Gestão Escolar e Qualidade Da Educação
Gestão Escolar e Qualidade Da Educação
Gestão Escolar e Qualidade Da Educação
Gestão escolar e
QUALIDADE
da educação
caminhos e horizontes
de pesquisa
Cynthia Paes de Carvalho
Ana Cristina Prado de Oliveira
Maria Luiza Canedo
(Organizadoras)
EDITORA CRV
Curitiba – Brasil
2018
Copyright © da Editora CRV Ltda.
Editor-chefe: Railson Moura
Diagramação e Capa: Editora CRV
Revisão: Os Autores
G389
Bibliografia
ISBN 978-85-444-2727-9
DOI 10.24824/978854442727.9
1. Educação 2. Ensino 3. Pesquisa 4. Gestão escolar I. Paes de Carvalho, Cynthia. org. II.
Oliveira, Ana Cristina Prado de. org. III. Canedo, Maria Luiza. org. IV. Título V. Série.
2018
Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14/12/2004
Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV
Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV
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Conselho Editorial: Comitê Científico:
Aldira Guimarães Duarte Domínguez (UNB) Ana Chrystina Venancio Mignot (UERJ)
Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR/UFRN) Andréia N. Militão (UEMS)
Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Diosnel Centurion (Univ Americ. de Asunción/Py)
Carlos Alberto Vilar Estêvâo (UMINHO - PT) Cesar Gerónimo Tello (Universidad Nacional
Carlos Federico Dominguez Avila (UNB) de Três de Febrero/Argentina)
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Celso Conti (UFSCar) Elizeu Clementino (UNEB)
Cesar Gerónimo Tello (Univer. Nacional Fauston Negreiros (UFPI)
Três de Febrero - Argentina) Francisco Ari de Andrade (UFC)
Elione Maria Nogueira Diogenes (UFAL) Gláucia Maria dos Santos Jorge (UFOP)
Élsio José Corá (Universidade Federal da Fronteira Sul, UFFS) Helder Buenos Aires de Carvalho (UFPI)
Elizeu Clementino (UNEB) Ilma Passos A. Veiga (UNICEUB)
Fernando Antônio Gonçalves Alcoforado (IPB) Inês Bragança (UERJ)
Francisco Carlos Duarte (PUC-PR) José de Ribamar Sousa Pereira (UCB)
Gloria Fariñas León (Universidade de La Havana – Cuba) Jussara Fraga Portugal
Guillermo Arias Beatón (Universidade de La Havana – Cuba) Kilwangy Kya Kapitango-a-Samba (Unemat)
Jailson Alves dos Santos (UFRJ) Lourdes Helena da Silva (UFV)
João Adalberto Campato Junior (UNESP) Lucia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira (UNIVASF)
Josania Portela (UFPI) Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNOESC)
Leonel Severo Rocha (UNISINOS) Maria Eurácia Barreto de Andrade (UFRB)
Lídia de Oliveira Xavier (UNIEURO) Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA)
Lourdes Helena da Silva (UFV) Mohammed Elhajji (UFRJ)
Marcelo Paixão (UFRJ e UTexas - US) Mônica Pereira dos Santos (UFRJ)
Maria de Lourdes Pinto de Almeida (UNICAMP) Najela Tavares Ujiie (UTFPR)
Maria Lília Imbiriba Sousa Colares (UFOPA) Sérgio Nunes de Jesus (IFRO)
Maria Cristina dos Santos Bezerra (UFSCar) Silvia Regina Canan (URI)
Paulo Romualdo Hernandes (UNICAMP) Sonia Maria Ferreira Koehler (UNISAL)
Rodrigo Pratte-Santos (UFES) Suzana dos Santos Gomes (UFMG)
Sérgio Nunes de Jesus (IFRO) Vera Lucia Gaspar (UDESC)
Simone Rodrigues Pinto (UNB)
Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA)
Sydione Santos (UEPG)
Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA)
Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)
APRESENTAÇÃO��������������������������������������������������������������������������������� 9
SOBRE OS AUTORES.......................................................................245
APRESENTAÇÃO
Boa leitura.
A PESQUISA SOBRE GESTÃO
ESCOLAR – CONTRIBUTOS TEÓRICOS
E CAMINHOS METODOLÓGICOS
Introdução
4 Em nosso artigo publicado na Revista Brasileira de Educação assumimos a concepção de Marks e Printy
(2003) ao selecionar variáveis dos questionários contextuais aplicados aos professores na Prova Brasil
para compor o Índice de Liderança do Diretor, utilizando uma análise fatorial e encontrando correlações
estatisticamente significativas com o desempenho dos alunos em matemática no 5º Ano do Ensino Fun-
damental para diferentes edições da Prova Brasil (OLIVEIRA; PAES DE CARVALHO, 2018).
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 17
Esta inovação permitiu aos estudos realizados a partir dos dados levantados
considerar as características sociodemográficas das escolas, uma vez que esta é a
variável que mais interfere na variação dos resultados escolares. Os autores desta-
cam, contudo, a limitação dos instrumentos para esta caracterização considerando
a alta taxa de não-resposta dos questionários dos alunos, sobretudo do 4º/5º ano.
O contínuo processo de revisão dos instrumentos contextuais do SAEB
foi ressaltado por Franco e colegas (2003) ao apresentarem o quadro contextual
construído por eles para a revisão e aprimoramento dos questionários a serem
aplicados na edição de 2001. Com relação aos construtos sobre as características
escolares, os autores destacam que foram considerados os estudos nacionais
e internacionais que levantaram fatores escolares relacionados ao rendimento
escolar. A partir dos construtos encontrados no levantamento realizado e das
conclusões dos primeiros trabalhos nacionais realizados a partir dos dados
do SAEB e do SARESP, Franco et al. (2003) discutem os construtos e as
especificações dos questionários do SAEB dirigidos à alunos, professores e
diretores escolares. No que concerne ao interesse das pesquisas sobre a gestão
escolar, os autores já apontavam, naquele momento, os construtos Condições
de trabalho (no questionário do professor), Trabalho Colaborativo, Clima
Acadêmico e Clima Disciplinar (no questionário do diretor).
6 Os itens do questionário contextual da Prova Brasil dirigido aos professores que compuseram o Ín-
dice de Liderança do Diretor foram: O(A) diretor(a) dá atenção especial a aspectos relacionados com
a aprendizagem dos alunos; O(A) diretor(a) me anima e me motiva para o trabalho; O(A) diretor(a)
estimula as atividades inovadoras; Sinto-me respeitado (a) pelo(a) diretor(a); Tenho plena confiança
no(a) diretor(a) como profissional. E aqueles que compuseram o Índice de Colaboração Docente
foram: Trocou materiais didáticos com seus colegas; Participou de reuniões com colegas que tra-
balham com a mesma série (ano) para a(o) qual leciona; Envolveu-se em atividades conjuntas com
diferentes professores (por exemplo, projetos interdisciplinares). Todas as respostas foram dadas
em escala de Likert (concordância e frequência). Para mais detalhes metodológicos, consultar os
trabalhos citados acima.
22
7 Para mais detalhes, consultar a Nota Técnica do INEP sobre o tema: <http://download.inep.gov.
br/informacoes_estatisticas/indicadores_educacionais/2011_2013/nivel_socioeconomico/nota_tec-
nica_indicador_nivel_socioeconomico.pdf>.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 23
Por outro lado, estudar em escolas onde os diretores foram indicados para
seu cargo pode ter um efeito negativo tanto para a percepção dos professores
sobre sua liderança quanto para os resultados dos alunos (OLIVEIRA; PAES
DE CARVALHO, 2018). Ainda que estas associações não indiquem uma relação
causal entre as variáveis estudadas, configuram importantes indicações sobre
a importância das variáveis relacionadas à gestão e ao clima escolar para uma
distribuição mais equitativa da aprendizagem. Tais resultados indicam importantes
pistas para a reflexão sobre aspectos escolares que podem favorecer a proficiência
dos alunos, independentemente de sua origem social (ALVES; FRANCO, 2008;
SAMMONS, 2008). A descrição das formas de operacionalização dos dados
disponibilizados pelo INEP, apresentada nesta subseção, pretende encorajar
novos estudos nesta direção, ampliando o diálogo iniciado pelo GESQ.
8 Para maior detalhamento sobre o processo de operacionalização dos conceitos em itens e para
consultar os questionários criados ver Oliveira (2015).
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 27
Validade e
Índices Itens e Cargas Fatoriais
Confiabilidade
Índice de Re- Nesta escola a equipe de gestão é reconhecida por realizar um bom
KMO:0,668
conhecimento trabalho (0,796); A equipe de gestão da escola tem uma postura en-
α de Conbrach:
do trabalho da corajadora e solidária com os professores (0,933); O diretor da escola
0,866
Direção valoriza e reforça o trabalho desenvolvido pelos professores (0,930).
Índice de Como você avalia os seguintes aspectos da sua escola: Disciplina/
KMO:0,784
Percepção comportamento dos alunos (0,767); Relação dos alunos com os
α de Conbrach:
do Ambiente professores (0,909); Relação dos professores com os alunos (0,842);
0,851
Escolar Relação entre os alunos e os funcionários (0,847).
O diretor assiste às aulas (ou parte delas) (0,537); O diretor dá suges-
Índice de
tões aos professores sobre como eles podem melhorar suas aulas KMO:0,767
Intervenção
(0,762); O diretor avalia o trabalho dos professores (0,782); O diretor α de Conbrach:
Pedagógica do
monitora os resultados dos alunos (0,696); O diretor desta escola me 0,716
Diretor
encoraja a melhorar o meu trabalho em sala de aula (0,641).
Quando um professor tem problemas em sua classe, o diretor toma
a iniciativa de discutir o problema (0,640); Quando um professor leva
um problema sobre sua classe à direção escolar, este é resolvido com
Índice de a sua participação (0,618); O diretor desta escola deixa claro para os KMO:0,726
Interação do professores o que é esperado de seu trabalho (0,718); O diretor desta α de Conbrach:
Diretor escola se preocupa com o bem estar dos professores (0,754); O diretor 0,829
desta escola me encoraja a melhorar o meu trabalho em sala de aula
(0,896); O diretor desta escola garante que existam momentos para
discussões coletivas sobre o trabalho desenvolvido na escola (0,833).
