Psicologia Social Comunitaria Profissional

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Psicologia social comunitária profissional

Article in Psicologia & Sociedade · January 2007


DOI: 10.1590/S0102-71822007000500025

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Scaparo, H.; Guareschi, N. “Psicologia Social Comunitária e Formação Profissional”

PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA E FORMAÇÃO PROFISSIONAL


Helena Beatriz Kochenborger Scarparo
Neuza Maria de Fátima Guareschi
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil

RESUMO: O presente texto aborda questões relativas à construção da psicologia social comunitária no Brasil e as
interfaces deste processo histórico com a formação profissional. Para tanto, apóia-se em dados sobre o contexto
histórico e social brasileiro no decorrer da efetivação das práticas psicológicas em comunidades. Finalmente, o
estudo propõe reflexões quanto ao descompasso entre a formação e os fenômenos sociais contemporâneos.
PALAVRAS-CHAVE: Preparação profissional; Psicologia Social Comunitária; práticas sociais.

COMMUNITY SOCIAL PSYCHOLOGY AND PROFESSIONAL PREPARATION


ABSTRACT: The following paper approaches issues related to the Community Social Psychology’s construction in
Brazil and the interactions of this historical process with the professional preparation. For this purpose, the Brazilian
historical and social context is taken into consideration in order to reach effective psychological practices in commu-
nities. In addition, it associates Community Social Psychology’s characteristics with the professional preparation
and the Psychology’s construction. Finally, this paper considers reflections about the professional preparation and
contemporaries social phenomena.
KEYWORDS: Professional preparation; Community Social Psychology; social practices.

Demarcando Territórios: Registros tas também na produção do conhecimento e nas práticas


dos Diferentes Caminhos da Instituição psicológicas. Como afirmou Campos (1992), a psicolo-
gia contribuía, em algumas ocasiões, como ferramenta
da Psicologia no Brasil
ideológica, com potencial de tornar os mecanismos
A profissão de psicólogo foi regulamentada no sociais vigentes obscuros, através da legitimação da de-
Brasil em 1962. Pouco tempo antes do Golpe Militar sigualdade, com argumentos “pretensamente universais
que condenou o País a um longo período ditatorial. Na e neutros” (p. 125).
época, as práticas psicológicas se consolidaram sob a O controle e a repressão dos movimentos sociais
influência de ideologias desenvolvimentistas, pautadas organizados, através do regime ditatorial, protelaram a
pela repressão política e pelo patrulhamento ideológico, adoção de posicionamentos críticos de grande parte dos
que caracterizaram o Brasil ao longo de quase três déca- cidadãos quanto à realidade brasileira seja pelos pro-
das de ditadura explícita. cessos de alienação patrocinados pela ditadura, seja pelo
A decorrência imediata desses fatos nas práticas medo de ser alvo das perseguições políticas.
psicológicas e, obviamente, na formação profissional foi Na esfera da psicologia, a análise de documentos e
o predomínio de abordagens individualistas, descon- publicações relativas a esse período histórico explicitou
textualizadas e apoiadas em modelos abstratos de seres expectativas predominantes em relação ao profissional
humanos. Tais modelos eram tomados como medidas da época. O trabalho do psicólogo era definido a partir
para a realização e avaliação das ações o que engendrou da clínica individual, da tarefa de avaliação psicológica
processos de normatização e de controle das pessoas e e do acompanhamento de dificuldades de aprendizagem
contribuiu para a naturalização das expressões de vio- nas escolas. Também são mencionados e dos trabalhos
lência e repressão. Assim, este cenário favorecia o uso de consultoria, recrutamento e seleção no contexto das
da psicologia para a articulação de espaços de exclusão empresas. Tratava-se de um período no qual o exercício
social e de adaptação dos “desviantes”, transformando da psicologia, em expressiva escala, se adequava às
práticas em instrumentos de controle ideológico. necessidades políticas e econômicas do governo militar
Especialmente a classe média brasileira era atingida ditatorial vigente (Scarparo, 2005).
por esse processo, pois a ideologia desenvolvimentista Neste contexto, a liberdade só poderia ser pensada
causava na população brasileira “um profundo confor- no nível imaginário e intrapsíquico, ou seja, o desejo não
mismo político”, além da “produção de subjetividades deveria transpor as fronteiras da individualidade para ater-
consumistas” (Coimbra, 1995, p. 56). Nesta ótica era se às circunstâncias da vida macro social. Em relação a
evidente a predominância de perspectivas individualis- isso, é interessante observar que as opções de leituras

