa9oes de mais
de 22.000 casos. Destas alega9oes, 85% eram contra os militares. Quem
foram os seus informantes? Ninguém sabe, pois foram mantidos em
segredo. Até mesmo o New York Times reconheceu, em 16 de mar90,
que "embora o documento tenha amplos rodapés de página e se des-
creva o peso de suas provas, ele nao incluí evidencias suficientes de
investiga9ao que tornero possíveis urna avalia~ao independente".
Segundo o ministro da Defesa salvadorenho, René Emílio Ponce,
que refutou as aliga9oes da Comissao da Verdade pelo rádio e televi-
sao sal vadorenhas, as "For9as Armadas, como garantes da soberanía
do Estado, nao podem aceitar o fato de que seu dever constitucional,
que é defender a pátria de qualquer tipo de agressao, seja passado por
alto no relatório... O relatório da Comissao da Verdade nao reconhece
a natureza e a origem dos ataques comunistas em El Salvador... Na
reda9ao de seu re1atório, a Comissao utilizou critérios e informantes
preconceituados para demonstrar - a sua maneira - fatos e idéias
preconcebidos... Em momento algum foi dada as pessoas acusadas a
oportunidade de contestar as acusa9oes ou defender-se publicamente
das acusa9oes contra elas... mostrando, assim, desprezo pelo processo
legal que deveria existir em um estado de Direito..."
"O relatório nao menciona os horrores e sofrimentos que a cha-
mada guerra popular prolongada dos comunistas causou a todos os
grupos sociais, de modo especial aos setores mais pobres, nos quais
foram sentidos com mais fúria estes ataques. O relatório nao recorda
as centenas de crian9as e jovens camponeses mutilados pelas minas,
nem os mortos nos ataques aos ónibus de transporte público, centros
de saúde e edificios govemamentais. Nao menciona o dano causado
as comunidades isoladas, nas quais se destruíram as pontes, os danos
sofridos por comerciantes e trabalhadores como resultado da chama-
da saboagem económica. Nao menciona as centenas de pessoas
deslocadas em conseqüencia de ataques subversivos".
"Tratar esses casos de viola9ao de forma parcial denota a inten-
9ao clara de destruir a institucionalidade, a paz social e as For~as Ar-
madas... Apesar de declarar que sua inten9ao é contribuir para a re-
184 O ComplíJ
A "salvadoriza~ao" da Colombia
A campanha "unimundista" para impor urna estratégia de divisao do
país como inimigo, nos países que se encontram em guerra contra o
narcoterrorismo constituí parte central da política que tem dominado
os acontecimentos na Colombia há quase urna década, mesmo antes
do precedente do 'método salvadorenho"' Porém, com a imposi~ao
186 OCompló
Estratégia de apaziguamento
A estratégia oposta e que, infelizmente, domina o atual govemo de
César Gaviria (em 1993 - N.E.), promove a combina~ao de opera-
9oes militares limitadas e ofertas de divisao do poder~ o chamado "mo-
delo salvadorenho". Na Colombia, esta estratégia remonta filosofica-
mente ao ex-presidente Alfonso López Michelsen, que, desde 1984,
tentou negociar urna anistia política para os cartéis de cocaína em
troca pela "repatria9ao" dos seus ilegalmente ganhos milhoes de
narcodólares. López Michelsen argumentava, entao, que "o direito
positivo", isto é, a separa9ao a Jei e da moral, tinha de ser a "regra de
coexistencia dos cidadaos". Mais tarde, ele argumentaría a favor da
concessao aos narcoterroristas do status de "beligerantes", outorgado
pela Conven~ao de Genebra, a fim de facilitar as negocia~oes de paz
em termos "iguais" com o govemo colombiano.
Em 1990, López Michelsen surgiu como cabe9a de um grupo de
"notáveis" que iniciou um processo de ne·gocia~ao que conduziu aos
infames acordos para a "rendi9ao" do capo narcotraficante Pablo
Escobar e seus sequazes do Cartel de Medellín. Para negociar a rendi-
9ao de Escobar, o govemo nao apenas renunciou a sua arma mais
poderosa contra os cartéis - a extradi9ao - como também aprovou
de fato que os traficantes que se entregassem continuassem com os
seus negócios e seus assasinatos, trabalhando de dentro de suas ele-
gantes "prisoes".
Essa filosofía positivista de López Michelsen dominou de modo
igual a estratégia de negocia9ao empregada pelo governos de Virgilio
Barco e César Gav.iria com os narcoterroristas do M-19 e outros gru-
pos comunistas e maoístas. O processo iniciado por Barco e concluí-
do por Gaviria, para conceder anistia política e urna parcela significa-
tiva de poder ao M-19 resu1tou na corrupc;ao total da Assembléia Cons-
tituinte e de sua nova Constitui9ao Nacional, elaborada em 1991 pelo
M-19 e seus aliados dos cartéis e da Ma9onaria. No entanto, prosse-
guem os esfor9os das FARC e do ELN para extrair mais concessoes
do Governo mediante urna combina9ao de terrorismo e de negocia-
c;ao, <liante da resistencia militar.
Apesar de tudo, continua aumentando a pressao para obrigar o
governo da Colombia a abrir por completo as suas portas aos crimino-
sos que tem promovido a destrui9ao da na9ao já por décadas. Apenas
no ano passado realizaram-se duas conferencias em meio a urna cam-
panha internacional de imprensa que define o exército colombiano
188 OComplO
As conseqüencias
O resultado criminoso dessas alian9as entre as organiza9oes nao-go-
vernamentais (ONGs) supranacionais e os "narco-comunistas" pode
ser visto na recente publica9ao do livro Terrorismo de Estado na Co-
lómbia. Trata-se de um calhama90 produzido por dez ONGs de "di-
El Salvador e Colómbia 189
Distorcendo a verdade
Apesar das claras pro vas sobre as manobras legais do ELN, organiza-
9oes nao-governamentais como a Anistia Internacional e outras que
ajudaram a preparar o livro Terrorismo de Estado na Colombia, con-
tinuam difundindo as mentiras do ELN como sendo a verdade. Todos
os militares que conseguiram politicamente que a popula9ao desafias-
se o ELN enfrentam diversos processos judiciais! Entre eles, várias
investiga9oes da Procuradoria-Geral, que se converteu em urna su-
cursal da Anistia Internacional.
Em fevereiro de 1993, urna delegayao do Comite de Vítimas da
Guerrilha (VIDA) viajou a Washington para apresentar a Comissao
lnteramericana de Direitos Humanos da OEA urna videogravacrao na
qual se mostram as viola9oes cometidas pelo ELN e pelas FARC:
mutila9ao de camponeses, destrui9ao de pontes etc. Fernando Vargas,
di retor do VIDA, denunciou que o sistema judiciário colombiano está
completamente infiltrado pelos terroristas e que este é o motivo das
múltiplas arbitrariedades do sistema judiciário contra os que comba-
tem a "escravidao da guerrilha".
Até o início de junho de 1993, a OEA nao havia feíto qualquer
pronunciamento sobre o assunto e as ONGs continuavam apresentan-
192 OComplD
Apendice A: "
"Gente demais!"
Em 1981, a revista EIR entrevistou Thomas Ferguson, diretor da se-
fii.O latino-americana do Gabinete de Assuntos Demográficos do De-
partamento de Estado dos Estados Unidos. Em seguida, apresentam-
se excertos de suas declarafoes.
Nao há lugar.
"Veja-se o Vietna. Estudamos o assunto. Esta regiao também es-
tava superpovoada e era um problema. Acreditávamos que a guerra
diminuiria o ritmo [de crescimento da popula~ao], mas nos engana-
mos. Para reduzir a popula~ao de modo rápido, tem-se que meter to-
dos os homens no combate e matar um número significativo das mu-
lheres em idade fértil. Voce compreende, enquanto existir um grande
número de mulheres férteis, haverá problemas. Um só homem pode
emprenhar urna quantidade de mulheres, de modo especial nestes pa-
íses comunidades familiares fracas.
"Em El Salvador, matam-se uns poucos borneos e pouquíssimas
mulheres para que a popula~ao crie juízo. Se a guerra durasse 30 ou
40 anos, realmente, se conseguiria alguma coisa. Por desgra~a, nao
ternos muitos exemplos destas a estudar. Seria diferente, porque ha-
veria urna violencia política constante.
, "O modo mais rápido de reduzir a popula~ao é com a fome, como
na Africa, ou com doen~as, como a Peste Negra. O que talvez ocorra
em El Salvador é que a guerra desorganize a distribui~ao de alimen-
tos; a popula~ao poderia enfraquecer, poderiam surgir enfermidades e
fome, como acontece em Bangladesh ou em Biafra. Aí, sim, cria-se a
tendencia a que a popula9ao diminua com rapidez. Isto pode ocorrer
em El Salvador. Quando comeyar a ocorrer, surge o caos político por
algum tempo. Oeste modo, é preciso ter um programa político para
lhe fazer frente. Nao posso calcular, na prática, quantos morrerao deste
modo, indiretamente, mas poderiam ser muitíssimos, dependendo do
que ocorra. Esta gente se reproduz como animais ...
"Por bastante tempo, houve aquí [no governo dos Estados Uni-
dos] muita timidez. Demos ouvidos aos argumentos dos dirigentes do
Terceiro Mundo que diziam que o melhor anticoncepcional é o desen-
volvimento economico. Assim foi que promovemos a ajuda ao desen-
volvimento. E olhe o que conseguimos. Melhoramos as redes de água
e esgotos, reduzimos as enfermidades e ajudamos a criar a bomba de
tempo demográfica. Reduzimos a mortalidade, mas nada fizemos para
reduzir a natalidade ... Agora, mudamos de política. Com (o relatório
do Governo Carter) "Global 2000", e na prática, afirmamos que te-
rnos de reduzir a popula~ao. O propósito é que o problena primário
está em submeter ou reduzir as cifras demográficas ...
"A maioria da gente de Reagan, o secretário de Estado como
[Alexander] Haig, pensado mesmo modo. Irao a um país e dirao:
'Este é o seu plano de desenvolvimento? Joguem pelajanela! Ponham-
194 OCompw
Apendice B:
A FMLN náo tem apoio popular
Urna fonte de inteligencia militar da Organiza9ao das Na9oes Unidas
em El Salvador (Onusal) fez as seguintes observa(:oes sobre a situa-
(:ao em El Salvador, em entrevista a revista EIR.
AP.endice C:
'O comunismo náo acabou'
Em 1º de mart;o de 1993, as Fort;as Armadas de El Salvadoremitiram
um documento de 95 páginas intitulado A amea9a a soberanía e a
destrui9ao do Estado, em resposta ao relatório da Comissiio da Ver-
dade da ONU. lncluímos alguns extratos do mesmo.
Apendice D:
"Bem-vinda a ONU a Colombia!"
A seguinte entrevista com Manuel Cepeda, secretário-geral do Parti-
do Comunista da Colómbia, foi feita durante o Quarto Foro sobre a
Paz e os Direitos Humanos, realizado em Bogotá, em 19 defevereiro
de 1993.
MC: Mas nas Na~oes Unidas existem muitos outros interesses dife-
rentes dos interesses dos Estados Unidos. Veja que a interven~ao das
Na9oes Unidas em EJ Salvador e na Nicaragua foi muito positiva. Em
El Salvador, como processo da paz. Na Nicaragua, a ONU conseguiu
a desmobiliza9ao dos "contras".
Qual é a realidade?