Eu estou satisfeito com o tamanho da minha turma (0,675); Às vezes
Índice de considero perda de tempo dar o melhor de mim nesta escola (0,710); KMO:0,675
Satisfação no Eu me sinto satisfeito em trabalhar nesta escola (0,643); Eu penso α de Conbrach:
Trabalho em me transferir para outra escola (0,653); Se eu pudesse, escolheria 0,610
outra carreira (0,653).
Fonte: elaborado pelas autoras.
Várias das pesquisas realizadas pelo GESQ têm buscado associar meto-
dologias quantitativas (estudos a partir de bases de dados em larga escala ou
dos dados levantados pelos surveys desenvolvidos pelo GESQ) a metodologias
qualitativas, em um esforço de produzir uma análise que parta de uma visão
macro para uma visão micro dos contextos estudados. Busca-se, assim, apro-
fundar e refinar as respostas obtidas no levantamento de dados quantitativos,
possibilitando o adensamento de sua interpretação. Como apontam M. Alves
et al. (2013): “O estudo qualitativo permitirá, assim, compreender melhor
o sentido das diferentes respostas, analisar as configurações específicas e
aproximar-nos do sentido das ações detectadas, neste tratamento estatístico,
de modo agregado”. Por outro lado, a perspectiva também tem sido de apoiar
o desenho e as escolhas de recorte empírico das pesquisas qualitativas e
contribuir para sua contextualização mais rigorosa no campo investigado,
particularmente nas características e resultados das redes de ensino e escolas.
Bogdan e Biklen (1994, p. 11) consideram que a investigação qualitativa
é uma metodologia que enfatiza a descrição, a indução, a teoria fundamentada
e o estudo das percepções pessoais. Na pesquisa qualitativa com enfoque sócio
histórico não se investiga em razão de resultados, mas o que se quer obter é
“a compreensão dos comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos da
investigação”, correlacionada ao contexto do qual fazem parte (BOGDAN;
BIKLEN, 1994, p. 16).
A observação participante, segundo Tura (2003, p. 186), caracteriza-se
basicamente pela presença constante do pesquisador no campo de observação.
Implica que o pesquisador observe, registre, narre e situe os acontecimentos
10 Os questionários criados foram posteriormente revistos e reaplicados a uma nova amostra de es-
colas da rede municipal do Rio de Janeiro, movimento que nomeamos Survey GESQ 2016. Após
esta segunda aplicação decidimos consolidar uma versão mais enxuta do Survey GESQ com pos-
sibilidade de ser customizada para a investigação de outros temas de interesse dos pesquisadores
do grupo como a implementação de diferentes políticas educacionais na escola e o papel desempe-
nhado pela gestão nesses processos.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 29
Como era previsto, muitas vezes o roteiro foi extrapolado, sendo que as
respostas dos entrevistados abriam espaço para novas perguntas que se in-
corporaram à entrevista. Entendendo a natureza das pesquisas realizadas pelo
GESQ, as entrevistas realizadas tiveram como função compreender (mais do
que medir) a realidade pesquisada. Todas as entrevistas realizadas pelo grupo
foram gravadas e posteriormente transcritas, estando atualmente reunidas em
um acervo do grupo de pesquisa.
A técnica de shadowing, citada anteriormente,teve inspiração nos trabalhos
de Spillane e colegas (2011) e Terosky (2014). Nos estudos citados, os pesqui-
sadores agiam como “sombras” dos diretores, acompanhando e protocolando
todas as suas atividades na escola durante o período escolar. Os registros eram
depois categorizados, favorecendo assim a análise dos pesquisadores sobre as
30
Considerações finais
Concluir este capítulo parece quase “fora de lugar”, pois se trata de uma
obra em movimento. Nele buscamos sistematizar os caminhos percorridos
até o momento pelo conjunto de pesquisadores que tem integrado o grupo
de pesquisas Gestão e Qualidade da Educação desde 2010. Estes caminhos
registram nossos aprendizados, nossas reflexões e alguns dos desafios que
temos buscado enfrentar nesse processo de reflexão, estudo, formação e in-
vestigação no âmbito da gestão escolar. Nossa perspectiva é que eles inspirem
outros pesquisadores e nos ajudem a ampliar nossa reflexão numa interlocu-
ção plural e incessantemente curiosa com o mundo escolar e seus atores e
outros pesquisadores apaixonados, como nós, pelo horizonte da qualidade da
educação para todos.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 31
REFERÊNCIAS
ABDIAN, G. Z., NASCIMENTO, P. H. C.; SILVA, N. D. B. Desafios teórico-
-metodológicos para as pesquisas em administração/gestão educacional/escolar,
Educação & Sociedade, v. 37, n. 135, p. 465-480, 2016.
HULPIA, H.; DEVOS, G.; KEER, H. The Relation Between School Leadership
From a Distributed Perspective and Teachers’ Organizational Commitment:
Examining the Source of the Leadership Function. Educational Adminis-
tration Quarterly, v. 47, n. 5, p. 728-771, dez. 2011.
URICK, A.; BOWERS, A. What Are the Different Types of Principals Across
the United States? A Latent Class Analysis of Principal Perception of Leader-
ship. Educational Administration Quarterly, v. 50, n. 1, p. 96-134, 2014.
Introdução
1 Uma primeira versão deste trabalho foi publicada na Revista Educação Online (PUC-Rio) v.13, 2018.
40
Para este estudo, foram utilizadas as respostas dos diretores aos questioná-
rios contextuais das edições de 2007 a 2015 da Prova Brasil. Vale ressaltar que
o levantamento destes dados é considerado praticamente censitário para o uni-
verso das escolas públicas brasileiras, uma vez que a Prova Brasil é aplicada em
todas as escolas públicas com mais de 20 alunos matriculados na série avaliada.
O quadro abaixo apresenta a distribuição dos dados considerados neste estudo:
seus pares professores(as), já que na grande maioria dos casos exerce esta
profissão antes de assumir a direção escolar e tem a licenciatura como for-
mação inicial, primordialmente (como mostram os dados deste trabalho).
Considera-se, ainda, a sua representatividade junto à comunidade na qual a
escola se insere, especialmente quando esta pode ser legitimada através da
escolha do(a) diretor(a) em processos de consulta pública, proporcionando
um maior sentimento de pertencimento de toda comunidade e possibilitando
respectivas responsabilizações.
Essa tensão identitária, cujo cerne procuramos descrever, tornou-se
central na nossa reflexão ao longo do estudo do perfil do(a) diretor(a) da
escola pública brasileira.
Conhecer e analisar as características dos(as) diretores(as) das escolas
públicas brasileiras, especialmente considerando os aspectos destacados nesta
seção, é objetivo deste trabalho. Alguns estudos se dedicaram a esta tarefa nos
últimos anos, entre eles destacamos os trabalhos de Souza (2006) e de Vieira e
Vidal (2014). O primeiro apresenta uma descrição do perfil sociodemográfico
do diretor escolar com dados do SAEB de 2003, criando grupos de análise
a partir destas características. O segundo traça um perfil descritivo dos dire-
tores escolares em nosso país, utilizando dados da Prova Brasil 2011. Nossa
proposta pretende ampliar a reflexão proposta pelos autores desenvolvendo
uma análise evolutiva com base nos dados disponíveis atualmente. Sobretudo,
pretende levantar informações que alimentem a discussão no campo acadêmico
e fomentem iniciativas públicas sobre a relevância do trabalho do(a) diretor(a)
na construção de uma educação de qualidade.
35%
30%
25%
20%
15%
2007 2009 2011 2013 2015
2015
2013
2011
2009
2007
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
6 Em sua meta 16, o documento tem como um dos objetivos, garantir a todos(as) os(as) profissionais
da educação básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades,
demandas e contextualizações dos sistemas de ensino.
7 A partir de 2013 foi incluída a opção Processo Seletivo e Indicação (com porcentagem de 5,1% dos
respondentes em 2013 e 6,0% em 2015) que, por reunir características das duas faixas criadas, foi
considerada na categoria Outra forma.
48
Considerações finais
REFERÊNCIAS
AGUIAR, M. A. S. Formação em gestão escolar no Brasil nos anos 2000:
políticas e práticas. Revista Brasileira de Política e Administração da
Educação, v. 27, n. 1, p. 67-82, jan./abr. 2011.
Introdução
Metodologia
Em que pese à faixa etária, os dados indicaram que a maioria dos res-
pondentes exerce a função há menos de cinco anos, conforme detalhado na
Tabela 2, sugerindo que estes gestores tenham acumulado uma experiência
docente consistente antes de assumirem a direção, o que pode contribuir para
um exercício profissional respaldado pela vivência no universo escolar.
64
O perfil esperado do gestor público agrega atributos que não podem ficar
limitados à formação técnica. O envolvimento e a articulação das suas
atribuições a saberes diversos, aliados a posturas e comportamentos etica-
mente preservados na direção do bem público é uma das condições para
uma nova visão da gestão escolar (FISCHER et al., 2017, p. 28).
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 65
4 No caso da rede estadual de São Paulo, foi criada a função de Gerente de Organização Escolar -
GOE com a responsabilidade de assumir tarefas administrativas e financeiras no âmbito da escola.
70
Se fosse especificar qual é o ponto mais frágil das escolas estudadas, seria a
gestão da aprendizagem. Os diretores analisados tiveram pouca capacidade
para mudar a prática de ensino na sala de aula (ABRUCIO, 2010, p. 272).
5 Matérias frequentemente veiculadas em jornais no Rio de Janeiro revelam que embora muitas esco-
las contem com banda larga, televisão e vídeo a maior parte delas não utiliza estes equipamentos
por falta de instalações adequadas ou por receio de danos ou furtos.
72
ser percorrido até que se alcance a meta de alfabetizar todas as crianças até
o 3º ano do ensino fundamental6.
A Relação com as Famílias dos alunos, embora seja tema amplamente
abordado já há algumas décadas por diferentes pesquisadores, mostra que os
achados de pesquisa pouco se converteram em avanços nesta parceria inevi-
tável. O foco na “culpabilização” das famílias e o empenho em “educá-las”
ou “conscientizá-las”, que se destaca nas respostas dos diretores, deixa claro
que ainda permanece a busca pela “família ideal” impedindo que se veja, ouça
e valorize as famílias reais que resultam das inúmeras transformações que a
família vem sofrendo ao longo das últimas décadas.
