Linguagem Contemporanea Unidade I
Linguagem Contemporanea Unidade I
Linguagem Contemporanea Unidade I
Contemporânea:
Performance e Vídeo
Material Teórico
Happening e Performance – A Arte como Ação
Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Happening e Performance –
A Arte como Ação
• Introdução
• O Corpo como Sujeito e Objeto
• Happening, ou Acontecimento
• Grupo Rex, o Fluxus Brasileiro?
• Performance
• Klein e Beuys
• O Corpo como Suporte
• Performance no Brasil
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer e explanar a Linguagem Contemporânea no âmbito da
performance e do vídeo e suas proposições, especificamente o
Happening e Performance – A Arte como Ação.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Happening e Performance – A Arte como Ação
Introdução
“A arte é o exercício experimental da liberdade.” (Mario Pedrosa, crítico
de Arte, início dos anos 1960)
Figuras 1 e 2 – Registro de The artist is present (2010), de Marina Abramovic, performance realizada no
MoMA (Nova Iorque). Durante três meses e por várias horas do dia, a artista sentava-se silenciosa em uma
cadeira, de frente para outra cadeira que ficava vazia. Um a um, os visitantes do museu sentavam-se
à sua frente e olhavam para ela por variados períodos de tempo. O máximo que conseguissem
Fonte: Wikimedia Commons
Durante o século XX, inúmeras linguagens e suportes foram incluídos nas prá-
ticas dos artistas. Invenções como a fotografia, o Cinema, técnicas de reprodução
de imagens, vídeo, computador e atitudes que dialogam com outras artes como o
Teatro e a Literatura, objetos e artefatos cotidianos ou instituições como o Siste-
ma de Correios são alguns exemplos dos terrenos que os artistas abordaram para
realizar suas obras. A linguagem é o veículo pelo qual a arte se concretiza, como
a pintura, a escultura, o desenho e a gravura, para citarmos os mais tradicionais
e conhecidos. A elas, somam-se os suportes, que podem ser tanto uma tela, um
papel, uma parede ou um pedaço de madeira, o corpo humano etc.
Especialmente, a partir de experiências híbridas da Pop Art e do desinteresse
do produto artístico por parte da Arte Conceitual, radicalizado por movimentos e
grupos de artistas como o Fluxus – criado no início dos anos 1960, na Alemanha,
e que ganhou corpo nos Estados Unidos – a fronteira entre as diversas linguagens
tornou-se tênue. O desenho, por exemplo, ganhou presença no espaço urbano; a
escultura ganhou qualidades pictóricas; a pintura, caráter fotográfico; a fotografia
documental ganhou espaço como obra única. Cada vez torna-se mais difícil e
menos importante enquadrar a produção artística dentro dessas categorias e muitos
artistas passaram a desenvolver trabalhos utilizando mais de uma linguagem.
Além da pintura, da escultura, do desenho, da gravura e da fotografia, que
continuam sendo utilizadas de forma pura ou compartilhada, existe uma infinidade de
novos meios, técnicas e suportes. Servem para expressar ideias e dar corpo a obras
com elementos nunca imaginados como a luz, um objeto industrial, um banquete,
um outdoor, uma ligação telefônica, uma mensagem pelo celular, elementos da
natureza, um anúncio de jornal ou na Internet... De acordo com o curador de Arte,
pesquisador e professor Arlindo Machado, em Máquina e imaginário – O desafio
das poéticas tecnológicas (EDUSP, 1993): “[...] a história da Arte não é apenas a
história das ideias estéticas (...) mas também e, sobretudo, a história dos meios que
nos permitem dar expressão a essas ideias”.
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O Corpo como Sujeito e Objeto
O corpo em ação é um denominador comum a diversas expressões artísticas
na segunda metade do século XX. O papel duplo do artista, tanto como sujeito
quanto como objeto acaba com a fronteira entre ele e o espectador e o corpo
passa a atuar em dimensões antes reprimidas, como a sexualidade, os fluídos e
os odores, por exemplo. Depois das primeiras experimentações desenvolvidas
pelos artistas do Futurismo italiano e dos dadaístas, pertencentes às vanguardas
europeias, no início do século XX, novas manifestações nos anos 1950/1960
desencadearam o uso frequente e sis-
temático de novas linguagens artísticas,
tendo como base o corpo como o ha-
ppening (acontecimento; combinação
de elementos do Teatro, das Artes Vi-
suais e da Música, tendo o espectador
como participante da cena proposta
pelo artista), a performance (execução;
mesmos elementos do happening, mas
sem a participação do espectador) e a
body art (Arte corporal; possibilidades
oferecidas pelo corpo e por sua investi-
gação, mesmo por meio da dor).