A maioria dos guatemaltecos, sejam mestizos ou índios, vive em mi-
séria abjeta. A Guatemala é um país rico em recursos naturais, tanto
agrícolas como minerais, mas a falta de desenvolvimento da infra-
estrutura básica deixou a maior parte do país no atraso. A falta de
transporte, saúde e servi9os de saneamento é urna das mais acentua-
das do continente, rivaJjzando apenas com Peru e Honduras.
O que Menchú conta sobre a sua infancia descreve condi9oes
intoleráveis para qualquer ser humano. A fim de poder, ao menos,
conseguir urna subsistencia mínima de seus miseráveis peda9os de
terra nas montanhas, todos os homens da família de Menchú, junta-
mente com milhoes de guatemaltecos, viam-se obrigados a descer das
montanhas para trabalhar urna parte do ano nas fazendas da costa,
colhendo algodao e café. Ali viviam em urna semi-escravidao pior do
que a vigente nas planta9oes sulistas dos Estados Unidos depois da
Guerra de Secessao. Os trabalhadores temporários sao espica9ados
como se fossem animais de carga, mas recebem menos alimento do
que os animais. Analfabetos, sem assistencia médica de espécie algu-
ma e também sem moradia ou prote9ao legal, os homens, mulheres e
crian9as das fazendas - índios e mesti9os - sao tratados como ani-
mais e explorados até a beira da morte.
Em compara9ao a esses campos de escravos, a vida no Altiplano,
sendo tao miserável como era, assemelhava-se a liberdade.
Nao obstante, o que o livro de Menchú identifica como sendo as
causas do atraso da Guatemala, apesar de seu potencial? Quais sao as
solu~oes que Menchú e seus promotores propoem para alcan9ar ali-
berdade? Aqui é onde come9a a surgir a fraude perversa desta autobi·
ografia.
208 O Complo
Zoológico humano
Os ianomamis sao nómades, decorrendo daí a conclusao de que ne-
cessitam de um enonne espa~o territorial para a sua sobrevivencia.
Em pleno século 20, os ianomamis vivem literalmente na era da ca~a
e da coleta, subdividindo-se em aproximadamente 200 comunidades
independentes entre si. Falam quatro dialetos diferentes e nao tem um
sistema numérico preciso. Juntos, os ianomamis que habitam o Brasil
e a Venezuela nao chegam a mais de 22 mil indivíduos.
O estado selvático em que se encontramos ianomamis criou um
imenso debate internacional. Por exemplo, em 1988, a revista Science
publicou vários artigos sobre eles, um dos quais assinado pelo antro-
pólogo Napoleon Chagnon, o qual provocou grande polemica. O arti-
go de Chagnon, publicado em 26 de fevereiro de 1988, descreveu os
ianomamis como um dos grupos humanos mais violentos e sangui-
nários do planeta. Sem qualquer tipo de justi~a institucionalizada, o
que impera entre os ianomamis é a própria lei da selva. Segundo
Chagnon, 44% dos homens com idade superior a 25 anos já participa-
ram no assassinato de alguma pessoa e 30% dos adultos morrem por
causas violentas.
Guatemala e Brasil 217
MAPA1
Zona para a reserva lanomami
BRASIL
218 o Complo
Problemas artificiais
Todo o alarido em tomo dos indígenas brasileiros é mais que absurdo,
pois, em termos estritos, o Brasil nao tem problemas indígenas, que
tem sido artificialmente criados. Existem no país um total de 230.000
indígenas, a maioria na Regiao Amazonica, que tem destinados para
suas reservas cerca de 10% do território nacional, enquanto a popula-
~ao total do país é de 146 milhoes de habitantes. Tal situa~ao absurda
já foi assinalada de modo preciso pelo Cardeal Agnelo Rossi em seu
livro Brasil, integra(:ÜO de ra(:as e nacionalidades, no qual diz que
"pelo critério de propriedade do homem branco, cada índio já nasce
com 6 quilometros quadrados de terras. Com esta propor~ao, o Brasil
somente poderia abrigar 1.400.000 pessoas. Para a popula~ao total
brasileira seria preciso contar com quatro vezes a soma do tamanho
dos cinco continentes".
A verdade é que as tensoes da Regiao Amazonica tem sido cria-
das pela cobi9a internacional que existe sobre a impressionante rique-
za ali existente. O fato é que grande parte do território habitado pelos
indígenas brasileiros e, de modo particular, o território destinado aos
ianomamis, além de ser a maior reserva biológica do mundo, mostra-
se imensamente rico em recursos minerais estratégicos, embora estes
ainda nao tenham sido totalmente avaliados. O ouro, cassiterita, dia-
mantes, nióbio, uranio, etc. sao abundantes na regiao. Segundo um
estudo da Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais-o servi~o
geológico brasileiro, - as jazidas minerais descobertas até boje na
Amazonia estao avaliadas em tres trilhoes de dólares.
O papel da ONU
Embora a manipula9ao das étnica tenha sido historicamente urna
arma da geopolítica das potencias imperialistas, no caso dos
ianomamis a farsa é tao óbvia que os próprios representantes das
grandes potencias que integram o Conselho de Seguran~a da ONU
tiveram de lhe dar credibilidade. O plano de criar um "enclave"
ianomami ficou claro durante as delibera~oes do Conselho de Se-
guran~a da ONU que precederam o cessar-fogo no Iraque. Se-
gundo noticiou em 1O de abril de 1991 o jornal Financia/ Times
de Londres, a propósito da proposta anglo-francesa para a cria-
~ao de um enclave curdo ao norte do Iraque, feíta em 4 de abril, o
Guatemala e Brasil 219
A possibilidade de conflito
Acontecimentos recentes ocorridos na fronteira entre o Brasil e
Venezuela, em áreas próximas a reserva ianomami ou dentro dela,
confirmam que as For~as Armadas tem razao em estar preocupadas
pela cria~ao da reserva, pois estes acontecimentos mostraram em pe-
quena escala os elementos que poderiam ser usados para fabricar urna
crise fronteiri~a de grandes propor~oes intemacionais, apta a servir
de pretexto para a interven~ao de alguma instancia mediadora de tipo
supranacional, como o Conselho de Seguran~a da ONU.
Em principios de fevereiro de 1991, em urna a~ao obviamente pro-
vocadora, um grupo de garimpeiros que actuavam ilegalmente em terri-
tório indígena no estado brasileiro de Roraima, lan~aram urna rumorosa
campanha para denunciar a existencia de urna ambigüidade geográfica
em urna parte da fronteira do Brasil com a Venezuela. Em fevereiro de
1992, um grupo numeroso de garimpeiros, comandados por seu líder José
Altino Machado, criou outra tentativa séria de enfrentamento em territó-
rio ianomami. Na ocasiao, alguns deles foram mortos ao entrar ilegal-
mente em território venezuelano em um aviao que foi derrubado pela
Guarda Nacional da Venezuela. O clima de tensao diplomática gerado
pelo incidente chegou ao ponto de levar o consul venezuelano em Roraima
a caracterizar a regiao como um "Líbano potencial". Por sua vez, o go-
vemador do estado do Amazonas, Gilberto Mestrinho, disse ao jornal
Folha de Siio Paulo que a instabilidade provocada podía ser o "anúncio
de que se deve convocar urna for~a da ONU a regiao".
Em um momento crucial da disputa, para evitar que o presidente
Collor cedesse as pressoes externas para delimitar a reserva ianomani,
o general Antenor de Santa Cruz, ex-comandante militar da AmazO-
nia, afirmou cortantemente que se as superpotencias se obstinassem
em seus planos universalistas para submeter o Brasil ao esquema de
soberanía limitada, será criado, sem dúvida, um "novo Vietna".
No capítulo dedicado aAmazonia, o estudo "1990-2000, Década Vi-
tal", preparado pela Escola Superior de Guerra, é feita a advertencia: "Go-
verno proprio em áreas indígenas. Essa é urna tentativa externa pennanente
de internacionaliza~ao da Amaz0nia, com~ando com os enclaves indígenas
utilizados pelas Organiza~ Nao-Governamentais (ONGs)". E concluí que
se o cenário de desestabiliza~ao internacional se intensificar, a defesa da
área poderá incluir a decreta~ao de um "estado de guerra".
Foram considera~óes estratégicas semelhantes que orientaram, em
Guatemala e Brasil 221
Apendice:
Como a oligarquia inglesa criou a
. " .
reserva 1anomarm
O presente artigo foi publicado na edifiio da lª quinzena de fevereiro
de 1995 do jornal Solidariedade Ibero-americana.
A ofensiva final
O ano de 1990 se caracterizou por urna retomada da campanha
de pressoos contra o Brasil, que andava em "banho maria" devido a urna
firme rea~ao de autoridades brasileiras, particularmente nas Foryas Ar-
madas, contra audaciosas propostas apresentadas por dignitários estran-
geiros. Entre elas, destacaram-se a sugestao de "renúncia a parcelas de
Guatemala e Brasil 227
A campanha de terror
A prática do Sendero de impor a suayolftica e suas idéias pela for~a e
pelo terror nao convence ninguém. E o terror puro: a pessoa simples-
mente aceita ou morre. O que faz o Sendero em suas matan~as típicas
nas comunidades andinas é reunir toda a popula~ao e escolher os su-
postos exploradores do povo, como, por exemplo, o comerciante pau-
pérrimo, mas relativamente um pouco mais próspero do que o resto
dos camponeses da área. Eles sao levados a um suposto julgamento
popular e sao decapitados; primeiro, arrancam-lhes a língua, e vao
matando-os pouco a pouco. Em outros casos, arrancam-lhes as unhas
e queimam-lhes os órgaos genitais. Existem, mesmo, informa~oes de
que os senderistas comem alguns órgaos internos das vítimas ou be-
bem-lhes o próprio sangue, obviamente, rituais já satanicos.
Entre as vítimas, os jovens sao recrutados a for~a, sendo-lhes
dada a alternativa: alistamento ou morte. Eis como age o Sendero
Luminoso.
O importante de tudo isso é que os jovens recrutados, muitos de-
les camponeses, muitos deles analfabetos, que nao sabem realmente
aonde vao, se convertem depois, no processo, em senderistas.
É importante analisar o processo de forma~ao de um quadro
senderista. Ou, em outras palavras, como urna pessoa se converte em
algo que nao é humano - como se gera urna personalidade satanica.
Ao senderista que assassinou o padre, Víctor Acuña, capelao do
Exército em Ayacucho, foi perguntado o que sentía enquanto matava
e ele respondeu: "Urna imensa alegria, porque estou cumprindo as
ordens do partido".
Já se sabe que a capacidade do Sendero de cooptar quadros nas
universidades, por exemplo, entre os estudantes, diminuiu, sobretudo
a partir da queda do Muro de Berlim e da revolta dos estudantes chi-
neses na Pra~a de Tienanmén. Mas o que fazem aos jovens, é dizer-
lhes que eles tem de matar porque vao instaurar urna ordem justa e
trarao a prosperidade ao país: isto é, coloca-se um bom objetivo com
um meio totalmente alienado desta meta. E o que sucede é que urna
vez que comece a matar e que mate urna e outra e outra vez, o quadro
do Sendero esquece este bom objetivo e come~a simplesmente a fun-
cionar com base no medo, o instrumento na morte. Come~a a ter o
medo e a morte como fim de toda a sua atividade. Entao já ternos a
personalidade satanica, ternos o quadro senderista.
Este culto a morte por parte do Sendero Luminoso foi analisado
236 OComplO
O narcoterrorismo
Voltamos ao tema do financiamento do Sendero Luminoso. O Sendero,
embora seja oriundo de urna regiao andina muito pobre, imediata-
mente, se deslocou para zonas onde podia ter recursos financeiros
destinados a sua a9ao posterior. Na verdade, se sobrepusermos hoje
Peru: o Sendero Luminoso em guemi com a lbero-Amlrica 239
conta ainda, em seus escritos, que nestes dois anos "conheci muitos
dos indivíduos que a seu tempo surgiriam como ativistas do Sendero.
