Renda Pais Ou Valor Pensao Nao Impede
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Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 2 de 5
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 2.057.894 - SP (2023/0078097-2)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : LDM
REPR. POR : FDR
ADVOGADOS : NATÁLIA LUCIANA PAVAN IMPARATO - SP146216
MICHELLE REICHER - SP155203
RECORRIDO : JJM
ADVOGADO : FABÍOLA ABRAHÃO DOS SANTOS FORTES ELY - RS046389
RELATÓRIO
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RECURSO ESPECIAL Nº 2.057.894 - SP (2023/0078097-2)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : LDM
REPR. POR : FDR
ADVOGADOS : NATÁLIA LUCIANA PAVAN IMPARATO - SP146216
MICHELLE REICHER - SP155203
RECORRIDO : JJM
ADVOGADO : FABÍOLA ABRAHÃO DOS SANTOS FORTES ELY - RS046389
EMENTA
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RECURSO ESPECIAL Nº 2.057.894 - SP (2023/0078097-2)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : LDM
REPR. POR : FDR
ADVOGADOS : NATÁLIA LUCIANA PAVAN IMPARATO - SP146216
MICHELLE REICHER - SP155203
RECORRIDO : JJM
ADVOGADO : FABÍOLA ABRAHÃO DOS SANTOS FORTES ELY - RS046389
VOTO
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hipótese a Súmula 284/STF.
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suficientes para investir nas demandas judiciais sem que com isso haja prejuízo para
o sustento próprio ou de sua família. E alargar este conceito para abranger aqueles
que, a olhos vistos, dispõem de meios para custear o serviço prestado pelo Poder
Judiciário, é sobrecarregar o Estado com os gastos dirigidos a pessoas certas e
determinadas, fazendo-o dispor, para tanto, dos meios recolhidos por toda a
coletividade.
No caso em tela, equivocado o entendimento esposado no recurso, pois, por obvio,
que a documentação para comprovação da insuficiência econômico-financeira será
da representante legal do menor.
Deste modo, diante da ausência de comprovação quanto à momentânea
dificuldade financeira, claro está que não faz jus os benefícios da gratuidade, tendo
em vista que possui perfil diferente da maioria dos postulantes que são
verdadeiramente destinatários do benefício, e esse perfil diferenciado rompe a
presunção de miserabilidade, tanto que o juiz indeferiu a gratuidade. Com acerto.
Verifica-se que o embargante pleiteia que seja dada nova manifestação em relação a
concessão dos benefícios da gratuidade em favor do menor.
Contudo, em que pese os apontamentos do embargante em relação ao
entendimento exarado pelo C. Superior Tribunal de Justiça, esta relatoria entende
que a documentação para comprovação da insuficiência econômica será da
representante do menor e, no caso, não há comprovação da impossibilidade de
arcar com as custas e despesas processuais.
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se extinguem pela morte do beneficiário, podendo, entretanto, ser concedidos
aos herdeiros que continuarem a demanda e que necessitarem de tais favores, na
forma estabelecida nesta Lei”.
9. O referido dispositivo legal revelava, pois, que o direito ao benefício
da gratuidade de justiça possuía natureza individual e personalíssima, não
podendo ser automaticamente estendido a quem não preencha os pressupostos
legais para a sua concessão.
10. Conquanto não tenha havido expressa revogação do art. 10 da Lei
nº 1.060/50, conforme se depreende do art. 1.072, III, do novo CPC, fato é que
norma de igual sentido se encontra prevista no art. 99, §6º, da nova lei
processual, que prevê que “o direito à gratuidade da justiça é pessoal, não se
estendendo a litisconsorte ou a sucessor do beneficiário, salvo
requerimento e deferimento expressos”.
11. A natureza personalíssima do direito à gratuidade de justiça,
aliás, é objeto de amplo consenso na doutrina, como bem destacam Nelson Nery
Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery:
12. Embora a regra do art. 99, §6º, do novo CPC, limite-se a enunciar
que o benefício não é automaticamente extensível ao litisconsorte, tampouco é
automaticamente transmissível ao sucessor, é da natureza personalíssima do
direito à gratuidade que os pressupostos legais para a sua concessão
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deverão ser preenchidos, em regra, pela própria parte e não pelo seu
representante legal.