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oferecidas nos cursos de psicologia referenciavam pre- de psicopatologias e a promoção processos de adapta-
dominantemente textos que potencializassem a noção de ção das pessoas ao ambiente, tendo em vista as influên-
indivíduo como parâmetro para a compreensão do ser cias que a cultura e a sociedade exercem sobre elas
humano (Dias, 2001). (Busnello, 1976; Cowen & Lorion, 1975). Esta aborda-
Nos cursos de graduação de diferentes áreas, a refor- gem foi adotada como um dos modelos de trabalho no
ma universitária e o patrulhamento ideológico caracte- Brasil e orientou diferentes práticas psicológicas em co-
rísticos da época, pautaram as diretrizes curriculares e o munidades das classes populares brasileiras. Um dos
cotidiano das academias. Era comum que, por medo de exemplos desse tipo de intervenção foi o da implanta-
represálias, alguns professores universitários de disci- ção, na década de setenta, do Centro Médico Social São
plinas cujo conteúdo fundamentava-se em abordagens José do Murialdo, em Porto Alegre (Busnello, Lewin,
políticas, usassem códigos para comunicar-se com os Ruschel & Bradley, 1975; Scarparo, 2005).
estudantes, pois não podiam expressar livremente suas Mesmo com as restrições dos direitos civis vigentes
idéias, sob pena de serem perseguidos politicamente na época, foram efetuados projetos de extensão das
(Scarparo, 2005). Por exemplo, nessa época, nas salas universidades e programas na rede pública de grande
de aula, “classe dominante virou minoria que está no impacto. Configurou-se assim, um “consentimento” para
vértice da pirâmide social” (Porto, 1999, p. 634). intervenções que favorecessem a proximidade entre
Nas aulas de Psicologia Social, por exemplo, pre- profissionais de saúde e a população. Tal consentimento
dominavam os aportes de teorias positivistas que privile- poderia ser atribuído à necessidade de acomodar em um
giavam a descrição de pesquisas que utilizavam escalas, “nicho controlável” pessoas cujos modos de pensar diver-
grupos de controle e experimentais, visando adaptação giam da ideologia imposta pela ditadura. De qualquer
de indivíduos à sociedade. De algum modo, eram aven- forma, algumas narrativas sobre experiências desse tipo,
tadas as possibilidades de prever e generalizar com- denotam o estabelecimento de linhas de fuga ao controle
portamentos, através da medição e da análise dos fenô- ditatorial. É o caso da organização de grupos clandes-
menos psicológicos. Desse modo, exacerbavam-se as tinos para estudar textos proibidos pela censura e da in-
crenças na legitimação do controle da sociedade, atra- serção de intelectuais em trabalhos comunitários como,
vés das práticas psicológicas. por exemplo, os efetivados nas Comunidades Eclesiais
de Base (Scarparo, 2005; Teixeira, 1988).
Nessa época existiam referenciais teóricos cuja
bibliografia era proibida no Brasil e só poderia ser lida Com o desgaste da Ditadura Militar no Brasil, em
clandestinamente. Dentre estas estavam notícias e textos meados dos anos setenta, eram freqüentes as manifesta-
sobre práticas emancipatórias desenvolvidas na Europa ções populares contra a repressão política. Também
e obras de Paulo Freire, Guattari, Laing e Cooper, por proliferava no País a mobilização popular favorável à
exemplo. A literatura proibida extrapolava a perspectiva anistia dos presos políticos. No âmbito econômico, come-
individualista e transpunha a compreensão do ser hu- çaram a aparecer cobranças dos países credores. A dívi-
mano associada ao modelo de família nuclear (Scarparo, da externa dilapidava as reservas brasileiras. Discordân-
2005). Além disso, os textos continham propostas que cias quanto ao início da abertura política era motivo de
produziam questionamentos quanto aos limites e aos crises no Governo Militar. Mesmo assim, persistiam as
efeitos das práticas psicológicas e pedagógicas. Desse políticas desenvolvimentistas pautadas na abertura ao
modo, emergiam possibilidades de reflexões críticas so- capital estrangeiro e à distribuição desigual das riquezas
bre os trabalhos efetivados e proposições de outros modos (Brenner, 1998; Ribeiro, Alencar & Ceccon, 1997).
de abordagem. Dentre esses se destacavam as práticas A participação de intelectuais em movimentos de
participativas e a consideração dos espaços coletivos, o emancipação política era crescente. Na psicologia,
que gerou propostas de trabalhos em comunidades. concomitantes aos processos de instituição dos Conse-
O uso do conhecimento psicológico como instru- lhos Federal e Regional da profissão, emergiam mani-
mento de práticas em comunidades teve seus primeiros festações que procuravam desmistificar as teorias psico-
registros formais na década de setenta (Freitas, 1996; lógicas, discutindo suas origens ideológicas e os valores
Scarparo, 2005). Tais registros referiram-se à participa- subjacentes às lógicas postuladas. Era um momento no
ção de psicólogos em trabalhos associados à esfera da qual uma significativa parcela da categoria questionava
educação e da saúde mental, especialmente no âmbito o papel e a responsabilidade social da psicologia, asso-
da prevenção. As ações eram inspiradas na psiquiatria ciando-os aos preocupantes aspectos sociais e políticos
comunitária, um ramo da psiquiatria social voltado para da realidade brasileira de então.
o atendimento à saúde mental de integrantes de comu- Como decorrência, a relevância social da psicologia
nidades. Para tanto, predominavam propostas de inter- passou a ser alvo de problematizações, o que recrudes-
venções cujo objetivo era a diminuição da prevalência ceu a premência de transformações epistemológicas na

