Tese de Doutorado Vitor Corrêa de Oliveira
Tese de Doutorado Vitor Corrêa de Oliveira
Tese de Doutorado Vitor Corrêa de Oliveira
CAMPO GRANDE, MS
2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
CURSO DE DOUTORADO
OBRIGADO!
Tenha sempre a humildade de ouvir
e a personalidade de tomar suas decisões.
RESUMO
OLIVEIRA, V.C. Análise da eficiência técnica de produção de leite de unidades atendidas por
políticas públicas em Mato Grosso do Sul. Tese. Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, 2020.
OLIVEIRA, V.C. Analysis of the technical efficiency of milk production of dairy farms served
by public policy in Mato Grosso do Sul State. Thesis - Faculty of Veterinary Medicine and
Animal Science, Federal University of Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, 2020.
The socioeconomic importance of the agro-industrial dairy chain for Brazil is undeniable, and
Mato Grosso do Sul (MS) has a large number of production units, mainly family farmers.
Paradoxically, several agencies have been supporting development actions, however milk
production in MS state has not been improved, different from the national average. Based on a
review related to the importance, characteristics and perspectives for the milk production chain,
a brief history of public policies related to this chain in Brazil, in addition to principles for
evaluating the outcome of public policies, the main objective of this work was to contribute to
a better understanding of the milk production chain and the results of public policies aimed at
family farmers milk through the analysis of milk production and technical production
efficiency. Data from the years 2015 and 2017 from 103 milk production units (UPLs) were
used, accompanied by an extensionist from the Agency for Agrarian Development and Rural
Extension, official agency of the MS. It was found that despite the economic crisis during the
study period, the UPLs served by public policies went through without alteration in milk
production, different from the average of MS producers, however, the concession of equipment
was not the best strategy for increasing technical efficiency, making it necessary to carry out
more in-depth and specific studies on the impact of these public policies before continuing to
invest public resources and structure in this strategy. Technical assistance resulted in increase
in the adoption of better production techniques and consequent increase in production; and that
the level of education is a factor of great impact on milk production.
Keywords: Milk production chain; Technical efficiency; Stochastic frontier; Public policy,
Family farming.
LISTA DE FIGURAS
ARTIGO
Tabela 3. Estatística descritiva da produção de leite e das variáveis quantitativas e qualitativas
consideradas no modelo em estudo por categoria de produtor e pelo ano das informações. ... 46
Tabela 4. Número e porcentagem de unidades de produção com resposta sim para as variáveis
binárias consideradas no modelo em estudo por categoria de produtor e pelo ano das
informações. ............................................................................................................................. 48
Tabela 5. Resultados da estimação da fronteira estocástica pelo modelo Log Log, ineficiência
técnica e análise de avaliação do modelo. ................................................................................ 49
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 1
ARTIGO ............................................................................................................................................................. 36
1. INTRODUÇÃO
A bovinocultura de leite pode ser considerada uma atividade agrícola universal, pois
vacas são ordenhadas em quase todos os países do mundo, sendo vital para o sistema global de
garantia da segunça alimentar da humanidade e para a sustentabilidade de grande parte da
população rural.
Nas últimas décadas, a atividade no Brasil evoluiu de forma contínua, resultando no
crescimento consistente da produção, que colocou o país como um dos principais do setor no
mundo. Com o aumento populacional e o crescimento econômico mundial, o consumo de
lácteos tem aumentado de forma expressiva, tanto em países desenvolvidos, como em países
em desenvolvimento, o que sinaliza para a continuação de crescimento sustentável do setor de
lácteos.
O setor de produção de leite do estado de Mato Grosso do Sul (MS) no ano de 2019
respondeu por produção aproximada de 310 milhões de litros por ano sendo apenas o 19º estado
no ranking de produção de leite no Brasil (IBGE, 2020). Apesar da baixa eficiência do setor no
MS, de forma paradoxal, as instituições ligadas a cadeia agroindustrial de lácteos não têm sido
omissas, e vem executando programas e atividades com o objetivo de desenvolver o setor.
Uma hipótese para uma das causas desse destaque negativo para o MS, seria que as
ações públicas não estariam indo ao encontro das reais necessidades da cadeia, com ausência
ou baixa efetividade em seus objetivos, e/ou não estão sendo conduzidas de forma precisa.
Estudos que busquem um melhor entendimento do funcionamento da cadeia agroindústrial de
lácteos, nas diferentes esferas geográficas, dos diversos fatores sócioeconômicos da cadeia
produtiva de lácteos, dentro e fora de MS, poderão contribuir para implantação de políticas
públicas mais eficazes, possibilitando o desenvolvimento do setor.
Nesse sentido, a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural – AGRAER,
autarquia ligada ao governo do Estado, realizou acompanhamento com coletas de informações
sociais, técnicas e econômicas das unidades de produção de leite (UPLs) de agricultores
familiares assentados e tradicionais atendidas por programas de fomento à produção de leite,
por meio de assistência técnica, extensão rural e concessão de uso de equipamentos durante os
anos de 2015 a 2017. Esses dados foram utilizados na construção do presente estudo como fonte
primária de informação.
2
2. REVISÃO DE LITERATURA
Bilhões de pessoas em todo o mundo consomem leite e produtos lácteos todos os dias.
O leite e os produtos lácteos não são apenas fonte vital de nutrição para essas pessoas, eles
também apresentam oportunidades de subsistência para agricultores, processadores,
comerciantes e outras partes interessadas na cadeia de valor dos laticínios. Mas para conseguir
isso, consumidores, indústria e os governos precisam de informações atualizadas sobre como o
leite e seus derivados podem contribuir para a nutrição humana e como o desenvolvimento da
indústria de laticínios e lácteos podem contribuir da melhor maneira para aumentar a segurança
alimentar e aliviar a pobreza (Muehlhoff, Bennett e McMahon, 2013a).
4
20%
18% Energia Proteína Lipídios
16%
% no total da dieta
14%
12%
10%
8%
6%
4%
2%
0%
Brasil Africa Américas Ásia Europa Oceania
Figura 1. Participação do leite na composição da dieta no Brasil e nos continentes. Fonte: Food Balances 2013 -
FAO.
de lácteos, causando represamento em países que para lá exportavam (Ribeiro, 2015). No final
de 2016 os preços internacionais já estavam normalizados, contribuindo para a retomada do
crescimento do setor. O comércio de produtos lácteos no Mundo foi de aproximadamente
U$94,1 bilhões em 2018 (IDF, 2019).
301.208
4.157.933
281.208
3.757.933
261.208
241.208
3.357.933
221.208
2.957.933
201.208
181.208 2.557.933
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
Leite Agricultura
Figura 2. Valor bruto da produção (Trilhões USD constante em 2014 – 2016) da agricultura total e do leite fresco
de vaca no Mundo. Fonte: FAOSTAT 2018.
A bovinocultura de leite tem crescido de forma contínua nas últimas décadas no Brasil.
O país esteve estabilizado na quarta colocação no ranking de produção de leite de vacas, durante
à ultima década, entretanto com a queda de produção da China em 2017, o Brasil pulou para
terceiro maior produtor do Mundo, tendo produzido 33.490.812 litros em 2017 (IBGE, 2018).
Na Figura 3 podem ser observadas as evoluções dos principais produtores mundiais, com
destaque para os Estados Unidos, como o maior produtor, e para Índia e China que apresentaram
crescimentos espantosos neste século.
Gomes (2001) cita que a década de 1990 foi um “divisor de águas” para a cadeia
agroindustrial do leite no Brasil, em função de três fatores que foram fundamentais para as
transformações observadas no setor: 1) Liberação do preço do leite, em setembro de 1991; 2)
Estabilidade da economia, com destaque para a queda da inflação com a implantação do Plano
Real, em julho de 1994; e 3) Maior abertura comercial.
Brasil
60.000.000
Alemanha
50.000.000
Russia
40.000.000
30.000.000 França
Figura 3. Produção de leite dos principais produtores de leite de vaca do Mundo entre os anos de 1993 e 2018.
Fonte: FAOSTAT.
Apesar da boa colocação do Brasil, a produtividade média em 2017 foi de apenas 1.963
kg de leite por vaca por ano (IBGE, 2018), sendo a nona melhor entre os 10 maiores produtores
8
do mundo, a frente apenas da Índia, apesar dos 70% de evolução neste século. Deve-se
considerar o fato da maioria das unidades de produção brasileiras ainda serem em regiões de
clima tropical, que utilizam sistemas prioritariamente à pasto, onde utiliza-se animais de grupos
genéticos mestiços com sangue de raças zebuínas. Entretanto, vale ressaltar que mesmo nessas
condições, é possível obter produtividades anuais acima de 3.000 litros por vaca/ano com o
sistemas produtivos à pasto com suplementação mínima de ração concentrada, mesmo com
animais mestiços azebuados.
