Moreira, Ana Paula
Moreira, Ana Paula
Moreira, Ana Paula
PONTA GROSSA
2017
ANA PAULA MOREIRA
PONTA GROSSA
2017
Dedico este trabalho ao meu bebê Guilherme, que me desestabilizou ao término da
minha pesquisa, entre medos e receios neste princípio gestacional, mas que em
contrapartida me mostrou a face mais brilhante da felicidade. Já o amo imensamente
e, hoje ainda mais, tenho motivos de sobra para me esforçar e continuar meus
estudos e, assim, alcançar o desejado exercício da docência.
AGRADECIMENTOS
O PAA como uma política pública tem como finalidade fomentar a agricultura familiar
por meio da produção de alimentos e sua distribuição em quantidade, qualidade e
regularidade necessárias às populações em situação de insegurança alimentar e
nutricional. Sendo o primeiro programa de compras públicas destinado
exclusivamente à agricultura familiar e tendo como uma das metas a geração de renda
para os agricultores familiares por meio da comercialização de seus produtos, esta
pesquisa buscou avaliar a eficácia do PAA agroecológico, investigando o seu impacto
no fortalecimento da agricultura familiar a partir da averiguação dos motivos da
adesão, permanência e/ou desistência dos agricultores familiares no PAA
agroecológico, verificando se o mesmo pode desencadear um avanço no
desenvolvimento rural e na sustentabilidade da agricultura familiar. Para cumprir este
objetivo, foi realizado um estudo de caso na Associação de Agricultura Ecológica
Familiar Conchas Velhas, no município de Ponta Grossa – PR, mediante a realização
de entrevistas semiestruturadas e aplicação das ferramentas de DRP – Diagnóstico
Rural Participativo [análise swot (fofa), matriz de priorização de problemas e matriz de
prioridade] aos agricultores familiares. A partir da pesquisa empírica, ficou evidente a
importância que as políticas públicas podem assumir no contexto da agricultura
familiar, em especial, utilizando-se da avaliação da eficácia do PAA agroecológico,
que, na ótica dos agricultores familiares da Associação de Agricultura Ecológica
Familiar Conchas Velhas, promoveu o fortalecimento dos agricultores familiares, no
que tange à garantia de renda, maior diversificação da produção, acesso e ampliação
do mercado.
GRÁFICO 3 - Área Total e área cultivada em hectares (ha) das propriedades rurais
da Associação de Agricultura Ecológica Familiar Conchas Velhas ........................... 87
AB Agricultura Biológica
ABIO Associação de Produtores Biológicos do Estado do Rio de
Janeiro
AF Agricultor Familiar
ATER Assistência Técnica e Extensão Rural
BPC Benefício de Prestação Continuada
CA Certificação por Auditoria
CAAE Certidão de Apresentação para Apreciação Ética
CD Compra Direta
CDAF Compra Direta da Agricultura Familiar
CF Constituição Federal
CLACSO Centro Latino Americano de Ciências Sociais
CNPOng Confederação Nacional de Produção Orgânica
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento
CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
CONTAG Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura
CPR Cédula Produtor Rural
CUT Central Única de Trabalhadores
DAP Declaração de Aptidão ao Pronaf
DNTR Departamento Nacional de Trabalhadores Rurais
DOU Diário Oficial da União
DRP Diagnóstico Rural Participativo
DS Doação Espontânea
FE Formação de Estoque
IBD Instituto Biodinâmico
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IFOAM Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura
Orgânica
IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
MAB Movimento dos Atingidos por Barragens
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
MDA Ministério Desenvolvimento Agrário
MDS Ministério de Desenvolvimento Social
MDSA Ministério de Desenvolvimento Social e Agrário
MESA Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à
Fome
MST Movimento Trabalhadores Sem Terra
OCC Organismos de Certificação Credenciados
OEDC Organization for Economic Cooperation and Development
PAA Programa de Aquisição de Alimentos
PBF Programa Bolsa Família
PcD Pessoa com Deficiência
PFZ Programa Fome Zero
PGPAF Programa de Garantia de Preço da Agricultura Familiar
PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar
PNSA Politica Nacional de Segurança Alimentar
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PTC Programa Territórios da Cidadania
RIMISP Centro Latino-americano para el Desarollo Rural
SAN Segurança Alimentar e Nutricional
SBC Sistema Brasileiro de Certificação
SEAF Seguro da Agricultura Familiar
SEM Sementes
SOS Serviço de Obras Sociais
SPG Sistema Participativo de Garantia
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 19
2. POLÍTICAS PÚBLICAS: DEFINIÇÃO, ABORDAGENS E AVALIAÇÕES ............. 23
2.1 POLÍTICA PÚBLICA PARA AGRICULTURA FAMILIAR .................................. 28
2.1.1 Política Pública para a Agricultura Brasileira: Evolução histórica .............. 29
2.1.1.1 O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) ....................................... 36
2.1.1.1.1 Evidências Empíricas do Efeito do PAA sobre o Fortalecimento da
Agricultura Familiar...............................................................................................47
2.2 AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS ........................................................ 52
3. AGRICULTURA FAMILIAR NO BRASIL ............................................................... 58
3.1 AGRICULTURA FAMILIAR ORGÂNICA .......................................................... 63
4. AVALIAÇÃO DO PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS – PAA NA
ÓTICA DOS AGRICULTORES FAMILIARES DA ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTURA
ECOLÓGICA FAMILIAR DE CONCHAS VELHAS .................................................... 74
4.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.........................................................74
4.2 ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTURA ECOLÓGICA FAMILIAR DE CONCHAS
VELHAS: CARACTERÍSTICAS DA ASSOCIAÇÃO E ESTRATÉGIA EMPÍRICA.. 78
4.2.1 Descrição das Propriedades e dos Agricultores Familiares .......................... 85
4.3 AVALIAÇÃO DO PAA NA ÓTICA DOS AGRICULTORES .............................. 89
4.3.1 A Renda da Agricultura Familiar e Sua Composição ................................. 89
4.3.2 PAA e a Produção Orgânica ...................................................................... 93
4.3.3 O PAA Agroecológico na Ótica dos Agricultores Familiares ...................... 95
4.3.4 O PAA Agroecológico na Ótica dos Agricultores Familiares que deixaram
de Participar do Programa ................................................................................ 103
4.3.5 Avaliação Grupal dos Agricultores Familiares acerca do PAA agroecológico
– Ferramentas DRP .......................................................................................... 106
CONCLUSÃO ..........................................................................................................111
REFERÊNCIAS ........................................................................................................114
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista para presidente da Associação de Agricultura
Ecológica Familiar de Conchas Velhas ................................................................... 120
APÊNDICE B – Roteiro de entrevista para agricultores familiares inseridos no PAA
agroecológico de 2015 ............................................................................................ 122
APÊNDICE C – Roteiro de entrevista para agricultores familiares participantes do
PAA agroecológico de 2010 ... ................................................................................ 127
APÊNDICE D – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (T.C.L.E) ............... 131
ANEXO A – Parecer de Aprovação do Comitê de Ética .......................................... 133
ANEXO B – Autorização para realização de pesquisa ............................................ 135
ANEXO C – Foto do momento da aplicação das ferramentas de DRP ................... 137
19
1. INTRODUÇÃO
1É uma organização que desenvolve atividades de certificação de produtos orgânicos e biodinâmicos. Fonte:
http://planetaorganico.com.br/site/index.php/certificadora-ibd/
22
rurais, dentre as quais, quatorze (14) participaram do PAA agroecológico no ano de 2015
(finalizado em setembro de 2016).
A escolha dessa Associação partiu em decorrência de ser a única, em Ponta Grossa,
inserida no PAA agroecológico no ano de 2010 a 2015, com produção estritamente
orgânica, enquadrando-se somente no PAA-agroecológico (conforme se pode observar no
item 4.1). Ressalta-se que outras associações e cooperativas do município também
participaram do PAA nesse período, porém na modalidade convencional ou mista
(convencional e agroecológica).
Os resultados alcançados na realização da pesquisa são apresentados em cinco
capítulos. O primeiro introduz a temática da pesquisa e delineia os procedimentos
metodológicos utilizados. O segundo capítulo, intitulado Política Pública, definições,
abordagens e avaliações, versa sobre os conceitos da política pública, o ciclo de políticas
públicas e, ainda, a compreensão recente da política pública na abordagem cognitiva,
adotada nesta pesquisa. Em seguida tem-se como desdobramento a política pública para
a agricultura familiar, sua construção histórica no Brasil e seu desenvolvimento, culminando
na criação do Programa de Aquisição de Alimentos.
O terceiro capítulo, denominado Agricultura familiar no Brasil, contextualiza a
agricultura familiar, abordando algumas conceituações sobre o tema, inferindo acerca da
agricultura familiar no Brasil e sua relevância e construção histórica, trazendo ainda a
agricultura familiar orgânica, seu surgimento, bases teóricas e a sua dinâmica na
sustentabilidade da terra, da produção como contracorrente à produção agrícola
convencional.
O quarto capítulo, intitulado Avaliação do Programa de Aquisição de Alimentos –
PAA na ótica dos agricultores familiares de Conchas Velhas – foi estruturado no enfoque
da avaliação do PAA do agroecológico: estudo de caso da Associação Agricultura Ecológica
Familiar Conchas Velhas. Sob a percepção dos agricultores familiares, é demonstrado se
o PAA agroecológico, enquanto uma política pública, corrobora o fortalecimento da
agricultura familiar. E por último, a conclusão objetiva mensurar os resultados desta
pesquisa, pontuando as opiniões e recomendações desta pesquisadora.
23
2 Refere-se tanto a uma economia ou sistema de produção e troca orientado pelo mercado quanto a uma
sociedade em que o controle sobre a propriedade seja requerida para a produção (capital) esteja concentrado
nas mãos de uma pequena parcela da população, enquanto a maior parte do restante vende seu tempo de
trabalho num sistema de salários. Isso dá a base a um traço crítico do capitalismo: a necessidade de as
24
empresas produzirem lucro ou acumularem capital [...] tentam influenciar os governos de forma direta, além
de o fazerem de forma indireta por meio de afiliações a várias associações empresariais. (HOWLETT;
RAMESH; PERL, 2013, p. 61).
