AdC PRC 2016 08 Decisao VNC Final Net
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AdC PRC 2016 08 Decisao VNC Final Net
PRC/2016/8
[VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL]
VISADOS
Associação Portuguesa de Escolas de Condução – APEC
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DECISÃO
PRC/2016/08
Considerando as atribuições e competências, que lhe são conferidas pelo disposto na alínea
a) do artigo 5.º e na alínea a) do n.º 2 do artigo 6.º, dos Estatutos da Autoridade da
Concorrência (doravante “Estatutos”), aprovados pelo Decreto-Lei n.º 125/2014, de 18 de
agosto;
Considerando o disposto na Lei n.º 19/2012, de 8 de maio (doravante “Lei n.º 19/2012” ou
“Lei da Concorrência”);
ii) Alcino Machado da Cruz (Alcino Cruz), com NIF 122543980, e domicílio profissional na
Rua André Vidal Negreiros, n.º 30, Letra B, 1950-023 Lisboa.
1Em fase de inquérito o processo foi arquivado relativamente às escolas de condução inicialmente visadas (cf.
capítulo 1.4.1).
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1. DO PROCESSO
“ficou decidido por aceitação de todos os presentes que o preço de qualquer categoria
da carta de condução […] deverá aumentar gradualmente até atingir o valor mínimo no
qual a carta não dará prejuízo, da seguinte maneira:
a) 300€ (com tudo incluído) no dia 1 de outubro de 2016 - ninguém poderá prestar
este serviço abaixo deste valor.
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PRC/2016/08, contra a APEC e as escolas de condução associadas da APEC, para
investigar a existência de práticas restritivas da concorrência proibidas pelo n.º 1 do
artigo 9.º da Lei n.º 19/2012.
7. Ao abrigo do disposto na alínea c) do n.º 1 do artigo 18.º da Lei n.º 19/2012, e atenta a
matéria de facto constante da mensagem de correio eletrónico objeto de denúncia, a
complexidade dos eventuais ilícitos em causa e a especial dificuldade da obtenção da
respetiva prova, assim como o risco para a investigação decorrente da utilização de
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outro tipo de meios de obtenção de prova, foi identificada a necessidade de proceder,
nas instalações da APEC, à busca, exame e recolha de cópias ou extratos da escrita e
demais documentação, quer se encontrassem ou não em lugar reservado ou não
livremente acessível ao público, incluindo em suportes informáticos, bem como eventual
apreensão de objetos, incluindo computadores, e exame e cópia da informação que
contivessem, a fim de se obter elementos constitutivos de prova dos comportamentos
em causa.
10. Em 17 de janeiro de 2017, Alcino Cruz e Ricardo Vieira foram interrogados, nas
instalações da APEC, pelos funcionários da AdC, credenciados para o efeito, nos
termos do disposto no n.º 1 do artigo 18.º da Lei n.º 19/2012 (fls. 27 a 32 e 114 a 116).
11. Em 28 de abril de 2017, foram notificadas para prestar declarações nas instalações da
AdC a Escola de Condução Quinta Nova, Unipessoal, Lda. (Escola de Condução
Ebenézer) (fls. 924 a 925) e a Escola de Condução X-PTO, Lda. (Escola de Condução
X-PTO) (fls. 926 a 927).
13. Em 8 de março de 2017, foi solicitado à APEC, ao abrigo do disposto nos artigos 15.º,
17.º, n.º 2, e 18.º, n.º 1, alínea a), da Lei n.º 19/2012, cópia dos Relatórios e Contas ou
Relatórios de Gestão referentes aos anos de 2015 e 2016; o Estudo, de 2013,
mencionado por Alcino Cruz no decurso das declarações prestadas a esta Autoridade,
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em 17 de janeiro de 2017, elaborado a propósito da preocupação com os preços que as
escolas de condução praticavam para a carta de condução, e pelo qual se visava
“determinar o valor que não daria prejuízo para as escolas (…)”; a data, os destinatários
e as respostas dos destinatários à mensagem de correio eletrónico enviada por Ricardo
Vieira e constante de fls. 178 dos Autos e uma listagem das escolas de condução
representadas na reunião realizada nas instalações da APEC em 28 de setembro de
2016. Foi ainda solicitado o preenchimento dos dados relevantes nos campos previstos
na Tabela 1 do pedido de elementos para identificação das escolas de condução
associadas da APEC, nomeadamente a denominação social, NIF da empresa,
endereço eletrónico e morada da empresa, bem como as informações constantes da
Tabela 2 do mesmo pedido de elementos, relativa aos “Endereços dos destinatários da
mensagem de correio eletrónico enviada pela APEC em 23 de setembro de 2016” (fls.
312 a 315).
15. Em 24 de maio de 2017, foi solicitado à APEC o envio do volume de negócios referente
ao ano de 2016 (fls.1899).
17. Em 9 de maio de 2017, a AdC dirigiu um pedido de elementos a Alcino Cruz, solicitando
o valor da remuneração anual auferida como presidente da APEC e a cópia da
declaração de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS), ambas
referentes ao ano de 2016.
18. A resposta ao pedido de elementos supra mencionado consta de fls. 1677 a 1684.
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20. As respostas ao pedido de elementos de 20 de abril de 2017 constam de fls. 928 a
1054,1060 a 1110,1235 a 1669 e 1670 a 1686-A.
22. As respostas aos pedidos de elementos de 8 e 9 de maio de 2017 constam de fls. 1693
a 1898 e 1900 a 1941.
25. As respostas aos pedidos de elementos de 12, 16, 26 e 29 de maio de 2017, constam
de fls. 1945 a 1949, 1953 a 1955, 1962 a 1974 e 1979 a 2067.
28. Com efeito, o conselho de administração da AdC, com base no inquérito realizado,
concluiu que não resultavam do processo indícios suficientes da prática de infração ao
disposto no n.º 1 do artigo 9.º da Lei n.º 19/2012 por parte das escolas de condução na
forma de acordo entre empresas, em termos que permitissem a sua responsabilização
individual no âmbito do presente processo de contraordenação.
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29. O encerramento do inquérito relativamente àquelas visadas, mediante a adoção da
correspondente decisão de arquivamento, foi regularmente notificado às escolas de
condução, por ofícios datados de 8 de agosto de 2017 (fls. 2170 a 2278).
31. A identificada decisão do conselho de administração da AdC deu início à instrução, nos
termos e para os efeitos da alínea a) do n.º 3 do artigo 24.º da Lei n.º 19/2012, através
da adoção de uma Nota de Ilicitude, que aqui se dá por integralmente reproduzida (fls.
2094 a 2163).
33. Para efeitos do exercício dos direitos de defesa dos Visados, a AdC fixou o prazo de 20
(vinte) dias úteis, a contar da data de receção da Nota de Ilicitude para, querendo, se
pronunciarem sobre o conteúdo da mesma, em conformidade com o disposto no n.º 1
do artigo 25.º da Lei n.º 19/2012, e no artigo 50.º do RGCO, aplicável ex vi do n.º 1 do
artigo 13.º da Lei n.º 19/2012.
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36. Em síntese, os Visados alegam que a APEC “não pretendeu […] ter qualquer influência
sobre os preços de mercado praticados pelas escolas de condução […] apenas
pretendia ajudar a resolver a crise instalada […] [no setor]”, pela prática reiterada de
preços abaixo do custo, envolvendo uma redução da qualidade da prestação dos
serviços, e consequentemente da qualidade do ensino, bem como uma redução da
qualidade das condições de trabalho (fls. 2283, 2284, 2293 e 2294).
37. Os Visados afirmam “ter consciência do preço mínimo de custo da prestação do serviço
para a obtenção da carta de condução”, atendendo ao resultado das conclusões
alcançadas no estudo que a APEC declara ter elaborado sobre o valor de custo da carta
de condução (fls. 2283, 2284, 2293 e 2294).
38. Neste sentido, segundo os Visados, “os preços de custo dos fatores de produção dos
serviços prestados são na sua globalidade, e a preços de mercado, na ordem de €
700.00. Abaixo deste valor a escola dá prejuízo” (fls. 2285 e 2295). Foi assim, neste
contexto que os Visados declaram ter promovido a reunião do dia 28 de setembro de
2016, “com o objetivo de sensibilizar as escolas de condução para darem a devida
atenção aos preços dos custos que têm com os serviços que prestam para
assegurarem a sua atividade” (fls. 2284 e 2294).
39. Deste modo, os Visados afirmam “discorda[r] totalmente que a conduta da APEC teve
por objeto restringir e falsear a concorrência”. Acrescentando que, “a APEC luta por
uma melhoria da qualidade do ensino da condução” (fls. 2285 a 2286 e 2295 a 2296).
40. Deste modo, os Visados requereram o arquivamento do processo “por a APEC ter um
comportamento não censurável, vertido no artigo 487.º do CC [Código Civil] e do artigo
17.º do CPP”, acrescentando que ”as escolas de condução não implementaram o que
foi sugerido na reunião [do dia 28 de setembro de 2016]” (fls. 2287 e 2297).
41. Adicionalmente, os Visados indicaram que a AdC “não tinha ouvido [os visados] no
procedimento, antes de ser tomada a decisão final”, nos termos do artigo 50.º do RGCO
e nos termos do artigo 121.º do Código do Procedimento Administrativo (CPA) (fls. 2286
e 2296).
42. Acresce que, segundo os Visados, “[…] ainda se houvesse uma pequena falta, a
Autoridade da Concorrência deveria ter tido em consideração o principio substanciado
no artigo 60.º do CP [Código Penal] [e ter aplicado uma admoestação].” (fls. 2287 e
2297).
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43. Neste contexto, cumpre referir que a AdC responderá às alegações produzidas pelos
Visados nas suas pronúncias sobre a Nota de Ilicitude nos capítulos próprios da
presente Decisão relativos a cada uma dessas matérias (em particular, capítulos 2,
4.1.2.3 e 4.1.3.1), antecipando desde já que, as mesmas, não alteram, em sustância, as
conclusões de facto e de direito alcançadas pela AdC na Nota de Ilicitude.
45. Nos termos dos ofícios datados de 17 de agosto de 2017 (fls. 2373 e 2375) e dos autos
de declarações constantes do processo (fls. 2385 a 2386), foram inquiridos, nos dias 4
e 5 de setembro de 2017, nas instalações da AdC, Ricardo Vieira e Ilídio Matias Silva,
respetivamente, a título de diligências complementares de prova, nos termos do n.º 1 do
artigo 25.º da Lei n.º 19/2012.
46. Em síntese, Ricardo Vieira declarou que “o preço a praticar pelas escolas de condução
deveria ser superior a 700 euros, a partir do qual as escolas de condução poderiam
praticar o preço que quisessem”, considerando que “não devem praticar um preço
abaixo desse valor de 700 euros”.
47. Afirmou que a APEC “conhece o preço mínimo para que a carta de condução não dê
prejuízo porque é quem fixa os valores dos ordenados dos trabalhadores das escolas
de condução, atendendo a que são uma entidade patronal que negoceia com os
sindicatos os contratos coletivos de trabalho de todos os trabalhadores de todas as
escolas de condução do país. Por essa razão conhece os custos mínimos das escolas
de condução”.
48. Declarou ainda que a APEC “apenas pretendeu evitar que as escolas de condução
praticassem preços abaixo de custo”, e que “a APEC já denunciou esta situação junto
da Assembleia da República, mas não obteve resposta”.
49. Concluiu que a solução para esta situação seria “a existência de um valor mínimo para
cada aula de condução e de código, bem como a inexistência de um número mínimo de
lições obrigatórias, com o fim de promover uma melhor qualidade do ensino e evitar a
fraude a qualquer nível” (fls. 2385).
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50. Por seu turno, Ilídio Matias Silva declarou, em síntese, que existe uma distorção neste
mercado, e que foi neste contexto que a APEC esclareceu as escolas de condução no
sentido de não praticarem preços abaixo de custo.
52. De acordo com as suas declarações, “as escolas de condução que operam com preços
abaixo de custo praticam igualmente publicidade enganosa” (fls. 2386).
53. Nesta sede, a AdC apreciará as seguintes questões prévias: (ii) ausência de audição
dos Visados no procedimento antes de ser tomada a decisão final nos termos do artigo
50.º do RGCO e nos termos do artigo 121.º CPA; (ii) possibilidade de aplicação, a título
residual, de uma admoestação no presente caso (cf. parágrafos 41 e 42).
54. A este respeito cumpre referir, em primeiro lugar, que, de acordo com o artigo 13.º da
Lei n.º 19/2012, os processos por infração ao disposto no artigo 9.º, como no presente
caso, regem-se pelo previsto nessa lei e, subsidiariamente, pelo RGCO, aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de outubro.
55. Deste modo, no caso em apreço, a AdC, nos termos do disposto no artigo 17.º da Lei
n.º 19/2012, procedeu, na sequência de denúncia, à abertura de inquérito por práticas
proibidas pelo artigo 9.º do mesmo diploma legal, e procedeu, no âmbito do inquérito, à
realização das diligências de investigação que considerou necessárias para a
determinação da existência ou inexistência de uma prática restritiva da concorrência e
dos seus agentes, bem como à recolha de prova (cf. parágrafos 3, 6 a 25).
56. Terminado o inquérito, e nos termos do disposto no artigo 24.º da Lei 19/2012, a AdC
concluiu, no caso dos Visados APEC e Alcino Cruz, e com base nas investigações
realizadas e prova recolhida, que existia uma possibilidade razoável de vir a ser
proferida uma decisão condenatória, pelo que, em 27 de julho de 2017, procedeu à
notificação aos mesmos Visados da respetiva Nota de Ilicitude (cf. capítulo 1.4.2).
