Resp 1814639 2020 06 09
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ACÓRDÃO
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lavrará o acórdão.
Votaram vencidos os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino e
Ricardo Villas Bôas Cueva. Votaram com o Sr. MINISTRO MOURA RIBEIRO (Presidente)
os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze e Nancy Andrighi.
Dr(a). MÁRCIO MELLO CASADO, pela parte RECORRENTE: J E P
Brasília (DF), 26 de maio de 2020(Data do Julgamento)
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.814.639 - RS (2018/0136893-1)
RELATÓRIO
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manutenção alimentar sadia e coerente do seu filho R.", ou se está sendo
utilizada pela recorrida em proveito próprio. Argumentou que a delicada saúde
do menor configura situação excepcional que justifica tal pretensão,
questionando, no mais, qual teria sido a finalidade da integração do §5º ao art.
1.538 do Código Civil. Postulou o provimento.
Contrarrazões às fls. 404/418.
O recurso especial foi inadmitido na origem (fls. 421/433).
Em decisão de fl. 509, determinei a conversão do agravo em recurso
especial.
O Ministério Público Federal, em parecer de fls. 503/507, opinou pelo
desprovimento.
É o relatório.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.814.639 - RS (2018/0136893-1)
VOTO
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(Relator):
Eminentes colegas.
A controvérsia do recurso especial situa-se em torno da viabilidade
jurídica da ação de prestação de contas ajuizada pelo alimentante, ora
recorrente, em desfavor da recorrida, genitora e guardiã do alimentado, a fim
de obter informações acerca da destinação da pensão alimentícia que alcança
mensalmente a este.
Cumpre analisar, ainda, se houve negativa de prestação jurisdicional, por
supostas omissões não sanadas no acórdão que julgou os embargos de
declaração, e cerceamento de defesa, em razão da negativa de realização de
todas as provas requeridas.
Antes de enfrentar estas questões, rememoro as circunstâncias fáticas
que envolvem o litígio estabelecido entre as partes.
Extrai-se dos autos que o alimentado, R. F. P., é filho das partes, sempre
esteve sob a guarda unilateral da genitora e nunca conviveu com o genitor.
Por decisão judicial, o recorrente foi condenado no ano de 2006 a prestar
alimentos ao filho no valor equivalente a trinta salários mínimos, além da
obrigação de custear plano de saúde.
R. F. P. nasceu com Síndrome de Down e possui deficiência intelectual
moderada, transtorno de desenvolvimento, deficiência visual grave e espectro
autista, necessitando de cuidados médicos constantes e especiais. "Em
consequência, o menino não fala, não possui controle esfincteriano, não
permanece sentado sem apoio, possui dificuldades para caminhar, não come
sozinho nem brinca sem ajuda, não se comunica com o meio a que está
inserido, além de possuir deficiência visual, refluxo alimentar, processo
alérgico constante e apnéia" (fl. 2).
Nos autos da ação de revisão de alimentos, ajuizada no ano de 2014, a
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pensão alimentícia foi reduzida para R$15.000,00 mensais.
Na presente ação de prestação de contas, ajuizada em 2015, o recorrente
aduziu que (i) foi impedido pela genitora de conviver e de acompanhar o
desenvolvimento do filho; (ii) após treze anos cumprindo pontualmente a
obrigação alimentar, a sua condição financeira foi substancialmente reduzida
em razão de problemas de saúde e a dissolução da sua sociedade de
advogados, além de possuir outros dois filhos menores de idade, sendo certo
que o sucessivo aumento do salário mínimo gerou desequilibro insustentável, a
impor a necessidade de buscar a revisão do valor dos alimentos; (iii) na ação
de revisão de alimentos a guardiã não trouxe qualquer comprovante de que o
filho está recebendo todos os acompanhamentos necessários, pois limitou-se a
colacionar atestados médicos; (iv) todas as consultas e exames são cobertos
pelo plano de saúde, de modo que a condição de saúde do filho não pode
justificar a manutenção do valor da pensão fixada; (v) obteve a informação de
que R. F. P. estudou em escola pública até 2014, deixando de frequentar
escolas inclusivas; (vi) houve significativa melhora da capacidade financeira da
genitora; (vii) no passado, quando da discussão do quantum alimentar, a
genitora superestimou as despesas do filho. Sustentou, dessa forma, que todos
estas circunstâncias revelam fortes indícios do desvio de finalidade da pensão
alimentícia, desejando, portanto, certificar-se de que o filho está recebendo
todo o acompanhamento de que precisa e, para tanto, requereu que a genitora
fosse compelida a prestar contas de todos os valores recebidos a título de
pensão alimentícia desde abril de 2013, acostando os respectivos
comprovantes.
A recorrida apresentou contestação, sustentando a ilegitimidade e a falta
de interesse processual do recorrente. Disse, em síntese, que (a) os alimentos
não foram fixados de forma aleatória, mas após ampla dilação probatória e
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interposição de inúmeros recursos; (b) sempre buscou o melhor para o filho,
dedicando-se a ele 24 horas por dia, não tendo conquistado projeção
profissional no período; (c) o genitor nunca quis conhecer o filho e nunca o
amparou afetivamente; (d) desde os três anos de idade R. F. P. participa de
processo inclusivo em rede regular de ensino particular e apenas a partir de
2014 passou a integrar a rede regular de ensino público, em razão da
inadimplência do recorrente, que por dois anos deixou de alcançar regularmente
a pensão, tendo sido obrigada a contrair dívidas e empréstimos e a ajuizar
execução de alimentos e; (e) não há custeio integral das consultas, exames e
cirurgias pelo plano de saúde, postulando a extinção do feito.
Após a realização de audiência de tentativa de conciliação, sobreveio a
sentença de improcedência dos pedidos autorais.
Reconheceu o juízo de primeiro grau a inadequação da via da prestação
de contas, seja pela irrepetibilidade dos alimentos, seja pela ausência de
demonstração de qual utilidade que o autor teria com a demanda que não
pudesse ser suficientemente alcançada com a ação revisional de alimentos que
tramitava paralelamente, ou, ainda, quais situações específicas que afetam a
saúde ou educação do seu filho embasariam a suspeita de desvio de função dos
alimentos, cuidando-se de pedido genérico.