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UNIDADE Happening e Performance – A Arte como Ação
https://goo.gl/MUWS6S
https://goo.gl/dgtq8k
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Happening, ou Acontecimento
Happening combina elementos do Teatro, das Artes Visuais e da Música, assim
como a performance. A diferença é que no happening, o espectador participa da
cena proposta pelo artista e exige, inevitavelmente, a presença do acaso – já que
as ações dos participantes ou as relações não são totalmente controladas, enquanto
na performance, de modo geral, não há participação do público.
O happening tem suas raízes nas noitadas futuristas realizadas a partir de 1910,
nas quais poesia e manifestos eram apresentados num ambiente normalmente agi-
tado e muitas vezes desprovido de significado ou coerência. Essas noitadas estão
na origem dos movimentos Dadá, Surrealismo e do Teatro do Absurdo. Entretanto,
da forma como o compreendemos, hoje, o happening surgiu em Nova Iorque,
no final da década de 1950, em um momento no qual inúmeros artistas tentavam
romper as fronteiras entre a Arte e a vida.
Conforme Kaprow:
“Happenings não devem ser ensaiados e devem ser realizados por não
profissionais, apenas uma vez. (...) O desdobramento é que não deve haver
(e de fato quase sempre não pode haver, pelas circunstâncias próprias)
uma plateia ou plateias para assistir a um happening”.
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UNIDADE Happening e Performance – A Arte como Ação
Figura 5 – Registro de Women licking jam off a car (1964), de Allan Kaprow, Happening
Fonte: tate.org.uk
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No espetáculo, M. C. Richards (1916-1999) e o poeta Charles Olson (1910-
1970) leem poemas nas escadas enquanto David Tudor (1926-1996) improvisa ao
piano e Merce Cunningham (1919-2009) dança em meio à audiência. Pendurada,
uma White Painting (Pintura branca, de 1951, quadros compostos de um a sete
painéis, totalmente brancos) de Robert Rauschenberg (1925-2008), uma velha
vitrola toca discos de Edith Piaf e café é servido por quatro rapazes de branco.
Personagem Principal
O teórico, ator e performer brasileiro Renato Cohen (1956-2003), em Per-
formance como linguagem (Perspectiva, 2007), associa o happening à ideia de
free theatre (teatro livre), uma forma teatral que sugere liberdade aos aspectos
formais e ideológicos, especialmente porque o happening aparece no contexto da
década de 1960, época da contracultura, da sociedade alternativa. O autor descre-
ve happening como uma forma de expressão apoiada no princípio da anarquia.
Para ele, essa expressão se constrói a partir da associação caótica de elementos
que surgem casualmente durante seu acontecimento. Assinala, ainda, que o que
conceituamos como Arte de acontecimento, Arte do espontâneo é, na verdade,
live art – termo que designa a confluência de diversas manifestações artísticas,
como Artes Plásticas, Dança, Teatro, Música, Cinema, Vídeo e Literatura, por
exemplo, em discursos que envolvem tempo, espaço e a presença humana.
Assim, como descreve Brian O´Doherty (No Interior do cubo branco: a ide-
ologia do espaço na arte, 2002), o happening é uma forma de colagem, que
envolve pessoas e materiais cujos corpos são retirados diretamente da vida e rein-
seridos em uma situação artística, em um processo semelhante ao do readymade
de Marcel Duchamp (1887-1968).
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UNIDADE Happening e Performance – A Arte como Ação
Em uma delas, uma mulher permaneceu imóvel por dez segundos, com o braço
esquerdo erguido, o cotovelo apontado para o chão. Slides eram projetados em uma
sala. Em seguida, dois performers leram em cartazes que traziam às mãos: “Diz-se
que tempo é essência (...) nós conhecemos o tempo (...) espiritualmente (...)”.
Em outra sala: “Anteontem, eu pretendia falar a vocês sobre um tema que lhes
é muito caro – a arte (...), mas não consegui começar”.
