Volume20 Numero1 158
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INTRODUÇÃO
Inicialmente, cumpre esclarecer que o presente artigo é fruto de alguns
questionamentos abordados em tese defendida junto ao Programa em De-
senvolvimento Local da UCDB-Campo Grande/MS em dezembro de 2021.
A violência doméstica e familiar contra a mulher baseada na rela-
ção desigual de gênero é um grave problema social que atinge a sociedade
como um todo. A violência doméstica contra a mulher não distingue classe
social, raça, etnia, qualificação profissional, ou qualquer outra classificação
possível. Dessa forma, a mulher que hoje não se encontra numa posição de
vulnerabilidade, pode amanhã passar a estar vulnerável e, por consequência,
vir a ser vítima dessa violência. Trata-se de um fenômeno complexo, mul-
tifacetado e multidimensional. Diuturnamente, vemos no Brasil casos de
violência doméstica serem veiculados nos meios de comunicação. Segundo
os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública – FBSP, em alusão ao
dia 08 de março, que marca o Dia Internacional da Mulher, foram publi-
cados antecipadamente alguns dos dados coletados referentes ao Anuário
Minayo (2007, p. 23), por sua vez, clarifica nosso pensamento ao es-
crever que “a violência não é um problema médio típico; é, fundamental-
mente, um problema social que acompanha toda a história e as transforma-
ções da humanidade”. Para a autora, “não se conhece nenhuma sociedade
totalmente isenta de violência. Ela consiste no uso da força, do poder e de
privilégios para dominar, submeter e provocar danos a outros: indivíduos,
grupos e coletividades. Há sociedades mais violentas do que outras, o que
evidencia o peso da cultura na forma de soluções de conflitos” (MINAYO,
2007, p. 23). À vista disso, além de um fato humano e social, a violência na
história pode ser classificada de forma singular em cada sociedade, dentro
de um espaço e de um tempo determinado. Fato é que a violência, para
Minayo (2007), compõe o tecido social de quase todas as sociedades, sendo
o caso da violência baseada na relação de gênero.
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Para Frey (2000, p. 221), essa política pública de interação dos di-
ferentes grupos do poder público, das instituições e da sociedade “na
Umas das políticas públicas que tem por intento concretizar os fun-
damentos do art. 8º da LMP e que está prevista no art. 3º, I, do Programa
Mulher, Viver sem Violência (BRASIL, 2013) é a Casa da Mulher Bra-
sileira. A primeira CMB implantada no Brasil foi na cidade de Campo
Grande, inaugurada no dia 03 de fevereiro de 2015, fruto do Convênio n.
117/2017, firmado entre a Secretaria Nacional de Políticas para as Mulhe-
res da Presidência da República (SPM-PR) e a Prefeitura Municipal de
Campo Grande/MS.
A CMB, de acordo com as diretrizes do Programa, tem o encargo
de ser um espaço de acolhimento integral, de atendimento humani-
zado e continuado às mulheres em situação de violência doméstica. O
trabalho é operacionalizado através de uma rede de atendimento feita
pela integração espacial dos serviços, uma vez que toda a rede de pro-
teção à mulher em situação de violência se encontra atendendo dentro
de um mesmo local.
Trata-se de um espaço de atendimento humanizado que busca viabi-
lizar e facilitar o acesso aos serviços especializados operacionalizados em
rede de forma integralizada dentro de um mesmo espaço, bem como que
tem como proposta oferecer às mulheres em situação de violência domés-
tica um atendimento psicossocial continuado, a fim de que elas possam
enfrentar e romper o ciclo da violência por meio do empoderamento e da
autonomia econômica (BRASIL, 2013).
A estrutura arquitetônica da CMB foi pensada para ser “uma estru-
tura que acompanha as diversas etapas pelas quais a mulheres passam a
enfrentar de forma integral a violência. Para tanto, inclui em um mesmo
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo se propôs a analisar a Casa da Mulher Brasilei-
ra, implantada na cidade de Campo Grande/MS em fevereiro de 2015,
como um modelo de inovação social de política pública em rede integra-
da e gestão multinível no enfrentamento à violência doméstica e familiar
contra a mulher. A violência doméstica contra a mulher é um problema
social grave, multifacetado e multidimensional e o seu enfrentamento
demanda, além da positivação de microssistemas legais, como é o caso da
Lei Maria da Penha, a implantação de políticas públicas com a percepção
da inovação social.
A violência doméstica contra a mulher baseada na relação de gênero é
um fenômeno social, cultural, histórico e também jurídico, mas não apenas
jurídico. Por essa razão, a efetividade da Lei Maria da Penha transcende o
seu caráter legal. Buscar compreender o fenômeno da violência doméstica
baseada no gênero por meio da sua contextualização histórico-social é im-
prescindível a qualquer pesquisa sobre o tema.
Direito em Movimento, Rio de Janeiro, v. 20 - n. 1, p. 158-187, 1º sem. 2022 179
ARTIGOS
REFERÊNCIAS
MELLO, Adriana Ramos de. Lei Maria da Penha na prática [livro ele-
trônico] / Adriana Ramos de Mello e Lívia de Meira Lima Paiva. --
São Paulo : Thomson Reuters Brasil, 2019. 6 Mb ; ePub. Mello, Adriana
Ramos de. Lei Maria da Penha na Prática (p. 2). Revista dos Tribunais.
Edição do Kindle.