A Perspectiva Da Análise de Conteúd - Aula de 15 de Julho
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A Perspectiva Da Análise de Conteúd - Aula de 15 de Julho
Resumo: O texto pretendia discutir ─ e tem a pretensão de tê-lo conseguido ─ alguns aspectos da
Análise de Conteúdo como pressuposto metodológico nas pesquisas de cunho qualitativo. Para isso foi
apresentada uma descrição do tema, suas características, sua relação com as ideias da pesquisa qualitativa,
bem como os aspectos que caracterizam a função do pesquisador que dela faz uso. Após isso, o assunto foi
complementado com a discussão de um exemplo, focalizando, principalmente, o papel do analista do
processo. Nessa focalização, o que se objetivou não foi uma avaliação da utilização da Análise de
Conteúdo, mas, diferentemente, uma reflexão sobre a potencialidade dessa metodologia no âmbito da
pesquisa qualitativa.
Abstract: This paper intended to discuss – and hopefully accomplished this goal – some aspects of the
Content Analysis as a methodological assumption for qualitative research. Looking toward this, an object
description was presented, pointing characteristics and it´s relation with the qualitative research ideas, as
well the aspects that identify the functions of the researcher who uses it. Then an example was exposed to
complement the object, focusing mostly, at the process analyst role. In this focusing, the target was not to
evaluate the utilization of the Content Analysis, but, otherwise, a reflection about this methodology
potentials in the scope of qualitative research. Keywords: Methodology, Text, Laurence Bardin.
1 Introdução
1
Doutora em Educação para a Ciência e a Matemática pela Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Professora na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Toledo, Paraná, Brasil. E-mail:
[email protected]
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PINHEIRO, 2014; SILVA; FOSSÁ, 2015, entre outros) e, sendo assim, este texto se
propõe a acrescentar alguns aspectos para somar na discussão.
Inicia-se a discussão comentando sobre a ideia de “prima pobre” que a AC
representaria (para alguns) no momento atual diante das demais metodologias de análise,
e que, como apontado por Cavalcante, Calixto e Pinheiro (2014), existiria a ideia de que
a AC seria mais simples e sua abordagem mais fácil do que metodológicas paralelas.
Contrapomo-nos, contudo, a essa posição, pois entendemos que a utilização da AC
requer um alto nível de complexidade, de envolvimento e de compreensão do analista.
Sendo assim, neste trabalho não nominamos a AC como técnica ou método de
análise, e sim procuramos entender o seu conceito, as suas fases e regras, como
pressupostos teóricos. Esses pressupostos teóricos, bem mais que uma “aplicação de
regras”, devem ser considerados desde o início do processo de pesquisa, tanto nas
leituras para a formulação da pergunta, vale dizer, do problema de pesquisa, quanto para
a elaboração de um bom instrumento de coleta de dados (CAVALCANTE; CALIXTO;
PINHEIRO, 2014). Consequentemente, esses pressupostos também darão o caminho
para a compreensão dos dados, ou seja, a análise em si.
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das comunicações não é, ou não é unicamente, uma leitura <<à letra>>, mas
antes o realçar de um sentido que se encontra em segundo plano. Não se trata
de atravessar significantes para atingir significados, à semelhança da
decifração normal, mas atingir através de significantes ou de significados
(manipulados), outros <<significados>> de natureza psicológica, sociológica,
política, histórica, etc.
Na obra de Bardin consta uma definição direta do que seja a Análise de Conteúdo:
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por
procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 1977, p. 42).
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como um investigador que necessita desviar os olhos para o que não está explícito, e sim
atentar para o implícito, visto que a AC considera o texto contendo vários sentidos e,
dessa forma, atribui uma característica de opacidade à linguagem.
- quanto à categorização: na AC sempre há categorias, mas é necessário superar a
fragmentação. Para Moraes e Galiazzi (2013, p. 155-156), categorizar é
[...] dar ênfase a uma parte como modo de melhorar a compreensão do todo.
Cada categoria de análise passa a constituir uma perspectiva de exame, um
direcionamento do olhar dentro do todo [...], um esforço em cada vez mais
atingir uma compreensão global dos fenômenos examinados.