Ainda na Figura 3 a queda de produção durante os anos de crise econômica no Brasil
entre 2013 e 2017. Especialmente 2016 foi um ano muito difícil para os produtores, uma vez
que o consumo de lácteos no Brasil caiu, os preços internacionais estavam em baixa devido ao
estoque chinês, empurrando o preço pago ao produtor para baixo. Além disso, a cotação dos
principais ingredientes da ração concentrada aumentaram, como soja e milho, chegando à
valores acima de US$ 25,00 e US$ 14,00 a saca, respectivamente
(CEPEA/ESALQ/BM&FBOVESPA, 2020), com cotação do dolar americano de R$ 3,56.
Como parâmetro, em 18 de maio de 2020 os preços eram de US$ 18,81 e US$ 8,79, com cotação
do dolar americano de 5,73.
16.000 3.500
12.000
2.500
USA, UE (Milhões L)
10.000
2.000
8.000
1.500
6.000
1.000
4.000
2.000 500
0 0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Figura 4. Captação de leite média de 2015 à 2019 de alguns países importantes na cadeia de lácteos do mundo
(milhões de litros). Fontes: USDA, Eurostat, IBGE, MAGyP, Inale, Dairy Austrália, Dcanz (2020).
9
Outro resultado oriundo das características dos sistemas brasileiros de produção em sua
maior parte, é a sazonalidade de produção, principalmente nos estados de clima tropical. Na
Figura 4 se observa períodos de variação de captação de leite para a média do período de 2015
a 2019 do Brasil e de alguns países de grande importância no mercado mundial de lácteos. Essa
oscilação de captação é consequência da sazonalidade forrageira, tipo de sistema de produção
e características de mercado, que por sinal não é uma exclusividade do Brasil. Na Nova
Zelândia, por exemplo, é praticada inclusive a safra e entressafra do leite, onde que nos meses
de junho e julho é o período seco das vacas, conhecido como “dry off”. O inverno nesse país é
muito rigoroso e a demanda interna é pequena, possibilitando essa estratégia, que por sua vez,
facilita o planejamento das fazendas e das indústrias de laticínios (RLI, 2013).
A produção de leite no Brasil tem apresentado variações entre regiões, o que é natural,
uma vez que tratamos de atividade que se caracteriza por apresentar elevada diversidade de
sistemas de produção, causada pelas diferenças social, econômica, cultural e climática entre as
regiões. Enquanto se constata avanço na região Sul, ocorrem recuos no Sudeste e Centro-Oeste.
Entre 2012 e 2017, o aumento da produção nacional foi de 1,2 bilhão de litros, impulsionada
principalmente pelos três estados do Sul (Zoccal, 2019). Se considerarmos um período de 40
anos até 2018, o crescimento foi de 451% (Figura 5), enquanto o Sudeste cresceu apenas 120%,
muito impulsionada por Minas Gerais, que cresceu 197% durante esse período.
A região Sul do país possui, obviamente, condições climáticas e de solo privilegiadas à
criação de animais com maior proporção de sangue Europeu, principalmente a raça Holadês, o
que vem possibilitando a implantação de sistemas de produção mais intensivos, com
produtividades mais elevadas (Tabela 1), principalmente por meio da utilização de
confinamentos e semi-confinamentos. O sudoeste do Paraná, o oeste de Santa Catarina e o
noroeste do Rio Grande do Sul são as microregiões com maior destaque.
Além disso, o crescimento de cooperativas têm impulsionado a atividade por fortalecer
a cadeia de lácteos local. Em 2015, o volume de leite total recebido pelas cooperativas no Brasil
foi de 23,4 milhões de litros de leite por dia. O Sul foi onde as cooperativas tiveram o maior
volume total de leite recebido com mais de 11 milhões de litros por dia, seguido da região
Sudeste com uma média diária de 9,5 milhões (OCB, 2017). Ressalta-se ainda que 25% do
faturamento da venda de leite e lácteos das cooperativas do Brasil provém de cooperativas do
Sul, cuja participação de leite e lácteos no faturamento total soma menos de 30%. Este grupo,
composto de cooperativas oriundas de setores muito competitivos do agronegócio nacional, tem
trazido suas práticas gerenciais e sua propensão à inovação ao cooperativismo do leite,
contribuindo para a inserção competitiva do cooperativismo no agronegócio do leite.
10
13
12
11
10
9
Bilhões de Litros
0
1973 1978 1983 1988 1993 1998 2003 2008 2013 2018
Figura 5. Produção de leite de vaca das regiões do Brasil entre os anos de 1974 e 2018. Fonte: Pesquisa Trimestral
do Leite, IBGE.
maior produção desde os tempos da histórica “política do café com leite”, vem tendo redução
em São Paulo, como já dito, e crescimento inexpressivo no Rio de Janeiro.
9,0
8,5
8,0
2018
7,5
7,0 2008
6,5
Bilhões de litros por ano
6,0 1998
5,5
1988
5,0
4,5 1978
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
MS MT CE BA PE RO SP SC GO RS PR MG
Figura 6. Produção de leite dos 10 estados brasileiros de maior produção de leite e dos estados da região Centro-
Oeste dos anos entre 1978 e 2018. Fonte: IBGE.
de grãos e possui posição geográfica privilegiada. Além disso, faz divisa com o principal
mercado consumidor do país e importador de lácteos, São Paulo, além de Santa Catarina,
Paraná, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, e fronteira com Paraguai e Bolívia.
Dados do Censo Agro 2017 (IBGE, 2018) mostraram MS como o 17º colocado no
Ranking de produção de leite no país, entretanto a Pesquisa Municipal de 2019 do mesmo
instituto (IBGE, 2020) o estado já caiu para 19º colocado, com produção aproximada de 310
milhões de litros por ano (Figura 6), 27% menor que os 424 milhões do Censo (Tabela 2).
Tabela 2. Resultados do IBGE - Censo Agro 2017 relacionados à bovinocultura de leite e índices estimados para
o Brasil e Mato Grosso do Sul.
Enquanto a produtividade anual média por vaca ordenhada no Brasil foi de 2.621L, em
MS foi de 1.892, ajudando a explicar porque o estado não tem seguido o caminho de tantos
outros e do país de uma forma geral. Além disso, chama a atenção negativamente o valor pago
estimado por litro de leite, de apenas R$0,96. Apesar que para o mesmo ano, esse valor foi de
R$0,84 para Rondônia, e a produção do estado continua crescendo.
Destaca-se também a baixa proporção de vacas ordenhadas em relação ao rebanho total
no MS em comparação à média nacional (1,2% e 6,7%, reespectivamente), retratando a baixa
representatividade da atividade perante ao gado de corte, apesar de 43,6% do total de
estabelecimentos produzirem leite. Em Minas Gerais, o estado de maior produção e maior
rebanho de bovinos de leite do país, essas estimativas são de 15,2% para o primeiro índice e
13
56,2% para o segundo, retratando a grande disparidade de perfil produtivo dos estados. Em
Minas Gerais a produtividade média é de 2.949L de leite por ano por vaca ordenhada (IBGE,
2018).
A pouca especialização da atividade leiteira praticada em Mato Grosso do Sul traz
consequências negativas para a Cadeia Produtiva do Leite, como: alta sazonalidade de produção
de matéria-prima para a indústria de laticínios e, consequente, volatilidade de preços; difi
culdade de gerenciamento e planejamento da produção pecuária e industrial; desestímulo aos
produtores que querem se especializar na pecuária leiteira, devido à não remuneração
diferenciada para um leite de melhor qualidade; difusão de práticas de manejo não adequadas
para a produção de leite; baixo conhecimento de técnicas agronômicas para a produção de
alimentos específicos para o gado leiteiro; ineficiência do controle zootécnico do rebanho
(Simões et al., 2009).
Essas características, que não permitem rentabilidades adequadas ao capital imobilizado
na terra, aliadas à forte concorrência de outras culturas tradicionais no estado, como agricultura
de culturas anuais, silvicultura e criação de espécies em sistemas altamente especializados,
como suinocultura e avicultura, podem contribuir para explicar o nível de interesse pela
bovinocultura de leite por parte dos produtores.
Em MS a produção de leite não está concentrada em uma bacia leiteira bem definida.
