Revista Sebrae
Revista Sebrae
VAREJO DA MODA
PEQUENOS
NEGÓCIOS
DESPONTAM
NO SETOR
Brasil é o quarto país com melhor
Divulgação
06
DIRETOR DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS
José Claudio dos Santos ARTIGO
PEQUENOS NEGÓCIOS NO VAREJO DA MODA
GERENTE DA UNIDADE DE ATENDIMENTO
COLETIVO – COMÉRCIO
Juarez de Paula
CHEFE DA ASSESSORIA DE IMPRENSA
08 ENTREVISTA
WALTER RODRIGUES, ESTILISTA, DESIGNER E
COORDENADOR DO NÚCLEO DE DESIGN DA ASSINTECAL
Denise Chaves
CONHECER SEBRAE
VAREJO DA MODA
13 MERCADO
PEQUENOS NEGÓCIOS PODEM CRESCER NO SEGMENTO
EXPANSÃO DAS FRANQUIAS É TIDA COMO CERTA
RESPONSÁVEL TÉCNICO
Wilsa Sette Morais Figueiredo
SUPERVISÃO EDITORIAL
Larissa Meira
20 TENDÊNCIAS
CAÇADORES DE NOVOS MERCADOS AJUDAM VAREJO A CRESCER
FAST FASHION DECRETA O FIM DAS ESTAÇÕES
REPÓRTERES
Alessandra Flach
Sérgio Maggio 26 CADEIA PRODUTIVA
INDÚSTRIA E VAREJO DEVEM CAMINHAR JUNTOS
EDIÇÃO
Beth Nardelli
PRODUÇÃO
Grupo Informe Comunicação Integrada
32 COMPORTAMENTO
O BRASILEIRO CONSOME MODA ATÉ QUANDO NÃO FAZ COMPRAS
EDIÇÃO DE FOTOS
Rubens José 41 CONECTIVIDADE
REDES SOCIAIS VERSUS VAREJO DA MODA
PROJETO GRÁFICO
Heyboo Design Studio
DIREÇÃO DE ARTE
47 E-COMMERCE
COMPRAR ROUPAS PELA INTERNET VIRA MODA
Chica Magalhães
TIRAGEM
5 mil exemplares 52 BRANDING
QUANDO A MARCA É O PATRIMÔNIO
CENTRAL DE RELACIONAMENTO
59 BRECHÓS
DO BAÚ PARA O VAREJO
0800 570 0800
WW.SEBRAE.COM.BR
CRIATIVIDADE
E INFORMAÇÃO
IMPULSIONAM
O
empreendedorismo brasilei- Há uma demanda expressiva de con- crescimento das empresas do setor.
ro mudou muito na última sumidores de vestuário, calçados e aces- Para o empresário, é essencial conhe-
década. Os avanços obtidos sórios e, para atender a esses clientes, cer informações sobre o mercado, com-
com o aprimoramento da quase 800 mil pequenos negócios pre- preender a movimentação do varejo de
legislação, o fortalecimento do nosso cisam se preparar para atuar neste mer- rua e de shopping centers ou saber quais
mercado interno e a melhora no nível cado competitivo. Para obter sustentabi- são os modelos de negócios que mais
de escolaridade dos empresários pro- lidade, o empreendedor deve investir em conquistam os consumidores, por exem-
porcionaram um grande salto no volu- capacitação e conhecimento. plo. A utilização de novas ferramentas
me de empresas desse porte: de 2 mi- Nesta edição da Revista Conhecer, para divulgação do produto e o investi-
lhões para os atuais 9 milhões. Os dados serão abordadas nossas ações para os mento no relacionamento com o cliente,
mostram que o sonho de empreender pequenos negócios que atuam nesse por meio da adoção de canais como as
do brasileiro está se tornando cada vez segmento. Temos o papel fundamental redes sociais, se tornam um diferencial.
mais uma realidade. E sob esse aspecto, de inserir os pequenos negócios no mer- O Sebrae está ampliando seu aten-
o Sebrae tem muito a contribuir. cado da moda, ajudando-os a compreen- dimento aos segmentos da moda esten-
Trabalhamos para fomentar o em- der tendências e cenários. dendo o foco sobre toda sua cadeia de va-
preendedorismo e apoiar o desenvolvi- A moda faz parte da identidade do lor. Sabemos que há espaço para o varejo
mento dos pequenos negócios. Atuamos brasileiro, as pessoas estão atentas aos da moda inovar e conquistar seu lugar em
em todos os setores, especialmente, o lançamentos de coleções e produtos diferentes nichos do mercado interno e
comércio, onde está concentrada me- que antes eram objeto de desejo e agora externo. Basta manter o olhar atento às
tade dos empreendedores brasileiros de estão ao alcance de todas as classes so- demandas do consumidor, investir na ca-
pequeno porte. No segmento da moda ciais, desde que melhorou a distribuição pacitação e nas ideias criativas.
e acessórios houve também grandes de renda no país. Entender e analisar o Boa leitura!
avanços e hoje o Brasil detém o quinto comportamento desse consumidor se
maior mercado mundial. faz fundamental para a sobrevivência e *Presidente do Sebrae Nacional
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/ / A R T I G O / / HELOISA MENEZES*
PEQUENOS
NEGÓCIOS
NO VAREJO
DA MODA
Charles Damasceno
C
riatividade e diversidade são o quinto maior mercado da moda em e priorizou alguns ramos1 do comércio
a principal grife que diferen- todo o mundo. Por serem altamente com grande concentração de pequenos
cia a moda brasileira mundo negócios. Um deles é o varejo da moda.
competitivos, prevalece o desafio da
afora. É um mundo de gla- Em todo o país, há cerca de 780 mil
gestão do pequeno varejo da moda, o
mour e de trabalho intenso que traz lojas de vestuário, calçados e acessó-
consigo uma longa e ampla cadeia, que também é condição básica para
rios: 318 mil microempreendedores
com predominância de pequenos negó- que possam desfilar um padrão mun-
individuais, além de 383 mil microem-
cios. Abrange desde fornecedores da in- dial de presença no mercado, com presas e 79 mil empresas de pequeno
dústria de tecidos e de confecções, até o diferenciais para se manterem em porte.2 Em 2012, o Sebrae atendeu 24%,
varejo da moda, com lojas e marcas em atividade e/ou expandir.
múltiplos segmentos, de moda praia à
Como apoiar esses pequenos negó-
infantil; de surfware à moda gestante 1 Além do varejo da moda, o Sebrae atua priori-
cios em ambientes tão competitivos de tariamente nos seguintes segmentos do comér-
e esportiva, infanto-juvenil à íntima e cio: pequeno varejo alimentar - minimercados,
brechós, entre muitos outros. modo a alcançarem excelência em ges- mercadinhos e mercearias, varejo de material de
construção, lojas de autopeças e farmácias.
Um mercado diversificado, muito tão? Desde 2011, o Sebrae decidiu forta-
2 Totais segundo o Cadastro Sebrae de Empre-
dinâmico e altamente competitivo. É lecer sua atuação de forma segmentada, sas/2012.
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/ / E N T R E V I S T A / / WALTER RODRIGUES
P
ara auxiliar os empreendedo-
res de pequenos negócios de
moda, Sebrae e instituições
como a Associação Brasilei-
ra de Empresas de Componentes para
Couro, Calçados e Artefatos (Assinte-
cal) e o Instituto Brasileiro de Moda
(IBModa) têm capitaneado projetos
que passam por toda a cadeia produti-
va do setor até chegar ao varejo. A ideia
é que os lojistas conheçam tendências
de materiais, cores, produtos e inovação
para melhorar o processo de decisão de
compra das novas coleções pelos pro-
fissionais do mercado de varejo.
Hoje coordenador do Núcleo de De-
sign da Assintecal, o renomado estilis-
ta e designer Walter Rodrigues acredita
que a mudança de comportamento do
consumidor brasileiro, a segmentação
e a “personalidade” dos produtos de
moda são fatores que devem ser leva-
dos em consideração pelos pequenos
Murilo Medina
negócios de varejo da moda ao montar
seus estoques e grades. “Estamos ten-
tando mostrar aos empresários essa
VAREJISTAS
visão de que eles vão ter de segmentar
suas coleções, definindo muito bem o
seu grupo de consumidores, focando
DEVEM INVESTIR
num nicho específico e oferecendo pro-
dutos que emocionem, que saiam do
lugar comum”, afirma Walter.