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área, tendo em vista o conhecimento e a crítica acerca paldado por um amplo cadastro de “pacientes particula-
dos condicionamentos históricos, sociais e técnicos res”. Tais “pacientes” são consumidores contumazes das
(Bernardes, 1998; Lane & Sawaia, 1995). “verdades” que a psicologia pode lhes fornecer para ga-
Com o avanço da abertura política e dos movimentos rantir o lugar de “pessoa normal”. Esta opção substan-
sociais a ela associados, muitas práticas psicológicas se tiva a psicologia como um instrumento de manutenção
integraram às perspectivas de emancipação social. O de lógicas naturalizantes dos fenômenos de controle e
movimento pelas eleições diretas, nos anos oitenta e a aniquilação das possibilidades de compreender e articu-
mobilização popular pelo “impeachment” presidencial lar espaços alternativos de produção de vida.
no início da década de noventa, tornou mais intenso o Dentre aqueles profissionais que optam pelo traba-
sentimento e a importância do pertencimento ao cole- lho no âmbito coletivo, muitos têm nas diferentes abor-
tivo. O movimento constituinte e a promulgação da dagens da Psicologia Comunitária suporte teórico e
“Constituição Cidadã”, em 1988, fizeram com que as metodológico para estruturar suas práticas. Assim, na
expressões inclusão, igualdade e cidadania fossem mais medida em que se considera a comunidade como uma
freqüentes na produção de conhecimentos e nas práticas categoria de análise e intervenção relevante no campo
de psicólogos. Além disso, na esfera da saúde coletiva, da psicologia, este tem sido um campo que denota di-
foram fundamentais a Reforma Sanitária, as Confe- versidades tanto na esfera filosófica quanto na política,
rências de Saúde e a implantação do Sistema Único de tendo em vista os contextos de inserção e os projetos
Saúde (SUS). sociais e políticos que legitimam suas práticas (Freitas,
A efetivação dos propósitos do SUS, por exemplo, 2004). Desse modo, para compreender as articulações
objetiva o afastamento do mercado como principal cri- contemporâneas entre psicologia e comunidade, é rele-
tério para a organização dos serviços, na medida em que vante considerar o conceito de comunidade e as constru-
a saúde é considerada um direito constitucional. Os ções protagonizadas pela psicologia neste espaço.
princípios de universalidade, equidade e integralidade,
assim como a inevitável demanda por ações efetivas para Comunidade: Cenário para Construir
a humanização do atendimento, são caracterizados como Conhecimentos a Partir das Relações
direitos de todos os cidadãos. Além disso, a perspectiva O termo comunidade é polissêmico e tem-se caracte-
de regionalização das práticas prioriza as especificidades rizado por fornecer amplas e diversificadas possibilida-
sociais, abrindo espaços de criação de estratégias des de problematização. Diferentes campos do saber têm
direcionadas para a história e a cultura das populações refletido sobre esta categoria de análise tendo em vista
para as quais se dirigem as estratégias de saúde. contextos históricos e políticos. Como em qualquer con-
Atrelar as práticas cotidianas a essas prerrogativas ceito formulado, o de comunidade se conforma às dinâ-
tem significado, desde então, pensar psicologia na di- micas sociais que se processam em cada espaço-tempo.
mensão da universalidade, da equidade, da integralidade Na perspectiva da psicologia social crítica, Bader Sawaia
e da participação da comunidade no planejamento, na (2000) examinou algumas dessas formulações. A autora
gestão e na avaliação das ações no campo da saúde e, mostrou a relevância da dicotomia indivíduo-sociedade
mais recentemente, da assistência. para o estabelecimento das concepções de comunidade
no decorrer dos processos históricos de produção de co-
Ao mesmo tempo, a perspectiva social das práticas
nhecimentos. Constatou que na medida do avanço das
psicológicas tem sido pauta de reflexões diversas o que
tem ampliado a produção de pensamentos e os sentidos relações comunitárias se fortaleceram utopias individua-
sociais atribuídos para as práticas psicológicas. Neste listas e vice-versa.
cenário, originam-se propostas nas quais é evidente a No contexto da globalização, a comunidade pode
criação de práticas em diferentes âmbitos do trabalho no ser depositária da utopia de conversão do egoísmo, da
campo social. Isso provoca o enfrentamento contínuo de exclusão e da fluidez presentes nas relações humanas.
desafios que incitam a invenção de práticas, a reflexão Tal utopia atribui ao espaço das comunidades vivências
teórica sobre elas e o olhar cuidadoso para os seus efei- de parceria e de solidariedade e reaviva a esperança de
tos, tendo em vista os desdobramentos que se efetivam, pertencimento a um grupo desprovido de interesses indi-
as reações provocadas e a ética que as sustenta vidualistas (Bauman, 2003).
(Dimenstein, 2000; Freitas, 2004; Guareschi, 2004). Se examinarmos conceitos já considerados clássicos
Entretanto, o trabalho social não tem sido a perspec- de comunidade como, por exemplo, os formulados por
tiva mais freqüentes nas escolhas profissionais de psicó- Nisbet (1975) e Tönnies (1947/1887), as características
logos. Parece que o imaginário que fundamenta grande de continuidade, intimidade e engajamento em crenças
parte da formação e dos projetos profissionais, se refere comuns estão presentes e reforçam a idéia de que tais
à lógica do profissional autônomo, bem sucedido, res- atributos são constitutivos do espaço comunitário. A as-