Analizando a Figura 7, observa-se uma cinturão de laticínios que corta o centro do estado, com
maior concentração na região da grande Dourados e no extremo sul. Outra concentração fica
no extremo leste, margeando os estados de Goiás e Minas Gerais, onde está localizado o
município de Paranaíba, o maior produtor do estado com 28.316 Mil L produzido (IBGE, 2018).
Atualmente, a região que mais cresce em produção é o extremo sul, próximo ao estado do
Paraná, principalmente os municípios de Itaquiraí, Nova Andradina e Iguatemí, que estão entre
os 6 maiores do estado. A região central, que trandicionalmente era a região de maior produção,
nos últimos anos teve drástica queda na atividade. Os municípios de Campo Grande e
Bandeirantes figuravam entre os 4 maiores produtores no ano de 2010, atualmente são 14º e
20º, respectivamente. Nesse período a produção na Capital despencou de 20.945 Mil L (IBGE,
20) para 8.677 Mil L (IBGE, 2018) por ano. Inclusive, o maior laticínio do estado, que fica
localizado no município vizinho, Terenos, está inativado.
14
Figura 7. A - Cartograma da produção de leite em Mil L/ano, (IBGE, 2018); e B – Mapa dos laticínios inativos e
ativos por sistema de inspeção sanitária do Estado de Mato Grosso do Sul (Dados primarios verificados junto à
Secretaria de Estado de meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de MS –
SEMAGRO, 2020).
O consumo mundial de leite fresco e processado está equilibrado, e deverá crescer 2,1%
e 1,7% ao ano, respectivamente na próxima década (OECD, 2018). Segundo Siqueira (2019a),
os produtos lácteos, assim como os demais produtos de origem animal, têm uma maior
elasticidade renda da demanda do que outros alimentos, especialmente nos extratos mais pobres
da população. Ou seja, um pequeno aumento na renda leva a um grande aumento nos gastos
com estes produtos e o crescimento ou a recessão de países em desenvolvimento determinarão
o ritmo futuro do consumo de lácteos.
Contudo, o crescimento da produção e consumo mundial de equivalente leite tem sido
menos dinâmico do que o da carne. O consumo mundial per capita de leite era de 83 kg, contra
77 kg há 30 anos (Alexandratos e Bruinsma, 2012). Todo o aumento do consumo per capita
vinha dos países em desenvolvimento (de 37 kg para 52 kg), com a China desempenhando um
papel importante. Os países em desenvolvimento continuavam a ter um consumo per capita
bem abaixo dos países industrializados. No mesmo artigo, os autores projetaram aumento médio
de consumo mundial de equivalente leite até 2050 de 1,1% ao ano, sendo que para os países em
desenvolvimento, 1,8% e desenvolvido de 0,3%. Chama a atenção a projeção para o sul asiático,
com 2,0%.
Ainda naquela região, no ano de 2012 o consumo per capita anual da Índia era um pouco
acima de 60kg e a projeção para 2025 era de próximo aos impressionantes 108kg de equivalente
15
leite (Alae-Carew et al., 2019). Na China, o aumento do consumo de produtos lácteos foram
projetados em 74% até 2050, equivalendo à um mercado total de US$ 26,1 bilhões, sendo
importações de US$ 2,1 bilhões, elevando as importações de lácteos daquele país (Sheng e
Song, 2017). Completaram dizendo que a demanda total de alimentos na China dobrará em
termos de valor real até 2050, impulsionada pelo crescimento da população e da renda. Ao
mesmo tempo, os padrões de consumo passarão das necessidades (por exemplo, cereais, grãos
e alimentos ricos em amido) para outros bens de luxo, particularmente carne e laticínios,
refletindo a escalada de "qualidade" do consumo de alimentos.
Apesar das boas perspectivas para produtos lácteos em geral, o consumo de leite fluído
vem sofrendo com o crescimento de diagnósticos ou percepção da intolerância à lactose,
potencializado por um modismo e propagandas que deflagram a imagem do porduto de origem
animal. Em estudo realizado na região de Campania na Itália constatou-se que 22,2% dos
participantes, não bebem leite e 18,1% bebem leite sem lactose, principalmente por causa
de sintomas gastrintestinais (Zigone et al., 2017). A grande maioria da população da amostra
optou por evitar o consumo de leite sem realizar o teste de respiração para intolerância à
lactose ou consultar um médico. Os autores constataram também que mulheres e pessoas
com baixo peso bebem mais leite sem lactose do que leite com lactose; e a amostra da
população não evita laticínios, pelo contrário, eles parecem ser consumidos com bastante
frequência.
No Brasil, as taxas de crescimento anual do consumo per capita de equivalente leite nos
últimos dez anos são superiores ao crescimento mundial: média 2,7% ao ano, entretando o
consumo per capita está em queda desde 2014, chegando ao nivel de 166 litros de leite/habitante
em 2017, valor que corresponde ao nivel de consumo de 2012 (Siqueira, 2019b). Essa queda é
atribuída ao período de recessão que o país atravessou nesse período.
O segmento de leite UHT está estagnado nos últimos 4 anos, tendo apresentado um
volume ligeiramente maior em 2017, quando atingiu 7 bilhões de litros. Vários fatores têm
contribuído para este cenário, destacando-se o fraco desempenho da economia, a cada vez
menor substituição do leite pasteurizado pelo UHT, já que os volumes do leite pasteurizado
chegaram a nível bastante baixo, e a ainda baixa penetração nas regiões norte e nordeste, onde
as bacias leiteiras ainda não se desenvolveram. (ABVL, 2019).
16
30.000 180
178
25.000 176
174
20.000
Litros/habitante/ano
172
Milhões de litros
170
15.000
168
166
10.000
164
5.000 162
160
0 158
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Figura 8. Destinação do leite inspecionado e consumo per capita de equivalente leite no Brasil. Fonte: Terra Viva,
2020.
Na última década, o consumo de queijo tem tido aumento maior que o consumo de leite,
seja UHT, pasteurizado e/ou pó no Brasil (Figura 9), mostrando a diversificação no padrão de
consumo de lácteos em busca daqueles com maior valor agregado. Com a queda no ritmo de
crescimento do Brasil, que teve 9,8% de crescimento do PIB per capita em 2013, passou para
7,47% em 2014 e 2,86 em 2015 (IBGE, 2020), o consumo per capita de lácteos despencou até
2017, principalmente no grupo de produtos “demais produtos”, onde estão os cremes, iogurtes,
manteiga, requeijão e outros derivados, mais caros, como já era de se esperar com a redução da
capacidade de compra da população. Após esse período retornou o crescimento do consumo
desses produtos.
O estado de Mato Grosso do Sul possui população estimada de 2.809.394 pessoas
(IBGE, 2020). Se considerarmos o consumo per capita de leite consumo médio do Brasil em
2019 de 171 litros/habitante/ano (Terra Viva, 2020), estima-se um consumo total anual de 480,4
milhões de litros de equivalente leite com produção estimada de 310 milhões em 2019 (IBGE,
2020). Sendo assim, a indústria local não conseguiria atualmente atender a demanda interna de
leite, sendo essa demanda atendida por produto oriundo de estados e países vizinhos. Esse fato
demonstra uma oportunidade de mercado para os produtores e indústria, caso tenha
competitividade em seus processos produtivos. Vale ressaltar que a renda per capita da
população de MS é superior à média nacional referentes a 2019 em aproximadamente 5%
17
A produção de leite deverá crescer nos próximos 10 anos a uma taxa anual entre 1,9 e
2,8%. Essas taxas correspondem a passar de uma produção de 35,4 bilhões de litros em 2020
para valores entre 42,9 e 47,7 bilhões de litros no final do período das projeções. O crescimento
de oferta será principalmente baseado em melhorias na gestão das fazendas e na produtividade
dos animais e menos no número de vacasem lactação. A decisão da China pela importação de
queijo do Brasil deve ter grande impacto nesse mercado (MAPA, 2020).
Buscando atender às demandas de transformação que a cadeia produtiva de lácteos têm
exigido, com sistemas de produção de menor impacto ambiental e em consonância com as
exigências de bem estar animal exigidas exigidas pelo mercado consumidor, a comunidade
científica vem trabalhando para dinuir esses impactos por meio de técnicas de produção que
aumentam a eficiência produtiva através do fornecimento de dietas balanceadas ao animais,
melhoramento genético e técnicas de manejo mais adequadas.
