Projeto de Extensao Violencia Domestica e Familiar Contra A Mulher Finalizado
Projeto de Extensao Violencia Domestica e Familiar Contra A Mulher Finalizado
Projeto de Extensao Violencia Domestica e Familiar Contra A Mulher Finalizado
PROJETO DE EXTENSÃO
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER
UBERLÂNDIA/MG
2022
PROJETO DE EXTENSÃO
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER
UBERLÂNDIA/MG
2022
i
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1
3 MÉTODO ................................................................................................................. 6
4 ANÁLISE ................................................................................................................. 8
5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 26
7 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 38
8 ANEXOS ................................................................................................................ 40
1
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos dois anos, a mídia veiculou inúmeras matérias a respeito da violência
doméstica e familiar contra a mulher. A maioria delas registra aumento na frequência de
casos de violência desta natureza. Na cidade de São Paulo, por exemplo, implementou-se
uma patrulha para dar assistência às mulheres que sofrem violência doméstica ou estão
sob medidas protetivas (DAMASCENO; PAGNAN, 2021).
Tais casos demandam rede de apoio envolvendo profissionais de segurança
pública devidamente capacitados, assistentes sociais, psicólogos, advogados e centros de
referência da mulher, além de inovadores dispositivos capazes de dar celeridade à
mobilização desta rede. Por outro lado, é fundamental romper com os ciclos de violência
por meio da prevenção com palestras educacionais, campanhas de informação nas mídias,
etc. visando conscientizar e esclarecer a população vulnerável a respeito de sua condição
e de seus direitos.
Medidas epidemiológicas de enfrentamento à covid-19 tais como lockdown, toque
de recolher e afastamento social criaram condições favoráveis à intensificação deste tipo
de agressão, ao confinar grande parte da população em suas casas. O isolamento parece
também ter dificultado a procura por ajuda em diversos casos.
Partindo desta reflexão, podemos compreender o quão importante se faz um
estudo de levantamento dos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher na
cidade de Uberlândia. Uma melhor compreensão da dinâmica destes casos no município
poderá servir de base para o estabelecimento de futuros projetos que visem realizar
prevenção junto a populações vulneráveis. Estudantes que participam deste projeto têm
uma singular oportunidade de conhecer um drama social muitas vezes circunscrito às
famílias e, portanto, inacessível. Também enriquece seu repertório com experiências
empíricas e de campo passíveis de impactar seus estudos ao longo da trajetória acadêmica.
Este é o ponto de partida do projeto piloto que mira o desenvolvimento de um
futuro projeto de extensão. O presente estudo pretende fazer um levantamento de dados
a respeito da frequência de ocorrências de violência doméstica e familiar nos últimos
quatro (4) anos na cidade de Uberlândia.
Para atingir este objetivo, os estudantes extensionistas irão:
• identificar fontes de coletas de dados: delegacia, vara de família, ONGs, SOS
mulher e família, cartórios etc.
• conduzir campanhas de coleta de dados nas diferentes fontes identificadas.
2
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A violência doméstica e familiar atinge um grupo diverso em nossa sociedade e
representa um problema crescente de saúde pública e violação dos direitos humanos
(MINAYO, 2005). Não há fatores de proteção contra a violência neste sentido, as
mulheres são atingidas independente de territorialidade, etnia, nível socioeconômico,
educacional, cultural, religião e faixa etária (OEA, 1994) o que representa grande
obstáculo para os movimentos sociais que visam a conquista da igualdade de gênero
(ONU, 2006).
Não se trata de um ato de violência isolado e se manifesta na dinâmica de
relacionamentos conjugais e familiares nos quais os envolvidos aprendem a conviver de
maneira disfuncional. A organização do grupo em sofrimento vulnerabiliza mulheres,
crianças, adolescentes, jovens, idosos etc.
O ciclo de violência tem consequências nefastas à paz social e seu alcance
extrapola os limites que circunscrevem o grupo familiar em que a violência se manifesta.