3 Como um plano de organização política, um sistema de tomada de decisão política, que envolve a
estruturação do controle do Estado no dia-dia por meio de instituições representativas, cujos titulares são
eleitos periodicamente. E confere ao cidadão o direito de escolher quem eles querem que os represente no
poder. (BALEY, 1988, p. 1 apud HOWLETT; RAMESH; PERL, 2013, p. 64)
25
Identificação
problema
Formação de
Avaliação
agenda
Formulação
Implementação de
alternativas
Tomada de
decisão
envolvidos (sejam eles públicos e privados) e como estes capturam os problemas públicos
e criam alternativas para responder a esta demanda.
Ao destacar essa abordagem nas políticas públicas, diferenciando-se das demais,
ganha evidência o papel exercido pelos atores políticos e o “peso” das instituições, a partir
de seus interesses, as estratégias adotadas em função do exponencial que pode vir a ser
gerado na resolução dos problemas públicos.
Essa corrente é bem debatida na França, Estados Unidos e Inglaterra. Aqui no Brasil
são poucos os estudiosos que se debruçam sobre essa temática, com destaque para os
trabalhos de Grisa (2011, 2012 e 2015). Neles, salienta que “as políticas públicas devem
ser analisadas como processos pelos quais são elaboradas representações que uma
sociedade se faz para compreender e agir sobre o real” (GRISA, 2011, p. 93).
Essas representações se decompõem em referencial global e referencial setorial,
referindo-se aos valores gerais de uma sociedade, bem como aos valores e às
representações relativas a um determinado setor/segmento, respectivamente. E nesse viés
analítico, a abordagem cognitiva, conforme Grisa (2011, p. 95), é de “verificar como as
políticas públicas são construídas e transformadas a partir desta relação global/ setorial e
o papel dos intermediadores neste processo”. Trata-se do entendimento que a sociedade
possui em detrimento de sua relação com o mundo num determinado contexto, e é em torno
dessa representação geral que serão hierarquizadas as diferentes representações
setoriais.
Ainda, entende-se o papel dos atores portadores das ideias4, a partir de três
perspectivas: fórum de produção de ideias, fórum de comunidades políticas e arena. No
caso do primeiro, é o lugar onde as ideias são produzidas; o segundo é o espaço de
institucionalização dessas ideias, transformadas em políticas públicas, e o terceiro é o
espaço de negociação de normas, onde são debatidas as controvérsias e expostas, como
campo de mediação.
A elaboração de uma política pública abrange a construção da representação da
realidade. E é por meio dessa imagem que os atores públicos interpretam o problema
público, pautando possíveis soluções e definindo sua estratégia de intervenção. Isso posto,
pode-se considerar que a construção de uma política pública requer sensibilidade política
ao instituir e legitimar os interesses e as demandas, ao portar os objetivos para sua solução.
Ao tratar de política pública, é necessário considerar como o Estado age frente aos
problemas públicos, no ordenamento da sociedade por meio de ações jurídicas, sociais e
administrativas, as quais contemporaneamente são assinaladas pela Carta Constitucional
de 19885.
Colocam-se em pauta as questões inerentes ao processo da agricultura no Brasil, a
qual é entendida em sua dicotomia, tendo, de um lado, o atual agronegócio e seu papel
estratégico na agenda da política externa brasileira, consolidado pelo projeto neoliberal e,
de outro, a agricultura familiar, que se consolida como projeto alternativo de
desenvolvimento rural, colocando-se no centro de discussões sobre as políticas públicas
para o campo, e ressignificando a produção e o abastecimento do mercado interno do país.
Schneider (2003) destaca que a afirmação da agricultura familiar no contexto social
político está diretamente vinculada à legitimação do Estado com esta categoria, da qual
emergiam ações diretas e específicas que vinculassem ao atendimento de suas demandas.
A política pública para a agricultura familiar nasce a partir das demandas colocadas pelos
movimentos sociais, os quais pontuaram, ao longo de décadas, a necessidade de o Estado
investir em políticas diferenciadas, tais como políticas de apoio institucional, menores juros,
entre outras.
Para Moreira e Bruno (2010, p. 9), o sentido do rural e da política são traduzidos
como:
A palavra rural, usada como substantivo ou adjetivo, significa múltiplas dimensões
pelas quais as relações e processos cidade-campo na atualidade de nossas
vivências mundializadas ganham sentidos e significações nos espaços rurais. As
políticas sociais, culturais e econômicas ressignificam a política, e com ela o
discurso político, ressignificando o rural como lugar da polis, da cidade e da
cidadania e, em seu sentido amplo, da política.
O Estatuto foi aprovado logo após o Golpe Militar de 1964, travando uma dicotomia
entre os interesses do governo e da elite rural frente aos dispositivos que postulavam a
equanimidade e justiça social (IPEA, 2010).
O ajuste entre o setor da agricultura (“referencial setorial”) e a industrialização da
economia do País (“referencial global”) passou a ser realizado por um conjunto de
ações e políticas públicas, como crédito rural, garantia de preços mínimos, seguro
agrícola, pesquisa agropecuária, assistência técnica e extensão rural, incentivos
fiscais às exportações, minidesvalorizações cambiais, subsídios à aquisição de
insumos, expansão da fronteira agrícola, e o desenvolvimento de infraestruturas.
Por cerca de 20 anos, este foi o referencial setorial predominante que orientou as
ações do Estado no setor agrícola (GRISA; SCHNEIDER, 2015, p. 24)
incorporadas pela Carta Magna de 1988. Ressalta-se que a CONTAG contribuiu para
incorporar temas como a reforma agrária e a Previdência Social Rural6, prevendo a
elaboração de leis agrícolas (Lei no 8.213, promulgada em 1991) que reconheceram a
diversidade de agricultores no cenário brasileiro, evidenciando a necessidade de políticas
públicas que atendessem a suas especificidades.
Schneider (2003) menciona que nos anos de 1990 a agricultura familiar “ressurge”
no cenário brasileiro em decorrência de dois fatores que impactaram o contexto político e
social. O primeiro, no campo político, foi a efervescência dos movimentos sociais, liderados
pelo sindicalismo da CONTAG, e, em 1990, a realização do “Grito pela Terra7”. Na
sequência, o segundo, no campo social e político, foi a legitimação por via do Estado,
quando em 1996 criou o PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar), cuja finalidade era a promoção de crédito agrícola e apoio institucional aos
agricultores familiares.
Nesse escopo, Grisa e Schneider (2015) destacam a agricultura familiar como
protagonista, afetada pelas mudanças que ocorrem nos anos de 1990, passando a ser uma
categoria social reconhecida pelo Estado. Assim, o Brasil passa a promover políticas
públicas voltadas para a agricultura familiar, rearticulando ministérios, envolvendo setores
produtivos e movimentos sociais, incorporando a territorialização em prol de sua
consolidação.
Nesse contexto, o PRONAF, como primeira política pública de crédito rural, iniciou
um conjunto de medidas com o propósito de fortalecer e garantir a produção dos
agricultores familiares. No caso da política de assentamentos da reforma agrária, Grisa e
Schneider (2015) mencionam que, entre os anos de 1995 a 1997, o número de famílias
assentadas foi de 92.984. Na sequência, tem-se a criação do Seguro da Agricultura Familiar
– SEAF em 2004, Programa de Garantia de Preço da Agricultura Familiar – PGPAF em
2006 e a retomada da Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER, permeando a
construção de um legado de políticas públicas. Nesse processo de desenvolvimento de
agendas públicas para a agricultura familiar, desencadeia-se a articulação de várias
políticas e programas sociais.
6 Com a inserção dos trabalhadores rurais no regime geral da previdência com uniformidade e equivalência
entre benefícios rurais e urbanos. MIELITZ (2011, p. 234).
7
Realizado anualmente, constitui um instrumento importante de pressão e negociação de pautas previamente
construídas pelo movimento sindical. A ação, além de reivindicatória, possui caráter formativo, haja vista que
milhares de trabalhadores e dirigentes sindicais participam dela, aprofundando seu entendimento e
consciência sobre os problemas enfrentados pela categoria. IPEA (2000, p. 366).
32
Esses fatos que marcaram a primeira geração de políticas públicas para agricultura
familiar foram resultado da forte atuação dos movimentos sociais no processo de
articulação com o Estado, sem deixar de lado a intensa crítica em relação às políticas
neoliberais.
A segunda geração amplia o potencial da agricultura familiar, que passa a ser vista
positivamente em decorrência da capacidade de produção de alimentos e geração de
empregos. Ou seja, a partir de 1997, um novo rol de ações sociais e assistenciais se
inseriram nas para a agricultura familiar (GRISA; SCHNEIDER, 2015).
Dentro dessa ótica, emergiu a discussão sobre a questão do fortalecimento da
agricultura familiar sob os moldes de reivindicação dos movimentos sociais, da soberania
alimentar e do combate à fome. Nesse viés, a agricultura familiar apresenta-se como um
conceito que emerge para demarcar um conjunto de medidas que vinham se denominando,
até então, de pequena produção mercantil ou pequena produção familiar, substituído pelo
reconhecimento de uma categoria social de trabalhadores rurais no âmbito das políticas
públicas. (CRUZ, 2012).
O advento deste instrumento de política pública pode ser visto como uma via de
desenvolvimento rural singular, a qual, em sua essência, não contempla apenas o
plano econômico, mas, sobretudo, a melhoria da qualidade de vida das populações
rurais e o estabelecimento de novas relações com outros atores econômicos. Ações
neste sentido, podem contribuir para que os agricultores familiares enfrentem os
desafios do mundo contemporâneo, à medida que oportunizam a inserção no
mercado e a geração de trabalho e renda junto aos beneficiários. (BECHER,
ANJOS, BEZERRA, 2010, p. 5)
8A proposta do Programa era conferir “selo de prioridade” a 16 programas governamentais em seis áreas de
atuação: redução da mortalidade na infância, alimentação, apoio ao ensino fundamental e pré‑escolar,
habitação e saneamento, geração de ocupação e renda e qualificação profissional, e fortalecimento da
agricultura familiar. (BRASIL, COMUNIDADE SOLIDARIA, 1998)
34
Por via desses atores9 a construção de políticas públicas para agricultura familiar
torna-se escopo para orientação de um novo referencial, que tinha por base a constituição
9
Que propuseram a Política Nacional de Segurança Alimentar (PNSA) (não implementada) em 1991; a
mobilização “Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida”, liderada pelo sociólogo Herbert de
Souza (o Betinho), e a respectiva “Campanha Nacional de Combate à Fome” em 1993; e ao Conselho
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) estabelecido em 1993. GRISA; SCNEIDER (2011,
p. 37).