Eles incluíam indivíduos que, depois, seriam dirigentes da hierarquía
do Sendero".
Palmer regressou a Ayacucho por vários meses entre 1970 e 1972,
desta vez, para pesquisar a reforma agrária no departamento, para a
sua tese na Universidade Cornell. Na ocasiao o Sendero desempenha-
va servi~os paramédicos, agrícolas e de alfabetiza~ao necessários -
segundo suas palavras - ao campesinato das zonas de Ayacucho em
que ele pesquisava. Nesta época, o Sendero já havia assassinado fun-
cionários do Governo que trabalhavam na área, enquanto Abimael
Guzmán se convertia em diretor de pessoal da Universidade de
Huamanga. Em 1977, Palmer regressou para continuar suas pesquisas
em Ayacucho. Em 1979, passou a Jecionar na Universidade de
Huamanga.
Palmer escreveu que nao teve contato com os "principais" impli-
cados como Sendero, desde que "se tornaram clandestinos". Mas isto
ocorreu por volta de 1978, muito tempo depois de ter ele realizado as
suas pesquisas sobre a "reforma agrária" na zona controlada pelo
Sendero. Em 1980, o Sendero realizava a sua primeira a~ao terrorista
em Chusquiles, Ayacucho, precisamente a zona em que Palmer havia
feito suas pesquisas "agrárias".
Disseca~áo da fraude
Os embustes de McNamara se tornam manifestos <liante de um exame
minimamente atento das cifras or~amentárias dos governos (ver o
apendice sobre a metodología).
As figuras 1 e 2 mostram, do modo mais direto, a natureza das
medidas de McN amara. Para cada país, as rubricas sao as apresenta-
das por McNamara - saúde, educa~ao e defesa- como porcentagem
do PNB. McNamara se vale destas tres rubricas para pintar o quadro,
supostamente horripilante, de que um país como a Argentina gasta
tres vezes mais em defesa (0,9% do PNB) do que gasta em saúde
(0,3% do PNB); e mais do que gasta em educayao (0,8% do PNB).
Mas a rubrica ausente, que nao aparece em parte alguma em sua aná-
lise, é o que se gasta na <lívida, que no caso da Argentina é, no míni-
mo, 1,5% do PNB, ou seja, dois teryos mais do que os gastos em defe-
sa.
A Colombia e o Brasil dedicam a dfvida tres vezes mais do que
gastam em defesa, em porcentagem do PNB, enquanto o Peru e a
Venezuela dedicam a <lívida cerca de quatro vezes mais do que gas-
tam em defesa. A média de toda a Ibero-América revela que a defesa
responde por menos que 1% do PNB, contra mais de 6% do PNB para
o pagamento da dívida. Se estao preocupados com a saúde e educayao
na Ibero-América, rubricas nas quais, efetivamente, gasta-se muito
Os orfamentos militares, novo alvo dos EUA 255
FIGURA 1
Gastos públicos na Argentina, Colombia e
Brasil, por setor, 1990
(%do PIB)
3,0
• Saúde
2,5 O Educa<;áo
~ Defesa
2,0 • Dívida
1,5
1,0
0,5
o
Argentina Colombia Brasil (1989)
FIGURA 2
Gastos públicos no Peru, Venezuela e
Ibero-América, por setor, 1990
(%do PNB)
7 • Saúde
6
D Educac;áo I
~ Defesa
5 • Dívida
o
Perú Venezuela lberoamérica
FIGURA 3
Gastos públicos no México, por setor, 1990
(%do PNB)
16
14
• Saúde
12
0Ed~
10 ~ Defesa
8 • Dfvlda
o
Fontes: Secretarla de Programac¡6o e OrQ&menk> - México; BID.
Os orfamtntos miliJares, novo alvo dos EUA 251
FIGURA 4
México: gastos públicos por setor, 1979-1989
(% do gasto total)
ªº
70
ea
so
ªº
'7Q
4Q so
3Q so
4Q
<o
10 3Q
<o
10
FIGURA 5
Peru: gastos públicos por setor, 1980-1990
(% do gasto total)
so
40 so
3Q 40
20 30
10 <o
10
FIGURA 6
Peru: gastos per caplta em saúde, educac¡áo
e defesa
(d61aree de 1988)
70
60 . / Oefesa
50
••••••
40 ••••
••••
30 EducaQáo /
20 ¿ Saúde
10 ---------..:.--
0 ----...---.-----..---.-----.-----.---...-----,- - - r - -- .
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1,989 1990
início dos anos 80. Na Bolívia, os soldos militares também foram re-
duzidos a metade. A situa<;ao neste país é tao ruim que, segundo o
jornal mexicano Excelsior, de agora em <liante os oficiais de patente
de sargento para cima terao de comprar o próprio uniforme e pagar a
sua comida.
A situa<;ao na Argentina é igualmente ruim, pois a redu<;ao dos
salários fez com que 50% dos oficiais e suboficiais do Exército tives-
sem que arranjar um emprego complementar. Este procedimento vio-
la os regulamentos, mas os comandos tem feíto vista grossa, enquanto
passa a existir um Exército de meio tempo. É excusado dizer que a
disciplina tem caído em propor9ao com a queda dos salários.
A situa<;ao no Brasil também é desastrosa. Em meados de maio
de 1992, a agencia EFE informou que o or<;amento das For<;as Arma-
das está tao baixo que a duras penas se podem alimentar as tropas e
que, como resultado, resolveu-se dar licen<;a aos soldados as segun-
das e sextas-feiras, durante o mes de junho, para nao ter de lhes servir
o rancho. O Jornal do Commercio do Rio de Janeiro confirmou, em
10 de abril de 1992, que já escasseia a comida nos quartéis do Exérci-
FIGURA 7
Brasil e Chile: gastos per caplta em defesa
(dólares de 1968)
100
Chile
80
•• ···········••/••••••••••••••
60
••••••••••••
..
••••• ,
20
O +-~.....-~.....-~.....-~-r-~-.--~-r--~.,--~.,------,
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989
to.
Mas o que tenha talvez causado maior preocupayao no Alto Co-
mando do Exército tenha sido o relatório preparado por oficiais na
ativa que documenta, segundo a edivao de 29 de abril de 1992 da
revista Veja, que, no Rio de Janeiro um em cada quatro miltares da
for~a está sendo for~ado a procurar moradia em favelas. Apenas na
favela de Jacarezinho, onde abundam as drogas e a delinqüencia, vi-
vem cerca de 58 militares de diversas patentes.
FIGURA 8
Argentina e Venezuela: gastos per caplta em
defesa
(dólares de 1988)
100
80
60
I
Venezuela
•••••••••••••
....
••
••.-••
•••• •••
40 ••••• •••
a;
20
0 -4-----.,.----,.----.------.-----.-----,---.,.-----r-----.,---,
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
Fontes: ADLA - Argentina; Ministério da Fazenda - Venezuela; BID.
262 OComp/8
FIGURA 9
Colombla e México: gastos per caplta em
defesa.
(dólares de 1988)
14
12
10
0 -t-~-r-~r---r~-r~--.-~--.--~-.----,r---,-~-.
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
FIGURA 10
Gastos em defesa e em divida: Colombia,
Argentina, Peru e Venezuela, 1990
{milhóes de dólares)
4.000
1.500
1.000
500
0 ...1.-.1.~
Colombia Argentina Perú Venezuela
(1989)
FIGURA 11
Gastos em defesa e em dívida: Brasil, México
e Ibero-América, 1990
(bilhóes de dólares)
60
50
fil Defesa
40
• Dívida
30
20
10
o
Brasil México lberoamérica
(1989) (1989)
FIGURA 12
Peru: gastos militares do governo e do
Sendero Luminoso
(milhóes de dólares)
2.000 1.854
O Gastos em dívida
1.500 • Gastos militares
1.000
720
500
O_.__-
Gobierno (1990) Sendero (1991)
Apendice:
Metodologia empregada
As estatísticas em que este estudo se baseou provem de fontes gover-
namentais dos respectivos países ibero-americanos (bancos centrais,
ministérios da fazenda, etc). Em todos os casos, os dados oficiais sao
usados em unidades correntes das moedas respectivas. Para compará-
los foi necessário converte-los em dólares constantes.
Inicialmente, pretendía-se empregar as taxas de cambio anuais médi-
as publicadas para cada país pelo FML mas os resultados nao foram consi-
derados confiáveis
, em alguns casos e, em outros, continham anomalías
sem explica9ao. E provável que isto se deva a problemas inerentes ao em-
prego de taxas de juros médias em casos em que tenha havido grandes
desvaloriza90es, mudan9as do padrao monetário etc.
266 OComplD
A dimensáo do saque
Como tem se manifestado a política de saque? Ela pode ser explicada
com mais facilidade com o apoio das figuras seguintes.
O Fig. 1 mostra o lado financeiro do processo de saque, isto é, o
saque por meio da <lívida. A barra cinzenta representa a <lívida total
da Ibero-América: em 1980, ela era de 243 bilhoes de dólares. A barra
negra representa o total do pagamento acumulado de juros no decurso
da década de 1980 a 1990: oeste período, a Ibero-América pagou 321
bilhoes de dólares. Ou seja, devíamos 243 bilhoes de dólares e paga-
mos 321 bilhoes de dólares- mais do que devíamos no princípio - e,
270 OCompüi
FIGURA 1
Dívida externa e exporta~áo acumulada de
capitals da Ibero-América
(bilhóes de dólares)
500-r-~~~----------------~~----~~~~~~~~-
450
D Dívida externa total
O Fuga de capiatais acumulada
400 • Pagamento de juros acumulado
350
300
250
200
150
100
50
o --u..o...._.....
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
Alto (} "a/ricani:.af4o" da lbero-Amlrica! 271
FIGURA 2
Dívida externa e exporta~áo acumulada de
capitals do México
(bilhóes de dólares)
80
60
40
20
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
272 OComplD
FIGURA 3
Dívlda externa e exportaQáo acumulada de
capitals da Argentina
(bilhóes de dólares)
20
10
o 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
•
• FIGURA 4
Dívlda externa e pagamento acumulado de
juros da Malásia
(bilhóes de dólares)
15
10
66
...
5
o. . . . . . _.__........_
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989
FIGURA 5
Divida externa e pagamento de juros acumu-
lado da Nlgérla
(bilh6es de dólares}
35-....~~~~~~~~~~~~~~~~~~~--.
32,8
O Dívida externa
• Pagamento de juros acumulado
,.
FIGURA 6
Balanqa comercial da Ibero-América
(bilhOes de dólares}
1 40-r-~~~~~~~~~~~~~~~~~~----.,
120
100
80
60
40
20
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
Alto a "africanil.afiio" da Ibero-América! 275
rica, que vem a ser de 2 'J 8 bilhoes de dólares entre 1980 e 1990. Esse
é o superávit comercial nominal.
Isso nao é tudo. Durante aquele período, manifestou-se outro fa-
tor: a deteriora9ao dos tennos de intercambio comercial para a Ibero-
América e o resto do ''Terceiro Mundo". Isto significa que as na9oes
do "Terceiro Mundo" tiveram que pagar mais pelo que importaram e
receber menos pelo que exportaram. Em outras palavras, se for neces-
sário importar urna tonelada de a90, ela pode ser paga com a exporta-
9ao de urna tonelada de cobre; no ano seguinte, com a deteriora~ao dos
tennos• de intercambio comercial, é necessário exportar duas toneladas
de cobre para importar urna tonelada de a90. E assim por <liante.