Ações isoladas não bastam para conter este mal, são necessárias ações macrossistêmicas
envolvendo políticas públicas específicas e criação de serviços voltados à atenção e
prevenção (HEISE, 2002).
Registros de violência contra a mulher são antigos, não se trata de um problema
recente na sociedade brasileira. No entanto, percebem-se mutações e avanços nas
estratégias de enfrentamento desta forma de violência ao longo das décadas. Apesar dos
avanços sociais, os níveis de violência permanecem excessivamente elevados
(PASINATO, 2015).
Nas estratégias de enfrentamento da violência contra a mulher, tem se ressaltado
cada vez mais a necessidade de envolver os homens. Na gênese da violência de gênero,
encontram-se construções culturais de masculinidade que dão manutenção a formas de
ser e relacionar que promovem comportamentos nocivos às mulheres (ANTEZANA,
2012).
No dia sete (7) de agosto de 2006, foi promulgada a lei nº 11.340 que ficou
popularmente conhecida como Lei Maria da Penha (BRASIL, 2006). Esta lei
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher,
nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal
e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências.
4
Esta lei representa uma grande conquista para as mulheres do território nacional,
entretanto, passados 16 anos de vigência é reconhecida a fragilidade do processo de sua
implementação dada à dificuldade de intervenções concretas. Para que haja avanço social
substancial, ainda são necessárias discussões, estudos, ações preventivas,
desenvolvimento de aparato de acolhimento para a mulher, capacitação de profissionais,
efetividade das medidas protetivas. Tudo isto demanda realização de estudos científicos,
estabelecimento de diretrizes, políticas públicas eficientes, bem como inovações
metodológicas (TONELI; BEIRAS; RIED, 2017).
Em seu artigo trinta e cinco (35) a lei Maria da Penha propõe que
A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e
promover, no limite das respectivas competências:
I - centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e
respectivos dependentes em situação de violência doméstica e familiar;
II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em
situação de violência doméstica e familiar;
III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços de saúde e centros de
perícia médico-legal especializados no atendimento à mulher em situação de
violência doméstica e familiar;
IV – programas e campanhas de enfrentamento da violência doméstica e
familiar;
V - centros de educação e de reabilitação para os agressores.
Além disso, no quarenta e cinco (45) a mesma lei altera o artigo 152 da Lei de
Execução Penal (nº 7.210, de 11 de julho de 1984), passando a vigorar com a seguinte
redação
Art. 152. Poderão ser ministrados ao condenado, durante o tempo de
permanência, cursos e palestras, ou atribuídas atividades educativas.
Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz
poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor a programas de
recuperação e reeducação.
5
Assim, a Lei Maria da Penha introduz condições para que sejam introduzidos na
rede de apoio à mulher agredida, estruturas para promover educação e reabilitação do
agressor, bem como programas de recuperação e reeducação.
O instrumento apresentado nesta legislação tem vocação a subsidiar e
regulamentar instituições e ações sociais que visem a prevenção e o acolhimento das
mulheres. Com o apoio adequado de políticas públicas e mobilização da sociedade civil,
encontramos condições necessárias para promover a equidade entre gêneros e prevenção
da violência doméstica e familiar.
6
3 MÉTODO
Nesta seção, apresentamos o método de pesquisa. Para tanto, introduzimos aspetos
relativos à unidade de análise, as características dos participantes, os critérios de inclusão
e de dados no estudo, o desenho do estudo, o método de coleta de dados, o plano de
recrutamento bem como a forma de tratamento de dados.
Os dados foram colhidos por alunos do 4º período, que cursavam a disciplina de
Direto Processual Civil II, do curso de Direito da ESAMC Uberlândia. Os dados foram
colhidos diretamente com as fontes de informação eleitas e confirmadas. Foram eleitas
como fonte de informação: Polícia Militar, Defensoria Pública, Ministério Público,
Delegacia da Mulher, ONG SOS Mulher família e Fórum. Neste cenário, para conduzir a
pesquisa, os pesquisadores se dirigiram a cada uma das instituições listadas, com da
ESAMC que lhes proveu um documento detalhando os objetivos do estudo (vide Anexo).