Diversas tecnologias foram e estão sendo desenvolvidas para a pecuária, e precisam ser
aplicadas para que os índices zootécnicos continuem sendo melhorados. O que se observa é
que, mesmo de forma lenta, a pecuária no País passa por uma verdadeira transformação e segue
em sinergismo com divesas técnicas de produção (Pedreira e Primavesi, 2010). O desempenho
mais elevados dos animais pode reduzir a emissão de metano em consequência da redução do
número de animais no sistema de produção, considerando ainda que (Moss et al., 2002).
Esse entendimento tem ganhado força até mesmo junto às instituições representativas
do setor, como por exemplo a International Dairy Federation – IDF, que tem trabalhado junto
às indústrias associadas (IDF, 2019) a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e seus
17 objetivos para transformar nosso mundo publicado durante a Assembléia Geral das Nações
Unidas em Setembro de 2015 (ONU, 2015), onde os 193 países membros se comprometeram
em acabar com a pobreza, proteger o planeta e acabar com a desigualdade.
18
Esses fatos aliados à grande interação existente no mundo atual, pressionam o setor a
inovar. Como as novas gerações são mais conectadas e tendem a influenciar as demais, elas têm
provocado muitas mudanças nas tendências de consumo de alimentos. A busca por maior
informação sobre os alimentos consumidos é uma tônica neste momento. Os consumidores
buscam nos amigos, internet, redes sociais e influenciadores digitais, informações mais
detalhadas tanto sobre as marcas de produtos consumidos quanto sobre o próprio alimento. A
ideia é saber o que está por trás daquele produto (Siqueira, 2019b).
Fundamental citar que a essência da transformação digital está na maximização dos
beneficios da ciência e da tecnologia para a sociedade, em todos os aspectos socioeconômicos.
No setor lácteo, o cenário de transformação abre perspectivas de impactos potenciais mais
perceptíveis, uma vez que leite e derivados apresentam a mais extensa e mais complexa cadeia
de valor do agronegócio brasileiro, além da diversidade de atividades que a compõe, de estar
presente em todo o território nacional e por gerar produto altamente perecível (Arbex e Martins,
2019).
De fato, tem acontecido o amadurecimento da cadeia produtiva, tendência que poderá
trazer reflexos positivos no futuro. Nos últimos dez anos, o setor ficou mais organizado, os
diversos agentes da cadeia estão discutindo conjuntamente os desafios e oportunidades e os
produtores passaram a ter mais voz e participação nas decisões, seja por meio das câmaras
setoriais de governo, seja por meio das representações de classe (Vilela et al., 2017). O resultado
é que a velha forma de focar problemas no curto prazo começa a ser substituída por uma de
longo prazo que pensa a cadeia produtiva de forma estruturante e fórmula políticas com visão
de futuro.
O aumento de produtividade das vacas aponta para um processo de modernização e
especialização das fazendas leiteiras, uma das principais condições para que o Brasil possa ser
inserido, ainda nos próximos anos, no seleto grupo dos exportadores de lácteos para o mundo
(Resende et al., 2019).
Movimento de longo prazo: concentração setorial e ganhos de eficiência serão os
principais drivers. Isso não implica que todos os produtores menores irão sair. Os excluídos
serão aqueles que não se adaptarem a nova realidade de adoção tecnológica, melhorias na gestão
e maior eficiência técnica e econômica. Irão permanecer os produtores eficientes. Mas como
existe uma diferenciação de preço por volume, haverá sim, uma pressão por aumento de escala
(MAPA, 2020).
19
ambientais e ao bem-estar animal, uma vez que no guia orientativo para a elaboração do PQFL
publicado em maio de 2019 (BRASIL, 2019), elaborado pela coordenação de boas práticas e
bem-estar animal – CBPA, traz em seu escopo orientações relativas à adoção das BPA, itens
específicos sobre manejo de resíduos e tratamento de dejetos e efluentes; uso racional e
estocagem de produtos químicos, agentes tóxicos e medicamentos veterinários; e adoção de
práticas de manejo racional e de bem-estar animal.
Os principais aspectos são os relacionados ao desmatamento, que muitas vezes são
realizados por meio de queimadas, e as emissões de metano e dióxido de carbono pelos animais,
processo fisiológico natural das espécies ruminantes, estimulando o aquecimento global por
denegrir a camada de ozômia da atmosfera. A adoção de sistemas produtivos mais eficientes e
sustentáveis é uma forma de contribui um menor volume de gases emitidos por litro de leite
produzido e evitar que novas áreas de florestas se tornem áreas de pastagem.
A redução das estruturas naturais, como florestas, reflete diretamente em alterações
climáticas locais e regionais, dependendo da escala, por reduzir as áreas atenuadoras de calor,
que são vaporizadoras e hidrotermorreguladoras, e aumentar as áreas que irradiam calor em
excesso, que vai abastecer os gases de efeito estufa, e que vai resultar em menos água disponível
para a produção de forragem, 70% da qual depende da água disponíbe no solo, no lençol freático
(Pedreira e Primavesi, 2010).
Especificamente no estado de MS, buscando atender a nova legislação e as exigências
que elas impunham aos produtores, a partir de 2007 o governo do estado implementou projetos
de concessão de tanques resfriadores comunitários, com sucessão dessa prática até à
administração atual, sendo atividade dentro de programas como “Programa leite solidário”,
“Programa MS Leite” e mais recente em 2012 o “Leite Forte”. Este último recebendo, inclusive,
o Prêmio Sul-Mato-Grossense de Gestão Pública na edição (MATO GROSSO DO SUL, 2014).
Com peculiaridades específicas de cada programa, eles objetivaram o desenvolvimento
da cadeia produtiva do leite no MS, por meio de atividades de extensão rural, assistência
técnica, crédito rural, associativismo e fomento. Além de atividades criadas no próprio estado
e desenvolvidas em nível de produtor, esses programas fortaleciam a execução de políticas
públicas do governo federal, como por exemplo o Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar – PRONAF oferecendo infraestrutura para os extensionistas, da Agência
de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural - Agraer e de outras empresas de assistência
técnica parceiras dos programas. Essas firmas produziam junto aos agricultores familiares
projetos de crédito para custeio e investimento em implantação, ampliação ou modernização da
estrutura de produção, beneficiamento, industrialização e de serviços no estabelecimento rural
22
dependia de esforço conjunto e rotineiro desse grupo, o que acabou deixando o componente
defasado frequentemente e acabou contribuído para o fim do Conseleite.
Atualmente existe uma tentativa da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite de
MS - CSCPL de implementar um “Novo Índice do Leite do MS”, com base a metodologia do
índice de preços de cesta de derivados lácteos do estado de Goiás. Ele é calculado a partir da
variação dos preços de uma cesta de derivados lácteos que representa o “mix” médio, ou
representativo, de derivados produzidos pelos laticínios no Estado de Goiás (Boletim de
mercado do setor lácteo goiano, 2020). Sendo assim, não é um preço referência para o leite
pago ao produtor, mas se apresenta como um parâmetro para a possível variação deste.
que não a receberam, o que, de acordo com Vianna e Amaral (2014), dificulta o controle de
efeitos provocados por variáveis exógenas à aplicação da política.
De acordo com, Ramos (2009) as informações antes e depois dos atingidos pelo
programa podem ser insuficientes para isolar efeito direto a ser observado do impacto da
concessão do efeito de outros aspectos que interferem nesse resultado investigado, sob pena de
se questionar a validade interna da pesquisa. Então, grande esforço deve ser realizado no sentido
de se controlar todo fator que pode afetar o resultado, mas não diz respeito ao tratamento que
se deseja avaliar.
Outro entrave é que em muitos programas de concessão elaborados não se planejam
e/ou implementam avaliações prévias sobre o conhecimento aprofundado dos seus
beneficiários, com insuficiente ou nenhuma descrição do que seria o estado “antes”, o que pode
inviabilizar o método supracitado, por fatores que vão desde a inexistência até a incoerência
dos dados secundários a serem investigados pelo pesquisador que avalia o impacto.
Assim, outro método possível é o “somente depois com grupo de comparação” em que
se avaliam os impactos quando o projeto já está em andamento ou foi executado, quando ocorre
impossibilidade de acesso aos dados “antes” de sua implementação (Vianna e Amaral, 2014).
O seu princípio baseia-se em contrastar os dados obtidos nas medições realizadas com a
população-alvo da política com os de um grupo de comparação (grupo controle).
Neste contexto, além das informações dos contemplados, aplica-se um tratamento
controle, não contemplado pela política pública, visando mensurar as mudanças que
efetivamente ocorreram com o programa, identificando-se o que aconteceria sem o programa.