EM PRODUTOS
O designer – que iniciou sua carrei-
ra em 1983, é parceiro do Sebrae des-
de 2000 e sempre esteve à frente de
projetos que dinamizem e capacitem
comunidades de baixa renda – afirma
que a chegada de grandes redes vare- DE QUALIDADE
8 VAREJO DA MODA // SEBRAE
jistas ao Brasil pode motivar a profis- e se sobressair no mercado da moda.
sionalização dos pequenos varejistas. Nós acreditamos que os pequenos têm
“A entrada de grandes conglomerados uma facilidade imensa no processo da
internacionais de moda no mercado moda. É a capacidade de adaptação e
brasileiro tem causado deslumbramen- de mudança para atender às necessi-
to no consumidor, mas essa fase vai dades desse mercado que tem cada vez
passar e os pequenos negócios de va- mais possibilidades de escolhas.
rejo da moda têm de estar preparados Se fizermos uma reflexão sobre os
para competir quando esse momento últimos dez anos de produtos de moda
chegar”, explica Walter. no Brasil, a gente evoluiu em uma
quantidade gigantesca de opções para
Revista Conhecer: Como coordenador o consumidor final. Hoje, em São Pau-
do núcleo de design da Assintecal lo, ele pode ir na Chanel, que é a marca
e curador de desenvolvimento de mais desejada do mundo, na Hermès
materiais, você capta tendências que que é uma das mais sofisticadas do
vêm do comportamento das pessoas mundo, na Renner, na Topshop, na Fo-
e ajuda as empresas a traduzi-las rever 21 ou ele pode ir ao Brás e fazer
em produtos. Como isso pode ser compras numa pequena loja de rua. O
aplicado pelos pequenos negócios de produto está completamente acessível.
varejo da moda? Então, nessa guerra do mercado da
Walter Rodrigues: O mais impor- moda o pequeno pode sair ganhando
tante do nosso trabalho, como desig- muitas vezes pela capacidade de evo-
ners, em direção à moda – e isso vai luir, de conectar-se com as informações
afetar o varejo porque ele é o ponto fi- e propor respostas mais rapidamente
nal de toda a discussão de um produto do que o grande. Para mim, o grande
– é cruzar todas as informações desde trunfo é este: a velocidade com que ele
o mercado, os processos econômicos, possa vir a compreender as tendências
o momento mundial, a sintonia de do mercado e traduzi-las em moda. É
mundo, a questão tecnológica, cinema, para isso que nós trabalhamos.
música, novelas, literatura, enfim, de
"O IMPORTANTE tudo o que envolve cultura para des- Revista Conhecer: E os pequenos
PARA O VAREJO cobrir o que vai influenciar na maneira podem trabalhar positivamente
do consumidor se posicionar. O projeto essa rapidez com que as tendências
É SABER QUE O da Assintecal com o Sebrae tenta faci- surgem e desaparecem?
BRASILEIRO É UM litar esse processo e mostrar aos em- Walter Rodrigues: Eu acho que
preendedores um caminho com mais podem. Nós temos bons exemplos.
BOM CONSUMIDOR possibilidades, estratégias e planeja- Tem um projeto dentro do Instituto
DE MODA" mento para atingir esse consumidor By Brasil (IBB – um órgão indepen-
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/ / E N T R E V I S T A / / WALTER RODRIGUES
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/ / E N T R E V I S T A / / WALTER RODRIGUES
tão forte de mercado de moda que leve a todos acham que varejo é mais sim-
um slow fashion, como na Europa, que é ples do que a parte criativa, da in-
a questão do consumo consciente. dústria e de produção, mas é muito
complicado vender moda. Na maioria
Revista Conhecer: Mas é importante das vezes, as pessoas pensam que
segmentar o varejo em nichos de podem abrir um negócio apenas por-
consumo? que têm bom gosto, mas o varejo tem
Walter Rodrigues: Sim. Isso é ab- que ser pensado, estudado e dirigido.
solutamente necessário. É a primeira Sem um varejo consistente, o fato
pergunta que fazemos ao entrar numa de as marcas buscarem sua própria
empresa: quem é o seu consumidor? distribuição é uma evolução natural.
Quando a gente pesquisa o comporta- No Rio Grande do Sul, por exemplo,
mento do consumidor, a gente busca eu trabalho com empresas que ainda
compreender principalmente o que esse não atingem o varejo de lojas, não
consumidor final quer, para fazermos conseguem vender sua roupa para
produtos mais direcionados a eles. Às ve- lojistas, mas vendem direto para o
zes ele nem sabe que quer aquilo e esse consumidor final em showrooms pró-
é o nosso maior desafio. Se eu sei para prios. O importante é conhecer o seu
quem eu vendo, fica mais fácil produzir consumidor. Eu acho que criar outros
e oferecer produtos. Sei se meu consumi- centros de moda também é um ca-
dor usa couro, se usa mangas compridas, minho. Já existem alguns. Eu pode-
se usa decote. Eu trabalho, por exemplo, ria citar Teresina, Goiânia, Fortaleza,
com uma empresa de joias no Rio Gran- Caruaru, Florianópolis, Maringá. A
de do Sul que tem uma linha de produ- polarização desses centros – tirando
tos religiosos, medalhinhas, crucifixos, do eixo Rio-São Paulo-Belo Horizon-
mas também temos linhas com o peixe, te, que ainda é o mais forte na moda
que é um símbolo evangélico. A pessoa – permite a ampliação das possibili-
evangélica também vai consumir moda, dades de consumo. Com isso, as lojas
ela só não vai comprar a imagem de uma nas pequenas cidades têm um produ-
santa, por exemplo. É muito importante, to mais bem acabado, mais opções de
"O FORTALECIMENTO portanto, saber para quem eu ofereço marcas. Quanto mais a gente conse-
meu produto, para quem eu vendo. guir descentralizar os polos de moda,
DOS PEQUENOS
melhor para o varejista de moda,
É O QUE FARÁ A Revista Conhecer: O que ainda melhor para o consumidor. A descen-
DIFERENÇA NO precisa mudar no varejo da moda tralização do varejo da moda permite
brasileiro? a expansão da nossa moda para esse
MERCADO DA MODA Walter Rodrigues: Precisamos ter Brasil gigantesco e o Sebrae tem co-
BRASILEIRO" varejos mais consistentes. No Brasil, laborado com isso muito bem.
A
poiado pela indústria inova- tribuição da renda, índice de formalização 120 bilhões, sem contar os acessórios,
dora, o mercado do varejo da do trabalho, aumento do poder aquisitivo com outros R$ 40 bilhões. O varejo da
moda no Brasil vem se expan- e maior facilidade de acesso ao crédito – moda, assim, consolida-se como um
dindo nos últimos cinco anos. impulsionou a expansão do setor. mercado promissor que conta com qua-
Dados do Instituto de Estudos e Marke- O Brasil é o 4º país no varejo da se 800 mil pequenos negócios de ves-
ting Industrial (IEMI) mostram que o moda em termos de desempenho eco- tuário, calçados e acessórios, responsá-
crescimento do consumo de moda pela nômico. Com saldo positivo nos últi- veis por 38% do volume de vendas do
classe média – turbinado por melhor dis- mos seis anos, movimenta cerca de R$ setor, segundo o mesmo levantamento.
MAIO DE 2015 13
// MERCADO //
Bernardo Rabello
Desde a década de 1990, há mais O varejo já se adaptou e oferece ao
dinheiro para fazer compras. “Nesse brasileiro artigos de moda que têm pro-
período, todos os segmentos de roupa dutos mais caros, produtos médios e mais
cresceram, e cresceram bem”, afirma populares. Os produtos médios, mesmo
Marcelo Prado, diretor do IEMI. com marca, estão muito atrativos para a
Estudo do Sebrae com o Instituto classe C, em preço e em design. “A moda
Data Popular, em 2012, comprova o au- é encantamento, o que mais influencia o
mento da faixa de renda e poder aquisi- consumo é a emoção. Tanto que 75% das
tivo das classes C e D, que representam compras de moda são à primeira vista,
53,9% da população e movimentam aquilo que encantou o consumidor na vi-
mais de R$ 1,03 trilhão por ano. “São trine ou na loja”, explica o diretor do IEMI.
40 milhões de novos consumidores que A equação é simples: a pessoa passa pela
ingressaram no mercado nos últimos loja, se encanta com o produto, olha o
dez anos e querem consumir moda”, ex- preço, vê que cabe no orçamento dela –
plica Juarez de Paula, gerente da UACC. não que seja barato, mas que está na faixa
A pesquisa revela, ainda, que o seg- de preço que pode pagar por ele – e com-
mento de moda é um dos que mais pra. “A compra vai depender muito mais
crescem com o avanço da Classe C. do interesse que o consumidor tem pela
Em 2012 houve um aumento de 153% moda, pelo produto e da valorização que
nos gastos da Classe C com produtos aquilo dá para ele”, avalia Prado.
de moda, em comparação a 2002. Fo- O crescimento do mercado brasi-
ram R$ 55,7 bilhões gastos com rou- leiro de moda atual é alavancado pe-
pas, sapatos e acessórios. “As classes las grandes varejistas, que investem
que mais consomem moda no Brasil fortemente em novas unidades e na
são a B e C, mas a C com mais força. diversificação dos produtos. As redes
Quando falamos em moda, pensamos de varejo especializadas em vestuário e
em grife, mas no Brasil isso não quer acessórios têm compreendido melhor o
dizer nada. Não é a renda que dita a novo consumidor brasileiro e possuem
aquisição, mas uma percepção de va- condições de continuar a crescer bem
Divulgação
do. O pequeno varejo, no entanto, tem multimarca viu sua participação no mer- queno sai porque não consegue pagar o
crescido a um ritmo menor. cado reduzir de 42% para 37% do volume custo do negócio. Não é rentável para ele”,
Segundo análise do IEMI sobre os total comercializado e, embora ainda explica o presidente do IEMI. O foco dos
canais de varejo da moda no Brasil, as preserve a posição como principal canal shoppings são as lojas monomarcas, que
pequenas lojas independentes, também de vendas para esta categoria de produto trabalham com giro e metragens meno-
conhecidas como pequeno varejo multi- no Brasil, em volume, empata em valores res, conseguindo ser rentáveis.
