O Destino Turístico Praia Do Forte - Bahia
O Destino Turístico Praia Do Forte - Bahia
O Destino Turístico Praia Do Forte - Bahia
Palavras-chave: Resumo
Hospitalidade urbana; Esta pesquisa teve o seu enfoque na hospitalidade do espaço turístico urbano, cujo tema
Espaço edificado; tem sido explorado em outros estudos ou experiências de pesquisa dos autores. O foco da
Hospitalidade; análise é o espaço edificado: infraestrutura, paisagem urbana e qualidade ambiental das
Destinos turísticos; destinações turísticas e suas relações com a hospitalidade. Nessa perspectiva, ressalta-se
Praia do Forte – Bahia. que alguns desses trabalhos já foram submetidos a revistas ou eventos científicos, visando
também, desta maneira, a assegurar uma avaliação por pares. O destino de Praia do Forte
na Região Metropolitana de Salvador é uma localidade tradicional e histórica, do ponto de
vista da ocupação humana do território e do ponto de vista da recente ocupação turísti-
ca. Assim, o objetivo principal desta pesquisa foi analisar condições da hospitalidade física
desse destino turístico consolidado. Trata-se de um destino localizado no litoral, dotado de
paisagens naturais singulares, onde a memória histórico-cultural marca a paisagem edifica-
da, além da demanda turística recente acentuada, em virtude dos atributos culturais e da
preservação ambiental. A metodologia está amparada na pesquisa descritiva e qualitativa
com uma abordagem empírica e sensorial, apoiada na pesquisa documental, bibliográfica e
iconográfica. Os dados foram analisados à luz do método interpretativo, focado nos concei-
tos e paradigmas que dão suporte aos estudos da hospitalidade do espaço edificado, visan-
do a contribuir com os métodos de análise da hospitalidade urbana dos destinos turísticos.
Os resultados da análise demonstram o desempenho deste destino turístico em cada uma
das categorias de análise: acessibilidade, legibilidade e identidade.
Key-words: Abstract
Urban hospitality; This research had its focus on the hospitality of the urban tourist space, whose theme has
Built space; been explored in other studies or research experiences of the authors. The focus of the analy-
Hospitality; sis is the built space: infrastructure, urban landscape and environmental quality of tourist
Tourist destinations; destinations and their relations with hospitality. In this perspective, it is noteworthy that some
Praia do Forte - Bahia of these works have already been submitted to journals or scientific events, aiming also, in
this way, to ensure a peer review. The destination of Praia do Forte in the Metropolitan Region
of Salvador is a traditional and historical place from the point of view of human occupation of
the territory and from the point of view of recent tourist occupation. Thus, the main objective
of this research was to analyze conditions of the physical hospitality of this consolidated tou-
rist destination. It is a destination located on the coast, endowed with unique natural lands-
capes, where the historical-cultural memory marks the built landscape, besides the recent
tourist demand accentuated due to cultural attributes and environmental preservation. The
methodology is based on descriptive and qualitative research with an empirical and senso-
rial approach, supported by documentary, bibliographic and iconographic research. The data
were analyzed in the light of the interpretative method, focused on the concepts and para-
digms that support the studies of hospitality of the built space, aiming to contribute to the
methods of analysis of the urban hospitality of tourist destinations. The results of the analysis
demonstrate the performance of this tourist destination in each of the analysis categories:
accessibility, legibility and identity.
Hospitalidad urbana; Esta investigación se centró en la hospitalidad del espacio turístico urbano, cuyo tema ha
Espacio construido; sido explorado en otros estudios o experiencias de investigación de los autores. El foco del
Hospitalidad; análisis es el espacio construido: infraestructura, paisaje urbano y calidad ambiental de los
Destinos turísticos; destinos turísticos y sus relaciones con la hospitalidad. En esta perspectiva, cabe destacar
Praia do Forte - Bahia que algunos de estos trabajos ya han sido presentados a revistas o eventos científicos, pre-
tendiendo también, de esta forma, garantizar una revisión por pares. El destino de Praia do
Forte, en la Región Metropolitana de Salvador, es un lugar tradicional e histórico desde el
punto de vista de la ocupación humana del territorio y desde el punto de vista de la reciente
ocupación turística. Así, el objetivo principal de esta investigación fue analizar las condicio-
nes de hospitalidad física de este consolidado destino turístico. Se trata de un destino situ-
ado en la costa, dotado de paisajes naturales únicos, donde la memoria histórico-cultural
marca el paisaje construido, además de la reciente demanda turística acentuada en virtud
de los atributos culturales y la preservación del medio ambiente. La metodología se basa
en una investigación descriptiva y cualitativa con enfoque empírico y sensorial, apoyada en
investigación documental, bibliográfica e iconográfica. Los datos fueron analizados a la luz
del método interpretativo, centrado en los conceptos y paradigmas que sustentan los estu-
dios de la hospitalidad del espacio construido, con el objetivo de contribuir a los métodos
de análisis de la hospitalidad urbana de los destinos turísticos. Los resultados del análisis
demuestran el desempeño de este destino turístico en cada una de las categorías de análi-
sis: accesibilidad, legibilidad e identidad.