O delineamento experimental, por meio da construção aleatória de grupos controle (não
beneficiados pelo programa) e grupos tratamento (beneficiados) é a metodologia mais robusta
para avaliações de impacto e o procedimento de aleatorização realizado na seleção dos
componentes (a priori) desses grupos garantem que, em média, as diferenças entre estes devem-
se apenas ao fato de participar ou não do programa que se está avaliando, controlando assim, a
incidência de outras variáveis independentes associadas com a variável de impacto e a
participação no programa (Romero, 2008).
Entretanto, para se avaliar política pública nem sempre é possível garantir o princípio
da aleatoriedade estatística nos grupos, que garantiriam a comparabilidade destes, devido à
existência natural de grupos-alvo nos programas, em que, prioritariamente, estes serão
aplicados, deste modo, seja por questões éticas ou políticas, experimentos aleatórios
controlados podem facilmente ser inviabilizados.
27
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cadeia produtiva do leite tem inegável importância para a sociedade mundial, pela
grande capacidade de absorver mão de obra, interiorizar e distribuir riqueza, e por ser
fundamental fonte de nutrientes principalmente para populações de regiões menos
desenvolvidas. No Brasil e no Mundo continua em franco crescimento, principalmente em
estados da região sul. O Mato Grosso do Sul, apesar das características ambientais favoráveis
para o crescimento dessa atividade e das políticas públicas executadas nas últimas décadas, não
vem acompanhando o movimento nacional.
Em MS não existe o hábito de introduzir nos projetos de atendimento aos produtores a
cultura da avaliação de resultados, útil não somente para identificar os problemas encontrados
durante a execução, mas também subsidiar as próximas, evitando a repetição de erros e/ou
aprimoramento das características dos programas ou projetos. Essa etapa do processo deveria
estar no escopo do planejamento e utilizar indicadores que retratem a eficácia das atividades.
Ao ler o artigo a seguir conclui-se que a presença dos extensionistas junto ao produtor é
um grande propulsor de desenvolvimento das atividades rurais, mas para a adesão de técnicas
produtivas cada vez mais aprimoradas é necessário produtores mais instruídos, com maior
escolaridade, possibilitando o melhor entendimento dos modernos sistemas de produção e a
capacidade de acompanhar as variações de mercado, fundamental para as tomadas de decisão
na rotina da fazenda. Sendo assim, o investimento em educação das populações rurais é, talvez,
a maior ferramenta nesse processo.
Também se verificou que políticas públicas com muito peso na distribuição de
equipamentos para produtores pode não ser o melhor caminho para o crescimento do setor.
Estudos mais aprofundados e específicos de impacto dessas políticas públicas são
recomendados antes de continuar investindo recurso e estrutura pública nessa estratégia.
Apesar da produção de leite média e a eficiência técnica não terem aumentado durante o
período de avaliação do grupo de produtores estudados no artigo, ficou explícito que os
produtores atendidos por políticas públicas atravessam crises econômicas de forma mais amena
em comparação à média total dos produtores do estado de Mato Grosso do Sul; e que produtores
assentados, apesar de mais sensíveis à crises no setor de lácteos, responderam melhor em
aumento da produção de leite em relação aos produtores tradicionais.
29
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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36
ARTIGO
Land use policy
ISSN: 0264-8377
Vitor Corrêa de Oliveiraa, Ricardo Carneiro Brumattib, Laura Regina dos Santos Ferreirac,
Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo d, Leonardo Francisco Figueiredo Netod
a
Pesquisador da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural, Campo Grande, Mato Grosso do Sul,
Brasil;
b
Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia,
Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil;
c
Aluna de doutorado em Ciência Animal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil;
d
Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Escola de Administração e Negócios, Campo Grande,
Mato Grosso do Sul, Brasil.
Resumo - O setor de produção de leite do estado de Mato Grosso do Sul (MS) tem grande
importância social, principalmente para agricultores familiares. Apesar disso, vem sofrendo
com profunda crise nos últimos anos, de forma diferente das regiões mais tradicionais do Brasil.
De forma paradoxal, as instituições ligadas à cadeia agroindustrial de lácteos no estado não têm
sido omissas, e vem executando programas e atividades com o objetivo de desenvolver o setor.
Sendo assim, esse estudo teve como objetivo contribuir para um melhor entendimento dos
resultados de políticas públicas direcionadas aos agricultores familiares produtores de leite por
meio da análise da produção de leite e da eficiência técnica nos anos de 2015 e 2017 de 103
unidades de produção de leite (UPLs) acompanhados por extensionista da Agência de
Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural, órgão oficial de estado. Foi utilizado para análise
da eficiência técnica a construção de um modelo de fronteira estocástica de produção, e
verificou-se que apesar da crise econômica durante o período do estudo, as UPLs atendidas por
políticas públicas atravessaram sem alteração na produção de leite, diferente da média dos
produtores do MS, entretanto, a concessão de equipamentos não foi a melhor estratégia para o
aumento da eficiência técnica, sendo conveniente a realização de estudos mais aprofundados e
específicos de impacto dessas políticas públicas antes de continuar investindo recurso e
estrutura pública nessa estratégia. A assistência técnica resultou em aumento da adoção de
melhores técnicas de produção e consequente aumento da produção; e que o nível de
escolaridade é um fator de grande impacto na produção de leite.
Milk production and technical efficiency of dairy farms served by public policies in
Mato Grosso do Sul state.
Abstract - Milk production in the state of Mato Grosso do Sul (MS) has great social importance,
especially for family farmers. Despite this, it has suffered from a deep crisis in recent years,
differently from the more traditional regions of Brazil. Paradoxically, the institutions linked to
the agro-industrial dairy chain in the state have not been silent, and have been executing
programs and activities with the aim of developing the sector. Therefore, this study aimed to
contribute to a better understanding of the results of public policies that matter most to family
farmers producing milk through the analysis of milk production and technical efficiency in the
years 2015 and 2017 of 103 milk production units. (UPLs) accompanied by an extension officer
from the Agency for Agrarian Development and Rural Extension, an official state agency. For
the analysis of technical efficiency, the construction of a stochastic frontier model of production
was used, and it was found that despite the economic crisis during the study period, the UPLs
served by public policies went through without alteration in milk production, different from the
average of MS producers, however, the concession of equipment was not the best strategy for
increasing technical efficiency, making it necessary to carry out more in-depth and specific
studies on the impact of these public policies before continuing to invest public resources and
structure in this strategy. Technical assistance resulted in increase in the adoption of better
production techniques and consequent increase in production; and that the level of education is
a factor of great impact on milk production.
Keywords: Dairy Cattle; Technical Efficiency; Stochastic frontier; Public policy, Family
farming.
1. Introdução
Nas últimas décadas, a bovinocultura de leite no Brasil evoluiu de forma contínua,
resultando no crescimento consistente da produção, que colocou o país como um dos principais
do setor no mundo. De 1974 a 2014, a produção nacional quase quadruplicou, passando de 7,1
bilhões para mais de 35,1 bilhões de litros de leite (Rocha e Carvalho, 2018). O valor bruto da
produção de leite em 2018 no Brasil foi de R$ 54,14 bilhões, atrás apenas da soja, carne bovina
e milho (CNA, 2019), ocupando em torno de 4 milhões de trabalhadores (Albex e Martins,
2019). Além disso, pode ser considerada uma atividade de grande importância social para o
país, uma vez que a maioria dos produtores são da agricultura familiar. Essa característica
peculiar da atividade, faz com que ela seja determinante no desenvolvimento de muitos
municípios do país, onde o recurso gerado movimenta a economia dessas cidades.
Além do crescimento, as perspectivas futuras são animadoras, pois com o aumento
populacional e o crescimento econômico mundial, o consumo de lácteos tem aumentado de
forma expressiva, tanto em países desenvolvidos, como em países em desenvolvimento. No
Brasil, por exemplo, o consumo cresceu mais de 30% nos últimos 10 anos (ABVL, 2018).
38
O setor de produção de leite do estado de Mato Grosso do Sul (MS) conta com cerca de
24 mil estabelecimentos que produzem leite, responsáveis por levar ao mercado 424 milhões
de litros de leite no ano de 2017, oriundo de 224 mil vacas ordenhadas. (IBGE, 2017). Naquele
ano, o MS estava posicionado como o 17º colocado no Ranking de produção de leite no país,
entretanto na Pesquisa Municipal de 2019 do mesmo instituto, aponta que já caiu para 19º
colocado, com produção aproximada de 310 milhões de litros por ano, 23% menor, retratando
a profunda crise em que o setor se encontra nesse estado, contrariando a tendência da maior
parte do país principalmente a partir de 2007, onde MS era ao 12º maior produtor (Figura 10).