57. Na Nota de Ilicitude, a AdC fixou aos Visados, para efeitos do exercício do direito de
audição e defesa por parte destes, nos termos do disposto no artigo 25.º da Lei n.º
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19/2012, o prazo de 20 (vinte) dias úteis para que se pronunciassem sobre as questões
que pudessem interessar à decisão do processo, bem como sobre as provas
produzidas e para que requeressem as diligências completares de prova que
considerassem convenientes.
58. A este respeito, cumpre referir que os Visados pronunciaram-se por escrito e dentro do
prazo fixado pela AdC sobre a Nota de Ilicitude previamente notificada, apresentando a
sua defesa e exercendo efetivamente o seu direito de audição, requerendo, ademais,
para os devidos efeitos, como supra indicado, a prestação de declarações de dois dos
seus colaboradores. Neste sentido, a AdC considerou este pedido e realizou as
requeridas diligências complementares de prova nos termos do disposto no artigo 25.º,
n.º 1, in fine, da Lei n.º 19/2012 (cf. parágrafos 34 e ss. a 44 e ss.).
59. Assim, é apenas numa fase subsequente, uma vez concluída a instrução do processo,
que a AdC adota a decisão final, a qual, nos termos do artigo 29.º da Lei n.º 19/2012,
declara a existência ou inexistência de uma prática restritiva da concorrência. Neste
sentido, o presente documento consubstancia a decisão final da AdC no caso vertente,
não tendo a Nota de Ilicitude o efeito de encerramento da instrução e, assim, do
processo, como alegado pelos Visados.
60. Face ao supra exposto, resulta claro e inequívoco que a AdC, contrariamente às
afirmações dos Visados, não privou os mesmos de terem “sido ouvidos no
procedimento antes de ser tomada a decisão final”. Com efeito, a AdC assegurou aos
Visados a possibilidade de se pronunciar sobre a prática restritiva da concorrência que
lhes era imputada e sobre as sanções em que incorriam nos termos do disposto na Lei
n.º 19/2012 que determina o regime jurídico aplicável aos processos
contraordenacionais abertos por eventuais práticas restritivas da concorrência.
3. DOS FACTOS
3.1.1. APEC
63. A APEC, de acordo com os seus estatutos, é uma associação portuguesa de escolas de
condução, de direito privado e sem fins lucrativos licenciada pelo Estado e registada no
Ministério do Emprego e da Segurança Social em 29 de janeiro de 1993, sob o número
4/93, fls. 16, livro 1, com sede na Rua André Vidal Negreiros, n.º 30, Letra B, 1950-023
Lisboa (fls. 34).
65. Da direção fazem ainda, parte o secretário Ricardo Vieira, a 1.ª vogal, Paula Cristina
Aires Henriques, o 2.º vogal Paulo Alexandre Oliveira e, a tesoureira, Adriana Ribeiro da
Costa Cruz (fls. 27 e 92).
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viii) Prosseguir na formação de atividades profissionais na melhoria das condições para
os seus associados e outras atividades profissionais2 (fls. 34 e 35).
67. De acordo com os seus estatutos, podem ser associados da APEC as pessoas
singulares ou coletivas residentes em Portugal, as quais se dediquem legalmente à
atividade do ensino automóvel (fls. 35).
68. As escolas de condução associadas da APEC deverão pagar uma quota para poderem
exercer o seu direito de voto. A APEC não exige exclusividade aos seus associados,
podendo estes ser, também, associados de outras associações (fls. 29).
70. No que se refere ao seu funcionamento, a APEC realiza reuniões onde estão presentes
escolas de condução associadas e não associadas.
71. Neste contexto, de acordo com a informação constante dos Autos, na organização das
reuniões, o presidente da direção, Alcino Cruz, elabora uma carta de convocatória para
a reunião, entrega-a ao secretário da direção, também responsável do centro de
exames, Ricardo Vieira, que, por sua vez, procede ao envio da mesma, por correio
eletrónico, a todas as escolas de condução que usufruem dos serviços da APEC (fls.
29).
72. Não se verifica uma periodicidade regular na realização dessas reuniões, sendo que a
maior parte das reuniões são solicitadas pelas escolas de condução (fls. 29).
73. Os aspetos a discutir nas reuniões ou a agenda são definidos pelo presidente e
constam da carta de convocatória, não existindo registo oficial das decisões adotadas
nestas reuniões. Apenas existe registo das reuniões para eleições dos corpos sociais
(fls. 29).
2Cf. sítio da APEC na Internet, em http://www.apec.pt/?section=61, e o artigo 4.º dos Estatutos da APEC (fls.
48).
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75. A APEC financia-se através das quotas dos seus associados, no valor de 11,22 euros,
por trimestre (fls. 108, 115 e 241 a 282) e através da realização de exames de
condução, teóricos e práticos, bem como dos cursos de formação que organiza (fls. 31).
76. O volume anual de negócios da APEC foi, em 2016, de 1.298.103,35 euros (fls. 1950).
77. O volume de negócios agregado das empresas associadas da APEC3 foi, em 2016, de
4.358.778,98 euros4.
78. A criação da APEC foi financiada por Alcino Cruz, que é não apenas o seu fundador,
mas igualmente o seu presidente da direção desde a sua criação.
79. O artigo 38.º dos Estatutos da APEC estabelece que “o presidente não poderá em vida
ser substituído no seu cargo”, sendo a presidência da direção da associação, nestes
termos, um cargo vitalício (fls. 64).
80. O presidente da direção da APEC recebeu, em 2016, pelo exercício das suas funções,
o vencimento anual de 150.073,14 euros (fls. 1680).
82. De acordo com disposto no n.º 1 do artigo 121.º do Código da Estrada “Só pode
conduzir quem estiver legalmente habilitado para o efeito”.
83. Nos termos do disposto no n.º 4 do artigo 121.º do Decreto-Lei n.º 138/2012, de 5 de
julho, que veio introduzir alterações ao Código da Estrada e aprova o Regulamento da
Habilitação Legal para Conduzir, o documento que titula a habilitação legal para
conduzir ciclomotores, motociclos, quadriciclos pesados e automóveis designa-se “carta
de condução”.
3Cf. Anexo 1: Escolas de condução associadas da APEC e respetivo volume de negócios em 2016.
4 Em resposta ao pedido de elementos remetido pela AdC, a APEC identificou 95 escolas de condução como
suas associadas, as respetivas moradas e NIFs. Contudo, e após análise das respostas aos pedidos de
elementos remetidos pela AdC às 95 escolas de condução, verificou-se que, apenas 35 escolas de condução
confirmam ou não infirmam ser associadas da APEC e indicam volume de negócios.
17
84. O ensino da condução para todas as categorias de veículos, em Portugal, é regulado
pela Lei n.º 14/2014, de 18 de março, que veio instituir o novo regime jurídico do ensino
da condução, regulando o acesso e o exercício da atividade de exploração de escolas
de condução e das profissões de instrutor de condução, de diretor de escola de
condução, bem como a certificação das respetivas entidades formadoras.
85. Este diploma veio substituir o Decreto-Lei n.º 86/98, de 3 de abril, que determinou a
liberalização da atividade, eliminando a previsão de um numerus clausus para abertura
de escolas, bem como a figura do concurso público como meio de seleção, e introduziu
o princípio da liberdade de estabelecimento de preços por cada escola de condução.
Até à entrada em vigor daquele diploma o regime de preços e tarifas aplicáveis ao
ensino da condução era fixado por portaria.
87. Por sua vez, a Portaria n.º 185/2015, de 23 de junho, regulamenta a Lei n.º 14/2014, de
18 de Março, nos aspetos relativos ao ensino da condução para habilitação às diversas
categorias de carta de condução e ao acesso e exercício da atividade de exploração de
escolas de condução.
88. A ministração do ensino da condução para todas as categorias de veículos com vista à
obtenção da carta de condução, em Portugal, é exercido em escolas de condução5.
89. As escolas de condução, por sua vez, são pessoas coletivas ou singulares que exercem
a sua atividade económica como prestadoras do serviço do ensino de condução,
mediante contrapartida de uma prestação económica.
5 De acordo com o artigo 4.º da Lei n.º 14/2014, de 18 de março, escola de condução é “o estabelecimento onde
é ministrado o ensino da condução para obtenção de carta de condução emitida em Portugal e,
subsidiariamente, a formação associada à condução e atividades administrativas conexas”.
Sem prejuízo, de acordo com o artigo 10.º da Lei n.º 14/2014, de 18 de março, o ensino da condução pode ser
promovido por outras entidades que não as escolas de condução, nomeadamente: as forças militares, a Escola
Nacional de Bombeiros, as entidades que ministrem o curso de formação de condutores de transportes
rodoviários de mercadorias, as empresas de transporte público em automóveis pesados de passageiros que
ministrem cursos de formação aos seus trabalhadores e entidades formadoras que ministrem o ensino de
condução de veículos agrícolas, todas elas de acordo com legislação própria.
18
91. Após obter a referida licença, a escola de condução deverá comunicar de novo ao IMT
a abertura da sua primeira escola, sendo necessário, entre os vários documentos a
apresentar, a licença de utilização para fins comerciais ou serviços, emitida pela
Câmara Municipal da área de localização da escola de condução (alvará).
93. Para que um candidato a condutor6, mediante pagamento, possa obter a sua carta de
condução terá que celebrar por escrito um acordo com uma escola de condução, onde
frequentará aulas teóricas e práticas, e para o qual o IMT emite uma licença de
aprendizagem.
95. Os centros de exames são locais credenciados para a prática de exames de condução
para todas as categorias de veículos, podendo também desenvolver cursos de
formação profissional dirigidos aos profissionais do ensino de educação automóvel e
aos condutores profissionais, em contrapartida de uma prestação económica.
6 De acordo com artigo 4.º da Lei n.º 14/2014, de 18 de março, o candidato a condutor é “o Indivíduo que
pretende obter habilitação para conduzir uma ou mais categorias de veículos”.
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98. As escolas de condução constituem a oferta neste mercado, prestando o serviço do
ensino de condução de veículos, mediante contrapartida de uma prestação económica.
99. No que diz respeito à procura, esta é constituída por pessoas que pretendendo obter
habilitações para a condução de veículos, se dirigem às escolas de condução, para
que, através de uma formação teórica e prática, consigam aprovação nos exames
correspondentes, obtendo assim a carta de condução.
100. Do ponto de vista da procura, as várias categorias de carta de condução poderão não
ser substituíveis entre si.
102. Deste modo, considera-se como mercado relevante o mercado da prestação do serviço
do ensino da condução para todas as categorias de veículos.
3.3.1. Antecedentes
104. De acordo com a informação constante dos Autos, em 2012, o presidente da direção da
APEC sugeriu à Escola de condução Marvila “praticar preços combinados” com as
restantes escolas de condução. Neste sentido, consta do processo a seguinte
mensagem de correio eletrónico enviada por Alcino Cruz, em 16 de outubro de 2012, à
Escola de Condução Marvila (fls. 151 e 222 a 223):
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escolas a persuadir em outros colegas para esta triste realidade que ninguém
quer mas todos praticam.
Assim, a publicidade da escola deverá ser na tabela de preços a praticar 457€ sem o
valor dos exames incluído ou 600€ com os exames incluídos.
Respeitosamente
O presidente de direção
Alcino Cruz” [sublinhado nosso].
105. Cumpre referir que a Escola de Condução Marvila respondeu a esta mensagem de
correio eletrónico, nos seguintes termos:
“[…] o que o Senhor aqui propôs é crime e fortemente punido”. Este email pode no
futuro ser usado contra si, deve revisar a sua assessoria jurídica […]” (fls. 222).
106. De acordo com as pronúncias dos Visados sobre a Nota de Ilicitude, a mensagem de
correio eletrónico supra citada, alegadamente, “foi escrita porque várias escolas de
condução vinham pedir à APEC que tomasse uma posição sobre os preços praticados
pelas escolas de condução, que praticavam preços abaixo do custo. Mas a APEC não o
fez, nem o podia fazer, explicou a sua posição, e reforçou o facto de a lei o proibir” (fls.
2281 e 2291).
107. Ainda a título de antecedentes da prática em causa no presente processo, consta dos
Autos uma notícia de 28 de janeiro de 2013, publicada pelo Jornal de Notícias sobre a
crise do setor das escolas de condução, destacando as afirmações proferidas pelo
presidente da APEC, segundo o qual a Associação tinha realizado vários alertas junto
do setor sobre a má gestão praticada pelas escolas de condução e que tinha
“promessas de alguns dos principais grupos de que a partir de fevereiro, já vão
estabilizar os preços das cartas para os €600 […]” (fls. 283, 2281, 2282, 2291 e 2292).
108. Nas pronúncias sobre a Nota de Ilicitude, os Visados argumentam que esta afirmação
“foi apenas relatar a informação que era pública, que era comentada no contexto
profissional, sendo que os €600 referidos eram relativos aos custos que estas empresas
tinham conseguido minimizar […].” (fls. 2282 e 2292).
21
quais a APEC presta os seus serviços, o presidente da direção da APEC convocou uma
reunião com escolas de condução da Grande Lisboa e Setúbal, com o fim de debater os
preços das cartas de condução (fls. 29,115, 2282 e 2292).
110. Neste sentido, o presidente da direção de APEC, Alcino Cruz, de acordo com o modo
de atuação melhor descrito supra (cf. parágrafo 71), elaborou a respetiva convocatória,
e entregou-a ao secretário da associação, Ricardo Vieira, que, na qualidade de
responsável do centro de exames, a remeteu, em 23 de setembro de 2016, através de
correio eletrónico, para 173 escolas de condução da Grande Lisboa e Setúbal7 (fls. 29 e
156 a 167).