marca – mais de 118 mil pontos de venda (30%) com as lojas de departamento Na última década, foram erguidos
distribuídos por quase todos os municí- especializadas. Logo, a primeira posição 160 novos shoppings no Brasil, o que
pios e que historicamente sempre foram poderá ser perdida nos próximos anos. facilitou o crescimento de marcas pró-
o principal canal de venda de roupas no A explicação é simples. A expansão prias. “O Brasil ainda é o único lugar do
país –, não têm se beneficiado da atual dos shoppings diminui o avanço dos pe- mundo em que o mercado de shoppin-
expansão da demanda interna pelo pro- quenos negócios. “Os pequenos negócios gs centers está em expansão. Temos
duto. Com um crescimento de apenas 5% multimarcas não se sustentam em sho- novos shoppings sendo construídos
em volume de peças nos últimos cinco ppings. Quando gera tráfego e o shopping a cada ano, agora avançando para as
anos (2008 a 2012), o pequeno varejo começa a cobrar fundo de comércio, o pe- cidades de médio porte”, explica Jua-
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// MERCADO //
MAIO DE 2015 17
// MERCADO //
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// TENDÊNCIAS //
CAÇADORES
DE NOVOS
MERCADOS
AJUDAM VAREJO
A CRESCER
Divulgação
N
ão estranhe se você vir por de tendências, aquele que percebe uma pode ser o diferencial que faltava para
aí alguém fotografando direção que já está tomada. O chama- garantir o crescimento de uma loja. De
pessoas como se elas es- do cool hunter (literalmente traduzido posse de dados estratégicos, ele pode,
tivessem no tapete verme- para caçador de coisas bacanas) quer por exemplo, alimentar o negócio de
lho do Oscar, usando um modelito úni- identificar “espaços em branco” para informações para o fast fashion ou o vi-
co. Ou ainda esquadrinhando, com uma que a empresa que o contratou possa sual merchandising. Em geral, o foco de
grande angular, materiais excêntricos avançar no mercado por nichos ainda um cool hunter é bem amplo: a padro-
para serem aplicados na indústria da não explorados. nização de estratégia de informações
moda. Esses supostos voyeurs estão O cool hunter não busca detectar so- para o mercado. “São oportunidades
infiltrados pelos centros das grandes mente uma direção de comportamento, para o crescimento do negócio, inde-
cidades brasileiras com um objetivo ele se insere no grupo analisado, para pendentemente do tamanho da em-
principal: descobrir oportunidades ter oportunidade de prever seus dese- presa e de sua capacidade econômica”,
para o crescimento de um negócio. É jos. Para o pequeno varejo da moda, explica Carol Garcia, chefe da divisão
muito mais que o conhecido caçador contar com um especialista como esse de cultura da agência Nau.
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// TENDÊNCIAS //
O
modelo tem ares de novi- ganizativos para competir nas
dades no Brasil, mas quem indústrias híbridas, Enrico Cietta
o conhece apressa o passo. alerta que a velocidade é apenas
Toda semana tem roupa um aspecto desse negócio. “O êxi-
com cheiro de fábrica nas araras. Como to está na gerência da cadeia de
camaleões, as vitrinas se modificam produtividade”, ensina em obra de
e enchem os olhos dos consumidores tema raro no país. Para aderir ao
de moda. Não é preciso esperar mais modelo industrial e mercadológico,
as estações para saber qual a coleção que encurta o tempo de criação e pro-
concebida pelo estilista. Agora há os dução com um sistema de distribuição
designers, que criam dia e noite para eficiente e rápido, é preciso compreen- antenada para as últimas tendências,
abastecer a demanda do mercado se- der as diferenças do modelo padrão do oferecendo aos clientes o que há de
dento. O combustível para acelerá-lo é varejo da moda. “É uma revolução na mais novo. Isso resulta em alta produ-
o cliente. É ele quem determina o que maneira tradicional de apresentar as tividade e competitividade com pre-
vende e o que sai de linha. Nascido na coleções sazonais”, defende o especia- ços mais baixos, se comparado àquela
Europa, o fast fashion (presente no país lista e escritor italiano Enrico Cietta. marca cuja prioridade é a identidade
em marcas como Arezzo e Farm) está Adotar um ou outro implica um e o estilo. “O modelo do fast fashion
pronto para cair nas graças do pequeno alinhamento quase ideológico do pressupõe a capacidade de responder
empreendedor brasileiro. empreendedor frente ao mercado. Se ao comportamento dos produtos nas
Autor do livro A revolução do fast optar pelo fast fashion, o negócio vai lojas e sinalizadores de tendências, di-
fashion – Estratégias e modelos or- ter que se consolidar como uma marca recionando desenvolvimento e produ-
MAIO DE 2015 23
// TENDÊNCIAS //
ção para a cadeia produtiva”, observa o ças em liquidações. Sem perda de tem-
consultor Alberto Serrentino, fundador po, faz-se necessário parar de fabricar o
da Varese Retail (SP). que não está vendendo e abrir demanda
É preciso respirar junto com o ponto de produção para as novas coleções que
de venda. Monitorar o desempenho de estão sendo desenhadas, a partir da cap-
produtos e realimentar de informações
Douglas Luccena
tação das tendências.
a cadeia de produção, que planeja e No Brasil, a Arezzo lança cinco pro-
executa. “A integração da cadeia de for- dutos por dia, dois mil por ano, troca a
necedores é fundamental e a capacida- vitrine uma vez por semana e mantém
de de identificar tendências, postergan- o tempo de rotatividade de uma peça, PONTO A PONTO //
do as decisões sobre os produtos, leva
aos menores índices de erros”, avalia
nas lojas, em 45 dias. São variáveis que O PENSAMENTO
precisam ser monitoradas como indi-
Alberto Serrentino. cadores para o bom funcionamento do DE ALBERTO
VELOCIDADES VARIÁVEIS
sistema. E quem baliza esse círculo é o SERRENTINO
target da marca (definição do público-
Como os produtos têm vida curta e os -alvo). Ele controla a velocidade que va- EUROPA
estoques são baixos, a velocidade de re- ria de empresa a empresa. Na Europa, “O modelo nasceu e se popula-
torno obtida pela cadeia do fast fashion há o fast fashion de luxo, cujo tempo de rizou, é comum haver empresas de
dá a dinâmica da logística de produção. produção é maior do que o fast fashion pequeno e médio porte operando o
O objetivo do giro de estoque é reduzir de larga escala. Assim, as velocidades fast fashion. A Itália possui diversos
produtos encalhados e queimas de pe- se tornam quase singulares de cada operadores que desenvolvem e dis-
empreendedor. tribuem produtos em redes mono-
Acostumado a ver pequenos em- marca ou multimarca e que não são
Divulgação
AS DIFERENÇAS DE MODELOS
MODELO PADRÃO FAST FASHION
Fonte: Sebrae
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// CADEIA PRODUTIVA //
INDÚSTRIA E VAREJO
DEVEM CAMINHAR JUNTOS
A
Fortalecimento da indústria da moda é um dos
mais importantes setores da
mil empresas formais e 5,5% do PIB da
indústria de transformação, o setor ge-
articulação entre economia brasileira. Sua ca- rou R$ 140 bilhões em 2012, segundo
elos da cadeia deia produtiva, que contem- relatório setorial da Texbrasil. Quando
pla os segmentos de têxtil e confecção, à geração de postos de trabalho, é o
é alternativa couro e calçados, e gemas e joias, é segundo maior empregador do país,
estratégica para os reconhecida pelo elevado potencial de sendo responsável por 2,4 milhões de
MAIO DE 2015 27
// CADEIA PRODUTIVA //
O VAREJO
Na ponta da cadeia produtiva da
moda está o varejo, que também tem
recebido apoio para continuar crescen-
do. De acordo com pesquisas do IEMI, as
lojas independentes representam 20%
da distribuição da confecção no Brasil e
16% da venda de calçados. Elas são, para
as pequenas indústrias, o principal canal
de distribuição da produção de moda.
Análise feita pelo Sebrae mostra que
o ponto de venda é relevante na estra-
tégia comercial da indústria porque é
lá que o consumidor decide a compra e
fornece informações sobre preferências
e perfil de consumo, faz reclamações e
avalia o produto. A indústria, por sua
vez, fornece ao varejo informações im-
portantes sobre tendências de moda,
pelo Sebrae em projetos que envolvem 243 cursos e 1,7 mil palestras, além de
novos produtos e novas tecnologias.
incremento tecnológico, inteligência nove missões técnicas.
“A integração da indústria com o
competitiva, ampliação de mercado e No segmento de têxtil e confecção,
varejo é uma alternativa estratégica
aumento das vendas. as maiores concentrações de pequenos para os pequenos negócios da moda.