Trazemos a seguir, a categoria Outros (O), que abrange 49 desafios citados
pelos gestores pesquisados, explorando a diversidade de questões apontadas:
6%
8% 21%
Violência
10% Resolução de
conflitos
Desvalorização
Manutenção física
Falta de autonomia
Descrença no futuro
12% Demandas
17%
financeiras
Políticas públicas
12% 14%
6 Em 2014, o município do Rio de Janeiro obteve o seguinte resultado em relação ao nível adequado de profi-
ciência alcançado pelos alunos ao final do 3º ano: 43% em matemática, 67%em escrita e 79,3% em leitura.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 73
11,40%
31,40%
14,30% Recursos
insuficientes
Desempenho
Escolar
Gestão de
Pessoas
Relação com
as famílias
Conciliação
7,10% de Demandas
35,70%
7%
35% 13%
Recursos
insuficientes
Desempenho
Escolar
Gestão de
Pessoas
Relação com
as famílias
Conciliação
de Demandas
35%
10%
14%
34%
12%
Recursos
insuficientes
Desempenho
Escolar
Gestão de
Pessoas
Relação com
as famílias
Conciliação
de Demandas
27%
13%
7%
35% 13%
Recursos
insuficientes
Desempenho
Escolar
Gestão de
Pessoas
Relação com
as famílias
Conciliação
de Demandas
10% 35%
22%
23%
Recursos
insuficientes
Desempenho
Escolar
Gestão de
Pessoas
Relação com
as famílias
Conciliação
17% 17% de Demandas
21%
Fonte: Survey Gesq, 2016.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 77
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ABRUCIO, F L. Gestão escolar e qualidade da educação: um estudo sobre dez
escolas paulistas. Estudos & Pesquisas Educacionais [online], São Paulo,
v. 1, p. 241-274, 2010.
Introdução
No Brasil, até o início dos anos 1990, não existiam elementos que
evidenciassem a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional
brasileiro (BONAMINO, 2002). O primeiro passo direcionado a uma política
de avaliação abrangente dado pelo Ministério da Educação e do Desporto
(MEC) foi em 1988, quando o governo realizou uma experiência ampliada
de avaliação de sistemas públicos de ensino nos estados do Paraná e Rio
Grande do Norte. De 1987 a 1990 o MEC tinha um programa de avaliação
nacional da educação básica denominado Sistema de Avaliação do Ensino
Público (SAEP) que, depois de sofrer alterações, deu origem ao Sistema
de Avaliação da Educação Básica (SAEB), criado em 1988 e aplicado pela
primeira vez em 1990.
O SAEB realiza a cada dois anos a Avaliação Nacional da Educação
Básica (ANEB) aplicada a uma parcela representativa dos alunos regular-
mente matriculados nos 5º e 9º anos do ensino fundamental e 3º ano do
ensino médio, de escolas públicas e privadas, localizadas em área urbana ou
rural do país. Seu objetivo é fornecer dados sobre a qualidade dos sistemas
educacionais do Brasil, considerando as regiões geográficas e as unidades
federadas (estados e Distrito Federal). Em paralelo a estes testes padronizados,
são aplicados questionários a diretores, professores e alunos com o objetivo
de analisar fatores associados aos resultados obtidos nas avaliações. Toda-
via, apesar do SAEB detectar as dificuldades com a qualidade da educação
brasileira, em virtude do seu caráter amostral, não era possível, por meio de
seus resultados, apreender toda a diversidade educacional (FERNANDES;
GREMAUD, 2009).
Assim, em 2005 foi criada a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar
(ANRESC), mais conhecida como Prova Brasil, uma avaliação censitária que
abrange praticamente todos os municípios e escolas públicas do país. Nela,
são aplicados testes de Língua Portuguesa e Matemática a todos os alunos
82
ponto de partida para mudanças. Gatti (2009, p. 18) afirma que “o impacto
dessas avaliações começa a ser sentido na educação básica esperando-se que
as avaliações sejam vistas como estímulos à mudança em processos educa-
cionais, e, não como punição”.
Entretanto, é comum nas escolas públicas brasileiras uma cultura de
pouca precisão nos diagnósticos, com escassa articulação de informações e
mesmo de conhecimento e interpretação consistente dos dados das avalia-
ções em larga escala. A política do governo federal expressa no PDE toma
como hipótese que os gestores dos sistemas e das escolas e os professores
podem melhorar o ensino e, consequentemente fazer os desempenhos dos
estudantes atingirem níveis mais adequados de aprendizagem. A perspec-
tiva é que as escolas e, portanto, seus gestores e professores, se sintam
responsáveis e prestem contas à sociedade pelo trabalho que desenvolvem,
refletindo sobre suas práticas e analisando se “podem fazer algo diferente
do que vêm fazendo” (FERNANDES; GREMAUD, 2009, p. 222). Nesse
sentido, desde 2007, o horizonte das políticas de avaliação e responsabili-
zação tem se ancorado na ideia de que devemos ter parâmetros objetivos,
lastreados em dados como os resultados escolares para tomar decisões
também no nível das escolas.
Conforme já observado em inúmeras pesquisas nacionais (SILVA et
al., 2013; BONAMINO; SOUZA, 2012; SILVA; PAES DE CARVALHO,
2014) e internacionais (MARSH; McCOMBS; MARTORELL, 2010; MAN-
DINACH; GRUMMER, 2013), o uso dos dados das avaliações em larga
escala pelos agentes escolares – professores e gestores –pretende traduzir a
busca por um melhor desempenho discente a partir do potencial pedagógico
que tal utilização pode desencadear no âmbito das unidades de ensino. Para
isso é imprescindível que os agentes escolares interpretem e se apropriem
dos dados para compor um diagnóstico consistente do trabalho pedagógico
e orientar seu planejamento. Dessa forma, gestores e professores podem
assumir um papel protagonista no processo, ou seja, usar efetivamente os
dados como insumo estratégico para a tomada de decisões no processo de
ensino e aprendizagem.
O presente capítulo tem como objetivo apresentar e analisar informações
obtidas a partir de duas pesquisas1 realizadas no grupo de pesquisa Gestão
1 A primeira pesquisa, sobre a questão da avaliação externa e a qualidade de ensino na rede muni-
cipal de Macaé/RJ, foi realizada no doutoramento da primeira autora (CRUZ, 2014) sendo apre-
sentada neste texto uma fração dos resultados obtidos que dizem respeito ao tema do capítulo. A
segunda pesquisa – parte do doutoramento em curso da segunda autora (LIMA, 2017) – estuda o
SISTEMA MINEIRO DE ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR (SIMADE) e o uso dos dados pelos gestores
da rede estadual de Minas Gerais, trazendo neste capítulo resultados de uma incursão exploratória
junto a escolas municipais de Juiz de Fora/MG.
84
2 O desenho da pesquisa foi feito em 2010 e, portanto, foram utilizados os dados do Censo Escolar de
2009 (CRUZ, 2014).
3 Como a pesquisa foi iniciada em 2010 este foi o ano tomado como referência inicial de análise da
rede em razão da disponibilidade de dados.
4 No arquivo disponibilizado pelo INEP com os dados da Prova Brasil, Taxas de Aprovação e IDEB de 2005,
2007 e 2009 são listadas 45 escolas municipais de ensino fundamental. No entanto, 2 escolas foram
desativadas no ano de 2009 e uma criada em 2010, por isso foram desconsideradas para esta pesquisa.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 85
7 Macaé/RJ iniciou um processo de avaliação próprio em 2004 que foi interrompido na gestão posterior (2005-
2008). Assim, em Macaé/RJ esse processo se inicia antes da instituição da Prova Brasil e do IDEB, mas se
interrompe, sendo retomado apenas em 2011. A descontinuidade da política parece ter criado uma lacuna
nos processos de avaliação conduzidos pela própria rede e deixado marcas também ao nível das escolas.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 87
Matrículas
54 59 87 89
no 5º ano
ANOS INICIAIS
Nota Média Padronizada na Prova Brasil
Indicador de Fluxo 4,66 4,79 5,52 5,15
IDEB 0,42 0,74 0,86 0,82
BANANEI-
RA 2 3,5 4,7 4,2
Matrículas
49 36 45 45
no 9º ano
ANOS FINAIS
Nota Média Padronizada na Prova Brasil 4,61 4,86 5,31 5,7
Indicador de Fluxo
IDEB 0,72 0,8 0,69 0,63
3,3 3,9 3,7 3,6
Total de alunos matriculados na escola 818 736 679 773
Matrículas
96 66 49 84
no 5º ano
ANOS INICIAIS
Nota Média Padronizada na Prova Brasil 4,63 4,86 4,95 5,24
Indicador de Fluxo
IDEB 0,85 0,81 0,84 0,77
COQUEI-
3,9 3,9 4,2 4
RO
Matrículas
61 60 70 53
no 9º ano
ANOS FINAIS
Nota Média Padronizada na Prova Brasil 4,65 4,87 4,81 4,98
Indicador de Fluxo
IDEB 0,79 0,68 0,6 0,69
3,7 3,3 2,9 3,4
8 Em 1999, por meio da Lei Municipal nº 9569/99, Juiz de Fora constituiu seu Sistema Munici-
pal de Ensino.
9 Desde 2015 a SME/JF oferece capacitações aos professores e diretores escolares sobre: (i) currí-
culo – práticas curriculares desenvolvidas dentro da escola; (ii) formação – professores, diretores
e vice-diretores e secretários escolares; (iii) avaliação interna e externa – discussão acerca das
possibilidades de utilização pedagógica das avaliações para a melhoria da qualidade do ensino; e
(v) gestão escolar – aspectos administrativos, financeiros e pedagógicos presentes na gestão das
escolas (SME/JF, 2017).
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 91
10 Até 2014, o nome da avaliação em larga escala da rede estadual mineira era Sistema Mineiro de Ava-
liação da Educação Pública (SIMAVE), sendo composta por três avaliações: Programa de Avaliação da
Alfabetização (PROALFA), Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (PROEB) e o
Programa de Avaliação da Aprendizagem (PAAE), que posteriormente foi integrado ao SIMAVE.
11 Este survey foi realizado com objetivo de testar instrumentos a serem utilizados na pesquisa de
doutorado “O Sistema Mineiro de Administração Escolar (SIMADE): uso dos dados pelos gestores
das escolas públicas da rede estadual e pela equipe da Secretaria de Estado de Educação de Minas
Gerais” com previsão de conclusão em fevereiro de 2019.