Se considerannos o fator dos tennos de intercambio comercial,
calculamos que é preciso acrescentar 181 bilhoes de dólares de saque
físico da Ibero-América desde 1980. Em outras palavras, se os tennos
de intercambio comercial nao tivessem mudado desde 1980 (mesmo
quando, nessa época, nao eram justos, nem representavam pre9os jus-
tos para qualquer das na9oes ibero-americanas), o superávit comercial
acumulado teria sido de 399 bilhoes de dólares.
A essa conta, <levemos acrescentar o montante saído ilegalmente
da regiao de urna forma ou de outra - fuga de capitais, contrabando
etc - cerca de 136 bilhoes de dólares, q que projeta um total de saque
físico de 535 bilhoes de dólares extraídos, sugados da regiao ao longo
da década, mediante tal processo de pilhagem.
Na verdade, se observamos a dimensao do problema e, acima de
tudo, a "lavagem" de cerca de 500 bilhoes de dólares anuais proveni-
entes do narcotráfico, do qual também se beneficiamos bancos, perce-
bemos os mecanismos principais pelos quais o sistema financeiro in-
ternacional se manteve de pé no último decenio: saqueando até o osso
a Ibero-América e o resto do "Terceiro Mundo".
As conseqüencias do saque
Quais sao as conseqüencias desse saque? Qual é o pre~o que a Ibero-
América tem pago? Qual é o pre~o que o mundo paga por nao colocar
em prática o programa de reconstru9ao económica de LaRouche, como
a OperafiiO Juárez?
O Quadro 1 apresenta o saque total da Ibero-América como por-
centagem do Produto Nacional Bruto ou real. Trata-se de um cálculo
276 OComplO
FIGURA 7
Saque físico acumulado da Ibero-América
(bilhóes de dólares)
s o o ~~~~~~~~~~~~~~~~~~--
Saque
fisico 535
total
500
400
Parda por
termos de
300
intercambio
200
Superávit
comercial
100 nominal
o
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
QUADRO 1
Saque total da Ibero-América como
porcentagem do PNB produtivo
(bilhóes de dólares)
Saque como
porcentagem do 12,4% 13,5% 13,0%
PNB produtivo
,.
FIGURA 8
Desemprego real e novos empregos requeridos
na Ibero-América
(milhóes de pessoas)
• Desemprego real
0 Emprego produtivo
200
130
150
220
100
50 89 90
A densidade demográfica
Se quisermos desenvolver a regiao e, acima de tudo, empregar produ-
tivamente toda a for~a de trabalho (salvo por um desemprego residual,
digamos, de uns 6% ), até o ano 2005 ternos de criar 130 milhoos de
novosempregos na Ibero-América. Isto pode e deve ser feito, masé
urna tarefa gigantesca.
Em primeiro lugar, expliquemos o conceito de densidade
Alto a "africanir.afiío" da Ibero-América! 279
FIGURA 9
Densldade demográfica potencial na
Ibero-América: Operac¡áo Juárez vs. FMI
(habitantes/km')
Real 25
18 -------------------;ir
16·~----~-------- 12
1 1 FMI -----
1 1
o-+-...,.-+-,_.,__,._,.......,.._..__.,..-t----,,___,......,.._...__.,..-__ ~
A devasta~áo do Peru
As figuras 12 e 13 dao urna idéia de como ocorreu isso, em um deter-
minado país: o Peru, um dos mais "africanizados" da América.
A Fig. 12 mostra o Produto Nacional Bruto per capita do país,
que caiu durante a época em que o FMI pressionou, entre 1980 e 1985,
e cresceu na época em que o presidente Alan García negou-se a pagar
FIGURA 10
Despovoamento do lmpérlo Romano
(milh6es de habitantes)
FIGURA 11
Despovoamento da Europa pela Peste Negra
(milhóes de habitantes)
80
60
40
20 ,.
0-,...,.1111-r-r-,...,._+-rin""T'""T""T...,...,..~"T""T'"~~,..._-+-r__,.
1320 1340 1360 1380 1400
FIGURA 12
PNB per cáplta no Peru
(dólares de 1988)
800
600
400
200
O--t-~T---,r----ro~-,..~-+-~.,..-~~~----....,..~~
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
FIGURA 13
Consumo calórico per cáplta
3.700
---------------------- 6timo
2.150
mfnlmo
-----------
1.700
1.000
FIGURA 14
Suprlmento de água potável
(litros diários per cápita)
800
700
600
500
400
300
200
167 Mfnlmo aceltável
...
100 88
40
0-15
Washington Bagdá G. B. Espanha Lima Lima Bagdá
1970 1990 1970 1970 1991 bairros 1991
O narcotráfico
Com tudo de ruim que os anos 80 trouxeram, o programa da "Nova
Ordem" anglo-americana para a década de 90 é muito pior. O proble-
ma reside simplesmente, em que Wall Street e a City de Londres se
acham em bancarrota e tem que espremer seus devedores com muita
for~a para se manterem flutuando, pouco importando a destrui~ao
que isto possa causar as na~oes e povos.
Se observarmos o que tem ocorrido nos mercados financeiros e
na banca, recentemente, seis dos vinte bancos mais importantes dos
286 o Compro
FIGURA 15
Reduc;ao deliberada do prec;o da cocaína
nos EUA para ampliar o mercado
600
.......
'
' __
'- ........
Prec¡o
100
FIGURA 16
O narcotráfico mundial, malor que o PNB de
multas nac¡óes
Bilhóes de dólares
o
PNB Drogas
1111
Petróleo PNB
Alernanha Brasil
Ocidental
QUAORO 2
Nível de auto-suficiencia da Ibero-América em 1985
(Porcentagens)
Produtos básicos:
Cimento .........................................100
Fibras sintéticas.............................85
Manufaturas:
Texteis .........................................125
MAPA 1
O 'elxo produtlvo• Ibero-americano
292 OCompló
Superficie Popula<;áo
Eixo produtivo
~
Restante da Ibero-América r
~
f.
Emprego em manufaturas Produ~o manufatureira Energia elétrica
l
t
::
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~
~
f·-
N
\O
w
294 O CompllJ
FIGURA 18
Densidades relativas do 'eixo produtivo', 1990
• Resto da Ibero-América
El Elxo Produtivo
200 • Espanha
150
100
50
o
Popula~o Emprego em Manufaturas Eletricidade
(hab/km2) manufaturas (US$ 1.000/km2) (Mwh/km2)
(hab/ 10 km2)
e onde pode ser obtido, se se os países que o exportam para n6s, boje,
deixarem de faze-lo. Aqui, a chave é conseguir a integra~ao
interamericana, que é o que pode assegurar a auto-suficiéncia econ6-
mica para a produ~ao de, mais ou menos 80% dos bens básicos neces-
sários. Por exemplo, o Brasil necessita de petróleo, mas a Venezuela e
o México o tem; o México necessita de alimentos, mas a Argentina e
o Brasil podem exportar alimentos para o México. Em contas resumi-
das, se o continente fonnar um mercado comum, pode conseguir auto-
suficiencia em condi~óes de economía de guerra, pode resistir ls re-
presálias que seguramente viriam no caso de declara~ao de urna mo-
ratória a dívida.
FIGURA 1
Chile: dívida externa e pagamento acumulado
de juros, 1970-1990
(bllhóes de dólares)
22
~ Divida externa
20 ~
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r-
• Pagamento acumulado de juros " ~~
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70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90
FIGURA 2
Chile: cresclmento de emprego por setor,
1970-1989
(milhares de empregados)
2.100
1.800
Servf~oa "-
1.500
1.200
900
600
300
70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89
A) Política creditícia
1) Será criado um Banco da Na~ao, de propriedade do Estado,
cuja missao principal será a gera~ao de crédito em categorías apropri-
adas de investimentos produtivos na agricultura, indústria e infra-es-
trutura.
2) As taxas de juros para tais investimentos produtivos nao ultra-
passarao 4% anuais. Serao aplicadas leis contra a usura.
B) Política monetária
1) Será eliminado o uso generalizado de moedas estrangeiras na
economía nacional e reprimido o comércio informal de divisas e mer-
cadorias.
2) Será reorganizado o sistema monetário nacional sobre a base
das reservas de ouro e o valor da moeda deve ser conjugado a urna
"cesta" de m.ercadorias básicas.
3) Será retirada de circul a~ao a moeda corrente, substituída por
um novo papel-moeda, com documenta~ao prévia da origem legítima
de bens adquiridos nesta referida moeda corrente.
300 OComp/8
,
4) E necessário um controle rigoroso do cambio para refrear a
especula~ao e a fuga de capitais e defender a integridade da moeda
nacional.
D) Política internacional
1) Reorganizar a <lívida externa da Ibero-América mediante a
negocia~ao coletiva.
a) Declarar urna moratória adívida existente.
b) Emitir novos bonus interamericanos a 2% de juros anuais e a
longo prazo.
c) Enterrar o FMI e o Banco Mundial.
2) Formar o Mercado Comum Ibero-Americano.
a) Estabelecer urna Uniao Aduaneira para estimular o comércio
intra-americano;
b) criar um Banco de Desenvolvimento Ibero-americano;
c) criar o "peso de ouro", com nova paridade com rela~ao ao
dólar, defendido pelo controle do cambio;
d) restabelecer o valor real das exporta~oes ibero-americanas.
3) Lan~ar grandes projetos de desenvolvimento economico na
Ibero-América.
a) Integrar fisicamente o continente com projetos de infra-estru-
tura;
b) enfatizar a tecnología industrial avan~ada, de modo especial a
nuclear e a de laser;
c) modernizar a agricultura.
IV
Democracia?
..
16 Lyndon LaRouche: o
papel positivo das
For~as Armadas
Nova York, e tem apoio da lgreja Anglicana. E ternos o culto de Gaia, a mae
de Satanás, por parte de membros da família real britanica. Bastante coeren-
cia. A mae de Satanás anda solta pelo mundo, embora Satanás tenha morrido
velho, mas sua mae continua andando por aí e ainda procura procriar.
• O perigo, portanto, é que na derrubada possa voltar algo que nao
seja o velho comunismo, mas urna amea~a muito maior.
Menchú e o fundamentalismo
RQ: Voltemos aquestao de Rigoberta Menchú. Recordávamos que, em
1982, o Sr. escreveu um trabalho para advertir o presidente do México,
José López Portillo, e ao PRI, que seu calcanhar de Aquiles era o
fundamentalismo asteca. Dez anos depois, Rigoberta Menchú, a quem
podemos chamar fundamentalista maia, recebe o ~mio Nobel da Paz, o
que representa um tremendo apoio internacional asua opera~ao de odio.
Como acha o Sr. que os patriotas hispano-americanos devam en-
frentar esse problema, que é agora muito maior que há dez anos, quando
o Sr. se referiu ao fundamentalismo asteca?
LaRouche: lsso é comunismo. O fundamentalismo asteca nao é co-
munismo no sentido da variedade de Karl Marx, mas no sentido do
comunismo de sua mae ou o comunismo da mae de Satanás.
Observemos a curva de popula~ao da civiliza~ao, a curva do cresci-
mento populacional da ra~a humana. Nós a percorremos por milhares e
milhares de anos, e de repente, há uns 500 anos, ocorreu um grande cres-
cimento hiperbólico da popula~ao mundial, nao apenas na Europa, mas
em todo o mundo, como resultado de algo ocorrido na Europa. O que
ocorreu na Europa foi o que chamamos Renascimento Dourado, cujo
centro foi o Concílio de Aoren~a, o mesmo Concílio de Aoren~a de onde
saiu o projeto da descoberta do Novo Mundo por Colombo.