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12 – HÁ MAIS ALGUMA COISA QUE DESEJA FALAR, ALGO QUE TENHA
DESENVOLVIDO, OU ALGO QUE QUEIRA DESTACAR, ALGUMA RESSALVA QUE
QUEIRA FAZER?
Objetivo da questão: Fornecer ao professor um espaço livre para destacar o que considera importante
nesta temática.
3
Lembrando que a análise, na AC, pode ser: temática, de enunciados, de expressões, de relações. 4 Corpus
é o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos
(BARDIN, 1977, p. 96). Trata-se, neste caso, das transcrições das entrevistas.
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CATEGORIAS SUBCATEGORIAS Nº DE
UNIDADES DE
ANÁLISE
4.1- REPRESENTAÇÕES 4.1.1 03
DE MEIO AMBIENTE Conservacionista/Preservacionista 02
4.1.2 Representações resolutivas 03
4.1.3 Representações 05
socioambientais 4.1.4
Antropocêntricas
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4.4.5 Menção a aspectos sociais, 03
políticos e/ou econômicos.
4.4.6 Busca pela conscientização
dos alunos com ênfase na 03
mudança de comportamento 09
4.4.7 Tópicos de conteúdo 03
4.4.8 Atitudes perante o meio
ambiente 4.4.9 O tema “lixo” nas 06
aulas de
Química
Esse quadro foi elaborado como resultado final de todo o processo de análise, e
apresenta, de forma condensada, as ideias que foram discutidas pelos entrevistados.
Desse rol de categorias e de subcategorias, agora são apresentados alguns destaques: i)
destaque para a categoria 5, em especial, para a subcategoria 5.6 ─ Necessidade de uma
disciplina específica e ii) se observarmos a questão não qual a professora se manifesta
em favor da EA como disciplina única, é a questão número 6, que trata dos vários
aspectos que podem ser abordados ao desenvolver o tema do meio ambiente e os
assuntos relacionados às questões ambientais, nas aulas de Química.
No Quadro 3 vai exposto o excerto da entrevista com a professora, na íntegra, na
qual vai mencionada a referida questão de haver uma disciplina específica para meio
ambiente:
E: Entrevistadora
P: Professora
[...]
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E: Além do conhecimento químico, que outros aspectos você trabalha com seus alunos quando trata
estes temas em sala de aula?
P07: Ética. É... deixa eu ver... eu acho que o que eu trabalho mais é ética mesmo, né. Não tanto pelo
foco, mas pelo tempo que a gente tem né, de trabalho em sala. Além da ética, a... relações interpessoais,
né... Tem um vídeo bem legal, da internet, mas é muito longo, e ele é legendado, pra passar pros alunos,
mas é sobre exteriorização de custos. Por que que eu pago tão barato numa coisa que deveria ser mais
cara? Então, tem algum lugar, em algum país, em que eu tô explorando mão de obra escrava, infantil,
né, pra ter acesso daquele material né... É bem legal, chama Exteriorização de Custos. Eu tenho ele até,
se uma hora você quiser, eu tento trazer, eu nem lembro onde ele tá, tem um monte de arquivo lá no
computador e me perco às vezes. Mas assim, é bem interessante assim, lógico é um vídeo bem de
esquerda né, coloca bem anticapitalista, mas é muito interessante. Porque ele fala dessa questão de que
se você tem um radio, que devia custar cinquenta reais, e custam cinco, em algum lugar do mundo tem
mão de obra escrava sendo explorada. Se eu não posso explorar no meu país, eu vou explorar em outro.
Né? É bem legal. Muito bom.