13. É evidente que, em se tratando de crianças ou adolescentes
representados pelos seus pais, haverá sempre um forte vínculo entre a situação
desses dois diferentes sujeitos de direitos e obrigações, sobretudo em razão da
incapacidade civil e econômica da própria criança e adolescente, o que não
significa dizer, todavia, que se deva automaticamente examinar o direito à
gratuidade a que poderiam fazer jus à luz da situação financeira de seus pais.
14. Para melhor resolver essa questão controvertida, é preciso
examinar, em primeiro lugar, a aparente contradição que há entre o art. 99, §§ 2º e
§ 3º, do CPC/15, que assim dispõem, in verbis:
Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na
contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
(...)
§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que
evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade,
devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do
preenchimento dos referidos pressupostos.
§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por
pessoa natural.
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4. Presunção de insuficiência de recursos para a pessoa física (§3º). O
§3º traz a presunção de insuficiência de recursos, apenas para a pessoa física.
Consequentemente, o ônus da prova na impugnação à gratuidade é, em regra, do
impugnante (vide artigo 100, item 4). 4 . 1 . Há um leve grau de colidência entre esse
§ 3º (que aponta a presunção de necessidade) e § 2º do artigo 99 (que afirma ser
possível ao juiz indeferir de ofício, após oitiva da parte). Ou seja, apesar de existir a
presunção de necessidade, trata-se de presunção relativa, pois o juiz pode,
conforme sua análise da causa, indeferir o benefício – e nesse caso a presunção de
gratuidade será afastada pelo magistrado em relação ao que consta dos autos. 4.2.
Na prática, a leve divergência legislativa permite que a jurisprudência seja variável.
Como já mencionado anteriormente, há juízes mais rígidos para a concessão, que
prestigiam o § 2º (possibilidade de indeferimento); e há juízes mais
condescendentes, que dão maior relevância para o § 3º (forte presunção de
necessidade). (GAJARDONI, Fernando da Fonseca; DELLORE, Luiz; ROQUE, André
Vasconcelos; OLIVEIRA JR., Zulmar. Teoria geral do processo: comentários ao CPC
de 2015. São Paulo: Forense, 2022. p. 166).
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direito de ação em que se busque a fixação, arbitramento, revisão ou
adimplemento de obrigação de natureza alimentar.
20. Com efeito, o fato de a representante legal do beneficiário
possuir atividade remunerada e o elevado valor da obrigação alimentar
que é objeto da execução não podem, por si só, servir de impedimento à
concessão da gratuidade de justiça às crianças ou adolescentes que são os
credores dos alimentos, em favor de quem devem ser revertidas as prestações
com finalidades bastante específicas e relevantes.
21. Tratando, especificamente, de ações que envolviam alimentos,
esse foi o entendimento, unânime, desta 3ª Turma:
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pode exigir que os pressupostos legais que autorizam a concessão do benefício
sejam preenchidos por pessoa distinta da parte, como o seu representante legal.
4- Em se tratando de menores representados pelos seus pais, haverá sempre um
forte vínculo entre a situação desses dois diferentes sujeitos de direitos e
obrigações, sobretudo em razão da incapacidade civil e econômica do próprio
menor, o que não significa dizer, todavia, que se deva automaticamente examinar o
direito à gratuidade a que poderia fazer jus o menor à luz da situação financeira de
seus pais.
5- A interpretação que melhor equaliza a tensão entre a natureza personalíssima do
direito à gratuidade e a notória incapacidade econômica do menor consiste em
aplicar, inicialmente, a regra do art. 99, §3º, do novo CPC, deferindo-se o benefício
ao menor em razão da presunção de sua insuficiência de recursos, ressalvada a
possibilidade de o réu demonstrar, com base no art. 99, §2º, do novo CPC, a
posteriori, a ausência dos pressupostos legais que justificam a gratuidade, o que
privilegia, a um só tempo, os princípios da inafastabilidade da jurisdição e do
contraditório.