INTRODUÇÃO
No contexto da cidade turística, Lucio Grinover (2007) infere que existe uma imagem de cidade que
cria uma informação legível acerca do espaço urbano e das arquiteturas que o compõe; tal oferta
de informação é uma expressão de hospitalidade urbana. Com essa informação, o visitante se sente
acolhido, bem recebido, encontra o que procura, passeia descompromissado e se dedica à contem-
plação sem o risco de se perder. Esses estudos, a partir da imagem da cidade e todo seu escopo,
contribuíram, concomitantemente, com a noção de hospitalidade urbana e com o planejamento
dos destinos turísticos urbanos.
Entende-se, portanto, que a hospitalidade do espaço edificado está relacionada com a qualidade
do ambiente urbano e, no caso dos destinos turísticos, com a qualidade da experiência turística dos
visitantes e com a experiência dos residentes em receber, sendo a qualidade do espaço físico das
cidades essencial nessas interações. Ressalta-se que a hospitalidade da cidade passa pela qualidade
da paisagem urbana, que abarca as características do sítio geográfico, a morfologia urbana – arqui-
tetura da cidade e qualidade do espaço público – locus das interações sociais – ordenamento e ofer-
ta de infraestrutura e mobilidade, para assegurar o deslocamento e a inclusão social. Nota-se que
tanto uma análise da forma como a de conteúdo – significado – da imagem da cidade, torna possível
inferir que ela pode ser dotada, ou não, de hospitalidade. Para Grinover (2007, p. 82), a hospitali-
dade é um “dom” do espaço carregado pelos signos da acessibilidade, legibilidade e identidade,
portanto, aqueles atributos já sistematizados por Kevin Lynch (1997). Aliado a isso, deve-se consi-
derar que atributos do espaço edificado contemporâneo dão ênfase ao sentido emocional que o
ambiente poderá proporcionar para garantir o bem-estar das pessoas. Essa garantia de acolhimen-
to, bem-estar e qualidade do ambiente é uma questão-chave quando se trata de destinos turísticos
urbanos sob a ótica da hospitalidade, ou do espaço que se torna lugar como signo de acolhimento.
Nessa apreensão, a qualidade do espaço físico deve assegurar também a sua legibilidade e a identi-
dade do local, de modo a proporcionar a emoção e possibilitar a leitura do lugar: a acessibilidade, a
inclusão, o acolhimento, a mobilidade, o bem-estar são fatores que contribuem para que o espaço
físico seja hospitaleiro. Em se tratando de destinações turísticas, a hospitalidade do espaço deve
se evidenciar, tendo em vista que os visitantes precisam apreendê-lo, sentir-se seguros para se
deslocarem e vivenciarem experiência turística de maneira aprazível. Nessa perspectiva, a hospita-
lidade do espaço físico é fundamental para o espaço turístico urbano, para resgatar a cidadania e
o bem-estar social.
A metodologia está amparada na pesquisa descritiva e qualitativa com uma abordagem empírica e
sensorial, apoiada na pesquisa documental, bibliográfica e iconográfica. Os dados foram analisados
à luz do método interpretativo, focado nos conceitos e paradigmas que dão suporte aos estudos da
hospitalidade do espaço edificado.
Nesse estudo também se analisou a arborização urbana, temperatura local e níveis de ruído urbano
no destino estudado.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Bell (2009) aponta para a necessidade contemporânea de mais pesquisas sobre hospitalidade, as-
sim como Allis e Fraga (2016) apontam produção acadêmica tímida para estudos sobre hospitali-
dade urbana no Brasil. Os estudos sobre hospitalidade das cidades têm se dedicado aos valores
sociais, nos quais o espaço não foi tratado de forma eficaz. Bell (2009) observou que, na última
década, tem sido renovado o interesse pelos estudos de hospitalidade relacionados com o turismo,
para além do conteúdo pragmático da gestão da hospitalidade, mas encontraram uma análise di-
versificada das Ciências Sociais; especialmente em estudos sobre imigração e asilo para refugiados
em várias cidades do mundo contemporâneo. Por exemplo, o “acesso”, como condição da hospi-
talidade urbana, está vinculado ao planejamento participativo e ferramentas de políticas públicas
(Mercier et al., 2014; Hambleton, 2015); a hospitalidade dos lugares da cidade condicionada pelo
empreendedorismo e produção cultural (Lugosi et al., 2010); questões de gênero como contribuição
para hospitalidade da cidade (HØy-Petersen et al., 2016) e contribuição da sociologia pragmática
para hospitalidade das cidades (Blok & Meilvang, 2014).
