Renda Pais Ou Valor Pensao Nao Impede

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 17

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 2.057.894 - SP (2023/0078097-2)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI


RECORRENTE : LDM
REPR. POR : FDR
ADVOGADOS : NATÁLIA LUCIANA PAVAN IMPARATO - SP146216
MICHELLE REICHER - SP155203
RECORRIDO : JJM
ADVOGADO : FABÍOLA ABRAHÃO DOS SANTOS FORTES ELY - RS046389
EMENTA

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. OMISSÃO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO NAS RAZÕES


DO ESPECIAL. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME. SÚMULA 284/STF. AÇÃO REVISIONAL
DE ALIMENTOS E RECONVENÇÃO COM PEDIDO DE MAJORAÇÃO DE ALIMENTOS.
DIREITO AO BENEFÍCIO DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA. NATUREZA INDIVIDUAL E
PERSONALÍSSIMA. EXTENSÃO A TERCEIROS. IMPOSSIBILIDADE. EXAME DO
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS AUTORIZADORES A PARTIR DA SITUAÇÃO
ECONÔMICA DE PESSOA DISTINTA DA PARTE, COMO A REPRESENTANTE LEGAL DA
CRIANÇA OU ADOLESCENTE. VÍNCULO FORTE ENTRE DIFERENTES SUJEITOS DE
DIREITOS E OBRIGAÇÕES. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA DA CRIANÇA E
ADOLESCENTE. AUTOMÁTICO EXAME DO DIREITO À GRATUIDADE À LUZ DA
SITUAÇÃO ECONÔMICA DOS PAIS. IMPOSSIBILIDADE. CRITÉRIOS. TENSÃO ENTRE A
NATUREZA PERSONALÍSSIMA DO DIREITO E A INCAPACIDADE ECONÔMICA DA
CRIANÇA OU ADOLESCENTE. PREVALÊNCIA DA REGRA DO ART. 99, § 3º, DO CPC/15.
ACENTUADA PRESUNÇÃO DE INSUFICIÊNCIA DA CRIANÇA OU ADOLESCENTE.
CONTROLE JURISDICIONAL POSTERIOR. POSSIBILIDADE. PRESERVAÇÃO DO ACESSO
À JUSTIÇA E CONTRADITÓRIO. RELEVÂNCIA DO DIREITO MATERIAL. ALIMENTOS.
IMPOSSIBILIDADE DE RESTRIÇÃO INJUSTIFICADA AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE
AÇÃO.
1- Recurso especial interposto em 24/06/2022 e atribuído à Relatora em
28/03/2023.
2- Os propósitos recursais consistem em definir: (i) se há omissões relevantes no
acórdão recorrido; (ii) se, em ação judicial que versa sobre alimentos ajuizada por
criança ou adolescente, é admissível que a concessão da gratuidade de justiça esteja
condicionada a demonstração de insuficiência de recursos de seu representante
legal.
3- Não se conhece do recurso especial ao fundamento de violação ao art. 1.022, II,
do CPC/15, quando as razões recursais somente se limitam a apontar
genericamente a existência de omissões e apenas se reportam aos embargos de
declaração opostos na origem, sem, contudo, especificá-las e demonstrá-las nas
razões do especial.
4- O direito ao benefício da gratuidade de justiça possui natureza individual e
personalíssima, não podendo ser automaticamente estendido a quem não
preencha os pressupostos legais para a sua concessão e, por idêntica razão, não se
pode exigir que os pressupostos legais que autorizam a concessão do benefício
sejam preenchidos por pessoa distinta da parte, como o seu representante legal.
5- Em se tratando de crianças e adolescentes representados pelos seus pais, haverá
Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 1 de 5
Superior Tribunal de Justiça
sempre um forte vínculo entre a situação desses dois diferentes sujeitos de direitos
e obrigações, sobretudo em razão da incapacidade civil e econômica da criança ou
adolescente, o que não significa dizer, todavia, que se deva automaticamente
examinar o direito à gratuidade a que poderiam fazer jus o menor à luz da situação
financeira de seus pais.
6- A interpretação que melhor equaliza a tensão entre a natureza personalíssima do
direito à gratuidade e a notória incapacidade econômica das crianças e adolescentes
consiste em aplicar, inicialmente, a regra do art. 99, § 3º, do CPC/15, deferindo-se o
benefício em razão da presunção da insuficiência de recursos, ressalvada a
possibilidade de o réu demonstrar, com base no art. 99, § 2º, do CPC/15, a
posteriori, a ausência dos pressupostos legais que justificam a gratuidade, o que
privilegia, a um só tempo, os princípios da inafastabilidade da jurisdição e do
contraditório.
7- É igualmente imprescindível que se considere a natureza do direito material que é
objeto da ação em que se pleiteia a gratuidade da justiça e, nesse contexto, não há
dúvida de que não pode existir restrição injustificada ao exercício do direito de ação
em que se busque a fixação, o arbitramento ou o adimplemento de obrigação de
natureza alimentar.
8- O fato de o representante legal das partes possuir atividade remunerada ou o
elevado valor da obrigação alimentar não podem, por si só, servir de impedimento
à concessão da gratuidade de justiça às crianças e adolescentes credoras de
alimentos, especialmente quando incerta e ainda pendente severa controvérsia
entre os pais a respeito de suas efetivas necessidades.
9- Recurso especial conhecido e provido, para deferir o benefício da gratuidade da
justiça ao recorrente, prejudicado o exame da questão sob a ótica do dissenso
jurisprudencial.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira


Turma do Superior Tribunal de Justi�a, na conformidade dos votos e das notas
taquigr�ficas constantes dos autos. por unanimidade, conhecer do recurso especial e
dar-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros
Humberto Martins, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro
votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Bras�lia (DF), 17 de outubro de 2023(Data do Julgamento).

MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA


Presidente

MINISTRA NANCY ANDRIGHI


Relatora

Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 2 de 5
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 2.057.894 - SP (2023/0078097-2)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : LDM
REPR. POR : FDR
ADVOGADOS : NATÁLIA LUCIANA PAVAN IMPARATO - SP146216
MICHELLE REICHER - SP155203
RECORRIDO : JJM
ADVOGADO : FABÍOLA ABRAHÃO DOS SANTOS FORTES ELY - RS046389

RELATÓRIO

Relatora: Ministra NANCY ANDRIGHI

Cuida-se de recurso especial interposto por L D M, representado por


sua genitora F D R, com base no art. 105, III, alínea “a” e “c”, da Constituição
Federal, contra o acórdão do TJ/SP que, por unanimidade, negou provimento ao
agravo de instrumento por ele interposto.
Recurso especial interposto e m: 24/06/2022.
Atribuído ao gabinete e m: 28/03/2023.
Ação: de guarda, visitação e revisional de alimentos ajuizada pelo
recorrido, J J M, contra o recorrente em 09/02/2021 (fls. 32/65, e-STJ), seguida de
reconvenção ajuizada pelo recorrente em face do recorrido, em que pleiteia a
majoração dos alimentos.
Decisão interlocutória: indeferiu o benefício da gratuidade
judiciária pleiteado pelo recorrente e a concessão de tutela provisória de urgência
por ele formulada em reconvenção (fl. 25, e-STJ).
Acórdão do T J/ S P: por unanimidade, negou provimento ao agravo
de instrumento interposto pelo recorrente, nos termos da seguinte ementa:

Alteração de guarda, visitas e alimentos. Decisão guerreada que indeferiu o pedido


de majoração da obrigação alimentar, bem como os benefícios da assistência
judiciária. Insurgência. Pretensa majoração dos alimentos. Dilação probatória.
Ausência, no momento, de comprovação das reais necessidades do agravante.
Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 3 de 5
Superior Tribunal de Justiça
Indeferimento do benefício da assistência judiciária. A presunção legal,
face à declaração de pobreza, é relativa. Condições pessoais da parte
que desautorizam o reconhecimento da presunção. Ausência de
comprovação quanto à momentânea dificuldade financeira. Decisão
mantida. Recurso improvido (fls. 418/423, e-STJ).

Embargos de declaração: opostos pelo recorrente, foram


rejeitados, por unanimidade (fls. 434/437, e-STJ).
Recurso especial: alega-se, em síntese: (i) violação ao art. 1.022, II,
do CPC/15, ao fundamento de que o acórdão recorrido possuiria omissão
relevante; e (ii) violação aos arts. 98, caput, e 99, § 2º, do CPC/15, ao fundamento
de que se trata de gratuidade judiciária pleiteada por incapaz, criança de tenra
idade que pleiteia majoração de alimentos em ação em que pai postula a redução,
de modo que haveria presunção de hipossuficiência econômica e de necessidade
da concessão do benefício, apontando dissídio jurisprudencial com acórdãos do
TJ/RJ e do TJ/MG (fls. 442/459, e-STJ).
Juízo de admissibilidade no T J/ SP: o recurso especial foi admitido
na origem, mas indeferido o pedido de efeito suspensivo (fls. 471/476, e-STJ).
Ministério Público Federal: opinou pelo não conhecimento do
recurso especial (fls. 488/492, e-STJ).
É o relatório.

Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 4 de 5
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 2.057.894 - SP (2023/0078097-2)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : LDM
REPR. POR : FDR
ADVOGADOS : NATÁLIA LUCIANA PAVAN IMPARATO - SP146216
MICHELLE REICHER - SP155203
RECORRIDO : JJM
ADVOGADO : FABÍOLA ABRAHÃO DOS SANTOS FORTES ELY - RS046389
EMENTA

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. OMISSÃO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO NAS RAZÕES


DO ESPECIAL. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME. SÚMULA 284/STF. AÇÃO REVISIONAL
DE ALIMENTOS E RECONVENÇÃO COM PEDIDO DE MAJORAÇÃO DE ALIMENTOS.
DIREITO AO BENEFÍCIO DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA. NATUREZA INDIVIDUAL E
PERSONALÍSSIMA. EXTENSÃO A TERCEIROS. IMPOSSIBILIDADE. EXAME DO
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS AUTORIZADORES A PARTIR DA SITUAÇÃO
ECONÔMICA DE PESSOA DISTINTA DA PARTE, COMO A REPRESENTANTE LEGAL DA
CRIANÇA OU ADOLESCENTE. VÍNCULO FORTE ENTRE DIFERENTES SUJEITOS DE
DIREITOS E OBRIGAÇÕES. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA DA CRIANÇA E
ADOLESCENTE. AUTOMÁTICO EXAME DO DIREITO À GRATUIDADE À LUZ DA
SITUAÇÃO ECONÔMICA DOS PAIS. IMPOSSIBILIDADE. CRITÉRIOS. TENSÃO ENTRE A
NATUREZA PERSONALÍSSIMA DO DIREITO E A INCAPACIDADE ECONÔMICA DA
CRIANÇA OU ADOLESCENTE. PREVALÊNCIA DA REGRA DO ART. 99, § 3º, DO CPC/15.
ACENTUADA PRESUNÇÃO DE INSUFICIÊNCIA DA CRIANÇA OU ADOLESCENTE.
CONTROLE JURISDICIONAL POSTERIOR. POSSIBILIDADE. PRESERVAÇÃO DO ACESSO
À JUSTIÇA E CONTRADITÓRIO. RELEVÂNCIA DO DIREITO MATERIAL. ALIMENTOS.
IMPOSSIBILIDADE DE RESTRIÇÃO INJUSTIFICADA AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE
AÇÃO.
1- Recurso especial interposto em 24/06/2022 e atribuído à Relatora em
28/03/2023.
2- Os propósitos recursais consistem em definir: (i) se há omissões relevantes no
acórdão recorrido; (ii) se, em ação judicial que versa sobre alimentos ajuizada por
criança ou adolescente, é admissível que a concessão da gratuidade de justiça esteja
condicionada a demonstração de insuficiência de recursos de seu representante
legal.
3- Não se conhece do recurso especial ao fundamento de violação ao art. 1.022, II,
do CPC/15, quando as razões recursais somente se limitam a apontar
genericamente a existência de omissões e apenas se reportam aos embargos de
declaração opostos na origem, sem, contudo, especificá-las e demonstrá-las nas
razões do especial.
4- O direito ao benefício da gratuidade de justiça possui natureza individual e
personalíssima, não podendo ser automaticamente estendido a quem não
preencha os pressupostos legais para a sua concessão e, por idêntica razão, não se
pode exigir que os pressupostos legais que autorizam a concessão do benefício
sejam preenchidos por pessoa distinta da parte, como o seu representante legal.
5- Em se tratando de crianças e adolescentes representados pelos seus pais, haverá
sempre um forte vínculo entre a situação desses dois diferentes sujeitos de direitos
Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 5 de 5
Superior Tribunal de Justiça
e obrigações, sobretudo em razão da incapacidade civil e econômica da criança ou
adolescente, o que não significa dizer, todavia, que se deva automaticamente
examinar o direito à gratuidade a que poderiam fazer jus o menor à luz da situação
financeira de seus pais.
6- A interpretação que melhor equaliza a tensão entre a natureza personalíssima do
direito à gratuidade e a notória incapacidade econômica das crianças e adolescentes
consiste em aplicar, inicialmente, a regra do art. 99, § 3º, do CPC/15, deferindo-se o
benefício em razão da presunção da insuficiência de recursos, ressalvada a
possibilidade de o réu demonstrar, com base no art. 99, § 2º, do CPC/15, a
posteriori, a ausência dos pressupostos legais que justificam a gratuidade, o que
privilegia, a um só tempo, os princípios da inafastabilidade da jurisdição e do
contraditório.
7- É igualmente imprescindível que se considere a natureza do direito material que é
objeto da ação em que se pleiteia a gratuidade da justiça e, nesse contexto, não há
dúvida de que não pode existir restrição injustificada ao exercício do direito de ação
em que se busque a fixação, o arbitramento ou o adimplemento de obrigação de
natureza alimentar.
8- O fato de o representante legal das partes possuir atividade remunerada ou o
elevado valor da obrigação alimentar não podem, por si só, servir de impedimento
à concessão da gratuidade de justiça às crianças e adolescentes credoras de
alimentos, especialmente quando incerta e ainda pendente severa controvérsia
entre os pais a respeito de suas efetivas necessidades.
9- Recurso especial conhecido e provido, para deferir o benefício da gratuidade da
justiça ao recorrente, prejudicado o exame da questão sob a ótica do dissenso
jurisprudencial.

Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 6 de 5
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 2.057.894 - SP (2023/0078097-2)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : LDM
REPR. POR : FDR
ADVOGADOS : NATÁLIA LUCIANA PAVAN IMPARATO - SP146216
MICHELLE REICHER - SP155203
RECORRIDO : JJM
ADVOGADO : FABÍOLA ABRAHÃO DOS SANTOS FORTES ELY - RS046389

VOTO

Relatora: Ministra NANCY ANDRIGHI

Os propósitos recursais consistem em definir: (i) se há omissões


relevantes no acórdão recorrido; (ii) se, em ação judicial que versa sobre
alimentos ajuizada por criança ou adolescente, é admissível que a concessão da
gratuidade de justiça esteja condicionada a demonstração de insuficiência de
recursos de seu representante legal.

1. DA SUPOSTA EXISTÊNCIA DE OMISSÕES RELEVANTES.


ALEGADA VIOLAÇÃO AO ART. 1.022, II, DO CPC/15.

1. De início, sublinhe-se não ser admissível o recurso especial ao


fundamento de violação ao art. 1.022, II, do CPC/15, na medida em que as razões
recursais somente se limitaram a apontar genericamente a existência de omissões,
sem, contudo, especificá-las.
2. Com efeito, verifica-se que o recorrente apenas se reportou ao teor
dos embargos de declaração opostos na origem, que, segundo se alega, apontava a
existência de relevantes omissões, mas não se desincumbiu do ônus de
demonstrar, nas razões deste recurso especial, quais seriam essas omissões, de
modo a tornar compreensível o recurso nesse particular, razão pela qual se aplica à

Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 7 de 5
Superior Tribunal de Justiça
hipótese a Súmula 284/STF.

2. PRESSUPOSTOS DA CONCESSÃO DA GRATUIDADE DE


JUSTIÇA EM AÇÕES DE ALIMENTOS AJUIZADAS POR CRIANÇA OU
ADOLESCENTE. ALEGADA VIOLAÇÃO AO ART. 98, CAPUT, E 99, § 2º,
AMBOS DO CPC/15.

3. Para melhor contextualização da controvérsia, sublinhe-se que o


recorrido ajuizou ação revisional em que pretende a redução dos alimentos
devidos ao filho, recorrente representado por sua genitora, que, citado, reconveio
pleiteando a majoração dos alimentos, inclusive a título de tutela provisória de
urgência.
4. Por intermédio da decisão interlocutória de fl. 25 (e-STJ), foi
indeferido o pedido de gratuidade judiciária ao recorrente, “eis que o padrão de
vida usufruído é muito superior ao alegado estado de hipossuficiência”. Na mesma
oportunidade, foi também indeferido o pedido de tutela de urgência.
5. O agravo de instrumento interposto pelo recorrente contra a
referida decisão, impugnando ambos os capítulos, foi desprovido pelo TJ/SP
(acórdão de fls. 418/423, e-STJ). No que se refere à gratuidade judiciária, a única
devolvida no recurso especial, a fundamentação adotada foi a seguinte:

No presente caso, verifica-se que a obrigação alimentar foi fixada em favor da


menor no montante aproximado de R$10.000,00 (dez mil reais).
(...)
Ora, os artigos 98 e 99 do Novo Código de Processo Civil, ao trazerem a isenção das
custas judiciais para os reconhecidamente pobres na acepção jurídica do termo, não
prevê um direito absoluto da parte que almeja a gratuidade.
Constitui tal benefício uma exceção ao princípio legal de que o serviço judiciário é
retribuído por taxas corretamente calculadas pela contraprestação.
Pobre, na acepção jurídica do termo, é o litigante sem recursos financeiros

Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 8 de 5
Superior Tribunal de Justiça
suficientes para investir nas demandas judiciais sem que com isso haja prejuízo para
o sustento próprio ou de sua família. E alargar este conceito para abranger aqueles
que, a olhos vistos, dispõem de meios para custear o serviço prestado pelo Poder
Judiciário, é sobrecarregar o Estado com os gastos dirigidos a pessoas certas e
determinadas, fazendo-o dispor, para tanto, dos meios recolhidos por toda a
coletividade.
No caso em tela, equivocado o entendimento esposado no recurso, pois, por obvio,
que a documentação para comprovação da insuficiência econômico-financeira será
da representante legal do menor.
Deste modo, diante da ausência de comprovação quanto à momentânea
dificuldade financeira, claro está que não faz jus os benefícios da gratuidade, tendo
em vista que possui perfil diferente da maioria dos postulantes que são
verdadeiramente destinatários do benefício, e esse perfil diferenciado rompe a
presunção de miserabilidade, tanto que o juiz indeferiu a gratuidade. Com acerto.