111. Esta mensagem de correio eletrónico convocava as escolas de condução nos seguintes
termos (fls. 120 a 122 e 156 a 167):
7 Cf. Anexo 2: Endereços dos destinatários da mensagem de correio eletrónico enviada pela APEC em 23 de
setembro de 2016. Dos 173 endereços eletrónicos de escolas de condução para os quais a APEC enviou a
convocatória supra, 8 foram devolvidos nomeadamente: documentaçã[email protected]; [email protected]; geral@d-
afonsoV.com; geral @ec-almirante.pt; [email protected] e [email protected] (fls. 156-167).
22
representadas na reunião do dia 28 de setembro de 2016. Não obstante, em resposta
ao pedido de elementos remetido pela AdC em 8 de março de 2017, Alcino Cruz
declarou que “não nos é possível identificar qualquer escola, porque não houve um
controlo de presenças” (fls. 294).
113. De acordo com as declarações prestadas por Ricardo Vieira, que constam do respetivo
Auto de inquirição de 17 de janeiro de 2017, estiveram ainda presentes, pelo menos,
representantes das seguintes escolas de condução (fls. 115):
114. Consta ainda dos Autos uma mensagem de correio eletrónico, remetida pela Escola de
Condução Ebenézer a Ricardo Vieira, que confirma a presença na referida reunião de
representantes das escolas de condução do grupo Colinas do Cruzeiro, da Escola de
Condução Jardim Radial (já referidas no parágrafo 113 supra) e da própria Escola de
Condução Ebenézer. Cumpre sublinhar, no entanto, que, nesta mensagem, a Escola de
Condução Ebenézer refere-se apenas a escolas de condução de Odivelas,
acrescentando a presença na reunião do dia 28 de setembro de 2016 de representantes
das seguintes escolas de condução sitas nessa área (fls. 219):
8Na referida mensagem de correio eletrónico a Escola de Condução Ebenézer menciona a “Escola de Condução
Casal de Câmara”, contudo, posteriormente, a representante legal da Escola de Condução Ebenézer, esclareceu
que não existia uma escola de condução com aquela denominação e que, neste caso, se tratava da Escola de
Condução Casal de Cambra, sita em Odivelas (fls. 1051).
23
115. Conforme as declarações prestadas, em 4 de maio de 2016, pelo representante legal da
escola de condução X-PTO, Gabriel Perfeito, esta Escola não se fez representar na
reunião do dia 28 de setembro de 2016. Contudo, Gabriel Perfeito declarou ter
conhecimento de terem estado nessa reunião, “porque falaram como ele e afirmaram
ter estado […] o senhor Bruno, da Escola de Condução Colinas do Cruzeiro e a senhora
Isabel Corona da Escola de Condução Ebenézer” (fls. 1057).
116. Segundo Alcino Cruz, a reunião iniciou-se com a sua exposição, afirmando que “os
preços atuais não conseguem pagar os impostos nem pagar às pessoas, […], de
acordo com a avaliação feita pela APEC, uma carta de condução não deveria ter um
custo inferior a 700 euros” (fls. 30).
117. Na sequência desta exposição várias escolas de condução manifestaram a sua posição
a este respeito, “sendo em regra, que não conseguiam pagar impostos nem pagar
ordenados nem auferir rendimento com esta atividade” (fls. 30).
118. Seguidamente, Alcino Cruz tomou de novo a palavra e concluiu que ”se estiverem de
acordo, aumentem 100 euros cada mês até fevereiro de 2017, para chegar pelo menos
aos 700 euros” (fls. 30).
119. Segundo Alcino Cruz, “algumas escolas presentes manifestaram o seu acordo e outras
não se pronunciaram” (fls. 30).
9Cf. Anexo 3: Endereços dos destinatários da mensagem de correio eletrónico enviada pela APEC em 29 de
setembro de 2016. Refira-se que, dos 173 destinatários da mensagem de correio eletrónico enviada em 29 de
setembro de 2016, apenas dois endereços devolveram a mensagem, nomeadamente: [email protected] e
[email protected] (fls. 168 a 177).
24
Na sequência do email enviado as Escolas de Condução no dia 23 de Setembro de
2016, na qual foram convidados para urna reunião com propósito de terminar com a
banalização dos preços da carta de condução;
Após a reunião que tivemos com os grandes grupos de escolas de condução;
E após a reunião de dia 28 de Setembro de 2016, ficou decidido por aceitação de todos
os presentes que o preço de qualquer categoria da carta de condução, incluindo a
categoria A—pois obriga a utilização de mais de 1 veículo (que significa mais custos)
deverá aumentar gradualmente até atingir o valor mínimo no qual a carta não dará
prejuízo, da seguinte maneira:
a) 300,00€ (com tudo incluído) no dia 1 de Outubro 2016 - ninguém poderá
prestar este serviço abaixo deste valor.
b) 400,00€ (com tudo incluído) no dia 1 de Novembro 2016 - ninguém poderá
prestar este serviço abaixo deste valor.
c) 500,00€ (com tudo incluído) no dia 1 de Dezembro 2016 - ninguém poderá
prestar este serviço abaixo deste valor.
d) 600,00€ (com tudo incluído) no dia 1 de Janeiro 2017 - ninguém poderá
prestar este serviço abaixo deste valor.
e) 750,00€ (com tudo incluído) no dia 1 de Fevereiro 2017 - ninguém poderá
prestar este serviço abaixo deste valor.
Assim, em cinco meses a carta passará a não dar prejuízo.
Devido a seriedade do assunto em questão, se virem que alguma escola pratique
preços abaixo dos mencionados em cima a partir das datas indicadas, vocês não
baixarão o preço, mas sim comunicarão para a APEC ao Responsável do Centro de
Exames que irá de imediato comunicar com tal escola, para persuadir esta a praticar
preços não abaixo dos valores indicados.
O preço anunciado em publicidade não poderá ser inferior aos valores mínimos
estabelecidos, afim de não ser quebrada a confiança das outras escolas.
Relembro que o objetivo não é vender a carta por valores inferiores a750 €, mas sim
vender a Carta por valores superiores a 750€, que é o valor em que a carta deixa de dar
prejuízo.
Atingindo o valor dos 750€, a nova atualização será no final de cada ano, em reunião na
qual analisaremos o aumento a efetuar, o qual será comunicado de forma semelhante a
todas as escolas de condução.
Tudo o que temos decidido, não se trata de uma concertação de preços das categorias
da carta de condução, mas sim estabelecer o valor mínimo abaixo da qual a carta dá
25
prejuízo e no qual ninguém pode praticar. Acima destes valores mínimos podem vender
o serviço da carta de condução pelo preço que quiserem e entenderem.
Aguardo a colaboração de todos.
Atenciosamente
O Responsável do Centro de Exames da APEC
Ricardo Vieira”.
26
iii) A Escola de condução Francipaulo, em 11 de outubro de 2016, por mensagem de
correio eletrónico, reponde “vamos em frente” (fls. 210 a 211);
123. Cumpre ainda referir que a Escola de Condução Elite manifestou explicitamente o seu
desacordo, respondendo à mensagem de correio eletrónico enviada por Ricardo Vieira
no dia 29 de setembro de 2016, nos seguintes termos (fls. 178 a 181):
“Foi com espanto que recebemos o email infra remetido na passada 5ª feira, dia
29/09/2016, a mando do presidente da APEC, com instruções para cumprir relativas a
um aumento generalizado dos preços da carta de condução. Assim, pelo presente
esclarecemos que não participamos em quaisquer negociações relativas a esse
aumento de preços, não aceitamos implementar qualquer medida que não passe pelas
medidas por nós definidas para o harmonioso desenvolvimento da atividade das nossas
empresas, e muito menos nos revemos no conteúdo desse email, ou em qualquer
ameaça velada, designadamente no que respeita ao recurso da “persuasão” que aí e
como aí vem mencionada.
Sem outro assunto, apresentamos os melhores cumprimentos,
A Gerência
Dr.ª Filomena Pires”
126. Estas situações foram reportadas, em particular, pela Escola de Condução 100%,
Escola de Condução X-PTO, Escola de Condução Cavaleira, Escola de Condução Baía
de Cascais, Escola de Condução Independente, Escola de Condução Atlas, Escola de
Condução A Popular e pela Escola de Condução Ebenézer (fls. 181 a 201, 214 a 217,
218 e 219).
127. Neste contexto, Ricardo Vieira contactou as escolas que alegadamente estariam a
incumprir os valores previamente estabelecidos, com o fim de confirmar tal situação e,
nesse caso, persuadir a escola correspondente a praticar o preço definido (fls. 30).
128. Uma vez verificadas as situações denunciadas, Ricardo Vieira, através de mensagem
de correio eletrónico datada de 11 de outubro de 2016, comunicou às 173 escolas de
condução ter o próprio verificado que a grande maioria das escolas de condução
estavam a cumprir com os aumentos de valores determinados na mensagem de correio
eletrónico de 29 de setembro de 2016, nomeadamente o grupo de escolas de condução
Segurança Máxima, a Escola de Condução Radical e a Escola de Condução Pátria.
Com efeito, pode ler-se na referida comunicação o seguinte10:
“Exmos Senhores
Após a receção dos vossos emails, denunciando algumas escolas que não tem
cumprido com o acordado nos preços da carta abordado na reunião na APEC no dia 28
de Setembro, após verificar e constatar alguns preços da carta de condução em
algumas escolas, quero alertar o seguinte:
O maior grupo de escolas de condução (Segurança Máxima) teve a hombridade de
subir o preço da carta de condução da categoria B para o valor mínimo de 325€ e tem
mantido desde o dia 1 de Outubro de 2016. (Foi confirmado por mim - Ricardo Vieira)
A escola de condução Radical tem a categoria B com o valor de 385€ e a escola de
condução Pátria com o valor de 325€, ambas as escolas do Sr. Maçorano (Foi
confirmado por mim - Ricardo Vieira)
10Cf. Anexo 4: Endereços dos destinatários da mensagem de correio eletrónico enviada pela APEC em 11 de
outubro de 2016.
28
Para quem apontava o dedo a estes grupos e não está a cumprir seria bom pensar um
pouco!!
A grande maioria das escolas está a cumprir o acordado!
Assim, reforço que é necessário fortalecer a confiança na subida generalizada dos
preços da carta de condução.
[…]
Para quem ainda não está a cumprir, convido a reforçar a confiança da nossa classe
subindo o preço da carta, uma vez que o preço mínimo de 300€ ainda é um preço
prejudicial!
[…] não é com desconfiança crônica e acusações que conseguimos fortalecer a nossa
classe.
Que possamos todos dar o passo da confiança e da tolerância por forma a dar coragem
a os outros para fazer o mesmo!
[…]
Atenciosamente
O Responsável do Centro de Exames da APEC
Ricardo Vieira”
[sublinhado nosso] (fls. 202 a 204).
129. Deste modo, Ricardo Vieira transmitia às escolas de condução a adesão “da grande
maioria” das escolas de condução aos valores acordados em 28 de setembro de 2016 e
convidava o conjunto de escolas de condução a reforçar a confiança “subindo o preço
da carta”.
130. Neste contexto, note-se que, a Escola de Condução Atlas, em 11 de outubro de 2016, e
a Escola de Condução X-PTO, em 16 e 23 de outubro de 2016, informaram Ricardo
Vieira que não tinham necessidade de aumentar os seus preços no caso da categoria
B, atendendo a que os valores que praticavam, nesse momento, eram já superiores ao
valor mínimo estabelecido na reunião de 28 de setembro de 2016 (fls. 182, 214 a 217).
132. Segundo as declarações de Alcino Cruz e de Ricardo Vieira, a maior parte das escolas
de condução apenas implementaram o primeiro dos aumentos comunicados pela
APEC, em outubro de 2016 (fls. 30 e 115).
29
3.3.5. Conclusões quanto à matéria de facto
133. Resulta assim dos elementos carreados para os Autos o descrito nos pontos seguintes.
135. O volume de negócios agregado das empresas associadas da APEC foi, em 2016, de
4.358.778,98 euros (cf. parágrafo 77).
136. Nos termos do artigo 24.º da Lei n.º 4/2012, de 18 de março, os preços a praticar pela
ministração do ensino da condução são livremente estabelecidos pela escola de
condução (cf. parágrafo 86).
137. As escolas de condução, por sua vez, são pessoas singulares ou coletivas que têm
como atividade principal a prestação do serviço do ensino da condução de veículos
mediante contrapartida de uma prestação económica (cf. parágrafos 88 a 91).
138. Em 2012, a APEC através do presidente da direção, Alcino Cruz, sugeriu, pelo menos à
Escola de Condução Marvila, que as escolas de condução praticassem preços
combinados, aumentando para 600 euros o valor de obtenção da carta de condução (cf.
parágrafos 104 e 106).
139. Em 2013, notícia do Jornal de Notícias dá conta que a APEC tinha realizado vários
alertas junto do setor sobre a má gestão praticada pelas escolas de condução e que
tinha “promessas de alguns dos principais grupos de que a partir de fevereiro, já vão
estabilizar os preços das cartas para os €600” (cf. parágrafos 107)
140. Em 23 de setembro de 2016, a APEC, através de correio eletrónico enviado por Ricardo
Vieira, por indicação do presidente da direção, Alcino Cruz, convocou 173 escolas de
condução da Grande Lisboa e Setúbal, associadas e não associadas, para uma reunião
com o propósito de fixar o preço para a obtenção da carta de condução de qualquer
categoria de veículo, através do aumento gradual do mesmo (cf. parágrafo 109 e ss.).
141. Em 28 de setembro de 2016, teve lugar uma reunião na sede da APEC estando
presentes, pelo menos, representantes das seguintes escolas de condução (cf.
parágrafos 112 e ss.):
142. Na reunião de 28 de setembro de 2016, foi decidido (cf. parágrafos 116 a 120):
ii) O preço anunciado em publicidade não podia ser inferior aos valores mínimos
acordados;
31
iii) A obrigação de denunciar as escolas de condução que eventualmente estivessem a
incumprir a implementação dos aumentos acordados; e
iv) No final de cada ano teria lugar uma reunião para determinar o valor do aumento a
efetuar pelas escolas de condução, que seria comunicado posteriormente através
do correio eletrónico.