Portanto, a hospitalidade também pode ser estudada como “espaço”, como a interpretação domi-
nante (Jackobson, 1971).
Nesse sentido, como lacuna teórica apontada neste estudo, há a possibilidade de um sistema de
caracterização morfológica espacial das áreas urbanas que vai além dos atributos sociais da hospi-
talidade nas cidades.
Assim, estudar a cidade é procurar quais elementos e estruturas podem conferir o estado de cidade
hospitaleira ou, ao contrário, cidade repulsiva ou até mesmo hostil; isso significa que as categorias
sociais, culturais, históricas, econômicas e ambientais estão substanciadas em atributos de acessi-
bilidade e legibilidade (Grinover, 2007, p. 131).
Nesse sentido, pode-se ter um sistema de caracterização morfológica urbana como um conjun-
to instrumental de representação dos atributos espaciais relevantes. A caracterização morfológica
busca uma síntese de estruturas composta por características essenciais; assim, as técnicas de ca-
racterização morfológica do lugar integram uma descrição, enquanto variáveis incidentes no seu
comportamento, mas também possibilitam a orientação dos indivíduos em identificar essas carac-
terísticas através do espaço configurado (Kohlsdorf, 1996, p. 75).
Trata-se, portanto, da importância da imagem da cidade que carrega identidade e sugere legibilida-
de. Dessa forma, Lynch (1997) e Grinover (2007) argumentam que uma cidade é hospitaleira através
de sua leitura eficaz, sendo que esses autores nomeiam graus de legibilidade. Para esses autores,
trata-se da facilidade pela qual a cidade pode ser visualmente apreendida, reconhecida e organiza-
da, de acordo com um esquema coerente.
Baptista (2002) atenta para a urgência de dotar espaços urbanos como lugares hospitaleiros, tendo
em vista que a hospitalidade surge como um acolhimento ético por excelência, capaz de qualificar
o ambiente urbano. Os lugares de hospitalidade são lugares de urbanidade, são lugares abertos a
outros, pois falar de hospitalidade significa levar em conta as implicações da dupla relação humana
com o lugar e com o outro (Baptista, 2002, p. 16).
Como observa Cruz (2002), parte da hospitalidade é fruto da organização socioespacial dos lugares
e isso, possivelmente, se dá em função da dimensão socioespacial subjacente ao ato de acolher
ocupantes desses lugares; bem como a hospitalidade do espaço físico da cidade passa pelo orde-
namento geral das paisagens urbanas e pela organização dos lugares públicos (Cruz, 2002, p. 141).
Segundo Campos (2008), quando o turista vivencia uma experiência de viagem e está conhecendo
algo novo e inusitado, sua percepção se torna mais sensível ao ambiente e absorve dele as imagens
do lugar que pode ser apreendido como um lugar hospitaleiro ou hostil. Atualmente, alguns auto-
res inferem sobre a hospitalidade do espaço físico a partir da imagem do destino (Ahn et al., 2013;
Kamins & Grupta, 1994).
Nas cidades onde o turismo está consolidado como uma atividade econômica geradora de divisas,
emprego e renda, a hospitalidade se faz tão necessária quanto os atrativos e infraestrutura que lhes
dão sustentação. Portanto, a imagem do destino se associa à percepção da hospitalidade do espa-
ço, evidenciando, assim, essa relação que, por sua vez, reforça a satisfação do habitante, visitante
ou turista em vivenciar sua experiência turística de maneira aprazível. Nessa perspectiva, o conjunto
da paisagem edificada pode criar uma atmosfera agradável aos sentidos, provocar emoções e tor-
nar a experiência turística significativa de forma aprazível.
A partir dessa conceituação, o método desta pesquisa definiu categorias de análise que possibilitam
demonstrar os signos de hospitalidade do espaço físico urbano. Disso decorre a seleção de cate-
gorias utilizadas para a análise do objeto desta pesquisa, quais sejam: acessibilidade, legibilidade
e identidade; e se arrisca conforto ambiental urbano como fator de ampliação da construção epis-
temológica e contribuição com métodos de análise da hospitalidade urbana de destinos turísticos.