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Happenings, Happenings e mais Happenings Em NY
“A evidente falta de sentido de 18 Happenings... refletiu-se em muitas outras
performances da época. A maioria dos artistas desenvolveu sua própria ‘iconografia’
para os objetos e ações de suas obras”, salienta RoseLee Goldberg em A arte da
performance – Do Futurismo ao presente (Martins Fontes, 2006). A autora cita,
por exemplo, os túneis concêntricos de Robert Whitman em Lua americana, de
1960, que representavam “cápsulas do tempo” através das quais os atores eram
conduzidos a um espaço central que era o “lugar nenhum”, ficando ainda mais
desorientados por camadas de panos grosseiros e cortinas de plástico.
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UNIDADE Happening e Performance – A Arte como Ação
Nova Iorque tornava-se, cada vez mais, o centro por excelência da apresentação
de atividades diversas como happenings e performances nas Galerias do circuito
alternativo, bares e cafés, e nos lofts da região central, como na residência de Yoko
Ono (leia-se Fluxus), na Chambers Street.
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Registro de Neun-Nein-décollagen (1963), de Wolf Vostell, happening em nove locais de
Explor
O público seguia uma rota labiríntica por meio de uma área arborizada, na qual
de 30 a 40 artistas estavam envolvidos em situações extremas, alguns vestindo
máscaras de gás ou jogando bombas de fumaça.
um dia: https://goo.gl/Yuj298
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UNIDADE Happening e Performance – A Arte como Ação
A ideia por trás de Celebration era a de abrir a experiência para pessoas que
não se conheciam e fazer amigos. A dificuldade potencial de participar de um
jantar no qual as pessoas não conhecem ninguém era rapidamente aliviada. Todo
mundo, ao que parece, percebeu o desejo de Gupta de unir as pessoas por meio
da alimentação comunitária sob os auspícios da performance.
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Importante! Importante!
E o Happening no Brasil?
Um dos primeiros happenings no Brasil foi realizado por Wesley Duke Lee
(1931-2010), em 1963, no João Sebastião Bar, na Vila Buarque, em São Paulo,
frequentado por intelectuais paulistanos.
Registro de O Grande Espetáculo das Artes (1963), happening de Wesley Duke Lee:
Explor
https://goo.gl/dH1HN6
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UNIDADE Happening e Performance – A Arte como Ação
de onde só era possível sair arrebentando o plástico, depois de ele ser pintado com
spray. Ao mesmo tempo, as pessoas ouviam gritos, quilos de feijão caíam do teto
e havia placas nas paredes com frases como “O que o povo tem e o que o povo
quer? Fome!”.
Lygia Clark (1920-1988), artista mineira com vivências no Rio de Janeiro e no
Exterior, em suas pesquisas entre a expressão artística, as experimentações corpo-
rais e a Psicanálise, também objetivou aproximar Arte e vida em suas produções.
Partiu da criação de objetos que apresentavam formas e cores caracteristicamente
neoconcretas e chegou ao conceito de corpo como casa.
Entre 1970 e 1975, nas atividades coletivas propostas pela artista na Faculté
d’Arts Plastiques St. Charles, na Universidade Paris-Sorbonne (França), a prática
artística é entendida como criação conjunta, em transição para a terapia.
Em Túnel (1973), Lygia propõe que as pessoas percorram um tubo de pano de
50 metros de comprimento, no qual as sensações de claustrofobia e sufocamento
contrapõem-se à do nascimento, por meio de aberturas no pano, feitas pela artista.
Já Canibalismo e Baba antropofágica (ambos de 1973) aludem a rituais arcai-
cos de canibalismo, compreendido como processo de absorção e de ressignificação
do outro. No primeiro acontecimento, o corpo de uma pessoa deitada é coberto
de frutas, devoradas por outras de olhos vendados; e, no segundo, os participantes
levam à boca carretéis de linha, de várias cores e lentamente os desenrolam com
as mãos para recobrir o corpo de uma pessoa que está deitada no chão. No final,
todos se emaranham com os fios.
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Grupo Rex, o Fluxus Brasileiro?
Alguns críticos apontam parentesco entre o brasileiro Grupo Rex, criado em
1966, com intensa atuação na cidade de São Paulo e marcado pela irreverência,
humor e crítica ao Sistema de Arte, com o grupo Fluxus, criado na Alemanha, no
início dos anos 1960.
No happening Taxi painting, de 1966, o Rex cria uma catraca que permitia
o acesso dos visitantes a um enorme painel coletivo, realizado pela participação
de todos aqueles que se dispusessem a pagar a taxa calculada por um taxímetro
para pintar.