145. Apenas a escola de condução Elite manifestou o seu desacordo de maneira expressa
(cf. parágrafo 123).
32
iii) Escola de Condução 100%;
iv) Delineou e propôs o plano de ação comum a adotar pelas escolas de condução
presentes na reunião de 28 de setembro de 2016 (cf. parágrafo 116 a 118); e
33
4. DO DIREITO
149. Dos factos acima enunciados resulta que a APEC fixou preços mínimos para a
obtenção da carta de condução de todas as categorias de veículos.
151. Nos termos do n.º 1 do artigo 9.º da Lei n.º 19/2012, são proibidas “[…] as decisões de
associações de empresas que tenham por objeto ou como efeito impedir, falsear ou
restringir de forma sensível a concorrência no todo ou em parte do mercado nacional,
nomeadamente os que consistam em: a) fixar, de forma direta ou indireta, os preços de
compra ou de venda ou quaisquer outras condições de transação”.
152. Este preceito inspira-se no n.º 1 do artigo 101.º do Tratado sobre o Funcionamento da
União Europeia (TFUE) do qual resulta que:
154. O conceito de mercado relevante tem, no âmbito jusconcorrencial, uma dupla dimensão
ou sentido: a dimensão material ou o mercado relevante do produto ou serviço, e a
dimensão geográfica ou o mercado geográfico relevante.
34
155. O “mercado de produto relevante compreende todos os produtos e/ou serviços
considerados permutáveis ou substituíveis pelo consumidor devido às suas
características, preços e utilização pretendida” 11.
156. Para a definição do mercado de produto relevante, a substituição pelo lado da procura
constitui o elemento de disciplina mais imediato e eficaz sobre os fornecedores de um
dado produto. A substituibilidade do lado da oferta pode igualmente ser tomada em
consideração na definição dos mercados nos casos em que os seus efeitos são
equivalentes aos da substituição do lado da procura em termos de eficácia e efeito
imediato.
159. Não poderá, contudo, deixar de se sublinhar que a definição de mercados relevantes
não é indispensável em processos por práticas restritivas da concorrência no âmbito de
acordos, práticas concertadas ou decisões de associações de empresas a que seja
atribuído um objeto restritivo da concorrência, tal como decorre da jurisprudência dos
tribunais europeus13:
11 Cf. “Comunicação da Comissão relativa à definição de mercado relevante para efeitos do direito comunitário
da concorrência”, in JO C 372, de 9.12.1997, p. 6, §7.
12 Cf. “Comunicação da Comissão relativa à definição de mercado relevante para efeitos do direito comunitário
da concorrência”, ponto 8.
13 Acórdão do Tribunal Geral, de 28 de junho de 2016, no caso Portugal Telecom, SGPS SA c. Comissão
Europeia.
35
precisa do mercado ou dos mercados em causa. Com efeito, a definição do mercado
em causa não desempenha o mesmo papel consoante se trate de aplicar o artigo 101.°
TFUE ou o artigo 102.° TFUE. No âmbito da aplicação do artigo 102.° TFUE, a definição
adequada do mercado em causa é uma condição necessária e prévia a qualquer
julgamento sobre um comportamento pretensamente anticoncorrencial (acórdãos de 10
de março de 1992, SIV e o./Comissão, T-68/89, T-77/89 e T-78/89, Colet.,
EU:T:1992:38, n.° 159, e de 11 de dezembro de 2003, Adriatica di
Navigazione/Comissão, T-61/99, Colet., EU:T:2003:335, n.° 27), uma vez que, antes de
declarar a existência de um abuso de posição dominante, é necessário estabelecer a
existência de uma posição dominante num dado mercado, o que pressupõe que este
mercado tenha sido previamente delimitado. Em contrapartida, resulta de jurisprudência
constante que, no quadro da aplicação do artigo 101.°, n.° 1, TFUE, é para determinar
se o acordo em causa é suscetível de afetar o comércio entre Estados-Membros e tem
por objetivo ou por efeito impedir, restringir ou falsear a concorrência no mercado
interno que é necessário definir o mercado em causa (acórdãos de 21 de fevereiro de
1995, SPO e o./Comissão, T-29/92, Colet., EU:T:1995:34, n.° 74, e Adriatica di
Navigazione/Comissão, já referido, EU:T:2003:335, n.°27; v., também, acórdão de 12 de
setembro de 2007, Prym e Prym Consumer/Comissão, T-30/05, EU:T:2007:267, n.° 86
e jurisprudência aí referida).
Assim, no quadro do artigo 101.°, n.° 1, TFUE, não é necessária uma definição prévia
do mercado relevante sempre que o acordo controvertido, em si mesmo, tenha um
objeto anticoncorrencial, ou seja, sempre que a Comissão tenha podido corretamente
chegar à conclusão, sem uma delimitação prévia do mercado, que o acordo em causa
falseava a concorrência e era suscetível de afetar de forma sensível o comércio entre os
Estados-Membros. Trata-se, nomeadamente, do caso das restrições mais graves,
explicitamente proibidas pelo artigo 101.°, n.° 1, alíneas a) a e), TFUE (conclusões do
advogado-geral Y. Bot nos processos apensos Erste Group Bank e o./Comissão,
C-125/07 P, C-133/07 P, C-135/07 P e C-137/07 P, Colet., EU:C:2009:192, n.os 168 a
175)14.
160. Pode então concluir-se que, no caso em análise, a delimitação exata do(s) mercado(s)
relevante(s) pode ser deixada em aberto, na medida em que, independentemente de se
14Cf. Acórdão do Tribunal Geral (Segunda Secção) de 28 de junho de 2016, Portugal Telecom, SGPS SA c.
Comissão Europeia, T-208/13, parágrafos 175 e 176.
36
considerar um mercado mais restrito ou mais lato, a apreciação jusconcorrencial não se
alteraria.
161. No caso em análise, as medidas adotadas pela APEC estão destinadas a influenciar o
comportamento das escolas de condução da Grande Lisboa e Setúbal, associadas e
não associadas da APEC, as quais prestam serviços de ensino da condução de
veículos de todas as categorias.
162. No capítulo 3.2 da presente Decisão, foi identificado o mercado em causa, tendo
subjacentes os critérios acima mencionados quer para a determinação do mercado do
produto, quer para a determinação do mercado geográfico.
163. Neste sentido, dada a natureza da prática em análise, considera-se como mercado
relevante o Mercado da prestação do serviço do ensino da condução de veículos, na
zona da Grande Lisboa e Setúbal.
165. Tendo-se considerado que os factos objeto do PRC/2016/08 poderão ser suscetíveis de
subsunção na previsão constante do n.º 1 do artigo 9.º da Lei n.º 19/2012, podendo
configurar uma decisão de associação de empresas restritiva da concorrência, cumpre
apurar e analisar os elementos integrantes do dispositivo normativo em causa, com
vista à explicitação da sua aplicabilidade ao caso concreto.
166. Assim, são elementos do tipo objetivo da contraordenação prevista no n.º 1 do artigo 9.º
da Lei n.º 19/2012 (i) a qualidade de associação de empresas; (ii) a existência de uma
decisão de associação de empresas; (iii) o objeto ou efeito anticoncorrencial do
comportamento; e (iv) o carácter sensível da restrição da concorrência decorrente do
mesmo.
168. Não se afigura necessário para a caracterização de uma associação como constituindo
uma associação de empresas na aceção a que ora nos referimos, que esta desenvolva
qualquer atividade comercial ou económica, podendo ter diversas formas jurídicas e
denominar-se associação, corporação, confederação, entre outros, não sendo
imprescindível que tenha personalidade jurídica ou fins lucrativos, bastando apenas que
as suas associadas possam caracterizar-se como empresas nos termos e para os
efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 3.º da Lei n.º 19/201216.
169. Deste modo, para que a APEC seja qualificada como uma associação de empresas
importa apurar se os respetivos membros, as escolas de condução neste caso, podem
ser caraterizadas como empresas para efeitos de aplicação do n.º 1 do artigo 9.º da Lei
n.º 19/2012.
170. Nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 3.º da Lei n.º 19/2012, é considerada uma
empresa, para efeitos do direito da concorrência, “[…] qualquer entidade que exerça
uma atividade económica que consista na oferta de bens ou serviços num determinado
mercado, independentemente do seu estatuto jurídico e do seu modo de
financiamento”17.
171. Esta disposição reflete aquela que vem sendo a jurisprudência da União Europeia
desenvolvida a propósito do mesmo conceito, para efeitos de aplicação do artigo 101.º
do TFUE18.
172. A forma jurídica, o estatuto e a natureza da estrutura das entidades em causa, são
irrelevantes, importando a qualificação dos elementos que a compõem enquanto
empresas e o facto de tal estrutura prosseguir fins relacionados com as atividades
económicas desenvolvidas por essas empresas.
15 Cf. Decisões da Comissão Europeia 95/188, de 30 de janeiro de 1995, Coapi, e 86/595, de 26 de novembro de
1986, Meldoc, e o acórdão do Tribunal de justiça de 19 de fevereiro de 2202, J. C Wouters e o. C. Algemene
Raad van de Nederlandse Orde van Advocaten, processo C-309/99.
16 Cf. Opinião do A-G Léger no processo Wouters, cit.: “regra geral, a associação agrupa empresas do mesmo
ramo e encarrega-se de representar e de defender os seus interesses comuns em relação aos outros operadores
económicos, aos organismos governamentais e ao público em geral” (para. 61).
17 Cf. Acórdão do TJUE, de 19 de fevereiro de 2002, Wouters, Proc. C-309/99, Acórdão do Tribunal de Justiça de
174. As escolas de condução, como melhor descrito supra, são pessoas coletivas ou
singulares que prestam serviços de ensino de condução de veículos, mediante
contrapartida de uma prestação económica (cf. parágrafos 88 a 91).
175. Neste enquadramento, no que respeita ao PRC/2016/08, face aos factos expostos
supra, demonstrativos do exercício de atividades económicas pelas escolas de
condução, considera-se que as mesmas são "empresas" para efeitos de aplicação do
regime jurídico da concorrência, porquanto prestam serviços no mercado do ensino da
condução de veículos, na área da Grande Lisboa e Setúbal.
176. Acresce que a APEC, tal como descrito supra (cf. parágrafos 63 e ss.), tem a natureza
jurídica de associação de escolas de condução, as quais como vimos, são consideradas
como empresas para efeitos de aplicação das regras de concorrência.
177. Encontra-se, pois, desta maneira, verificado o primeiro dos elementos do tipo objetivo
constante do n.º 1 do artigo 9.º da Lei n.º 19/2012, consubstanciando a APEC uma
associação de empresas nos termos e para os efeitos do disposto neste preceito legal.
178. Nos termos do disposto no n.º 1 do artigo 9.º da Lei n.º 19/2012, são proibidas as
decisões de associações de empresas que tenham por objeto ou como efeito impedir,
falsear ou restringir, de forma sensível, a concorrência no todo ou em parte de mercado
nacional, nomeadamente, aos que se traduzam em fixar, de forma direta ou indireta, os
preços de compra ou de venda ou interferir na sua determinação pelo livre jogo do
mercado, induzindo, artificialmente, quer a sua alta quer a sua baixa.
181. Desde logo, como aliás resulta da definição jurisprudencial e doutrinária das restantes
práticas colusivas, as questões de forma e competência não assumem relevância
fundamental face ao seu conteúdo substancial: assim, independentemente da
competência para a adoção de determinada medida, e da forma que a mesma possa
assumir, o que importa é a existência da exteriorização de uma vontade imputável
objetivamente à associação, da qual resulta uma intenção ou objetivo de coordenar (ou
determinar) os comportamentos comerciais dos seus membros, e que essa
exteriorização seja adequada a tais fins, igualmente em termos objetivos e de
potencialidade causal.
182. Nestes termos, deve entender-se que constante da proibição do artigo 9.° da Lei n.º
19/2012 está a preocupação fundamental em garantir, para o funcionamento do livre
jogo concorrencial, o princípio da autonomia comercial dos operadores do mercado
enquanto elemento estruturante do processo concorrencial salvaguardado pelas regras
nacionais e europeias de defesa da concorrência, como afirmado pelo Tribunal de
Justiça:
20 Cf. Conselho da Concorrência, Relatório de Atividades, 1992, Ed. Ministério do Comércio e Turismo, pág. 15 e
16. Mais recentemente, a AdC divulgou, na sua página eletrónica, o Guia destinado a Associações de Empresas
sobre práticas restritivas da concorrência, disponível em:
http://concorrencia.pt/vPT/Praticas_Proibidas/Praticas_Restritivas_da_Concorrencia/Documents/Guia%20para%
20Associa%C3%A7%C3%B5es%20de%20Empresas.pdf
40
"se é exato que esta exigência de autonomia não exclui o direito dos operadores
económicos de se adaptarem inteligentemente à atuação conhecida ou prevista dos
seus concorrentes, opõe-se todavia rigorosamente a qualquer estabelecimento de
contactos diretos ou indiretos entre tais operadores, que possa quer influenciar a
atuação no mercado de um concorrente atual ou potencial, quer permitir a esse
concorrente descobrir a atuação que o outro ou os outros operadores decidiram adotar
ou planeiam adotar nesse mercado, quando esse contactos tenham por objetivo ou
efeito originar condições de concorrência que não correspondam às condições normais
do mercado em causa [...]" 21.
Tal estatuição vem, como não pode deixar de se sublinhar, reforçar a própria proibição
dos comportamentos colusivos entre empresas (acordos e práticas concertadas),
incluindo nela eventuais situações que, por via da interposição de uma entidade com
personalidade jurídica distinta das empresas, obviassem à interdição de acordos e
práticas concertadas restritivas da concorrência" 22.