Acessibilidade: conceito que define possibilidades de acesso dos indivíduos, ou de grupos sociais a
certas atividades ou serviços que estão presentes na cidade, sem distinção social. Pode ser conside-
rado como a disponibilidade de instalações e infraestruturas ou dos meios físicos que permitem a
acessibilidade física tangível, sistema de transporte, infraestrutura viária de acessibilidade ao espa-
ço citadino, os meios de deslocamento. A acessibilidade intangível ou virtual, que pode proporcio-
nar acesso à cultura, à informação, vem a ser a essência da cidadania através da qualidade de vida
que proporciona hospitalidade e condições para o desenvolvimento do espaço público.
Legibilidade: diz respeito à qualidade visual de uma cidade, identificada por seus habitantes ou
pelos visitantes ou turistas, sendo um referencial no processo de orientação e reconhecimento
do espaço físico, por meio da imagem ambiental, que pode facilitar ou dificultar a orientação e o
reconhecimento do espaço físico dependendo da disposição dos elementos: bairros, marcos ou
caminhos facilmente reconhecíveis e agrupados num modelo global (Lynch, 1997). Segundo Gri-
nover (2007), a leitura da cidade se dá pela ótica qualitativa, por meio de códigos que possibilitam
identificar uma rua, edifícios ou bairros, com pontos de vistas e culturas diferentes, gerando uma
comunicação dialógica entre determinado edifício e a sensibilidade do cidadão, determinando a es-
colha do percurso, não por ser mais rápido, mas, principalmente, pelas sensações ou sentimentos
que esse percurso pode despertar.
Conforto ambiental urbano: como mais uma categoria de análise da hospitalidade do espaço edi-
ficado, relacionando-o com a acessibilidade e com legibilidade, agregando variáveis tangíveis refe-
rentes ao dimensionamento e desenho dos espaços públicos a partir da perspectiva do pedestre: a
arborização urbana, parques e jardins, que são parâmetros para criar microclimas e maior conforto
ambiental no espaço urbano. Ademais, variáveis intangíveis, ou de difícil mensuração, da percepção
ambiental – sensações geradas a partir dos estímulos do espaço edificado –, por meio da qualidade
do espaço que proporciona hospitalidade, qualidade de vida e condições para o desenvolvimento
do espaço público.
Com essas categorias selecionadas, a análise procurou evidenciar a relação que se estabelece entre
hospitalidade do espaço físico das cidades e descrições provocadas por este espaço: receptividade
e acolhimento do habitante, visitante ou turista, satisfação de ordem psicológica, necessidade de
trocas culturais. Uma relação que se estabelece entre hospitalidade, bem-estar e qualidade de vida.
METODOLOGIA
A leitura espacial se apoiou no método descritivo dos atributos de hospitalidade, segundo as cate-
gorias de análise de acessibilidade, legibilidade e identidade, conforme Grinover (2007), Raymond
(1997), Lynch (1997); além de dados de conforto ambiental urbano: temperatura em locais sombre-
ados e a “sol a pino”, bem como dados de acústica urbana em locais da Praia do Forte com maior
movimentação de transeuntes (Murgel, 2007; Romero, 2013).
A abordagem se deu através do método interpretativo de pesquisa que consiste em ver, discriminar
e generalizar. Entende-se a arquitetura da cidade como dado não verbal, o que caracteriza a busca
da realidade do espaço socialmente construído como gerador de informação; assim, parte-se da
leitura do espaço e sua representação, seja em fotografia, mapeamentos, perspectivas, na tentativa
de formular novas hipóteses.
Por se tratar de sistema espacial, é notória sua plurissignificação inerente, originando uma gama
de interpretações com várias possibilidades relacionais. Deve-se considerar que o método não se
inicia com a formulação de uma teoria que é aplicada ao objeto, no intuito de deduzir alguma rela-
ção teórica, mas, parte-se do objeto de pesquisa como gerador de novas interpretações. Em deter-
minados momentos da pesquisa, ocorreu uma simultaneidade entre objeto de pesquisa e teoria;
desse modo é que a leitura bibliográfica serviu para estimular a interpretação, entendendo-a como
repertório informacional e não como mecanismo justificativo.
Trata-se também de um estudo de caso, com ênfase na análise de Praia do Forte, no litoral Norte da
Bahia, o que decorreu a análise da aplicação dos conceitos de hospitalidade urbana, por meio das
categorias de análise que estabelecem o fio condutor para o entendimento e explicação da hospita-
lidade do espaço edificado do destino selecionado.
O método interpretativo da representação dos índices de hospitalidade está amparado pelas teo-
rias de hospitalidade urbana, essencialmente com o trabalho de Lucio Grinover (2003, 2006, 2007)
que, por sua vez, se apoia nas teorias propostas por Lynch (1997) sobre imagem e paisagem urba-
nas. Assim, a análise procurou identificar as condições de hospitalidade do espaço físico, através
das categorias de análise supramencionadas, que regem a hospitalidade da cidade.