35
de mercados para a segurança alimentar. Essa referência foi importante, visto que colocou
o tema “fome” em pauta.
A partir desse destaque, o CONSEA – Conselho Nacional de Segurança Alimentar
– foi reativado e criou-se o Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à
Fome (MESA), resultando na implantação do Programa Fome Zero (PFZ). Este último partiu
do propósito de um conjunto de políticas estruturais que atentassem para o direito humano
à alimentação, que buscassem a melhoria da renda das famílias, o aumento da oferta de
alimentos básicos para alimentar a população demandatária, excluída até o momento,
devido à insuficiência de poder aquisitivo, da possibilidade de obter alimentos via mercado.
Essas alterações configuraram grande mudança para a agricultura familiar, passando a ter
prioridade a produção de alimentos destinada a essa parcela empobrecida da sociedade.
Em termos mais específicos, o PFZ tinha como objetivo estimular a potencialidade
do mercado institucional (hospitais, presídios, alimentação escolar, cestas básicas) por
meio de canais de comercialização que acabariam por induzir ao fortalecimento da
agricultura familiar, visto que a parcela da população em situação de insegurança alimentar
seria atendida. Além do mais, traria benefícios à economia dos municípios em razão da
geração de renda aos agricultores familiares, bem como maior estímulo à produção de
alimentos e criação de mercados locais. Enfim, foram essas ideias que culminaram na
criação do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, encerrando a terceira geração de
políticas públicas para a agricultura familiar.
A partir dessa contextualização histórica da política pública para a agricultura
familiar, retoma-se a atenção para a análise da abordagem cognitiva proposta por Grisa
(2011), expressa na Figura 2.
36
FIGURA 2 - Fluxos de ideias e de trocas políticas entre fóruns na construção das políticas públicas
para a agricultura familiar.
Fonte: construído pela autora a partir de Grisa (2012, p.59)
Por meio dessa análise, vislumbra-se o papel dos atores portadores das ideias, com as
seguintes perspectivas: fórum de produção de ideias e fórum de comunidades políticas. Todas
necessárias para a construção e legitimação das políticas públicas para agricultura familiar,
ressaltando que o espaço das ideias foi incisivo na correlação de forças dos segmentos
envolvidos na temática. A política pública para a agricultura familiar não foi despendida apenas
como uma forma de intervenção do Estado às demandas que se faziam emergentes, inferindo
que nesse processo histórico, desde os anos 1960, ínfimas iniciativas foram tomadas.
Em outras palavras, somente a partir dos anos de 1990 foram criadas políticas públicas
específicas à agricultura familiar em decorrência da forte atuação dos movimentos sociais, que
articuladamente travaram uma luta pelo reconhecimento da agricultura familiar, considerando
o contexto social e econômico do país. E nos anos recentes, uma terceira linha de políticas
voltadas à segurança alimentar e à sustentabilidade surge no contexto nacional, com destaque
para o PAA, o qual será detalhado na sequência.
o
de que trata o caput deste artigo.§ 4 A aquisição de produtos na forma do
caput somente poderá ser feita nos limites das disponibilidades
orçamentárias e financeiras. (grifo nosso)
Ademais, essa política tenta dar voz a outras relações sociais, sujeitos e territórios,
rompendo com o centralismo e sinalizando que existe outro modelo de desenvolvimento
para o campo, baseado na agricultura familiar.
O programa incentiva a diversificação produtiva por meio de suas modalidades e
proporciona condições de mercado seguras, a preços justos (os produtos são adquiridos
por órgãos do Governo Federal por preços de mercado sem a necessidade de licitação),
necessários para a comercialização dos produtos. Isso pode contribuir efetivamente na
melhoria das condições de produção e renda na agricultura familiar. No Quadro 1,
apresentam-se as modalidades do PAA.
(continua)
Modalidade Forma de acesso Limite Origem do Ação
Recurso
Compra da Individual R$ 4,5 MDS Responsável pela doação de
Agricultura mil produtos adquiridos da agricultura
Familiar para Organizações R$ 4,8 familiar a pessoas em situação de
Doação (cooperativas/associações) mil insegurança alimentar e nutricional.
Simultânea
QUADRO 1 – Modalidades do PAA - 2016
40
(conclusão)
Formação de Organizações R$ 8 mil MDS/MDA Disponibiliza recursos para que
Estoques pela (cooperativas/associações) organizações da agricultura
Agricultura familiar formem estoques de
Familiar – produtos para posterior
CPR Estoque comercialização.
Compra Individual ou organizações R$ 8 mil MDS/MDA Voltada à aquisição de produtos
Direta da (cooperativas/associações) em situação de baixa de preço
Agricultura ou em função da necessidade de
Familiar – atender a demandas de
CDAF alimentos de populações em
condição de insegurança
alimentar.
Incentivo à Individual ou organizações R$ 4 mil MDS Assegura a distribuição gratuita
Produção e (cooperativas/associações) por de leite em ações de combate à
Incentivo de semestre fome e à desnutrição de
Leite – PAA cidadãos que estejam em
Leite situação de vulnerabilidade social
e/ou em estado de insegurança
alimentar e nutricional. Atende os
estados do Nordeste.
Compra Individual ou organizações R$ 8 mil Órgão Compra voltada para o
Institucional (cooperativas/associações) Proponente atendimento de demandas
regulares de consumo de
alimentos por parte da União,
Estados, Distrito Federal e
Municípios;
Aquisição de Individual ou organizações R$ 16 MDS/MDA Visa à compra de sementes,
sementes (cooperativas/associações) mil mudas e materiais propagativos
para alimentação humana ou
animal de beneficiários
fornecedores para doação a
beneficiários consumidores ou
fornecedores.
QUADRO 1 – Modalidades do PAA - 2016
Fonte: Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário (2016)
Em 2012, foi instituída mais uma modalidade ao PAA que amplia as possibilidades
de mercado. Trata-se da Compra Institucional, que permite aos estados, municípios e
órgãos federais da administração direta e indireta adquirir alimentos da agricultura familiar
por meio de chamadas públicas, com seus próprios recursos financeiros, com dispensa de
licitação.
Vale ressaltar que o limite para cada modalidade, por família, foi estabelecido pelo
último Decreto n. 8.293/2014, conforme:
- Doação Simultânea (DS): R$ 8 mil/DAP (Declaração aptidão ao Pronaf)/ano para quem
participa de projetos coletivos (associações e cooperativas). Nas vendas ao PAA,
realizadas individualmente, o limite é de 6,5 mil reais/DAP/ano;
- Compra Direta (CD): R$ 8 mil/DAP/ano;
- Formação de Estoque (FE): R$ 8 mil/DAP/ano;
41
2003, até 2015. Percebe-se que a adesão dos agricultores familiares vai se ampliando com
a compreensão da sistemática do programa. O auge de investimentos no PAA se dá em
2012, com mais de R$ 586 milhões.
GRÁFICO 1– Evolução dos investimentos no PAA – Brasil - 2003 a 2015 (milhões de R$)
Fonte: Conab (2016)
TABELA 1 - Evolução dos recursos do PAA– Regiões brasileiras – 2003 a 2013 (R$)
REGIÕES
ANO CENTRO- TOTAL
NORDESTE NORTE SUDESTE SUL
OESTE
2003 12.238.974 31.672.408 12.386.912 7.603.665 17.639.249 81.541.207
2004 3.386.094 42.307.978 28.391.528 8.903.396 24.196.831 107.185.826
2005 5.538.352 34.745.917 16.149.222 13.876.678 42.481.492 112.791.660
2006 10.045.899 54.857.717 17.812.507 32.440.707 85.510.564 200.667.394.
2007 8.706.953 56.116.343 18.799.859 42.080.968 102.648.840 228.352.964
2008 9.893.516 80.838.353 15.679.112 73.486.284 93.032.175 272.929.439
2009 13.225.303 102.830.480 15.549.939 78.842.348 153.516.158 363.964.228
2010 21.400.943 121.858.906 28.348.787 79.151.714 128.975.115 379.735.466
2011 32.025.103 153.674.198 29.386.137 11.741.509 124.209.257 451.036.204
2012 43.282.942 154.904.344 36.045.217 131.776.716 220.557.912 586.567.131
2013 24.075.247 66.487.273 22.938.796 67.812.376 43.203.433 224.517.124
TOTAL 183.819.325 900.293.916 241.488.017 647.716.360 1.035.971.026 3.009.288.644
Fonte: Adaptada de DIPAI/SUPAF/GECAF. Conab (2014).
FIGURA 3 - Municípios que participaram do PAA entre 2012 e 2015 e taxa de crescimento dos
recursos da modalidade operada pela Conab– Municípios do Brasil
Fonte: Conab e PAA DATA, com dados organizados pela pesquisadora
Nota: (*) Em negrito estão os municípios que receberam algum valor do programa entre 2012 a 2015, não
necessariamente recebendo durante todos os anos. (**) em negrito estão os municípios que receberam algum
valor do programa entre 2012 a 2014, não abrangendo 2015 pela indisponibilidade dos dados.
10É um aplicativo desenvolvido e disponibilizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com
o objetivo de facilitar e descentralizar o preenchimento das propostas de participação dos mecanismos, assim
como auxiliar no controle de entregas do produto do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
47
Algumas das evidências empíricas acerca dos resultados do PAA são apresentadas
no Quadro 2, evidenciando sua importância no desenvolvimento rural brasileiro.
(continua)
Autor (res) Variável (eis) – Metodologia usada Resultado
fortalecimento da
AF
Bezerra e Crise do modelo Análise tese Abriu espaço para a discussão de
Schneider (2012, produtivista doutoral proposições de desenvolvimento local e
p.39) (modelo de sustentabilidade que envolve o
produção e estabelecimento de formas de
consumo de organização que facilitem a
alimentos de intensificação e colaboração entre
ampla consumo e produção e, desse modo, o
comercialização e Estado assume a função (re)definir por
produzidos em meio de suas politicas e de seus
larga escala) programas de aquisições de alimentos
modelos diferenciados de
abastecimento alimentar.