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sociação dessas formulações aos modos de vida contem- Penso que a questão das relações comunitárias, ou
porâneos torna evidente o descompasso entre a lógica qualquer outra questão, não pode se restringir às dico-
predominante nas relações da “sociedade líquida” tomias antagônicas que polarizam conceitos (como in-
(Bauman, 2001) e os projetos norteados pelas relações dividualismo e coletividade), e revigoram as lógicas
comunitárias. naturalizantes que adotam e impõem modelos impe-
Assim como as considerações de Bauman (2003) têm ditivos dos processos de criação humana. Bom e mau,
provocado reflexões e debates, a concepção de comuni- certo e errado, real ou irreal traduzem universos fecha-
dade tem sido foco de interesse e de conflitos desde dos, sem possibilidades de problematizações e, conse-
modernidade. Sua lógica era, então, considerada obstá- quentemente sem produção de pensamentos e modos de
culo ao progresso e representava a persistência das tra- existência. A questão das utopias se vincula a essa lógica
dições a serem vencidas. Ao mesmo tempo, o pensamento dicotômica. Existe um espaço essencialmente bom,
conservador da época tinha na comunidade o modelo no qual as pessoas sempre vão fazer o que é verdadei-
ideal de sociedade, ameaçado pelo individualismo e pelo ramente certo e terão ótimas condições de vida, consti-
racionalismo, característicos da lógica da modernidade tuirão relações harmônicas e terão uma convivência
embrionária (Sawaia, 2000). afortunada e venturosa. Essas são as promessas que
estruturam religiões há milênios e compõem peças
A desconstrução deste conceito, então, está marcada
publicitárias há muito tempo.
pelos processos de industrialização e de formação do
estado-nação os quais favoreceram fenômenos de frag- Desta forma, o conceito de comunidade, assim como
mentação da sociedade. Nesse contexto, a busca livre qualquer outro, precisa ser examinado em contexto, ten-
pelo lucro promoveu a dissociação entre produtores e do em vista os sentidos que produz e, consequentemente,
fontes de subsistência, a ruptura entre laços morais e as práticas que abriga. Posso falar na comunidade como
emocionais e propiciaram os modos de vida capitalistas um não-lugar, uma utopia, mas posso usá-la como modo
com seus ritmos regulados externamente. Além disso, a de falar de um lugar no qual pessoas convivem e contatam
racionalidade predominante impôs rotinas e processos com a alteridade.
de naturalização dos padrões de conduta “abstratamente Considero a comunidade como mais um lugar impre-
projetados e ostensivamente artificiais” (Bauman, 2003, visível, no qual as pessoas vivem seu cotidiano (Cam-
p. 39). A partir do atrelamento a padrões abstratos e pos, 1992) e se relacionam, traduzindo os modos de vida
naturalizados dos modos de ser e viver humanos, as rela- contemporâneos, tanto na fragmentação e naturalização
ções sociais são pautadas pelo privilégio de minorias e, da vida quanto na possibilidade de desejar, conviver e
consequentemente, pela multiplicação incontrolável de criar. Neste espaço, podem ser articuladas práticas so-
pessoas não reconhecidas pela sociedade que as segrega ciais e, quem sabe, o não-lugar delimitado pelas utopias
e/ou descarta (Bauman, 2005). seja apenas um sonho, que como disse Galeano (1994),
Esse modo de articular relações sociais coopta o está no horizonte, é inatingível, mas nos leva a caminhar.
conceito de comunidade e estabelece a construção de Psicologia Comunitária: Construção Coletiva de
guetos que perpetuam e aprofundam a divisão social de Práticas Psicológicas
classes. A partir de tal conformação homogeneidades e A Psicologia Comunitária dedica-se a estudar,
diferenças são determinadas pela divisão de classes. compreender e intervir no cenário de questões psicosso-
Ou seja, os espaços sociais são disponibilizados de ciais que caracterizam uma comunidade. Salienta-se por
acordo com o lugar social ocupado pelos sujeitos, por sua praticidade e pela diversidade das opções teóricas e
exemplo, condomínios fechados ou favelas. Assim, os intencionalidades que estruturam seus fazeres. Irma
guetos traduzem a negação da comunidade, enquanto o Serrano-Garcia e Collazzo (1992) desenvolveram um
comunitarismo permanece uma demanda presente estudo comparativo no qual procuraram explicitar as
(Bauman, 2003). diferenças evidentes entre as práticas de Psicologia
Numa sociedade na qual parceiros são adotados ou Comunitária nos EUA e na América Latina. Para tanto,
descartados, de acordo com sua utilidade e funciona- examinaram experiências realizadas em comunidades,
lidade, os compromissos por tempo indeterminado e os tendo em vista os marcos conceituais que caracteriza-
vínculos mais duradouros poderiam interromper ou vam os fazeres em comunidades em cada um desses
ameaçar os modos de vida contemporâneos. Nesse caso, territórios. Dentre os resultados deste estudo está a de-
que elementos teríamos para sustentar a idéia de comu- limitação de modos de desenvolver Psicologia Comu-
nidade? Que espaços poderiam ser engendrados para nitária. As práticas estadunidenses revelaram a adoção
enfrentar o refinamento histórico das formas de explo- de intervenções estruturadas na psiquiatria clínica
ração e controle traduzidas no desemprego, na desesta- comunitária, na psicologia condutista, na perspectiva
bilidade e nas incertezas? ecológico-contextual e na psicologia organizacional,