Procedimentos metodológicos
A investigação optou pelo estudo da cidade e adotou a teoria de que o desenho da cidade ou de
uma parte dela configura a construção de um ambiente hospitaleiro capaz de apresentar a coe-
rência da paisagem local, onde se buscam as leis, motivos e ordens, que estão ligados à realidade
urbana (Cullen, 1971; Lynch, 1997).
Dessa forma, este estudo estabeleceu um conjunto de procedimentos ligados à hipótese e, conse-
quentemente, aos objetivos. Esses procedimentos estão descritos nas etapas de trabalho a seguir.
Montagem de bibliografia: levantamento de livros, artigos de revistas, jornais, etc., relacionados
com o tema da pesquisa, bem como de informação que possibilite a compreensão do objeto em
sua explanação teórica mais abrangente. Leitura de bibliografia e documentação. Identificação de
índices significativos dos textos e material iconográfico, separando-os em fichas temáticas. Leitura
espacial do objeto e do material iconográfico. Leitura das paisagens urbanas selecionadas, feita a
partir de visitas in loco. Discussão das informações coletadas propondo a relação delas com as hi-
póteses sobre o assunto. Coleta de dados secundários e levantamento, em campo, dos indicadores
sobre a oferta e demanda turística, para subsidiar a relação entre esses indicadores com a qualida-
de do espaço e com os índices de hospitalidade.
Também houve a análise da arborização urbana, temperatura local e os níveis de ruído urbano.
As medições de temperaturas local foram efetuadas com o aplicativo Thermometer Checker para
medições de temperaturas em ambientes externos e a medição dos níveis de ruído urbano, com
o aplicativo dB SoundMeter Time4UDe cibelMeter. As medições dos níveis de ruído e temperatura
foram feitas em período do início da “alta temporada”, portanto, em dia de verão, especificamente
no dia 31 de outubro de 2021, a partir das 10 horas, em pontos de maior concentração de pessoas
na rua principal da vila Praia do Forte.
A análise dos dados à luz da teoria demonstrou e caracterizou a aplicação dos conceitos de hospi-
talidade do espaço físico, cujos resultados comparados ao material iconográfico e teórico do tema
e objeto, evidenciam a qualificação da hipótese levantada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esse destino turístico possui uma diversidade de atrativos composta pelo turismo cultural com a
preservação das ruínas do Castelo da Torre de Garcia D’Ávila, primeiro porto da Bahia para expor-
tação do açúcar para a Europa, produzido pelos engenhos de açúcar do Recôncavo, além da gas-
tronomia, comércio de lojas de moda e lojas de artesanato, feiras de artesanato e produtos locais,
banho de sol e mar, uma unidade do Projeto Tamar para a preservação das tartarugas marinhas e
com uma exposição permanente e palestras sobre preservação ambiental, sendo um local muito
frequentado por crianças acompanhadas pelos turistas adultos. Além de shows musicais ao ar livre
e uma infraestrutura turística robusta, possui uma demanda turística nacional e internacional ex-
pressiva, exatamente por conta da diversidade do produto turístico e da infraestrutura hoteleira no
local e no seu entorno: a rede de resorts e hotéis de bandeiras nacional e internacional, instalada
na Costa de Sauípe, litoral norte da Bahia (Figura 1).
Figura 1: Imagem de satélite da área de estudo do Distrito de Praia do Forte no Litoral Norte da Bahia
A análise confirmou que, dentre as categorias aplicadas, a legibilidade diz respeito à qualidade vi-
sual de uma cidade, identificada por seus habitantes e pelos visitantes, sendo um referencial no
processo de orientação e reconhecimento do espaço físico, através da imagem ambiental, que pode
facilitar ou dificultar a orientação e o reconhecimento do espaço físico dependendo da disposição
dos elementos, pois possibilita a cognição espacial e direcionamento e gera segurança psicológica.
Nesse processo, as possibilidades geradas vão além da escolha de um deslocamento mais rápido,
porque envolve a emoção e enriquece a percepção sobre o lugar (Lynch, 1997).
Na Praia do Forte, ela é manifestada ao longo do circuito turístico que envolve as duas ruas princi-
pais e onde há mais circulação do fluxo turístico, ou seja, um circuito de aproximadamente 2 Km,
iniciando na entrada principal da vila em cujo trecho da via estão as lojas de moda e de artesanato,
os restaurantes, bares e cafeterias, as galerias de arte, de artesanato e produtos locais, seguindo
até a praça da igrejinha, arquitetura colonial, onde se descortina a praia com as embarcações até
chegar no complexo do Projeto Tamar. Dessa forma, a legibilidade do espaço está assegurada ao
longo do destino turístico, enquanto categoria de análise do conceito de hospitalidade do espaço
edificado (Figuras 2 e 3).