O encerramento do espaço Rex Gallery & Sons, cerca de apenas um ano após
ser aberto, também foi com um happening: Exposição não exposição, de Nelson
Leirner. Os artistas criaram diversos obstáculos, acorrentaram obras às paredes da
galeria, fixaram-nas em blocos de cimento presos às paredes e ao piso da galeria,
inundaram salas com água e ofereceram as obras de graça para quem conseguisse
levá-las. O público, armado com ferramentas pesadas e até com equipamento de
acetileno, depredou a Galeria e a exposição terminou em poucos minutos. Wesley
Duke Lee comentou: “Foi um dos happenings mais perfeitos que fizemos. A ex-
posição durou exatamente oito minutos. A Galeria foi toda depredada e os quadros
arrancados brutalmente e vendidos na porta pelas pessoas que os tiraram de lá”.
https://goo.gl/5PGx2i
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UNIDADE Happening e Performance – A Arte como Ação
Performance
Figura 14 – Registro de Árvore genealógica (2001), do artista chinês Zhang Huan, performance
Fonte: metmuseum.org
O artista ofereceu seu rosto como uma superfície na qual palavras, nomes e
histórias ligadas à sua herança cultural são, literalmente, escritas. A obra está
documentada em nove fotografias que registram o gradual obscurecimento do
rosto de Zhang com palavras entintadas até que esteja completamente enegrecido.
A maioria das palavras derivam de antiga arte chinesa de fisionomia, que procura
mapear traços de personalidade e adivinhar o futuro com base nos traços faciais.
Mas, ao invés de elucidar o caráter e o destino de Zhang, essas marcas tradicionais
acabam por obscurecer sua identidade sob uma densa camada de referências
condicionadas culturalmente.
“A performance é uma pintura sem tela, uma escultura sem matéria, um livro
sem escrita, um teatro sem enredo... ou a união de tudo isso.” A definição da crítica
de arte e jornalista Sheila Leirner (A perda de uma excelente oportunidade de
revelação, O Estado de S. Paulo, 07.08.1984) mostra de forma sucinta o conceito
que envolve essa Arte fundamental para várias escolas e movimentos vanguardistas
do século XX como Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo, Novo Realismo e Bauhaus,
entre outros.
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Para Renato Cohen, de forma genérica, pode-se dizer que a performance
está para os anos 1970 assim como o happening esteve para os anos 1960.
“A performance é, portanto, a expressão dos anos 1970/1980, estabelecendo,
apesar da confusão no Brasil, clara distinção com o happening, havendo em relação
a este um aumento de esteticidade obtida por meio do aumento de controle sobre
a produção e a criação — em detrimento de espontaneidade e um aumento de
individualismo — com maior valoração do ego do artista criador — em detrimento
do coletivo e do social, privilegiados no happening.”
A possibilidade de intervenção do público em uma performance é muito menor
do que em um happening. Nos happenings de John Cage, Allan Kaprow e outros,
por exemplo, o prosseguimento e o término dos acontecimentos dependiam
fundamentalmente do público. “Na performance, trabalha-se com o jogo dialético
performer x personagem, tempo real x tempo ficcional, mas é menos comum ou
imprevista esta abertura para o público”, afirma Cohen.
O termo performance, associado ao universo das artes contemporâneas, foi usa-
do inicialmente nos Estados Unidos, no final dos anos 1960, com grande influência
da Arte Conceitual. Ao termo, foi acrescentada a palavra arte, chegando-se a per-
formance art. A nova expressão aparece na cena artística como uma forma de ne-
gação do mercado de Arte, contestação do conceito de Arte intocável, valorização
da criatividade e da liberdade artística em detrimento da técnica e do virtuosismo.
Absorvidos pelo sistema, os registros dessas experimentações (vídeos, fotografias,
projetos etc.) compõem acervos de museus e galerias ao redor do mundo.
O performer (aquele que realiza a performance) é, geralmente, um artista plás-
tico e a sua ação pode se realizar por meio de gestos intimistas ou em uma grande
apresentação. Sua duração pode variar de alguns minutos a várias horas, acontecer
apenas uma vez ou se repetir em inúmeras ocasiões, sendo realizada com ou sem
roteiro, improvisada na hora ou ensaiada. A performance é a execução de um tra-
balho de Arte diante de uma audiência viva, embora possa ocorrer, também, como
integração a outros meios, como vídeo, cinema, trabalhos de rua...