Qual era a situa~ao dos povos da América antes da Descoberta?
A ruína da civiliza~ao. Qual é o símbolo desta ruína, o que exprime
esta ruína, a degenera~ao da cultura nas Américas, que teve lugar ao
correr do tempo, antes de Colombo chegar?
Os astecas.
Nao existe aspecto da cultura nazista tao perverso como os astecas.
Os astecas encamam tudo o que destruiu, por dentro, os índios das Amé-·
ricas e os conduziu abestialidade. Existe algo mais perverso do que levar
18.000 pobres prisioneiros ao Templo Maior, colocá-los em fila nos de-
graus e arrancar-lhes o cora~ao noma orgía de produ~ao em série de dois
306 OComplO
essencial é lutar pelo que voce está lutando e nao apenas lutar contra
as guerrilhas.
O problema é que chegam esses peritos idiotas dos Estados Uni-
dos e de outros Jugares, que talvez tenham certa capacidade técnica e
militar, e dizem: "Bis como matar guerrilheiros; eis como se livrar
deles". Mas este nao é o objetivo.
Há um caso interessante na Malásia, onde os britanicos termina-
ram fazendo algo positivo, em certo sentido. O que eles fizeram real-
mente, foi isolar na popula9ao os guerrilheiros comunistas chineses e
as pessoas de origem chinesa e, na prática ajudar a popula9ao a con-
seguir algum nível de desenvolvimento na regiao.
Até boje, ainda existem elementos do famoso movimento guerri-
lheiro comunista malaio dos final dos anos 40, ligado aChina. Mas sao
resíduos desprezíveis, que sequer sao observado. Os que restam vivem
na zona fronteiri~a entre a Tailandia e a Malásia. Estao velhos e morren-
do, sao veteranos vetustos aos quais ninguém dá maior aten~ao.
Na guerra de guerrilhas o objetivo é estabelecer as metas políticas
do movimento pelo qua] se Juta, a fim de isolar e destruir a capacidade
política do ininúgo. Porque quando ele é isolado, toma-se fácil varre-lo.
Vejamos o caso do Peru. Nao quero pecar por otimismo sobre o
que ocorreu no Peru mas é óbvio que se conseguiu muito.
Urna vez que o governo seja capaz de isolar os guerrilhos do
restante da popula9ao dominada por eles e de proteger o povo, os
guerrilhos ficarao a vista como urna for~a relativamente minúscula.
Entao, veremos que eles nao sao os que falam quéchua, mas os que
falam frances em Ayacucho; e coisas do genero que sao relativamen-
te fáceis - nao propriamente fáceis, mais factíveis - de se Jidar. A
essencia da guerra irregular é a política de constru9ao nacional e as
medidas de seguran9a para ajudar o processo de constru9ao nacional.
Por esse caminho se ganha a guerra.
Mas se alguém enfia na cabe9a a idéia das "técnicas para ganhar
os cora9oes e as mentes" das pessoas contra as guerrilhas, ao estilo do
que se fez no Vietna, se se empreende urna dessas loucuras, se sai
perdendo. Nao importa quao vitorioso se acredite ser militarmente.
A Colombia, por exemplo, me preocupa por esse motivo. Os co-
munistas parecem estar em retirada diante da pressao militar. Mas e se
os comunistas estiverem deixando que algumas de suas for~as se reti-
rem e se achem emboscados e armados, prontos a sair e atacar os
flancos das for~as militares que os andam ca9ando nos cerrados?
O problema da Colombia é que nao se aplicam as medidas econ6mi-
Lyndon lARouche: o papel positivo das Forfas Armadas 311
RQ: No tocante a Colombia, está ern marcha urna grande jogada, pro-
vavelmente pelos recentes exitos militares contra as guerrilhas, para
trazer como mediadoras as Nayoes Unidas. Pala-se muito na
"salvadoriza9ao" da Colombia. O que o Sr. acha disto?
LaRouche: Creio que antes de pedir as Na9oes Unidas que venham
ajudar a lidar comos seus problemas, o govemo colombiano deveria,
talvez, trazer um representante do governo da Bósnia ou, talvez, um
par de vítimas dos acampamentos de viola~oes dos sérvios para que
digam o que acham da ajuda das Na~oes Unidas em situa9ao seme-
lhante.
RQ: Em certo sentido o Sr. acaba de responder a isto, mas creio que
seria útil para muitos de nossos leitores. Qual é, entao, a sustenta9ao
da legitimidade de um govemo?
LaRouche: Legitimidade? Depende do modo como definamos a lei.
Mas a História nos definiu a lei no sentido de que a civiliza9ao euro-
péia demonstrou que certos princípios de governo sao benéficos para
a Humanidade e sao congruentes com a lei natural, enquanto outros
nao o sao. E os conflitos internos a civiliza9ao européia refor9aram
precisamente esta distin9ao.
A legitimidade de um govemo provém da sua justiya, isto é, de
certo tra90 de concordancia com a leí natural. Por exemplo, o princí-
pio da língua, de que se iremos ter a participa9ao do indivíduo, em
primeiro lugar, come9amos com o princípio da imago Dei. Um ser
humano é urna imagem de Deus, como enfatizou Fílon de Alexandria,
em virtude desta qualidade do indivíduo que reflete imperfeitamente
o Criador
, como criador: a faculdade criativa da mente.
E manifesto que somente o hornero possui tal qualidade entre to-
das as criaturas vivas deste mundo, e é manifesto que é urna qualidade
do indivíduo humano como tal, e nao de algum grupo particular.
Desse modo, a Humanídade se baseia no princípio da imago Dei.
A imago Dei representa os processos criativos, as faculdades criati-
vas. A imago Dei representa a geractao de indivíduos que detenham
tais faculdades criativas, o que implica em educa9ao. A imago Dei
obriga a sociedade a tratar a família de forma conseqüente. A imagq
Dei nos exige o provimento da oportunidade de que as pessoas se
empreguem em atividades que sejam congruentes com a imago Dei.
Para que tenhamos esse tipo de participayao, necessitamos de urna
316 OComp/8
fonna culta de língua, que seja de uso comum entre o povo que participa
no esfor90 conjunto de se prover e prover aposteridade com os direitos e
obriga~oes naturais que integram a imago Dei. Isto constituí urna na~ao.
A legitimidade da na9ao é a sua consagra9ao a esse propósito.
Ela estabelece institui<;oes que sao denominadas constitucionais, con-
cebidas para responder a este compromisso. Esta é a medida da na-
9ao. Ela deve ser soberana, porque tem que tomar decisoes. Nao pode
ocorrer que qualquer um venha "peruar" e diga; "Nao, devem levar
isto em conta". Nao, a na9ao é responsável pelo bem-estar do seu
povo. E" urna responsabilidade soberana. Nao é apenas um direito so-
berano; é urna responsabilidade soberana. E isto é legitimidade.
Falamos de países como Brasil, Argentina,Venezuela, Colómbia
ou Peru. Sabemos que seus povos, digamos, no Peru ou México, fo-
ram e continuam sendo, em grande parte, índios que se levantaram
por meio de Jutas que lhes deram a fonna de Estado que corresponde
a idéia de imago Dei, o indivíduo. Todos os indivíduos sao constituí-
dos segundo a imago Dei. Esta fonna de Estado - dedicada a promo-
ver o bem-estar da fatru1ia, a proteger a saúde do indivíduo na família,
a educar o indivíduo, a dar a todas as pessoas a oportunidade de de-
sempenhar um trabalho na vida, o qual é congruente com o fato de ser
imago Dei - demonstrou sua a legitimidade.
Esses Estados demonstraram, na prática, a sua legitimidade pelo
grau em que, mesmo quando eles violam suas obriga~oes, reconhe-
cem que a obriga9ao foi violada ou desatendida. E" esta adesao Aobri-
ga~ao do Estado mediante a participa9ao em urna língua comum com
o povo, que está de acordo em viver em comunidade, para este propó-
sito, para compartilhar tais beneficios e tais responsabilidades: isto é
legitimidade.
E quando vem alguém trazendo a usura, com o argumento de que "a
gente tem direito a ela" ou que "a usura também tem seus direitos", elimi-
nemos a usura e, com isto, eliminaremos o problema. Esta é a questao.
Mas nao falta o idiota que vem e diz: "Nao, vocés nao podem
fazer isso porque nem todo mundo está de acordo coma imago Dei".
E acrescenta: "O que aconteceu com a democracia? Apliquemos a
idéia da democracia".
"Que que res dizer com democracia?"
"Bem, cada qual tem sua opiniao".
"Mas é preciso distinguir o correto do errado"
\"lsso é questao de opinioes".
Mas, urna vez que se nega a distin~ao entre o correto e o errado,
•
Lynáon LaRouche: o papel positivo das Forfas Armadas 317
urna vez que se afinna que tudo é urna questao de opiniao, urna ques-
tao de democracia, se está negando a própria idéia de legitimidade,
porque se nega a idéia do certo e do errado.
Assim sendo, negar as distin~oes entre o certo e o errado implica
em negar a legitimidade. E um Estado que aplica a idéia de burocra-
cia oeste sentido, como substituto da legitimidade, é um Estado que
perdeu a legitimidade. E podem desempoeirar algum bom Mencio ou
outro seguidor de Confúcio, que este lhes dará, do ponto de vista
chines, um argumento em sentido semelhante.
RQ: O Sr. tem urna mensagern final para nossos leitores da Ibero-
América?
LaRouche: Sim. Ern certo sentido, o que vimos dizendo.
Travarnos urna Juta para tentar salvar essa parte do mundo da
inten9ao de destruí-la, por parte das fro9as que discutimos. Podería-
mos ter ganho rnuito mais. Se houvéssemos ganho em 1982, se os
governos do Brasil e Argentina tivessem sustentado sua promessa de
alian9a com José López Portillo, teríamos ganho essa' luta. Isto é algo
que nao se pode esquecer.
Estou acostumado a vitórias desse tipo. Estivemos muito perto de
ganhar esta, só que os governos,, do Brasil e Argentina capitularam e
abandonaram López Portillo. E porisso que todos esses países tem
sofrido, desde entao. Teríamos ganho! Nós o tínhamos nas maos! Mas,
por sua covardia, sua vacila9ao e as bajula~oes de Kissinger, puseram
tudo a perder.
Quase ganharnos com a Iniciativa de Defesa Estratégica. E a ganha-
mos, em um certo sentido. Nao gánhamos o programa, mas ganhamos o
efeito que deitou por terra o Muro de Berlim, que derrubou o sistema
soviético como resultado de que Reagan a tenha adotado. Isto foi o bas-
tante para colocar ern marcha urna série de acontecimentos.
Podemos voltar a ganhar.
Esse é o ensinarnento a ser aprendido na Ibero-América, da li~ao
de 1982. Pudemos contemplar o horror do ocorrido desde 1982 como
fruto da covardia do governo do Brasil e da junta argentina de entao,
que abandonaram López Portillo. Nós tínhamos a situafii.O nas mii.os;
teríamos ganho, nao fosse pela covardia deles.
Urna vez que esse ensinarnento seja entendido, saberemos o que
fazer nesta parte do hemisfério. lsto é tudo de que necessitamos saber
sobre o assunto. Corrijam o erro e na próxima vez nao sejam covar-
des. Nao atrai~oem a Juta depois de se terem juntado a ela; isto é pior
que ser covarde.
17 Lyndon LaRouche: o
que é a democracia?
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V
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Falatn os patriotas
19 Coronel Seineldín:
devo obediencia aos
valores pem1anentes
da Na~áo.
Atacam as institui~óes
'
Aeroparque. A a9ao se antepoe urna rea9ao.
