Descartes
Descartes
Descartes
DE RENÉ DESCARTES
O PROJETO CARTESIANO
Época de grandes transformações e
ameaça do ceticismo
René Descartes (1596-1650) é um dos
mais famosos racionalistas de todos os
tempos. Tendo vivido numa época
marcada pro grandes mudanças, havia um
clima de ceticismo generalizado.
Descartes não aceitou esta ameaça,
tendo lutado contra a conclusão
aparentemente inevitável de que nada se
pode saber com segurança.
O PROJETO CARTESIANO
OBJETIVO MÉTODO
Provisória
• Não se trata de uma suspensão permanente do juízo, mas sim de uma
decisão de considerar provisoriamente falso tudo o que seja
minimamente duvidoso.
Universal
• É absolutamente universal, pois, à partida, aplica-se a tudo, pelo menos
até que se encontre algo que seja absolutamente indubitável.
• Assim, Descartes vai começar por averiguar se temos boas razões para
confiar nos nossos sentidos e, em seguida, irá tentar perceber se
podemos confiar nos nossos raciocínios.
RAZÕES PARA DUVIDAR
– A indistinção vigília-sono;
– Os erros de raciocínio; e
“Sem dúvida, tudo aquilo que até ao presente admiti como maximamente
verdadeiro foi dos sentidos ou por meio dos sentidos que o recebi. Porém,
descobri que eles por vezes nos enganam, e é de prudência nunca confiar
totalmente naqueles que, mesmo uma só vez, nos enganaram. ”
René Descartes (1641). Meditações sobre a Filosofia Primeira.
Trad. Gustavo de Fraga. Coimbra: Almedina, 1992, p. 107
1) Não podemos distinguir por nenhum sinal seguro as experiências que temos
durante os sonhos daquelas que temos durante o estado de vigília.
2) Se não podemos distinguir por nenhum sinal seguro as experiências que
temos durante os sonhos daquelas que temos durante o estado de vigília,
então as crenças que formamos a partir da experiência sensível não estão
devidamente justificadas.
3) Se as crenças que formamos a partir da experiência sensível não estão
devidamente justificadas, então não podem constituir conhecimento.
4) Logo, as crenças que formamos a partir da experiência sensível não podem
constituir conhecimento.
ERROS DE RACIOCÍNIO
“mais
E porque há homens que se enganam ao raciocinar, mesmo a propósito dos
simples temas de geometria […], ao considerar que eu estava sujeito a
enganar-me como qualquer outro, rejeitei como falsas todas as razões de que
anteriormente me servira nas demonstrações.
”
René Descartes (1637). Discurso do Método.
Trad. João Gama. Lisboa: Edições 70, 2013, pp. 49-50
“génio
Vou supor, por consequência, não o Deus sumamente bom, fonte da verdade, mas um certo
maligno, ao mesmo tempo extremamente poderoso e astuto, que pusesse toda a sua
indústria em me enganar.Vou acreditar que o céu, a terra, as cores, as figuras, os sons, e todas
as coisas exteriores não são mais do que ilusões de sonhos com que ele arma ciladas à minha
credulidade.Vou considerar-me a mim próprio como não tendo mãos, não tendo olhos, nem
carne, nem sangue, nem sentidos, mas crendo falsamente possuir tudo isto. […]
Por conseguinte, suponho que é falso tudo o que vejo. Creio que nunca existiu nada daquilo
que a memória enganadora representa. Não tenho, absolutamente, sentidos; o corpo, a figura, a
extensão, o movimento e o lugar são quimeras. Então, o que será verdadeiro? Provavelmente
uma só coisa: que nada é certo.
” René Descartes (1641). Meditações sobre a Filosofia Primeira.
Trad. Gustavo de Fraga. Coimbra: Almedina, 1992, pp. 113-118
A HIPÓTESE DO GÉNIO MALIGNO
2) Se não podemos saber se existe um tal Génio Maligno, então não temos
justificação para acreditar que as nossas crenças não têm origem nas suas
maquinações.
3) Se não temos justificação para acreditar que as nossas crenças não têm
origem nas maquinações de um tal Génio Maligno, então não temos
conhecimento.
“eraMas,delogo a seguir, notei que, enquanto assim queria pensar que tudo era falso,
todo necessário que eu, que o pensava, fosse alguma coisa. E notando
que esta verdade: penso, logo existo, era tão firme e tão certa que todas as
extravagantes suposições dos céticos não eram capazes de a abalar, julguei que
a podia aceitar, sem escrúpulo, para primeiro princípio da filosofia que
procurava.
” René Descartes (1637). Discurso do Método.
Trad. João Gama. Lisboa: Edições 70, 2013, pp. 50-51
1) Se fosse verdade que nada se pode saber, então nem sequer poderíamos
saber que existimos.
2) Mas sabemos que existimos (essa ideia não pode ser seriamente posta em
causa).
5) Logo, existe outra coisa (além de mim) que é o ser perfeito e que
deu origem à minha ideia de perfeição.
O PAPEL DA EXISTÊNCIA DE DEUS
“creio
E por mais que os melhores espíritos estudem isto, tanto quanto lhes agradar, não
que possam apresentar alguma razão que seja suficiente para eliminar essa dúvida,
se não pressupuserem a existência de Deus. Pois, primeiramente, aquilo mesmo que há
pouco tomei como regra, isto é, que são inteiramente verdadeiras as coisas que
concebemos muito clara e distintamente, só é certo porque Deus é ou existe, e
porque é um ser perfeito e tudo o que existe dele nos vem. Donde se segue que as
nossas ideias ou noções, sendo coisas reais e que provêm de Deus em tudo aquilo em
que são claras e distintas, unicamente podem ser verdadeiras.
”
René Descartes (1637). Discurso do Método.
Trad. João Gama. Lisboa: Edições 70, 2013, pp. 59
Aquilo que concebo de forma clara e distinta só é certo porque Deus existe.
O PAPEL DA EXISTÊNCIA DE DEUS
o Objeção ao cogito:
• Alguns autores consideram que o cogito não é algo absolutamente certo
e indubitável. Em vez de o entenderem como uma proposição simples,
que se limita a afirmar: “Há pensamento”, veem nessa afirmação uma
conjunção de várias ideias: “Há pensamento e há um e apenas um ser
pensante a quem esse pensamento pertence e esse ser pensante sou
Eu”. Ora, Descartes não se encontrava em condições de afirmar que
sabia tudo isso.
OBJEÇÕES AO RACIONALISMO CARTESIANO