Becker, Anjos, Manutenção das Estudo de caso O programa trouxe novas perspectivas
Bezerra (2010, famílias na zona com 60 agricultores para as suas atividades e permanência
p.16) rural familiares de 03 das famílias no meio rural. Na sua
assentamentos do tentativa de conjugar três importantes
estado do Rio etapas, quais sejam, a produção, a
Grande do Sul comercialização e o consumo,
contemplando especificamente diversos
grupos sociais que, em boa medida,
encontravam-se à margem dos
processos produtivos ou que por
determinadas circunstâncias, estavam
submetidos a uma condição de
reduzidas perspectivas no que
concerne à sua reprodução social
enquanto agricultores familiares.
Matos e Noia Manutenção das Método descritivo O Programa permitiu a fixação dos
(2014, p. 17) famílias na zona junto aos atores agricultores no campo por meio do
rural envolvidos no incremento de sua renda, melhorando a
programa no qualidade de vida e o incentivo para
município de diversificar a produção.
Itabuna - BA
QUADRO 2 - Resumo das evidências empíricas – efeito do PAA no fortalecimento da agricultura
familiar (AF)
49
(continuação)
Hespanhol (2009, p. 14) Diversificação Pesquisa empírica Os agricultores pesquisados
produtiva com entrevistas a demonstraram interesse em ampliar
presidentes de a área cultivada com gêneros
associações e alimentícios e/ou diversificar ainda
agricultores mais os cultivos realizados em
familiares de pequenas áreas.
Dracena, Tupi
Paulista e
Junqueirópolis -
SP
Hespanhol (2009, p. 15) Aumento da Idem O PAA tem se mostrado uma
renda familiar alternativa aos produtores familiares,
sobretudo para aqueles mais
descapitalizados.
Pereira e Aumento da Pesquisa 84% do total dos entrevistados,
Lourenzani (2014, p. renda familiar descritiva, com afirmaram percepção do aumento
236) questionário após participação no PAA. Destes
semiestruturado a que responderam afirmativamente,
25 agricultores 38% acusaram um aumento de até
familiares de Tupã 20% na renda, 24% acusaram um
– SP aumento entre 21% e 40% e 5%
acusaram aumento entre 61% e
80%.
Hespanhol (2009, p. 15) Valorização Pesquisa empírica Ao considerar as particularidades
hábitos com entrevistas a locais/regionais, valoriza os hábitos
alimentares presidentes de alimentares diferenciados da
associações e população brasileira, estimulando a
agricultores produção de gêneros alimentícios.
familiares de
Dracena, Tupi
Paulista e
Junqueirópolis
Leal (2015, p.160) Limitações Estudo de caso Para acessar o Programa os
devido à com 03 camponeses têm que possuir a DAP
burocratização assentamentos do e outros documentos. A posse da
Pontal do DAP está sendo uma das principais
Paranapanema – limitações de acesso ao PAA. Se o
SP assentado não a possui, não
consegue se cadastrar nas
associações e, consequentemente,
não pode participar do Programa.
Um dos fatores que emperra a
emissão da DAP é a renda, pois,
para comprovarem, os assentados
têm que apresentar notas e/ou
comprovantes fiscais do que foi
vendido no ano anterior. Isso é um
problema, pois os camponeses não
têm costume de emitir notas das
suas operações de vendas.
QUADRO 2 - Resumo das evidências empíricas – efeito do PAA no fortalecimento da agricultura
familiar (AF)
50
(conclusão)
Matos e Noia Redução da Método descritivo A distribuição dos alimentos nas
(2014, p. 17) insegurança junto aos atores entidades contempladas possibilita a
alimentar e envolvidos no redução da insegurança alimentar e
melhoria da programa no nutricional para as pessoas em
alimentação do município de condições de vulneráveis [...] o impacto
beneficiados Itabuna - BA na melhoria da alimentação dos
beneficiários, tanto em qualidade
quanto em variedade, foi satisfatório no
que diz respeito a uma alimentação
mais saudável e com nutrientes
necessários para compor o cardápio
diário.
QUADRO 2 - Resumo das evidências empíricas – efeito do PAA no fortalecimento da agricultura
familiar (AF)
Fonte: Organizado pela pesquisadora (2017).
Nessa premissa, é inegável não considerar os avanços que o PAA trouxe ao contexto
da política agrária no Brasil. É evidente que não se podem cessar os esforços para garantir
ampliação do programa, que beneficia dois públicos alvos, ambos historicamente à mercê
das políticas públicas: os agricultores familiares e os beneficiários – pessoas em situação
de insegurança alimentar e vulnerabilidade socioeconômica.
O Quadro 2, que traz as evidências empíricas do PAA, representa um pequeno
fragmento dentre a gama de estudos (artigos, dissertações e teses) que versam sobre o
PAA, em decorrência do cenário que a agricultura familiar representa no Brasil, e também
sobre a política pública voltada para esse segmento.
Torna-se relevante assinalar que o diferencial deste estudo está em abordar não o
PAA, mas sim um fragmento do programa: o PAA agroecológico na perspectiva da
produção orgânica. A partir de consultas junto ao portal de teses e dissertações da Capes11
– Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior, do portal Scielo12 - Scientific
Electronic Library Online e da Biblioteca Digital da Questão Agrária Brasileira 13, foi
verificada a produção de apenas três (03) artigos e um (01) livro que discorrem
especificamente sobre o PAA agroecológico, a partir da pesquisa por base dos títulos. Os
principais resultados e o foco desses trabalhos encontram-se no Quadro 3.
(continua)
Autor (res) Variável (eis) – Metodologia usada Resultado
PAA
agroecológico da
AF
QUADRO 3 - Evidências empíricas do PAA agroecológico na produção orgânica
(conclusão)
Além de serem poucos os trabalhos que versam sobre o PAA agroecológico, nenhum
mede a eficácia do mesmo com relação ao agricultor, não avaliam seus resultados frente
aos objetivos do programa.
A parca produção científica que aborda o PAA agroecológico na perspectiva da
produção orgânica significa a necessidade de ampliar esse escopo da pesquisa e balizar
suas possíveis estratégias da agricultura familiar por meio do PAA, que notadamente traz
inúmeros resultados positivos quanto à política pública para a agricultura familiar, conforme
demonstrado em páginas anteriores neste trabalho. A agricultura familiar converge
52
atualmente num modelo que alia a sua produção agrícola pautada na sustentabilidade e na
conservação do meio ambiente, o que resulta em alimentos saudáveis, livres de
agrotóxicos.
Afinal, esse manejo cria melhor resultado na precificação de seus produtos e amplia
a comercialização, resultando no fortalecimento da agricultura familiar, na manutenção do
homem no campo.
(continua)
Questões básicas Sustentação viável para a avaliação
Quando avaliar? A avaliação pode ocorrer antes, durante e após da implementação de uma política.
Onde avaliar? Pode ocorrer desde um locus geral, formal e nacional, a um locus específico, formal
e local.
Para quem avaliar? Numerosos demandatários. Pode direcionar-se aos executores ou financiadores,
grupos de usuários, grupos sociopolíticos, legisladores, administradores, executivos
locais e trabalhadores.
O que avaliar? O conteúdo ou objeto da avaliação, ou seja, a indicação dos aspectos ou dimensões
que devem orientar a avaliação, considerando critérios de relevância e
exequibilidade.
QUADRO 4 – Elementos básicos para se pensar na avaliação
54
(conclusão)
Por que avaliar? A questão central é saber por que produzir informações sobre políticas públicas. As
motivações são de diferentes ordens: ordem moral: que se refere à exigência de
probidade dos gestores na gestão e dos usuários na apropriação dos benefícios;
ordem política: se refere à verificação dos propósitos da política em relação aos
princípios de justiça, bem como na viabilidade de contribuírem para o controle social;
ordem instrumental: que se relaciona com a geração de informações para
monitoramento; ordem técnica: objetiva contribuir para clarificação do problema
social que motivou a política, tendo em vista a construção de um referencial comum,
para sistematização da prática em desenvolvimento, para correção, melhoria e
avanço técnico, para identificação dos resultados e impactos; ordem econômica:
tendo em vista a racionalização e melhor aplicação de recursos.
Para que avaliar? Os objetivos da avaliação são de diferentes ordens, podendo visar definir limites de
uma ação, identificar mudanças, potencialidades, problemas; organizar
informações, subsidiar tomadas de decisão.
Quem avaliar? Propõe-se a superação da dualidade entre avaliação interna e externa, devendo as
avaliações serem desenvolvidas por pessoas do programa e por avaliadores
externos, num trabalho conjunto, construído democraticamente e, sempre que
possível, envolvendo os usuários do programa avaliado, os mais diretamente
interessados nos resultados.
Como avaliar? Trata-se da decisão sobre o tipo de avaliação, o método, os procedimentos e as
técnicas a serem utilizados no contexto da avaliação, devendo-se considerar que
existe uma imensa variedade de tipos de avaliação, dependendo do critério adotado,
devendo ser considerados de modo articulado e a partir da potencialidade particular
que apresentam.
QUADRO 4– Elementos básicos para se pensar na avaliação
Fonte: Silva (2008, p.115 a 118), cujo recorte foi produzido pela pesquisadora.
14Una red de articulación y generación de conocimiento para el desarrollo de los territorios latinoamericanos.
Fonte: <http://rimisp.org/sobre-rimisp/que-es-rimisp/> Acessado em: 29/01/2017
15 El Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO) es una institución internacional no-
gubernamental con status asociativo en la UNESCO, creada en 1967. Actualmente, reúne 587 centros de
investigación y posgrado en el campo de las ciencias sociales y las humanidades en 46 países de América
Latina, Estados Unidos, Canadá, Alemania, España, Francia y Portugal. Fonte: <https://www.clacso.org.ar/>
Acesso em: 29/01/2017
59
(conclusão)
Concepções teóricas Entende que o único futuro para Entende que a luta pela terra e pela
o campesinato está na reforma agrária é a forma
metamorfose do camponês em privilegiada da criação e recriação
agricultor familiar, inserindo-o do
plenamente no mercado. camponês. O camponês é aquele
que luta pela terra. Sem a luta o
camponês deixa de
existir.
Teóricos Lênin (1899/1985) e Shanin (1983), Chayanov (1974),
(1918/1980), Kaustsky (1986), Oliveira (1986, 1988, 1991, 2004),
Lamarche (1993,1998), Fernandes (1996, 1999, 2000,
A8bramovay (1992), Hespanhol 2001), Silveira (1990).
(2000).
QUADRO 5 – Concepções teóricas do capitalismo/questão agrária na ótica do RIMISP
e CLACSO
Fonte: Felício (2006), organizado pela autora.