No acórdão recorrido, o Tribunal a quo confirmou a sentença e negou
provimento ao recurso de apelação, destacando que a genitora tem prestado
ao filho todos os cuidados de que necessita.
Daí a interposição do presente recurso especial.
Passo, assim, a analisar pontualmente as razões recursais.
I - Negativa de prestação Jurisdicional
Afasto, de início, a alegação de violação aos artigos 489 e 1.022, do
CPC/2015, pois verifica-se que as questões submetidas ao Tribunal a quo
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foram suficiente e adequadamente apreciadas, com abordagem integral dos
temas e fundamentação compatível.
O acórdão foi devidamente fundamentado para reconhecer a
improcedência do pedido de prestação de contas, ao argumento de que o
alimentante carece de interesse processual e que o pedido não se presta a
verificar a existência de crédito, bem como que, no caso, o pedido formulado
pelo recorrente não tem o objetivo peculiar de amparar o alimentando, mas de
forçar a redução do valor dos alimentos.
Desse modo, todas as questões necessárias à solução da controvérsia
foram tratadas no acórdão recorrido, remanescendo, tão somente a irresignação
do recorrente com a conclusão contrária aos seus interesses, o que, a toda
evidência, não caracteriza negativa de prestação jurisdicional.
II - Cerceamento de Defesa
Acerca do alegado cerceamento de defesa, assim decidiu o Tribunal de
origem (fl. 346):
Não vislumbro qualquer cerceamento de defesa e, aliás,
seria desnecessária mesmo qualquer prova a ser produzida,
cuidando-se mesmo do pedido genérico de que sejam
prestadas as contas de todos os valores da pensão alimentícia
que o recorrente pagou ao filho desde abril de 2013.
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A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça, por suas Turmas de
Direito Privado, orienta-se no sentido de que a ação de prestação de contas,
em regra, é via inadequada para a fiscalização dos recursos decorrentes da
obrigação alimentar.
Esta via processual especial, que possui assento nos artigos 550 a 553, do
Código de Processo Civil (correspondentes aos artigos 914 a 919 do
CPC/1973), está vocacionada, essencialmente, à apuração de um crédito a
partir de uma relação jurídica material subjacente, o que evidencia a sua
natureza condenatória, como explica Daniel Amorim Assumpção Neves (in
Novo Código de Processo Civil Comentado artigo por artigo. Salvador:
JusPodivim, 2016, p. 550):
Interessante notar que a prestação de contas não tem como objetivo
final tão somente o acertamento das receitas e despesas na
administração de bens, valores ou interesses, considerando-se que a
discussão das contas será realizada de forma incidental somente como
meio para se definir a responsabilidade de pagar do devedor. Essa
circunstância leva a melhor doutrina a entender pela natureza
condenatória dessa ação, considerando que o seu resultado será a
condenação do devedor ao pagamento do saldo apurado.
A natureza da ação é realmente condenatória, até mesmo porque os
dois pedidos necessariamente cumulados na petição da ação e exigir
contas têm essa natureza: (a) condenação à prestação das contas
(obrigação de fazer); (b) condenação ao pagamento do saldo residual
(obrigação de pagar).
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quantitativos, que torna este procedimento incompatível com a pretensão
fiscalizatória do alimentante em relação aos recursos transmitidos ao
alimentado que não está sob sua guarda.
De um lado, o alimentante não tem relação jurídica de direito material
com a mãe e guardiã de seu filho, mas apenas com este, que é o titular dos
alimentos. Sob este aspecto, um pai não é credor do outro.
Os alimentos, uma vez prestados, deixam de ser da propriedade do
alimentante e passam a pertencer ao alimentado, exaurindo-se presumivelmente
no seu próprio sustento.
De outro, a eventual malversação da verba alimentar pelo guardião não
enseja a restituição de valores desviados ou mal empregados, notadamente em
razão da irrepetibilidade dos alimentos.
Não há, ainda, admitir-se neste expediente a possibilidade de eximir o
alimentante do pagamento dos alimentos definidos em provimento jurisdicional
próprio, providência que supõe o manejo dos meios processuais adequados e
legalmente previstos.
Exatamente por estas razões, esta Terceira Turma, no julgamento do
REsp n.º 985061/DF, do AgRg no Ag n.º 1269320/PR e do AgRg no REsp n.º
1.378.928, reconheceu a ilegitimidade ativa e a falta de interesse de agir do
alimentante para, nos termos expostos, exigir contas daquele que detém a
guarda do menor ou incapaz.
A propósito, confira-se a ementa dos referidos julgados:
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O recorrente, por sua vez, insiste que é direito seu, nos termos do art.
1.583, §5º, do Código Civil, fiscalizar a manutenção e educação do seu filho
através da ação de prestação de contas, a fim de evitar abusos e desvio de
finalidade quanto à administração da pensão alimentícia pela guardiã.
Argumenta que não há pretensão à restituição dos valores e que a
situação de saúde do filho constitui justo motivo para o cabimento da demanda,
diante da possível má aplicação dos recursos da pensão alimentícia pela
genitora, devendo ser afastada a sua ilegitimidade.
Não lhe assiste razão, contudo.
A Lei n.º 13.058/2014, que teve o propósito de estabelecer o significado
da expressão “guarda compartilhada” e de dispor sobre sua aplicação,
conforme se extrai do seu preâmbulo e de seu art. 1º, incluiu o §5º ao art.
1.583, do Código Civil, e passou a vigorar com a seguinte redação:
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Antes da alteração legislativa, o §3º do art. 1.583 dispunha que "a guarda
unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os
interesses dos filhos.
Esta supervisão, vale lembrar, também já estava disciplinada no art.
1.589, do Código Civil, sem alteração.
Agora, incorporando a redação do antigo §3º do art. 1.583, o §5º do
referido dispositivo legal, como se vê, passou a prever um dever de informar
e prestar contas na guarda unilateral.
A função fiscalizadora da manutenção e educação do filho decorre,
evidentemente, do poder familiar de que continua investido o genitor não
detentor da guarda permanente da prole, a teor do art. 1.630, do Código Civil.
Trata-se de um poder/dever de fiscalizar a manutenção e a educação dos
filhos e dos recursos empregados para tanto, conforme alude o §5º, do art.
1.583, do Código Civil, mas sempre no superior interesse destes.