12 Esse indicador foi criado e disponibilizado pelo MEC em 2015 para mensurar, a partir dos dados do
Censo Escolar, a complexidade da gestão das escolas de educação básica brasileiras. O indicador é
composto por quatro características: (i) porte da escola; (ii) número de turnos de funcionamento; (iii)
complexidade das etapas ofertadas pela escola e (iv) número de etapas/modalidades oferecidas. As
variáveis criadas para representar essas características são do tipo ordinal, nas quais as categorias
mais elevadas indicariam maior complexidade de gestão. O cálculo do indicador foi “baseado na
Teoria de Resposta ao Item (TRI), – considerando a existência de um único traço latente” (BRASIL,
2015, p. 2). Para mais informações pode-se consultar a Nota Técnica Indicador de Complexidade da
Gestão no Portal do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
13 Um exemplo seria o aspecto motivacional requerido para que o aluno permaneça na escola mesmo
conciliando-a com seu trabalho.
92
Os diretores das três escolas são do sexo feminino, da cor branca, faixa
etária entre 40 e 54 anos, graduadas em Pedagogia, sendo que a diretora da
Escola Margarida possui mestrado e, as demais, especialização lato sensu.
A forma de provimento do cargo foi a eleição, estando as três no segundo
mandato que finalizou em dezembro de 2017.
Em relação às tarefas realizadas no cotidiano escolar, as diretoras das
escolas Margarida e Jasmim afirmam usar a maior parte de seu tempo de
trabalho com a gestão de pessoal – administração das relações entre profes-
sores e entre funcionários, controle de faltas e licenças etc. -, ao passo que
a diretora da escola Liz declara utilizar mais tempo dedicando-se a aspectos
pedagógicos – discussão sobre o currículo, metodologia de ensino, avaliação
de desempenho dos alunos, disciplina/comportamento dos estudantes.
Soares e Teixeira (2006, p. 170) consideram que o diretor atua “como
uma liderança coordenadora e mobilizadora de uma ação docente mais eficaz,
articulando planejamento, organização e avaliação, e influenciando, indire-
tamente, o desempenho escolar do alunado”. Sabe-se, por outro lado, que os
diretores que se dedicam aos aspectos pedagógicos da gestão, exercendo uma
liderança pedagógica, influenciam de forma positiva a eficácia do ensino e a
proficiência média da escola (POLON; BONAMINO, 2011). Observamos que
apenas a diretora da escola Liz declarou dedicar mais tempo para diagnosticar
as qualidades e as fragilidades do processo de ensino e aprendizagem e para
acompanhar o trabalho pedagógico desenvolvido dentro da escola.
Em relação às avaliações externas, especificamente sobre o SAEB, o ques-
tionário propôs uma questão, em escala de concordância, acerca da percepção
do diretor sobre os resultados da escola. As três diretoras concordaram com
a afirmativa: “Sinto-me responsável pelos resultados das avaliações em larga
escala”. Na pergunta, “Em sua atual função, quanto você se percebe capaz de”,
as três diretoras informaram se sentirem capazes de “elevar o desempenho dos
alunos em testes padronizados, como o SAEB”. Entretanto, quando indagadas
sobre a percepção de sua capacidade de “facilitar a aprendizagem dos alunos
nesta escola”, as respostas divergiram: a diretora da escola Margarida afirmou
se considerar pouco capaz, a da Liz, muito capaz e a da Jasmim, capaz.
Essas respostas em certa medida paradoxais parecem indicar que, se por um
lado elas compreendem sua responsabilidade em relação aos resultados do SAEB
e acreditam em sua capacidade para elevar o desempenho discente na referida
avaliação, por outro, não estaria claro como usar esses dados para melhorar os
resultados. Esse aparente paradoxo parece indicar a existência de uma lacuna na
formação em relação ao uso dos dados, que não permitiria associar suas respon-
sabilidades reconhecidas na gestão pedagógica com o uso das informações das
avaliações para desenhar e realizar ações que facilitem a aprendizagem e favoreçam
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 93
14 O Índice de Nível Socioeconômico (INSE) é calculado a partir da escolaridade dos pais dos discentes,
posse de bens e contratação de serviços pelas famílias dos alunos (INEP, 2015ª). No nível V a resi-
dência dos alunos possuem três quartos, dois banheiros, computador com acesso a internet, telefone
fixo, carro, renda familiar em torno de 5 a 7 salários mínimos além de pai e mãe (ou responsável) que
completaram o Ensino Médio. No nível VI, além dos elementos presentes no nível V há um aumento da
renda familiar que está acima de 7 salários mínimos e 7 salários mínimos e pai e sua mãe (ou respon-
sáveis) completaram a faculdade e/ou podem ter concluído ou não um curso de pós-graduação.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 95
Algumas considerações
REFERÊNCIAS
BONAMINO, Alicia Catalano de. Tempos de avaliação educacional: o
SAEB, seus agentes, referências e tendências. Rio de Janeiro: Quartet, 2002.
_____. Lei Municipal n.º 9611/99. Dispõe sobre as eleições para os cargos
de Diretor e Vice-Diretor das escolas públicas municipais de ensino de Juiz
de Fora. Disponível em: <https://c-mara-municipal-da-juiz-de-fora.jusbrasil.
com.br/legislacao/328866/lei-9611-99>. Acesso em: 17 dez. 2017.
_____. Edital n.º 009/2014 – SE. Dispõe sobre o processo seletivo para
cargos de diretores e vice-diretores das escolas municipais de Juiz de Fora.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 99
LIMA, Carla da Conceição de. Uso das TDIC na gestão escolar: o caso do
sistema SisLAME. Revista de Estudios e Investigacion en Psicologia y
Educación, v. 5, p. 217-220, 2017.
POLON, Thelma Lúcia Pinto; BONAMINO, Alicia Maria Catalano de. Iden-
tificação dos perfis de liderança e características relacionadas à gestão
pedagógica em escolas eficazes. In: ANPAE 2011. Disponível em: <www.
anpae.org.br/simposio2011/cdrom2011/PDFs/trabalhosCompletos/.../0521.
pdf>. Acesso em: 21 fev. 2016.
100
Introdução
1 A rede municipal de ensino da cidade do Rio de Janeiro está organizada em um nível central e 11
Coordenadorias Regionais de Educação (CREs), responsáveis por regiões específicas do município.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 103
Queimados
Belford Roxo Duque de Caxias
Nova Iguaçu
Seropédica
Mangaratiba
Escolas do estudo
Limite do Município do Rio de Janeiro
Oceano Atlântico Limites
Favelas
Áreas não urbanizadas
Eu acho que o entorno faz assim uma diferença muito grande. Se este
colégio estivesse funcionando, não estivesse funcionando num quintal de
uma comunidade, porque eu digo que o colégio é o quintal da comunidade,
eu acho que seria melhor. Existem momentos que a gente fica aqui numa
ansiedade muito grande, medo, quando sai tiro, matou uma pessoa que
a gente já passou por isso, jogaram a cabeça atrás da escola, e foi aquele
‘vuco-vuco’ (Diretora adjunta da Escola 4).
verificamos que todas possuem biblioteca ou sala de leitura, apenas uma não
possui sala de professores, duas não possuem quadra de esportes (coberta ou
descoberta), três não possuem laboratório de informática e nove não possuem
laboratório de ciências.
No que se refere aos segmentos de ensino atendidos observamos no
Quadro 1 que apenas três dessas escolas oferecem EJA e somente quatro
oferecem todos os segmentos de responsabilidade dos municípios (pré-escola,
ensino fundamental I e II). No caso destas últimas, vale ressaltar que existe
uma complexidade maior da gestão, no sentido de questões mais diversas a
serem enfrentadas.
0
2005 2007 2009 2011 2013 2014
E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7
parte do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e consta de um valor de zero a dez como
resultado da razão entre desempenho estudantil em exames padronizados e indicadores de fluxo.
3 Para as escolas E4 e E5 não aparecem os valores no gráfico pelo fato delas não oferecerem o
segmento de ensino fundamental I. Algumas escolas não apresentam os valores para todos os anos
porque não ofereceram o ano escolar avaliado (5º ano) no ano em questão.
106
10
0
2005 2007 2009 2011 2013 2015
E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7
Então eu diria que a minha maior contribuição aqui nesse momento, desde
que eu entrei, na verdade, tem sido em cima da parte disciplinar [...].
Então eventualmente eu tenho que ir a uma sala pra dar uma chamada
geral, naquela turma, sobre alguma coisa que tá acontecendo (Diretora
Adjunta da Escola 4).
Eu acho que a gente cobra bastante deles, mas eles se sentem muito à
vontade na escola, se você observar mesmo a rotina deles, eles gos-
tam da escola, eles se sentem muito à vontade [...]. Eu acho que eles
criam aqui um vínculo de afetividade, um vínculo quase que familiar
(Diretora da Escola 4).
112
Então é aquele momento que eles estão chegando, que a gente diz que a
gente está feliz por eles estarem aqui, entendeu? (Diretora da Escola 10).
... a gente sempre conversa, chama a família, tenta sempre fazer uma par-
ceria, uma conversa, falar o valor da escola, eu costumo falar para eles que
a escola é um estágio para a vida, eu sempre costumo dar esse discurso
para eles, porque é aqui que eles estão recebendo... aqui e na família, e
muitas vezes eles não recebem isso na família... a primeira organização
que eles têm que ter, as primeiras obrigações, em tudo, de uniforme, de
horário, e que isso ele vai ter que levar para a vida dele [...] o objetivo é
dar cidadania a eles, é dar esse censo de responsabilidade para o aluno e
trazer o aluno como parceiro (Diretora da Escola 1).
Não controla. Não sabe onde estão os filhos. Eles não têm ninguém. Essa
coisa da responsabilidade é de quem na família hoje? Eu pergunto. Por-
que é dos pais. Porque eles querem, eles matriculam, mas aí entregaram
para a avó. A avó também não está aguentando... Aí, entregam para uma
vizinha... (Diretora da Escola 10).
então, muitos alunos não realizam as atividades escolares de casa e não estudam
fora da escola. Para esses diretores, as famílias mais presentes e que acompa-
nham a vida escolar dos filhos contribuem com a aprendizagem dos alunos.
Um dos diretores responsabiliza diretamente a família pelos problemas
que o aluno apresenta na escola enquanto outro acusa alguns responsáveis de
ignorar os problemas disciplinares dos filhos, dificultando o trabalho da escola.