Sobre a categoria de análise identidade que, segundo Grinover 2007, desperta uma fascinação pelo
diferencial e, consequentemente, um interesse pelo local, a análise de hospitalidade urbana deve
considerar que, como símbolo na memória social, a imagem é composta pela utilização do espaço
pela apropriação do patrimônio cultural, pelas tipologias arquitetônicas e pela singularidade do
ambiente (Grinover, 2007, p. 150).
A análise da identidade de Praia do Forte constatou a evidência da identidade urbana ao longo desse
circuito turístico do local. Ela está manifestada nas duas vias ladeadas de casas tradicionais de arqui-
tetura vernacular que abrigavam os pescadores. Essas casas receberam pinturas vibrantes e adap-
tações para abrigar lojas e restaurantes, cujos traços principais das fachadas não foram alterados. A
visão da paisagem do conjunto da vila é carregada de identidade com a vista do mar, onde se avista
os barcos ancorados dos pescadores e seus artefatos de pesca, pela igrejinha, o Castelo da Torre de
Garcia D’Ávila do período colonial, do início do povoamento de Praia do Forte – símbolos que identi-
ficam a atividade de pesca artesanal, com as embarcações e os artefatos da colônia de pescadores,
uma tradição da Praia do Forte Santo desde o início do povoamento desse Distrito (Figuras 4 e 5).
O desenho universal está presente ao longo das vias, onde circula o fluxo turístico, desde a entrada
da vila até o complexo do Projeto Tamar e às praias: com revestimentos confortáveis dos pisos,
rampa de acessos às lojas, restaurantes e demais equipamentos. O mobiliário urbano está distribu-
ído por toda e extensão do circuito, com bancos em áreas sombreadas e em áreas expostas ao sol
(Figuras 6, 7, 8 e 9).
Figuras 6, 7, 8 e 9: Acessibilidade
Mesmo sem o trânsito de automóveis, a sinalização de pedestre possui placas de informação bilín-
gues – português e inglês – das atividades que estão presentes ao longo do destino. O estaciona-
mento de automóveis e motos é remoto, sendo que possui um serviço de micro-ônibus permanen-
te, circulando do estacionamento até a vila e vice-versa, nos horários das 8 horas até as 24 horas,
cujo valor já está agregado ao preço do estacionamento.
No que se refere à análise da arborização urbana, na vila da Praia do Forte se constatou a presença
da vegetação planejada ou paisagística – arborização, jardins – ao longo de todo o percurso turísti-
co. Essa vegetação se junta na Praça da Igreja com a vegetação natural – o coqueiral das praias e se
estende para além do complexo do Projeto Tamar (Figura 10).
O sombreamento está garantido por toda a vila. Com esse condicionamento, foi possível identificar
temperaturas mais amenas nas áreas sombreadas, o que caracteriza um microclima nessas áreas
com pequenas variações de temperatura (Figura 11).
Com relação ao conforto acústico e conforto térmico urbano, os pontos de medição podem em ser
verificados nas figuras abaixo que sinalizam as estações de medição (Figuras 14, 15, 16 e 17).
Os pontos A, C e D sinalizam a medição do ruído urbano, onde foram realizadas as medições, com
o aplicativo dB SoundMeter Time4UDe cibelMeter.
Fonte: Pesquisa de campo, outubro, 2021. Fonte: Pesquisa de campo, outubro, 2021. Fonte: Pesquisa de campo, outubro, 2021.
Dessa forma, os níveis de ruído urbano encontrados nos três pontos de maior aglomeração da vila
de Praia do Forte estão dentro da normalidade para o conforto acústico em espaços públicos.
Na vila de Praia do Forte se encontram medições do ruído urbano maiores em razão do fluxo tu-
rístico. Mesmo assim, os níveis de ruído estão dentro das faixas normais do conforto ambiental do
espaço público, segundo Murgel (2007). Deve-se considerar, ainda, que se trata de área recreacional
com uso comercial, bem como vale destacar que o limite máximo permitido, segundo a NR 15, Ane-
xo I, é de 85 dB (Prometal EPis, 2020).