Este dispositivo legal, não por acaso, foi inserido no capítulo "Da
Proteção dos Filhos", e não no "Dos Alimentos", sinalizando, quer parecer, um
encargo atribuído ao pai não guardião que vai muito além do aspecto
meramente econômico de fiscalização das verbas que destina ao filho.
Cuida-se, mais especificamente, de possibilitar-lhe maior participação na
criação dos filhos, especialmente quando a guarda é exercida de forma
unilateral.
A inovação legislativa, contudo, segundo renomados doutrinadores, tais
como Nelson Rosenvald, Cristiano Chaves de Farias, Flávio Tartuce e
Rolf Madaleno, veio chancelar a legitimidade ativa do genitor não guardião de
reclamar contas em face do genitor guardião, relativamente à aplicação dos
recursos alimentares destinados ao menor.
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Confira-se, por todos, as considerações de Flávio Tartuce (in Da ação
de prestação de contas de alimentos - Breve análise a partir da Lei 13.058/14 e
do novo CPC, disponível online no Portal Migalhas. Acesso em 28/11/2019):
[...]A menção à supervisão e à prestação de contas, sem dúvidas,
pode estar relacionada aos alimentos.
Em complemento, quanto à prestação das contas alimentares passa
ela a ser plenamente possível, afastando-se os argumentos processuais
anteriores em contrário, especialmente a ilegitimidade ativa e a
ausência de interesse processual. Igualmente, não deve mais prosperar
a premissa da irrepetibilidade como corolário da inviabilidade dessa
prestação de contas”
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Com efeito, não se questiona que o pai guardião deva manter o filho
sob estreita vigilância e proteção. Todavia, disso a pretender que tenha
verdadeiro domínio sobre a vida do filho, sem que nada lhe passe, nada
atinja o filho sem que antes saiba, como se devesse monitorá-lo
ininterruptamente, tudo para que, eventualmente, possa prestar contas
a respeito de todos os assuntos ou situações que, direta ou
indiretamente, o alcancem, parece-nos inviável. Prestar contas do
resfriado, da infecção de garganta, do medo de cachorro que não tinha
antes. Prestar contas porque o filho está triste, parece deprimido; está
sem fome ou come demais. Não quer comer salada, mas antes comia.
Falou um palavrão, desrespeitou o avô. Recusou ler o livro que ganhou.
Caiu da bicicleta e se machucou; houve ou não negligência, e assim por
diante, em infindáveis hipóteses.
E o que dizer das inúmeras possibilidades acerca do elemento
causador da situação: a escola, os amigos, os vizinhos, a televisão, a
internet, a festinha de aniversário, a casa da avó e seu entorno, os
primos, quando estava com o pai no mercado, quando estava com a
mãe na farmácia. Difícil imaginar quem vai prestar contas disso e de
que forma seria possível. Ainda que se pudesse admitir a obrigação de
prestar contas, tratar-se-ia de obrigação inexequível, como regra, salvo
situações excepcionais.
Será necessário, portanto, especial cautela e ponderação acerca
da viabilidade e utilidade de ações nesse sentido, de modo a não
permitir ingerência despropositada na esfera de cuidados e diligências
do pai guardião
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O exercício deste direito de fiscalização, ou análise das contas, deve se
dar incidentalmente em revisão de alimentos, em modificação/regulamentação
da guarda ou, até mesmo, em ação autônoma pelo procedimento ordinário,
sem buscar a devolução das quantias e desde que a presente o justo motivo.
Conforme já ponderava o e. Ministro Marco Buzzi, em voto proferido
no julgamento do REsp n.º 970147/SP, anteriormente aludido, o exercício
deste direito de fiscalização dos genitores, "vai muito além da mera
averiguação aritmética do que foi ou deixou de ser investido em prol do
alimentando", tocando "mais intensamente na qualidade daquilo que lhe é
proporcionado, a fim de assegurar sua saúde, segurança e educação da
forma mais compatível com a condição social experimentada por sua família
(art. 1.694, caput)".
E prossegue, com muita percuciência:
De sua vez, a complexidade das relações familiares, especialmente
daquelas em que o desempenho da guarda se dá forma unilateral,
implica em uma natural flexibilização dos procedimentos que cuidam
desses conflitos, de modo a potencializar a adoção de soluções
consentâneas com a natureza dos desacordos e/ou controvérsias
relativas ao atendimento do bem-estar do menor.
Em verdade, muitas das vezes, é possível superar a conflituosidade
por meio de atividades jurisdicionais inominadas, marcadas pela
conciliação, ou mesmo, via medidas liminares, com cautelares ou
tutelas antecipatórias, onde se provisiona o provável em detrimento
do absoluto.
Por esse prisma, de pouco ou nada adianta ao alimentando menor,
que não aproveita às inteiras sua verba alimentar, ser restituído do
montante sonegado após longo debate judicial sobre a necessidade da
guardiã prestar contas em Juízo ou mesmo, posteriormente a uma
eventual inércia do guardião apresentar seus cálculos relativamente a
administração da pensão alimentícia.
A esse tempo, tudo quanto poderia ser fruído em prol do bem-estar
do menor já esvaiu, dada a natureza singular dessa espécie de
prestação debitória, vocacionada a assegurar o atendimento das
necessidades elementares e mais imediatas à vivência e
desenvolvimento do alimentando.
De outro ponto, inviável subsumir que a eventual não apresentação
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das contas ou mesmo, sua insuficiência, possa ensejar a
revogação/modificação da guarda por interpretação analógica do
disposto no art. 919 do CPC, dado que o exame a respeito sobre quem
pode exercer a guarda perpassa pela apreciação de outros elementos
(CC, art. 1.583; Lei n. 8.069/09, art. 33, caput), todos extravagantes ao
objeto cognitivo de uma típica ação de prestação de contas.
Em outro giro, o exercício da guarda unilateral e respectivo
investimento da verba alimentar são atividades a cargo do guardião
que comportam certo grau de flexibilidade e autonomia, desde que
sua atividade seja finalisticamente dirigida ao atendimento do
bem-estar do menor.