Ainda nesse continente, especialmente em países como França e Inglaterra, havia disputas
teóricas distintas, muitas com traços do marxismo e de leituras sobre desenvolvimento
agrário. Ressalta-se que nos anos de 1990 a União Europeia influenciou na difusão da
agricultura em decorrência de políticas para integração econômica e no avanço científico
que marcou nuances do rechaçamento do marxismo pelos cientistas.
[..] difusão dos formatos tecnológicos sob tal denominação genérica, em quase
todos os países com alguma agricultura comercial de maior relevância, acabou
também enraizando uma perspectiva técnico-produtiva praticamente consensual
sobre o significado da atividade econômica agricultura, hoje estruturalmente
vinculados ao padrão moderno. GASQUES, FILHO, NAVARRO (2010, p. 190)
distinta: agricultura familiar x agricultura patronal. Uma das principais distinções decorre do
tamanho da propriedade: o modelo patronal se caracteriza pelo grande porte da
propriedade (tamanho da área, gestão do trabalho, com predominância do trabalho
assalariado), além de incorporar o agronegócio, o uso de tecnologias avançadas e a
supremacia da produção de monocultura.
Em contrapartida, os segmentos familiares, além da incorporação do trabalho
familiar, caracterizam-se pelo contexto da pluriatividade, trabalho e gestão da propriedade
interligados, baixo índice de trabalho assalariado e predominância de produção
diversificada, com forte abertura à agroecologia e à produção orgânica voltada, sobretudo,
para o abastecimento interno do país.
Mesmo considerando a diversidade e a heterogeneidade sobre a agricultura familiar
no Brasil, Schneider e Cassol (2013, p.17) destacam a necessidade de demonstrar seu
perfil e suas principais características. Inicialmente os autores argumentam que a
agricultura familiar não pode ser comparada com o campesinato das décadas de 1960 e
1970, especialmente porque “Os camponeses eram considerados os pobres rurais, pouco
eficientes do ponto de vista econômico e ameaçados de desaparecimento pelo emergente
capitalismo urbano industrial da época”. Ademais, nem se pode comparar ao “family
farmers16”, os quais se caracterizam por sua alta tecnificação, inseridos no processo de
produção de monoculturas.
Gasques, Filho, Navarro (2010, p. 192) ao se envidar na análise da agricultura
familiar no Brasil, consideram que:
Agricultura familiar, como expressão da agenda nacional, adentrou o cenário político
apenas na primeira metade dos anos 1990. Até então, este agrupamento de
estabelecimentos de menor escala vinha sendo designado sob diferentes
expressões, como minifundiários, pequenos produtores, agricultores de
subsistência ou, como era corriqueiro na década de 1970, agricultores de baixa
renda. A atividade econômica destes produtores, na literatura, acadêmica ou não,
quase sempre foi denominada de pequena produção. Camponeses foi palavra
apenas ocasionalmente empregada em documentos de vulgarização, como jornais,
e quase nunca pelos próprios produtores. Camponeses, contudo, foi palavra
utilizada com relativa frequência na pesquisa social, em particular por parte de
sociólogos inspirados na tradição marxista.
16 Referência “family farmers” da América do Norte e da Europa do Norte, também conhecidos como
agricultores “tipo farmer”. Ver: Schneider e Cassol (2013), Felício (2006) e GASQUES, FILHO, NAVARRO
(2010).
62
permeada pela lógica de reprodução e de exercício dos laços familiares e afetivos – lógica
social, do cuidado e proteção de seus membros. Por isso, é necessária a incorporação
desses valores na sua interpretação, as quais são condições básicas para sua permanência
no campo, conforme Moreira e Bruno (2010, p. 15) argumentam:
torna-se também necessário reconhecer a especificidade da família da agricultura
familiar em relação às outras famílias rurais e urbanas – seu acesso às políticas e
aos bens públicos, como educação, moradia, meios de comunicação, saúde, enfim,
à construção das condições de sua cidadania.
Para efeito de classificação da agricultura familiar foi adota a definição da Lei 11.326,
de 24 de Julho de 2006, que em síntese define os agricultores familiares como sendo: em
maior escala, um grupo responsável pelo estabelecimento agropecuário, em especial,
relacionado à produção vegetal; em menor escala, um grupo que possui receita agrícola,
porém está atrelada à pluriatividade, tendo outras fontes de rendas; e por fim, um pequeno
grupo, com produção agrícola residual, destinada principalmente ao autoconsumo, e cuja
propriedade rural seja apenas o espaço da residência.
Nesse sentido, é fundamental pensar a viabilidade e o fortalecimento da unidade de
produção de forma global, isto é, no conjunto das necessidades e valores da vida da família
e das pessoas e o sistema de produção, visando à garantia da qualidade de vida às
populações rurais.
maioria das definições procura associar o termo a alguns objetivos para atingir uma agricultura
durável ao longo do tempo.
17 Ressalta-se que a produção orgânica visa à oferta de produtos saudáveis isentos de contaminantes que
possam ser evitados em função da não utilização de práticas e insumos que possam pôr em risco o meio
ambiente e a saúde do produtor, do trabalhador ou do consumidor; A preservação da diversidade biológica
dos ecossistemas naturais e a recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas
modificados onde estejam inseridos os sistemas de produção, com especial atenção às espécies ameaçadas
de extinção; O emprego de produtos e processos que mantenham ou incrementem a fertilidade do solo e
promovam o desenvolvimento e equilíbrio da atividade biológica do solo; A adoção de práticas nas unidades
de produção que contemplem o uso saudável do solo, da água e do ar, de forma a reduzir ao mínimo todas
as formas de contaminação e desperdícios desses elementos (MAPA, 2016).
68
se a degradação intensa e acelerada dos recursos naturais. A julgar ainda, de acordo com
Ipardes (2007, p. 11) “destacavam-se a concentração fundiária, o êxodo rural, [..] a
massificação e a dependência produtiva de insumos industriais (maquinários, sementes,
agroquímicos em geral), bem como a uniformização e homogeneização dos processos
produtivos de bens alimentares”.
Diante desse cenário, a crítica ao modelo convencional tem-se ampliado
concomitantemente à ampliação das discussões acerca da produção orgânica e ao
aumento progressivo do consumo por alimentos livres de contaminação.
Segundo a IFOAM – Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura
Orgânica (2016), o sistema orgânico já é praticado em cento e setenta e dois (172) países
e em 43, 7 milhões de hectares, abrangendo aproximadamente 2,3 milhões de agricultores.
O Ipardes (2007) infere que a partir dos anos de 1990 tanto a produção de produtos
orgânicos e como o seu consumo tem aumentado significativamente pelo mundo. Na
França, o aumento foi de 15% ano e, na União Europeia, a taxa média anual ficou em torno
de 25% nestes últimos dez anos, ressaltando que, no Estados Unidos, a taxa de
crescimento foi de 20% ano.
Esse crescimento é atrelado aos requisitos para consumo, das alegações dos
consumidores de orgânicos pela sua preferência ao invés do consumo de produtos
convencionais, conforme a Quadro 7, que apresenta os principais motivos para o consumo
de orgânicos pelo mundo.
Países Motivos para a compra
Áustria Saúde Responsabilidade com a Contribuição para o desenvolvimento
alimentação das crianças regional
Alemanha Saúde própria e Apoio aos agricultores e Melhor sabor dos alimentos
das crianças lojas de orgânicos
Dinamarca e Estilo de vida, Saúde própria Contribuição para um mundo melhor,
Finlândia proteção consciência, bem-estar animal
ambiental
França e Saúde Melhor sabor alimentos Respeito à vida
Itália
Inglaterra Saúde Apoio à agricultura local e Proteção ao meio ambiente
comércio justo
QUADRO 7 - Motivos para compra de produtos orgânicos pelos países da Europa
Fonte: Ipardes (2007)
18A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida de maneira geral
como Rio-92 ou Eco-92, reuniu delegações de 178 países e 114 Chefes de Estado ou de Governo, foi um
megaevento que construiu um simulacro espacial cujo objetivo foi a celebração das diretrizes dominantes
sobre a questão ambiental sob o manto da ideologia do Desenvolvimento Sustentável. (OLIVEIRA, 2012)
70
as normas técnicas da IFOAM e seu sistema de certificação têm subsidiado diversos países
na legislação, como o Brasil.
A certificação da produção orgânica no Brasil é realizada por dezenove (19) agências
certificadoras, das quais onze (11) são nacionais e oito (8) são internacionais. Todas
emitem parecer, informando se a produção de alimentos obedeceu a todos os requisitos e
normas de qualidade orgânica. (KHATOUNIAN, 2001).
Quanto à modalidade de certificação dos produtos orgânicos, destacam-se duas: a
certificação privada, que prevê o pagamento pelo processo de certificação, e a pública,
denominada também como participativa. Destaque em âmbito nacional deve ser dado ao
Instituto Biodinâmico – IBD19 para a certificação privada; e para o processo de certificação
participativa tem-se, como exemplo, a Rede Ecovida.
Existem, ainda, três outros tipos de certificação: individual, em grupo e a participativa.
A certificação por auditoria (CA) é adequada para a certificação individual e em grupo
(associação, cooperativas), operacionalizada da mesma maneira para ambos. No processo
desse tipo de certificação, são vistoriados os procedimentos agroecológicos para produção
orgânica, ressaltando que sua diferenciação se dá devido ao selo.
A certificação pelo Sistema Participativo de Garantia (SPG) busca privilegiar não
apenas o produtor, mas sim o envolvimento do consumidor e dos técnicos para análise do
cumprimento das normas quanto à produção orgânica, tendo como princípio a confiança
dos sujeitos envolvidos ao atestar o cumprimento dos requisitos dos demais participantes
do grupo.
Nessas circunstâncias, a regulamentação da agricultura orgânica é um instrumento
importante para esse segmento, visto que, balizados pelo Sistema Brasileiro de Certificação
(SBC), possui regramento quanto ao processo produtivo e à comercialização de seus
produtos. Nesse ciclo produtivo de orgânicos, o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) é responsável em credenciar, fiscalizar e acompanhar as agências
certificadoras, as quais possuem a incumbência de atualizar os dados dos agricultores junto
ao cadastro nacional de produtores orgânicos, no qual se comprovam as informações
quanto ao processo de certificação dos agricultores familiares.