No início dos anos 1960, Nova Iorque tornava-se, cada vez mais, um centro de
excelência de apresentações de performances. O Yam Festival, iniciado em maio
de 1962, durou um ano e, no Carnegie Recital Hall, em agosto de 1963, a artista
Charlotte Moorman (1933-1991) organizou o primeiro Festival de Vanguarda, com
uma programação inicial dedicada à música. O evento logo se expandiu de modo
a incluir várias performances de artistas como, por exemplo, uma reconstrução
de Originale, de Karlheinz Stockhausen (1928-2007), de 1961, obra que reúne
teatro e música, orquestrada por Allan Kaprow, com a participação, entre outros,
de Nam June Paik.
Vários artistas convergiram para o Greenwich Village, em Manhattan, residência
de Marcel Duchamp. Esses criadores comungavam de uma mesma identificação
artística e de propósitos de vida em comum. Gritavam contra as guerras que os
Estados Unidos insistiam em propagar, como a do Vietnã. Lutavam, também,
contra o sistema capitalista e outras formas de dominação.
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UNIDADE Happening e Performance – A Arte como Ação
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Podemos associar o nascimento da performance ao próprio ato do homem de se fazer
representar (a performance é um ato cênico). Em uma corrente ancestral, identificamos os
primeiros ritos tribais, as celebrações gregas e romanas, os menestréis... No início do século
XX, a arte da performance se desenvolve a partir do Futurismo italiano; da abertura, em 1916,
do Cabaret Voltaire, em Zurique (Suíça); da criação do Dadaísmo, do Surrealismo e da Bauhaus
(Alemanha) – primeira Instituição de Arte a organizar um workshop sobre performance. O
encerramento das atividades da Bauhaus, em 1933, com o advento do Nazismo, deslocou
o eixo da performance para a América com a fundação, em 1936, nos Estados Unidos, da
Black Mountain College (grande parte dos professores da escola alemã se transferiram para
lá). Com o surgimento da contracultura e do movimento hippie, nos anos 1960, cresce a
experimentação cênica. Surgem a performance art e o grupo Fluxus – fundamental para
a performance e para o happening. Fora dos Estados Unidos, artistas europeus e japoneses
vinham desenvolvendo, ao mesmo tempo, um repertório de performances amplo e variado
como, por exemplo, o grupo Gutai, de Osaka (Japão).
Figura 15 - Atsuko Tanaka, do grupo japonês Gutai, na performance Vestido elétrico (1956)
Fonte: rhizome.org
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No início da década de 1960, artistas foram às ruas apresentar eventos agressivos,
no estilo do grupo Fluxus, em Amsterdã, Colônia, Düsseldorf e Paris, com destaque
para o francês Yves Klein, o italiano Piero Manzoni (1933-1963) e o alemão Joseph
Beuys (1921-1986).
Klein e Beuys
Jorge Glusberg, no primeiro capítulo de seu livro A arte da performance
(1987), descreveu a ação do artista francês Yves Klein em queda livre, Salto no vazio
(1960), como um dos movimentos iniciais do que viria a ser a Arte da performance
no mundo. A fotomontagem de Klein foi publicada no dia 27 de novembro de
1960, no jornal de quatro páginas do artista, chamado Le Journal d’un seul jour,
Dimanche, que lembrava muito o jornal parisiense Le Journal du Dimanche.
Dizia ele:
“Antes de mais nada, toda revolução ocorre no interior do ser humano.
Quando o homem é realmente livre e criativo, capaz de produzir algo de
novo e original, ele pode revolucionar o tempo”.
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UNIDADE Happening e Performance – A Arte como Ação
Assim como o artista pregava suas ideias, ele as aplicava. Objetos e materiais –
feltro, manteiga, lebres mortas, trenós, pás – tornavam-se protagonistas metafóricos
de suas performances.
Como explicar pinturas para uma lebre morta (1965), de Joseph Beuys, performance.