As vítimas de agressão não foram diretamente dirigidas, as informações foram
disponibilizadas pelas instituições eleitas, segundo seus próprios preceitos éticos de
controle de dados e interesse público de divulgação. Tais informações já vinham
anonimizados, o que significa que não tivemos acesso aos dados pessoais das vítimas tais
como nome ou endereço.
Para participar da amostra, os dados precisavam pertencer a mulheres, vítimas de
agressão, com idade entre zero e 65 anos, residentes do município de Uberlândia, entre
os anos de 2018 e 2021.
No que tange a questões de desenho da pesquisa, o presente estudo se desenvolveu
segundo a abordagem metodológica hipotético-dedutiva (MARCONI; LAKATOS,
2017). Como meio técnico de investigação, combinamos os métodos observacional e
estatístico, sendo que a pesquisa teve caráter descritivo e, quanto ao nível de
envolvimento do pesquisador, conduzimos uma pesquisa clássica na qual os
pesquisadores busca uma postura neutra (GIL, 2019). Definimos um delineamento não-
experimental, no qual verificamos se há diferenças significantes entre as variáveis
violência doméstica e familiar, e período da pandemia durante os anos de 2020 e 2021.
Adotamos desenho de estudo exploratório para nos prover dados concretos a respeito de
variações na frequência de violência antes e depois da pandemia (GIL, 2019).
Os dados foram coletados por meio demandas realizadas pessoalmente durante
visitas às fontes de informação eleitas. Casos de coleta de dados em formulários foram
7
muito raros, na maioria das vezes os dados, considerados de interesse público, já vinham
tabulados.
O recrutamento das fontes de informação foi realizado da seguinte forma: a turma
de 45 alunos se organizou em cinco (5) equipes (vide ANEXOS). Em sala, durante
supervisão com a professora responsável, os alunos fizeram levantamento de fontes
possíveis de informação por meio de técnica de brainstorming e consulta de organismos
via internet. Cada equipe foi designada com uma missão de fazer contato prévio e realizar
uma visita de campo para coleta formal dos dados. Cada equipe se responsabilizou pelo
contato, agendamento e visita da fonte de informação para a qual fora designada.
Após a coleta de dados, passamos à etapa do tratamento dos mesmos. Até então,
o que obtivemos foi um acervo de cinco (5) arquivos. Foi necessário organizar as
planilhas dos dados para análise em função do espaço do território do município (setor e
bairro), do tempo (meses e ano), idade e natureza da violência doméstica. O processo de
tabulação e organização dos dados foi realizado através de planilhas eletrônicas do
programa Excel 16.0.1 (EXCEL, 2021). Em seguida, foi realizado estudo estatístico
descritivo com base nos dados tabulados. Neste estudo foram calculadas frequências,
porcentagens, moda, mediana, média, variâncias e desvio padrão do conjunto de dados
colhidos. Foram produzidos vários histogramas e gráficos de setor para sintetizar os
resultados de maior relevância. A síntese dos dados também contribuiu para a criação de
um infográfico que registra frequência de agressões no território do município.
As atividades foram desenvolvidas respeitando um cronograma pré-estabelecido.
MÊS DE
ATIVIDADE
2022
4 ANÁLISE
Nesta seção apresentamos o relato das visitas de campo realizada pelos alunos.
Foram divididos em 5 grupos para a realização da coleta de dados e cada grupo ficou
responsável por colher dados em uma instituição diferente. Foram feitas coletas de dados
na Polícia Militar, Defensoria Pública, Ministério Público Estadual, Varas de Família,
Delegacia da Mulher, cartórios e ONG SOS Mulher Família.
ocorridos nos bairros e meses nesses períodos. Bastante atenciosos e educados nos
atenderam da melhor forma possível. Nos apresentaram a seção da P3 (Seção de estratégia
e inteligência) cuja responsabilidade é aglutinação de todas as ocorrências para posterior
análise, estudos e detalhamentos para melhor aplicar os recursos públicos, ou seja, o
policiamento ostensivo, nas áreas afetadas e mais vulneráveis. Na visita fomos
recepcionados pelo Sr Capitão Sócrates chefe da Seção P3.