Darolt (2002) menciona que o Brasil possui um grande potencial de expansão da
agricultura orgânica, na busca de aumento do consumo no mercado interno, na ampliação
da fruticultura, cereais e derivados de leite e carne. Além disso, esse autor alega que essa
19Maior certificadora da América Latina, a primeira certificadora no Brasil e única certificadora brasileira de
produtos orgânicos com credenciamento na IFOAM.
73
expansão é promissora, porém há alguns quesitos que devem ser alinhados, como:
legislação eficiente, baixa do custo de certificação e incremento de políticas públicas que
estimulem a organização de circuitos de comercialização, incentivo à conversão de
agricultores convencionais em orgânicos e maior investimento em pesquisa, ensino e
extensão.
74
Este trabalho tem como principal meta avaliar o PAA agroecológico, portanto, foi
realizada avaliação formativa, dado que o programa está em curso, do PAA agroecológico
sob a ótica dos agricultores familiares, investigando sua eficácia no que compete aos seus
principais objetivos.
Partindo desse princípio, como o mesmo envolve sujeitos e suas relações com a
estrutura estatal (referindo-se à política pública para a agricultura familiar, em específico, o
PAA agroecológico), a construção metodológica pautou-se, em parte, numa pesquisa de
cunho qualitativo. Conforme Baldani e Moysés (2012, p. 22), “a pesquisa qualitativa
consiste em um conjunto de práticas que tornam o mundo visível sob uma ótica diferente,
podendo e devendo transformá-lo”.
Entendendo a pesquisa qualitativa como a forma apropriada de apreender a natureza
de um fenômeno social e das situações complexas, requer nível de profundidade,
apreendendo as particularidades, por intermédio da compreensão da realidade socialmente
vivida, via práticas cotidianas, da vivência nos meandros da objetividade e subjetividade.
Para Minayo, a pesquisa qualitativa
[...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores
e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo da relações, dos
75
20Agricultores familiares da Associação de Agricultura Ecológica Familiar Conchas Velhas, localizada na área
rural, no Distrito de Uvaia, município de Ponta Grossa – PR, fundada em 08/08/2008, inscrita no CPNJ nº
10.261.060/0001-11, possui produção 100% orgânica, por meio da certificação do IBD, atualmente possuem
dezoito (17) agricultores familiares, distribuídos em sete (07) propriedades rurais, dos quais quatorze (14)
participaram do PAA agroecológico no ano de 2015 (finalizado em setembro de 2016).
77
Na última parte da análise, foram utilizadas três (3) ferramentas de DRP com os
agricultores familiares que compõem atualmente a Associação de Agricultura Ecológica
Familiar Conchas Velhas. Esse conjunto de técnicas e ferramentas permite que a
associação faça o seu próprio diagnóstico. Verdejo (2006) menciona que os participantes
poderão compartilhar experiências e analisar os seus conhecimentos, objetivando avaliar
os problemas e as oportunidades de solução, identificando os possíveis projetos de
melhoria dos problemas mais destacados.
Sodré, Dourado e Gouveia (2013, p. 93) inferem que o DRP é “um instrumento
metodológico a partir do qual é possível analisar questões ambientais, sociais, econômicas,
políticas e culturais de comunidades rurais”. Nesse contexto, compõe-se de ferramentas e
técnicas participativas que permitem a reflexão, a compreensão da realidade vivida pelo
grupo.
Dessa forma, depois de realizadas as entrevistas com os sujeitos da pesquisa, as
ferramentas de DRP ficaram assim selecionadas: análise swot (fofa), matriz de priorização
de problemas e matriz de prioridade (ferramenta adaptada pela autora).
Em termos mais específicos, a matriz fofa (fortaleza – oportunidade – fraqueza –
ameaça) busca identificar, analisar e visualizar a situação atual da associação para
identificar as características atuais do grupo, por meio da discussão das fortalezas,
fraquezas, oportunidades e ameaças que podem estar afetando o grupo. A matriz de
priorização de problemas permite, de maneira fácil, que o grupo elenque os problemas
identificados durante a etapa das entrevistas semiestruturadas, segundo a ordem de
importância e/ou urgência. Por fim, a matriz de prioridade (ferramenta adaptada da Matriz
de Prioridades de Problemas) busca elencar, por ordem prioritária, as potencialidades
existentes visualizadas pelo coletivo.
Ressalta-se que as ferramentas de DRP são desenvolvidas por meio do coletivo
(grupo) e por isso são efetuadas após serem realizadas as entrevistas e organizados os
principais resultados, visando a captar as percepções coletivas na avaliação da política,
bem como seus limites e potencialidades. Em outras palavras, essas ferramentas possuem
o intuito de captar as impressões coletivas, as quais foram também assinaladas de forma
individual nas entrevistas, e, assim, subsidiar o processo de análise dos dados coletados.
Em vez de confrontar as pessoas com perguntas previamente formuladas, o DRP
busca fazer com que os próprios participantes analisem sua realidade e valorizem as
diferentes opiniões e alternativas para a comunidade. (VERDEJO, 2006)
78
Vale ressaltar que a análise dos dados deve se fazer presente em todas as etapas
da pesquisa, evidenciando que tal procedimento metodológico foi utilizado ao longo de toda
a pesquisa. Conforme Richardson (2010), é uma técnica de pesquisa que tem evoluído com
o passar dos tempos e, a partir de seu aperfeiçoamento, essa técnica – caracterizada pela
objetividade, sistematização e inferência – amplia-se e sofre diversificação no momento de
sua execução, trazendo à tona novos problemas e materiais.
Bardin (1979, p. 42), citado por Minayo (1998, p. 199), define a análise de conteúdo
como
Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,
indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção destas mensagens .
MUNICÍPIOS (R$)
2011 68 22.071.369,66 93
2013 18 7.813.602,72 22
2014 12 4.894.758,40 22
2015 23 12.703.325,67 30
Nesse cenário estadual, foi realizado um recorte, tendo como alvo os municípios da
região dos Campos Gerais22(Tabela 5), trazendo informações quanto à participação, dos
dezoitos municípios que formam a região, entre os anos de 2010 a 2015, além de
apresentar o recurso financeiro formalizado, o número de CPR’s e dos agricultores
familiares.
TABELA 5 - Municípios que compõem a RCG e sua participação no PAA - 2010 a 2015.
(continua)
MUNICÍPIO 2010 2011 2012 2013 2014 2015
ARAPOTI Participou NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO NÃO
TABELA 5 - Municípios que compõem a RCG e sua participação no PAA - 2010 a 2015.
(conclusão)
23 Foi realizado a contagem total dos AF por anos do PAA, podendo haver duplicidade na contagem dos AF.
24
Idem.
81
Entidade Produção
A A A
Valor (R$) Valor (R$) AF Valor (R$) AF Valor (R$) Valor (R$)
F F F
Associação de
Agricultura
109.899,6
Ecológica Orgânica 22 98.992,23 12 53.993,80 13 58.487,87 - -- 14
5
Familiar Conchas
Velhas
Associação dos
Produtores Convencion 202.994,6 382.500,0 10 471.869,5 11
58 86 52.475,04 - --
Hortifrutigranjeiro al 0 0 5 0 5
s do município de
Ponta Grossa
Associação dos
375.316,4 364.819,1
Trabalhadores Mista 84 - -- 86 - -- - --
1 5
Rurais da
Reforma Agrária
Associação
Solidária da
194.914,8 114.749,7 318.337,1
Agricultura Mista - -- 44 - -- 22 84
3 3 5
Ecológica de
Ponta Grossa e
região
Cooperativa
Camponesa de
188.040,3
Produção Mista - -- - -- - -- - -- 47
7
Agroecológica da
Economia
Solidária
a fomentar campanhas de trocas de resíduos recicláveis por produtos hortifrutigranjeiros de época ou outros
produtos relacionados com o meio agrícola, produzidos ou fabricados de forma artesanal ou semi-industrial,
preferencialmente, por pequenos produtores rurais da região de Ponta Grossa – PR. (PONTA GROSSA,
2014)
83
28
Para a realização das entrevistas foram realizados contatos com as sete propriedades, das quais apenas
uma não manifestou interesse em participar da pesquisa. Importante salientar que em diversas propriedades
rurais existe mais de um agricultor, porém o sistema de produção é em conjunto na mesma área de cultivo, e
que em diversas situações o PAA não admite a participação de cônjuges, para não ultrapassar o valor do
projeto por família.
29
Projeto de pesquisa submetido ao Comitê de Ética, aprovado em primeira avaliação, CAAE:
64813217.60000.5215.
84
Propriedade 1 1
Propriedade 2 2
Propriedade 3 4
Propriedade 4 1 1
Propriedade 5 1
Propriedade 6 1
Propriedade 7 1
Propriedade 8 4 X
Propriedade 9 1 X
Propriedade 10 2 X
Propriedade 11 2 X
Propriedade 12 1 X
Total 11 11
30Um agricultor familiar não demonstrou interesse em participar desta pesquisa, sendo apenas uma família
na propriedade rural, a qual participou do PAA 2015 e com três membros vinculados à Associação.
86
Fam
Fam A
A
1 PAA
1 PAA 2015
2015
Propriedade Propriedade
1 2
FamB Fam B
1 PAA 1 PAA
2015 2015
Fam A
1 PAA
2015
Propriedade
4
Proprieda 1 Fam
de 3 1 PAA 2015
Fam C Fam B
1 PAA 2 PAA
2015 2015
Fam A
1 PAA
2015
Propriedade 6
Propriedade 1 Fam
5
1 PAA 2015
FamB
2 PAA
2015
8
7
6
Área em Ha
5
4
Área Total
3
Área Cultivada
2
1
0
1 2 3 4 5 6
Propriedade
GRÁFICO 3 - Área Total e área cultivada em hectares (ha) das propriedades rurais da Associação
de Agricultura Ecológica Familiar Conchas Velhas
Fonte: Organizado pela autora
2008
2006
2004
2002
Ano
2000
1998
1996
1994
1992
1 2 3 4 5 6
Propriedade
pública faz parte da história da maioria das propriedades desde o princípio de sua
constituição.
2010
2009
2008
2007
2006
Ano
2005
2004
2003
2002
2001
2000
1 2 3 4 5 6
Propriedade
70
60
50
40
Idade
30
20
10
0
AF1 AF2 AF3 AF4 AF5 AF6
Agricultor familiar
3,5
Número de agricultores
2,5
1,5
0,5
0
E. F. in E.F. E.M. E.S. in
GRAFICO 7 – Escolaridade dos agricultores familiares
Fonte: Organizado pela pesquisadora.
