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RELATO DE EXPERIÊNCIA: PRÁTICA PEDAGÓGICA EM

AMBIENTE HOSPITALAR

Aglailda Silva Alencar 1


Maria Josiane Oliveira Silva 2
Rosane Santos Gueudeville 3

INTRODUÇÃO

A Classe Hospitalar ou Escola Hospitalar é uma prática pedagógica - educacional diária


que objetiva dar prosseguimento aos estudos das crianças e adolescentes hospitalizados, a fim
de diminuir as dificuldades de aprendizagem e/ou oportunizar a aquisição de novos conteúdos.
(FONSECA, 2003). Reconhece ainda que tais alunos-pacientes, uma vez afastados das rotinas
escolares, e privados da convivência em comunidade, vivem sob risco de fracasso escolar e/ou
exclusão.
O presente trabalho objetiva relatar o trabalho pedagógico que vem sendo realizado em
uma enfermaria pediátrica de um hospital privado localizado na cidade de Crato – CE.
De acordo com a Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001, que trata das
Diretrizes Nacionais de Base para a Educação Especial na Educação Básica, no seu Art. 13, ela
estabelece o atendimento educacional para as crianças hospitalizadas:

Art. 13. Os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde,
devem organizar o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados
de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação
hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio.
(BRASIL, 2001, p. 4).

Dessa forma, podemos perceber que o direito a educação não se reduz especificamente
a escola, mas também em ambientes considerados não formais, como é o caso do hospital.
Assim, como o aprender não é isolado às classes e escolas regulares, os alunos
internados em idades e anos escolares diferentes, vem participando das aulas na Classe
Hospitalar, e muitas vezes, desenvolvendo novas habilidades, construindo juntos um novo
processo de ensino-aprendizagem.
Ressaltamos ainda que na região do Cariri, ainda não se conhecia hospitais que ofertem
o atendimento educacional para as crianças que se encontram internadas. Assim, motivados
pela possibilidade de requerimento de um campo de ações extensionistas para alunos(a) do
curso de Pedagogia da Universidade Regional do Cariri (URCA) foi firmado, em outubro de
2018, um Termo de convênio que entre si, celebram a Universidade Regional do Cariri – URCA
e o hospital privado para a implantação do Programa de atendimento educacional hospitalar e
domiciliar, conforme determinam a lei n° 8.069, de 13/07/1990, a lei nº 9.394 de 20/12/1996, a
Resolução nº 41 de 17/10/1995 e a Resolução CNE/CEB nº2 de 11 de setembro de 2001.
Contudo, é preciso destacar que embora esteja prevista na legislação brasileira, e que
existam professores para a realização dessa modalidade de atendimento educacional, os
hospitais de modo geral, têm feito muito pouco, para possibilitar às crianças e/ou adolescentes
1
Graduanda do Curso de Pedagogia da Universidade Regional do Cariri- URCA,
[email protected];
2
Graduanda do Curso de Pedagogia da Universidade Regional do Cariri-URCA,
[email protected];
3
Professora e Mestra no Curso de Pedagogia da Universidade Regional do Cariri - URCA,
[email protected];
hospitalizados a continuidade dos seus estudos. E isso tem de certa forma impossibilitado à
instalação dessa modalidade educacional, que vem aos poucos mostrando ser de suma
importância para o restabelecimento de crianças e/ou adolescentes que se encontram internados
nas enfermarias hospitalares.

MATERIAIS E MÉTODOS

O referido trabalho inteciona relatar a experiência, através de abrodagem crítico-