Durante a visita foram registradas imagens fotográficas as seguem anexas.
Figura 2. Alunos realizam coleta de dados no 9ª RISP (Região Integrada de Segurança Pública)
Figura 3. Alunos realizam coleta de dados no 9ª RISP (Região Integrada de Segurança Pública)
As alunas Ana Paula Lima Araújo e Cleomar Aparecida Almeida Baleeiro (que
está na foto abaixo) foram até a Defensoria Pública de Uberlândia para coletar dados no
que diz respeito à violência doméstica e familiar conforme o número de casos em cada
bairro da cidade. A Defensora Pública, da área de família, dra. Bárbara, conversou com
as 2 alunas, explicando e orientando como a Defensoria trabalha com as estatísticas de
acordo com o número de violências por bairro que são registradas por eles.
10
4.1.1 Espaço
A cidade de Uberlândia está organizada em 5 zonas (Figura 8): Centro (vermelho),
Zona Leste (laranja), Zona Sul (azul), Zona Oeste (verde) e Zona Norte (amarelo).
12
Nesta zona, os bairros Chácaras Parque Maravilha, Valparaíso, Vale do sol e São
José e os distritos Martinesia e Cruzeiro dos Peixotos apresentam percentual de registros
inferior a 0,7% quando comparado ao restante desta região.
Figura 13. Frequência absoluta de registros na região Norte da cidade de Uberlândia, por bairros
Na zona leste os bairros Portal do Vale, Sítios de Recreio Parque das Andorinhas,
Vila Marielza, Prosperidade, Novo Mundo, Joana Darc, Morada dos Pássaros, Mansões
Aeroporto, Dom Almir, Jardim Sucupira e Jardim California apresentam percentual de
registros abaixo de 0,8% (registros absolutos variam de 3 a 24 casos). Os bairros Grand
Ville, Alvorada, Umuarama, São Francisco e o distrito de Tapuirama apresentam
percentual de registros entre 1% e 2,85% (registros absolutos variam de 30 a 86 casos).
Os bairros Aclimação, Alto Umuarama e Custodio Pereira apresentam percentual entre
3,35% e 6,2% (registros absolutos de 101 a 187). Os bairros Jardim Ipanema e
Segismundo Pereira registram respectivamente de 7,27% (219 casos) e 8,36% (252
casos).
Figura 15. Frequência absoluta de registros na região Leste da cidade de Uberlândia, por bairros
O destaque da zona leste vai para os bairros Residencial Integração* 10,72% (323
casos), Tibery 12,41% (374 casos), Santa Monica 14,4% (343 casos) e Morumbi 19,84%
(589 casos).
16
Figura 17. Frequência absoluta de registros na região Oeste da cidade de Uberlândia, por bairros
O destaque da zona Oeste fica para os bairros Luizote de Freitas com percentual
de 9,31% (387 casos) e Residencial Pequis com percentual de 9,96% (414 casos).
17
Figura 19. Frequência absoluta de registros na região Sul da cidade de Uberlândia, por bairros
O destaque da zona sul fica para os bairros Laranjeiras com 14,91% acumulando
434 casos, São Jorge com 18,72% acumulando 545 casos e Shopping Park com 26,14%
acumulando 761 casos.
18
4.1.2 Tempo
Outro jogo de dados diz respeito à distribuição das frequências absolutas de
denúncias de violência doméstica e familiar contra a mulher ao longo de quatro anos –
2018, 2019, 2020 e 2021.
Figura 20. Somatório de ocorrências de violência doméstica e familiar ao longo de 4 anos
Figura 21. Flutuações na frequência absoluta de ocorrências de violência por mês, entre 2018 e 2021
No ano de 2018, julho foi o mês que registrou menor frequência de ocorrência de
casos, enquanto janeiro e novembro registraram mais de 300 casos.
19
No ano de 2019, julho foi o mês que registrou menor frequência de ocorrência de
casos, enquanto janeiro, setembro e novembro registraram mais de 340 casos.