Explor
https://goo.gl/HRq3zL
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Figura 17 – Eu gosto da América e a América gosta de mim (1974), performance de Joseph Beuys
Fonte: Wikimedia Commons
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UNIDADE Happening e Performance – A Arte como Ação
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Escultura Viva
Um exemplo de performance relacionada às ações cotidianas é a produção con-
tínua realizada pela dupla de artistas Gilbert & George – Gilbert Proesch (1943-) é
italiano e George Passmore (1942-) é inglês. Desde que se conheceram, em 1967,
quando estudavam escultura na St. Martins School of Art, em Londres, os dois
se tornaram um só artista. Eles estão juntos há mais
de três décadas, produzindo esculturas, desenhos,
pinturas, arte postal e digital, sendo a live art a prin-
cipal característica da produção da dupla. As cenas
do cotidiano, o universo gay e o “fetichismo” são
registrados e transformados em obras. Atualmente,
eles utilizam a fotografia e a serigrafia como ferra-
mentas na elaboração de algumas obras em grandes
formatos para exibições e comercialização.
https://goo.gl/1BzaTX
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Rhythm 4 (Ritmo 4), 1974
Na galeria Diagramma, em Milão, Marina Abramovic agachou-se nua de frente
para um ventilador industrial de alta potência e comprimiu seu rosto contra a
aparelho a fim de preencher seus pulmões até o limite de seu corpo.
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UNIDADE Happening e Performance – A Arte como Ação
Balkan baroque (1997) é outro exemplo de ação visceral realizada pela artista.
Nessa performance, premiada com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza, Marina
passou alguns dias limpando ossos bovinos em uma referência aos flagelos da
guerra em sua terra natal e às reminiscências infantis.
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horas, em cada um dos dias. Seis dessas performances eram uma reencenação de
performances essenciais na história da Arte. No sétimo dia, ela realiza uma nova
performance chamada Entering the other side.
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UNIDADE Happening e Performance – A Arte como Ação
A performance The artist Is presente (2010) acabou gerando um Tumblr chamado Marina
Explor
Abramovic Made Me Cry, um blog que registra as fotos de algumas dessas pessoas que se
emocionaram ao olhar para a artista por tempos variados: https://goo.gl/kdyR
Marina e o Brasil
Em 2015, o SESC Pompeia, em São Paulo, abrigou uma grande mostra de
Marina Abramovic: Terra comunal – Marina Abramović + M AI, com uma pro-
gramação que incluiu palestras gratuitas e performances da artista com a partici-
pação do próprio público. Na exposição Objetos Transitórios para uso humano,
foram apresentadas 13 esculturas – sendo 10 delas interativas e com instruções de
uso escritas pela própria Marina – confeccionadas com cristais e outros minerais
do Brasil, coletzados desde 1989, quando ela fez sua primeira visita ao país. Além
disso, instalações sobre as performances 512 Horas, A artista está presente e
A casa com vista para o mar foram apresentadas de formas inéditas, ou seja, o
mesmo trabalho, mas com uma nova linguagem.
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Performance no Brasil
No Brasil, o artista paulista Flávio de Carvalho (1899-1973) foi um pioneiro nas
performances como Arte a partir de meados dos anos de 1950, mas, muito antes,
ele já realizava ações nas ruas. O Grupo Rex, criado em 1966, em São Paulo, por
Wesley Duke Lee, Nelson Leirner e Carlos Fajardo, entre outros, também realiza
uma série de ações performáticas.
A produção de Hélio Oiticica (1937-1980), no mesmo período, com seus
Parangolés, por exemplo, guardam relação com a performance, na execução e
no “comportamento-corpo”, como define o artista.
Nos anos 1980, chamam a atenção as Eletroperformances, espetáculos
multimídia concebidos pelo artista Guto Lacaz (1948-).
Flávio de Carvalho
As ações artísticas de Flávio de Carvalho, frequentemente envolvidas em pro-
vocações, polêmicas e escândalos, são consideradas representativas dos primeiros
movimentos da arte da performance no Brasil. Engenheiro, arquiteto, pintor ex-
pressionista – embora com aspectos surrealistas – desenhista, sociólogo, escritor
e artista experimental do corpo, Carvalho realizou, em 1931, Experiência nº 2.
O artista caminhou na direção contrária de uma procissão católica, utilizando um
acessório diferente durante todo o trajeto: um boné verde e flertando com várias
mulheres que faziam parte da fervorosa multidão da procissão de Corpus Christi
que se realizava no centro de São Paulo. Ele quase foi linchado e teve que ser
protegido por policiais por usar o acessório. Sua intenção era testar os limites de
tolerância e a agressividade de uma multidão religiosa. Como um registro da ação,
foi publicado posteriormente um livro de título homônimo. Uma breve descrição
do episódio é apresentada por Antonio Carlos Robert Moraes (Brasiliense, 1986):
A grande procissão de Corpus Christi se arrasta lentamente pela Rua
Direita em direção à Praça do Patriarca. Divide-se em alas – das velhas,
dos pretos, das filhas-de-Maria, dos jovens burgueses – que avançam
cantando. Um vulto se insurge contra ela, andando no sentido contrário.