Nessa medida, o controle a respeito do atendimento do melhor
interesse do infante apenas pode ser supervisionado, inclusive
judicialmente, sob o prisma qualitativo e não apenas a título
quantitativo, segundo o qual mês a mês todo o valor percebido a título
de pensão alimentícia deveria ser investido às inteiras em atividades
exclusivamente usufruídas pelo alimentando.
Isso porque, a depender da realidade familiar em que vive o
alimentando, da sua verba também aproveitarão, ainda que de forma
indireta, a própria guardiã e eventuais irmãs unilaterais, tanto à vista
da necessidade de promoverem-se condições condignas, homogêneas e
isonômicas entre todos os membros da família, quanto em razão da
circunstância de que o consumo de determinados bens ultrapassem o
proveito unipessoal, como o ar condicionado, o televisor, aquecimento
de água, etc.
Ademais, a própria necessidade de provisionar para despesas
extravagantes pode recomendar o não uso da totalidade da receita
alimentar em atividades pré-definidas, o que, por si só, retira a
possibilidade de um controle judicial da destinação da verba alimentar
sob o prisma exclusivamente contábil, mormente no estrito âmbito do
procedimento de prestação de contas propriamente dito.
Não se olvida, por outro lado, que o nomen iuris da ação conferido pelo
autor na petição inicial não vincula a atividade jurisdicional, que está adstrita
tão somente ao pedido e a causa de pedir, podendo o procedimento ser
adaptado, com vistas a conferir maior efetividade possível às pretensões do
jurisdicionado.
Nada obstante, in casu, não há espaço para adequação do procedimento
adotado nas instâncias ordinárias, não apenas porque já houve citação e
julgamento, mas sobretudo porque o que se revela da inicial, da sentença e das
razões recursais, é o inconformismo do recorrente com o montante fixado a
título de alimentos.
A propósito, assim constou da sentença:
A hipótese dos autos, pois, não atende os pressupostos objetivos
legais, visto que a parte autora não aponta quais os assuntos ou
situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física ou
psicológica e a educação do seu filho (letra da 1.583, § 52, na redação
dada pela reforma de 2014). O autor refere apenas genericamente
possuir suspeitas de que os alimentos estariam sendo objeto de desvio
de função por parte da genitora, mas não aponta quais os elementos
que sustentam semelhante conclusão.
Muito ao revés, os diversos documentos médicos e educacionais
juntados pelo requerido atestam que inexistem mínimos indícios de
desvio de finalidade, máxime em razão da delicada condição de saúde
do menor que, embora com todas as adversidades, ostenta satisfatória
situação social descrita nos pareceres acostados (fl. 170)
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Assim, dada amplitude da pretensão do demandante, aliada ao não
arrolamento de qualquer situação suspeita específica que pudesse dar
guarida ao pedido, inegável a conclusão de que a presente ação se
presta apenas como mais um artifício atinente a acossar
processualmente a alimentante, a qual já está respondendo a processo
de revisão de alimentos, palco onde o binômio
necessidade/possibilidade pode ser apreciado a contento pelo Estado
-Juiz.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : J EP
ADVOGADOS : JOAQUIM ERNESTO PALHARES - RS012204
MÁRCIO MELLO CASADO - RS039380
TARCÍSIO RODOLPHI CARNEIRO - RS048796
DARIANO JOSÉ SECCO - SP164619
RECORRIDO : JSF
ADVOGADO : JUSSINARA SENA FERNANDES - RS028283
INTERES. : R F P (MENOR)
SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). MÁRCIO MELLO CASADO, pela parte RECORRENTE: J E P
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, negando provimento ao
recurso especial, no que foi acompanhado pelo Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, pediu vista
antecipada o Sr. Ministro Moura Ribeiro. Aguarda o Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze. Ausente,
justificadamente, a Sra. Ministra Nancy Andrighi.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.814.639 - RS (2018/0136893-1)
RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
RECORRENTE : JEP
ADVOGADOS : JOAQUIM ERNESTO PALHARES - RS012204
MÁRCIO MELLO CASADO - RS039380
TARCÍSIO RODOLPHI CARNEIRO - RS048796
DARIANO JOSÉ SECCO - SP164619
RECORRIDO : JSF
ADVOGADO : JUSSINARA SENA FERNANDES - RS028283
INTERES. : R F P (MENOR)
EMENTA
VOTO-VENCEDOR
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PRESTAÇÃO DE CONTAS. VALORES DA PENSÃO ALIMENTÍCIA
QUE O AUTOR PAGA AO FILHO. DESCABIMENTO.
1. Como a ação de prestação de contas tem por objetivo
estabelecer a existência de um crédito, de uma dívida ou
reconhecer a sua quitação, e como o pai alimentante não tem
relação jurídica de direito material com a mãe e guardiã de seu
filho, mas com o filho - alimentado, que é o titular dos alimentos, é
descabido o pedido deduzido na exordial.
2. O alimentante somente pode pedir a prestação de contas do
valor da pensão de alimentos que presta ao filho, contra a
representante legal dele em situação excepcional, pois os alimentos
são destinados ao filho e deixam de ser propriedade do alimentante
no momento da entrega, passando a pertencer ao alimentado e se
exaurem no próprio sustento dele, ou seja, o alimentante não terá
nenhum crédito em relação aos alimentos, pois o credor, se for o
caso, será o filho.
3. O art. 1.583, § 5º, do CCB prevê o direito do genitor que não
detém a guarda de supervisionar os interesses dos filhos e tem
legitimidade para solicitar informações ou prestação de contas,
objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações que direta ou
indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação dos
seus filhos, não cuidando propriamente de se fazer auditoria no
valor da pensão alimentícia que paga ao filho.
4. Quando a pensão alimentícia não estiver sendo canalizada para
o alimentado e, em razão disso, o sustento dele estiver prejudicado,
não será o caso de apenas buscar um crédito, que é o desiderato
da ação de prestação de contas, mas de buscar medidas tendentes
a amparar o alimentado.
5. Fere a razoabilidade pretender que a guardiã deva comparecer
a juízo para prestar contas, e de forma mercantil, de todas as
inúmeras pequenas despesas que consistem no sustento e na
própria administração do cotidiano do filho, mormente quando ele
tem saúde delicada e possui gastos extraordinários, em razão de
suas necessidades especiais.
Recurso desprovido (e-STJ, fl. 343).