No ano de 2020, junho foi o mês que registrou menor frequência de ocorrência de
casos, enquanto janeiro, março, setembro e outubro registraram mais de 320 casos.
No ano de 2021, março foi o mês que registrou menor frequência de ocorrência
de casos, enquanto janeiro, setembro e outubro registraram mais de 315 casos.
Figura 26. Emparelhamento de frequência de casos dos quatro anos, por cada mês
Figura 27. Média aritmética das frequências absolutas de registros de violência dos quatro anos, por mês
A média aritmética das frequências de ocorrência dos quatro anos (2018, 2019,
2020 e 2021) confirma o mês de julho como aquele com menor média (240,75) e os meses
21
Figura 28. Frequência de registros de violência por faixa etária, por ano
Figura 29. Frequência absoluta de casos de violência por ano, segundo a natureza da violência
Figura 31. Frequência absoluta de casos de violência por ano, segundo a natureza da violência
4.1.5 Infográfico
Agora apresentamos um mapa que ilustra frequência de crimes de violência contra
a mulher por bairro, ajudando a sintetizar uma visão geral do município de Uberlândia.
Figura 32. Escala de registro de violência doméstica e familiar por bairros da cidade de Uberlândia
Com base nos dados colhidos e associados ao território, pudemos criar um mapa
com escala de frequências de registros de crimes de violência doméstica e familiar contra
a mulher. Podemos destacar que a zona oeste é aquela que apresenta os maiores índices
de registros de violência. Também podemos destacar os bairros com maiores frequências
de registros de violência.
25
5 DISCUSSÃO
Nesta seção discutimos os dados que conseguimos levantar com o presente
trabalho.
A coleta de dados foi realizada em várias instituições na cidade de Uberlândia
como a Delegacia da Mulher, Ministério Público Estadual, Defensoria Pública, Cartórios,
Varas de Família, ONG SOS Mulher Família, Polícia Militar, IBGE. A maioria das
instituições proveu acesso a informações sobre a frequência de violência doméstica e
familiar. Polícia Militar e IBGE nos forneceram os dados mais completos para o período
investigado – 2018 a 2021. Demais localidades permitiram acesso a um volume restrito
de informação para nossa pesquisa.
Com o objetivo de atingir maior eficácia, a turma se dividiu em 5 equipes para
executar a campanha de coleta de dados num maior número de instituições possível (vide
Anexo).
Cada equipe ficou responsável por analisar uma zona da cidade de Uberlândia
(Zonas Central, Norte, Sul, Leste e Oeste), o que resultou em uma série de gráficos
sintetizando frequência de violência doméstica e familiar nos bairros de cada zona da
cidade, natureza dos crimes praticados etc. Posteriormente, foi feita a distribuição das
frequências absolutas de denúncias de violência doméstica e familiar contra a mulher ao
longo de quatro anos – 2018, 2019, 2020 e 2021, por mês e faixa etária.
Por fim, foi feito um mapa que ilustra frequência de crimes de violência contra a
mulher por bairro, ajudando a sintetizar uma visão geral do município de Uberlândia e
apresentado por meio de infográfico a escala de registro de violência doméstica e familiar
por bairros da cidade de Uberlândia.
Do ponto de vista quantitativo observamos uma diminuição do total de registros
de violência nos anos de 2020 e 2021. Pudemos identificar um conjunto de bairros da
cidade que se destoa com acúmulo muito elevado de registros de violência. Tal resultado
precisa ser tratado com cuidado porque o registro quantitativo de casos de violência de
doméstica, não representa a violência doméstica que de fato acontece porque é provável
que, por inúmeras razões, muitos casos não chegam a ser denunciados ou registrados. Isto
significa que precisamos de mais tempo investigação e de forma aprofundada com apoio
de autoridades, profissionais e instituições.