6. Opostos embargos de declaração, foram eles rejeitados sob os


seguintes fundamentos:

Verifica-se que o embargante pleiteia que seja dada nova manifestação em relação a
concessão dos benefícios da gratuidade em favor do menor.
Contudo, em que pese os apontamentos do embargante em relação ao
entendimento exarado pelo C. Superior Tribunal de Justiça, esta relatoria entende
que a documentação para comprovação da insuficiência econômica será da
representante do menor e, no caso, não há comprovação da impossibilidade de
arcar com as custas e despesas processuais.

7. A tese deduzida no recurso especial, em síntese, é de que a


concessão da gratuidade de justiça deve ser examinada sob o prisma da criança
que é beneficiária dos alimentos, e não de sua representante legal, havendo
presunção de insuficiência de recursos justamente em virtude da natureza da
prestação e, inclusive, porque se pretende justamente, na ação de origem, a
majoração da referida obrigação.
8. Na forma do art. 10 da revogada Lei nº 1.060/50, já se consignava
que “são individuais e concedidos em cada caso ocorrente os benefícios de
assistência judiciária, que se não transmitem ao cessionário de direito e

Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 9 de 5
Superior Tribunal de Justiça
se extinguem pela morte do beneficiário, podendo, entretanto, ser concedidos
aos herdeiros que continuarem a demanda e que necessitarem de tais favores, na
forma estabelecida nesta Lei”.
9. O referido dispositivo legal revelava, pois, que o direito ao benefício
da gratuidade de justiça possuía natureza individual e personalíssima, não
podendo ser automaticamente estendido a quem não preencha os pressupostos
legais para a sua concessão.
10. Conquanto não tenha havido expressa revogação do art. 10 da Lei
nº 1.060/50, conforme se depreende do art. 1.072, III, do novo CPC, fato é que
norma de igual sentido se encontra prevista no art. 99, §6º, da nova lei
processual, que prevê que “o direito à gratuidade da justiça é pessoal, não se
estendendo a litisconsorte ou a sucessor do beneficiário, salvo
requerimento e deferimento expressos”.
11. A natureza personalíssima do direito à gratuidade de justiça,
aliás, é objeto de amplo consenso na doutrina, como bem destacam Nelson Nery
Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery:

12. Individualização do pedido de gratuidade. O pedido de gratuidade é


personalíssimo. Evidentemente, a situação econômica que justifica o
pagamento, ou não, das custas e despesas processuais é de cunho
igualmente individual. Permitir que tal benefício se estenda aos litisconsortes ou
sucessores é dar margem ao seu uso indevido. (NERY JR., Nelson; NERY, Rosa Maria
de Andrade. Código de Processo Civil Comentado. 16ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016. p. 523).

12. Embora a regra do art. 99, §6º, do novo CPC, limite-se a enunciar
que o benefício não é automaticamente extensível ao litisconsorte, tampouco é
automaticamente transmissível ao sucessor, é da natureza personalíssima do
direito à gratuidade que os pressupostos legais para a sua concessão

Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 10 de 5
Superior Tribunal de Justiça
deverão ser preenchidos, em regra, pela própria parte e não pelo seu
representante legal.
13. É evidente que, em se tratando de crianças ou adolescentes
representados pelos seus pais, haverá sempre um forte vínculo entre a situação
desses dois diferentes sujeitos de direitos e obrigações, sobretudo em razão da
incapacidade civil e econômica da própria criança e adolescente, o que não
significa dizer, todavia, que se deva automaticamente examinar o direito à
gratuidade a que poderiam fazer jus à luz da situação financeira de seus pais.
14. Para melhor resolver essa questão controvertida, é preciso
examinar, em primeiro lugar, a aparente contradição que há entre o art. 99, §§ 2º e
§ 3º, do CPC/15, que assim dispõem, in verbis:

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na
contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
(...)
§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que
evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade,
devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do
preenchimento dos referidos pressupostos.
§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por
pessoa natural.