6- É igualmente imprescindível que se considere a natureza do direito material que é
objeto da ação em que se pleiteia a gratuidade da justiça e, nesse contexto, não há
dúvida de que não pode existir restrição injustificada ao exercício do direito de ação
em que se busque o adimplemento de obrigação de natureza alimentar.
7- O fato de o representante legal das partes possuir atividade remunerada e o
elevado valor da obrigação alimentar que é objeto da execução não podem, por si
só, servir de empeço à concessão da gratuidade de justiça aos menores credores
dos alimentos.
8- Recurso especial conhecido e provido. (REsp 1.807.216/SP, 3ª Turma, DJe
06/02/2020).
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personalíssima, não podendo ser automaticamente estendido a quem não
preencha os pressupostos legais para a sua concessão e, por idêntica razão, não se
pode exigir que os pressupostos legais que autorizam a concessão do benefício
sejam preenchidos por pessoa distinta da parte, como o seu representante legal.
4. Em se tratando de menores representados pelos seus pais, haverá sempre um
forte vínculo entre a situação desses dois diferentes sujeitos de direitos e
obrigações, sobretudo em razão da incapacidade civil e econômica do próprio
menor, o que não significa dizer, todavia, que se deva automaticamente examinar o
direito à gratuidade a que poderia fazer jus o menor à luz da situação financeira de
seus pais.
5. Em se tratando de direito à gratuidade de justiça pleiteado por menor, é
apropriado que, inicialmente, incida a regra do art. 99, § 3º, do CPC/2015,
deferindo-se o benefício ao menor em razão da presunção de insuficiência de
recursos decorrente de sua alegação. Fica ressalvada, entretanto, a possibilidade de
o réu demonstrar, com base no art. 99, § 2º, do CPC/2015, a ausência dos
pressupostos legais que justificam a concessão gratuidade, pleiteando, em razão
disso, a revogação do benefício.
6. Na hipótese dos autos, a Corte de origem indeferiu o benefício pleiteado pelo
recorrente (menor), consoante o fundamento de que não foi comprovada a
hipossuficiência financeira de seus genitores, o que não se revela cabível.
7. Recurso especial conhecido e provido (REsp 2.055.363/MG, 3ª Turma, DJe
23/06/2023).
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25. Nesse contexto, não há dúvida de que se tratam de pais com
poder aquisitivo acima da média nacional e também é indiscutível que, com a
ruptura da vida conjugal, poderá eventualmente haver a necessidade de
adaptações a respeito das necessidades da criança diante de um novo cenário
econômico que se apresentará.
26. Essas adaptações são naturais e gradativas e poderão repercutir
no valor que virá a ser arbitrado a título de alimentos, com a possibilidade, por
óbvio, de vir a ser indeferida a gratuidade judiciária se se comprovar que é
possível, diante dessa nova realidade que virá a ser concretizada, a alocação de
recursos para o custeio das despesas processuais sem prejuízo do custeio das
necessidades da criança e do adolescente.
27. Nesse momento, contudo, em que tudo ainda é bastante incerto e
no qual ainda se discutem quais seriam as reais necessidades do recorrente, não
tendo havido sequer impugnação do recorrido sobre a gratuidade judiciária, é
prematuro o indeferimento apenas com base na condição socioeconômica da
genitora ou com base no valor nominal dos alimentos em vigor.
4. DISPOSITIVO
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : LDM
REPR. POR : FDR
ADVOGADOS : NATÁLIA LUCIANA PAVAN IMPARATO - SP146216
MICHELLE REICHER - SP155203
RECORRIDO : JJM
ADVOGADO : FABÍOLA ABRAHÃO DOS SANTOS FORTES ELY - RS046389
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento,
nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Humberto Martins, Ricardo Villas Bôas Cueva (Presidente), Marco
Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.
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