Para auxiliar na sobrevivência sus- negócios industriais estão nas confec- Os resultados são maior velocidade de
tentável e competitiva desses empre- ções, facções e no beneficiamento de inserção de novos produtos no merca-
endimentos, o Sebrae e o Senai, por tecidos e artigos de vestuário. Os três do, aumento no nível de serviço para o
exemplo, promovem o convênio “Moda: elos da cadeia são o foco de atendi- consumidor final, fidelização à marca
ações criativas para o fortalecimento da mento do Sebrae na parte de vestuário. e à loja e um aumento das vendas em
competitividade industrial”. O projeto Para a indústria de couro e calçados, a todos os elos da cadeia”, revela Roberta
mapeia tendências e orienta os donos maior concentração de pequenos negó- Aviz, da Coordenação Nacional da In-
de negócio do setor têxtil a incorporar cios está na produção final de calçados dústria da Moda do Sebrae.
inovação na elaboração de seus produ- e artefatos, foco prioritário do Sebrae. O atendimento prestado pelo Se-
tos. O convênio vai beneficiar cerca de E na indústria de gemas, joias e afins, brae aos empreendedores de moda é
120 mil empresas em ações que aju- quase a totalidade é de pequenos negó- diferente quando o assunto é indústria
dam a promover a inovação necessária cios. Os elos da cadeia com maior con- e quando é varejo, principalmente por-
para o setor nacional enfrentar a con- centração de empresas são a produção que fabricantes e lojistas têm necessi-
corrência estrangeira. Até 2017, serão final de bijuterias, joias e folheados. dades diferentes. Enquanto a Unidade
Lapidação de gemas e
fabricação de artefatos:
1.008 micro; 164 pequenas;
e 7 médias.
Fabricação de bijuterias
e artefatos: 578 micro;
Fonte: Rais/MTE (Relação Anual de
103 pequenas; e 6 médias. Informações Sociais, Ministério do
Trabalho e Emprego) de 2011
de Atendimento Coletivo – Indústria Para Juarez, o setor tende a crescer. fiação, a tecelagem, o acabamento e
(Uacin) foca em redução de custos de “Mesmo com um cenário menos pro- a confecção. Sua complexidade, que
produção, melhorias de maquinário e missor, tanto na indústria quanto no em um primeiro momento pode-
do processo produtivo, inovação que varejo, o setor da moda é sempre forte ria dificultar o crescimento de uma
resulte em mais produtividade e mais porque o consumo dele é permanen- grande marca, permite, no entanto,
competitividade da indústria, no varejo te, as pessoas não podem deixar de se a inclusão dos pequenos negócios
são trabalhados elementos que resul- vestir. Então, sempre há pessoas consu- na produção. Ao participar da cadeia
tem em aumento de vendas e cresci- mindo moda”, acredita. produtiva como fornecedor, o peque-
mento das lojas. Atratividade da loja e no negócio aumenta a sua competi-
melhorias nas vitrines para aumentar tividade, inova e promove o desen-
o fluxo de clientes, redução de custos,
ENCADEAMENTO volvimento sustentável, enquanto a
marketing, atendimento e fluxo de es- PRODUTIVO NA MODA grande empresa otimiza seus produ-
toque, por exemplo, fazem parte dos tos e serviços, reduz custos e amplia
atendimentos prestados pela Unidade A indústria da moda possui grande sua flexibilidade e agilidade.
de Atendimento Coletivo – Comércio potencial para projetos de encadea- Dentre os 300 maiores contri-
(UACC). “A ideia é, nos dois casos, for- mento produtivo. A cadeia é uma das buintes do Sebrae, foram identifica-
talecer o negócio”, explica Juarez de mais amplas no mercado, composta das diversas empresas do segmento
Paula, gerente da Unidade. por várias etapas produtivas como a da moda para trabalhar como âncoras
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// CADEIA PRODUTIVA //
Divulgação
empresas e as chamadas empresas
âncoras. É o caso do convênio entre
o Sebrae em SC e a Tecnoblu, no Vale
do Itajaí, que beneficiou vinte e cinco gerar 20 mil empregos diretos, com
pequenos negócios, entre faccionistas produção diária de 150 mil peças.
e representantes comerciais, em um O funcionário público José Medei-
projeto de produção e revenda para a ros de Araújo já faz parte do projeto.
fabricante de etiquetas, tags, botões Após participar do Empretec do Se-
e outros complementos decorativos, brae, Araújo decidiu entrar no ramo de
"HÁ ESPAÇO que tem clientes como Colcci, Hering, confecções, trabalhando no modelo de
PARA A MODA Malwee, Riachuelo e Renner. facções. Desde o primeiro contrato com
Antes mesmo de consolidar um a Hering, em 2007, e a expansão de
BRASILEIRA NO projeto de encadeamento produtivo, seu negócio com prestação de serviços
MERCADO EXTERIOR, o Sebrae no Rio Grande do Norte já também para a Guararapes, Araújo viu
investe em parcerias com grandes seu faturamento crescer 30% ao ano e
DESDE QUE HAJA marcas para estimular o crescimen- encerrou 2013 com R$ 1,8 milhão de
INVESTIMENTO NO to das micro e pequenas confecções. receita. “Comecei tudo com a ajuda do
Dentro do Pró Sertão, a instituição Sebrae e do Senai. Hoje produzimos
MADE IN BRASIL" apoia a implementação, desenvolvi- 2.400 peças por dia, com capacidade
Roberto Davidowicz, mento e expansão de cerca de 300 para 2.900, e temos 122 empregados”,
presidente da Abest facções de costura até 2018 e deve explica o empreendedor.
MAIO DE 2015 31
// COMPORTAMENTO //
H
iperconectado, interessado, em uma loja, em detrimento de outra. hábitos, interesses e gostos desse con-
diversificado, impulsivo e, A consultora em gestão estratégica sumidor, o que ele faz, que suportes uti-
principalmente, apaixo- do mercado de moda Tetê Rebello tem liza para se conectar, exatamente para
nado. Ao traçar o perfil do focado pesquisas de comportamento entender a cabeça dele e trabalhar es-
novo consumidor de moda no Brasil, a do consumidor na cultura digital. Ela tratégias focadas”, revela.
unanimidade entre os especialistas é acredita que existem muitas variáveis, O aumento da renda média das famí-
que o brasileiro hoje está muito mais in- entre influências culturais, econômicas lias também é avaliado quando se quer
teressado em moda e a consome, mes- e sociais, que precisam ser conside- entender o novo consumidor no Brasil.
mo que não vá às compras. O cenário radas na análise desse novo perfil. “O A mudança no perfil de consumo se ex-
do consumo vem mudando nos últimos mais difícil de detectar é aquilo que plica porque a maneira como a pessoa
dez anos e quem estuda o setor adapta, nos afeta internamente. Hoje quem se veste deixa transparecer ascensão
desde então, a maneira de mensurar o trabalha com pesquisa de mercado, de social e melhoria de renda. “O momento
que motiva esse consumidor a comprar cool-hunting, se preocupa mais com os é apropriado para convencer o consumi-
dor de que vale a pena investir no visual.
As pessoas gostam de estar bem vesti-
das, com peças atuais e hoje têm mui-
to mais acesso à informação de moda”,
acredita o stylist Fernando Lackman.
A pesquisa “Comportamento de
Compra do Consumidor de Vestuário”,
feita pelo Instituto de Estudos e Marke-
ting Industrial (IEMI), em 2012, revela
que 92% dos 4 mil consumidores ouvi-
dos querem estar bem-vestidos. Des-
ses, 44% são pessoas antenadas
MAIO DE 2015 33
// COMPORTAMENTO //
vo para comprar determinada marca, PERFIS DE CONSUMO do que o planejado para exibir estilo ou
mas uma vez que a procura em um para mostrar a própria personalidade.
dos canais comunicacionais, já está Além disso, duas em cada dez pessoas
consumindo de alguma forma essa (22,8%) concordam que vale a pena fa-
marca. Consome a ideia, o conceito, zer uma dívida para comprar uma rou-
as experiências que ela propõe.” Funcional: pa que as tornem especiais, enquanto
Na prática, o novo consumidor de
moda já não se contenta em comprar
50,7% 21% dos entrevistados fazem gastos
não planejados somente para se senti-
escolhe suas compras de
um produto. Ele está atrás de experiên- acordo com o que já possui; rem valorizados.
cias que deem significado às aquisições geralmente compra em épocas Um estudo do IEMI, datado de 2012,
de liquidações
e justifiquem o consumo. Por isso, o também aponta distintos perfis de
pequeno empresário interessado em se consumidores de vestuário.
lançar no varejo da moda, explica a co- Para o diretor do IBModa, mesmo
ordenadora de moda do Sebrae no Rio com esses dados, ainda é difícil definir
de Janeiro, Fabiana Pereira Leite, deve Seguidor o perfil do consumidor de moda. “Idade
pesquisar e se planejar. “Comprar moda
tem muito a ver com autoestima, com a
36,8% e classe social já não são variáveis tão
importantes para segmentar o perfil do
gosta de moda e sempre
pessoa se sentir bem, por isso o varejis- procura novidades consumidor de moda. O que realmente
ta precisa pesquisar, principalmente, o vai definir é a própria moda ditada nas
comportamento de consumo e tendên- ruas, na internet, nas novelas, na vida
cias do comportamento do consumidor, pessoal”, acredita. Para André Robic, o
para entender o que faz uma pessoa grande desafio dos pequenos é enten-
sair de casa para ir àquela loja comprar Independente der o estilo de vida, aspirações e visões
um produto de moda”, ensina. de mundo do seu público-alvo e tradu-
José Vignoli, educador financeiro do 8,5% zir tudo isso na personalidade do seu
portal Meu Bolso Feliz, concorda que o consome roupas e acessórios negócio, nas peças de moda que vende.