J alegou violação dos arts. 369, 370, 489, § 1º, I e IV e 1.022, I e II,
parágrafo único, II, todos do NCPC, e art. 1.583, § 5º, do CC/02, ao sustentar que (1) houve
omissão no acórdão recorrido acerca de questões relevantes, não sanadas no julgamento
dos embargos de declaração; (2) ocorreu cerceamento de defesa, na medida em que não
lhe foi permitido a produção integral das provas requeridas; e (3) é parte legítima e tem
interesse em propor ação de prestação de contas visando conhecer como está sendo
empregada a pensão alimentícia paga a seu filho menor especial, administrada pela sua
genitora, o qual nasceu com graves problemas de saúde, é portador de "Down", associada
com deficiência mental moderada e transtorno de desenvolvimento, e que necessita
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igualmente de cuidados médicos constantes e especiais.
O em. relator, o Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, apresentou
seu voto, com o brilhantismo que lhe é peculiar, tendo decidido pelo parcial conhecimento
do recurso especial e, nesta extensão, pelo seu desprovimento.
Pedi vista dos autos, para melhor reflexão sobre a relevante questão
jurídica trazida, nas palavras do em. Relator, a respeito da viabilidade jurídica da ação de
prestação de contas ajuizada pelo alimentante contra a genitora guardiã do alimentado
para obtenção de informações acerca da destinação da pensão alimentícia prestada
mensalmente.
Adianto que acompanho integralmente o entendimento do em. Relator, no
que se refere a alegação do recorrente de que teria havido negativa de prestação
jurisdicional e cerceamento de defesa, pelos jurídicos fundamentos apresentados por Sua
Excelência.
Amparado em boa doutrina e em precedentes recentes das Turmas que
compõem a Segunda Seção desta Corte, os quais acompanhei em outras oportunidades,
o voto proferido pelo Relator, atento a redação do § 5º do art. 1.583 do CC/02, foi no
sentido da inadequação da ação de prestação de contas para fiscalização do uso dos
recursos transmitidos ao alimentado, em síntese, por não gerar créditos em seu favor e
por não representar utilidade jurídica para J.
No seu voto, o em. Relator ressaltou a existência de polêmica em torno da
interpretação da norma do § 5º do art. 1.583 do CC/02, que versa sobre a solicitação de
informações e/ou prestação de contas na guarda unilateral, bem como reafirmou o
entendimento jurisprudencial da Terceira Turma, de que o alimentante não possui
interesse processual em exigir contas da detentora da guarda do alimentando porque, uma
vez cumprida a obrigação, a verba não mais compõe o seu patrimônio, remanescendo a
possibilidade de discussão do montante em juízo com ampla instrução probatória (REsp nº
1.637.378/DF, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, DJe de 6/3/2019).
A esse respeito, considerando que o ingresso no nosso ordenamento
jurídico da Lei nº 13.058/2014 incluiu a polêmica norma contida no § 5º do art. 1.583 do
CC/02, peço vênia para trazer algumas reflexões e fazer algumas considerações a
respeito do assunto.
O dispositivo legal em tela tem a seguinte redação:
[...]
A "ratio essendi" do Direito de Família não é a proteção das
instituições, mas do próprio ser humano e de sua integralidade
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física e psíquica, de sua liberdade e de seus pressupostos básicos
elementares (mínimo existencial). A família, por conseguinte, existe
em virtude de seus componentes e não estes em função daquela,
valorizando, de forma definitiva e inescondível, a pessoa humana,
buscando a dignidade da pessoa humana
É a busca da dignidade humana, sobrepujando valores meramente
patrimoniais ou institucionais.
Aliás, eleito como princípio fundamental da República, a dignidade
da pessoa humana modela uma nova feição da família, garantindo
proteção isonômica (igualdade substancial, que significa tratar
desigualmente aquele que reclama proteção diferenciada) a todos
os membros. Em concreto, implica em afirmar um tutela jurídica
diferenciada para a criança e o adolescente, a quem deve ser
dispensada pela família, pela sociedade e pelo Estado, proteção
integral e absoluta, como reza o art. 227 da Constituição Federal.
(ESCRITOS DE DIREITO E PROCESSO DAS FAMÍLIAS -
NOVIDADES E POLÊMICAS - Salvador: Ed. JusPODIVM, 2013, p.
198).
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sobrevivência do alimentado, que no caso tem seríssimos problemas de saúde, eles
devem ao menos assegurar uma existência digna a quem os recebe, em especial, quando
se tratar de menor ou incapaz. Assim, a função supervisora, por quaisquer dos
detentores do poder familiar, em relação ao modo pelo qual a verba alimentar fornecida é
empregada, além de ser um dever imposto pelo legislador, é um mecanismo que dá
concretude ao princípio do melhor interesse e da proteção integral da criança ou do
adolescente.
Não é demais relembrar, por oportuno, a norma do art. 4º do Estatuto da
Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), que dispõe que
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ROLF MADALENO, a este respeito, ensina que existem deveres que vão
além da linha divisória do casamento ou da união estável de um casal, que tendo filhos,
carrega na sequência da ruptura das núpcias o compromisso legal, moral e ético de seguir
assegurando o sustento, a guarda e a educação dos filhos comuns (DIREITO DE
FAMÍLIA, 10ª ed. rev., atual. e ampl., - Rio de Janeiro: ed. Forense, 2020, p. 291/292).
Nesse trilhar, no meu sentir, a legislação destacada, que está em sintonia
com os princípios constitucionais protetivos supracitados, como dito alhures, criou um
mecanismo processual que não só legitima, mas também obriga o genitor não-guardião,
na qualidade de fiscalizador dos interesses superiores dos filhos, a buscar uma tutela
jurisdicional, inclusive, em assunto relacionado a forma como os alimentos pagos a filho
menor ou incapaz são empregados, pois isso afeta, direta e também indiretamente a
saúde física, psicológica e a educação dele, na medida em diz respeito a sua própria
sobrevivência e dignidade.
Nessa toada, pode-se afirmar, sem medo de errar, que a função
fiscalizatória do alimentante não-guardião funda-se também na proteção integral da
criança e do adolescente assegurada pela ordem constitucional vigente, bem como é
elemento de garantia da própria dignidade do alimentado.