15. A aparente contradição reside no fato de que, de um lado, há a


presunção de veracidade da alegação de insuficiência deduzida pela pessoa natural
(art. 99, § 3º) que, de outro lado, poderá ser afastada se houver elementos que
evidenciem que a referida declaração não é verossímil (art. 99, § 2º).
16. O problema não escapou do crivo de Fernando da Fonseca
Gajardoni, Luiz Dellore, André Vasconcelos Roque e Zulmar Duarte de
Oliveira Jr.:

Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 11 de 5
Superior Tribunal de Justiça
4. Presunção de insuficiência de recursos para a pessoa física (§3º). O
§3º traz a presunção de insuficiência de recursos, apenas para a pessoa física.
Consequentemente, o ônus da prova na impugnação à gratuidade é, em regra, do
impugnante (vide artigo 100, item 4). 4 . 1 . Há um leve grau de colidência entre esse
§ 3º (que aponta a presunção de necessidade) e § 2º do artigo 99 (que afirma ser
possível ao juiz indeferir de ofício, após oitiva da parte). Ou seja, apesar de existir a
presunção de necessidade, trata-se de presunção relativa, pois o juiz pode,
conforme sua análise da causa, indeferir o benefício – e nesse caso a presunção de
gratuidade será afastada pelo magistrado em relação ao que consta dos autos. 4.2.
Na prática, a leve divergência legislativa permite que a jurisprudência seja variável.
Como já mencionado anteriormente, há juízes mais rígidos para a concessão, que
prestigiam o § 2º (possibilidade de indeferimento); e há juízes mais
condescendentes, que dão maior relevância para o § 3º (forte presunção de
necessidade). (GAJARDONI, Fernando da Fonseca; DELLORE, Luiz; ROQUE, André
Vasconcelos; OLIVEIRA JR., Zulmar. Teoria geral do processo: comentários ao CPC
de 2015. São Paulo: Forense, 2022. p. 166).

17. Em se tratando de direito à gratuidade de justiça pleiteado


por criança ou adolescente, é apropriado que, inicialmente, incida a regra do
art. 99, § 3º, do CPC/15, deferindo-se o benefício ao menor em razão da presunção
de sua insuficiência de recursos decorrente de sua alegação, ressalvando-se,
todavia, a possibilidade de o réu demonstrar, com base no art. 99, § 2º, CPC/15, a
posteriori, a ausência dos pressupostos legais que justificam a gratuidade,
pleiteando, em razão disso, a revogação do benefício concedido.
18. Essa forma de encadeamento dos atos processuais privilegia, a um
só tempo, o princípio da inafastabilidade da jurisdição, pois não impede o
imediato ajuizamento da ação e a prática de atos processuais eventualmente
indispensáveis à tutela do direito vindicado, e também o princípio do
contraditório, pois permite ao réu que produza prova, ainda que indiciária, de
que não se trata de hipótese de concessão do benefício.
19. Em segundo lugar, deve também ser levada em consideração a
natureza do direito material que é objeto da ação e, nesse contexto, não há
dúvida de que não pode existir restrição injustificada ao exercício do

Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 12 de 5
Superior Tribunal de Justiça
direito de ação em que se busque a fixação, arbitramento, revisão ou
adimplemento de obrigação de natureza alimentar.
20. Com efeito, o fato de a representante legal do beneficiário
possuir atividade remunerada e o elevado valor da obrigação alimentar
que é objeto da execução não podem, por si só, servir de impedimento à
concessão da gratuidade de justiça às crianças ou adolescentes que são os
credores dos alimentos, em favor de quem devem ser revertidas as prestações
com finalidades bastante específicas e relevantes.
21. Tratando, especificamente, de ações que envolviam alimentos,
esse foi o entendimento, unânime, desta 3ª Turma:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA CONDENATÓRIA DE