Utilizando os dados publicados pelo Censo Agro 2017 (IBGE, 2018), pode-se estimar
alguns índices que contribuem para retratar essa realidade: na média do Brasil, a produtividade
anual média por vaca ordenhada foi de 2.621L, a produção de leite média por estabelecimento
de 70,2 litros/dia, o valor da produção anual por estabelecimento de R$ 16.831,11, e o valor
pago médio por litro de leite ao produtor de R$1,07; já em MS esses índices foram de 1.892
L/vaca/ano, 48,2L/dia, R$ 27.500,34, e R$0,96, ou seja, em todos os índices apresentados, MS
estava inferior à média do país.
6.000
5.000
Milhões de litros
Milhões de litros
4.000
3.000
2.000
1.000
0
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
Figura 10. Leite cru, resfriado ou não, adquirido total do primeiro trimestre entre 1997 e
2020 do Brasil e do Mato Grosso do Sul (Pesquisa Trimestral do Leite, IBGE).
2. Material e métodos
2.1 Fontes de dados
Foram cedidos para este estudo um banco de dados da AGRAER, contendo informações
coletadas por técnicos extensionistas através da aplicação de questionário semiestruturado nos
anos de 2015 e 2017, de 103 UPLs que tinham como atividade a bovinocultura de leite e eram
atendidas pela instituição no estado de MS (Figura 11).
Figura 11. Número de unidades de produção de leite estudadas por município e regional administrativa da
AGRAER no Mato Grosso do Sul.
ocasionados pela ineficiência técnica. Porém, a fronteira estimada pode conter vieses se os
dados utilizados possuírem ruídos estatísticos (Pereira, 2011), apesar da maior facilidade
computacional. Para escapar desta restrição, deve-se utilizar um modelo de fronteira
estocástica.
Nos modelos de fronteira estocástica qualquer desvio em relação à fronteira de produção
é atribuído à ineficiência técnica do produtor. Tais modelos ignoram o fato de que a produção
pode ser afetada por choques aleatórios fora do controle do produtor (Pessanha, 2006), por
exemplo, crises políticas e econômicas, pandemias etc.
Foi utilizado para análise da eficiência técnica a construção de um modelo de fronteira
estocástica de produção, originalmente desenvolvida por Aigner, Lovell e Schimidt (1977):
(1)
𝑌𝑖 = 𝑓(𝑋𝑖𝑘 ; 𝛽)exp(𝜀𝑖 )
em que, Y = ln(y), y sendo a quantidade de leite produzida pela UPLi; X = ln(x), e Xik são os
insumos; o erro aleatório é apresentado por 𝜀i, que por sua vez, estima a fronteira estocástica.
A estimação das fronteiras utiliza tecnologias que admitem um termo de erro 𝜀i dividido
em duas partes: a primeira mede a eficiência técnica que tem o controle da fazenda representado
pelo desvio da produção observada em relação à produção ideal; e, a segunda capta erros
aleatórios que estão fora do controle das UPLs, o resíduo aleatório convencional.
Após a estimativa da fronteira de produção estocástica, foi estimada a relação entre a
ineficiência e os seus determinantes em uma única etapa, por meio de um sistema de equações
(1) e (2), onde o termo de eficiência é uma função de varáveis exógenas (Pereira, 2011):
SEXO – Sexo do primeiro titular da unidade de produção (dados secundários coletados junto à
declaração de aptidão ao PRONAF);
GOVR – Se utiliza resfriador comunitário concedido pelo governo;
GOVO – Se utiliza ordenhadeira mecânica concedida pelo governo;
GOVI – Se utiliza equipamentos e materiais de irrigação de pastagem concedidos pelo governo
do Estado.
Originalmente o modelo incluía um número maior de variáveis e sofreu mudanças
devido a utilização de critérios de informação Akaike (AIC) e Schwarz (BIC ou Bayesian
Information Criteria), que conforme comparações, algumas variáveis consideradas irrelevantes
foram retiradas ao longo do procedimento.
Para processar as análises, foi utilizado o software Stata (comando ‘frontier’, conforme
StataCorp, 2009) com a especificação do modelo de fronteira de produção com variáveis
explicativas para a função de variância da ineficiência técnica (ln 𝜎𝑢2).
Com objetivo de validar a resposta do modelo em relação ao que seria uma fazenda de
produção de leite “referência”, introduziu-se uma UPL simulada ao banco de dados para os 2
anos analisados, contendo às seguintes características para as variáveis utilizadas: VACA = 26
cab.; AREA = 15 ha; ESCOL = Superior incompleto; REGIAO = Campo Grande; SUPVOL =
sim; ORD = mecanizada; RESF = sim; MOT = Muito motivado; ROT = sim; PRE = R$ 1,00 /
L; IDADE = 50 anos; PVL = 0,7; CAT = Tradicional; CONTROL = sim; SEXO = feminino;
GOVR = não; GOVO = não; e GOVI = não. Na atribuição das respostas à essa UPL, levou-se
em consideração o porte médio das UPLs entrevistadas e a experiência dos autores, buscando
atender índices zootécnicos adequados e características sociais reminiscentes.
Utilizando-se do software SAS University Edition 1, foram construídos gráficos de
comparação em Box Plot e Histogramas entre grupos para variáveis que resultaram em
respostas mais relevantes, além de análises estatísticas descritivas de dados, proporcionando
maior detalhamento. Também foi realizado um teste de correlação entre ET e Produção de leite
diária.
3. Resultados e discussão
Os resultados estão divididos em dois tópicos, primeiramente sendo apresentada a
caracterização da amostra, possibilitando conhecer as unidades de produção de leite utilizadas
no estudo (item 3.1); e posteriormente a análise da fronteira estocástica (item 3.2), onde buscou-
se atribuir evoluções na produção de leite e na eficiência técnica de produção à características
produtivas e sociais.
45
2017 teve grande evolução no quartil superior nos assentados (100%) e surgiu um novo grupo
na faixa de produção em torno de 250L/dia, e os tradicionais concentraram-se um pouco mais
entorno de 100L/dia, tendo queda no quartil superior, entretanto que aumento da mediana.
Tabela 3. Estatística descritiva da produção de leite e das variáveis quantitativas e qualitativas consideradas no
modelo em estudo por categoria de produtor e pelo ano das informações.
Desvio
Categoria Ano Variável Unid. Média Mínimo Máximo
Padrão
incompleto; 6, médio completo; 7, superior incompleto; e 8, superior completo; MOT, qual o nível de motivação
do produtor.
Figura 12. Frequência das unidades de produção de leite pela diária média, L/dia (PDL) para produtores
tradicionais e assentados nos anos de 2015 e 2017. Legenda: CAT, categoria de produtor (tradicional ou
assentado); ANO, ano referente à coleta de dados (1 = 2015 e 3 = 2017); N. Obs, número de observações; DP,
desvio padrão; Mínimo, valor mínimo encontrado; Máximo, valor máximo encontrado; Mdn, mediana; QI, quartil
inferior; e QS, quartil superior.
Tabela 4. Número e porcentagem de unidades de produção com resposta sim para as variáveis binárias
consideradas no modelo em estudo por categoria de produtor e pelo ano das informações.
Assentado Tradicional
Variável
2015 2017 2015 2017
ROTACAO 5 (20,8%) 19 (79,2%) 33 (41,3%) 52 (65,0%)
SUPVOL 8 (33,3%) 22 (91,7%) 47 (58,8%) 59 (73,8%)
ORD 8 (33,3%) 12 (50,0%) 35 (43,8%) 59 (73,8%)
CONTROL 2 (8,3%) 10 (41,7%) 16 (20,0%) 40 (50,0%)
RESF 15 (62,5%) 19 (79,2%) 45 (56,3%) 61 (76,3%)
GOVR 1 (4,2%) 6 (25,0%) 2 (2,5%) 3 (3,8%)
GOVO 0 (0,0%) 1 (4,2%) 1 (1,3%) 6 (7,5%)
GOVI 0 (0,0%) 3 (12,5%) 4 (5,0%) 8 (10,0%)
TOTAL 24 (100%) 80 (100%)
Legenda: Unidades de produção que adotam suplementação de alimento volumoso durante a seca (SUPVOL);
utilizam ordenhadeira mecânica (ORD); resfriam o leite após a ordenha (RESF), realizam manejo rotacionado do
pastejo pelo uso de piquetes (ROT), realizam controle leiteiro da produção individual das vacas (CONTROL),
utilizam resfriador comunitário concedido pelo governo (GOVR); utilizam ordenhadeira mecânica concedida pelo
governo (GOVO); utilizam equipamentos e materiais de irrigação de pastagem concedidos pelo governo do Estado
(GOVI).