Desse modo, qualquer genitor não-guardião que presta alimentos aos
filhos menores ou incapazes, tem o direito e também o dever de buscar o Judiciário, ainda
que por meio da ação de exigir contas, para aferir se efetivamente a verba alimentar
prestada está sendo empregada no desenvolvimento sadio de quem a recebe.
Sem dúvida nenhuma, tal mecanismo supervisionador, fiscalizatório e
protetivo tem o condão de colocar os beneficiários dos alimentos a salvo de eventual
abuso de poder ou negligência dos seus guardiões, constituindo atributo do poder familiar
e da isonomia parental, bem como elemento concretizador do princípio da proteção
integral e do melhor interesse da criança e do adolescente.
A doutrina especializada está alinhada com tal ponto de vista, sendo que
YUSSEF SAID CAHALI, já se manifestou no sentido de que a possibilidade de exigir contas
é inerente ao exercício do poder familiar e da proteção avançada da criança e do
adolescente, sob pena de inviabilizar a própria fiscalização da manutenção, sustento e
educação dos filhos, reconhecida pelo art. 1.589 da Codificação de 2002 (Dos Alimentos.
- São Paulo: ed. Revista dos Tribunais, 2003, p. 572, destaquei).
Ele acrescenta, em outra obra mais recente, que no direito de fiscalização
da guarda, criação, sustento e educação da prole atribuída ao outro cônjuge, ou a terceiro,
está ínsita a faculdade de reclamar em juízo a prestação de contas daquele que exerce a
guarda dos filhos, relativamente ao numerário fornecido pelo genitor alimentante (Dos
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Alimentos, 8ª ed., rev. e atual. - São Paulo: ed. Revista dos Tribunais, 2013, p. 370).
Nessa mesma linha, colaciono a doutrina de ROLF MADALENO, para
quem: a partir da vigência do § 5º do art. 1. 583 do CC/02, os temas relacionados com a
saúde física e psicológica dos filhos e mais aqueles relativos à sua educação, autorizam o
progenitor alimentante a exigir prestação de contas ou meras informações acerca do
destino dos alimentos que paga, pela simples dúvida, suspeita ou interesse que tenha de,
preocupado com o bem-estar do seu filho, ser mais bem informado , de modo inclusive
pormenorizado, acerca de como está sendo administrada a pensão alimentícia do filho
melhor (Direito de Família, 10ª ed. rev., atual. e ampl., - Rio de Janeiro: ed. Forense,
2020, p. 1.023).
Continuando, ele ressalta que o § 5º do art. 1.583 do CC/02,
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E também a lição de CRISTIANO CHAVES DE FARIAS, quanto a
utilização da ação de exigir de contas para finalidade específica de aferir o destino da verba
alimentar recebida a título de pensão alimentícia, em que afirma que
Pelo que foi exposto até o momento, tenho para mim que é
juridicamente viável, com fundamento no § 5º do art. 1.583 do CC/02, a ação de
exigir de contas ajuizada pelo alimentante, em nome próprio, contra a genitora guardiã
do alimentado para obtenção de informações sobre a destinação da pensão paga
mensalmente, desde que proposta sem a finalidade de apurar a existência de
eventual crédito, pois os alimentos prestados são irrepetíveis.
Esse mecanismo protecionista dos reais interesses superiores da criança
e do adolescente, materializado pelo legislador no citado dispositivo do Código Civil em
vigor, se revela um instrumento eficaz para o exercício pleno do poder familiar, dando
concretude ao atributo da atividade fiscalizatória do genitor não-guardião dos interesses
dos filhos.
Prosseguindo na análise dessa matéria tão peculiar e controvertida, como
demonstrou o em. Ministro Relator no seu lapidar voto, passo a fazer algumas
considerações a respeito do interesse de agir do alimentante não-guardião na ação de
exigir contas.
Tenho para mim que não há apenas interesse jurídico, mas também o
dever legal, por força do § 5º do art. 1.538 do CC/02, do genitor alimentante de
acompanhar os gastos com o filho alimentado que não se encontra sob a sua guarda,
fiscalizando o atendimento integral de suas necessidades materiais e imateriais essenciais
ao seu desenvolvimento físico e também psicológico, aferindo o real destino do emprego
da verba alimentar que paga mensalmente, pois ela é voltada para esse fim.
Nesse mesmo trilhar, busco novamente a doutrina de CRISTIANO
CHAVES DE FARIAS, segundo o qual, há inescondível interesse (ou melhor, dever) do
alimentante em fiscalizar a aplicação dos alimentos pagos, de modo a verificar o respeito à
dignidade do alimentando-incapaz, constatando-se se a verba vem sendo aplicada no
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respeito à sua integridade física e psíquica e se estão sendo atendidos os seus
pressupostos materiais básicos, fundamentais (op. cit., p. 200).
CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA, comunga dessa linha de pensamento,
advogando a tese de que ao pai administrador dos interesses do filho corre o dever de lhe
serem dadas as contas da gerência (INSTITUIÇÕES DE DIREITO CIVIL, Rio de Janeiro:
Forense, 7ª ed., 1990, p. 239).
Com efeito, o que justifica o legítimo interesse processual em ação dessa
natureza é só e exclusivamente a finalidade protetiva da criança ou do adolescente
beneficiário dos alimentos prestados, e não o eventual acertamento de contas,
perseguição ou picuinhas com a(o) guardiã(ao), devendo a medida ser dosada e,
preferencialmente utilizada, na hipótese em que haja pelo menos suspeita de malversação
dos alimentos, pelo administrador da verba.
Assim, me parece ser legítima e útil a preocupação do alimentante
não-guardião com o destino dado a verba alimentar que paga mensalmente. Ele precisa
saber, afinal, se ela de fato está sendo utilizada para satisfação das prioridades do filho, se
está atendendo a sua finalidade, e, suspeitando do contrário, poderá buscar a tutela
jurisdicional, valendo-se da ação de exigir contas, fundada no § 5º do art. 1.583 do CC/02.
O instituto jurídico da ação de exigir contas, disciplinada nos arts. 550
a 553 do NCPC (arts. 914 a 919 do CPC/73), no qual, em regra, quem administra
patrimônio alheio tem o dever de prestar constas de sua gestão e aquele que afirmar ser
titular do direito de exigir contas especificará detalhadamente as razões pelas quais a
exige, a meu ver, não exige, necessariamente, que o autor afirme a existência de
algum crédito, mas sim que ele demonstre que tem direito de ter as contas
prestadas, ou seja, de que é titular de interesse gerido e administrado por outrem.