187. A iniciativa da APEC de convocar as 173 escolas de condução às quais presta os seus
serviços, para se reunirem com o objetivo de “o preço da carta de condução deixar de
ser banalizado”, de celebrar a referida reunião nas suas instalações, tendo o seu
presidente participado ativamente na mesma, definindo e propondo o plano de ação
comum e de comunicar, posteriormente, através de mensagem de correio eletrónico, as
medidas adotadas “por aceitação de todos” para a fixação do preço mínimo da carta de
condução para qualquer categoria de veículo (cf. parágrafos 109 e 120), constituem
manifestações subsumíveis no conceito de decisão de associação de empresas na
aceção do n.º 1 do artigo 9.º da Lei n.º 19/2012.
188. Deste modo, na reunião de 28 de setembro de 2016, celebrada pela APEC com as
escolas de condução às quais presta os seus serviços, foi definida pela APEC a
estratégia comercial comum das escolas de condução quanto ao seu comportamento
no mercado, com o objetivo de todas elas, a partir de 1 de fevereiro de 2017, estarem a
praticar o preço de, pelo menos, 750 euros. Para o efeito, as escolas de condução,
quando necessário ou aplicável, aumentariam gradualmente os preços como melhor
descrito supra, e denunciariam eventuais incumprimentos. A própria APEC assumia
ainda o papel de verificar as situações denunciadas tendo em vista a sua retificação (cf.
parágrafos 109 a 132).
42
189. Recorde-se que a mensagem de correio eletrónico remetida pela APEC em 29 de
setembro de 2016, comunicando o conjunto de medidas decididas “por aceitação de
todos” destinadas às escolas de condução, de modo a coordenarem o seu
comportamento comercial, tinha a epígrafe “para cumprir” (cf. parágrafo 120).
190. Não obstante as reações e declarações das escolas de condução que constam dos
Autos revelarem, por um lado, que apenas um conjunto de escolas de condução
aceitaram expressamente e cumpriram com as medidas adotadas no seio da APEC, e
por outro lado, a ausência de sanções perante eventuais incumprimentos (cf. parágrafos
119, 121 e 122), não prejudica, a subsunção do comportamento da APEC como uma de
decisão de associação de empresas proibida pelo n.º 1 do artigo 9.º da Lei n.º 19/2012.
191. Com efeito, para que estejamos perante uma "decisão de associação de empresas"
abrangida pela previsão do n.º 1 do artigo 9.º da Lei n.º 19/2012, não se afigura
necessário que a mesma apresente efeitos jurídicos obrigatórios ou vinculativos: a
decisão existe, para efeitos da aplicação do regime jusconcorrencial, quer os respetivos
associados a cumpram ou não e independentemente da forma que possa tal decisão
revestir 23.
192. Sem prejuízo, cumpre referir que, segundo Ricardo Vieira, a grande maioria das escolas
de condução estaria a cumprir o acordado (cf. parágrafos 128 e 129).
193. Pelo exposto, sustentado nos elementos de prova precisos e concordantes juntos aos
Autos, conclui-se que o comportamento da APEC constitui uma decisão de associação
de empresas que visa a fixação do preço mínimo para a obtenção da carta de condução
para qualquer categoria de veículo, para efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 9.º da Lei
n.º 19/2012, pelo que se encontra, por esta via, preenchido mais um dos elementos do
tipo objetivo.
194. Um outro elemento do tipo contraordenacional estabelecido no n.º 1 do artigo 9.º da Lei
n.º 19/2012, é o de que a decisão de associação de empresas tenha por objeto ou
como efeito impedir, restringir ou falsear, de forma sensível, a concorrência.
23 Cf. Acórdão do TJUE IAZ/Comissão, de 8 de novembro, de 1983, pro. 96-102,104, 105, 108 e 110/82.
43
195. Deste modo, para que se considere preenchido o elemento do tipo, poder-se-á atender
tanto ao objeto da prática, quanto ao efeito da mesma, bastando a verificação de um
destes critérios, embora admitindo-se o preenchimento cumulativo de ambos.
196. São então, desde logo, proibidos os comportamentos suscetíveis de impedir, restringir
ou falsear, de forma sensível, a concorrência, isto é, aqueles que representam um
perigo para esta, produzam ou não os efeitos que potenciam24.
197. Em síntese, para considerar preenchido este requisito do tipo, tanto se poderá atender
ao elemento de perigo para a concorrência inerente à decisão de empresas (infração
por objeto), como ao resultado efetivamente restritivo desta (infração por efeito).
198. No que respeita ao objeto e/ou efeito de "impedir, restringir ou falsear" a concorrência,
considera-se que impedir ou restringir significa, respetivamente, excluir total, ou
parcialmente, a concorrência, e falsear é um conceito amplo, que abrange as duas
situações anteriores e outras às quais aquelas eventualmente não se aplicariam.
199. Deste modo, são, desde logo, proibidas as decisões de associações de empresas, se,
por exemplo, visarem a fixação de preços25.
24
Cf. Acórdão do TPI (agora TGUE) de 19 de Março de 2003, CMA e.o., proc. T-213/00, considerando 183,
Coletânea da Jurisprudência p. II-00913: “Como o acordo em causa tem por objecto restringir a concorrência e
essa restrição é sensível, a Comissão não tem, contrariamente ao que, em segundo lugar, sustentam as
recorrentes, que provar a intenção das partes de restringirem a concorrência ou os efeitos anticoncorrenciais do
acordo. Com efeito, segundo jurisprudência constante, um acordo que tenha por objecto restringir a concorrência
integra o âmbito do artigo 81.°, n.° 1, CE [artigo 101.º, n.º 1, do TFUE], sem que seja necessário atender aos
seus efeitos (v., designadamente, acórdão do Tribunal de Primeira Instância de 6 de Abril de 1995, Ferriere
Nord/Comissão, T-143/89, Colect., p. II-917, n.° 30, confirmado por acórdão do Tribunal de Justiça de 17 de
Julho de 1997, Ferriere Nord/Comissão, C-219/95 P, Colect., p. I-4411, n.os 14 e 15). Por conseguinte, um acordo
pode infringir o artigo 81.°, n.° 1, CE ou o artigo 2.° do Regulamento n.° 1017/68, mesmo que os seus termos não
tenham, na prática, sido respeitados (acórdão do Tribunal de Justiça de 11 de Julho de 1989, Belasco e
o./Comissão, 246/86, Colect., p. 2117, n.° 15)”.
25Cf. para efeitos de um acordo entre empresas, o Acórdão do TJCE de 8 de Julho de 1999, Anic Partecipazioni
SpA, proc. C-49/92 P, Colectânea I-04125.
44
201. Em concreto, em resultado da mensagem de correio eletrónico enviada pela APEC em
29 de setembro de 2016, várias escolas de condução aumentaram ou mantiveram, de
forma coordenada e concertada, o preço para a obtenção da carta de condução a um
nível superior ao nível que resultaria do jogo normal da concorrência, limitando a
concorrência entre si, ou relativamente a terceiros, através de mecanismos claros de
coordenação comportamental e de compromissos relativos à fixação de preços (cf.
parágrafos 122 e 127 a 132).
202. Deve, contudo, referir-se a este respeito que, o que está em causa no presente
processo não são os efeitos verificados no mercado. Com efeito, é irrelevante para o
preenchimento do tipo e para a imputação da infração à APEC que se demonstre (ou
que seja necessário demonstrar), que as escolas de condução tenham, efetivamente,
aumentado ou mantido o preço para a obtenção da carta de condução.
203. Assim, ainda que tais efeitos não se verificassem, como alegado pelos Visados nas
suas pronúncias sobre a Nota de Ilicitude (cf. parágrafo 39 e 40), a própria natureza e
objeto da decisão de associação de empresas em causa, revela uma infração por objeto
das regras de defesa da concorrência.
205. Os Visados alegam igualmente nas pronúncias sobre a Nota de Ilicitude que o objetivo
da reunião do dia 28 de setembro de 2016 foi o de “sensibilizar as escolas de condução
para darem a devida atenção aos preços dos custos que têm com os serviços que
prestam para assegurarem a sua atividade” (cf. parágrafo 38). No entanto, este alegado
objetivo não retira a natureza restritiva do comportamento da APEC e aqui em causa.
206. Com efeito, o resultado da reunião do dia 28 de setembro de 2016, foi um conjunto de
medidas destinadas a determinar a estratégia comercial comum das escolas de
26 Cf. Sentença de 11.3.2008 do Tribunal do Comércio de Lisboa, no proc. n.º 662/07.8 TYLSB, confirmada pelo
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 1.6.2010, no proc. n.º 7391/08-5; Sentença de 29.4.2011, do
Tribunal do Comércio de Lisboa, no proc. 938/10.7TYLSB, confirmada pelo Acórdão do Tribunal da Relação de
Lisboa de 15.11.2011, no proc. n.º 938/10.7TYLSB.L1; Sentença do Tribunal da Concorrência, Regulação e
Supervisão proferida em 24 de maio de 2013, no proc. n.º 18/12.0YUSTR, confirmada pelo Acórdão do Tribunal
da Relação de Lisboa, proferido em 29 de janeiro de 2014 no proc. n.º 18/12.0YUSTR.E1.L1.
45
condução quanto ao seu comportamento no mercado, através da fixação de um preço
mínimo para a obtenção de carta de condução para todas as categorias de veículos (cf.
parágrafos 109 a 132).
207. Neste sentido cumpre referir que, a definição dos preços pelos agentes económicos
deve resultar apenas e tão só do livre jogo do mercado. O comportamento da APEC,
pela sua própria natureza, foi suscetível de interferir com o regular funcionamento do
mercado, na medida em que influenciou necessariamente a formação da oferta e da
procura (sendo o fator “preço” decisivo neste binómio oferta/procura), e eliminou a
incerteza acerca do comportamento das empresas concorrentes.
208. Significa isto que a conduta da APEC teve por objeto restringir e falsear a concorrência.
210. Sem prejuízo de se entender que está em causa, nos presentes Autos, uma infração
por objeto, não pode deixar de se ter em conta o seguinte:
iii) Outras escolas de condução não alteraram os seus preços para implementar o
acordo, dado que os preços que praticavam eram superiores aos valores acordados
(cf. parágrafos 122 ii) e 130).
211. O último aspeto do tipo objetivo que cumpre verificar refere-se à circunstância de a
restrição da concorrência dever ser significativa.
213. Aí se refere que “não se inscrevem no âmbito de aplicação dos artigos 81.º e 82.º
[atuais 101.º e 102.º do TFUE] os acordos e práticas que, devido à fraca posição das
empresas envolvidas no mercado dos produtos em causa, afectam o mercado de forma
não significativa. O carácter sensível pode ser apreciado, nomeadamente, por
referência à posição e à importância das empresas envolvidas no mercado dos
produtos em causa. […] Quanto mais forte for a posição de mercado das empresas em
causa, maior é a probabilidade de um acordo ou prática susceptível de afectar o
comércio entre os Estados-Membros o vir a afectar de forma sensível”29.
214. Assim, “o carácter sensível pode ser avaliado em termos absolutos (volume de
negócios) e em termos relativos, através da comparação da posição da ou das
empresas em causa com a dos demais operadores no mercado (quota de mercado)”30.
215. Em síntese, pode concluir-se que a restrição da concorrência tem de ser sensível,
sendo que o caráter sensível se afere – recorrendo à prática europeia – tendo em
atenção o tipo de condutas, e/ou as posições e importância, das empresas envolvidas
no mercado em causa.
27 Cf. Sentença do Tribunal de Comércio de Lisboa, 3.º Juízo, Proc. n.º 1302/05.5TYLSB, de 12 de janeiro de
2006.
28 Cf. Sentença do Tribunal de Comércio de Lisboa, 3.º Juízo, Proc. n.º 1302/05.5TYLSB, de 12 de janeiro de
2006.
29 Cf. Comunicação da Comissão Europeia – Orientações sobre o conceito de afectação do comércio entre os
Estados-Membros previsto nos artigos 81.° e 82.° do Tratado CE (Jornal Oficial C 101, de 27/04/2004 pp. 0081 -
0096), pontos 44 e 45.
30 Cf. Comunicação da Comissão Europeia – Orientações sobre o conceito de afectação do comércio entre os
Estados-Membros previsto nos artigos 81.° e 82.° do Tratado CE (Jornal Oficial C 101, de 27/04/2004 pp. 0081 -
0096), ponto 47.
47
para a demonstração do caráter sensível da afetação da concorrência no mercado em
causa.
217. Tal basta para se considerar sensível a restrição da concorrência ocorrida em resultado
e por causa, do comportamento adotado pela APEC.
218. Face ao supra exposto, verifica-se, nos termos acima detalhados, que a conduta da
APEC na presente Decisão preenche todos os elementos do tipo objetivo
correspondentes às descrições normativas do n.º 1 do artigo 9.º da Lei n.º 19/2012.
219. Ao adotar uma decisão de associação de empresas para a fixação do preço mínimo
para a obtenção da carta de condução para todas as categorias de veículos, a APEC
agiu de forma direta, livre, consciente e voluntária.
220. Resulta dos factos supra descritos (cf. parágrafos 104 a 132), que a APEC, adotando
um conjunto de medidas destinadas a fixar o preço mínimo para a obtenção da carta de
condução com o objetivo de limitar, de forma sensível, a concorrência entre as escolas
de condução, e uma vez que tendo conhecimento da legislação aplicável, e/ou não
devendo ignorá-la, não se absteve de adotar esse comportamento, que, como supra
referido, preenche todos os elementos de um tipo legal de contraordenação.