somente em último caso, é
atendimento e ambiente acolhedores impulsionado apenas pela O professor Pastore defende que
conquistam o cliente. “O ato de com- necessidade uma boa maneira de alcançar esse
prar pode provocar uma sensação de público é investir em tecnologia e
bem-estar, euforia e relaxamento. Um relacionamento. “O pequeno ganha
ambiente propício induz ainda mais no atendimento, pois conhece seus
o consumo”, afirma Vignoli. Pesquisa Multiplicador clientes pelo nome e os atende pes-
recente do portal, com 656 consumi-
dores, aponta o comportamento do
4% soalmente, então, o que ele precisa é
ter conhecimento e processos bem de-
é o primeiro a adquirir
consumidor de moda. Revela que 64,2% novidades, lê e se informa finidos, investir em tecnologia – e hoje
fizeram compras, por impulso, de arti- sobre moda, gosta de consumir isso é barato, existem softwares de
marcas e tem maior gasto
gos de que não precisavam, enquanto pessoal médio com moda gestão bem em conta – e estabelecer
14,7% dos consumidores gastam mais bons canais com o cliente”, defende.
Fotos: Divulgação
Fenômeno que surgiu há poucos e reconhecimento. Mas isso é caríssimo,
anos, a explosão de blogueiras e celebri- então, o que vem funcionando muito
dades de internet que falam sobre moda bem são as blogueiras, as celebridades
e estilo de vida virou febre e é mais uma ou formadoras de opinião locais”, revela.
ferramenta de divulgação de tendências. A pesquisadora acredita que o au-
Há centenas de blogs brasileiros que fa- mento do interesse pelas marcas apre-
lam exclusivamente sobre o assunto, o sentadas por essas pessoas, em blogs e
que leva a um aumento natural do in- redes sociais, se deve a um “interesse
teresse pelo tema e, consequentemen- aspiracional”, ao desejo de saber o que
te, do consumo das marcas usadas por ocorre em classes mais altas. “Bloguei-
quem as divulga nessa mídia. Segundo ras mais conhecidas, como a Camila
dados da comScore – empresa mundial Coutinho (blog Garotas Estúpidas) ou
que observa o comportamento dos usu- a Thássia (do blogdathassia), que hoje
ários de internet –, mais de três quartos têm cachês de celebridades, represen-
da população online brasileira (77,3%) tam um aspiracional de classe A, de
acessam mensalmente blogs famosos marcas internacionais, que as consu-
em busca de informações sobre moda. midoras da classe C vão seguir porque
Alçadas ao posto de formadoras de querem saber o que elas estão consu-
opinião, essas celebridades que foram mindo, que marcas estão divulgando,
surgindo de forma despretensiosa come- que hotéis frequentam”, explica.
çaram a acumular milhões de seguidores, O varejista que decidir investir nes-
mostrando seu estilo próprio e contando se tipo de parceria, no entanto, precisa
histórias pessoais. A linguagem informal escolher personalidades que tenham o
e a proximidade com esses seguidores perfil do seu negócio. “Ele precisa es-
conferiram credibilidade aos blogs e, tar atento para não escolher alguém
assim, a postagem de conteúdos diários que não represente seu público. Às
abriu espaço para a divulgação de produ- vezes a marca está posicionada para a
tos, em parceria com marcas e lojas. classe C e o empresário quer trabalhar
MAIO DE 2015 35
// COMPORTAMENTO //
com uma blogueira que tem um per- de looks diários do Brasil. “O blog nasceu
fil mais para a classe A. Vai ficar uma para democratizar a moda. Era sobre
coisa meio desconectada”, ensina Tetê gente que usa moda, falando disso sem
Rebello. Nesses casos, vale investir ter estudado. Eu falo da valorização do
em uma blogueira antenada, viajada, próprio corpo, do estilo pessoal e de que
alguém mais ligado à moda, para par- não é preciso ter todos os lançamentos
ticipar de coquetéis, lançamentos de da temporada para construir um guarda-
coleções, editoriais e merchandising -roupa eficiente”, lembra Cris.
nas páginas próprias. “A dica para o Com um público fiel – em seu perfil
pequeno é achar essa referência na do Instagram são mais de 23 mil se-
cidade dele, que vai influenciar um guidores –, o site cresceu e acabou se
grupo próximo a ela para divulgar a tornando vitrine de marcas nacionais
marca, sempre de forma bem subjeti- interessadas em atingir possíveis con-
va”, afirma a pesquisadora. sumidoras. Esse movimento, na opinião
É preciso, entretanto, ter cuidado da blogueira, é algo natural e pode fun-
com a propaganda excessiva. O con- cionar, mas inspira cuidado: “As marcas
sumidor quer informações para se po- ganharam uma nova forma de se comu-
sicionar, quer conhecer aquilo que a nicar com as consumidoras de moda,
Fernando Martins
blogueira experimentou e aprovou, não mas não pode ser nada forçado”.
quer ver publieditoriais. Foi assim que o Cris inspirou toda uma geração de
movimento começou, mas algumas de- blogueiras de moda, que hoje tomam
las se perderam comercialmente e aca- conta da internet. A publicitária, no
baram perdendo seguidores. “Os blogs entanto, acredita que o papel desses si-
e redes sociais de celebridades são tes de moda deve ser fazer as pessoas
mais uma ferramenta que ajuda a for- pensarem a moda de forma diferente, e
mar uma opinião de moda, mas quem não incentivar o consumo desenfreado.
tenta forçar um consumo de marca ou “Esse movimento das superblogueiras
de produto acaba perdendo pontos”, de querer ditar moda, de querer fazer as
concorda André Robic. pessoas comprarem essa ou aquela mar-
ca, me dá uma preguiça enorme porque
elas se tornam ferramenta da escravi-
CRIS GUERRA – HOJE zação da moda. Acho lamentável que
VOU ASSIM (BH) essas jovens façam isso, ao invés de dar
ideias e provocar a inspiração”, critica.
No universo das blogueiras e celebri- Mesmo quando a parceria é com
dades da internet, o Hoje vou Assim, cria- pequenas lojas de varejo, a bloguei-
do pela publicitária mineira Cris Guerra, ra preza pela honestidade com as fãs.
em 2007, é considerado o primeiro site “Nunca fecho uma parceria sem pensar
MAIO DE 2015 37
// COMPORTAMENTO //
tenham o meu perfil mesmo, peças que te trabalhava no quintal de casa, mas
MAIO DE 2015 39
// COMPORTAMENTO //
P
ode parecer clichê dizer que alavancado pelo surgimento do byMK,
está na moda trabalhar o vare- precursor da rede social de moda, criado
jo da moda nas redes sociais, por ele e Renato Steinberg para suas es-
mas os dados não mentem. posas, Marcela e Karen, com a proposta
Os varejistas do setor que investem no de ser uma loja virtual de moda. “Nosso
relacionamento digital com seus consu- site deu voz ao consumidor. Antes dele,
midores conquistam seguidores, conhe- você via tendência nas novelas ou revis-
cem melhor seu público-alvo, divulgam tas. Com ele, pela primeira vez, a pessoa
suas peças e, acima de tudo, vendem tinha uma ferramenta em que podia se
mais. O número de brasileiros conecta- expressar, mostrar o que gostava e o que
dos à internet passa dos 120 milhões, não gostava, antes do Instagram e dos
estando 98% deles cadastrados em al- blogs ficarem famosos.”
guma rede social, sendo o Facebook a O sucesso do site conquistou inves-
plataforma com maior número de usu- tidores e os sócios o transformaram
ários. Os dados são da empresa E.Life, no Fashion.me, que em menos de um
líder em monitoramento, análise da mí- ano já tinha mais de 1 milhão de usu-
dia gerada pelo consumidor e gestão de mente ligado ao avanço das redes sociais ários e 600 mil visualizações por dia.
relacionamento em mídias sociais na no Brasil. “As redes permitiram que qual- Na rede social segmentada, as marcas
América Latina e Portugal. quer pessoa tivesse acesso às marcas e podem usar seus perfis como vitrine
Para Flávio Pripas, criador da rede de lojas, aumentaram o debate em torno das peças, que são utilizadas por to-
moda Fashion.me, o crescimento do in- do assunto, democratizaram a moda”, dos os outros usuários para criar looks
teresse no mercado de moda está direta- acredita. O movimento, segundo ele, foi exclusivos. “Nunca vendemos nada no
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// CONECTIVIDADE //
Saionara Bandeira
mero de 200 milhões de usuários ati-
vos, e, embora não divulgue números
regionais, por entender que “todas as
pessoas cadastradas no Instagram fa-
zem parte de uma grande comunidade
criativa”, já conta com 20 bilhões de versam, porque trabalham a verdadeira MARIA CANELA – RS (SAPATOS
fotos. Em média, são compartilhadas democratização da moda”, acredita. FEMININOS)
60 milhões de fotos por dia, gerando Alguns varejistas menores e marcas
cerca de 1,6 bilhão de likes diários. que estão começando usam a plata-
KARINE DE BEM
Segundo a gerente de comunicação forma para fechar vendas, associada CARDOSO
do Instagram para a América Latina, ao whatsapp ou a contatos via e-mail.