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entre outras. Já na América Latina, a análise dos dados dedicadas à dicotomia antagônica entre comunidade e
ressaltou maior diversidade de marcos conceituais que individualidade (Bender,1978).
revelaram a busca de apoio na dialética marxista, em As dicotomias e antagonismos também se eviden-
estudos transculturais, na preocupação com o desenvol- ciavam em movimentos sociais da época que denuncia-
vimento social e econômico, com a tecnologia, com a vam contradições, desigualdades e inconsistências entre
ação e mudança social e com a interdependência entre direitos humanos e os modos de relação que vigoravam
fatores estruturais, psicológicos e condutuais. na sociedade. É o caso da militância anti-racista e dos
Dentre os marcos conceituais ressaltados pelos auto- movimentos feminista e estudantil, por exemplo. Ao
res para descrever o trabalho Social Comunitário pre- mesmo tempo, políticas sociais articulavam bem-estar e
dominante na América Latina, está a Psicologia Social avaliação dos serviços em saúde nos Estados Unidos da
Comunitária. Essa, por seu caráter histórico-crítico e América e na Europa (Vianna, 1991). Além disso, os
generalista, tem sido um campo de trabalho no qual a movimentos da antipsiquiatria e institucionalista ques-
interlocução com os movimentos sociais e com outros tionavam os conceitos e as práticas de saúde mental e a
saberes pode inspirar práticas atentas à complexidade psiquiatria de setor deixava de ser uma proposta para
do cotidiano. tornar-se uma ação efetiva que muito influenciou na
A adoção da comunidade como lócus do interesse da ampliação e diversificação da psicologia como prática.
psicologia foi considerada tardia. A Psicologia Comu- Como já vimos anteriormente na América Latina, as
nitária como disciplina só foi assim denominada em 1965 ditaduras decretavam a morte civil em grande parte dos
(Montero, 1994a) e o conceito de comunidade como ca- países do continente. A experiência de viver nesse con-
tegoria de análise das ciências psicológicas somente foi texto de repressão e sofrimento provocou, por parte de
utilizado a partir dos anos setenta (Sawaia, 2000). Até alguns intelectuais, questionamentos quanto à respon-
então, o estudo das comunidades era mais afeito, princi- sabilidade social da Psicologia. Referindo esse período,
palmente, aos campos da sociologia e da antropologia. Lane (1996, p. 68) afirmou: “Diante desse quadro o
As interlocuções entre psicologia e comunidade se nosso cotidiano não nos permitia ficar em torres de mar-
intensificaram na medida em que as práticas psicológi- fim pesquisando neutramente”. Emergiram, então, ini-
cas dialogaram com outras áreas, com o saber popular e ciativas de aproximação entre psicologia e comunidades
com os contextos sócio-políticos nos quais se estabele- de classes populares, numa tentativa de deselitizar as
ciam. A experiência de vivenciar um conflito da dimen- práticas psicológicas e marcar sua relevância social
são da Segunda Guerra Mundial, por exemplo, marcou (Scarparo, 2005).
os modos de pensar, viver e agir da humanidade. No Na Argentina, Enrique Pichon-Riviere e José Bleger
âmbito da Psicologia Social aconteceram mudanças que enfatizaram a efetivação de trabalhos sociais como
modificaram de tal forma essa esfera do saber que Hitler ponto de partida para mudanças epistemológicas e práti-
foi jocosamente mencionado como importante intercessor cas nos enfoques de Psicologia Social (Bleger, 1992).
nos processos de construção da Psicologia Social Mo- Apoiados em idéias marxistas e na psicanálise, ampla-
derna (Farr, 2002). Dentre os aspectos que contribuíram mente difundida na Argentina, esses intelectuais empe-
para tais transformações está a necessidade de repensar nharam-se em refletir teoricamente fenômenos grupais.
os processos sociais e as relações entre teorias, práticas, Tal esforço possibilitou o entendimento dos processos
processos de investigação, produção de conhecimentos de grupos, instituições e comunidades, através da proble-
e as éticas que os justificam. matização das suas especificidades (Pichon-Rivière,
Esse movimento dialógico inaugurou perspectivas 2000). José Bleger tentou consolidar saberes sobre a sub-
psicológicas. Assim, aspectos familiares, ambientais e jetividade no âmbito da teoria marxista (Rodrigues, 2004)
culturais passaram a compor mais enfaticamente as e associou o conceito de psicohigiene (Bleger, 1992) ao
teorias, ampliaram as concepções de saúde mental e, con- trabalho comunitário. Para tanto, referiu a necessidade
seqüentemente, as possibilidades de integração entre de considerar o cotidiano das populações e questionou
psicologia e comunidade. Por exemplo, no final da déca- as práticas de patologização dos fenômenos humanos.
da de cinqüenta integrantes do “Institute of Community Na área da Sociologia, a indignação com a preca-
Studies” divulgaram a pesquisa “Family and Kinship in riedade da vida das populações oprimidas e o desejo de
East London”. Esse estudo demonstrou que, na época, mudar essa condição também caracterizou propostas de
havia expectativa de diluir a uniformidade, a estabilida- inserção junto às classes populares (Montero, 1994b). O
de e a insipidez dos tempos pós-guerra. Existiam, na colombiano Orlando Fals Borda (1979), por exemplo,
época, publicações, nas quais os atrativos emocionais associou a categoria consciência à construção de uma
dos estudos comunitários eram ressaltados, estimulando Sociologia militante, na qual a busca de transformação
as pesquisas, reflexões e, até mesmo, obras literárias social só poderia ocorrer na conjugação de saberes,