reflexiva, acerca das possibilidades e dificuldades experenciadas durante, a realização das ações
pedagógicas no projeto de extensão intitulado: “A escola vai ao hospital: possibilitando
atendimento pedagógico-educacional às crianças hospitalizadas”, no qual teve início em abril
de 2019 e já beneficiou desde a sua implantação até agosto do corrente ano, 40 (quarenta)
crianças e adolescentes.
As ações de extensão tiveram como cenário a enfermaria pediátrica de um hospital
privado localizado na cidade do Crato-CE e objetivou intervir pedagogicamente junto às
crianças e adolescentes, de modo a diminuir o impacto da hospitalização. As atividades
pedagógicas são desenvolvidas, semanalmente, no leito e/ou no espaço destinado à
brinquedoteca, contudo o referido espaço, ainda não foi adaptado para a realização do
atendimento às crianças e adolescentes.
A realização das atividades são divididas em alguns momentos, dentre ele: 1º momento
contato com a equipe de saúde que se encontra de plantão para o acesso ao relatório de
admissão, neste documento constam informações básicas acerca da idade do paciente, causa da
hospitalização e tempo de internamento, 2 º momento: passagem pelos leitos para convidar as
crianças para participarem das ações da escola hospitalar e diálogo com os responsáveis
esclarecendo os objetivos do projeto de extensão, 3º momento: execução das atividades
pedagógicas-educacionais nos leitos e/ou no espaço da brinquedoteca, levando em consideração
as intervenções terapêuticas sob a responsabilidade da esquipe de saúde, como: administração
de medicamentos, fisioterapia, coleta de sangue, realização de exames e os horários das visitas,
momento em que podem rever os familiares e ganham todo o aparato sentimental que precisam.
Vale ressaltar que como ainda não dispomos de espaço físico que possibilite por
exemplo: armazenar os matérias pedagógicos que serão utilizados, utilizamos maletas de
madeira, nas quais, possuem variáveis recursos pedagógicos como: jogos de matemática com
adição de número pequenos, alfabetização, alfabeto móvel, quebra-cabeça, lápis de cor, tintas,
dentre outros, tendo como referência o desejo pelo aprender e conhecer de uma forma lúdica e
divertida.
É importante mencionar também que a elaboração das atividades, tem por base a Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) assim como o currículo em vigor preconizado pelas
escolas de origem.

DESENVOLVIMENTO

Ao levarmos em consideração, a dimensão e importância de uma modalidade de atenção


que oportunize o desenvolvimento biopsicossocial de crianças e adolescentes em condição de
hospitalizações e internações recorrentes, a Resolução nº 41/95 do Conselho Nacional dos
Direitos da Criança e do Adolescente, garantiu para esta parcela da população, o "direito a
desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde e
acompanhamento do currículo escolar, durante sua permanência hospitalar”.
Além desse ordenamento jurídico, a Resolução da Câmara de Educação Básica, do
Conselho Nacional de Educação, CNE/CEB, n. 2 de 11 de setembro de 2001 que instituiu as
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, também contemplou a
categoria de atendimento Classe Hospitalar nas ações pretendidas pelo Ministério da Educação.
E atualmente, o texto da Lei 13.716, de 2018 acrescenta dispositivo na Lei Nacional de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96), assegurando atendimento pedagógico-
educacional, durante o período de internação, ao estudante da Educação Básica que se encontra
internado em regime hospitalar ou domiciliar por tempo prolongado.
Conforme Rodrigues e Simões (2018, p.193),

O direito à educação não se encerra para a criança hospitalizada. As políticas


educacionais voltadas para educação especial asseguram que, embora a criança esteja
impossibilitada de frequentar a escola regular devido sua condição de hospitalizada,
é possível que ela dê continuidade em sua vida escolar por meio da classe hospitalar.

Como SASSAKI (1997 p.34) expõe, “[...] a integração pouco ou nada exige da
sociedade em termos de modificação de atitudes, de espaços físicos, de objetos e de práticas
sociais.” A inclusão não pode restringisse apenas aos deficientes, mais as crianças que de certa
forma perpasam por situações de exclussão nas condições de doentes.

Com relação à pessoa hospitalizada, o tratamento de saúde não envolve apenas os


aspectos biológicos da tradicional assistência médica à enfermidade. A experiência de
adoecimento e hospitalização implica mudar rotinas; separar-se de familiares, amigos
e objetos significativos; sujeitar-se a procedimentos invasivos e dolorosos e, ainda,
sofrer com a solidão e o medo da morte – uma realidade constante nos hospitais.
Reorganizar a assistência hospitalar, para que dê conta desse conjunto de experiências,
significa assegurar, entre outros 11 cuidados, o acesso ao lazer, ao convívio com o
meio externo, às informações sobre seu processo de adoecimento, cuidados
terapêuticos e ao exercício intelectual. (BRASIL, 2002. p. 10-11)

Assim, entendem que não é necessário deixar de aprender em quanto estão afastados
por motivos de adoecimento, eles não estarão afastados da rotina da escola, poderão acessar os
conteúdos escolares ainda que estejam hospitalizados e podem assim, receber o amparo
educacional e emocional que precisam, para continuar a serem estudantes assíduos na busca
pelo conhecimento após a alta hospitalar. Vale ressaltar, que isso só é possível, se os hospitais
disporem de atendimento pedagógico-educacional para as crianças internadas, parceria com
Universidades e Secretarias de Educação e Saúde.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Percebemos, a partir das práticas exercidas na classe hospitalar, que são muitos os
benefícios que o atendimento educacional traz para as crianças, pois elas começam a ter menos
resistência ao tratamento, a ver o hospital de forma diferente e começam a ter uma visão positiva
desta instituição e as atividades pedagógicas no contexto hospitalar podem minimizar os efeitos
negativos advindos da hospitalização e favorece a qualidade de vida da criança/adolescente.
Conforme afirma Tavares (2011, p.19);

A atenção Pedagógica em ambiente hospitalar legitima direitos e em conjunto com


profissionais da área da saúde, possibilita um efeito amenizador no tratamento do
paciente, ou seja, diminui o afastamento brusco do cotidiano e das tarefas antes
exercidas como de costume pela criança/adolescente.