Melissa Amorim, Instagram e moda Segundo Tamanaha, desde 2013 o Ins- Com pouco mais de 80 mil habi-
andam de mãos dadas. “A hashtag tagram disponibiliza, também, uma tantes, mas considerada uma das dez
#fashion esteve entre as cinco mais ferramenta de venda chamada Arco.vc, cidades gaúchas com melhor qualidade
usadas em 2013 e, atualmente, já conta em que o cliente pode usar um sistema de vida, Ijuí, no Rio Grande do Sul, foi
com mais de 14 milhões de menções no de pagamento via e-mail (Paypal), e a escolhida por Karine de Bem Cardoso
aplicativo (dados de outubro de 2014)”, que já tem 500 vendedores. “Apesar de para inaugurar a loja Maria Canela. “Eu
exemplifica. Para Melissa, as marcas e ainda não estar sendo muito utilizada, sempre fui apaixonada por sapatos, mas
a indústria da moda têm, no aplicativo, a ferramenta pode facilitar a conversão durante um intercâmbio nos Estados
a oportunidade de mostrar mais do que das redes sociais em vendas”, acredita. Unidos, onde gerenciei a Aldo Shoes,
suas roupas. “O Instagram é um parque Para os empresários interessados vivenciei vários padrões de gestão que
de diversões para pessoas criativas. em utilizar o Instagram para divulgar incentivaram ainda mais o meu sonho
Nesse cenário, os pequenos negócios de ou consolidar suas marcas e empresas de empreendimento: um novo conceito
varejo da moda reforçam e fortalecem a no mercado, a rede mantém um blog de loja de calçados”, conta.
relação do aplicativo com o universo da dedicado ao uso do aplicativo para A estratégia foi investir em sapatos
moda, independentemente do tamanho negócios: o Instagram for Business e acessórios de alto valor agregado, com
dos negócios e do público com que con- (http://business.instagram.com/). um mix de marcas famosas no país.
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// CONECTIVIDADE //
MAIO DE 2015 45
// CONECTIVIDADE //
CHLOE LERINA E
MARIANA CINTRA
As amigas e sócias da marca carioca
Que isso Querida!, Chloe Lerina e Maria-
na Cintra, souberam unir, como poucas,
o perfume vintage de suas peças com
novas tecnologias, gadgets, mídias e
Fotos: Divulgação
redes sociais. “Começamos com o Face-
book, criamos um blog, depois passamos
para uma atualização diária do perfil
do Instagram e estamos relançando o
e-commerce”, explica Mariana. logo que ela postou a foto usando a QiQ
Para as estilistas, o investimento de mais de 200 pessoas começaram a nos
tempo e atenção aos consumidores nas seguir. Foi instantâneo”, conta Mariana.
redes sociais é válido. “O Instagram nos A marca, que começou há três anos,
dá um resultado imediato, as pessoas conquistou clientela e, depois de partici-
querem comprar pelo nosso perfil, agen- par de diversas feiras, foi convidada pelo
dam visitas por lá, são marcadas por Sebrae no Rio de Janeiro a fazer parte do
amigos nas nossas fotos e se identifi- grupo Nucleum Moda, que oferece uma
cam com a marca”, comemora Mariana. curadoria a novos talentos. “Desde o co-
Os perfis são utilizados para convidar meço do grupo participamos do Fashion
pessoas para eventos que ampliam as Business, que depois virou Salão Bossa
possibilidades de negócios. “Como so- Nova, do Fashion Rio, onde ampliamos
mos uma marca muito pequena, ainda nosso leque de clientes no atacado, e
conseguimos ser intimistas. Queremos aprendemos sobre este mercado. O Se-
encantar o consumidor, queremos que brae abriu muitas portas para a gente,
ele nos acompanhe e que não seja ‘só para o nosso crescimento.”
mais um’ na nossa timeline.” Hoje, as estilistas investem em uma
A QiQ também é queridinha das grade enxuta, mas estão abertas a pe-
blogueiras, mesmo que Chloe e Maria- didos mais personalizados. “Agora, que
na nunca tenham desembolsado um estamos nos estruturando melhor no
centavo em parcerias com blogs. “Já varejo, se alguém quiser comprar para
aconteceu de mandarmos uma peça vender em multimarcas e pedir uma
para a Camila Coutinho, por exemplo, e grade pequena, nós fazemos.
COMPRAR
ROUPAS PELA
INTERNET
VIRA MODA
Há dois anos, setor lidera e-commerce
com perspectivas de crescimento e atrai
empreendedores do tradicional varejo
N
o primeiro semestre de
2014, o comércio eletrô-
nico no Brasil faturou R$
16,06 bilhões, o que re-
presenta um crescimento nominal de
26% em relação ao mesmo período de
2013, segundo pesquisa da empresa
e-bit. No último biênio, a categoria
moda e acessórios tornou-se líder ab-
soluta de vendas e movimentou 18%
do número total de pedidos na web.
Há um ano, o comércio de roupas pu-
lou de 13,7% para o patamar atual.
Há 26 anos no mercado, a empresa
Adriana Rufato (SP) pôs a marca em
sistema online em 2013, contratando
MAIO DE 2015 47
// E-COMMERCE //
Fotos: Divulgação
quatro funcionários. Um ano depois, TV Sebrae, para a necessidade de estu-
dobrou a equipe e aumentou as vendas dos dos detalhes antes de pôr o site no
em 43,3%. Na loja virtual Adriana Rufa- ar. “É como a montagem de um quebra-
to, o e-consumidor, além de escolher as -cabeça. É preciso entender bem do ne-
estampas das camisetas, pode sugerir gócio antes de escolher a plataforma de
uma criação exclusiva. navegação. É necessário customizá-la
A decisão de entrar no e-commerce com seu produto. Depois, o empresário
de moda foi planejada. O empresário precisa dominar desde os riscos de frau-
José Claudemir Rufato revela: “Alte- des ao sistema de logística reversa, em
ramos desde a configuração do produto caso de devolução do produto”, ensina.
vendido até a aquisição de máquinas e
equipamentos que viabilizariam a ope- VITRINES VIRTUAIS
ração, incluindo a compra de softwares.
A equipe exclusiva do e-commerce tem Se hoje o mercado de moda lidera
o compromisso de atender ao pedido o comércio eletrônico, foi necessário
do cliente e o produto é postado em vencer alguns tabus. O primeiro deles:
menos de 24 horas”. a percepção táctil da mercadoria. Para
vencer a experiência física dos prova-
QUEBRA DAS PAREDES dores das lojas, é preciso investir na
qualidade da foto do produto oferecido,
Pôr um negócio na internet significa na descrição das peças e no design do
tê-lo funcionando 24 horas e em rede site. “É preciso criá-lo como se estivesse
mundial. É a implosão das quatro pare- decorando uma vitrine”, ensina o pro-
des e do regime em horário comercial. fessor Paulo Chacur.
A lógica de vendas e de operação muda Transformar a apresentação das
completamente em relação à loja físi- roupas em quase um ensaio de moda,
ca. No mercado desde 1995, a Therelli com modelos profissionais clicados em
(SP) experimentou a abrangência ao estúdios, além do detalhamento de
entrar no e-commerce. “No mundo do acabamento da peça. Esse é um dos
e-commerce, não existem paredes que segredos da marca Gabriela Faraco,
barrem os limites de alcance nacional de Santa Catarina, cujo site tem um
que a Therelli possa atender, diferen- cuidado especial com o tratamento
temente de uma loja física, na qual a visual. E é Gabriela quem fotografa
presença da marca depende da quan- e movimenta as mídias sociais. “Não
tidade de lojas”, aponta a proprietária e tenho loja física. Tenho uma fábrica.
estilista Teresa Lima. Meu produto ganha o mundo pela in-
Especialista em e-commerce, Paulo ternet. É muito importante valorizá-
Chacur alerta, em palestras virtuais na -lo em detalhes”, conta.
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// E-COMMERCE //
Fotos: Divulgação
Galpão da Dafiti
“detalhes do produto”, na qual terá in- de online no primeiro ano de existên- as características do produto (tamanho,
formações pormenorizadas sobre a ma- cia. Só em 2012, foram 2,3 bilhões de numeração e cor). “O ideal é que a plata-
téria-prima e as medidas do modelo. visualizações em anúncios. Hoje, os forma baixe automaticamente o produto
Um dos quatro sócios da Dafiti, o ale- principais portais de notícias, blogs e as quando o e-consumidor efetuar a com-
mão Malte Huffmann, conta que, em redes sociais estão repletos de banners pra”, destaca Paulo Chacur.