P07: É muito engraçado. Que eu tenho uma parte de óxidos, quando eu trabalho isso no ensino médio,
que tem uma vaquinha com um catalisador no bumbum. Eles morrem de rir. Daí, eu baixei da internet
um videozinho, daí eu encerro a apresentação de slides com essa vaquinha. E eles morrem de rir. E eles
olham muito torto pra mim quando eu falo que um dos métodos de diminuir o... Os efeitos né, da
devastação ambiental, é diminuir o consumo de carne, bovina. E é muito difícil pra eles (risos), eles não
gostam que eu fale isso, mas eu falo né. E eu tenho como prática de vida também né, eu como sim
carne, mas assim, a bovina, por exemplo, é minoria, não consumo mais que, na minha casa, mais que
cinco quilos por mês, nós somos em três pessoas, de carne bovina. Aí eu como peixe, como frango,
também a gente consome ovos, proteína vegetal né. Mas é uma coisa também, igual eu falei, eu me
eduquei assim, eu cresci assim. Eu sempre procurei uma alimentação mais saudável, sou gordinha de
ruim, tá. Mas assim, eu sempre procurei, é uma prática realmente, e eles não gostam, e eu já moldei, a
minha cabecinha pra trabalhar isso né (risos), pra... Eu me moldei pra trabalhar mesmo o consumo, eu
já me moldei... Eu tento né.
E: Legal...
P07: Legal, mas dá trabalho (risos). Porque mexe com a cultura mesmo. O meu marido... Quando eu
trabalhei num colégio da rede particular, eu fiz um projeto, porque eu acho, eu penso assim, o meio
ambiente, ele é trabalhado de forma muito aleatória. E eu vejo assim, necessidade de ter uma disciplina
de educação ambiental né. Que seja um professor de uma área técnica, por exemplo, química ou
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ciências, pra trabalhar essas disciplinas né, não desprezando as outras, mas, pra dar um enfoque
tecnológico dela né, e assim, vejo a necessidade de uma coordenação melhor desse processo. Porque
a gente tá tendo discursos muito isolados, daí é igual eu te falei, quando chega na hora da gente
falar, eles já olham com uma cara torta. Porque eles já estão cansados de ouvir a mesma coisa.
Então, a necessidade de ter realmente o... um... uma organização melhor... um foco, desse conteúdo
né. Eu sei que a gente trabalha em todas as disciplinas, mas eu vejo isso como um ponto negativo e
não positivo, porque daí a gente tá trabalhando o senso comum igual a gente conversou né, e não o
conhecimento mesmo, crítico, da coisa né. E daí eu lembro que o meu marido falou pra mim “você é
uma idealista”, ele fala que eu sou idealista demais, mas infelizmente eu sou mesmo. Ou felizmente,
sei lá.
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Ao final deste diálogo poderiam ser discutidos pontos positivos e negativos da Análise
de Conteúdo na pesquisa qualitativa. Acredito, contudo, que não seja necessário. Para
esta pesquisadora, talvez o único ponto não positivo da AC esteja associado à regra da
exclusividade, que, a meu ver, limita o pesquisador iniciante, que precisa optar por qual
sentido destacar. Entretanto, mesmo diante disso, não considero tal ponto como uma
limitação, pois o pesquisador deve, mesmo utilizando a AC, destacar, discutir e
relacionar todos os sentidos do texto que foram passíveis de identificação. Como se
tentou explicitar ao longo do texto, defende-se a utilização da AC na pesquisa
qualitativa, principalmente porque a profundidade e a complexidade da análise
dependem muito mais do analista do que da metodologia utilizada. É o analista que tem
de se responsabilizar por enxergar o que está significado nas entrelinhas e também é ele
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que, com base no seu objetivo inicial, deverá saber o que e como destacar, bem como,
ainda, deverá saber a intensidade de seu olhar para os dados. A AC fornece um caminho
para esse olhar, fornece meios pelos quais o analista consegue sistematizar e organizar
seus dados, contudo, a AC, sozinha, não traz à tona o resultado. Isso quem faz é o
analista, com base no referencial teórico no qual baseia seus estudos.
Referências
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Trad. Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. 1. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1977.
MORAES, R. Análise de Conteúdo. Revista Educação. Porto Alegre, v. 22, n. 37, p. 7-32.
1999.
MORAES, R.; GALIAZZI, M. C. Análise Textual Discursiva. 2 ed. Ijuí: Editora Unijuí, 2013.
THOMPSON, P. A voz do passado: História Oral. 3 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
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