Unidade 01 - Conteúdo Da Aula de Teoria Geral Do Direito - Curso de Direito - UFRR - 2020
Unidade 01 - Conteúdo Da Aula de Teoria Geral Do Direito - Curso de Direito - UFRR - 2020
Unidade 01 - Conteúdo Da Aula de Teoria Geral Do Direito - Curso de Direito - UFRR - 2020
Unidade 1:
1. Introdução:
Não podemos estudar o Direito sem ter dele uma noção preliminar. Para os
olhos do homem comum o Direito é lei e ordem. Entretanto, o cientista do direito para
realizar sua pesquisa sobre o Direito, avança uma hipótese, conjetura uma solução provável,
sujeitando-a a posterior verificação.
Segundo o jusfilósofo Miguel Reale, o Direito é:
“Um conjunto de regras obrigatórias que garante a convivência social graças
ao estabelecimento de limites à ação de cada um de seus membros.”
Logo, quem age de conformidade com essas regras comporta-se conforme o
Direito. Observa-se que o conceito de Direito exige um comportamento cuja direção, ligação
e obrigatoriedade estejam de acordo com as regras (considerado lícito).
A palavra lei, etimologicamente, refere-se a ligação, liame, laço, relação, o que
se completa com o sentido nuclear de “jus”, que invoca a ideia de jungir, unir, ordenar,
coordenar.
Conclui-se que o Direito corresponde uma convivência ordenada, pois
nenhuma sociedade poderia subsistir sem um mínimo de ordem, de direção e solidariedade.
1
- Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Roraima. Foi Promotor de Justiça no Estado de Rondônia e advogado no Rio de
Janeiro. Professor efetivo no Curso de Direito do Instituto de Ciências Jurídicas da UFRR e nos Cursos de Direito da Faculdade Cathedral
e UNAMA. Foi professor nos Cursos de Direito das Faculdades Integradas Estácio de Sá (RJ), da Universidade Federal de Rondônia,
Faculdade Atual (RR), do Centro Universitário Estácio da Amazônia (RR) e da UERR. Lecionou nas Pós-graduações Lato sensu em
Direito da Criança e do Adolescente da UERJ, em Direito Processual Civil da (Estácio de Sá/RJ) e em Direito Público (UERR). Pós-
doutor em Direito pela Università degli Studi di Messina (ITA), doutorando em Direito pela UERJ, mestre em Sociedades e fronteiras pela
UFRR e especialista em Direito de Família pela Universidade Gama Filho (RJ), em Violência doméstica contra crianças (USP) e Analista
Internacional pela UFRJ. Pesquisador do Programa de Pós-graduação em Direito da UERJ (PPGD). Prêmio Sócioeducando 2ª edição
do UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância em 1999. Finalista do I Prêmio Innovare: O Judiciário do Século XXI, categoria
Juiz individual, com o programa Centro Sócio-educativo Homero Filho.
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Teoria Geral do Direito
Prof. Mauro Campello
Curso de Direito
1a. Edição
2023.1
O Direito é um fato ou fenômeno social. Não existe senão na sociedade e não
pode ser concebido fora dela. Onde está a sociedade, está o Direito (ubi societas, ibis jus).
A recíproca também é verdadeira (ubi jus, ibi societas), onde está o Direito, está a sociedade.
Só podemos falar de experiência jurídica onde e quando se formam relações
entre os homens, por isso denominadas relações intersubjetivas (envolvem sempre dois ou
mais sujeitos).
Uma regra importante construímos desse pensamento: não se pode conceber
qualquer atividade social desprovida de forma e garantia jurídicas, nem qualquer regra
jurídica que não se refira à sociedade.
O Direito tem como característica sua socialidade (realidade jurídica), ou seja,
a sua qualidade de ser social.
Pesquisas admitem que as formas mais rudimentares e toscas de vida social
já implantavam um esboço de ordem jurídica. O homem viveu ou cumpriu o Direito sem se
preocupar com o problema de seu significado lógico ou moral.
Somente num estágio bem maduro da civilização que as regras jurídicas
adquirem estrutura e valor próprios, e a humanidade passa a considerar o Direito como
merecedor de estudos autônomos. A conscientização do Direito é a semente da Ciência do
Direito.
Há uma correlação entre o Direito como fato social e o Direito como ciência.