2011 (ano da criação), havia demanda de patrocinados – o que ajudou a fortale- Outro aspecto crucial é a política da lo-
mercado, mas poucas empresas tinham cer a relação entre o e-consumidor e a gística reversa (devolução), caso o cliente
boas ofertas. Contra o negócio, imperava e-loja, criando um nível de satisfação rejeite o produto. Primeiro, deve-se avaliar
o ceticismo: moda na internet era um de 90% (contra 74% do e-commerce). se o produto tem avarias e se há possibili-
negócio fadado a não dar certo. “Começa- dade de seu retorno ao site. É preciso que
mos com sapatos e foi um sucesso ime- SEGMENTO REQUER esteja assegurada a troca imediata caso
diato, aumentando o tráfego de clientes CUIDADOS ESPECIAIS algo esteja em não conformidade com a
para o site”. Do Brasil, a marca expandiu compra. No caso da moda, essa equação é
sites autônomos para o Chile, a Argenti- Apesar de seguir as regras básicas da sensível. Ao receber o produto em casa, o
na, a Colômbia e o México. Recentemen- operação de uma loja virtual, o e-com- e-consumidor vai reproduzir aquela rela-
te, construiu um centro em Jundiaí capaz merce de moda requer alguns cuidados ção táctil e perceptiva que faria se tivesse
de armazenar 10 milhões de peças. especiais de gestão. As peças que estão visto o produto pela primeira vez numa
O surgimento da Dafiti mudou a re- à venda na plataforma devem espelhar vitrine. E essa experiência continua sendo
lação de mercado, sobretudo, porque a fielmente as encontradas nas prateleiras o ritual que celebra o namoro ou a sepa-
empresa investiu pesado em publicida- físicas, sobretudo, nos itens que definem ração entre o corpo e a roupa.
MAIO DE 2015 51
// BRANDING //
QUANDO A
MARCA É O
PATRIMÔNIO
Daniel Pinheiro/Divulgação
Divulgação
mestre em educação Álvaro Guillermo,
formação em branding, Gabriel Lira,
no livro Branding design e estraté-
um dos três sócios, debruçou-se sobre
gias de marcas (Demais Editora).
a prancheta para estudar a marca que
O branding é o processo de estudo
simbolizaria o seu negócio. Ao lado da desenho de identidade de comunicação,
dinâmico que ajuda a clarear e desen-
amiga Rafaela Menezes, foi montando associando as linhas de tênis ao universo
volver esse complexo e delicado mo-
os pilares e conceitos que norteavam da música pop. Os modelos se referem a
mento chamado planejamento e estra-
a criação. A ideia original de que cada ícones como Mick Jagger, John Lennon e
tégia de negócios. É um plano vivo que Queen”, conta Gabriel Lira.
consumidor teria o tênis do seu jeito, no
vai nortear a marca no momento de O estudo de branding para a MUV
estilo “faça você mesmo”, tornou o negó-
contato com o consumidor. Para Dani- Shoes deu resultado imediato. Gabriel
cio único. No processo de concepção e
lo Cid, não há dúvidas. A conceituação Lira passou a perceber que o consumi-
planejamento da empresa, a MUV Shoes
da marca é a chave dessa equação. É o integrou uma série de treinamentos de dor se associa aos valores intangíveis
capacitação oferecida pelo Sebrae. embutidos na marca, como se estivesse
Assim surgiu, com força, a imagem vivendo uma experiência de ser autênti-
da assinatura como forma de fornecer co a partir da aquisição de um tênis que
crédito ao que é autoral e único. “A par- ele ajudou a idealizar. Sente que pulou
tir daí, pegamos o caminho criativo para etapas de conceituação do produto. “São
realizar uma série de estudos que chegou degraus que algumas empresas penam
às referências artísticas como o grafite, o para galgar. Percebo que nosso cliente
que definiu a tipologia da letra. Com essa olha a embalagem, o cartão de visita, o
primeira etapa definida, construímos um produto e vê a qualidade e a credibilida-
MAIO DE 2015 53
// BRANDING //
de que queremos passar. Alguns acham GLOSSÁRIO concorrência. É por isso, também,
que ela não pode ser confundida com
que somos uma multinacional. Não, so-
• Branding – Para a American Marketing outras ou ser tão “corretinha”, pois
mos uma pequena empresa.” passa despercebida.
Association, branding não é fazer com
A experiência da MUV Shoes mostra que um consumidor escolha a sua marca • Brand loyalty – A fidelidade à marca.
que branding pode e deve estar próxi- em vez da concorrente. É fazer com Os consumidores querem coisas novas,
que um potencial consumidor perceba mas que sejam relevantes, éticas e
mo ao negócio de pequeno porte. Ga-
a marca como a única solução para o tenham aderência aos seus estilos de
briel Lira observa que o custo com uma que ele busca. Branding é um sistema vida. É a fidelidade que vai permitir
empresa de design para desenvolver de comunicação que deixa claro por que a recompra, uma identificação mais
a marca importa. É achar e comunicar rápida em uma arena de consumo,
o projeto de branding pode ser ¼ do
algo que atraia os consumidores para a como uma grande loja, uma vez que
montante investido em infraestrutura. essa marca já faz parte do repertório
marca, em vez de você ter que caçá-los
Danilo Cid vai além. Para ele, o bran- de modos, algumas vezes, bem caros. do consumidor. A fidelidade só é
ding é uma estratégia de diferenciação • Brand equity – Mensura o valor do que construída com ações consistentes e
há de intangível na marca. Todas as bem implementadas, coerentes com a
eficaz em relação à enorme quantida-
dimensões psicológicas e emocionais personalidade da marca.
de de concorrentes. Portanto, inevitá- que estabelecem um vínculo profundo • Qualidade percebida – É o tipo de
vel para quem quer se estabelecer no entre a marca e seus públicos. qualidade que os públicos da marca
• Brand associations – A identidade percebem em todas as dimensões do
mercado. “Um investimento em marca,
da marca. É o conjunto de dimensões negócio: do produto, do atendimento,
compatível com a realidade do negócio, dos serviços e processos internos. Tudo
associativas e visuais que uma marca
traz resultados rápidos, seja na constru- pode fazer gestão e que vão além isso perpassa pelo território do branding,
ção de uma imagem clara, seja no de- de uma logo. Alguns envolvem cor da estratégia de marca da empresa. É
e textura, símbolos, iconografia, esse território que estrutura a qualidade
senvolvimento de uma cultura interna, visual, associativa, emocional e sensorial
tipografia, som, cheiro, forma,
seja numa proposta de valor que inspi- comportamento, ritual, navegação. de tudo o que é percebido pelos públicos
re o negócio e a criação e otimização de • Brand awareness – O conhecimento da marca. E é por causa dessa qualidade
da marca. Para a marca, ser conhecida que as pessoas convidam uma marca a
um portfólio de ofertas”, aponta.
é fundamental para ter seu lugar na fazer parte de suas vidas.
mente das pessoas diante da vastidão
OS CAMINHOS de ofertas e produtos e da grande Fonte: Danilo Cid (Ana Couto Branding)
DA CRIAÇÃO
Criar um território sensorial sinérgico que pois cada item é um capítulo da histó-
Quando um cliente procura Danilo vai passar por todos os estímulos visuais ria que contamos. E se o mercado exigir
Cid para conceituar a sua marca, ele (nome, símbolo, logotipo, cor, tipografia, mudanças, o sistema tem que ser bom
define um caminho aqui simplificado: imagem, texturas, ilustrações, tipo de o suficiente para que possa absorver es-
Ter clara a personalidade. Ter uma materiais etc.), pelo jeito de falar, de es- sas mudanças sem perder a coerência. É
proposta de valor que sintetize essa crever, de dialogar em redes sociais, pelo como uma substância que se adapta sem
personalidade e que inspire as pessoas treinamento dos vendedores, e assim por perder o seu reconhecimento.
que trabalham para a marca, os públi- diante. Pode-se, ainda, expandir para estí- Branding é um verbo no presente
cos em geral e suas coleções. mulos sensoriais, como cheiro e som. contínuo – o que significa que, todos os
Criar um campo associativo e visu- Toda essa estratégia precisa ser imple- dias, cada atitude tem de ser alinhada
al que potencialize essa personalidade. mentada com coerência e consistência, com esse plano. É disciplina diária.
As ferramentas
do visual
merchandising
tornam o ponto
de venda um
ambiente que
proporciona
ao cliente uma
experiência de
Divulgação
sentidos
F
oi-se o tempo em que uma conjunto de técnicas, batizado de visu- deliciar-se com um suco de frutas da
loja de roupas se limitava a ter al merchandising. A ambiência sofisti- estação. Tudo agregado num espaço
meia dúzia de manequins na cou-se a tal ponto que o comprador cercado de cores e luzes harmônicas.
vitrine e um letreiro luminoso adentra num lugar único, estimulante “É o que chamamos de atmosfera de
para atrair clientes ao interior, a fim e complexo, onde os cinco sentidos es- compra, completamente envolta pelo
de remexer nos cabides, experimen- tão atiçados à flor da pele. marketing sensorial. Isso aumenta o
tar roupas no provador e levar para A sensação táctil de perceber a tempo de permanência do cliente na
casa, numa sacola estilizada, as novas textura de um vestido, por exemplo, loja”, conta a professora de comunica-
peças do guarda-roupa. Esse roteiro é mesclada a uma música que se es- ção e especialista em visual merchan-
simplista agora é alvo de estudos e palha pelo ambiente. É possível ainda dising Heloísa Omine, sócia-diretora
planejamentos que compreendem um sentir o aroma de flores do campo ou da empresa R2E by Shopfitting.