4.1.3.1. Ilicitude
221. A decisão adotada pela APEC preenche todos os elementos típicos de uma decisão de
associação de empresas proibida nos termos do n.º 1 do artigo 9.º da Lei n.º 19/2012,
pelo que é ilícita, não se verificando quaisquer causas de exclusão da ilicitude, também
ditas de justificação do facto.
222. Neste sentido, não colhe a justificação alegada pelos Visados nas pronúncias sobre a
Nota de Ilicitude (cf. parágrafos 34 e ss.) e igualmente constante das declarações
proferidas no contexto da realização de diligências complementares de prova (cf.
parágrafos 44 e ss.).
223. Com efeito, alegam os Visados que a APEC não pretendeu ter qualquer influência sobre
os preços de mercado praticados pelas escolas de condução, mas que apenas
pretendia ajudar a resolver a crise instalada no sector pela implementação de eventuais
estratégias comerciais por parte de escolas de condução, nomeadamente através da
prática de preços abaixo do custo.
48
224. Esta alegada prática de preços abaixo de custo envolveria uma redução da qualidade
dos serviços prestados ao cliente e da qualidade do ensino, contribuindo,
consequentemente, para o aumento da probabilidade da ocorrência de sinistralidade.
Acresce que, segundo os Visados, essa política de preços abaixo de custo, implicou
ainda a redução da qualidade das condições de trabalho (cf. parágrafos 36 a 39 e 46 a
51).
225. Neste contexto, cumpre referir, em primeiro lugar, que, independentemente de ter
pretendido ou não influenciar os preços, a conduta da APEC é suscetível,
objetivamente, de propiciar um comportamento uniforme, no que aos preços se refere,
por parte das escolas de condução às quais a APEC presta os seus serviços. Neste
sentido, e como já referido, a definição dos preços pelos agentes económicos deve
resultar apenas e tão só do livre jogo do mercado. O comportamento da APEC, pela sua
própria natureza, foi suscetível de interferir com o regular funcionamento do mercado.
226. Acresce que, ao invés do que afirma a APEC, não existe um preço único “abaixo do
qual a escola dá prejuízo” aplicável a todas as escolas de condução de Lisboa e
Setúbal, uma vez que diferentes escolas de condução terão necessariamente diferentes
estruturas de custos e estratégias de negócio.
227. Em segundo lugar, não consta do processo prova da prática de preços abaixo do custo
neste sector, nem das consequências de tal prática supra mencionadas pelos Visados.
Contudo, mesmo que assim fosse, não compete à APEC interferir diretamente sobre o
livre jogo de mercado, substituindo-se às escolas de condução na definição dos seus
preços, e adotando para o efeito uma medida restritiva da concorrência.
228. Assim sendo, os argumentos apresentados pelos Visados em sede de pronúncia sobre
a Nota de Ilicitude, não podem ser considerados como causa de exclusão da ilicitude do
comportamento da APEC, ora em causa.
229. Constata-se deste modo que a conduta da APEC preenche os elementos que integram
e traduzem a ilicitude da decisão, assumindo-se como contrária à ordem jurídica.
230. É, pois, inequívoco o caráter antijurídico da decisão adotada pela APEC, não se
verificando causas de justificação para a adoção da decisão em causa.
231. De facto, resulta da prova produzida nos Autos (cf. parágrafos 104 a 107 e 123 supra)
que a APEC conhece, ou, no mínimo, tem obrigação de conhecer, as normas que
regem o funcionamento do mercado, nomeadamente, as que visam garantir a livre
concorrência.
49
232. A este respeito, sublinhe-se que, em 16 de outubro de 2012, Alcino Cruz informou a
Escola de condução Marvila que “a APEC não pode persuadir as escolas a praticarem
preços combinado, por a lei proibir” (cf. parágrafo 104). Também a Escola de condução
Marvila alertou que a fixação de preços “é crime e fortemente punido” (cf. parágrafo
105).
233. Estas manifestações demostram que a APEC atuou, ao longo do tempo, com
consciência perfeita e esclarecida e, diga-se também, com vontade expressa, conforme
resulta inequivocamente da matéria de facto supra, que o seu comportamento violava
as regras da concorrência e que, como tal, era ilícito.
4.1.3.2. Culpa
234. Nos termos do artigo 9.º do RGIMOS, age com culpa quem atua com consciência da
ilicitude do facto, ou quando o erro sobre a ilicitude lhe for censurável.
235. A APEC não podia deixar de conhecer as obrigações que lhes incumbe à luz do direito
da concorrência, pelas quais qualquer operador económico deve determinar de maneira
autónoma a política que pretende seguir no mercado.
236. A APEC sabia também, que da adoção, nos termos em que o fez, daquelas medidas,
traduzidas na fixação artificial de preços, resultariam restrições da concorrência.
238. Nestes termos, verifica-se que a APEC agiu de forma livre, consciente e voluntária na
prática da infração, sabendo que as condutas que lhes são imputadas eram proibidas
por lei, tendo, ainda assim, querido realizar todos os atos necessários à sua verificação,
e abstendo-se, igualmente, até a este momento, de praticar os atos necessários à sua
cessação.
239. Do exposto resulta que a APEC agiu com dolo, já que, conhecendo as normas legais
aplicáveis, não se absteve de praticar, de forma deliberada, os atos acima descritos,
levando a cabo condutas que preenchem todos os elementos (objetivos e subjetivos) do
tipo legal de contraordenação previsto e punido no artigo 9.º da Lei n.º 19/2012.
240. Verifica-se que a decisão de associação de empresas de fixação do preço mínimo para
a obtenção da carta de condução de todas as categorias de veículos, ora em causa,
50
consubstancia uma infração permanente, tendo tido início em 28 de setembro de 2016,
no momento da sua adoção, não constando dos Autos prova que permita concluir pela
revogação da decisão, pelo que se considera que a mesma e as medidas que a
integram, mantêm-se em vigor.
241. Cumpre referir que, para efeitos de cálculo de duração de uma infração, os períodos
inferiores a um semestre serão contados como meio ano e os períodos superiores a
seis meses e inferiores a doze meses serão contados como um ano completo31.
242. Assim sendo, tendo a infração início em 28 de setembro de 2016 e estando ainda em
vigor à data de adoção da presente decisão, a duração até ao momento corresponde a
1 (um) ano.
245. Deve, pois, atender-se às exigências da prevenção, geral e especial, que visam, por um
lado, tutelar a confiança dos agentes económicos na promoção do equilíbrio e da
transparência das relações entre agentes económicos e, por outro, dissuadir os agentes
económicos que manifestam uma elevada insensibilidade aos bens jurídicos tutelados,
restabelecendo a confiança dos agentes económicos e dos consumidores no
ordenamento jusconcorrencial.
31 Cf. Parágrafo 29 das Linhas de Orientação da Autoridade sobre a metodologia a utilizar na aplicação de
coimas no âmbito do n.º 8 do artigo 69.º da Lei n.º 19/2012 (doravante “Linhas de Orientação da Autoridade para
o cálculo de coimas”).
51
ilícitos, atuando em duas vertentes: através da manutenção ou reforço da confiança da
comunidade na validade e na força de vigência das suas normas de tutela de bens
jurídicos (prevenção geral positiva ou de integração), e através da intimidação causada
à generalidade dos agentes, devido ao prejuízo que a sanção causa ao infrator e que os
leva a não cometerem factos puníveis (prevenção geral negativa ou de intimidação).
248. Por sua vez, a prevenção especial assenta na ideia de que a coima é um instrumento
de atuação preventiva sobre o infrator, com o fim de evitar que, no futuro, este cometa
novos ilícitos.
249. A prevenção especial atua, quer ao nível da intimidação individual do agente para que
este não repita o facto praticado (prevenção especial negativa), quer através da criação
de condições para que este aja de harmonia com as regras jurídicas (prevenção
especial positiva).
250. Deve ainda atender-se ao desvalor da ação e ao resultado da mesma, bem como à
intensidade da realização típica, sendo que, entre essas circunstâncias, se considera no
que toca à ilicitude, o grau de violação ou o perigo de violação do interesse ofendido, o
número de interesses ofendidos e suas consequências, a eficácia dos meios utilizados;
no que toca à culpa, o grau de violação dos deveres impostos ao agente, o grau de
intensidade da vontade, os sentimentos manifestados no cometimento do ilícito, os fins
ou motivos determinantes, a conduta anterior e posterior.
251. Elementos esses que permitirão concretizar, dentro da medida abstrata da coima, o
quantum a aplicar no caso concreto.
52
253. O volume de negócios agregado das empresas associadas da APEC, no ano de 2016,
foi de 4.358.778,98 euros (cf. parágrafo 77), não podendo a coima aplicada à APEC
exceder 435.877,89 euros.
255. Nos termos da lei aplicável, estes fins devem ser alcançados em função,
nomeadamente, dos critérios enunciados no n.º 1 do artigo 69.º, da Lei n.º 19/2012, e
que são os seguintes: a gravidade da infração para a afetação de uma concorrência
efetiva no mercado nacional; a natureza e a dimensão do mercado afetado pela
infração; a duração da infração; o grau de participação do visado pelo processo na
infração; as vantagens de que haja beneficiado o visado pelo processo em
consequência da infração, quando as mesmas sejam identificadas; o comportamento do
visado pelo processo na eliminação das práticas restritivas e na reparação dos
prejuízos causados à concorrência; a situação económica do visado pelo processo; os
antecedentes contraordenacionais do visado pelo processo por infração às regras da
concorrência; a colaboração prestada à Autoridade da Concorrência até ao termo do
procedimento.
257. Definidos estes parâmetros, e como referido, estipula o n.º 2 do artigo 69.° da Lei n.º
19/2012 que a coima não poderá exceder 10% do volume de negócios agregado das
empresas associadas no exercício imediatamente anterior à decisão final condenatória
proferida pela Autoridade.
258. A determinação da medida concreta da coima é levada a cabo num único ato33, por via
da qual o aplicador tem de considerar, simultaneamente e num momento uno, o fator da
32 Cf. Paulo Pinto de Albuquerque, Comentário ao Regime Geral de Contra-ordenações, 2011, Universidade
Católica Editora, anotação ao artigo 18.º, página 84.
33 Cf. Figueiredo Dias, Direito Penal Português, As Consequências Jurídicas do Crime, Coimbra Editora, 2005,
página 126; no mesmo sentido, Sentença do TCRS de 20.10.2016, grupo ANF c. AdC, processo n.º
36/16.0YUSTR (1.º Juízo), página 297.
53
culpa, conjuntamente com os demais critérios de determinação da medida da coima,
incluindo a situação económico-financeira do agente.
259. Isto significa, por um lado, que os limites máximos objetivos e fixos não são
determinados apenas em função da gravidade máxima que os factos podem assumir,
mas também em função da situação económico-financeira dos agentes da infração.
Significa ainda, por outro lado, que na concreta tarefa de determinação da medida da
coima a ponderação dos factos e demais critérios é sempre combinada e subjetivizada
à luz da situação económico-financeira atual do infrator. O n.º 2 do artigo 69.º da Lei n.º
19/2012 vem introduzir essa subjetivação no limite máximo, sem prejuízo de um ulterior
afinamento por via da ponderação do critério previsto na alínea g) do n.º 1 do artigo 69.º
da Lei n.º 19/2012.
262. Tal não significa que a aplicação da metodologia constante das Linhas de Orientação se
traduza num cálculo aritmético tendente à fixação do montante das coimas a aplicar.
263. Pelo contrário, tal metodologia fornece apenas uma orientação de índole geral,
preservando o grau de amplitude necessário à adaptação das coimas às
particularidades e exigências específicas de prevenção geral e especial que se façam
sentir em cada caso concreto, à luz dos princípios da proporcionalidade e adequação.
265. Neste sentido, nos termos da lei, a AdC deve atender ao volume de negócios total
agregado das empresas associadas no exercício imediatamente anterior à decisão final
condenatória proferida pela Autoridade, podendo igualmente atender, como referido nas
Linhas de Orientação, ao volume de negócios agregado das empresas associadas
direta ou indiretamente relacionado com a infração, que, in casu, se reconduz, no
54
essencial, ao volume de negócios total das empresas associadas atenta a atividade
pelas mesmas desenvolvida.
267. Nessa medida, tal como igualmente previsto nas Linhas de Orientação identificadas, e
nos termos do n.º 1 do artigo 69.º da Lei n.º 19/2012, a Autoridade considerará na
determinação da medida concreta da coima a aplicar aos Visados, nomeadamente, os
seguintes critérios para a determinação da medida concreta da coima:
269. Nessas circunstâncias, é fácil concluir-se pela elevada gravidade da infração cometida
pela APEC, uma vez que a mesma visa aumentar os preços de forma coordenada, em
substituição à incerteza normal quanto à conduta de empresas concorrentes no
mercado, tratando-se de uma iniciativa de uma associação para a coordenação de
condutas no mercado e na fixação de preços que podem afetar de forma especialmente
grave o bom funcionamento do mercado.
270. De facto, a fixação dos preços é uma das práticas mais restritivas da concorrência,
pondo em causa o bom funcionamento do mercado, prejudicando os consumidores e
originando efeitos nocivos sobre a eficiência económica.
271. A infração cometida pela APEC é, pois, qualificada como uma infração muito grave.
55
4.1.5.2.2.2. Duração da infração
272. A infração cometida pela APEC vigora desde 28 de setembro de 2016, data da adoção
da decisão, tendo-se mantido, de forma permanente e nesses precisos termos, até à
presente data.
273. Assim, a duração da infração a considerar para efeitos de determinação das coimas
aplicáveis corresponde a 1 (um) ano (cf. parágrafo 242).
276. Nos termos da alínea a), do n.º 1 do artigo 71.º da Lei n.º 19/2012, caso a gravidade da
infração, e a culpa do infrator, o justifiquem, a Autoridade pode determinar a aplicação
da sanção acessória que consiste na publicação, a expensas do infrator, da decisão
proferida no âmbito do inquérito, no Diário da República e/ou num jornal de expansão
nacional, regional ou local, após o trânsito em julgado.