Acho que a maior barreira que a gente enfrenta são os pais, que não colo-
cam o hábito, assim, tem uma quantidade de pais aqui que não têm aquela
coisa de vir, participar, e aí se você larga o seu filho, vai ser o quê? Vai
largar também. Então essa é uma das maiores dificuldades, a questão da
família (Diretora da Escola 4)
Apesar das relações serem mais amenas e amistosas nas etapas iniciais de
escolarização, também nesses casos, as famílias são acionadas basicamente para
resolverem problemas disciplinares e de frequência escolar o que nos remete
a hipótese de que a escola não estabelece de fato uma parceria com as famí-
lias no processo educacional, convocando-as somente quando há problemas.
[...] a gente tem uma reunião bimestral todos os sábados, e é uma reunião
que faz um café da manhã e faz uma atividade para os pais. E, geralmente
eles vêm. A professora que não vem nesse sábado a gente faz uma reunião
para os pais virem de manhã cedo ou na hora da entrada porque vem trazer
o filho, aproveita e fica (Diretora da Escola 14).
Esses achados nos revelam que se deve pensar a escola como um ambiente
de integração social, justamente por ser um espaço de encontro de diferentes
pessoas. Os pais possuem uma teoria sobre a escola, construída a partir de
valores globais, sociais, de classe e também de sua própria experiência. As
famílias populares possuem lógicas socializadoras e escolares diferentes,
que muitas vezes são julgadas por professores e diretores como sendo não
legítimas. Essa tensão acaba por gerar conflitos e, sobretudo, desencontros,
como foi observado nos relatos de professores e diretores.
Considerações finais
a família, com a qual não conseguem construir uma parceria efetiva, parecem
continuar empenhados em ensinar as famílias. Mesmo quando dizem que
buscam o diálogo, não mencionam interesse, disposição ou condições para
ouvir as famílias. Escola e família possuem papéis e funções específicos na
formação do indivíduo e a construção da corresponsabilização depende de
que a escola dê o primeiro passo.
Chama atenção o fato dos diretores pesquisados não se referirem a apren-
dizagem dos alunos, o que nos leva formular a hipótese de que os gestores
não se veem como parte integrante do processo de ensino aprendizagem, mas
somente como responsáveis por viabilizar as condições necessárias para que
os professores desenvolvam seu trabalho.
Se retomarmos que o objetivo da escola abrange o desenvolvimento de
capacidades cognitivas, operativas e sociais, a formação ética, o fortalecimento
da identidade cultural e a preparação para o trabalho, formando o cidadão capaz
de interferir criticamente na realidade, vemos que, em que pese o esforço e
dedicação dos diretores, ainda estamos longe de alcançar as metas propostas.
Mais do que conclusões o que identificamos é a necessidade de amplia-
ção de pesquisas no âmbito da gestão escolar bem como da interlocução dos
resultados dos estudos já realizados com a prática nas escolas.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 117
REFERÊNCIAS
ALVES, F. Escolhas Familiares, Estratificação Educacional e Desempenho
Escolar: Quais as Relações? DADOS – Revista de Ciências Sociais, Rio de
Janeiro, v. 53, n. 2, p. 447 a 468, 2010.
THIN, D. Para uma análise das relações entre famílias populares e escola:
Confrontação entre lógicas socializadoras. Revista Brasileira de Educação,
v. 11, n. 32, maio/ago. 2006.
A GESTÃO DA ESCOLA E A
CONSTRUÇÃO DO CLIMA ESCOLAR
Introdução
5 No original, “aproblemáticamente”.
122
1,50
1,00
,50
e Cooperação
,00
-,50
-1,00
-1,50
-2,00 -1,50 -1,00 -,50 ,00 ,50 1,00
7 O Ginásio Experimental Olímpico (GEO) foi um programa implementado pela Prefeitura Municipal
do Rio de Janeiro em 2011, no âmbito da Secretaria Municipal de Educação, voltado para o atendi-
mento de alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental com aptidão esportiva. O GEO funciona
integral e com uma grade curricular que incluíam, além das disciplinas obrigatórias, carga horária
diária de treinamento esportivo, disciplinas eletivas, aulas sobre Projeto de Vida e aulas diárias de
Inglês, o programa funcionava em quatro unidades escolares em 2017.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 127
8 As assembleias ocorriam, na unidade escolar analisada, uma vez por semana e estavam inclusas na
grade de horários. Em uma das visitas à unidade escolar, observamos que a assembleia foi condu-
zida por um dos membros da equipe de gestão, com participação de alguns professores e de alunos
que se dispunham a opinar sobre os assuntos que estavam postos em pauta.
128
Considerações finais
REFERÊNCIAS
AGUERRE, T. F. Clima organizacional en las escuelas: un enfoque compara-
tivo para México y Uruguay. REICE – Revista Electrónica Iberoamericana
sobre Calidad, Eficacia y Cambio en Educación, v. 2, n. 2, 2004. Disponível
em: <http://www.redalyc.org/pdf/551/55120205.pdf>. Acesso em: 1 fev. 2016.
Introdução
Esta variável foi agregada por escola, criando o INSE médio para
cada unidade.
Como medida indicativa do desempenho de aprendizagem nas escolas,
optamos por trabalhar com o resultado médio em Matemática do 5º ano das
escolas públicas brasileiras (estaduais e municipais). É oportuno registrar que
a escolha pelo componente curricular se deve ao caráter escolar desta área de
conhecimento, conforme apontam Rutter et al. (2008). Estes resultados foram
também agregados por unidade escolar.
Através de regressão linear, estimamos a associação entre o Índice de
Colaboração Docente e a proficiência média dos alunos do 5º ano em Ma-
temática, controlando esta relação pelo NSE médio da escola. A equação da
regressão tomada como referência para a análise seguiu a fórmula:
b Sig. D.P.
PROF_MAT (Constante) *** 0,000 0,844
NSE 0,624 0,000 0,017
COLDOC 0,151 0,000 0,121
R² = 0,45
b Sig. D.P.
COLDOC (Constante) *** 000 0,006
N_PROF 0,131 000 0,001
ILD 0,299 000 0,004
R² = 0,10
1 Paes de Carvalho e Oliveira (2015) apontam outras variáveis que também apresentam uma associa-
ção positiva e significativa com o Índice de Colaboração Docente.
140
2 A rede municipal de ensino do Rio de Janeiro é maior rede educacional municipal da América Latina,
atualmente atende a 654.949 alunos matriculados em Creches, Unidades de Educação Infantil e
Ensino Fundamental (1.537 unidades, no total), onde trabalham 41.216 professores.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 141
A Escola 1
3 Os dados se referem ao ano em que foram realizadas as pesquisas: Escolas 1 e 2: 2015, Escolas 3
e 4: 2016.
4 A SME/RJ é dividida em 11 Coordenadorias, que funcionam como instâncias de administração intermediá-
rias. Para maiores informações sobre os bairros abrangidos por cada CRE, consultar: <www.rio.rj.gov.br>.
142
[A Direção é] Presente. Elas estão sempre aí, coisa que você não vê
em outras escolas. Atuante, tá? Incisiva quando tem que ser, tanto com
aluno quanto com professor, e, principalmente, com os pais (Professor
3, Escola 1).
[...] Aqui a [Diretora] é linha dura! Mas para funcionar tem que ser linha
dura (Professor 5, Escola 1).
Essa disciplina não é uma coisa ruim, ela produz bons frutos. E esses
bons frutos que fazem com que a gente queira ficar mais aqui (Professor
3, Escola 1).
Em geral sim, eu acho que a grande maioria dos professores aqui está satis-
feito. [...] Porque o pessoal, tem muitos professores aqui que dão aula aqui
e em outras escolas, e eles percebem: “Nossa! Na outra escola a direção
é mais... é mais... frouxa, assim, do tipo, não está nem aí se o professor
faltou ou não, se o professor está dando aula direito ou não, muito frouxo
em relação aos alunos, tem tráfico na escola, tem coisas acontecendo na
escola que são... né? Tipo... nossa, horríveis (Professor 5, Escola 1).
Então cada um tem o seu método, o seu jeito, mas o outro sempre cola,
sempre pede emprestado. “Ah, me empresta esse material. Olha só, eu vi
que deu certo com a sua turma, me ajuda”. E um vai, ajuda o outro, há
sempre uma troca, entendeu? E isso facilita, né? (Professor 1, Escola 1).
A Escola 2
A Escola 3
Quando eu cheguei aqui, foi incrível porque eu nunca tive uma clientela
igual eu tive aqui nessa escola aqui, na vida. [...] Aqui a escola sempre
foi mista, ela atende a várias comunidades. [...] Então você vê que são
facções distintas, mas que as pessoas conviviam (Professora 3, Escola 3).
Essa percepção de que não havia uma ideia clara de qual deveria ser a
principal função da escola para aqueles alunos era compartilhada com outros
professores. Além de terem certa dificuldade em enxergar um projeto uno na
organização, alguns mencionavam que não havia uma cultura de monitoramento
e retorno dos dados das avaliações externas: “a gente nunca sabe como nossos
alunos estão indo. A gente sabe pelas nossas avaliações, mas pelas avaliações
do município e nacionais, não”. Nesse contexto, alguns identificavam que o
principal foco da escola acabava sendo “contemporizar” os diversos desafios
e problemas que surgiam no interior de uma escola “enorme”, muitos deles
relacionados à indisciplina discente e a questões burocráticas/administrativas.
O enfoque na aprendizagem escolar em si – um importante componente do
conceito de liderança escolar (LEITHWOOD, 2009) – acabava ficando de
certa forma prejudicado.
Os relatos dos 13 professores entrevistados sugerem que a satisfação em
trabalhar na Escola 3 se dava mais por conta de fatores como sua localização
considerada privilegiada e seu histórico de atendimento de alunos considerados
mais ‘interessados’ (o que parecia estar mudando), do que de características
inerentes à organização em si. Quanto a esses últimos, cabe destacar a men-
ção dos entrevistados ao fato de que ainda havia uma valorização de regras
e da disciplina na escola, como aquelas relacionadas ao horário de entrada e
ao uniforme, ainda que aparentemente de forma menos rígida do que ocorria
anteriormente. Na realidade, parece haver um progressivo declínio na satis-
fação docente, atribuída a questões externas (como o aumento da violência
nas comunidades, que adentram a escola), bem como à desarticulação docente
no interior da organização e à falta de recursos humanos, que dificultam a
construção de um trabalho conjunto e o foco na aprendizagem escolar.