Nos resultados da estimação da fronteira estocástica pelo modelo Log Log para
produção de leite (Tabela 3), a variável dependente da função é Log da PLi, ou seja, o intercepto
referência da função PLi é o e(_cons); as variáveis componentes que estão também na função Log,
seus coeficientes somam-se ao da constante para estimação do novo intercepto; e variáveis
componentes que não estão em Log, seus coeficientes impactam percentualmente no intercepto
referência.
49
Tabela 5. Resultados da estimação da fronteira estocástica pelo modelo Log Log, ineficiência técnica e análise
de avaliação do modelo.
região do Estado de Mato Grosso do Sul que está localizada a UPL; SUPVOL, utilização de suplementação de
alimento volumoso durante a seca; ORD, tipo de ordenha utilizada na fazenda; RESF, se resfria o leite após a
ordenha; MOT, qual o nível de motivação do produtor; ROT, se realiza manejo rotacionado do pastejo pelo uso
de piquetes; PRE, preço do litro do leite pago ao produtor; PVL, porcentagem de vacas em relação ao total de
vacas; CAT, categoria do produtor (assentado ou tradicional); CONTROL, se realiza controle leiteiro da produção
individual das vacas; SEXO, sexo do primeiro titular da UPL; GOVR, se utiliza resfriador comunitário concedido
pelo governo; GOVO, se utiliza ordenhadeira mecânica concedida pelo governo; GOVI – Se utiliza equipamentos
e materiais de irrigação de pastagem concedidos pelo governo do Estado; Obs, número de observações; LL, Log
Verossimilhança; GL, graus de liberdade do resíduo; AIC e BIC, critérios de informação de Akaike e Bayesiano.
Conforme o modelo de estimação da produção de leite total das UPLs, o número total
de vacas (VACA) foi significativo para o aumento da produção de leite total (P<0,05), com
coeficiente de 0,69, ou seja, para cada aumento de 1% no total de vacas, aumenta a produção
em 0,69%, já que nessa análise as duas variáveis estão logaritmizadas. Considerando que a
média geral de vacas da amostra em estudo para os anos de 2015 e 2017 foi de 24,46 cabeças,
uma vaca a mais representa 4,08% de aumento na produção da fazenda, o que aumentou em
1.011 L/ano; valor abaixo da média geral para produção de leite por VACA que foi de 1.472
L/ano. Ou seja, o aumento do número total de vacas resultaria em diminuição de produtividade
por vaca para as UPLs amostradas nos sistemas de produção apresentados.
A produção de leite média das UPLs fora semelhante para os anos de 2015 e 2017,
demonstrando que o período de atendimento nestes três anos não resultou em aumento da
produção de leite média do total das UPLs, e apesar dos avanços com o grupo de assentados
demonstrados na Figura 2 do item 3.1, não foi suficiente para impactar na média total, pelo fato
de ter menor representatividade na amostra total do estudo. Essa ausência de incremento na
produção pode ter sofrido influência da crise econômica que o Brasil atravessou naquele
período, especialmente no biênio 2015/16, quando o consumo de leite e produtos lácteos per
capita caiu, levando à maior dependência externa de mercado (ABLV, 2018). Além disso, os
preços internacionais estavam em baixa devido ao estoque Chinês, empurrando o preço pago
ao produtor para baixo (Ribeiro, 2015).
Se em nível de Brasil a crise no setor foi intensa, em MS foi muito mais grave, conforme
dados da pesquisa trimestral do leite do IBGE. Enquanto a quantidade de leite cru, resfriado ou
não, adquirido e industrializado do Brasil diminuiu entre os primeiros semestres de 2015 e 2018
em 1,89% (6.135.395 à 6.019.432 Mil litros), em MS a queda foi de impressionantes 40,45%
(52.656 à 31.358 Mil litros). Ou seja, o atendimento dos produtores aqui analisados com os
programas governamentais durante esse período não resultou em aumento da produção de leite
média, todavia pode ter contribuído para a manutenção da produção durante o período
analisado, diferentemente do drástico cenário estadual.
51
Figura 13. Produção de leite, L/dia (PLD) por nível de nível de escolaridade (ESCOL) para o ano de 2017 de 103
unidades de produção de leite de produção de leite de MS e uma simulada “referência”, onde: 1, analfabeto; 2,
alfabetizado, 3, fundamental incompleto; 4, fundamental completo; 5, médio incompleto; 6, médio completo; 7,
superior incompleto; e 8, superior completo. Nobs, número de observações; STD, desvio padrão; ◊, média; ⸺,
mediana.
O aumento da idade do primeiro titular das UPLs (IDADE) teve efeito sobre a produção
de leite (P<0,05), apesar de coeficiente comparativamente com outras variáveis, baixo. Esse
efeito pode ser atribuído à maior PLD apresentada pelos produtores tradicionais, que possuem
maior idade média e mais tempo na atividade, dando-lhes experiência para lidar com as rotinas
diárias na UPL. Da mesma forma, Moura et al. (2010) dividiram 100 UPLs do Cariri da Paraíba
em três grupos de acordo com características semelhante, e o grupo de maior produção também
teve a maior idade média do proprietário, 58,56 anos, atribuindo ao maior rebanho que maior
área da propriedade, uma vez que as produtividade por vaca foi semelhante ao grupo de mais
jovens. Noutro sentido, Travassos et al. (2016) analisaram dados de 115 fazendas de produção
de leite da Zona da Mata Mineira e não observaram efeito da idade na eficiência.
Na parte que se refere a heterocedacidade do modelo (componente do termo aleatório)
na Tabela 3, a área da fazenda (AREA) teve efeito positivo, mas de baixo impacto (coeficiente
0,009), já o total de vacas não teve efeito (P>0,05).
Conforme citado na metodologia, foi inserida ao banco de dados uma UPL simulada
referência. Confirmando as expectativas e contribuindo para a credibilidade dos resultados do
modelo de ET aqui gerado, esta apresentou resultado de ET = 1, ou seja, máximo em
comparação à amostra estudada e de fato servindo como referência.
Em relação às variáveis componentes do termo de ineficiência, a porcentagem de vacas
de lactação em relação ao total de vacas (PVL) teve efeito significativo e negativo na
ineficiência técnica (Tabela 5), confirmando a importância consagrada deste índice zootécnico,
que é resultado de diversos fatores, entre eles as condições corporal e de saúde das vacas,
fertilidade, intervalo de parto e duração da lactação.
Os produtores tradicionais apresentaram maior ET que os assentados nas UPLs
estudadas (P<0,05), tanto no ano de 2015, mas principalmente em 2017, onde a média foi 30,4%
superior, havendo queda acentuada de 24,5% de ET pelos assentados durante o estudo (Figura
14). Estes resultados sugerem maior resiliência dos produtores fora de assentamento aos
períodos de crise econômica.
Essa suposição comumente é atribuída ao melhor preço pago no leite de maiores
produtores, como por exemplo no trabalho de Hunt et al. (2009). Eles compararam indicadores
de desempenho de produtores de leite localizados dentro e fora de assentamentos de reforma
agrária no Triângulo Mineiro, onde revelaram que a margem bruta média por litro de leite é
54
maior para os produtores de fora do assentamento por consequência da diferença ao preço por
litro de leite mais elevado obtido pelos grandes produtores de fora do assentamento. Contudo,
no presente trabalho essa não foi a realidade, como já foi mencionado no item 3.1. Tal altercação
poderia ganhar grandes dimensões, mas faz-se necessário citar que a densidade da produção de
leite do estado de Minas Gerais é mais elevada que em Mato Grosso do Sul, fazendo com que
o peso do custo do frete seja maior na composição do preço do leite, achatando o que é pago ao
produtor.
Figura 14. Histograma, e estatística descritiva para eficiência técnica (ET) de unidades de produção de leite por
categoria e por ano. Legenda: CAT, categoria de produtor (tradicional ou assentado); ANO, ano referente à coleta
de dados (1 = 2015 e 3 = 2017); N. Obs, número de observações; DP, desvio padrão; Mínimo, valor mínimo
encontrado; Máximo, valor máximo encontrado; Mdn, mediana; QI, quartil inferior; e QS, quartil superior.