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fazeres e contextos. Do mesmo modo, Paulo Freire abriu nas relações (Bauman, 2001). Nessa perspectiva, é per-
espaços sociais para a Educação Popular, uma proposta tinente refletir sobre a Psicologia Social Comunitária con-
político-pedagógica emancipatória que anseia por es- siderando a contribuição dessa perspectiva de estudo e
forços coletivos de humanização (Freire, 2004). O con- trabalho para a formação profissional.
tato com pensamentos que bradavam pela instauração
de críticas quanto às circunstancias políticas e sociais Formação e Compromissos Sociais
vividas criou, no âmbito da psicologia, movimentos de
crítica ao determinismo, a exclusão de modelos únicos As práticas psicológicas, dentre essas aquelas
de fazer científico e o abandono do sentido da psicologia dedicadas à formação de psicólogos, consubstanciam-
como um objeto dado. se em processos de interconexão entre acontecimentos,
pensamentos e reações que estabelecem ritmos diferen-
No final dos anos 70, foi criado, na Venezuela, o
tes para o conhecimento e, consequentemente, mudan-
Centro a Serviço da Ação Popular. Apoiados na pes-
ças epistemológicas. A partir de tais mudanças incluem-
quisa-ação, seus integrantes envolveram-se em trabalhos
se no campo da ciência psicológica objetos inusitados.
educacionais e de organização comunitária, além de
Alguns negligenciados ao longo dos tempos, outros, que
estruturar unidades de produção. A multiplicação de
práticas desse tipo facilitou sua adoção pelas universi- traduzem os objetivos, fins e intenções de uma época.
dades. Através do trabalho de estudantes, projetos co- Assim, ao abordar questões relativas à formação pro-
munitários aconteceram em Porto Rico, na Venezuela, fissional é importante que levemos em conta o momento
no Brasil e no México entre outros países (Freitas, 1998; histórico vivido no exame dos projetos sociais que jus-
Lane, 1996). tificam e estruturam as propostas curriculares e seus
A ampliação de trabalhos comunitários implicou a desdobramentos. A psicologia, como profissão tem sido
necessidade de intercâmbio da comunidade científica. caracterizada pela prevalência de modelos caracterís-
Havia dificuldade de comunicação entre os pesquisado- ticos da sociedade ocidental moderna e, em muitas
res e parcos recursos para a divulgação dos trabalhos. ocasiões, posiciona-se com distanciamento dos contex-
Em função disso, foi criada a Associação Venezuelana tos históricos e culturais nos quais se processam os fenô-
de Psicologia Social – AVEPSO – em 1980 (Bernardes, menos de interesse para a área. Como decorrência, são
1998). No Brasil, durante a 32ª Reunião Anual da Socie- muitas as contradições entre os modelos e estratégias
dade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC), profissionais disponíveis e as propostas ou demandas
foi criada a Associação Brasileira de Psicologia Social – advindas das diferentes circunstâncias de vida.
a ABRAPSO (Freitas, 1996). Essa pretendia favorecer Um dos exemplos de tais contradições é a discrepân-
a articulação de uma Psicologia Social Crítica (Lane & cia entre a necessidade de trabalho no âmbito das políti-
Sawaia, 1995, p. 7) com possibilidades transformadoras. cas sociais e o despreparo dos profissionais para enfren-
Nos anos seguintes recrudesceram cursos de gra- tar os desafios relativos a esse campo de trabalho. Esse
duação e pós-graduação na área. As universidades abri- enfrentamento implica em assumir o compromisso de
ram espaços para trabalhos comunitários articulando compreender a magnitude das questões abordadas ao
produção de conhecimentos e trabalho social. É o caso planejar, gerir e avaliar ações. Para tanto, é urgente que a
do estudo realizado por Montero (1994c) que descreve formação favoreça o conhecimento e a crítica dos pres-
seu trabalho junto à população das imediações de Ca- supostos das políticas sociais e da amplitude do espaço
racas. Ao divulgar o trabalho a autora apontou para a público. Caso contrário podem se multiplicar práticas
necessidade de discutir as bases epistemológicas e as elitistas e inacessíveis às pessoas para as quais se supõe
ideologias subjacentes às práticas comunitárias. Esse tem igualdade de direitos.
sido um desafio continuado na medida em que habita- Pensamos que o processo de formação precisa legi-
mos tempos e espaços em movimento. timar a necessidade de revisão e questionamento das
Contemporaneamente, a relação psicologia-comu- práticas cotidianas no sentido de articular estratégias de
nidade se edita tendo em vista outras perspectivas. As ensino e processos emancipatórios. Desse modo é im-
transmutações ocasionadas pelo acirramento do proces- prescindível problematizar e discutir a própria psicolo-
so de globalização articularam maneiras diversas de gia no que se refere aos sentidos que tem produzido, aos
significar o mundo e de viver coletivamente. A lógica papéis dos quais apropria e ás idéias que veicula, articu-
instrumental se estabelece nas tensas relações humanas lando uma gama de instâncias simbólicas implicadas nos
a partir da economia e da política. A convivência carac- processo de subjetivação contemporânea.
teriza-se pela premência de espaços e de tempos, pela A perspectiva de trabalho resultante só é possível,
racionalização exacerbada, por processos de desterri- portanto, se imbricada na aprendizagem continuada, o
torialização e pela predominância de impessoalização que exige que o profissional envolvido na tarefa se arti-