As medições obtidas de temperatura a céu aberto em Praia do Forte registraram variações entre as
áreas expostas ao sol e as áreas sombreadas, nos quatro pontos mapeados as medições obtidas
da temperatura foram: nos pontos A e C expostos ao sol a temperatura foi 32°C; já no ponto B área
sombreada, a medição de temperatura foi 31°C em razão do sombreamento; já na estação D área
sombreada, a temperatura foi de 30°C. Nota-se que, no ponto D, a variação da temperatura foi 2°C
menor que no ponto A, possivelmente porque esse ponto está mais próximo do mar. Portanto, a
brisa marinha aliada ao sombreamento da área foram fatores ambientais responsáveis por essa
redução de temperatura. As medições da temperatura local foram efetuadas com o aplicativo Ther-
mometer Checker. Deve-se considerar que a temperatura é considerada “quente” quando está aci-
ma de 32°C; mas, por se tratar de área de praia, a temperatura máxima que poderia causar descon-
forto seria de 37°C (cinco graus acima da temperatura normal daquela área) (Treinamento24, s.d.).
Dessa forma, constata-se que a arborização urbana é um fator ambiental produzido no espaço edi-
ficado pela presença de árvores, vegetação, jardins e parte do solo permeável, que são capazes de
produzir microclimas (Romero, 2013). Esses fatores ambientais promovem também hospitalidade
do espaço físico edificado.
A partir disso, conclui-se que as condições acústicas e térmicas na vila de Praia do Forte atendem
de modo satisfatório os critérios do conforto ambiental. Essa análise está substanciada nos parâ-
metros estabelecidos para o conforto térmico e acústico, segundo Romero (2013) e Murgel (2007).
Portanto, as medições efetuadas por essa pesquisa confirmam a adequação e aceitabilidade dos
dados obtidos no espaço público da vila de Praia do Forte, fato este que assegura que a análise
efetuada, em relação a mais esse condicionamento ambiental urbano da hospitalidade do espaço
edificado desse destino turístico.
A análise da legibilidade identificou uma limitação quanto à sinalização de pontos de ônibus, mas,
de forma genérica, a análise da legibilidade atende aos demais parâmetros dessa categoria da hos-
pitalidade do ambiente físico construído.
A análise da acessibilidade confirma que esta categoria foi a que mais se destacou, tendo em vista
que está bem resolvida e responde a praticamente todos os critérios da hospitalidade do ambiente
edificado. De um modo geral, o destino de Praia do Forte apresentou um desempenho muito bom
na análise de todas as categorias da hospitalidade urbana. Houve um investimento maior do poder
público e da iniciativa privada para a acessibilidade, até porque este destino possui diversidade de
atrativos e uma infraestrutura turística, além de demanda turística nacional e internacional exigente.
No quesito conforto ambiental térmico e acústico, o destino analisado apresenta bons índices para
ruído urbano, fato que produz qualidade ambiental urbana.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desta pesquisa confirmam a pertinência das categorias de análise preconizadas por
Grinover (2003, 2006, 2007) para a interpretação da hospitalidade urbana. A metodologia adotada
pela pesquisa de caráter exploratório e descritivo se demonstrou eficaz, na medida em que se
prestou como um primeiro momento de inferência acerca da hipótese levantada. Com isso, procu-
Os limites dessa pesquisa foram: escassez da bibliografia sobre a hospitalidade do espaço edificado
e de uma bibliografia que revelasse o papel da hospitalidade à escala da cidade associada à paisa-
gem urbana e ao condicionamento ambiental urbano.
Os resultados também procuram dar uma contribuição teórica à literatura escassa sobre a hospita-
lidade do ambiente físico edificado ou urbano, bem como instigar e ampliar a discussão, gerar no-
vos questionamentos e incentivar novos estudos no campo da hospitalidade do espaço edificado.
AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa foi realizada com o apoio do CNPq, aprovada no Edital Produtividade em Pesquisa
2019 a 2022, cujo objeto de estudo foi o destino turístico Praia do Forte na Região Metropolitana de
Salvador, localidade tradicional e histórica do ponto de vista da ocupação humana do território e do
ponto de vista da recente ocupação turística.
REFERÊNCIAS
Ahn, T., Ekinci, Y., & Li, G. (2013). Self-congruence, functional congruence and destination choice. Journal of Busi-
ness Research, 66(6), 719-723. DOI: 10.1016/j.jbusres.2011.09.009.
Allis, T., & Fraga, C. (2016). Mobilidades turísticas e hospitalidade urbana: Análise bibliogr áfica a partir de publica-
ções de turismo no Brasil. Revista Turismo & Desenvolvimento, 26, 155-165. DOI: 10.34624/rtd.v0i26.10787.
Baptista, I (2002). Lugares De Hospitalidade. In: C. M. Dias (Org.), Hospitalidade: reflexões e perspectivas. Manole.