4. Divisão do Direito:
Segundo Miguel Reale, a primeira divisão que se encontra na história da
Ciência do Direito foi feita pelos romanos entre Direito Público e Privado, segundo o critério
da utilidade pública ou particular da relação, sobretudo a partir da obra de Ulpiano (Digesto,
1.1.1.2) no trecho: Publicum jus est quod ad statum rei romanae spectat, privatum, quod ad
singulorum utilitatem.
Então, o Direito objetivo foi dividido em duas grandes classes: Direito Público
e Direito Privado.
Mas será que ainda prevalece essa distinção fundada na contraposição entre
a utilidade privada e a pública, tendo em vista que atualmente tem crescido a interferência
dos Poderes Públicos visando proteger a universalidade dos indivíduos? Há uma
interferência avassaladora do Estado, o que se denominou de “publicização” ou
“socialização” do Direito. Esse fenômeno garante a ideia da prevalência do interesse
público sobre o privado.
Mesmo nesse novo contexto, Reale defende que a distinção dicotômica do
Direito apresentada por Ulpiano ainda se impõe, claro que com algumas alterações
fundamentais da teoria romana, que como visto, levava em conta apenas o elemento do
interesse da coletividade ou dos particulares.
Reale propõe uma nova distinção entre Direito Público e Direito Privado,
baseada em duas maneiras, uma atendendo ao conteúdo e outra com base no elemento
formal.
a) Quanto ao conteúdo ou objeto da relação jurídica:
Quando é visado imediata e prevalecentemente o interesse geral, o Direito é
público. Quando imediato e prevalecente o interesse particular, o Direito é privado.
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b) Quanto à forma da relação:
Se a relação é de coordenação, trata-se, geralmente, de Direito Privado. Se a
relação é de subordinação, trata-se geralmente, de Direito Público.
O que caracteriza uma relação de Direito Público é o fato de atender, de
maneira imediata e prevalecente, a um interesse de caráter geral. É o predomínio e a
imediatidade do interesse que nos permite caracterizar a “publicidade” da relação.
Entretanto, existem relações intersubjetivas, em virtude das quais um dos
sujeitos tem a possibilidade de exigir de outro a prestação ou a abstenção de certo ato.
Temos aí uma relação de coordenação, pois os sujeitos da relação estão na mesma
situação. É uma relação típica de Direito Privado.
Tanto o Direito Público quanto o Direito Privado dividem-se em Direito Interno
e Direito Externo. O Direito Interno é aquele que tem vigência em determinado território,
como acontece com o Direito brasileiro. O Direito Externo rege as relações distintas do
Direito nacional, quer as que se estabelecem entre os indivíduos como tais, quer as
concluídas entre particulares com o Estado, ou dos Estados entre si.
- Voluntária; e
Jurisdição
- Contenciosa.
- Declaratória;
- Constitutiva;
Ação e sentença - Condenatória;
- Executiva; e
- Mandamental.
- Direito Civil; e
Direito Privado
- Direito Comercial.
Observação: Segundo o Min. Mauricio Godinho Delgado (TST), em sua obra Curso de
Direito do Trabalho, “nesse debate teórico, o Direito do Trabalho foi classificado como
componente do Direito Público, por autores de distinta especialização jurídica. Prepondera,
hoje, entretanto, a classificação do ramo justrabalhista no segmento do Direito Privado. Há
autores, contudo, que consideram esse ramo jurídico inassimilável a qualquer dos dois
grandes grupos clássicos enquadrando-se em um terceiro grande grupo de segmentos
jurídicos, o Direito Social.”
- Direito Civil; e
- Direito Privado
- Direito Comercial.
- Direito Constitucional;
- Direito Penal
- Direito Processual;
Direito - Direito Público - Direito Administrativo;
- Direito Financeiro;
- Direito Tributário; e
- Direito Internacional Público.
- Direito do Trabalho;
- Direito Social - Direito Previdenciário; e
- Direito Agrário.
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5. A ubiquidade do Direito:
O Direito está presente em cada ação do homem que se relaciona com outro
homem. Há em cada comportamento humano a presença, embora indireta do fenômeno
humano.
O Direito é um manto protetor de organização e de direção dos
comportamentos sociais. Todas as infinitas possibilidades de ação se condicionam à
existência primordial do fenômeno jurídico.
O Direito tutela comportamentos humanos, para que essa garantia seja
possível é que existem as regras, as normas de direito como instrumentos de salvaguarda
e amparo da convivência social.