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// VISUAL MERCHANDISING //
mundo aos olhos dos que olham, para ser social, prevenção de perdas, otimização
vista e sentida”. Heloísa Omine faz coro de processos. Tudo visando a uma expe-
com os cuidados com a vitrine e diz que riência de compra diferenciada”, avalia
é preciso planejá-la. Definir, por exemplo, Regiane Relva Romano, presidente da
ESTÍMULOS a periodicidade de troca das peças, dese- Vip Systems Informática (SP).
DE CONSUMO nhar desde o início do ano as vitrines de O espelho interativo é uma das estre-
datas comemorativas. las do portfólio de Regiane Relva Roma-
O visual merchandising é o elo entre o no. Nele, o cliente tira uma foto e arrasta
projeto de mesa e a experiência sensorial LOJAS INTELIGENTES virtualmente as peças e acessórios em
do receptor. “Não basta desenhar o cená- 3D para a sua imagem, montando assim
rio, é preciso mergulhar na história que o diferentes looks. Se quiser, pode escrever
Parece cena de ficção científica, mas
envolve, entender o perfil desse cliente uma mensagem e compartilhar a ima-
não se espante se entrar num provador
potencial. Isso vai mover as decisões do gem para as redes sociais.
que se comunique desta forma: o cliente
projeto. E está totalmente ao alcance do experimenta um produto, que é identifi-
pequeno empreendedor, que precisa ou- cado com uma etiqueta eletrônica. No
sar num mercado saturado e altamente visor, a peça é mostrada em detalhes,
competitivo”, observa Heloísa Omine. com opções de cores e tamanho. Há
A construção da atmosfera de compra também o desfile de combinações com
transforma o ponto de venda na grande outras peças da coleção. Se o comprador
estrela do negócio, onde ganham des- gostou da sugestão, basta tocar na tela
taque a vitrine, a fachada, a disposição que um SMS chamará o vendedor ao lo-
da marca, o layout da loja, a organização cal, estabelecendo uma relação mediada
dos produtos e a sinalização e cartazis- pela interface lúdica e potente.
mo. “Hoje, o impacto, a experiência, a A tecnologia já chegou ao Brasil e se
vivência e o engajamento fazem de uma instala nos pontos de vendas, tornan-
O QUE É MARKETING tante que o comprador perceba o nível Audição: Uma boa trilha sonora
de organização e limpeza do espaço. O faz a diferença na construção da
SENSORIAL? estudo de cores (paredes, móveis) é fun- atmosfera de compras. O tempo musi-
damental e ajuda a aumentar o conforto cal lento evoca tranquilidade, leveza,
Com objetivo de fidelizar e aumentar dentro do espaço. Tudo deve estar bem enquanto o acelerado motiva a alegria.
o consumo, o marketing sensorial é a fer- sinalizado: caixa, provador, seções. Essa Observe o volume dessa trilha. Não
ramenta que se utiliza dos sentidos para comunicação visual pode ser criativa e pode estar acima do nível das conver-
proporcionar experiência de consumo se relacionar com a identidade da mar- sas. A presença de uma fonte de água
marcante e memorável no comprador. ca. Quem puder investir em iluminação numa loja promove a sensação de leve-
vai ganhar em conforto e destaque, com za. Cuidado com sons negativos, como
Visão: O mais poderoso dos refletores que provocam foco e contraluz barulhos irritantes internos (celulares
sentidos e o mais estimulado colorida, criando atmosferas diferentes. de funcionários, conversas extremadas)
num ponto de venda. Deve ser trabalha- Cartazes e displays com destaque da ou externos (buzinas e obras vizinhas).
do desde a zona de transição (fachada e coleção são mais que complementos,
vitrine) até o layout da loja (decoração, fornecendo ao consumidor um recorte Olfato: Provoca sensação de
móveis, manequins). É muito impor- estético sobre a criação. bem-estar e evoca memórias. De
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todos os sentidos, é o único que não pode
ser evitado. Seja de qualquer natureza,
o cheiro quando invade o ambiente não
pode ser evitado e provoca reações ime-
diatas no cliente. Assim, uma experiência
olfativa agradável promove uma sensa-
Fotos: Divulgação
ção confortável nas compras. Se puder
desenvolver um aroma próprio, promove
a fidelização do cliente, que o associa ao
espaço. Algumas lojas chegam a ofertar
a fragrância ao cliente. O importante é
O novo sabor da de peças por estações. O ponto alto,
P
ara quem pensa que brechó é Para a consultora de moda es- poder aquisitivo que estão à procura de
lugar de roupas velhas e enca- pecialista em sustentabilidade e preciosidades de luxo, saídas de baús e
lhadas, com cheiro de mofo e idealizadora do SP ECOERA, Chiara closets chiques. Abriu-se, então, o mer-
um certo ar decadente, a notí- Gadaleta, a evolução do mercado de cado dos brechós de luxo.
cia de que o mercado de varejo de usa- brechós é reflexo do avanço registra- A empresária Renata Karlburger re-
dos cresceu 210% em cinco anos pode do na causa da sustentabilidade da conheceu a oportunidade após viajar
surpreender. O número passou de 3.691 moda. “O consumidor tem abraçado mundo afora e resolveu abrir a loja RK
para incríveis 11.469 lojas de roupas, sa- essa causa, tem se tornado mais exi- Deluxe, em Belo Horizonte. A oferta de
patos e produtos usados, entre 2007 e gente e mais consciente. Comprar em peças novas e usadas de grifes como
2012. Quem trabalha com o setor sabe brechós atende a esses conceitos e Dior, Hermès, Prada, Chanel, Louis Vuit-
explicar com perfeição os motivos que promove o reuso de peças que voltam ton e Christian Louboutin, com preços
encantam o consumidor de peças an- a ter valor comercial”, acredita. até 70% menores do que nas lojas das
tigas: a possibilidade de se desfazer de Há alguns anos, o público de brechós marcas, conquistou público cativo.
produtos que entulhavam seu closet, a era formado quase exclusivamente por “Minhas clientes procuram pechin-
compra de peças de qualidade a preços fashionistas, blogueiras de moda ou pes- chas, mas não abrem mão da qualida-
competitivos, o interesse do consumidor soas adeptas do estilo vintage. Hoje, as de, alguns itens são verdadeiros obje-
em consumo sustentável e o fato de as lojas do setor conquistaram um público tos de desejo”, explica. Para garantir
lojas terem ficado mais atraentes. exigente, formado por mulheres de alto a autenticidade dos produtos, uma
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// BRECHÓS //
Fotos: Divulgação
um chamariz, mas a consultora Chiara
Gadaleta acredita que a estratégia
para conquistar o consumidor é inves-
tir em lojas organizadas, limpas, com
um mix de estilos e épocas na compo- Segundo Juarez de Paula, geren- mudança de hábitos de consumo do
sição de looks atuais. te nacional de Atendimento Coletivo brasileiro. “O crescimento veio de uma
Os pequenos negócios desse co- Comércio do Sebrae, o fórum é uma consciência ambiental que passou a
mércio de segunda mão de roupas, oportunidade importante para troca ser desenvolvida nos últimos anos, a
acessórios, sapatos, móveis, utensílios de ideias, compartilhamento de infor- conscientização do pós-consumo e do
domésticos e até eletrodomésticos mações e conhecimento. “Lançamos descarte”, avalia Wilsa. O mercado volta-
representam 95% do segmento de um olhar para esse mercado e o fórum do para público diversificado é de baixo
usados. Os dados constam em levanta- serve para conhecer as tendências e risco, com concorrência ainda pequena e
mento do Sebrae elaborado durante os necessidades do segmento, para então investimento inicial relativamente bai-
preparativos para o Fórum de Brechós, apoiar seu desenvolvimento e fortale- xo, o que resulta em boa oportunidade
evento organizado pela instituição e cimento”, explica. Reunir esses varejis- de negócio para empreendedores que
que reuniu mais de 300 pessoas em tas, pela primeira vez, também foi uma desejam abrir uma empresa. “É um seg-
São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e forma de mostrar a eles a importância mento interessante porque tem o apelo
Belo Horizonte. de se organizar em associações, para da sustentabilidade, cria a possibilidade
buscar representatividade e melhorias de expandir o tempo de vida útil do pro-
para os seus negócios. duto de moda”, acredita Juarez de Paula.
Os encontros reuniram empresários
e especialistas que são referência em
brechós para debater os desafios e opor- SEGMENTAÇÃO
tunidades do segmento. A coordenadora
nacional do varejo da moda do Sebrae, O setor é tão diversificado, que o
Wilsa Sette, considerou os resultados empresário pode escolher entre reunir
surpreendentes. “Promovemos um deba- uma variedade de itens para atender
te muito rico, tanto em conteúdo quanto um público misto ou especializar-se em
em sugestões para melhoria do setor. um determinado segmento de mercado
Agora temos uma ideia sobre as expecta- voltado para um consumidor específico.
tivas dos empreendedores com relação à O Petit Luxe, em Belo Horizonte,
melhor forma de apoiá-los”, resume. abriu suas portas em 2009 e é especia-
A coordenadora acredita que os nú- lizado em produtos infantis. No local, os
meros positivos do setor resultam da consumidores conseguem economizar
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