Quem explica bem isso, é a doutrina de ADROALDO FURTADO
FABRÍCIO, segundo a qual
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decorrente de sua prestação, isto é, são inconfundíveis o direito ao crédito (cujo titular é,
por óbvio, o credor) e o direito às contas (cujo o titular é o credor ou o devedor da
obrigação pecuniária, dependendo do caso), ela tem natureza dúplice, estando ativamente
legitimado qualquer dos aludidos sujeitos, figurando como réu aquele diante do qual vier a
ser ajuizada (Procedimentos Especiais, 16ª ed. rev., atual. e ampl. - São Paulo: ed. Atlas,
2016, p. 109).
Quanto ao interesse de agir, MARCATO argumenta que o autor somente
terá interesse instrumental de agir em juízo se e quando houver recusa ou mora por parte
daquele com direito a receber as contas, ou do obrigado a prestá-las; ou ainda, quando a
prestação amigável seja impossível, em razão da divergência existente entre as partes,
quer quanto ao objeto ou existência da própria obrigação de dar contas, quer quanto à
existência ou ao montante do saldo (op. cit. p. 110)
Assim, com suporte em tais lições doutrinárias, reforço o meu
entendimento de que, para a manuseio da ação de exigir contas de verba alimentar, não há
necessidade que se busque ou que se indique a existência de um crédito, mas sim que se
demonstre a titularidade de um interesse legítimo, como na hipótese em que o alimentante
não-guardião visa esclarecimentos sobre o emprego da verba alimentar prestada a menor,
que deve ter seu real melhor interesse garantido. Desse modo, a questão da
irrepetibilidade dos alimentos não pode ser fator determinante para impedir o ajuizamento
da ação .
Feitas essas considerações a respeito da viabilidade da ação de exigir
contas, e do interesse processual no seu manuseio, passo a examinar se, no caso
concreto há legítimo interesse na propositura da referida ação.
Colhe-se dos autos que J, alimentante não-guardião, que jamais teve
contato com o filho especial (portador de "Down"), que nasceu com a saúde fragilizada e
até os dias atuais necessita de tratamento e de cuidados igualmente especiais, e que,
portanto, não tem a menor noção das necessidades reais e essenciais do filho, procurou a
tutela jurisdicional, com fundamento no § 5º do art. 1.583 do CC/02.
Afirmou que tem interesse jurídico e também o direito de saber como está
sendo empregada a pensão alimentícia que paga, e se ela está sendo dirigida para atender
as necessidades físicas, psicológicas e educacionais do filho, tendo ele ressaltado que
não pretendia, de forma nenhuma, a devolução de eventual quantia, dada a irrepetibilidade
dos alimentos.
Argumentou, na exordial, que existiam fundadas razões para o
ajuizamento da referida ação, pois suspeitava que estava havendo desvio de finalidade da
pensão alimentícia, na medida em que (1) na contestação na ação revisional de alimentos
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que ajuizou, a genitora e guardiã de R não comprovou que o filho estava recebendo todos
os acompanhamentos necessários; (2) mantém plano de saúde para atender as
necessidades de R e todas as consultas e exames são custeados por ele; (3) teve a
informação de que o filho estava estudando em escola pública, deixando de frequentar
escolas inclusivas que proporcionam atenção especial a crianças com deficiência; (4)
houve significativa melhora na capacidade financeira da genitora para contribuir no
sustento do filho; e (5) o valor despendido a título de pensão, por anos, seria mais do que
suficiente para proporcionar a R um excelente padrão de vida e de assistência, reforçando
o dever da verba ser empregada no bem-estar e melhor interesse dele.
A sentença julgou improcedente o pedido de J porque (1) para legitimar o
pedido seria exigível que o autor indicasse, não de modo genérico, a má administração dos
valores e os possíveis desvios, o que não ocorreu; (2) o autor visava revisar a obrigação
alimentar por meio da ação de prestação de contas; (3) ele não poderia pedir reembolso,
dada a natureza irrepetível dos alimentos; (4) não indicou qual ou quais assuntos ou
situações direta ou indiretamente afetavam a saúde física e psicológica e a educação do
filho; e (5) inexistiam indícios mínimos de desvio de finalidade no emprego da verba
alimentar, diante da delicada condição de saúde do menor.
Já o TJ/RS manteve a sentença, em suma, porque (1) a ação era
descabida, pois se tratava de um pai que jamais aceitou o filho portador de necessidades
especiais, nem com ele tem ou teve qualquer convivência, apenas pagou a pensão
alimentícia e jamais revelou preocupação com ele; (2) a ação de prestação de contas tem
por objetivo estabelecer a existência de um crédito, de uma dívida, e como J não tem
relação jurídica de direito material com a mãe guardiã, mas só com o filho, é descabido o
pedido deduzido na inicial; (3) J somente poderia pedir prestação de contas em situações
excepcionais, ou seja, em situações que direta ou indiretamente afetem a saúde e a
educação do filho, pois os alimentos foram destinados a R e deixaram de ser de
propriedade do alimentante quando foram prestados; (4) o pedido formulado por J não tem
o objetivo de amparar o filho, mas forçar a genitora a aceitar a redução do valor dos
alimentos; (5) o disposto no § 5º do art. 1.583 do CC/02 não serve para autorizar uma
auditoria no valor da pensão alimentícia paga a R; (6) quando a pensão não estiver sendo
canalizada para o alimentando e, em virtude disso, o sustento tiver comprometido, não
será o caso de buscar um crédito, mas medidas tendentes a amparar o menor, sendo que
a genitora tem prestado ao filho todos os cuidados que necessita; e (7) fere a razoabilidade
pretender que a genitora compareça em juízo mensalmente para prestar contas na forma
mercantil, de todas as pequenas despesas que consistem no sustento e na própria
administração do cotidiano do filho, mormente quando ele tem saúde delicada e gastos
extraordinários, em razão de suas necessidades especiais.