Como bra90 armado da pátria, de imediato, se espera que conso-
lide o primeiro objetivo e se vá ao segundo de forma imediata, que é
como bra90 armado da pátria e elimine as hipóteses de conflito.
Que produz esta a9ao das hipóteses de conflito? Simplesmente, a
desmoraliza9ao e a deteriora9ao do material e pessoal das For9as Ar-
madas e, acima de tudo, a desmoraliza9ao. E eu a pude comprovar
quando cheguei depois de quatro anos fora cumprindo urna missao na
América Central. Surpreendeu-me e me deu pena; me aterrou ver o
estado moral e material, além de ver o estado dos comandos, que ver-
dadeiramente me chamou a aten9ao.
Quando se realizava esta segunda etapa, de imediato se lan~a ao
objetivo final, que é remover as institui9oes, salvaguarda das mais
altos interesses da na9ao, para enfraquece-la.
Este debilitamento, sem dúvida, produziu urna ruptura na cadeia
de comandos, que é quando o subalterno perde o respeito pelo superi-
or, quando já nao tem confian9a nele, como um filho tem em um pai.
Aí se produz a ruptura da cadeia de comando. E se arriscava a
entrar na anarquia, pelas circunstancias de que os tenentes-coronéis
que haviam realizado as opera9oes da Semana Santa, Monte Caseros
e Villa Martelli estavam detidos. Quer dizer, praticamente esta for9a,
esta for9a espiritual, como diria o senhor capitao Breide, este senti-
mento vai as maos de capitaes, sargentos e majores e havia apenas um
tenente-coronel encarregado, que é o tenente-coronel Martínez Zubiria,
lamentavelmente falecido, que a partir deste momento come9a a me
visitar no Panamá e me exprime, em várias oportunidades, que con-
correu o tenente-coronel Martínez Zubiria. Trabalhando em todos es-
tes temas, depois de urna atividade relativa a todos estes problemas
que tem a ver com os pronunciamentos, ele me convidou a encarre-
gar-me de evitar a anarquía. Muito bem, eu lhe digo que vou colabo-
rar, mas como fator de uniao, porque até o dia de hoje nao guardo ódio
e tampouco difundo ódio junto aos que estao sob minhas ordens; por-
que os que tem razao nao podem odiar. Como Vossas Excelencias
puderam comprovar ao longo de tantos depoimentos, disse a ele que
iria como fator de uniao. Come90, a partir <leste momento a comuni-
car-me com urna série de chefes, entre os quais o general Cáceres -
que descanse em paz - para realizar o ato, acumular o comando em
um chefe e imediatamente entregá-lo a um general.
Venho para efetuar pactos. E realizo os pactos que os senhores
juízes tiveram a oportunidade de ouvir. Dentro <leste pacto, estabele-
Seineldín: os valores pennanentes da Naflio 335
San Martín, quando vinha a estas terras, impedía o projeto ingles de frag-
• mentar os vice-reinados do Rio da Prata, nos vice-reinados espanhóis,
aspecto que nao pOde concretizar. Logo o general-de-brigada Juan Ma-
nuel de Rosas tentou cuidar do que restava do vice-reinado do Rio da
Prata na relembrada Confedera9ao Argentina; nao o póde fazer e se fo-
ram fragmentando e perdendo províncias argentinas. Hoje prossegue esta
fragmenta9ao, até tres dias atrás se voltou a entregar território.
As privatiza9oes de todas as nossas áreas energéticas e, por fim,
nossos habitantes que ficarao indefesos.
Qual é a finalidade de tudo isso? Entrar urgentemente na "Nova
Ordem". "Nova Ordem" que, para entrar nela, ternos de entrar iner-
mes, com as maos na nuca, andando de joelhos e sem dúvida alguma
seremos pobres, dependentes e excluídos.
lsto, senhor presidente, como segundo ponto. O sistema de de-
senvolvimento e produ9ao, devemos esquece-lo para sempre. Veio urna
nova ordem, que é mais ou menos, em poucas palavras, o explicado ...
Digamos, entao, que no período do Processo se manifestam, na Es-
cola de Infantaria, ante a ruptura da ordem constitucional; gestam-se de-
pois das Malvinas, agravam-se durante o govemo de Alfonsín, ao ver
agredida sua institui9ao, e se consolidam durante o govemo de Menem.
Posso exprimir ao senhor presidente que, apesar deste revés táti-
co - que agrade90 ter sido assim, porque me oponho totalmente a um
derramamento de sangue entre irmaos - agrade90 que tenha sido e
que possamos estar hoje neste augusto lugar. Isto está consolidado.
Cattani fez urna pergunta ao tenente-coronel Aldo Rico, nao sabia nem
tinha conhecimento. Nada tive a ver com Monte Caseros nem como
Aeroparque. Mas, estando no Panamá, produzem-se sobre a minha
pessoa duas a9oes: urna proveniente do governo, do ministério de
Defesa e do Exército. Juntam-se primeiro dois políticos importantes a
me convencerem de que devia apoiar o governo de Alfonsín; que eu era
um futuro general, que tinha todas as condi90es para ser um futuro gene-
ral. Conhecedor destes problemas, muito modestamente lhes expliquei
que eu era da na9ao e nao do partido e que devia contar a na~ao.
A partir do momento em que eles se foram com esta negativa,
teve come~o urna campanha de desprestígio contra a minha pessoa.
Recordarao, talvez, um cassete, um comunicado, de que eu havia su-
postamente juntado ao México e tinha feito um cassete, onde nova-
mente fui tratado como delinqüente, porque me pediram, até o tom de
minha voz, para ver se eu tinha ido. Já nem confiavam em minha
palavra de que nao tinha ido. Nem imaginava eu estar sentado dentro
de um quarto com um terrorista, fazendo urna reportagem.
Posterionnente, as For9as de Defesa Nacionais detectam um se-
nhor travando contato com terroristas exilados no Panamá. Como eu
estava incorporado dentro das for9as militares do Panamá e compro-
vamos que ele era um agente da CIA, comprovando, as For9as de
Defesa panamenhas, que se estava preparando um atentado contra
minha pessoa. Quer dizer, que seguiram perfeitamente o que se marca
para eliminar urna pessoa: primeiro, suborná-la, segundo, desprestigiá-
Ja e terceiro, eliminá-la. Quando nao me puderam eliminar, me nego-
ciaram, e se me pennite, Sua Excelencia, urna leitura rápida. lsto me
mandou o Ministério de Rela~oes Exteriores do Panamá. Mandado
pelo embaixador Kam, representante pennanente nas Na~Oes Unidas,
que diz o seguinte: "O vice-ministro de Rela~oes Exteriores da Ar-
gentina, Sr. Raúl Aleonada, que também foi vice-ministro de Defesa,
solicitou-me transmitir-Jhes o interesse do governo da Argentina de
que as For~as de Defesa do Panamá ~am a Argentina que o coronel
Seineldín permane~a no Panamá um ano mais, como instrutor".
Quer dizer, além de dois anos como adido militar, dois anos como
assessor militar e me deixavam um ano mais para tirar-me da Argen-
tina. Negociavam-me como mercadoria. "Indica-me o vice-ministro
Aleonada que o ministro de Defesa e o ministro de Rela~oes Exterio-
res de seu país estao a par de tais gestoes".
E, por outro lado, juntavam-se chefes, oficiais, suboficiais, por
último o tenente-coronel Martínez Uriba, pedindo-me por favor que
Seineldfn: os valores permanentes da Na#Jo 345
Os pronunciamentos
Em que me baseei, senhores jufzes, para produzir o levante? Existem
normas e regras. Dizem as normas que antes de executar um pronun-
ciamento é preciso relacionar todas as medidas visando resolvé-lo por
meios pacíficos. Semana Santa, Monte Caseros, Vil1a Martel1i,
Aeroparque. Quando já se decide pelo pronunciamento, deve-se ter
em conta o seguinte, e eu segui estes aspectos: que esteja a cargo de
autoridade superior e competente: os dois coronéis em um primeiro
termo e 26 coronéis agora, dos quais ficaram quatro: um que se imo-
lou em nome da pátria e dois que me acompanham. Segundo, com-
provar se as autoridades a destituir se mantem nos mesmos erros, sem
possibilidade de melhora. Em terceiro termo, montar urna operaftaO
rápida e que prometa adesao. Quarto, que os danos a causar nao sejam
superiores aos que realiza a autoridade a destituir. E quinto, que ape-
sar de se realizar o levante devem-se tomar todas as medidas para
chegar a conversaftao e resolve-lo pacíficamente.
Se os senhores se lembram, na Unidade de lnfantaria Patricios, o
coronel Baraldini deixou um telefone de onde os oficiais se comunica-
vam com seus chefes. O coronel Romero Mundani tomou as medidas
para conversar com o presidente, com o comandante-em-chefe; o capitao
do Estado-Maior buscava imediatamente a conversaftao. Quer dizer, eles
seguiram as normas de um pronunciamento militar. Eu me baseei nisto.
Esgotamos as possibilidades pacíficas. Eu me pus a frente como chefe
superior e convoquei outros chefes superiores, porque muitos ficaram
pelo caminho. Montamos urna operaftao sem derramamento de sangue:
montada pessoalmente por mim. Mas sabíamos que se nao ocorreste um
ato sangrento, boje nao estaríamos aqui, com muita modéstia, senhor pre-
sidente. Os resultados, as destruí~ praticamente do repressor destruf-
ram mais elementos do que as for~as sob minhas ordens.
Ou seja, nós tomamos todas as medidas, mas a missao deve ser
cumprida. Nao podemos ficar no meio. Sao as instituiftOeS da pátria as
que perigam. Portanto, senhor presidente, afirmo que todos os índi-
ces, ao longo dos quatro pronunciamentos, estao em aumento. Se nao
se tomam as medidas para solucionar as causas e nao os efeitos, pode-
346 OCompw
Quanto ao Exército
,.
O Exército é a for~a mais tradicional, é a for~a que fundou a na9ao. E
urna mensagem para os comandos militares, a de que é hora de assu-
mirem a responsabilidade pelo Exército, dando-lhe um espírito guer-
reiro, orientado ao dever de ser sanmartiniano e enquadrá-lo na mis-
sao que os regulamentos definem: institui~ao fundamental da pátria,
bra~o annado da na~ao e salvaguarda dos mais elevados interesses da
pátria, a maneira única de manter a disciplina. Querer manter urna
disciplina na destrui~ao que vimos e veremos é algo que nao poderá
acontecer. Além disto, estamos em presen~a da terceira fase da guerra
moderna, na guerra revolucionária, que é urna guerra ~remenda, que
tive a oportunidade de ver na América Central e que nt ·essitarao das
For~as Annadas em condi~oes.
Porisso, é hora de se deixarem de lado todos os interesses subal-
ternos e pequenos, de assumir a responsabilidade dada pelo espírito
de grandeza e com honra militar, para alcan9ar a ordem e a hannonia
militar.
,. Tentei faze-lo com destreza e até aqui cheguei sem o conseguir.
E importante que a For~a Militar se ordene, porque, assim, ordenará
todo o resto dos escaloes. A nao ser assim, o resto dos níveis perderá
o rumo,. e se produzirá urna desarticula9ao total.
E hora de medita~ao e de reflexao.
Por último, aos senhores honrados juízes de minha pátria:
A justi~a é a base da sociedade e o Poder Judiciário o guardiao da
Constitui~ao Nacional. A Constitui9ao Nacional detennina prover o
bem comum, prover a defesa comum e é a for9a que sempre moveu os
meus atos. Com base nisto, lutei tenazmente, tentando obter do poder
militar e do poder político urna solu9ao para o problema, sem o ter
conseguido. Somente recebi deles zombarias, desprezo, menosprezo
e quebra de palavra de honra. Quer dizer, toda urna violencia, e nao
me restou outro caminho a nao ser resolver e ordenar o 3 de dezem-
bro, em urna violencia física mas regulada, contida, conduzida.