Uma questão que fica para futuros estudos é a de verificar se há correlação forte
entre a condição socioeconômica da população de um determinado bairro e a quantidade
27
de registros de agressão. Importante que tal análise seja realizada com o cuidado ético
necessário para não estigmatizar parte da população da cidade. Algumas hipóteses que
poderíamos seguir é se, por exemplo, o tecido social nos bairros de menor condição
socioeconômica seria mais forte do que nos bairros em que as pessoas vivem em condição
de vida mais favoráveis. Isto poderia desvelar, por exemplo, pelo menos para os casos de
denúncias, que a rede de apoio nos bairros com população menos favorecida seria mais
forte e eficiente do que nos bairros em que reside população com melhores condições
socioeconômicas. Certo, a pressão e a privação de meios, a condição de vulnerabilidade
pode ser um fator que intensifique a violência, mas outras pistas precisam ser perseguidas
para melhor compreendermos este fenômeno. Estas são questões que demandam uma
pesquisa mais apurada. Não podemos deixar de destacar que no conjunto de dados
analisados, encontramos 700 ocorrências cuja localidade não foi determinada.
Com relação ao tempo observou-se que houve uma queda no registro de denúncias
nos anos de 2020 e 2021. Outra questão que precisa ser tratada com cuidado, uma vez
que consideramos a necessidade de distinguir o registro de agressões da ocorrência real
das agressões.
Com relação a faixa etária, o grande volume de agressões registradas atinge
mulheres entre 35 a 64 anos. Isso pode levantar uma reflexão a respeito da condição da
mulher que se submete a esse tipo de abuso porque os dados são transversais do ponto de
vista da idade, seria interessante, investigar a história de vida dessas mulheres nesta faixa
etária, para verificar a frequência de ocorrência de agressão na trajetória de vida deste
grupo específico. Poderíamos levantar hipóteses se isto envolve um fenômeno próprio de
uma geração, ou se de fato os casos de violência tendem a se intensificar a partir desta
idade.
Por último, no que tange a natureza da agressão os três tipos de crimes mais
frequentes identificados foram lesão corporal, ameaça, vias de fato/agressão. Pensar um
programa de prevenção, poderia direcionar suas ações para o tema destes três tipos de
crime, além da faixa etária de 35 a 64 anos e dos bairros com maior frequência de
registros. Salvaguardadas as ponderações realizadas anteriormente, encontraríamos nesta
trajetória algumas pistas para a próxima etapa do projeto, no sentido de atingir de forma
mais eficiente a população mais atingida na faixa etária adequada e no território em que
se encontram em condições mais vulneráveis.
Após o levantamento de dados e os primeiros resultados da análise, os estudantes
envolvidos no projeto se empenharam numa ação social imediata. O trabalho de
28
Concluindo com êxito essa etapa do Projeto de Extensão, esperamos que tenhamos
um bom resultado, alcançando ajudar o maior número possível de vítimas de abusos seja
ele físico, psicológico, moral, patrimonial ou sexual.”
“Segue abaixo o relatório do nosso grupo sobre os infográficos:
Segundo os dados coletados pelos grupos no Trabalho de Extensão do 4º Período
da ESAMC (Tabela 1), observa-se que os bairros Morumbi e Shopping Park são os mais
afetados pela violência doméstica, tendo este último apresentado uma grande
discrepância em relação à média geral. Por ser um dos bairros mais novos da cidade não
há dados do último censo demográfico do IBGE (2010) do Shopping Park para realizar
uma comparação entre a quantidade de pessoas e o número de casos de violência
doméstica registradas, porém, é possível identificar que sua área quadrada se destaca
dentre os demais bairros, sendo um dos maiores bairros residenciais. Ainda assim, se
utilizado este critério como título de comparação, outros bairros de tamanhos similares,
como o Santa Mônica, tiveram pouco mais da metade de casos registrados.
Outrossim, se analisarmos os dados coletados por setores (Tabela 2), identifica-se
que a região Oeste é a que se evidencia em número de ocorrências, porém é a região com
maior representatividade de bairros, onze no total, enquanto regiões como a Leste (6
bairros) e a Sul (4 bairros), onde está localizado o Shopping Park, aparecem quase
empatadas no número de notificações e pouco abaixo da primeira área, mesmo possuindo
uma quantidade bem menor de bairros relatados.