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Scaparo, H.; Guareschi, N. “Psicologia Social Comunitária e Formação Profissional”

cule em diferentes direções, sendo receptivo a outros ferentes áreas do conhecimento em promover espaços
saberes, aos imprevistos e às eventuais mudanças de per- de diálogo e reflexão. Assim, um dos primeiros desafios
curso. é a transformação de práticas unidisciplinares em busca
Essas condições supõem sujeitos criadores e propo- de construção de relações interdisciplinares.
sitivos. Por decorrência se trata de pessoas e grupos A busca de uma identidade se transforma num pro-
dispostos a tomar para si a responsabilidade de gerar cesso tecido continuamente, na medida dos acontecimen-
acontecimentos. Neste contexto não há possibilidade de tos, das leituras, dos diálogos, da passagem do tempo
obediência cega a padrões uniformes e rituais preesta- vivido... O profissional constitui-se e reconhece-se na
belecidos. relação com o inusitado e na criação da psicologia.
Para tanto é urgente que a aprendizagem, base da As propostas de trabalho social comunitário têm como
formação profissional se estruture na prática, na vivencia pressupostos as práticas interdisciplinares, reflexões
de experiências e no exercício da efetivação de projetos teóricas sobre as experiências cotidianas, socialização
que articulem e transformem as perspectivas do mundo de saberes, participação e exame crítico das implicações
acadêmico e da população numa autêntica produção de políticas de cada prática (Campos, 1992). Nessa dimen-
saberes compartilhada. são a formação precisa priorizar a construção de espa-
Nos princípios e compromissos estipulados pelo Mi- ços para a constituição de vínculos, de valorização de
nistério de Educação e Cultura, nas diretrizes curriculares projetos coletivos nos quais os conhecimentos sejam
para o ensino superior, as expectativas para a formação instrumentos emancipatórios e, ao mesmo tempo, obje-
do psicólogo se referem à habilidade em lidar com a di- tos de análise e produção de pensamento. A efetivação
versidade em contexto. Tais diretrizes se dirigem para desses movimentos problematiza a manutenção de
práticas sociais e para a formação de profissionais hegemonias, duvida de códigos tidos como verdades
generalistas, com perspectivas interdisciplinares e que inquestionáveis, reformula idéias e ressignifica práticas.
respondam criativamente às demandas da população a Curiosamente, se nos dedicarmos ao exame das trajetó-
qual se dedica, considerando suas especificidades. Ou rias de construção da Psicologia Social Comunitária na
seja, ao modelo profissional sugerido está associado à América Latina, encontraremos relatos de ações contra-
habilidade de compreensão integral e contextualizada dos hegemônicas, questionadoras e criativas no que tange à
fenômenos psicológicos. produção de pensamentos e à proposição de práticas.
Se considerarmos questões relativas à formação
profissional no Brasil, veremos que psicólogos preten- Formar-se ou Assumir a Condição
samente “formados”, no mais das vezes, estão presos a de Autor?
modelos descontextualizados de inserção no trabalho.
Persistem projetos profissionais em que o trabalho é sig- Ao associar aspectos da história da psicologia no
nificado como atendimento no âmbito privado, em Brasil, com perspectivas da psicologia comunitária e as
espaços convencionais como gabinetes ou consultórios. práticas relativas à formação de psicólogos não podería-
Este modelo estrutura seu projeto profissional e social a mos deixar de considerar a vivencia cotidiana com o
partir da lógica do consumo, o que sugere o atendimento impermanente que nos impõem os modos de vida pós-
ao cliente privado e não ao integrante de uma rede públi- modernos (Bauman, 2001). Conhecimento, formação e
ca de atenção básica. comunidade são apenas alguns dos conceitos que tem
Observamos frequentemente práticas formadoras sofrido propostas radicais de transformação na esteira
associadas a um processo de idealização do fazer profis- de mudanças paradigmáticas em todos os níveis de com-
sional que se estrutura em perspectivas extemporâneas e preensão humana. Ou seja, as promessas de verdade e
fragmentadas. É preciso, então, compreender a forma- ordem do projeto da modernidade dão lugar ao cultivo
ção como um processo generalista de educação perma- inexorável de incertezas e indeterminações (Bauman,
nente que supõe um sujeito criador que redesenhe ciên- 2003).
cia e profissão na praxis. Cabe ressaltar que essa não é As dúvidas e perplexidades se mostram contunden-
uma tarefa pequena ou simples. Para tanto, é necessário tes no que toca aos espaços e às formas de convivência
abandonar os territórios de conforto conquistados com a social. No que se refere ao âmbito educacional é óbvia a
adoção de modelos convencionais de produção de co- falência da concepção epistemilógica baseada na
nhecimento e atuação profissional. Por exemplo, a pers- praticidade positivista que valoriza a idéia de profissão
pectiva unidisciplinar, centrada na psicologia, para com- instrumental, suficientemente potente para solucionar
preender os fenômenos que se precipitam no cotidiano problemas a partir da aplicação de rigor científicos e
da comunidade é restritiva e reduz a complexidade das métodos eficientes. Curiosamente esta concepção é pre-
relações coletivas e das próprias possibilidades das di- dominante nos cursos de formação acadêmica, apesar