Se nao o tiveste feito, se nao tiveste feito o 3 de dezembro, eu
teria sido um traidor da pátria, ao ver demolir-se a minha institui~ao e
nada fazer. Além disto, com todo o respeito que me merece a Honrada
camara, coro minha morte seria julgado um traidor perante o Tribunal
de Deus, lugar de que, além de respeitá-lo, sou temente
Quero agradecer a todos os senhores advogados que formaram a
minha equipe para defender esta causa. De modo especial ao doutor
Seinel.dü1: os valores permanentes da. Nafao 351
EIR: O Sr. viveu no Panamá por quatro anos. Qual era a sua missao
lá? Qual é a sua opiniao é a sua sobre o caso Noriega? Que pensada
invasao estadunidense no Panamá?
Seinel.dfn: a "Nova Ordsem" 355
EIR: Nove anos mais tarde, qual é a sua avalia9ao da Guerra das
Malvinas?
MAS: Sobre as Malvinas, a avalia9ao que fa90 hojeé que foi acerta-
da a Resolu9ao de Recupera9ao das Ilhas. O 2 de abril de 1983, além
do revés militar, foi quando golpeamos o centro nevrálgico de onde
provem todas as manobras imperialistas sobre o mundo: Gra-Bretanha.
356 OComplO
l. Introdu~áo
A. Finalidade
Desenvolver sinteticamente as causas e efeitos da nossa conceNaO
global, que afeta fundamentalmente as na~oos subdesenvolvidas ou em
vías de desenvolvimento, a fim de facilitar sua compreensao e alertar
sobre as conseqüencias nefastas da chamada "Nova Ordem Mundial",
que tinha sido "profetizada" de algum modo por obras consideradas, em
seu tempo, como "fi~ao científica", como sao O Senhor do Mundo, de
Robert Benson e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley.
B. Conceltos gerais.
Embora o mundo experimente, durante a sua evolu~ao, mudan~as
constantes, parece que as mais notórias se produzem nos finais ou come-
~s de séculos. Como exemplo citaremos as tres grandes revolu~0es que
alteraram seriamente a ordem mundial existente, precipitando feítos his-
tóricos transcendentais, que foram modificando o desenvolvimento das
na~s na di~ao de urna nova conceNªº mundialista, na qual a intera~ao
e a interdependencia constituem sua característica principal.
Bias foram:
l. A Revolu~ao Religiosa (1517), que alterou a ordem crista.
2. A Revolu~ao Francesa (1789), que alterou a ordem política.
3., A Revolu~ao Russa (1917) que afetou a ordem econé>mico-social.
E muito interessante observar algumas características originais
358 OCompló
l. For~a espiritual
a) Objetivo geral
A a9ao que se executa sob este valor intentará consolidar a
"mudan9a cultural" Uá iniciada) com o objetivo de destruir a
concep9ao crista de que o homern foi criado a imagern e serne-
lhan9a de Deus e, portanto, capaz de urna realiza9ao integral,
para substituí-la pelas cren9as pagas da "Nova Era", que con-
templam o homem ern extremos opostos asua própria essencia
humana, isto é, como " homem-deus", "super-hornern", etc, ou
ao nível dos anirnais. Esta a9ao coroa-se ao eliminar a moral
católica para substituí-la por urna "ética civil e democrática",
totalmente afastada do bem supremo, com regras próprias que
favorecem obviamente, no material, os consórcios dos poderes
internacionais.
b) Componentes
1. Religiao
Ataque sistemático a Igreja Católica, com a finalidade de
obter seu enfraquecimento perante a popula9ao, usando para
isto a introdu9ao de:
a) Outras religioes.
360 O Compl/J
2. Cultura
a) Esvaziamento de conceitos históricos, tradi~oes e costu-
mes, trocados por pautas mundialistas (manipula~ao há-
bil dos meios de comunica~ao social), contribuindo para
modificar o sentimento nacional e a conseqüente derru-
bada do espírito nacional.
b) Impulso ao "indigenismo", destocando o criollo, autenti-
ca ra~a ibero-americana e síntese da uniao do índio com
o europeu, visando a promover os movimentos guerri-
lheiros (exemplo: Sendero Luminoso), possibilidade de
ocupar zonas ricas e conservá-las até que os consórcios
do poder internacional o disponham, criar "pequenos Es-
tados" dentro dos Estados nacionais, etc.
3. Tradi~ao
Finaliza~aodo conceito das soberanías nacionais, substituin-
do-o pela concep~ao unimundista dos "direitos universais".
Desincentivo das práticas folclóricas (costumes e música).
4. Educa~ao
Conformar urna educa~ao baseada em:
a) Nega~ao da presen~a de Deus.
b) Substitui~ao dos conceitos tradicionais de amor a ter-
ra e ana~ao.
c) Diminui~ao das escolas públicas, com a finalidade de
Coronel Seine/.din: dntese do projeto mundialista da "Nova Ordem" 361
5. Estamentos sociais
a) A concentra~ao das riquezas em um setor social: em-
presários, financistas e dire~ao política (incluídos na
"Nova Ordem"), que gerará em um grande setor da po-
pula~ao condi~oes extremas de pobreza ("excluídos" da
"nova ordem") fazendo desaparecer a classe média.
b) Elimina~ao de organiza~oes sociais e culturais inter-
mediárias (agremia~oes, sindicatos, pequenas e médias
empresas etc) provocando a ausencia da prática da soli-
dariedade social.
c) A família, concebida como a célula básica da socieda-
de crista, sofrerá grande deteriora~ao. Os "indivíduos"
substituirao os "seres humanos" (concep~ao egoísta das
novas "rela~oes sociais").
6. Estados psicológicos.
a) Estabelecer um estado de confusao e desconcerto, ne-
cessário para as imposi~oes políticas económicas da
"nova ordem internacional".
b) Inclina~oes ao consumismo e ruptura com as obriga-
~oes morais, inerentes a própria dignidade humana.
e) Ridiculariza~ao, isolamento e elimina~ao de todos
aquel es que se oponham, chamando-os de "anacrónicos",
"traumatizados", "reacionários" etc. Avalia~ao espiritu-
al da Ibero-América quanto a atual inser~ao na "nova
ordem internacional": 50 por cento.
2. For~ política
a) Objetivo geral
Subordinar as na~oes ibero-americanas a "nova ordem interna-
cional", funcionando estas como Estados dependentes de um
362 OCompw
3. For~ economica
a) Objetivo geral
Eliminar a soberanía economica das nav0es e torná-las de-
pendentes dos núcleos do poder económico do mundo, esta-
belecendo urna nova divisao internacional do trabalho e de
recursos.
b) Componentes
1) Finan~as
a) Dolariza~ao da economía.
b) lntegrac;ao dos mercados de valores aos do circuito in-
ternacional.
c) Eliminac;ao dos bancos estatais, privatizando todo o sis-
tema financeiro. (As estruturas empresariais consoli-
darao os monopólios, que, inseridos no setor financei-
ro alcan~arao um único poder economico-financeiro).
d) Reforma da carta organica dos bancos centrais e modi-
fica~ao de suas estruturas, permitindo o domínio dos
privados. (lsto facilitará a afluencia da capitais de ori-
gem duvidosa, como o narcotráfico etc, que carecem
de elementos sociais e "legítimos" de controle).
2) Empresas (produtos e servi~os) .
a) E1imina~ao e/ou privatiza~ao das empresas estatais de
produvao militar e das grandes indústrias (repercutin-
do, por sua vez, na pequena e média empresa), com a
finalidade de provocar a dependencia comercial e in-
dustrial, beneficiando interesses do sistema).
b) Consolidac;ao dos monopólios locais, íntimamente re-
lacionados aos internacionais (bancos e empresas), para
completar os circuitos de produc;ao, comercializac;ao e
financiamento.
c) Privatizac;ao das grandes empresas de servic;os (energía,
gás, ferrovias, linhas aéreas, marítimas etc) em beneficio
dos monopólios locais e/ou estrangeiros. Avalia<;ao pre-
liminar da economía ibero-americana com relac;ao aatu-
al inserc;ao na "nova ordem internacional": 70%.
366 0Comp16
4. Defesa
A) Objetivo geral
Substituir as missoes naturais das For9as Armadas, desvirtu-
ando nelas o seu papel histórico como institui~oes fundado-
ras da Pátria, a saber:
1) salvaguarda dos mais altos interesses da na9ao (missao
constitucional);
2) bra90 armado da Pátria (missao institucional ), pelas ne-
cessidades e requisitos impostos pela "nova ordem internaci-
onal", intervindo nas seguintes situa9oes (conforme documen-
tos oficiais dos Estados Unidos):
- prolifera~ao tecnológica e acúmulo de armas;
- instabilidade regional;
- estados "renegados" e/ou possuidores de ideologia hostil (sic);
- diferen~as étnicas, religiosas e culturais;
- golpes de Estado em países sócios;
- tráfico de drogas;
- degrada~ao ambiental;
- amea9a aos interesses da "nova ordem internacional".
B) Componentes
1) Disponibilidade de for9as
a) Pessoal
Será afetado com as seguintes medidas:
- baixas ou reformas de quadros;
- redu9ao do or9amento militar;
- elimina9ao do servi90 militar obrigatório;
- elimina9ao das reservas de homens, equipamentos e meios;
- substitui9ao do sistema atual previsional das For9as Arma-
das por um sistema de previdencia privado, afetando a
capacidade das reservas e a mobiliza~ao;
- elimina9ao de grande parte dos institutos de forma9ao;
- reforma do pessoal que nao se subordine a "nova ordem
internacional";
- participa9ao nos organismos internacionais, como instancia
de recomenda9ao para ascensao de oficiais superiores;
- incorpora9ao e promo9ao dos diferentes cultos religiosos;
- imposi9ao de soldos baixos, o que reduzirá a incorpora~ao
de pessoal idoneo.
b) Informa96es
Coronel Seinildin: sfntese do projeto mundiaUsta da "Nova Ordem" 367
Considera~oes tinais
Reflexao final:
A política nacional:
o Brasil no limiar do século 21
A dimensao economica - Nao bá alternativa para solucionar os pro-
blemas economicos nacionais de curto, médio e longo prazo que nao
acarrete a retomada do crescimento da economia.
A curto prazo, superar os obstáculos que representam a infla~ao, a
insuficiencia da poupan9a e sua orienta9ao para aplic~ nao-produtivas,
o baixo nível dos investimentos e o garrote financeiro que imobiliza o Esta-
do, interna e externamente, exige urna política de ajustamento da econo-
mía através do crescimento, e nao a recessao. Trata-se de dar um salto,
buscar urna solu9ao positiva conjugando nos próximos dois anos (1990-
1991) a retomada do crescimento gradual, como controle da infla~ao.
A rnédio prazo (até 1994), o Brasil tem de voltar a vertente de
sua trajetória histórica de crescimento, da ordem de 7% do PIB por
ano (cerca de 5% do PIB per capita), diante da necessidade de gerar
novos ernpregos e dos objetivos de redistribui9ao dinarnica da renda,
parí passu com o crescimento.
A longo prazo - até o ano 2000 - o Brasil necessita alcan~ar
um novo nível economico corn a duplica9ao de seu PIB (que deverá
superar, no limiar do século 21, os 800 bilhoes de dólares em valores
de 1988) e corn urna renda per capita da ordem de 4.500 dólares.