Dessa forma, é plausível afirmar que a Zona Sul possui a maior incidência de
violência doméstica devido a associação entre quantidade baixa de bairros analisados e a
quantidade alta de casos apresentados. Por certo, fatores como faixa etária, gênero
predominante, classe social, escolaridade, dentre outros, podem influenciar as causas que
desencadearam a elevada quantidade de ocorrências nesta área. Além disso, os outros
bairros ou regiões podem ter apresentado subnotificação maior, razão pela qual seus
números de casos estariam sendo mais baixos em relação à Zona Sul. Portanto, seria
necessário um estudo mais aprofundado para identificar os motivos que levam essa região
a se destacar como a mais atingida pela violência doméstica. A parte final do projeto de
extensão culminou com a entrega de panfletos onde, no ato de entrega, especificamos os
tipos de violência contra a mulher, bem como os locais que devem ser procurados em
caso de violência doméstica, fazendo a distribuição nas imediações da faculdade, em
bares e comércios.”
30
“Mais um local foi o Sindicato dos Rodoviários e Escritório Dra. Michele Cunha,
como consta na foto abaixo, no qual as pessoas foram bem receptivas no recebimento dos
panfletos. Nosso grupo também distribuiu panfleto no Campus Municipal de atendimento
à pessoa com deficiência, localizado na rua Maria Salvina de Carvalho, 300 – Bairro
Morada da Colina, veja:
33
Figura 40. Distribuição de panfletos no Sindicato dos Rodoviários e Escritório Dra. Michele Cunha
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este projeto teve a intenção de verificar se houve um aumento de casos de
violência doméstica durante os de 2019 e 2021. Destacamos indícios de que houve uma
leve diminuição dos registros de violência. Entretanto, refletindo sobre os dados
precisamos fazer a distinção do que é o registro da violência e o que é a violência de fato,
pois são aspectos distintos do fenômeno observado. Conseguimos destacar quais os
crimes mais frequentes e a faixa etária mais atingida pela violência doméstica e familiar.
Com base nos registros territoriais de violência conseguimos montar um mapa registrando
as regiões da cidade que concentram maior número de denúncias.
O tempo de apenas um semestre para formular e executar o projeto foi
excessivamente curto para que pudéssemos fazer um levantamento de necessidades
substancial. Também, não tivemos tempo necessário para constituir uma rede de
colaborares fora da instituição. O trabalho de campo dos alunos apoiou os primeiros
contatos. Precisaremos intensificar vínculos para constituir uma rede de colaboração
passível de prover atividades que tenham real impacto social. A análise estatística dos
dados de violência restringiu-se à estatística descritiva, não tivemos oportunidade de fazer
análises inferenciais como testes de comparação de médias ou correlação de dados.
Por outro lado, o projeto permitiu aos alunos uma experiência de campo autêntica,
com conhecimento de fontes de informação, coleta de dados e mesmo uma primeira etapa
de intervenção com pequena campanha de conscientização. A territorialização iniciada
precisa ser continuada e nos ajudará a identificar zonas prioritárias, a partir das quais
poderemos planejar intervenções robustas e multidisciplinares visando sensibilização,
prevenção e acolhimento de vítimas. Este é o nosso desejo para a próxima etapa, pois
projetos de extensão devem buscar solucionar problemas reais, de interesse e necessidade
da sociedade e ampliar a malha de relações entre a instituição de ensino superior e a
comunidade, seja ela a sociedade civil, sejam os profissionais que a integram. Devem
buscar difundir conhecimentos e se envolver em ações que visem conscientizar e
capacitar, não apenas os estudantes, mas também os agentes sociais da comunidade em
que se faz intervenção. Só assim conseguiremos atingir a meta de ampliar nossa atuação
para além dos limites da sala de aula.
38
7 REFERÊNCIAS
ANTEZANA, Álvaro Ponce. Intervenção com homens que praticam violência contra seus
cônjuges: reformulações teórico-conceituais para uma proposta de intervenção
construtivista-narrativista com perspectiva de gênero. Revista Nova Perspectiva
Sistêmica, n. 42, p. 9-25, 2012.