148
A Escola 4
Considerações finais
REFERÊNCIAS
AGUERRE, T. F. Clima organizacional en las escuelas: un enfoque compara-
tivo para México y Uruguay. REICE – Revista Electrónica Iberoamericana
sobre Calidad, Eficacia y Cambio en Educación, v. 2, n. 2, 2004. Disponível
em: <http://www.ice.deusto.es/rinace/reice>. Acesso em: 10 ago. 2012.
À exemplo do que vinha sendo feito pela Igreja, a escola adotou a estra-
tégia de utilizar o aluno para influenciar na educação dos pais, intenção que
parece ainda perdurar quando observamos as reuniões realizadas atualmente,
quando a escola parece ensinar as famílias como devem cumprir a sua função
no processo de escolarização dos filhos.
Do ponto de vista da sociologia, foi a partir da década de 1950 que os
estudos sobre a relação família-escola ganharam corpo. Com análises de ca-
ráter macroscópico e quantitativo, enfatizando características morfológicas
da família, as pesquisas encontraram correlações entre desempenho escolar
e pertencimento de classe. Nos anos de 1980 se iniciou a “reorientação tanto
de objeto quanto dos métodos de investigação no sentido de dar conta das
esferas microscópicas da realidade social” (NOGUEIRA, 2005, p. 567), am-
pliando-se os estudos sobre o tema.
Entre os trabalhos realizados nas últimas décadas destacamos a contri-
buição de Reali e Tancredi (2002), revelando que “para aproximadamente
50% dos professores investigados, as famílias dos alunos são consideradas
desestruturadas”. Adjetivo carregado de sentido negativo, aponta para o
afastamento do que seria o “padrão de normalidade”, na visão dos docentes.
Segundo Marques (1996), 67% dos professores se colocam como sempre
disponíveis para atender às famílias, tanto para resolver problemas específicos
quanto para orientá-las, porém, alegam que encontram pouco interesse por parte
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 157
dos pais. Vale destacar que estes professores não cogitam a possibilidade de
troca com as famílias uma vez que acreditam que os pais “pouco teriam a dizer”.
Para Thin (2006), as relações entre escola e família se estabelecem de
forma desigual e obedecem a diferentes lógicas socializadoras. No ambiente
popular os pais não constroem momentos educativos com os filhos, sendo a
ação educativa desenvolvida basicamente ao longo dos momentos de lazer
ou do exercício compartilhado das tarefas domésticas, diferentemente do
que acontece nas camadas médias e altas. A tensão, na relação entre escola e
família popular, se expressa em uma confrontação desigual onde os pais, via
de regra, assumem o sentimento de inadequação das próprias práticas.
Entre as famílias de melhor situação sociocultural e financeira, a assime-
tria das relações com a escola tende a pender para o lado oposto, com pais que,
colocando-se na posição de “clientes” da escola, “exigem” ser atendidos em
suas reivindicações. Associações – como a Anplia e a Aned1 são exemplos de
movimentos que vem se dedicando a defender o direito dos pais de ensinar os
filhos em casa, prescindindo da escola para as tarefas relativas à educação da prole.
A escola enfrenta ainda o desafio de identificar os pais e os próprios
alunos não somente como sujeitos de direito, mas como sujeitos de desejo
o que significa reconhecer-lhes a vontade e a potencialidade de mudar sua
própria situação, desde que em condições favoráveis.
Na sociedade contemporânea, pais que desempenham atividades profissio-
nais em tempo integral são instados a participar mais das discussões no campo
da educação escolar, exercendo funções nas associações e conselhos escolares,
reféns do processo de “docentização parental”, identificado por Silva (2012):
1 Anplia – Aliança Nacional para proteção à Liberdade de Instruir e Aprender; Aned – Associação
nacional da Educação Domiciliar. Consultas disponíveis em: <http://www.anplia.org> e <http://www.
aned.org.br> respectivamente.
158
A escolha envolve ainda valores que as famílias almejam ver adotados pelos
filhos. Algumas pesquisas (COSTA, 2008; ROSISTOLATO; PRADO, 2012) já
mostraram que no corpo discente de escolas consideradas de prestígio há uma par-
cela significativa de alunos oriundos de famílias que se autodeclaram religiosas, que
parece configurar-se como alinhamento entre o perfil da escola e as características
das famílias. Por esta razão entendemos que vale ampliar a reflexão sobre a influ-
ência da religião autodeclarada na escolha, como discutiremos na próxima seção.
2 Os dados da tabela 1 até o ano 2000 foram obtidos a partir do trabalho de Antônio Flavio Pierrucci
(2004), e complementados com informações do Censo Demográfico 2010/ IBGE.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 161
3 No ano de realização da pesquisa (2010) o salário mínimo era de R$ 510,00 (equivalente a USD 291).
4 O processo de matrícula na rede municipal do município do Rio de Janeiro, diferentemente de outras
redes de ensino, é de livre escolha por parte das famílias que indicam três escolas de sua preferência.
162
5 Conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), o público da Educação
Especial compreende os educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades e superdotação.
6 Utilizaremos o termo deficiente no presente capítulo com base nos “Estudos sobre a Deficiência” (Disa-
bility Studies) como campo de discussão dessa temática. Segundo os Estudos sobre a Deficiência: “A
concepção de deficiência como uma variação do normal da espécie humana foi uma criação discursiva
do século XVIII, e desde então ser deficiente é experimentar um corpo fora da norma. O corpo com
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 163
deficiência somente se delineia quando contrastado com uma representação do que seria o corpo sem
deficiência. Ao contrário do que se imagina, não há como descrever um corpo com deficiência como
anormal. A anormalidade é um julgamento estético e, portanto, um valor moral sobre os estilos de vida.
Há quem considere que um corpo cego é algo trágico, mas há também quem considere que essa é
uma entre várias possibilidades para a existência humana” (DINIZ, 2007 p. 8).
7 A respeito do sistema geral de educação, Mazzotta (2005) destaca que a abrangência do termo garante que
o atendimento voltado às pessoas com deficiência seja ofertado em serviços educacionais especializados.
164
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ALVES, M. T.; SOARES, J. F. Efeito-escola e estratificação escolar: o impacto
da composição de turmas por nível de habilidade dos alunos. Educação em
Revista, Belo Horizonte, v. 45, p. 25-58, 2007.
HOLME, J.J. Buying Homes, buying schools: school choice and the social
construction of school quality. Harvard Educational Review, v. 72, n. 2,
p. 177-205, 2002.
NERI, M. Novo Mapa das Religiões. Rio de Janeiro: FGV, CPS, 2011.
THIN, D. Para uma análise das relações entre famílias populares e escola:
confrontação entre lógicas socializadoras. Revista Brasileira de Educação,
v. 11, n. 32, p. 211, maio/ago. 2006.
LIMITES E POSSIBILIDADES DO
CONSELHO ESCOLAR COMO
INSTRUMENTO DE GESTÃO
DEMOCRÁTICA NA PROMOÇÃO DA
QUALIDADE DO ENSINO: estudo de caso
em escola municipal do Rio de Janeiro
Introdução
3 O Fórum, lançado em 1987 como Campanha Nacional pela Escola Pública e Gratuita, atuou durante
o processo de elaboração da Constituição Brasileira de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, aglutinando a intelectualidade, entidades representativas de organizações de
classe, estudantes, profissionais da educação e movimentos sociais.
174
4 Ver: Capítulo III – Da Educação, da Cultura e do Desporto – Seção I – Da educação – Art. 2016
parágrafo IV – Gestão democrática do ensino público, na forma da lei; (Brasil, 1988).
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 175
Segundo Vital (2003, p. 13), no Brasil, esta lógica está relacionada aos
princípios do Programa da Qualidade e Participação na Administração Pública
– PQPAP, que enfatiza não apenas a qualidade total, instrumento estratégico
para aplicação do Plano Diretor do Aparelho do Estado-PDRAE6, mas tam-
bém a participação e sua estreita relação com a descentralização, a melhoria
da qualidade e da eficiência na prestação de serviços públicos na área social.
Uma das expressões do processo de descentralização das políticas edu-
cacionais é o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), criado em 1995
como Programa de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (PMDE),
com o objetivo de “agilizar a assistência financeira aos sistemas de ensino”
(BRASIL, 1995, p. 1). A partir de 1997 o PDDE passou a exigir como con-
dição para o repasse dos recursos financeiros às escolas a constituição de
uma Unidade Executora ‒ “uma sociedade civil com personalidade jurídica
de direito privado, sem fins lucrativos, que pode ser instituída por iniciativa
da escola, da comunidade ou de ambas” (BRASIL, 2009, p. 3) ‒ organizada
como associação e composta por representantes da comunidade escolar. Tal
medida induziu à proliferação de Unidades Executoras em diferentes redes
de ensino, muitas delas constituídas a partir das estruturas de conselhos e
colegiados escolares já existentes, com a finalidade precípua de gerir recursos
financeiros encaminhados através de programas e ações governamentais.
Diversas pesquisas como as de Yanaguita (2010) e Taborda (2009) de-
monstraram que, se por um lado a transformação dos conselhos e colegiados
em Unidades Executoras com personalidades jurídicas contribuiu para a
proliferação dos conselhos, ampliando a participação das comunidades nestes
organismos de controle social, por outro incentivou a sua burocratização.
Este quadro de racionalização e otimização, associado à capacidade
técnica e gestionária, como descrito por Lima (2001, p. 123-124), levou à
criação de novas disposições normativas de caráter técnico-racional também
para os Conselhos Escola-Comunidade da rede pública municipal do Rio de
Janeiro. Neste sentido, no final dos anos de 1990 os CECs foram transformados
em Unidades Executoras, a fim de gerir recursos financeiros provenientes de
convênios e programas do Governo Federal, passando a atuar como entidades
de direito privado sem fins lucrativos. Paralelamente, a legislação também
6 Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado, criado pelo Ministério de Administração Federal e
Reforma do Estado – MARE, do Ministro Bresser Pereira, no bojo da crise mundial do capitalismo na
década de 1990.
178
7 Entre as medidas adotadas para melhorar a gestão escolar foi assinado o Termo de Compromisso, no
qual os diretores das escolas se comprometeram em atingir metas e elevar o IDEB (Índice de Desenvol-
vimento da Educação Básica) e o IDE-RIO (Índice de Desenvolvimento da Educação do Rio de Janeiro)
de suas instituições. Em contrapartida, a SME assegurou aos profissionais de educação assíduos, das
escolas que atingirem os resultados, uma bonificação pecuniária anual correspondente ao 14º salário.