Mediante este aspecto, há uma continuidade dos estudos, considerando que o tempo de
internação tem sido em média de 10 (dez) dias com consequente afastamento da escola regular.
Desta forma, a classe hospitalar tenta suprir a lacuna existente entre a escola e o hospital, assim,
como professoras podemos garantir o direito a continuidade no seu processo de formação e
aprendizagem.
Vale também ressaltar os desafios existentes na vivencia de uma classe hospitalar, pois
o profissional ali presente, deve preparar-se para trabalhar com diversas áreas do conhecimento,
segundo Tavares (2011, p. 23), “a área da educação em âmbito hospitalar realiza um trabalho
amplo, que diariamente analisa as situações físicas e emocionais dos alunos/pacientes para
então depois adaptar um trabalho que se adeque a cada criança/adolescente”. E tal discussão
ainda não pertence a maior parte dos currículos dos cursos de formação de professores, como a
exemplo a licenciatura em Pedagogia.
Assim, percebe-se que a classe hospitalar exige uma necessidade maior de se ter um
planejamento bem elaborado e flexível, pois, pode ser alterado a qualquer momento,
considerando que existe uma rotatividade muito grande de novos alunos/pacientes no hospital,
que tange a indispensabilidade de planejamento para a classe, levando em conta o público da
Classe hospitalar, que são crianças de 5 (cinco) a 12 (doze) anos de idade, público – alvo da
pediatria.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro do projeto vigente, buscamos implementar e garantir o direito à educação, às


crianças e adolescentes que por motivos de doenças, se ausentam da escola, preconizando
assim, a sua formação social, intelectual e educacional.
O trabalho como professoras/estudantes em classes dentro de hospitais perpassa por
alguns obstáculos, pois, exige muito mais que formação e preparo acadêmico, sendo desafiador
estar com crianças que estão o tempo inteiro sendo medicadas, realizando exames que são
desgastantes e muitas vezes os deixam ainda mais fragilizados.
O trabalho na classe hospitalar exige responsabilidades e comprometimento, pois as
crianças/adolescentes buscam e esperam ansiosamente as professoras da escola hospitalar,
porque para eles é o momento de ensinarmos e aprendermos e vivienciar a rotina escolar.
Assim, é de fundamental importância que Educação Especial, enquanto uma
modalidade da educação, e que politicas públicas de implementação de Classes Hospitalares,
resguardem o atendimento educacional no ambito hospitalar. Esperamos fomentar estudos no
campo educativo sobre Classe hospitalar, favorecendo maior entendimento dos educadores
acerca das crianças e adolescentes hospitalizados, tendo em vista práticas pedagógicas
diferenciadas.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 13.716, de 24 de setembro de 2018, que altera a LDB 9.394/1996, para
assegurar atendimento educacional ao aluno da educação básica internado para tratamento de
saúde em regime hospitalar ou domiciliar por tempo prolongado. Diário Oficial da União,
25/09/2018, Brasília, 2018.

______. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do


Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil.
Brasília, DF, 13 jul. 1990

____. Resolução CNE/CEB n. 2, de 11 de setembro de 2001. Diretrizes nacionais para a


educação especial na educação básica. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, n. 177, seção I-E, p. 39-40, 14 set. 2001.
____. Ministério de Educação. Classe Hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar:
estratégias e orientações. Secretaria de Educação Especial. – Brasília, 2002. 35p.

FONSECA, Eneida Simões da. Atendimento escolar no ambiente hospitalar. São Paulo:
Memnom, 2003. 100p.

RODRIGUES, Júlio SIMÕES, Regina Maria Rovigati. Nuances acerca da rotina de uma
classe hospitalar: um estudo de caso. Evidência, Araxá, v. 14, n. 14, p. 193-202, 2018.

SASSAKI, Romeu Kazumi, 1938 – Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Romeu
Kazumi Sassaki. – Rio de Janeiro: WVA, 1997. Rio de Janeiro 176p.

TAVARES, Bruna Feijó. A pedagogia no espaço hospitalar: conttriuições a um ambiente


de renovação e aprendizagem. 2011.f. TTC (Graduação) – Curso de Pedagogia, Centro
Universitário de São José, 2011.

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