ALIMENTOS. DIREITO AO BENEFÍCIO DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA. NATUREZA
INDIVIDUAL E PERSONALÍSSIMA. EXTENSÃO A TERCEIROS. IMPOSSIBILIDADE.
EXAME DO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS AUTORIZADORES A PARTIR DA
SITUAÇÃO ECONÔMICA DE PESSOA DISTINTA DA PARTE, COMO A REPRESENTANTE
LEGAL DE MENOR. VÍNCULO forte ENTRE DIFERENTES SUJEITOS DE DIREITOS E
OBRIGAÇÕES. DEPENDÊNCIA ECONÔMICA DO MENOR. AUTOMÁTICO EXAME DO
DIREITO À GRATUIDADE DE TITULARIDADE DO MENOR À LUZ DA SITUAÇÃO
ECONÔMICA DOS PAIS. IMPOSSIBILIDADE. CRITÉRIOS. TENSÃO ENTRE A NATUREZA
PERSONALÍSSIMA DO DIREITO E INCAPACIDADE ECONÔMICA DO MENOR.
PREVALÊNCIA DA REGRA DO ART. 99, §3º, DO NOVO CPC. ACENTUADA PRESUNÇÃO
DE INSUFICIÊNCIA DO MENOR. CONTROLE JURISDICIONAL POSTERIOR.
POSSIBILIDADE. PRESERVAÇÃO DO ACESSO À JUSTIÇA E CONTRADITÓRIO.
RELEVÂNCIA DO DIREITO MATERIAL. ALIMENTOS. IMPRESCINDIBILIDADE DA
SATISFAÇÃO DA DÍVIDA. RISCO GRAVE E IMINENTE AOS CREDORES MENORES.
IMPOSSIBILIDADE DE RESTRIÇÃO INJUSTIFICADA AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE
AÇÃO. REPRESENTANTE LEGAL QUE EXERCE ATIVIDADE PROFISSIONAL. VALOR DA
OBRIGAÇÃO ALIMENTAR. IRRELEVÂNCIA.
1- Recurso especial interposto em 18/05/2018 e atribuído à Relatora em
13/02/2019.
2- O propósito recursal é definir se, em ação judicial que versa sobre alimentos
ajuizada por menor, é admissível que a concessão da gratuidade de justiça esteja
condicionada a demonstração de insuficiência de recursos de seu representante
legal.
3- O direito ao benefício da gratuidade de justiça possui natureza individual e
personalíssima, não podendo ser automaticamente estendido a quem não
preencha os pressupostos legais para a sua concessão e, por idêntica razão, não se

Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 13 de 5
Superior Tribunal de Justiça
pode exigir que os pressupostos legais que autorizam a concessão do benefício
sejam preenchidos por pessoa distinta da parte, como o seu representante legal.
4- Em se tratando de menores representados pelos seus pais, haverá sempre um
forte vínculo entre a situação desses dois diferentes sujeitos de direitos e
obrigações, sobretudo em razão da incapacidade civil e econômica do próprio
menor, o que não significa dizer, todavia, que se deva automaticamente examinar o
direito à gratuidade a que poderia fazer jus o menor à luz da situação financeira de
seus pais.
5- A interpretação que melhor equaliza a tensão entre a natureza personalíssima do
direito à gratuidade e a notória incapacidade econômica do menor consiste em
aplicar, inicialmente, a regra do art. 99, §3º, do novo CPC, deferindo-se o benefício
ao menor em razão da presunção de sua insuficiência de recursos, ressalvada a
possibilidade de o réu demonstrar, com base no art. 99, §2º, do novo CPC, a
posteriori, a ausência dos pressupostos legais que justificam a gratuidade, o que
privilegia, a um só tempo, os princípios da inafastabilidade da jurisdição e do
contraditório.
6- É igualmente imprescindível que se considere a natureza do direito material que é
objeto da ação em que se pleiteia a gratuidade da justiça e, nesse contexto, não há
dúvida de que não pode existir restrição injustificada ao exercício do direito de ação
em que se busque o adimplemento de obrigação de natureza alimentar.
7- O fato de o representante legal das partes possuir atividade remunerada e o
elevado valor da obrigação alimentar que é objeto da execução não podem, por si
só, servir de empeço à concessão da gratuidade de justiça aos menores credores
dos alimentos.
8- Recurso especial conhecido e provido. (REsp 1.807.216/SP, 3ª Turma, DJe
06/02/2020).

22. Mais recentemente, esse mesmo tema voltou a ser examinado


nesta Corte, agora sob a perspectiva de uma ação de reparação de danos morais, e
o entendimento se manteve, ainda que por maioria de votos:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANOS MORAIS. GRATUIDADE


DE JUSTIÇA. AÇÃO PROPOSTA POR MENOR. EXAME DO DIREITO AO BENEFÍCIO DA
GRATUIDADE À LUZ DA SITUAÇÃO ECONÔMICA DOS GENITORES.
IMPOSSIBILIDADE. NATUREZA JURÍDICA PERSONALÍSSIMA. PRESSUPOSTOS QUE
DEVEM SER PREENCHIDOS PELA PARTE REQUERENTE.
1. Ação de compensação por danos morais ajuizada em 31/12/2021, da qual foi
extraído o presente recurso especial interposto em 03/10/2022 e concluso ao
gabinete em 09/03/2023.
2. O propósito recursal consiste em definir se é admissível condicionar a concessão
da gratuidade de justiça a menor à demonstração de insuficiência de recursos de
seu representante legal.
3. O direito ao benefício da gratuidade de justiça possui natureza individual e

Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 14 de 5
Superior Tribunal de Justiça
personalíssima, não podendo ser automaticamente estendido a quem não
preencha os pressupostos legais para a sua concessão e, por idêntica razão, não se
pode exigir que os pressupostos legais que autorizam a concessão do benefício
sejam preenchidos por pessoa distinta da parte, como o seu representante legal.
4. Em se tratando de menores representados pelos seus pais, haverá sempre um
forte vínculo entre a situação desses dois diferentes sujeitos de direitos e
obrigações, sobretudo em razão da incapacidade civil e econômica do próprio
menor, o que não significa dizer, todavia, que se deva automaticamente examinar o
direito à gratuidade a que poderia fazer jus o menor à luz da situação financeira de
seus pais.
5. Em se tratando de direito à gratuidade de justiça pleiteado por menor, é
apropriado que, inicialmente, incida a regra do art. 99, § 3º, do CPC/2015,
deferindo-se o benefício ao menor em razão da presunção de insuficiência de
recursos decorrente de sua alegação. Fica ressalvada, entretanto, a possibilidade de
o réu demonstrar, com base no art. 99, § 2º, do CPC/2015, a ausência dos
pressupostos legais que justificam a concessão gratuidade, pleiteando, em razão
disso, a revogação do benefício.
6. Na hipótese dos autos, a Corte de origem indeferiu o benefício pleiteado pelo
recorrente (menor), consoante o fundamento de que não foi comprovada a
hipossuficiência financeira de seus genitores, o que não se revela cabível.
7. Recurso especial conhecido e provido (REsp 2.055.363/MG, 3ª Turma, DJe
23/06/2023).

3. RESOLUÇÃO DA HIPÓTESE EM EXAME.

23. Na hipótese em exame, constata-se que o acórdão recorrido


manteve a decisão interlocutória que havia indeferido o benefício ao simples
fundamento de que o padrão de vida era incompatível com a gratuidade judiciária
e de que o valor de base deveria ser examinado sob a perspectiva dos rendimentos
auferidos pela representante legal da criança ou do adolescente, afastando-se,
pois, da orientação desta Corte.
24. Ademais, anote-se que há ampla controvérsia entre as partes a
respeito do valor dos alimentos, atualmente fixados em R$ 10.000,00, e das reais
necessidades da criança que deles se beneficiará, pois, enquanto o recorrido
pleiteia a redução para R$ 3.000,00, o recorrente busca a majoração dos
alimentos para quase R$ 30.000,00.

Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 15 de 5
Superior Tribunal de Justiça
25. Nesse contexto, não há dúvida de que se tratam de pais com
poder aquisitivo acima da média nacional e também é indiscutível que, com a
ruptura da vida conjugal, poderá eventualmente haver a necessidade de
adaptações a respeito das necessidades da criança diante de um novo cenário
econômico que se apresentará.
26. Essas adaptações são naturais e gradativas e poderão repercutir
no valor que virá a ser arbitrado a título de alimentos, com a possibilidade, por
óbvio, de vir a ser indeferida a gratuidade judiciária se se comprovar que é
possível, diante dessa nova realidade que virá a ser concretizada, a alocação de
recursos para o custeio das despesas processuais sem prejuízo do custeio das
necessidades da criança e do adolescente.
27. Nesse momento, contudo, em que tudo ainda é bastante incerto e
no qual ainda se discutem quais seriam as reais necessidades do recorrente, não
tendo havido sequer impugnação do recorrido sobre a gratuidade judiciária, é
prematuro o indeferimento apenas com base na condição socioeconômica da
genitora ou com base no valor nominal dos alimentos em vigor.

4. DISPOSITIVO

Forte nessas razões, CONHEÇO PARCIALMENTE e, nessa extensão,


DOU PROVIMENTO ao recurso especial, a fim de deferir o benefício da
gratuidade da justiça ao recorrente, prejudicado o exame da questão sob a ótica do
dissenso jurisprudencial.

Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 16 de 5
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2023/0078097-2 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 2.057.894 / SP

Números Origem: 000142202110123367820218260100 10123367820218260100


142202110123367820218260100 22433213820218260000

PAUTA: 17/10/2023 JULGADO: 17/10/2023


SEGREDO DE JUSTIÇA
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. OSNIR BELICE
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : LDM
REPR. POR : FDR
ADVOGADOS : NATÁLIA LUCIANA PAVAN IMPARATO - SP146216
MICHELLE REICHER - SP155203
RECORRIDO : JJM
ADVOGADO : FABÍOLA ABRAHÃO DOS SANTOS FORTES ELY - RS046389

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Família - Relações de Parentesco - Guarda

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e deu-lhe provimento,
nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Humberto Martins, Ricardo Villas Bôas Cueva (Presidente), Marco
Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Documento: 2369786 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 23/10/2023 Página 17 de 5

Você também pode gostar