Biomecânica e Andar Descalço

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Estudo da USP recomenda andar descalço para evitar lesões durante a

corrida

Pesquisa demonstra que o uso constante de tênis com tecnologia de


amortecimento pode enfraquecer a musculatura dos pés

30/08/2021 Redação

Segundo pesquisa, exercícios simples são mais efetivos que a proteção dos calçados | Foto: Getty
Images

Pesquisas reunidas pela Faculdade de Medicina da Universidade de São


Paulo (FM-USP) desfazem a orientação do uso constante de tênis com
amortecimento para evitar lesões em corridas.

Segundo o consórcio de estudos de ortopedia, ao contrário, o uso de


calçados com alta tecnologia tornam o principal sistema de amortecimento
do organismo, os pés, mais fraco e sujeito a lesões. Para os pesquisadores,
caminhar mais com os pés descalços fortalece a massa, a força e a
funcionalidade dos 35 músculos, 33 articulações e 108 ligamentos que
compõe a estrutura de cada pé.

Segundo os estudos, tênis pode atrofiar estrutura do pé

“As estruturas todas dos pés acabam se atrofiando com o uso reiterado
desse tipo de calçado. É como se alguém passasse a utilizar diariamente um
colar cervical para prevenir o pescoço de dores devido ao uso contínuo de
telas. Em pouco tempo, a musculatura do pescoço perderia massa, força e
funcionalidade”, disse Isabel Sacco, coordenadora do Laboratório de
Biomecânica do Movimento e Postura Humana da FM-USP, à Agência
Fapesp.

Isabel Sacco coordena o Projeto Temático “Biomecânica e aspectos


funcionais do sistema musculoesquelético de corredores: efeito crônico de
exercícios terapêuticos e do envelhecimento”, apoiado pela Fapesp. Dele
participam pesquisadores da USP, da Universidade Federal do ABC (UFABC),
da Universidade de Amsterdã (Universiteit van Amsterdam, UvA), da
Holanda, e do Instituto Ortopédico Rizzoli (Istituto Ortopedico Rizzoli, IOR),
da Itália.

Em artigo publicado no The American Journal of Sports Medicine, a


pesquisadora demonstra que um treinamento simples para os pés reduziu
em duas vezes e meia o risco de lesões em corredores recreacionais.

“A solução não é parar de correr. Mas adotar medidas preventivas que


reduzam ou ao menos retardem o risco de lesão. Alongamento não
funciona. É muito importante para a manutenção da saúde do sistema
musculoesquelético, mas não para prevenir lesão. Orientação on-line e
cartilhas para educar o corredor quanto a estratégias preventivas para a
corrida, ou ainda condicionamento físico específico, também se mostraram
ineficazes. Porque a lesão é multifatorial e não será um calçado ou um
aquecimento especial que resolverá esse problema”, afirma Sacco.

Segundo a pesquisadora, o principal fator de risco para lesão é já ter


sofrido alguma lesão anterior. Isso porque o corpo se vê obrigado a fazer
uma série de compensações com o intuito de proteger a região lesionada e,
assim, fica mais vulnerável a novas lesões.

“O que descobrimos em nossa pesquisa foi que a melhor defesa do


corredor contra lesão é melhorar a estrutura musculoesquelética dos pés
para ganhar força e funcionalidade. Trabalhamos com um contingente de
120 corredores recreacionais. De forma aleatória, uma metade combinou a
corrida com alongamentos, que foram adotados como placebo. E a outra
metade combinou a corrida com treinamento para os pés. Depois de oito
semanas, o ‘grupo treinamento’ teve uma redução de 2,42 vezes no número
de lesões, comparativamente ao ‘grupo placebo’. Exames de ressonância
magnética mostraram que, de fato, as pessoas que receberam treinamento
tiveram um aumento de volume na musculatura dos pés”, relata Sacco.

De acordo com o estudo, a melhoria da saúde dos pés dos voluntários não
contribuiu apenas para diminuir a incidência de lesão ou retardar sua
eventual ocorrência. Modificou também a biomecânica da corrida, com um
aumento da capacidade de impulsão vertical.

Exercícios contra lesões para fazer em casa

 Elevação do arco do pé: Com o calcanhar e os dedos encostados no


chão, elevar o arco do pé (a curva na parte interna dos pés). Fazer força
com os músculos da sola do pé e sem diminuir a distância do calcanhar
ao dedão. Devem ser feitas 3 séries de 15 repetições.
 Encurtamento do pé: Com o calcanhar, os dedos e as cabeças dos
metatarsos (ossinhos na sola do pé perto dos dedos) encostados no
chão, elevar o arco do pé (a curva na parte interna dos pés), sem tirar os
dedos ou as cabeças dos metatarsos do chão. Deve-se forçar com os
músculos da sola do pé e sem diminuir a distância do calcanhar aos
metatarsos. Faça 3 séries de 15 repetições.
 Abrir e fechar os dedos dos pés: abrir os dedos dos pés bem devagar,
levantando os dedos o mínimo possível. Três séries de 15 repetições
cada.

Além dos exercícios, a especialista diz que a forma mais simples e natural
de fortalecer os pés é andar sem calçados sempre que possível. Uma
alternativa são os chamados calçados minimalistas. Os tênis leves ou
“molecas” deixam os pés menos imobilizados em seu interior. “Em outro
estudo de nosso grupo, já mostramos que pessoas que sentiam dores nos
joelhos por conta da osteoartrite apresentaram uma melhora de 62%
depois que passaram a usar molecas”, disse Sacco.

Fontes: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), Agência


Fapesp

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