Como o objetivo desta pesquisa é avaliar a política pública para a agricultura familiar,
em especial o PAA e se este afeta o fortalecimento da agricultura familiar, torna-se relevante
se debruçar sobre a composição de renda dessas famílias. Conforme destacado na
literatura, o PAA pode ser compreendido como uma política de pontapé para abertura de
novos mercados e outras vias de comercialização. Por isso, deve-se ter cautela na sua
análise haja vista que sua participação na composição da renda pode significar muito mais
que a participação direta, influenciando outras vias de comercialização.
90
permite evitar gastos com esse tipo de produto, reiterado pela produção e autoconsumo,
as quais minimizam os gastos para manutenção da família.
TABELA 9 – Vias de comercialização dos produtos da agricultura familiar, valores (em R$) da
receita da propriedade/mês.
Propriedade Via Comercialização Num. participantes Valor31/mês (R$)
1 PAA 2 1.333,00
Feira Verde 1 500,00
PNAE 1 1.500,00
2 PAA 2 1.333,00
3 PAA 4 2.666,00
Feira Verde 2 666,00
Feira Orgânica 3 1.300,00
PNAE 4 6.000,00
4 PAA 1 666,00
Feira Orgânica 1 2.000,00
PNAE 1 1.500,00
5 PAA 3 2.000,00
Feira Orgânica 2 1.500,00
PNAE 3 4.500,00
6 PAA 1 666,00
Feira Orgânica 1 1.200,00
PNAE 1 1.500,00
Fonte: Organizado pela autora.
Por fim, ainda no que tange à renda, existe o rendimento que não é proveniente da
agricultura familiar, mas que compõe a receita de alguns agricultores familiares, confirma a
Tabela 10.
31Referente aos valores acordados por projeto (ano) do PAA (que pode variar entre 8 a 14 meses de
vigência e não raro quando ultrapassa esse tempo); o PNAE em vigência foi pactuado no valor de R$
200.000,00 pela Associação de Agricultura Ecológica Familiar Conchas, entre 13 associados. A Feira Verde
é por vinculação individual de cada agricultor familiar no programa.
92
32 BPC PcD – Benefício de Prestação Continuada para pessoas com deficiência da Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS) é a garantia de um salário mínimo mensal à pessoa com deficiência de qualquer
idade com impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial de longo prazo (que produza
efeitos pelo prazo mínimo de 2 anos), que o impossibilite de participar de forma plena e efetiva na sociedade,
em igualdade de condições com as demais pessoas. Por se tratar de um benefício assistencial, não é
necessário ter contribuído ao INSS para ter direito a ele. (BRASIL, 2017)
93
“na verdade o que o PAA é uma modalidade que visa a segurança alimentar né, e
nós como associação a gente se enquadra dentro do programa pra fazer a venda.
Como a gente produz orgânico, você está dando completa a parte da segurança
alimentar porque você está fornecendo um produto de qualidade, você está
ajudando no sistema da segurança alimentar (ENTREVISTADA AF3)
33Considerando que a Associação iniciou a discussão sobre a certificação participativa junto à Rede Ecovida,
porém buscaram apenas se inserir na produção orgânica e recorreram ao IBD para certificação auditada.
94
Sobre esse assunto, destaque deve ser dado à questão “saúde”, mencionada por
83,3% dos agricultores familiares. Esse quesito se faz importante por considerar o
entendimento consciente pela adoção da produção orgânica, com um enfático
entrelaçamento entre produtos de qualidade, qualidade de vida e saúde.
os produtos orgânicos favorecem, e muito, os produtores familiares, pois oferecem
melhor saúde para os envolvidos, melhor preservação ambiental [...] uma melhor
saúde para todos significa para os produtores um bem estar familiar e comunitário.
A comunidade não ganha somente na preservação do meio, mas ganha na
alimentação saudável, com ingredientes frescos, produzidos próximos ao local de
consumo (com menor impacto ambiental da logística de distribuição) (NETO, 2011,
p. 83).
Outros itens foram citados, como manuseio sem agrotóxicos e sem interesse na
produção convencional, respostas que refletem também toda lógica do envolvimento no
sistema de produção sustentável, pautado pelo rechaçamento quanto à utilização de
produtos tóxicos, conforme citado anteriormente por Ormond et al (2002) e Darolt (2002).
a gente planta orgânico, porque a gente come o que planta, é uma questão de saúde
sabe. A gente busca ter uma vida boa, tranquila, e a gente precisa ter saúde pra
isso, saúde pra trabalha e cuida da família (ENTREVISTADA AF5)
Neste tópico tratar-se-á sobre o PAA na ótica dos agricultores familiares que
compõem a Associação Ecológica Familiar de Conchas Velhas, numa análise avaliativa do
programa. Essa avaliação finda especialmente nos motivos para adesão ao PAA,
questionando as dificuldades de inserção, o papel da Associação no processo, os
benefícios ou dificuldades para a sustentabilidade da propriedade, os pontos fracos dessa
política, a existência de alguma dificuldade na permanência e se o PAA agroecológico
fortalece a agricultura familiar nos quesitos de aumento da produção, diversificação, entre
outros.
No caso dos motivos para a adesão, 83% dos agricultores consideram a aferição e
a ampliação da renda familiar como um dos principais fatores para o seu ingresso no PAA
(Tabela 12), e 66,6% elencaram a comercialização como ponto importante. Assim, tanto
diretamente (formação de renda) como indiretamente (via comercialização), os motivos de
adesão versam sobre um caráter econômico, que ajuda a manter a sustentabilidade das
propriedades analisadas.
“pra ter uma renda familiar, minha filha, ela é pedagoga, foi pago a faculdade dela
com dinheiro saindo da roça, do PAA” (ENTREVISTADA AF4)
“ai a gente tinha o grupo de orgânico, então aquele projeto[PAA] que saía e dava
certo a gente embarcava junto, claro que uma renda a mais” (ENTREVISTADA AF2)
“o tempo pra ele ser aprovado, as vezes pedem pra gente mandar e demora muito
tempo pra ser aprovado, pra ser liberado pra gente começar a entregar”
(ENTREVISTADA AF 2)
“burocracia, papéis e mais papéis que pra um agricultor, eles não tem noção do que
significa aquilo, papéis exigidos pra você entrar no programa. Hoje o que que o PAA
é: é uma modalidade de venda pro governo, que ele se enquadra qualquer licitação
pela documentação que é exigida. Sendo que é uma coisa pra agricultura familiar,
para pequenos agricultores” (ENTREVISTADA AF 3)
“demoro um pouco na burocracia dos papeis né, demora muito né pra realiza. Vai
pra Curitiba, vai não sei pra onde, e custo né e todo eles vem né” (ENTREVISTADO
AF 1)
“é bastante documento e tá piorando cada dia que passa“. (ENTREVISTADO AF6).
Essa unanimidade revela uma fragilidade do PAA e, conforme relatos acima, pode
ocasionar a desistência do agricultor familiar em participar do PAA. E ainda apresenta
fragilidade em se comparar aos preços praticados por outros Programas (especialmente
PNAE).
Esse item gera inúmeras inquietações a considerar: 1) se o preço praticado pelo PAA
é baixo, configura que a agricultor familiar deve entregar maior quantidade de produtos até
atingir o teto do programa; 2) se ampliar o preço e manter o teto estipulado, impactaria na
quantidade de produtos entregues ao PAA, tendo o problema de onde comercializar o
excedente; existe mercado para tal excedente, mercado este que atenda aos interesses de
comercialização dos agricultores?
Em suma, a precificação dos produtos encontra-se defasada na ótica dos
agricultores familiares, e em consulta a outras pesquisas verifica-se a mesma problemática,
como em Leal, 2015) e ; Hespanhol (2013).
Outro item assinalado como ponto fraco foi o aumento da burocracia, já explicitado
em páginas anteriores, impactando diretamente na dificuldade de permanência no PAA
(Tabela 17).
TABELA 17 - Dificuldades de permanência no PAA
Dificuldades de permanência no PAA Intenção permanecer
AF 1 Não observa Sim
AF2 Idade Sim
Preço baixo dos produtos
AF3 Preço baixo dos produtos Sim
AF4 Preço baixo dos produtos Não
AF5 Preço baixo dos produtos Sim
AF6 Não observa Sim
Fonte: Organizado pela autora
101
Para Agapto (2012) e Santos (2010), o aumento do valor do teto pelo programa seria
um tipo de ação que certamente fortaleceria ainda mais a eficácia do PAA, que atenuaria o
impasse quanto à comercialização dos produtos via PAA, no que condiz à precificação dos
mesmos. Na Tabela 18, os agricultores familiares destacam possíveis adequações ao PAA
agroecológico.
produtos. Esse item aparece como relevante, necessitando adequação do Programa tanto
na atualização dos preços como também na ampliação dos valores limites para a
participação do PAA.
Por fim, nesse processo de inserção dos agricultores no PAA agroecológico, torna-
se importante mensurar a importância da Associação. Conforme informações repassadas
pela Presidenta da Associação, essa foi criada para que os agricultores familiares
pudessem participar do PAA, tendo um importante papel na adesão ao Programa.
“sem associação não tem nada” (ENTREVISTADO AF 6)
“se não fosse ela, talvez hoje não estaria aqui” (ENTREVISTADA AF5)
“ela viabiliza os programas, se não tiver associação não tem nada” (ENTREVISTA
AF3)
TABELA 21 – Idade, escolaridade e início da atividade como agricultor familiar dos ex-associados
da Associação de Agricultura Ecológica Familiar de Conchas Velhas
Idade Esc. Início Ativ. na
Agricultura familiar
AF7 70 E.F. 1967
AF8 48 E.F. 2010
AF9 46 E.M. 2004
AF 10 45 E.M. 2006
Fonte: Organizado pela autora
TABELA 22- Ano de inserção no PAA, vinculação à Associação para participação no PAA e atual
condição.