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Diante de todo esse cenário, considerando e também respeitando o
posicionamento firmado pelas instâncias precedentes e, também, os jurídicos e bem
fundados argumentos trazidos no voto proferido pelo em. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, com suporte na jurisprudência que não admite a ação de exigir contas
em tal situação, tenho para mim que, no caso, a leitura da exordial revelou que a finalidade
da ação de exigir contas consistiu em procurar saber como é gasta a verba alimentar
destinada a R, e não para apuração de eventual crédito ou saldo devedor em favor do
autor.
No mais, J ainda está investido no poder familiar em relação ao filho,
tendo ele demonstrado legitimidade e interesse em saber como é empregada a verba
alimentar a ele destinada, não podendo lhe ser negado o exercício do atributo fiscalizatório
inerente ao poder familiar. Além disso, a norma invocada (§ 5º do art. 1.583 do CC/02) para
o exercício do seu direito está em harmonia com os princípios protetivos da criança e do
adolescente, sendo ela adequada para este mister.
No meu sentir, há relação jurídica de direito material existente entre as
partes: J, é o alimentante e o titular do poder familiar, o qual compreende a prerrogativa de
fiscalizar os reais interesses do filho alimentando; ele pagou e paga os alimentos ao filho
menor e a administração deles ficou a cargo da sua genitora e representante legal; e, há
interesse legítimo em fiscalizar a finalidade para qual a verba é empregada.
De outra parte, a notícia de que J não teve contato com o filho ou jamais
procurou ter, por razões que desconheço e que também não foram esclarecidas nos
autos e, por isso, me impedem de fazer um juízo de valor a este respeito, não retira dele o
direito dele procurar uma tutela jurisdicional enquanto for detentor do poder familiar em
relação a R, de buscar o bem-estar do filho que é especial e tem um quadro de saúde que
requer cuidados extraordinários.
No mais, não me parece adequado ou razoável exigir que J indicasse,
desde logo na inicial, outros elementos concretos que justificassem a suspeita de desvio
de finalidade na administração da pensão alimentícia de R, pois o escopo da ação ajuizada
é justamente receber esclarecimentos da forma como é empregada a verba alimentar
paga ao filho.
A razão de ser da ação de exigir contas em questões relacionadas a
alimentos é justamente o desconhecimento de como a verba é empregada, esse é o seu
desiderato. No caso, J não tem a menor noção das necessidades especiais para o
tratamento adequado do filho, justamente pela situação lamentável de nunca ter convivido
ele.
Em um primeiro momento, deve-se averiguar a forma como efetivamente
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estão sendo empregados os recursos destinados ao alimentando, de modo o detentor do
poder fiscalizatório possa verificar se eles estão sendo utilizados no atendimento de suas
necessidades básicas e vitais, devendo sempre ter em mente que a fiscalização do
emprego da verba alimentar está embutido no dever de vigilância dos interesses do
criança.
Depois de prestadas as contas, se houver indícios de que a gestão dos
alimentos pela administradora da criança não está sendo adequada, o interessado poderá
tomar ou buscar as providências e medidas judiciais que entender cabíveis para amparar o
alimentando, que serão discutidos em outra ação, o que não necessita ser definida agora.
Em suma: penso que, no regime jurídico atual, não é possível se admitir
que entregue o capital mensal para os alimentos, pode dele fazer o que bem quiser o seu
administrador. Quem administra, deve prestar contas.
Nestas condições, peço vênia para divergir do voto trazido pelo em.
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, de modo a conhecer em parte, e, nessa
extensão DAR PARCIAL PROVIMENTO ao recurso especial reconhecendo o direito de J
de promover ação de exibição de contas.
As definições dos critérios que deverão ser observados para a efetivação
da prestação de contas será tarefa do Juízo da causa, que, em virtude das peculiaridades
do caso e por envolver reais interesses superiores de menor de idade com necessidades
especiais, terá melhor condição de adequar o procedimento no caso concreto.
Por oportuno, a título de colaboração, lembro que o NCPC (art. 551, § 2º)
não mais exige que as contas sejam prestadas de forma mercantil, devendo elas ser
apresentadas apenas de forma adequada, de modo que facilite o seu exame, mas com
um mínimo de rigor técnico. Como a lei não exige que as contas sejam exibidas
mensalmente, me parece de bom alvitre que dadas as circunstâncias do caso concreto e
por não se mostrar adequado e proporcional o comparecimento em juízo em forma
mensal para este mister, parece razoável que elas sejam exibidas em outra periodicidade,
a critério do Juízo da causa.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : J EP
ADVOGADOS : JOAQUIM ERNESTO PALHARES - RS012204
MÁRCIO MELLO CASADO - RS039380
TARCÍSIO RODOLPHI CARNEIRO - RS048796
DARIANO JOSÉ SECCO - SP164619
RECORRIDO : JSF
ADVOGADO : JUSSINARA SENA FERNANDES - RS028283
INTERES. : R F P (MENOR)
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Moura Ribeiro,
inaugurando a divergência, conhecendo em parte do recurso especial e, nesta parte, dando-lhe
parcial provimento no que foi acompanhado pelo Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze, verificou-se
empate. O julgamento deverá ser renovado com a presença da Sra. Ministra Nancy Andrighi.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MOURA RIBEIRO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MÁRIO PIMENTEL ALBUQUERQUE
Secretário
Bel. WALFLAN TAVARES DE ARAUJO
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : J EP
ADVOGADOS : JOAQUIM ERNESTO PALHARES - RS012204
MÁRCIO MELLO CASADO - RS039380
TARCÍSIO RODOLPHI CARNEIRO - RS048796
DARIANO JOSÉ SECCO - SP164619
RECORRIDO : JSF
ADVOGADO : JUSSINARA SENA FERNANDES - RS028283
INTERES. : R F P (MENOR)
SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). MÁRCIO MELLO CASADO, pela parte RECORRENTE: J E P
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto de desempate da Sra. Ministra Nancy Andrighi,
acompanhando a divergência, a Terceira Turma, por maioria, conheceu em parte do recurso
especial e, nesta parte, deu-lhe parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Moura
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Ribeiro, que lavrará o acórdão. Votaram vencidos os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino e
Ricardo Villas Bôas Cueva. Votaram com o Sr. Ministro Moura Ribeiro (Presidente) os Srs.
Ministros Marco Aurélio Bellizze e Nancy Andrighi.
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