Existem tantas espécies de normas e regras jurídicas quantos são os
possíveis comportamentos e atitudes humanas. Quando várias espécies de normas do
mesmo gênero se correlacionam, constituindo campos distintos de interesse e implicando
ordens correspondentes de pesquisa, temos as diversas disciplinas jurídicas, sendo
necessários apreciá-las no seu conjunto unitário, para que não se pense que cada uma
delas existe independentemente das outras.
As disciplinas jurídicas representam e refletem um fenômeno jurídico unitário.
6. Complementariedade do Direito:
As diferentes partes do Direito não se situam uma ao lado da outra, como
coisas acabadas e estáticas. O Direito é dinâmico. É ordenação que dia a dia se renova.
Logo, não basta ter uma visão unitária do Direito, tornando-se necessário possuir o sentido
de complementariedade inerente a essa união.
A ideia da complementariedade das disciplinas jurídicas está ligado ao sentido
sistemático da unidade do fenômeno jurídico. A Ciência Jurídica obedece a uma unidade
de fins – finalístico ou teleológico.
7. Linguagem do Direito:
Para estudarmos o Direito e alcançarmos a visão unitária dele, torna-se
necessário adquirir um vocabulário. Cada ciência exprime-se numa linguagem, ou seja, se
há uma Ciência Jurídica é dizer que existe um vocabulário do Direito.
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Logo, onde quer que exista uma ciência, existe uma linguagem
correspondente. Cada cientista tem a sua maneira própria de expressar-se. Os cientistas
do Direito (juristas) falam uma linguagem multimilenar própria.
Sem a linguagem do Direito não haverá possibilidade de comunicação. Aos
acadêmicos de direito fica a orientação que dediquem a maior atenção à terminologia
jurídica, sem a qual não poderão ingressar no mundo do Direito.
A disciplina de Introdução ao Estudo do Direito tem como uma das finalidades
esclarecer ou determinar o sentido dos vocábulos jurídicos, traçando as fronteiras das
realidades e das palavras.
Exemplo: recordo-me que na época de 1995. quando juiz de direito titular da
vara da infância e da juventude da comarca de Boa Vista-RR, numa audiência de ação de
guarda e responsabilidade de uma criança, proferi decisão cujo fundamento era a
incompetência do juízo, declinando a competência para a vara de família da mesma
comarca. Veja o sentido da palavra competência – adjetivo: competente. Essa expressão
possui dois sentidos: um de uso comum do povo, e outro, um sentido técnico especial para
o Direito. Por isso, essa decisão acabou causando espanto na parte autora da ação de
guarda (avó da criança), que imediatamente indagou-me: “Como incompetente, Dr. Mauro
Campello? O senhor é muito competente...o senhor é um dos juízes mais preparados em
Roraima. Julgue esse processo.” Portanto, qual o sentido de competente, ou seja, de
competência que a avó da criança utilizou? Com certeza, o sentido de uso comum do povo,
ou melhor, o preparo cultural do magistrado. Ela apreciou a competência do juiz em sua
capacidade intelectual. Assim, dizer que um juiz é incompetente para o homem do povo é
algo de surpreendente. Para Ciência Jurídica, competente é o juiz que, por força de
dispositivos legais da organização judiciária, tem o poder para examinar e resolver
determinados casos. Competência, juridicamente, é a “medida ou a extensão da jurisdição.”
Percebam como uma palavra pode mudar de significado, quando aplicada na
Ciência Jurídica.
8. O método no Direito:
Método é o caminho que deve ser percorrido para a aquisição da verdade. É
o caminho de um resultado exato ou rigorosamente verificado. Sem método não há ciência.
O conhecimento produzido pelo senso comum é um conhecimento parcial,
isolado, fortuito, sem nexo com os demais. O homem que utiliza o senso comum nem
sempre está errado, ou incompleto. Pode mesmo ser uma verdade, todavia o que
compromete é a falta de segurança quanto àquilo que afirma (“não tem certeza da certeza”).
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Entretanto, o conhecimento científico (metódico) é o produzido pela ciência,
pela verificação de conhecimentos, ou seja, um sistema de conhecimentos verificados.
Quando dizemos que temos ciência de uma coisa é porque verificamos o que a seu respeito
se enuncia.
Fonte bibliográfica:
1. BORGES, Paulo Torminn. Institutos básicos do Direito agrário. São Paulo: Saraiva, 1994.
2. GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Introdução ao Estudo do Direito – Teoria Geral do
Direito. 7ª Ed. Bahia: Editora JusPodvm, 2020.
3. REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27ª Ed. 9ª tiragem. São Paulo: Saraiva,
2010