8 Portaria E/SUBE/CGG nº 48 de 17 de março de 2010 e Regimento Escolar – Resolução SME
1074 de 14/04/2010.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 179
ele, se ele não tem condição de ir a um cinema, a gente leva. Eles têm car-
teirinha para frequentar as bibliotecas das universidades do bairro e podem
pesquisar” (Diretora da escola9).
A escola funciona em dois turnos – manhã e tarde, com cinco tempos
diários de aula, perfazendo um total de 25 horas-aula semanais. Na grade de
horário, todos os alunos têm dois tempos vagos semanais, uma vez que as
aulas de educação física são realizadas no contraturno, fora da escola.
A história da escola está diretamente vinculada à criação do bairro onde
se localiza em área nobre da zona sul do Rio de Janeiro. Inaugurada na dé-
cada de 1930, a construção da EM foi cláusula contratual entre a prefeitura e
a empresa encarregada da implantação do bairro. Atualmente o bairro conta
com moradores das camadas médias e altas que integram a elite cultural
carioca e um pequeno comércio local que visa somente o atendimento aos
moradores. A presença de um grupamento militar contribui para que o bairro
seja considerado razoavelmente seguro.
Ocupando o espaço originalmente criado para abrigar um pavilhão em
uma exposição nacional, a EM enfrenta sérias limitações físicas para exercer
suas atividades educacionais, neste espaço adaptado. Ausência de quadra de
esportes, salas de aula geminadas, que tornam necessária a passagem por
dentro de uma sala de aula para chegar a outra, e falta de local onde a equipe
gestora possa contar com alguma privacidade, são alguns exemplos da ina-
dequação das instalações.
A diretora, eleita em 198810 e sucessivamente reeleita desde então, relata
que assumiu suas funções conhecendo bem o ambiente e as limitações da
escola, onde já trabalhava como regente de turma desde 1979.
Os resultados alcançados nas avaliações de larga escala são motivo de
orgulho para gestores, alunos e professores11. Docentes afirmam que con-
seguem desenvolver a maior parte dos conteúdos escolares previstos e se
mostram satisfeitos com o trabalho que realizam nesta escola12, o que sem
dúvida contribui para o sucesso dos alunos.
O quadro de professores previsto para esta EM é de 48 docentes, porém,
na ocasião da pesquisa, a escola contava apenas com 38 professores o que
acarretava dupla regência para alguns deles, e revezamento da equipe gestora no
atendimento às turmas, uma vez que não deixar o aluno sem aula é prioridade
da diretora. Em suas palavras, “professor não pode dar um minuto a menos
de aula, não dou dia13, mas o professor que precisar faltar, pode repor a aula.
Equipe que trabalha comigo, cumpre horário. Se o professor faltar muito, eu
comunico à CRE14” (Diretora da escola).
Apesar das exigências explicitadas em relação aos professores, a equipe do-
cente indica bom relacionamento com a direção, destacando o estímulo à inovação,
e a participação no projeto pedagógico da escola, como diferenciais desta EM.
Vínculos fortes entre a direção e os alunos parecem se estabelecer no
cotidiano escolar, inclusive com a presença frequente da diretora no recreio.
Na sua percepção, “vendo o recreio se descobre o que está ocorrendo na escola
e se cria vínculo com os alunos” (Diretora da escola). A diretora relatou tam-
bém que conversa com os alunos, fora dos horários de aula nas redes sociais.
A escola mantém ainda uma rede de apoio, contando com parcerias de
instituições da vizinhança para cessão de espaços para prática de esportes,
consultas às bibliotecas e atendimentos médicos.
A falta de recursos humanos para fazer frente às tarefas burocráticas
nesta escola é, em parte, compensada por familiares dos alunos que atuam
como voluntários.
13 Expressão que denota a prática de abonar faltas como compensação por tarefas extras realizadas.
14 A Coordenadoria Regional de Educação – CRE é responsável por viabilizar as políticas da Secretaria
Municipal de Educação em uma determinada área geográfica, tendo como principais atribuições: coor-
denar, orientar e supervisionar as escolas, dando suporte administrativo e pedagógico, encaminhando
pessoal qualificado, além de promover a integração da escola com alunos, pais e comunidade.
15 A Portaria nº 47 de 2010 determina que compete à Comissão eleitoral organizar o processo eleitoral
e proceder à apuração, divulgação dos resultados e posse dos conselheiros eleitos.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 181
16 Refere-se aos recursos originários do PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola e SDP – Sistema
Descentralizado de Pagamento que permitem à escola fazer compras de acordo com suas necessi-
dades, responsabilizando-se pelos orçamentos, pagamentos, recolhimentos de impostos correspon-
dentes e prestação de contas.
188
Considerações finais
17 Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), LDB 9394/96 (BRASIL, 1996) e no PNE 2014-2024,
Lei 13005/2014 (BRASIL, 2014).
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 191
REFERÊNCIAS
ASSIS, A. C. L. Conselho escolar instrumento de gestão democrática em
tempos de políticas neoliberais: experiências em questão no Município de
Baturité. 2007. 274 f. Dissertação (Mestrado Profissional) – Universidade
Federal do Ceará, Ceará, 2007.
Introdução
1 As pesquisas a que fazemos referência são as Dissertações de Mestrado das autoras, intituladas
“Correção de fluxo em uma escola da rede pública municipal do Rio de Janeiro: percepções e discri-
cionariedade dos agentes implementadores” (OLIVEIRA, 2017) e “Manda o juiz pra escola no meu
lugar pra ver se ele vai gostar: Limites e Possibilidades da inserção escolar de adolescentes em
conflito com a lei (PEREIRA, 2015), ambas desenvolvidas no GESQ.
2 Também chamadas de “turmas de aceleração” ou “turmas de projeto”. No interior das escolas, as
turmas de correção de fluxo são aquelas em que se reúnem os alunos com distorção idade/série de
dois ou mais anos, geralmente resultante de múltiplas repetências. Propõe-se, então, uma metodolo-
gia alternativa de ensino a esses alunos, que permita sua posterior reinserção em turmas regulares.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 197
e que cumpria uma medida socioeducativa, contou que não via razões para
seguir com os estudos. Segundo ele, os únicos fatores que o atraíam eram
os jogos de futebol e “pegar as meninas”. Por isso, ele relatava que, mesmo
quando estava matriculado, deixava de assistir às aulas, preferia circular pelos
corredores e pela quadra esportiva.
O depoimento de Leandro, da mesma idade, é semelhante. O jovem
relata que repetiu dois anos e perdeu a conta de quantas vezes foi expulso
pelas diretoras. Nessas situações, envolveu-se em conflitos com os colegas e
agentes escolares por chamarem-no de “marginal”. No último ano que passou
na escola, que acreditava ter sido 2011, estava numa turma de correção de
fluxo e gostava muito da professora. No entanto, quando a avó, que o criava,
faleceu, decidiu abandonar os estudos. “Eu gosto da escola, mas detesto es-
tudar. Não sirvo para isso”.
Os relatos acima apresentam alguns pontos em comum, dentre eles, a
experiência do “fracasso escolar” – tema que passou a ser foco de discussões
a partir das frustrações depositadas na expansão do sistema educacional aos
setores da sociedade que anteriormente não tinham acesso a ele. Quando havia
poucas vagas no sistema de ensino, o foco das políticas recaía sobre a demo-
cratização do acesso, considerado como chave para a equalização de oportu-
nidades educacionais. No entanto, com a progressiva expansão desse sistema,
passaram-se a observar outros mecanismos de exclusão que ocorriam no seu
interior. Os mesmos setores recém-integrados que anteriormente eram excluídos
do acesso à escola agora pareciam protagonizar o chamado fracasso escolar,
traduzido principalmente em altos índices de dificuldade de aprendizagem,
repetência e abandono.
Contrapondo-se às teorias que apontavam o aluno como o principal res-
ponsável por seu desempenho – por eventualmente não ter o mesmo “dom”
que outros, já que supostamente teria tido acesso às mesmas oportunidades –
Bourdieu (1966/2015) lança um olhar crítico à instituição escolar e aos agentes
do seu interior. Defende que, ao contrário de uma cultura universalista, a escola
selecionava e sancionava certo arbitrário cultural, já transmitido de forma quase
natural a alguns grupos seletos da sociedade, em seu seio familiar. A escola
organizaria, portanto, o “culto de uma cultura que pode ser proposta a todos,
porque está reservada de fato aos membros das classes às quais ela pertence”
(BOURDIEU, 2015, p. 63). Em outras palavras, a aparente democratização desse
ensino não ameaçava o privilégio dos setores tradicionalmente escolarizados,
pois eles permaneciam em vantagem no que diz respeito à aquisição desse saber
particular, seleto, “natural” para eles e “estranho” àqueles que tinham outra
herança familiar. Pelo contrário, no caso do primeiro grupo, servia até mesmo
para conferir um caráter de legitimidade à sua posição.
200
4 Em uma categorização das escolas da rede municipal do Rio de Janeiro de acordo com o número de
alunos matriculados, Lima (2016) propõe quatro “tipos” de escola, tendo em vista a complexidade de
sua gestão: escolas de pequeno porte (até 300 matrículas), escola de médio porte (entre 301 e 700 ma-
trículas), escolas de grande porte (entre 701 e 900 matrículas) e escolas de enorme porte (mais de 900
matrículas). Os achados de sua pesquisa apontam a predominância das turmas de correção de fluxo em
escolas de grande e enorme porte, sendo estas últimas prevalentes. Como mencionado anteriormente, o
porte das escolas analisadas neste artigo (entre 800 e 1200 matrículas) reflete essa realidade.
204
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ARROYO, M. G. Quando a violência infanto-juvenil indaga a pedagogia.
Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100 esp., p. 787-807, out. 2007.
PEREIRA, J. G. “Manda o juiz pra escola no meu lugar pra ver se ele vai
gostar”. Limites e possibilidades da inserção escolar de adolescentes em
conflito com a lei. 2015. Dissertação (Mestrado em Educação) – PUC-Rio,
Rio de Janeiro, 2015.
Introdução
1 Sabidamente a diferença quantitativa entre esses dois grupos pode se configurar como um problema
metodológico. Mas, entendemos que a amostra do SAEB, dos anos anteriores à existência da Prova
Brasil, foi tecnicamente bem desenhada e apresenta boa correlação com o universo. De toda forma,
é preciso cuidados maiores quando o trabalho recair sobre análises estatísticas mais sofisticadas.