BRASIL. Lei n. 11.340 (Lei Maria da Penha). Cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da
Constituição Federal. Diário Oficial da União, 2006; 8 ago. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm.
Acesso em: 17 jun 2022.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 7a ed. São Paulo: Editora
Atlas, 2019.
MINAYO, M.C.S. Violência: um problema para a saúde dos brasileiros. In: BRASIL.
Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Impacto da violência na
saúde dos brasileiros. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. p. 9-42.
PASINATO, Wânia. Oito anos de Lei Maria da Penha: Entre avanços, obstáculos e
desafios. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 23, n. 2, p. 533-545, 2015.
TONELI, Maria Juracy Filgueiras; BEIRAS, Adriano; RIED, Juliana. Homens autores de
violência contra mulheres: políticas públicas, desafios e intervenções possíveis na
América Latina e Portugal. Revista de Ciências HUMANAS, Florianópolis, v. 51,
n. 1, p. 174-193, jan.-jun. 2017.
40
8 ANEXOS
Tabela 1. Grupo 1
GRUPO 1
Coleta de dados:
Violência doméstica e familiar: Polícia Militar
Divórcio: IBGE
Alunos RA
Luiz Paulo Soares Marques 220111
Jennifer Caroline dos Santos Moreira 221036
Chayenne de Araújo Barbosa 220132
Luna Vitória Moreira Palhares 220139
Eliene Monteiro Franco Mendes 220299
Flávio Vinícius dos Santos Rodrigues 220336
Thaynara Faria dos Santos 220154
Rafael Gonzaga Bento 220322
Danielly Martins Ramos 220129
Emily Gabriely Santos Matos 220220
Tabela 2. Grupo 2
GRUPO 2
Coleta de dados:
Violência doméstica e familiar: Defensoria Pública
Divórcio: Vara de família
Alunos RA
Ana Paula Lima Araujo 121149
Vitor Ferreira Castro 220032
Maria Luiza Paulino de Oliveira 220350
Nicoly Correia Santos 220338
Rodrigo Cavalcanti de Mendonça 220018
Marina Baldan de Oliveira Ferro 220017
Carolina Fernandes de Souza 220078
Cleomar Aparecida Almeida Baleeiro 218266
Ana Júlia Barcelos 220074
Tabela 3. Grupo 3
GRUPO 3
Coleta de dados:
Violência doméstica e familiar: ONG SOS mulher e família
Divórcio: Cartório
Alunos RA
Maria Luiza Volponi Magalhães 220300
Filipe Prado de Oliveira 220147
Filipe Fernandes Monteiro de Castro 220268
Fernanda Peixoto Salomão 22016
Athos Coelho Paranhos 220343
Pedro Daniel Neiva Bouças 220227
Cristina Sena Gonçalves 220150
José Reis Neto 220359
Pablo Ricardo Rodrigues Santana 220262
João Pedro Leal da Silva 220284
41
Tabela 4. Grupo 4
GRUPO 4
Coleta de dados:
Violência doméstica e familiar: Delegacia da Mulher
Divórcio:
Alunos RA
Rayanne Ribeiro Lino 220094
Guilherme Queiroz Pereira 220022
Suellen Lopes 220197
Alessandro Barbosa Sousa 220014
Marcus Vinicius da Silva 120194
Maria Fernanda Cristina Miranda 220110
Maria Gabriele Marques 220117
Erildo Alves de Sousa 220347
Tabela 5. Grupo 5
GRUPO 5
Coleta de dados:
Violência doméstica e familiar: Ministério Público Estadual
Divórcio: ESAJUP (Escola de Assessoria jurídica popular UFU)
Alunos RA
Ana Clara Barbosa Silva 220003
Aracelli Oliveira Silveira Ribeiro 220159
Débora Cristina Araújo 220114
Cleiton Mendes de Lima 220056
Igor Gabriel de Brito Silva 220205
Kátia Gomes Medeiros 220125
Willian Honório Dourado 220156
42