Bell, D. (2009). Tourism and hospitality. In: T. a Jamal & M. Robinson (Eds.), The SAGE Handbook of Tourism Stu-
dies (pp. 19-34). Sage. DOI: https://doi.org/10.4135/9780857021076.n2.
Blok, A., & Meilvang, M. L. (2014). Picturing urban green attachments: civic activists moving between familiar and
public engagements in the city. Sociology, 49(1), 19-37. DOI: 10.1177/0038038514532038.
Campos, S. R. (2008). Os cinco sentidos da hospitalidade. Observatório de Inovação do Turismo. Revista Acadê-
mica, 3(1), 1-17. DOI: 10.12660/oit.v3n1.5694.
Cruz, R. de C. A. da (2002). Hospitalidade turística e fenômeno urbano no Brasil: considerações gerais. In: C. M.
de M. Dias (Org.), Hospitalidade: Reflexões e Perspectivas. Manole.
Gibson, S., & Molz, J. G. (2016). Mobilizing hospitality: the ethics of social relations in a mobile world. Routledge.
Grinover, L. (2006). A hospitalidade urbana: acessibilidade, legibilidade e identidade. Hospitalidade, 3(2), 29-50.
https://www.revhosp.org/hospitalidade/article/view/191.
Grinover, L. (2003). Hospitalidade: um tema a ser reestudado e pesquisado. In A. D. F. M. Dencker & M. S. Bueno
(Orgs.), Hospitalidade: Cenários e Oportunidades (p. 61-71). Pioneira Thomson Learning.
Hambleton, R. (2015). Power, place and the new civic leadership. Local Economy, 30(2), 167-172. DOI:
10.1177/0269094215570563.
Heal, F. (2011). Urban hospitality. In O. F. Head (Ed.), Hospitality in Early Modern England. Oxford Scholarship.
HØy-Petersen, N., Woodward, I. and Skrbis, Z. (2016). Gender performance and cosmopolitan practice:exploring
gendered frames of openness and hospitality. The Sociological Review, 64 (4), 970-986. DOI: 10.1111/1467-
954X.12390.
Kamins, M. A., & Grupta, K. (1994). Congruence between spokesperson and product type: a matchup hypothesis
perspective. Psychology & Marketing, 11(6), 569-586. DOI: 10.1002/mar.4220110605.
Landau, L. B. (2012). Hospitality without hosts: mobility and communities in Africa’s urban estuaries. WISER 19,
5(7), 1-19. https://wiser.wits.ac.za/system/files/seminar/Landau2012.pdf.
Lashley, C. (2015). Hospitalidade e hospitalidade. Revista Hospitalidade, 12 (Special Issue), 70-92. https://www.
revhosp.org/hospitalidade/article/view/566.
Lashley, C., Lynch, P., & Morrison, A. J. (2007). Hospitality: a social lens. Elsevier.
Latham, A. (2003). Urbanity, lifestyle and making sense of the new urban cultural economy: notes from Auckland,
New Zealand. Urban Studies, 40(9), 1699-1724. DOI: 10.1080/0042098032000106564.
Lugosi, P., Bell, D., & Lugosi, K. (2010). Hospitality, Culture and Regeneration: Urban Decay, Entrepreneurship and
the ‘Ruin’ Bars of Budapest. Urban Studies, 47(14), 3079-3101. DOI: 10.1177/0042098009360236.
Mercier J., Duarte, F., Domingue, J., & Carrier, M. (2014). Understanding continuity in sustainable transport plan-
ning. In: Curitiba. Urban Studies, 52(8), p. 1454-1470. DOI: 10.1177/0042098014538526.
Montadon, A. (2003). Hospitalidade: ontem e hoje. In: A. D. F. M. Dencker & M. S. Bueno (Orgs.), Hospitalidade:
Cenários e Oportunidade. Pioneira Thomson Learning.
Prometal EPIs (2020, outubro). Limite de Tolerância para o Ruído: vamos falar mais sobre isso?. Prometal. ht-
tps://prometalepis.com.br/blog/limite-de-tolerancia-para-o-ruido-vamos-falar-mais-sobre-isso/.
Tasci, A., & Semerad, K. (2016). Developing a scale of hospitableness: a table of two worlds. International Journal
of Hospitality Management, 53, 30-41. DOI: 10.1016/j.ijhm.2015.11.006.
Josildete Pereira de Oliveira: Concepção da pesquisa, revisão de literatura, levantamento de campo, avaliação
e discussão dos dados levantados, conclusão.
Luciano Torres Tricárico: Concepção da pesquisa, revisão de literatura, levantamento de campo, avaliação e
discussão dos dados levantados, conclusão, formatação do artigo.