Neste estudo, trabalhamos apenas com frequência proporcional e, por isto, avaliamos que a men-
cionada diferença não é tão relevante para a análise do movimento em questão.
2 As bases deste levantamento foram os periódicos da base Scielo.br e a Revista Brasileira de Política
e Administração da Educação, tendo em vista que o repositório mencionado compila as principais
revistas acadêmicas brasileiras, permitindo identificar importantes tendências da produção científica;
e a RBPAE é uma das mais antigas revistas brasileiras continuamente em publicação e pertence
à Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE), parceira na pesquisa
mencionada. O levantamento contempla o período 1998 a 2015.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 215
3 Burocrata como um funcionário que opera na estrutura hierárquica do Estado (WEBER, 2004).
218
4 Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na
educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – par-
ticipação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – partici-
pação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 219
2003 2015
EF-AI
Est Mun Total Est Mun Total
Seleção ou Concurso Apenas 6,2% 5,1% 5,7% 11,9% 8,0% 8,8%
Eleição apenas 28,8% 21,4% 25,2% 29,9% 20,9% 22,8%
Indicação apenas 40,6% 56,9% 48,7% 24,8% 55,9% 49,7%
Processo seletivo e Eleição 18,6% 10,9% 14,8% 18,2% 6,7% 9,0%
Processo seletivo e Indicação 0,0% 0,0% 0,0% 6,5% 5,3% 5,5%
Outra forma 5,7% 5,6% 5,7% 8,6% 3,1% 4,1%
Fonte: O autor, a partir dos microdados INEP (2003, 2015).
evidente, descendo de 29% em 2003 para menos de 22% em 2015, sendo que
nas escolas municipais de anos finais menos de 18% dos seus diretores foram
eleitos. Se cotejarmos este grupo com o dos diretores que foram selecionados
e eleitos, em um modelo misto, vamos passar pouco de 23%, ou seja, nas
escolas municipais de ensino fundamental anos finais, menos de um quarto
(1/4) dos diretores foi escolhido com a participação da comunidade escolar,
o que indica um recrudescimento da gestão democrática, em especial porque
observamos, na outra ponta, o crescimento nas redes municipais dos diretores
indicados, os quais nesta sub-etapa e rede passam de 61%.
Conselho Escolar
2003 2015
EF-AF
Est Mun Total Est Mun Total
Nenhuma vez 2,3% 3,7% 2,9% 1,2% 2,0% 1,6%
Uma vez 5,0% 6,0% 5,4% 3,5% 8,2% 5,8%
Duas vezes 8,7% 14,9% 11,5% 12,2% 20,6% 16,2%
Três vezes 76,9% 57,9% 68,4% 80,2% 60,5% 70,8%
Não existe Conselho Escolar 7,1% 17,6% 11,8% 2,8% 8,7% 5,7%
Fonte: o autor, a partir dos microdados INEP (2003, 2015).
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 225
O Projeto Político-Pedagógico
2003 2015
EF-AI
Estadual Municipal Total Estadual Municipal Total
Não sei como foi desenvolvido 4,2% 3,7% 3,9% 1,5% 1,9% 1,8%
Não existe Projeto Pedagógico 10,0% 11,3% 10,6% 1,5% 4,0% 3,6%
Modelo pronto, sem discussão 10,6% 17,6% 14,0% 3,0% 3,8% 3,6%
Modelo pronto, com discussão 0 0 0 47,7% 49,8% 49,4%
Modelo próprio, sem discussão 6,6% 6,0% 6,3% 1,3% 1,4% 1,4%
Modelo próprio, com discussão 68,7% 61,4% 65,1% 45,0% 39,0% 40,2%
2003 2015
EF-AF
Estadual Municipal Total Estadual Municipal Total
Não sei como foi desenvolvido 4,6% 4,3% 4,5% 1,5% 2,2% 1,8%
Não existe Projeto Pedagógico 11,5% 10,1% 10,9% 1,6% 4,4% 2,9%
Modelo pronto, sem discussão 10,4% 15,0% 12,4% 2,7% 4,4% 3,5%
Modelo pronto, com discussão 0 0 0 49,5% 48,2% 48,9%
Modelo próprio, sem discussão 6,6% 6,0% 6,3% 1,2% 1,6% 1,4%
Modelo próprio, com discussão 67,0% 64,6% 65,9% 43,6% 39,3% 41,5%
Fonte: o autor, a partir dos microdados INEP (2003, 2015).
Considerações finais
campo, como vimos. A materialização dessas ideias, por outro lado, não de-
pende apenas desses três instrumentos aqui discutidos (eleição para diretores,
conselhos escolares e projetos político-pedagógicos), mas pode receber sua
contribuição expressivamente.
Enfim, o que mudou nesses doze anos, em termos de gestão democrática?
Aquela distância entre a gestão praticada pelas escolas e as ideias de GD é
preocupante, mesmo com a melhora nas noções de planejamento participativo,
uma vez que há, ao longo do período analisado, um quadro estável quanto ao
conselho escolar, mas longe do ideal e uma piora no perfil mais democrático
na forma de provimento de diretores de escola, com a queda das eleições e o
incremento das indicações, deixando escolas e suas direções mais ao sabor
daqueles que operam na política institucional.
O não crescimento das formas mistas que associam seleção com eleição
e a mencionada queda no número de diretores eleitos, somados a um quadro
que não indica o conselho escolar como uma prioridade nas escolas, podem
conformar um cenário de retrocesso para a gestão democrática, pois essas
ferramentas democráticas são, ao mesmo tempo, condições de implementação
de procedimentos mais participativos e, de outro lado, recursos para formar
para a democracia, uma vez que não se aprende a participação sem participar,
não se aprende o diálogo sem dialogar .
228
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acessado em maio
de 2017.
LIMA, L. A escola como organização educativa. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
que tanto condicionam sua gestão escolar como por ela são condicionados.
Por meio de um retrato plural de pesquisas e investigações realizadas em
diversas unidades escolares da rede pública municipal de ensino do Rio de
Janeiro são abordados diversos aspectos da gestão escolar a partir de temas
como: clima escolar; limites e possibilidades quanto ao funcionamento dos
conselhos escolares; as estratégias de escolha da instituição escolar por parte
da família; as percepções de professores em relação à colaboração docente e
liderança do diretor escolar; assim como as perspectivas que diretores e alunos
apresentam em relação à aprendizagem e ao direito à educação.
Além de pôr em relevo as relações entre atores escolares como consti-
tuintes necessários da gestão escolar, o conjunto desses estudos apresentam em
comum um pressuposto que enxerga na unidade escolar um modus operandi
próprio e característico tendo em vista seus fins intrínsecos.
As diferentes funções ou a utilidade que se pode atribuir à escola não lhe
subtraem o que peculiarmente caracteriza sua cultura (AZANHA, 1995), seus
contornos institucionais e mais propriamente seus fins precípuos. Do ponto
de vista de uma cultura escolar, grande parte do conhecimento que os alunos
possuem é fruto de um trabalho escolar bem ou mal realizado. Não dar a devida
importância às práticas escolares pelas quais o aluno adquire uma série de co-
nhecimentos desejáveis – ou mesmo hábitos e uma certa ignorância indesejáveis
– é desconsiderar elementos fundamentais, em se tratando da gestão escolar.
Independentemente do que possa resultar para a vida privada dos indiví-
duos ou para uma sociedade materialmente desigual e notadamente injusta nas
relações que mantém entre os diversos grupos e segmentos que a compõem –,
a educação escolar possui algo que lhe é próprio e distintivo. Sua explicação
e determinação vão além da análise e da verificação da objetividade de seus
resultados – ainda que estes sejam fundamentais e necessariamente devam
ser considerados – ou mesmo do impacto econômico que possa vir a causar
ou favorecer através da formação proporcionada a seus alunos.
Evidentemente, os resultados sofríveis que temos colhido, em especial
advindos de avaliações em larga escala, não são nem causa, nem tampouco
solução dos nossos problemas educacionais, assim como um termômetro
não causa ou cura a febre que ele se destina apenas a medir. Ainda que se
reconheçam em muitas políticas educacionais atuais certos usos questionáveis
ou inócuos das avaliações em larga escala e de seus resultados (SILVA et al.,
2013)2, tais avaliações tem contribuído decisivamente para a compreensão
2 De fato, de forma surpreendente ou inusitada, pouco se tem enfatizado na gestão das redes de ensino bra-
sileiras o uso de dados e indicadores educacionais – como os provenientes de avaliações em larga escala
– como subsidio necessário para os gestores e atores escolares agirem de forma qualificada e balizada, para
além das velhas práticas atabalhoadas de “apagar incêndios” ao invés de agir planejadamente para evitá-los.
236
[é] questionável supor que certas características pudessem ser vistas como
essenciais, sem a consideração do contexto e das questões a serem discu-
tidas. No contexto do planejamento de recursos, pode ser correto pensar
a educação como algo em que a comunidade possa investir; no contexto
da teoria de coesão social, a educação pode ser, ingenuamente, explicada
como um processo de socialização. Mas, se a considerarmos do ponto de
vista da tarefa dos atores escolares, essas explicações serão ambas muito
gerais e muito ligadas a uma dimensão perigosa, pois encorajam um modo
conformista ou instrumental de ver a educação.
3 De maneira geral, pode-se verificar na literatura produzida sobre o tema, a recorrência de algumas
categorias de análise e de determinadas características que seriam inerentes a um projeto peda-
gógico ou correlatos (proposta pedagógica, projeto político-pedagógico etc.) como por exemplo:
trabalho coletivo, autonomia escolar, caráter processual e aquilo que deveriam ser seus objetivos ou
fins. Também é comum que encontremos entendimentos divergentes em relação a elas ou, então, a
sua escassa delimitação.
GESTÃO ESCOLAR E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: caminhos e horizontes de pesquisa 243
REFERÊNCIAS
AZANHA, J. M. P. Proposta pedagógica e autonomia da escola. Cadernos
de Filosofia e História da Educação, São Paulo, v. 2, n. 4, p. 11-21, 1998.
SILVA, Vandré Gomes et al. Uso da avaliação externa por equipes gestoras
e profissionais docentes: um estudo em quatro redes de ensino público. São
Paulo: FCC/SEP, 2013. (Textos FCC, 38).