(...) Avança ameaçadoramente, sem tirar o chapéu. O clima começa a
se tornar cada vez mais hostil. A ala dos pretos olha submissa, as velhas
comentam indignadas. Alguém grita: “Tira o chapéu!”. [...] Lincha,
lincha! É o grito que ecoa unânime entre a massa. Flávio sai em fuga,
“atropelando freiras”.
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Oiticica, Claudio Tozzi, José Roberto Aguilar, Antonio Manuel, Ana Maria Maiolino
e Júlio Plaza, entre outros.
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Nos anos 2000, torna-se significativa a presença de Márcia X (Márcia Pinheiro,
1959-2005) no panorama da performance no Brasil, explorando as relações entre
Arte, erotismo e Religião, como em Pancake (2001). Em pé, dentro de uma bacia
de alumínio, a artista abriu uma lata de leite condensado, utilizando uma marreta
pequena e um ponteiro. Derramou o leite condensado sobre a sua cabeça e corpo.
Repetiu a ação com outras 11 latas. Em seguida, abriu um pacote de confeitos
coloridos colocando o conteúdo em uma peneira. Peneirou os confeitos sobre a
cabeça e corpo. Repetiu a ação com todos os 10 sacos de confeitos.
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Esmagamento sensível (2014), de Marco Paulo Rolla, performance: https://goo.gl/1TZ7W5
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Revista Eletrônica Performatus
http://performatus.net/
Instituto Cultural Inhotim
Um dos mais relevantes acervos de Arte Contemporânea do mundo e uma coleção
botânica que reúne espécies raras e de todos os continentes. Os acervos são mobilizados
para o desenvolvimento de atividades educativas e sociais para públicos de faixas
etárias distintas. Rua B, 20, Brumadinho/MG, fone: 31 3571-9700. Terça a sexta-
-feira: 9h30 às 16h30; sábado, domingo e feriado: 9h30 às 17h30.
www.inhotim.org.br
Livros
Performance
FESTIVAL Internacional de Arte Eletrônica Vídeobrasil. Catálogo. Performance. São
Paulo: Associação Cultural Vídeobrasil, 2005.
Filmes
Espaço Além – Marina Abramović e o Brasil
Documentário. Direção: Marco Del Fiol. Produção: Casa Redonda, 86 min, cor,
2016. A artista Marina Abramovic viaja por lugares místicos do Brasil, pesquisando
comunidades espirituais, pessoas e lugares de poder. O filme faz um registro etnográfico
enquanto observa os processos de apropriação artística e humana de Marina. Ela
entra em contato com os rituais do Vale do Amanhecer, o xamanismo na Chapada
Diamantina, o candomblé na Bahia, as curas do médium João de Deus e os cristais de
Minas Gerais. Confira o trailer do documentário em:
https://youtu.be/4ijyJVLcJhc
Canibal
Marco Paulo Rolla. Canibal, performance, 2min53s (trailer), 2004. Instalação
composta em um ambiente de parede falsa, por um fogão de quatro bocas, uma
cama acoplada ao fogão por detrás da parede, para sustentar um ou três corpos, e
uma traquitana para fechar e abrir a porta do forno automaticamente, além de três
performers nus e embebidos em azeite de oliva;
https://youtu.be/-Vti1DxvaIY
Documentário sobre Performance Arte
Vídeo apresentado como resultado prático do Trabalho de Conclusão de Curso no
Departamento de Comunicação (UFRN), dirigido por Williane Gomes e Vanessa Paula
Trigueiro a partir do encontro promovido pelo II Circuito Regional de Performance-
-Body Art em Natal/RN, em 2012.
https://youtu.be/MxsVk0CcTos
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UNIDADE Happening e Performance – A Arte como Ação
Referências
ARCHER, M. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
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Sites visitados
BARBOSA, E. R. L. O corpo representado na arte contemporânea – o
simbolismo do corpo como meio de expressão artística. 19º ENCONTRO
DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISADORES EM ARTES PLÁSTICAS.
Cachoeira/Bahia, 2010. Disponível em: <http://www.anpap.org.br/anais/2010/
pdf/cpa/eduardo_romero_lopes_barbosa.pdf>.
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