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Psicologia & Sociedade; 19, Edição Especial 2: 100-108, 2007

da constatação de que ela não atende às exigências coti- Campos, R. (1992). Trinta anos de regulamentação: Análise de
dianas para o profissional nos contextos de inserção nos Regina Helena Freitas Campos. Psicologia: Ciência e Pro-
quais poderia atuar (Gomes & Casagrande, 2002). fissão, 12(1), 05-07.
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O descompasso entre demandas sociais e formação pelas práticas psi no Brasil do milagre. Rio de Janeiro, RJ:
denota fragmentações que se traduzem em dissociações Oficina do Autor.
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sociedade que as segrega e/ou descarta perpetuando e Dias, C. (2001) Considerações sobre elaboração de currículos
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profissional deve partir da problemática da própria cons- ideário individualista: Implicações para a prática no campo
trução do conhecimento psicológico, tendo em vista os da assistência pública à saúde. Estudos de Psicologia, 5(1),
sentidos que produz e, consequentemente, as práticas que 95-122.
abriga. Ou seja, a formação não pode prescindir do conhe- Farr, R. (2002). As raízes da Psicologia Social moderna.
cimento de diferentes paradigmas e da contínua tentati- Petrópolis, RJ: Vozes.
va de apreensão dos múltiplos reflexos e possíveis efei- Freire, P. (2004). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro, RJ:
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Desse modo, os processos educacionais, a exemplo Comunidade e Psicologia (Social) Comunitária: Práticas
da história de construção das práticas sociais em comu- da Psicologia em comunidade nas décadas de 60 a 90, no
nidades, precisam se apoiar na discussão contínua da ética Brasil. In R. Campos (Ed.), Psicologia Social Comunitá-
dos projetos sociais que os sustentam. Como decorrên- ria: Da solidariedade à autonomia. (pp. 54-80). Petrópolis,
cia, o sujeito abandona a condição de alguém a “ser for- RJ: Vozes.
mado” e assume autoria da construção da sua prática Freitas, M. (1998). Novas práticas e velhos olhares em Psicolo-
gia Comunitária: Uma conciliação possível? In L. Souza,
profissional, revisando conceitos e marcas identitárias.
M. Freitas & M. Rodrigues (Eds.), Psicologia: Reflexões
Tal autoria se processará pela ocupação do lugar de ori- (im)pertinentes (pp. 83-108). São Paulo, SP: Casa do Psicó-
gem do fazer profissional e ser por ele responsável. As- logo.
sim, adquire e ressignifica saberes, propõe interlocuções Freitas, M. (2004). Desafios contemporâneos à Psicologia Soci-
na diversidade e articula contínuamente imaginação, al Comunitária: Que visibilidade e que espaços têm sido
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Helena Beatriz Kochenborger Scarparo é psicóloga,


mestre em Educação e doutora em Psicologia pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUC-RS). Atualmente é conselheira titular do Conselho
Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul e
professora da PUC-RS. Endereço para correspondência:
PUC-RS, Faculdade de Psicologia, Departamento de
Psicologia Escolar. Avenida Ipiranga, 6681, Partenon,
Porto Alegre, RS, 90619-900. Telefone: (51) 33203500;
Ramal: 3550; Fax: (51) 32003614.
[email protected]

Neuza Maria de Fátima Guareschi é psicóloga,


especialista em Psicologia do Trabalho e Organizacional
e mestre em Psicologia Social e da Personalidade pela
PUC-RS. Doutora em Educação pela University of
Wisconsin - Madison. Atualmente é Professor com
dedicação exclusiva da Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul, Conselheira da Associação
Brasileira de Psicologia Social, Coordenadora do Comitê
de Avaliação da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado do Rio Grande do Sul, Conselheira do Conselho
Regional de Psicologia e Tesoureira da Associação
Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia.

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