280. Acresce que, de acordo com a informação constante dos Autos, em 16 de outubro de
2012, o presidente da direção da APEC já havia sugerido, pelo menos a uma das
escolas de condução às quais presta os seus serviços, a medida de “praticar preços
combinados”. Neste contexto, sublinhe-se que o presidente da direção da APEC não
desconhecia que “a APEC não pode persuadir as escolas a praticarem preços
combinados, por a lei proibir” (cf. parágrafos 104 e 105).
281. Em 2013, referiu ainda ter “promessas de alguns dos principais grupos de que a partir
de fevereiro, já vão estabilizar os preços das cartas para os €600” (cf. parágrafo 107).
282. Assim sendo, verifica-se que, atentos os factos supra descritos e o conjunto de
elementos de prova precisos e concordantes que se encontram juntos aos Autos, o
comportamento do presidente da direção da APEC, Alcino Cruz, é subsumível na
infração prevista e punida nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 68.º da Lei n.º
19/2012.
57
283. Com efeito, o presidente da direção da APEC, assumindo, nessa qualidade, uma
posição de liderança na Associação, teve conhecimento direto e intervenção pessoal na
prática restritiva da concorrência imputada à APEC, não tendo adotado qualquer
diligência ou medida tendente ao seu termo imediato.
284. Nos termos do n.º 6 do artigo 73.° da Lei n.º 19/2012, "os titulares do órgão de
administração das pessoas coletivas e entidades equiparadas, bem como o
responsáveis pela direção ou fiscalização de áreas de atividade em que seja praticada
alguma contraordenação, incorrem na sanção cominada no n.º 4 do artigo 69.º […]
quando, conhecendo ou devendo conhecer a prática da infração, não adoptem as
medidas adequadas para lhe pôr termo imediatamente, a não ser que sanção mais
grave lhe caiba por força de outra disposição legal”.
285. Com base na prova reunida nos presentes Autos e carreada nesta Decisão, conclui-se
que Alcino Cruz não só teve conhecimento direto da infração (decisão de associação de
empresas restritiva da concorrência), como foi diretamente responsável pela sua
adoção e efetiva execução (cf. parágrafos 104 a 111, 112 e 116 a 120), não resultando
dos Autos que tenha adotado qualquer diligência ou medida tendente ao termo imediato
da prática ilícita.
287. Deste modo, Alcino Cruz teve conhecimento de que a decisão de associação de
empresas adotada pela APEC tinha como objetivo a fixação de um preço mínimo para a
obtenção da carta de condução de qualquer categoria de veículo, na zona de Grande
Lisboa e Setúbal.
288. Por sua vez, Alcino Cruz não adotou qualquer diligência ou medida tendente a pôr
termo a tal decisão, adotando, pelo contrário, todas a medidas disponíveis para
58
conseguir que o maior número de escolas de condução aderissem aos termos da
decisão adotada pela APEC, em 28 de setembro de 2016.
289. Nos termos do artigo 14.° do Código Penal, age com dolo quem, representando um
facto que preenche um tipo de crime, atua com intenção de o realizar, consistindo o
dolo direto no conhecimento e vontade de realização dos factos que preenchem o tipo
(elementos cognitivo e volitivo do dolo).
290. Apreciadas as provas e os factos constitutivos do tipo sub judice, verifica-se que Alcino
Cruz omitiu qualquer ação tendente a pôr termo à decisão da APEC de fixação do preço
mínimo para a obtenção da carta de condução de todas as categorias de veículos,
tendo-se demonstrado, também, ter sido o responsável pela definição dos respetivos
parâmetros, sua implementação e execução.
291. O Visado Alcino Cruz apresentou as justificações para a sua conduta que se encontram
vertidas na sua defesa, e que aqui se dão por reproduzidas, tendo sido objeto de
análise supra (cf. parágrafos 222 e ss.).
292. Neste sentido, e pelo exposto, a infração aqui em causa é imputada a Alcino Cruz a
título de dolo direto.
293. De acordo com o disposto n.º 6 do artigo 73.º da Lei n.º 19/2012, e nos termos do
disposto no n.º 4 do artigo 69.º da mesma Lei, a coima aplicável a Alcino Cruz, não
poderá exceder 10% da remuneração anual auferida pelo exercício das suas funções
na APEC, no último ano completo em que se tenha verificado a prática proibida.
294. A remuneração anual de Alcino Cruz pelo exercício das suas funções na APEC, no ano
de 2016, foi de 150.073,14 euros (cf. parágrafo 80), não podendo a coima aplicada
exceder 15.007,34 euros.
295. Nos termos do disposto nas Linhas de Orientação identificadas supra, para efeitos do
cálculo do montante base da coima máxima aplicável ao Visado Alcino Cruz, como
pessoa singular, a AdC pondera a relação entre o montante de base da coima aplicada
à APEC e o volume de negócios agregado das empresas suas associadas,
incorporando tal proporção na determinação da medida da coima por referência à
remuneração anual do Visado Alcino Cruz (cf. parágrafo 28 das Linhas de Orientação).
59
296. Nessa medida, tal como igualmente previsto nas Linhas de Orientação identificadas, e
nos termos do n.º 1 do artigo 69.º da Lei n.º 19/2012, a Autoridade considerará na
determinação da medida concreta da coima a aplicar ao Visado Alcino Cruz,
nomeadamente, os seguintes critérios para a determinação da medida concreta da
coima:
299. Com efeito, e como se explicitou supra, a fixação dos preços é uma das práticas mais
restritivas da concorrência, pondo em causa o bom funcionamento do mercado,
prejudicando os consumidores e originando efeitos nocivos sobre a eficiência
económica.
300. A infração cometida pelo Visado Alcino Cruz é, pois, qualificada como uma infração
muito grave.
301. A infração cometida pelo Visado Alcino Cruz vigora desde 28 de setembro de 2016,
data da adoção da decisão, tendo-se mantido, de forma permanente e nesses precisos
termos, até à presente data.
302. Assim, a duração da infração a considerar para efeitos de determinação das coimas
aplicáveis corresponde a 1 (um) ano (cf. parágrafo 242).
60
4.2.3.1.1.3. Grau de participação de Alcino Cruz
304. O Visado Alcino Cruz não adotou, pois, qualquer diligência ou medida tendente a pôr
termo à decisão da APEC em apreço, adotando, pelo contrário, todas a medidas
disponíveis para proceder à sua execução e implementação junto do maior número de
escolas de condução possível.
305. O Visado Alcino Cruz respondeu no prazo fixado a todos os pedidos de elementos e
convocatórias para efeitos de interrogatório da Autoridade.
5. CONCLUSÃO
307. Esta decisão preenche todos os elementos do tipo legal de contraordenação. A APEC
agiu dolosamente, ou seja, de forma direta, livre, consciente e voluntária, tendo a
intenção específica de limitar, de forma sensível, a concorrência entre as escolas de
condução.
308. A contraordenação é punível mesmo no caso de conduta negligente (n.º 3 do artigo 68.º
da Lei n.º 19/2012).
309. Sendo considerada uma infração muito grave do artigo 9.º da Lei n.º 19/2012, é punível
nos termos que resultam da conjugação das disposições constantes do artigo 67.º,
alíneas a) e b) do n.º 1, do artigo 68.º e n.º 2, do artigo 69.º, da mesma Lei, com coima
que não poderá exceder 10% do volume de negócios agregado das empresas
associadas no exercício imediatamente anterior à presente Decisão.
310. Por sua vez, Alcino Cruz, é responsável, nos termos do n.º 6 do artigo 73.º da Lei n.º
19/2012, pela autoria de um ilícito contraordenacional previsto e punido na alínea a) do
n.º 1 do artigo 68.º da mesma Lei, por ter conhecimento da prática ilícita que é imputada
à APEC da qual é presidente da direção, por ter contribuído ativamente para a prática
da infração e por não ter adotado qualquer diligência ou medida que impedisse a
infração ou a sua execução.
311. De acordo com o disposto n.º 6 do artigo 73.º, da Lei n.º 19/2012, e nos termos do
disposto no n.º 4 do artigo 69.º da mesma Lei, a coima aplicável a Alcino Cruz não
poderá exceder 10% da remuneração anual auferida pelo exercício das suas funções
na APEC, no último ano completo em que se tenha verificado a prática proibida.
312. Na determinação concreta das coimas aplicáveis, a AdC considerou, nos termos acima
descritos, os critérios estabelecidos no n.º 1 do artigo 69.º da Lei n.º 19/2012, bem
como a metodologia estabelecida nas suas Linhas de Orientação para o cálculo das
coimas.
6. DECISÃO
Primeiro
62
Declarar que a Visada APEC ao adotar uma decisão de associação de empresas visando a
fixação de um preço mínimo para a obtenção da carta de condução para qualquer categoria
de veículo, tendo por objeto impedir, falsear ou restringir, de forma sensível, a concorrência,
no mercado da prestação de serviços do ensino da condução de veículos, na área da
Grande Lisboa e de Setúbal, praticou uma contraordenação às regras da concorrência
punível com coima, nos termos e para os efeitos da alínea a) do n.º 1 do artigo 9.º e da
alínea a) do n.º 1 do artigo 68.º da Lei n.º19/2012,
Segundo
Declarar que o Visado Alcino Cruz, ao ter conhecimento da prática ilícita que é imputada à
APEC, da qual é presidente da direção, ao ter contribuído ativamente para a prática da
infração e por não ter adotado qualquer diligência ou medida que impedisse a infração ou a
sua execução, é responsável, nos termos dos números 1 e 6 do artigo 73.º da Lei n.º
19/2012 pela contraordenação prevista na alínea a) do n.º 1 do artigo 68.º da mesma lei,
Terceiro
Fixar a coima aplicável à Visada APEC em €400 000,00 (quatrocentos mil euros), nos
termos do disposto do artigo 69.º da Lei n.º 19/2012,
Quarto
Fixar a coima aplicável ao Visado Alcino Cruz em €13 776,71 (treze mil setecentos e setenta
e seis euros e setenta e um cêntimos), nos termos do disposto do artigo 69.º da Lei n.º
19/2012,
Quinto
Nos termos do disposto no artigo 71.º da Lei n.º 19/2012, a título de sanção acessória,
ordenar aos Visados que procedam à publicação, no prazo de 20 dias a contar do trânsito
em julgado da presente Decisão, de um extrato da mesma, nos termos e conforme a cópia
que lhe será oportunamente comunicada, na II série do Diário da República e em jornal de
expansão nacional,
63
Sexto
Nos termos do disposto no n.º 2 do artigo 92.º e na alínea b) do n.º 2 e no n.º 3 do artigo
94.º do RGCO, é fixado em €1.000,00 (mil euros), o montante das custas a suportar pela
Visada APEC no presente processo,
Sétimo
Nos termos do disposto no n.º 2 do artigo 92.º e na alínea b) do n.º 2 e no n.º 3 do artigo
94.º do RGCO, é fixado em €1.000,00 (mil euros), o montante das custas a suportar pelo
Visado Alcino Cruz no presente processo,
Oitavo
Advertir ainda os Visados, nos termos do disposto no artigo 58.º do RGCO, de que:
c) A coima aplicada a cada um dos Visados, bem como as respetivas custas, deverão
ser pagas, nos termos do n.º 5 do artigo 84.º da Lei n.º 19/2012:
ou
Presidente
Vogal Vogal
65
ANEXO 1: Escolas de condução associadas da APEC e respetivo volume de negócios em 2016
Volume de
Escolas de condução Associadas da APEC negócios em 2016
(€) Fls.
1. Benficartas - Centro de Instrução Automóvel de Lisboa, Lda. 164 066,19 1002
2. Escola de Condução Vitória, Lda. 21 627,23 1973
3. Escola de Condução Lusitânia de Automobilismo, Lda. 30 333,82 2017
4. Escola de Condução A Portuguesa, Lda. 117 405,09 2023
5. Escola de Condução Parque dos Príncipes, Lda. 96 949,00 1250
6. Escola de Condução Pátria Lda. 42 394,00 991
7. Escola de Condução Unidos do Volante Lda. 117 132,72 1902
8. Escola de condução Especial Batalhense, Lda. 728 781,25 1666
9. Escola de condução Fenomenal, Lda. 49 809,74 1324
10. Célia Maria da Silva Sousa 70 832,46 2070
11. E.C.O. - Escola de Condução de Odivelas, Lda. 34 376,88 1988
12. Elite da Escola de Condução e Formação, Lda. 243 101,03 2017
13. Escola de Condução 3ÁS, Lda. 41 120,31 1061
14. Escola de Condução Amoreira, Lda. 40 265,39 1943
15. Escola de Condução Atlas, Lda. 21 219,84 2000
16. Escola de Condução Beneditense, Lda. 140 496,00 940
17. Escola de Condução Charneca, Lda. 35 231,55 1891
18. Escola de Condução da Brandoa, Lda. 63 083,25 1945
19. Escola de Condução Independente, Unipessoal, Lda. 95 127,38 1452-O
20. Escola de Condução Infantado, Lda. 105 992,18 1600
21. Escola de Condução Mercês -Serra de Minas, Lda. 140 999,98 1048
22. Escola de Condução Quinta da Piedade, Lda. 74 594,01 1278
23. Escola de Condução Salvaterra, Lda. 45 294,97 1243
24. Escola de Condução Sentido Obrigatório, LDA 332 402,17 2015
25. Escola de Condução Via Azul, Lda. 82 051,12 1471
26. Escola de Condução Via Rápida, Lda. 191 508,47 1066
27. Escola de Condução Viaensinoauto Unipessoal, Lda. 64 368,34 1300
28. Instrutora de automóveis, Lda. 179 313,23 1954
29. Mourin - Ensino Automobilístico, Lda. 93 442,94 1588
30. Nossa Senhora da Paz - Ensino e Formação de Condução, Lda. 84 862,68 948
31. ONE MORE TIME - Escola de Condução, Lda. 20 909,56 1590
32. Pinto, Lda. 305 612,28 1555
33. SACEC - Escola de Condução Sacavém Unipessoal, Lda. 137 789,51 1520
34. STRADAPERFIL, LDA. 212 441,63 1983
35. Trilhototal, Lda. 133 842,78 1986
TOTAL 4.358.778,98
66
ANEXO 2: Endereços dos destinatários da mensagem de correio eletrónico enviada
pela APEC em 23 de setembro de 2016
3 AlhandraRio<[email protected]> Desconhecido
alvercagruposegurancamaxima.pt<alverca@gruposeguranc Ensino de Condução Diogo & Filhos,
4 amaxima.pt> Lda. 509447147
14 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
15 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
[email protected] Escola de Condução Nova Almada,
16 <[email protected]> Lda. 504108298
Ensino de Condução Diogo & Filhos
17 e.c.novaxira@gmailcom <[email protected]> Lda. 509447147
Francisco Diogo Aguiar Unipessoal,
18 e.c.povoacity@gmailcom <[email protected]> Lda. 510556400
19 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
Escola de Condução Via Ensinauto
20 [email protected]<[email protected]> Unipessoal, Lda. 506002853
21 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
25 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
27 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
67
Empresa a que está
NIF da
Endereço eletrónico associado/designação social da
empresa
empresa
34 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
35 ecoriental@gmailcom<[email protected]> Desconhecido
ec.parquedasnacoesgmaiI.com<ec.parquedasnacoes@gm
36 ail.com> IMND Sociedade Unipessoal, Lda. 507986938
39 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
40 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
52 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
53 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
SACEC- Sacavém Escola de Condução
54 ecsacavemgmail.com<[email protected]> Unipessoal, Lda. 510752896
Est. Ensino Automobilístico de S.