Ano inserção PAA Última participação Condição Atual
PAA vinculado à
Associação
AF7 2007 2010 Produção apenas para autoconsumo
AF8 2010 2010 Produção apenas para autoconsumo
AF9 2006 2010 Vinculado à Cooperativa Camponesa de
Produção Agroecológica da Economia Solidária
AF 10 2007 2010 Vinculado à Associação dos Produtores
Hortifrutigranjeiros do município de Ponta
Grossa
Fonte: Organizado pela autora
Logística: o grupo mensurou que não possuem gastos com a logística do PAA
agroecológico, que toda a produção é entregue na porta de casa, sendo a Prefeitura
Municipal de Ponta Grossa responsável pela coleta e transporte dos produtos (ponto
novo que não tinha sido observado nas entrevistas);
Ameaças: a demora na aprovação dos projetos, que impacta no plantio das culturas
de inverno e verão. Essa demora na aprovação desencadeia a não compatibilidade
da entrega do produto cadastrado no sistema, porque não se encontra no período
de plantio das culturas (ponto novo que não tinha sido observado nas entrevistas);
Custo da certificação: o grupo concluiu que o custo estava onerando os agricultores
familiares e, nesse sentido, atualmente se encontram em fase de transição de
certificadora, aderindo ao sistema TECPAR para reduzir os custos a fim de manter
a certificação;
Baixa precificação dos produtos: os agricultores sugeriram que a precificação
deveria ser realizada obrigatoriamente mediante cotação de preços em âmbito
regional, conforme prevê o PAA, garantindo os preços praticados no mercado local;
Demora no pagamento dos produtos: o grupo concluiu que a gestão do PAA não
cumpre com regularidade os prazos de pagamento ao agricultor, impactando na
renda dos mesmos (ponto novo que não tinha sido observado nas entrevistas);
Diferenciação de preços: o PAA agroecológico prevê acréscimo de 30% no valor dos
produtos em relação aos produtos convencionais. O grupo concluiu que apenas 30%
de diferença entre produtos convencionais e orgânicos não representa resultado
vantajoso aos produtores de orgânicos, principalmente porque o manejo das culturas
deve ser intenso, considerando a existência da perda de parte da produção, muitas
vezes atingida por pragas eventuais (ponto novo que não tinha sido observado nas
entrevistas).
A ferramenta Matriz de Prioridades de Problemas foi possível por meio da
compilação dos principais resultados das entrevistas realizadas com os seis agricultores da
Associação da Agricultura Ecológica Familiar de Conchas Velhas. O objetivo foi a marcação
da ordem de prioridade dos problemas enfrentados diante do PAA agroecológico, conforme
apresentado no Quadro 9. Nesses termos, observa-se que o principal problema se refere
aos preços baixos, seguido da burocracia, ratificando os resultados encontrados nas
entrevistas.
109
(conclusão)
BENEFÍCIO DO PAA AGROECOLÓGICO
Diversidade produção 3º
Segurança na renda 2º
Maior produção 4º
Comercialização garantida 1º
INDICAÇÕES PARA MELHORAR O PAA AGROECOLÓGICO
Reajuste no preço dos produtos 2º
Aumento no valor do PAA agroecológico por agricultor 1º
Maior agilidade na aprovação/gerenciamento do projeto (burocracia) 3º
QUADRO 10 – Matriz de Prioridades
Fonte: Organizado pela autora
111
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
GIL. A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5 ed. – São Paulo: Atlas, 1999.
MAPA. Os sistemas orgânicos de produção tem por finalidade. 2016. Disponível em:
<http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sustentabilidade/organicos/o-que-sao-organicos>.
Acesso em: 04/04/2017.
NETO, N. C.; et al. Produção orgânica: uma potencialidade estratégica para agricultura
familiar. Revista Percurso - NEMO Maringá, v. 2, n. 2 , p. 73-95, 2010.
SOUZA, C. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano
8, nº 16, jul/dez 2006, p. 20-45.
ROTEIRO DE ENTREVISTA
BLOCO 1 – A ASSOCIAÇÃO
1. Histórico da Associação (como, porque, quais objetivos, quando surgiu, características, princípios
que norteiam)?
2. Como surgiu o PAA agroecológico para a comunidade (possibilidade de inserção no programa).
3. Número de integrantes?
4. Atividades desempenhadas?
5. Área de atuação (PAA, PNAE, outros).
6. Estrutura física, Rh, materiais e financeira.
7. Como se dá a relação da associação com as demais organizações sociais e entidades da região?
8. Quais são os parceiros?
9. No que se refere as políticas públicas, existe assessoria? Qual?
BLOCO 2 – O PAA
1. Qual a visão da associação sobre o PAA agroecológico?
2. Quais as diretrizes da associação para o agricultor estar inserido no PAA?
3. Quais as principais dificuldades que a associação encontra para operacionalizar o PAA?
4. Que seria necessário para sanar estas dificuldades?
5. Qual o grau de importância do PAA agroecológico para fortalecimento da agricultura familiar?
6. A associação participa de algum conselho ou instância deliberativa?
7. Na perspectiva do agricultor, quais as dificuldades que a associação vê para a permanência do
agricultor no PAA agroecológico?
8. Quais as entidades contribuem para a permanência dos agricultores no PAA?
9. Quais as entidades que poderiam auxiliar no processo de participação dos agricultores no PAA?
ROTEIRO DE ENTREVISTA
BLOCO 2 – FAMÍLIA
Nome Idade Escol. Renda pluriatividade / Qual Aposentadoria /Pensão / Valor
BLOCO 4 – PRODUÇÃO
1. PRODUÇÃO VEGETAL
A) OUT 2015 a SET 2016
Lavoura Área Quantidade Valor (R$) Onde/comercialização
B) Antes do PAA
Lavoura Área Quantidade Valor (R$) Onde/comercialização
124
B) Antes do PAA
Produto Área Quantidade Valor (R$) Onde/comercialização
B) Antes do PAA
Produto Área Quantidade Valor (R$) Onde/comercialização
4. PRODUTOS PROCESSADOS
A) 2016
Produto Área Quantidade Valor (R$) Onde/comercialização
B) Antes do PAA
Produto Área Quantidade Valor (R$) Onde/comercialização
125
BLOCO 5 – PAA
1. Quais programas participa além do PAA?
2. Motivo de entrada no PAA
( ) possibilidade de comercialização;
( ) ampliação da renda;
( ) outros: _______________________________________________________________
3. Quais as dificuldades de entrar no PAA agroecológico:
( ) certificação;
( ) custos
( ) associação
( ) período conversão propriedade;
( ) documentação/ burocracia
( ) outros: _______________________________________________________________
4. Qual a importância da Associação para inserção e manutenção no PAA agroecológico:
( ) muito importante;
( ) importante
( ) pouco importante
( ) irrelevante;
Justifique: __________________________________________________________________
5. Quais as vias de comercialização da propriedade antes do PAA agroecológico?
6. Antes do PAA agroecológico a produção da propriedade era orgânica?
( ) SIM
( ) NÃO. Se não, quantos % da propriedade não era orgânica?______________________
7. Porque optou pelo PAA agroecológico ao PAA convencional:
( ) preço;
( ) práticas orgânicas;
( ) saúde;
( ) outros: _______________________________________________________________
8. Quais os benefícios que o PAA agroecológico trouxe para a sustentabilidade de sua propriedade:
( ) diversificação;
( ) maior produção/ consumo;
( ) segurança na renda;
( ) outros: _______________________________________________________________
9. O PAA agroecológico trouxe problemas de gerenciamento na propriedade. Quais?
( ) falta de assistência técnica;
( ) mão-de-obra;
( ) perda produção;
126
( ) associação;
( ) compra indireta;
( ) compra coletiva
( ) outros: _______________________________________________________________
10. No que a Associação poderia contribuir para diminuir problemas (se houver) voltados para o PAA.
11. Quais pontos fracos do PAA agroecológico:
( ) burocracia;
( ) valor limitado – insuficiente;
( ) periodicidade;
( ) entrega;
( ) preda produção no ato de entrega
( ) outros: _______________________________________________________________
12.Quais as dificuldades de se permanecer no PAA:
( ) certificação;
( ) permanência na Associação;
( ) outros: _______________________________________________________________
13.O PAA contribui para a diversificação da produção?
14. Após o PAA agroecológico a produção orgânica aumentou:
( ) não
( ) sim. Se sim, qual a importância para este aumento: ( ) muito importante;
( ) importante
( ) pouco importante
( ) irrelevante.
15. Você acredita que o PAA agroecológico fortaleceu sua família na agricultura familiar? como?
16. Você acredita que o PAA agroecológico fortaleceu o processo de associativismo? Como?
17. Quais os fatores internos do grupo que influenciam positivamente no seu desempenho como
agricultor?
18. Quais fatores internos do grupo que influenciam negativamente no seu desempenho como
agricultor?
19. Quais os fatores externos que influenciam positivamente o processo de associativismo?
Quais os fatores externos que influenciam negativamente o processo de associativismo?
21. Para cada canal de comercialização, quais são as dificuldades:
Canal de comercialização Grau de dificuldade Dificuldades
( ) pouca dificuldade
( ) muita dificuldade
( ) sem dificuldade
( ) pouca dificuldade
( ) muita dificuldade
( ) sem dificuldade
( ) pouca dificuldade
( ) muita dificuldade
( ) sem dificuldade
( ) pouca dificuldade
( ) muita dificuldade
( ) sem dificuldade
127
ROTEIRO DE ENTREVISTA
BLOCO 2 – FAMÍLIA
Nome Idade Escol. Renda pluriatividade / Qual Aposentadoria /Pensão / Valor
BLOCO 4 – PRODUÇÃO
1. PRODUÇÃO VEGETAL
A) 2016
Lavoura Área Quantidade Valor (R$) Onde/comercialização
A) 2016
Produto Área Quantidade Valor (R$) Onde/comercialização
4. PRODUTOS PROCESSADOS
A) 2016
Produto Área Quantidade Valor (R$) Onde/comercialização
BLOCO 5 – PAA
1. Anos que participou do PAA?
2. Quais as dificuldades enfrentadas quando participou do PAA agroecológico?
3. Qual (s) o (os) motivo (s) que o levaram a sair do PAA agroecológico?
4. Possui intenção de retornar ao PAA agroecológico:
( ) não
( ) sim. Se sim, o que necessita para o retorno?
5. Quais foram os impactos de sua saída do PAA agroecológico:
( ) diminuição renda;
( ) diminuição canal de comercialização;
( ) diminuição da diversificação na produção
( ) outros: _______________________________________________________________
6. Sobre a perspectiva do associativismo, houveram fatores que influenciaram na saída do PAA
agroecológico?
7. Em sua opinião no que o PAA agroecológico poderia mudar/ampliar/alterar para fortalecer a
agricultura familiar?
131
_____________________________________
Assinatura do convidado da pesquisa
_____________________________________
Assinatura da pesquisadora