Setorialrnente, pretende-se atingir urna etapa mais avan9ada de
industraliza9ao, consolidar a voca9ao brasileira de grande produtor e
A Escola Superior de Gue"a do Brasü: 1990-2000: Década vital 371
to, através:
tra a Espanha, quando foi afundado seu navio de guerra Maine na baía
de Havana.
E assim os senhores americanos clamaram por justi~a mais re-
centemente, após terem ouvido o conto dos soldados iraquianos as-
sassinando criaturas no Kuwait. Somente depois de todos estes acon-
tecimentos, se deram conta da manipula~ao dos fatos pelos seus líde-
res, como propósito de atingir metas políticas.
E no Panamá foi igual, nao houve, antes da invasao, perigo para
o Canal ou para seus cidadaos americanos.
Juiz Hoeveler, o Panamá nao foi invadido porque o seu Canal
estivesse amea~ado. O Canal nao foi invadido porque a vida dos cida-
daos americanos estiveste em perigo. O Panamá foi invadido porque
eu era um obstáculo e prejudicava as lembran~as históricas de seu
presidente, George Bush, que me preferia morto!
O propósito verdadeiro deste processo nao é sentenciar-me, mas le-
gitimar o poder deste govemo, para usar qualquer medida com o propósi-
to de atingir metas políticas, embora inclua a morte de pessoas inocente.s.
Infelizmente, o senhor foi usado por seu govemo. Ao se negar a
aceitar o questionamento dos fatos políticos de seu governo, o tornam
um aliado desta política.
O senhor aceitou os argumentos de seu govemo, de que sua guer-
ra no Panamá era necessária para proteger vidas americanas. O se-
nhor aceitou este argumento porque nao pode conceber o ato de que
seu exército tiveste causado mortes de pessoas inocentes simplesmente
para me desacreditar e por razoes políticas deste governo.
Mas, senhor juiz, é o mesmo padrao de conduta de alguns gover-
nos de seu país quando queriam ficar com algum território estrangeiro
que lhe interessasse. Este foi o mesmo padrao de conduta utilizado
em 1903 para ficar com o Panamá: no início, provocaram urna guerra
civil de liberais e conservadores, chamada a "guerra dos 1000 dias";
em segundo lugar, impuseram um governo servil aos seus interesses;
em terceiro lugar, fuzilaram o líder indígena Victoriano Lorenzo.
Hoje, em 1989, aconteceu o mesmo: primeiro, durante 1000 dias,
provocaram com fustigamentos (desde 1986) no território nacional, cul-
minando com urna invasao; em segundo lugar, impuseram um governo
servil asua imagem e semelhan~a e lhe deram posse em urna barraca de
base militar estadunidense; e terceiro, eliminaram um líder e urna causa.
Mas o senhor, aquí, durante seis meses, ouviu falar do Panamá. O
senhor nao conhece o Panamá! Mas a fonna como os promotores falaram
dele e de suas autoridades era com a mesma imposi~ao e exigéncia como
General Noriega: nlio h4 invasáo que mate uma idliÍI 385
se fala dos deveres de urna col6nía americana como Guam ou as Ilhas Virgens.
Sabe o senhor juiz que o Panamá exístia como agrupamento indí-
gena descoberto por Rodrigo de Bastidas em 1513 e foi tocado em sua
costa por Colombo em sua quarta viagem? O Panamá tem um perfil
histórico próprio, tem um antecedente militar; aquí se fez ver como eu
havia formado um exército ou urna tropa armada pela primeira vez;
mesmo assim, o exército do istmo do Panamá batalhou na luta da in-
dependencia da Espanha junto a BoJfvare o marechal Sucre, nas bata-
lhas de Junín e Ayacucho. Quer dizer, o Panamá nao é urna col6nia
dos Estados Unidos; nunca foi e nunca será urna estrela na bandeira
dos Estados Unidos e seus funcionários nao podem reger-se por or-
dens de seus amos, os chefes de urna col6nia.
A importancia de mencionar o anterior temo propósito de que o
senhor juiz veja a impressao com que este corpo de jurados foi levado
a crer que a viola~ao as leis americanas e a minha suposta culpabili-
dade se deveriam ao fato de ter cumprido com as autoridades ameri-
canas o que elas exigiam.
O corpo de jurados nao p6de saber cabalmente que o Panamá tinha
suas leis proprias, seu sistema de vida, sua propria cultura, seus costumes,
sua história e seus próprios interesses políticos e económicos.
O Panamá entra na esfera dos interesses dos Estados Unidos por sua ·
situa~ao geográfica de ser a rota mais curta para ir do Atlantico ao Pacífi-
co e pela constru~ao do Canal. O tratado de 1903 foi imposto e nao assi-
nado por qualquer panamenho, mas por um fran~s imposto e subornado.
Toda esta história culmina como tratado Torrijos-Carter, que foi
encabe~ado pelo general Ornar Torrijos, com muitos civis e muitos
militares por assessores. Nao foi o general Torrijos somente, que con-
seguiu este avan~o.
E o general Torrijos, para poder atingir este grande final, passou
antes por amea~as de processo sobre drogas, ele e seu ministro de
Rela~oes Exteriores. Bu fui ao gabinete do senhor Bessinger em Wa-
shington e debatemos estes fatos. Ao final, o irmao de Torrijos foi
levado a julgamento por um grande júri em Nova York, sendo, anos
depois, inocentado das acusa~oes.
No entanto, Bessinger, ex-administrador da DEA, com cinismo,
mentiu aos jurados e nunca falou destas conversas nem de outras, re-
lacionadas ao propósito das acusa~oes de Washington.
Depois, em circunstancias "misteriosas", morreo general Torrijos
em um acidente aéreo, interno no Panamá. O irmao de Torrijos, Moisés,
em urna investiga~ao, determina que o governo Reagan-Bush com
386 OCompw
Um caso político
E assim se desenrola o caso contra o general Noriega.
Sim, o caso, Sua Senhoria, contra o general Manuel Antonio
Noriega é inteira e totalmente político, tal como o senhor manifestou
no primeiro dia quando o conheceu, quando disse que estava eivado
de "conota95es políticas"
Sim, senhor juiz, há um forte cheiro político que se sente no desen-
volvimento <leste caso. A muralha chinesa do govemo, os CIPA, as con-
ferencias e consultas permanentes coro Washington. Essas sao conota95es
políticas antes, durante e depois. Diga-me o senhor, Sua Sennoria.
As alegac;oes escritas <lestes dois governos, apresentadas a um
General Noriega: níio há invasiio que maJe uma idéia 387
grande júri por meio de José Blandón. O senhor se lembra deste nome
e de outros que culminaram com acusa~oes de 1988, causadores de
toda a infamia publicitária e as honras de urna invasao satanica pelos
quais estou no ventre do Leviata?
Como se pode justificar, Sua Senhoria, a este povo, as mentiras
das acusa~oes do documento injcial e dos testemunhos onde nao coin-
cidiam, continuam nao coincidindo a essencia das acusa~oes, as men-
tiras e contradi~oes dos declarantes? E o senhor sabe, sim, senhor
juiz, dentro de sua dúvida razoável, que a teoria do processo é contra-
ditória em si mesma, nos fatos ocorridos e em seus personagens.
Por exemplo:
1. Onde aparece o mil vezes mencionado Julián Melo Borbua no
processo ?
2. Onde aparecem os famosos irmaos Méndez no processo do
grande júri?
3. Por que o govemo, tendo sob sua prote~ao Blandón e Olarte,
nao os trouxe para sentar-se naquele banquinho?
A resposta, Sua Senhoria, é óbvia. Sao duas teorias totalmente
opostas. Porisso, eu, acreditando que os jurados iam examinar os do-
cumentos, como me garantiram meus advogados, pedi que o processo
original ficasse sem modifica~ao, para que os membros do corpo de
jurados extraíssem suas conclusoes destas contradi9oes. Nao acredita
o senhor que isto, sim, é urna dúvida razoável? ·
Por que o govemo prendeu ou amea9ou Blandón para nao teste-
munhar neste caso, após ter sido o líder da acusa9ao ante o grande
júri, o Congresso e as cadeias de televisao, e o obrigou a acolher-se
soba Quinta Emenda desta Constitui9ao? Nao acredita o senhor que
aquí, também, existam "conota9oes políticas"?
E pergunto, que motivo podem dar aos cidadaos deste país acer-
ca das grava~oes de minhas conversas privadas e de advogado-clíen-
te, tornadas públicas com o argumento de que buscavam evidénci-
as... ?. Ah'. 1sto é, nao
- t1n
. ham urna so.
,. '
1. Que justifica9ao pode ter este país para causar a morte de mil
pessoas como objetivo de capturar apenas um hornero?
2. Quando, na história dos países civilizados da América, se in-
vade um país com seqüelas de destrui9ao e morte para derrubar e pren-
der um líder estrangeiro no exercício de seu mandato?
3. Que explica9ao pode dar este govemo a seu povo para justifi-
car urna invasao armada no ano de 1989, a fim de sancionar supostos
atos ilícitos cometidos em 1984 contra este país?
388 OCompM
sendo, nao podia existir um corpo de jurados imparcial que nao tives-
te imagens preconcebidas sobre este julgamento. E a prova disto é a
expressao de um de seus membros, quando este julgamento ia rumo a
um impasse, declarando-se um dead lock por parte dos senhores do
corpo de jurados, em 8 de abril de 1992, o dia anterior ao veredito
<leste julgamento político, a manifestar que "George Bush estava es-
perando este veredito". E finalmente, George Bush, o presidente <les-
te país, os felicitou com um civismo imperial.
Eu acuso Bush
De minha parte, eu acuso George Herbert Walker Bush de:
1. Exercer seu poder e autoridade para influenciar e subverter o
sistema judiciário americano, a fim de condenar-me.
2. De genocídio, por ter dado a ordem de bombardeio maci90
contra a popula9ao civil do Panamá, causando a morte de mais de
5.000 habitantes.
3. De experimentar em povoa9oes civis a tecnología bélica de
seu exército invasor, com o uso dos "ca9as invisíveis", "bombas de
bilha" com "flechettes" e lan9a-chamas especiais para a destrui9ao de
cadáveres.
4. Bu o acuso de destruir as casas de 10.000 famílias em El
Chorrillo e nao honrar as promessas de indeniza9ao.
5. De empobrecer o povo panamenho com mentiras de ajuda eco-
nómica que, sabem, nao serao cumpridas.
6. De nao pagar os danos causados pela a9ao de guerra de suas
tropas nos locais comerciais da cidade do Panamá.
7. Eu o acuso de planejar a destrui9ao da soberanía do Panamá e
as For9as de Defesa do Panamá, para, assim, manter as bases milita-
res após o ano 2000 e nao devolver o Canal do Panamá aos seus justos
don os.
8. De criar crise para os governos da América Latina que nao
estejam alinhados com sua política da "Nova Ordem".
9. De sabotar o acordo tripartite como Japao para a constru9ao
de um novo Canal de Panamá.
1O. De ser responsável pelo apoio encoberto, militar e económi-
co, dos "contras" na Nicarágua.
11. De ser o autor intelectual e conspirador da sabotagem que
iniciou, a 31 de outubro de 1976, sobre as instala9oes civis america-
nas da zona do Canal do Panamá.
Por tudo isto e mais, ele é culpado. E eu, aqui, o denuncio perante
o povo americano e o mundo.
Estou bem de saúde. Se alguma coisa me suceder, doen9a estra-
nha ou acidente, enquanto estiver em território americano, tomo res-
General Noriega: nao há invasáo que mate uma idéia 399