55 [email protected]<[email protected]> Cristóvão, Lda. 500600902
ECSaoJoaoTalhanetcabo.pt<[email protected]
56 t> Desconhecido
59 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
68
Empresa a que está
NIF da
Endereço eletrónico associado/designação social da
empresa
empresa
78 escolabarreiro<[email protected]> Desconhecido
80 Escolacondução<[email protected]> Desconhecido
83 EscolaconduçãoBenfica<[email protected]> Desconhecido
EscolaConduçãoColinadoSol<escolaconducaocolinadosol Escola de Condução Colina do Sol,
84 @gmail.com> Lda. 504201964
87 EscolaConduçãoViaMaior<[email protected]> Desconhecido
ONE MORE TIME-Escola de
88 escoladeconduçãoabrunheira<[email protected]> Condução, Lda. 507475968
EscoladeConduçãoAfonsoV<afonsov.escolaconducao@gm
89 ail.com> Escola de Condução J.L.A., Lda. 505628740
EscoladeConduçãoAlmirante<paulolinoalmirante@outlook.
90 pt> Escola de Condução Almirante, Lda. 507377613
69
Empresa a que está
NIF da
Endereço eletrónico associado/designação social da
empresa
empresa
70
Empresa a que está
NIF da
Endereço eletrónico associado/designação social da
empresa
empresa
71
Empresa a que está
NIF da
Endereço eletrónico associado/designação social da
empresa
empresa
72
ANEXO 3: Endereços dos destinatários da mensagem de correio eletrónico enviada
pela APEC em 29 de setembro de 2016
3 AlhandraRio<[email protected]> Desconhecido
alvercagruposegurancamaxima.pt<alverca@gruposeguranca Ensino de Condução Diogo & Filhos,
4 maxima.pt> Lda. 509447147
14 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
14 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
[email protected] Escola de Condução Nova Almada,
15 <[email protected]> Lda. 504108298
Ensino de Condução Diogo & Filhos
16 e.c.novaxira@gmailcom <[email protected]> Lda. 509447147
Francisco Diogo Aguiar Unipessoal,
17 e.c.povoacity@gmailcom <[email protected]> Lda. 510556400
18 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
Escola de Condução Via Ensinauto
19 [email protected]<[email protected]> Unipessoal, Lda. 506002853
20 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
24 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
26 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
30 ec.batistagomes@gmailcom<[email protected]> Desconhecido
Escola de Condução Parque dos
31 [email protected]<[email protected]> Príncipes, Lda. 510011276
Escola de Condução Esp. Mafrense,
32 [email protected] <[email protected]> Lda. 503822191
73
Empresa a que está
NIF da
Endereço eletrónico associado/designação social da
empresa
empresa
33 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
34 ecoriental@gmailcom<[email protected]> Desconhecido
ec.parquedasnacoesgmaiI.com<ec.parquedasnacoes@gmail.
35 com> IMND Sociedade Unipessoal, Lda. 507986938
38 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
39 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
51 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
52 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
SACEC- Sacavém Escola de
53 ecsacavemgmail.com<[email protected]> Condução Unipessoal, Lda. 510752896
Est. Ensino Automobilístico de S.
54 [email protected]<[email protected]> Cristóvão, Lda. 500600902
55 ECSaoJoaoTalhanetcabo.pt<[email protected]> Desconhecido
58 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
63 [email protected]<esc.bomsucesso@gmail. Desconhecido
Escola Nacional de Automobilismo,
64 [email protected]<[email protected]> Lda. 500097984
67 [email protected]<esc.cond.previsegur@gmail Desconhecido
74
Empresa a que está
NIF da
Endereço eletrónico associado/designação social da
empresa
empresa
.com>
esc.cond.valefigueiragmail.com<esc.cond.valefigueira@gmail
68 .com> Desconhecido
[email protected]<esc.condtecnicartas@gmail
69 .com> Desconhecido
escconducaoaltomoinhosgmail.com<esc.conducaoaltomoinh
70 [email protected]> Escola de Condução de Benfica, Lda. 500600791
[email protected]<esc.conducaocolombo@
71 gmail.com> Escola de Condução Triunfo, Lda. 500566410
[email protected]<esc.conducaojardi Escola de condução Jardim da
72 [email protected]> Radial, Lda. 510336957
escconducaolaranjeiras@gmailcom<esc.conducaolaranjeiras Escola de Condução Laranjeiras,
73 @gmail.com> Lda. 513081445
escconducaoentroncamento@iolpt<escconducaoentroncame
74 [email protected]> Desconhecido
Segurança Máxima - Tolerância Zero,
75 EscolaAlameda<[email protected]> S.A. 511106432
77 escolabarreiro<[email protected]> Desconhecido
79 Escolacondução<[email protected]> Desconhecido
82 EscolaconduçãoBenfica<[email protected]> Desconhecido
EscolaConduçãoColinadoSol<escolaconducaocolinadosol@g Escola de Condução Colina do Sol,
83 mail.com> Lda. 504201964
88 EscolaConduçãoViaMaior<[email protected]> Desconhecido
ONE MORE TIME-Escola de
89 escoladeconduçãoabrunheira<[email protected]> Condução, Lda. 507475968
EscoladeConduçãoAfonsoV<afonsov.escolaconducao@gmail
90 .com> Escola de Condução J.L.A., Lda. 505628740
EscoladeConduçãoAlmirante<[email protected]
91 > Escola de Condução Almirante, Lda. 507377613
Type Gear II Escola de Condução,
92 escoladeconduçãodaportela<[email protected]> S.A. 510515290
EscoladeConduçãodeTelheiras<telheiras@gruposegurancam Ensino de Condução Diogo & Filhos,
93 axima.pt> Lda. 509447147
EscoladeConduçãoEbenézer<ebenezerexames.apec@gmail. Escola de Condução Quinta Nova,
94 com> Unipessoal, Lda. 509996280
EscoladeConduçãoGamaSarros<infogamabarros@gmailcom
95 > RPS Drive, Lda. 510928692
EscoladeConduçãoIndependente Escola de Condução Independente,
96 <[email protected]> Unipessoal, Lda. 506323293
EscoladeconduçãoN.Sra.daPaz<esnossasenhoradapaz@gm
97 ail.com> Desconhecido
EscoladeConduçãoNorte<[email protected]
98 > Escola de Condução J. L. A., Lda. 505628740
EscoladeConduçãoOuriquense<[email protected] Escola de Condução Ouriquense,
99 > Lda. 500535744
Escola de Condução Prior Velho
100 EscoladeConduçãoPriorVelho<[email protected]> Unipessoal, Lda. 506540456
75
Empresa a que está
NIF da
Endereço eletrónico associado/designação social da
empresa
empresa
76
Empresa a que está
NIF da
Endereço eletrónico associado/designação social da
empresa
empresa
77
Empresa a que está
NIF da
Endereço eletrónico associado/designação social da
empresa
empresa
78
ANEXO 4: Endereços dos destinatários da mensagem de correio eletrónico enviada
pela APEC em 11 de outubro de 2016
3 AlhandraRio<[email protected]> Desconhecido
alvercagruposegurancamaxima.pt<alverca@gruposeguranc Ensino de Condução Diogo & Filhos,
4 amaxima.pt> Lda. 509447147
14 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
14 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
[email protected] Escola de Condução Nova Almada,
15 <[email protected]> Lda. 504108298
Ensino de Condução Diogo & Filhos
16 e.c.novaxira@gmailcom <[email protected]> Lda. 509447147
Francisco Diogo Aguiar Unipessoal,
17 e.c.povoacity@gmailcom <[email protected]> Lda. 510556400
18 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
Escola de Condução Via Ensinauto
19 [email protected]<[email protected]> Unipessoal, Lda. 506002853
20 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
24 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
26 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
33 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
79
Empresa a que está
NIF da
Endereço eletrónico associado/designação social da
empresa
empresa
34 ecoriental@gmailcom<[email protected]> Desconhecido
ec.parquedasnacoesgmaiI.com<ec.parquedasnacoes@gm
35 ail.com> IMND Sociedade Unipessoal, Lda. 507986938
38 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
39 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
51 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
52 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
SACEC- Sacavém Escola de
53 ecsacavemgmail.com<[email protected]> Condução Unipessoal, Lda. 510752896
Est. Ensino Automobilístico de S.
54 [email protected]<[email protected]> Cristóvão, Lda. 500600902
ECSaoJoaoTalhanetcabo.pt<[email protected]
55 t> Desconhecido
58 [email protected]<[email protected]> Desconhecido
80
Empresa a que está
NIF da
Endereço eletrónico associado/designação social da
empresa
empresa
[email protected]<esc.condtecnicartas@gm
69 ail.com> Desconhecido
escconducaoaltomoinhosgmail.com<esc.conducaoaltomoin
70 [email protected]> Escola de Condução de Benfica, Lda. 500600791
[email protected]<esc.conducaocolombo
71 @gmail.com> Escola de Condução Triunfo, Lda. 500566410
[email protected]<esc.conducaojard Escola de condução Jardim da
72 [email protected]> Radial, Lda. 510336957
escconducaolaranjeiras@gmailcom<esc.conducaolaranjeir Escola de Condução Laranjeiras,
73 [email protected]> Lda. 513081445
escconducaoentroncamento@iolpt<escconducaoentronca
74 [email protected]> Desconhecido
Segurança Máxima - Tolerância Zero,
75 EscolaAlameda<[email protected]> S.A. 511106432
77 escolabarreiro<[email protected]> Desconhecido
79 Escolacondução<[email protected]> Desconhecido
82 EscolaconduçãoBenfica<[email protected]> Desconhecido
EscolaConduçãoColinadoSol<escolaconducaocolinadosol Escola de Condução Colina do Sol,
83 @gmail.com> Lda. 504201964
88 EscolaConduçãoViaMaior<[email protected]> Desconhecido
ONE MORE TIME-Escola de
89 escoladeconduçãoabrunheira<[email protected]> Condução, Lda. 507475968
EscoladeConduçãoAfonsoV<afonsov.escolaconducao@gm
90 ail.com> Escola de Condução J.L.A., Lda. 505628740
EscoladeConduçãoAlmirante<paulolinoalmirante@outlook.
91 pt> Escola de Condução Almirante, Lda. 507377613
Type Gear II Escola de Condução,
92 escoladeconduçãodaportela<[email protected]> S.A. 510515290
EscoladeConduçãodeTelheiras<telheiras@gruposeguranca Ensino de Condução Diogo & Filhos,
93 maxima.pt> Lda. 509447147
EscoladeConduçãoEbenézer<ebenezerexames.apec@gm Escola de Condução Quinta Nova,
94 ail.com> Unipessoal, Lda. 509996280
EscoladeConduçãoGamaSarros<infogamabarros@gmailco
95 m> RPS Drive, Lda. 510928692
EscoladeConduçãoIndependente Escola de Condução Independente,
96 <[email protected]> Unipessoal, Lda. 506323293
EscoladeconduçãoN.Sra.daPaz<esnossasenhoradapaz@g
97 mail.com> Desconhecido
EscoladeConduçãoNorte<[email protected]
98 m> Escola de Condução J. L. A., Lda. 505628740
EscoladeConduçãoOuriquense<[email protected] Escola de Condução Ouriquense,
99 om> Lda. 500535744
Escola de Condução Prior Velho
100 EscoladeConduçãoPriorVelho<[email protected]> Unipessoal, Lda. 506540456
EscoladeConduçãoSobralense<[email protected]
101 t> Desconhecido
81
Empresa a que está
NIF da
Endereço eletrónico associado/designação social da
empresa
empresa
82
Empresa a que está
NIF da
Endereço eletrónico associado/designação social da
empresa
empresa
[email protected]<[email protected]
140 om> Desconhecido
Linha Livre - Escola de Condução
141 LinhaLivre<ecalcabidechegmail.com> Unipessoal, Lda. 510225063
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