Figura 15. Estatística descritiva e correlação entre eficiência técnica (ET) e produção de leite diária (PLD).
4. Conclusão
5. Referências bibliográficas
ABVL - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INDÚSTRIAS DE LÁCTEOS LONGA VIDA.
Relatório Anual 2018. 36p, 2018. Disponível em: <https://ablv.org.br/wp-
content/uploads/2019/10/ABLV-Relatorio-Anual-2018...pdf>. 21-04-2020.
AIGNER, D.; LOVELL, C.A.; SCHMIDT, P. Formulation and estimation of stochastic frontier
function models. Journal of Econometrics, v. 40, p. 21-37, 1977.
ALBEX, W., MARTINS, P.C. O leite e o protagonismo na revolução 4.0. In: RENTERO, N.
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72, 2019.
HUNT, D., SHIKI, S., RIBEIRO, R., BIASI, D., FARIA, A. P. Comparação de indicadores de
desempenho de produtores de leite localizados dentro e fora de assentamentos de reforma
agrária no Triângulo Mineiro. Revista de Economia e Sociologia Rural – RESF,
Piracicaba, SP, Brasil, v. 47, n. 1, p. 211-248, 2009.
MOURA, J. F. P., PIMENTA FILHO, E. C., GONZAGA NETO. S., MENEZES, M. P. C.,
LEITE, S. V. F., GUILHERMINO, M. M. Caracterização dos sistemas de produção de
leite bovino no Cariri paraibano. Acta Scientiarum. Animal Sciences. Maringa, PR,
Brasil. v. 32, n. 3, p. 293 – 29, 2010.
PEREIRA, J. R., ALMEIRA JÚNIOR, G. A., LOPES, M. A., VIEIRA, J. A., PEREIRA, A. B.
Caracterização do sistema de produção em propriedades leiteiras de economia familiar
em Presidente Olegário - MG: Fase Recria de Fêmeas. Medicina Veterinária (UFRPE),
Recife, PE, Brasil, v. 12, n. 2, 126-135, 2018.
ROCHA, D.T., CARVALHO, G.R. Produção brasileira de leite: uma análise conjuntural. In:
RENTERO, N. (Ed.), Anuário Leite 2018. Indicadores, tendências e oportunidades para
quem vive no setor leiteiro. São Paulo, SP, Brasil, p. 6 - 8. 2018.
STATACORP. Stata: Release 11. Statistical Software. College Station, TX: StataCorp LP.
2009.
Anexo 1. Normas para artigos científicos: Land use Policy, disponível no Guia para
autores da revista (https://www.journals.elsevier.com/land-use-policy).
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Estrutura do artigo
Subdivisão - seções numeradas
Divida seu artigo em seções claramente definidas e numeradas. As subseções devem ser
numeradas 1.1 (então 1.1.1, 1.1.2, ...), 1.2, etc. (o resumo não está incluído na numeração da
seção). Usa isto numeração também para referência cruzada interna: não se refira apenas ao
'texto'. Qualquer subseção pode ser dado um breve cabeçalho. Cada cabeçalho deve aparecer
em sua própria linha separada.
Introdução
Declare os objetivos do trabalho e forneça um histórico adequado, evitando uma
literatura detalhada pesquisa ou um resumo dos resultados.
Material e métodos
Forneça detalhes suficientes para permitir que o trabalho seja reproduzido por um
pesquisador independente. Métodos já publicadas devem ser resumidas e indicadas por uma
referência. Se citando diretamente de um método publicado anteriormente, use aspas e cite a
fonte. Qualquer modificação métodos existentes também devem ser descritos.
Teoria / cálculo
Uma seção de Teoria deve estender, sem repetir, os antecedentes do artigo já tratado no
Introdução e estabelecer as bases para mais trabalhos. Por outro lado, uma seção de Cálculo
representa um desenvolvimento prático a partir de uma base teórica.
Resultados
Os resultados devem ser claros e concisos.
Discussão
Isso deve explorar a importância dos resultados do trabalho, não repeti-los. Resultados
combinados e seção de discussão geralmente é apropriada. Evite citações extensas e discussões
de publicações literatura.
Conclusões
As principais conclusões do estudo podem ser apresentadas em uma curta seção de
conclusões, que pode sozinho ou formar uma subseção de uma seção Discussão ou Resultados
e Discussão.
Apêndices
Se houver mais de um apêndice, eles devem ser identificados como A, B etc. Fórmulas
e equações em os apêndices devem receber numeração separada: Eq. (A.1), Eq. (A.2), etc .; em
61
um apêndice subsequente, Eq. (B.1) e assim por diante. Da mesma forma para tabelas e figuras:
Tabela A.1; Fig. A.1, etc.
Informações essenciais da página de rosto
• Título. Conciso e informativo. Os títulos são frequentemente usados em sistemas de
recuperação de informações. Evitar abreviações e fórmulas sempre que possível.
• Nomes e afiliações de autores. Indique claramente os nomes e sobrenomes de cada autor e
verifique se todos os nomes estão escritos com precisão. Você pode adicionar seu nome entre
parênteses em seu próprio script por trás da transliteração em inglês. Apresentar a afiliação dos
autores endereços (onde o trabalho real foi realizado) abaixo dos nomes. Indique todas as
afiliações com letras minúsculas carta sobrescrita imediatamente após o nome do autor e na
frente do endereço apropriado. Forneça o endereço postal completo de cada afiliação, incluindo
o nome do país e, se disponível, o endereço de e-mail de cada autor.
Destaques (Highlights)
Os destaques são obrigatórios para esta revista, pois ajudam a aumentar a descoberta do
seu artigo via motores de busca. Eles consistem em uma pequena coleção de marcadores que
capturam os novos resultados de sua pesquisa, bem como novos métodos usados durante o
estudo (se houver).
Os destaques devem ser enviados em um arquivo editável separado no sistema de envio
on-line. Por favor use 'Destaques' no nome do arquivo e inclua 3 a 5 pontos de marcador
(máximo de 85 caracteres, incluindo espaços, por ponto).
Abstract (Resumo)
É necessário um resumo conciso e factual. O resumo deve indicar brevemente o objetivo
da pesquisa, os principais resultados e principais conclusões. Um resumo é frequentemente
apresentado separadamente do artigo, por isso deve ser capaz de ficar sozinho. Por esse motivo,
as referências devem ser evitadas, mas se essencial, cite o (s) autor (es) e ano (s). Além disso,
abreviações não padronizadas ou incomuns devem ser evitados, mas, se essenciais, devem ser
definidos na sua primeira menção no próprio resumo.
Resumo gráfico
Embora um resumo gráfico seja opcional, seu uso é incentivado, pois chama mais a
atenção para o conteúdo on-line do artigo. O resumo gráfico deve resumir o conteúdo do artigo
de forma concisa e pictórica projetado para capturar a atenção de um amplo público. Os resumos
gráficos devem ser enviados como um arquivo separado no sistema de envio on-line. Tamanho
da imagem: forneça uma imagem com um mínimo de 531 × 1328 pixels (h × w) ou
proporcionalmente mais. A imagem deve ser legível no tamanho 5 × 13 cm usando uma
62
resolução de tela regular de 96 dpi. Tipos de arquivos preferidos: TIFF, EPS, PDF ou MS Office
arquivos.
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Palavras-chave
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britânica e evitando termos gerais e plurais e conceitos múltiplos (evite, por exemplo, 'e', 'de').
Seja poupador com abreviaturas: somente as abreviaturas firmemente estabelecidas em campo
podem ser elegíveis. Essas palavras-chave serão ser usado para fins de indexação.
Reconhecimentos
Agrupe os agradecimentos em uma seção separada no final do artigo antes das
referências e faça, portanto, não os inclua na página de rosto, como nota de rodapé do título ou
de outra forma. Listar aqui aqueles indivíduos que prestaram ajuda durante a pesquisa (por
exemplo, fornecendo ajuda ao idioma, assistência para escrever ou prova de leitura do artigo,
etc.).
Formatação de fontes de financiamento
Liste as fontes de financiamento dessa maneira padrão para facilitar a conformidade
com os requisitos do financiador:
Financiamento: Este trabalho foi financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde [números de
concessão xxxx, aaaa]; a Fundação Bill & Melinda Gates, Seattle, WA [número de concessão
zzzz]; e os institutos dos Estados Unidos da paz [número da concessão aaaa].
Não é necessário incluir descrições detalhadas sobre o programa ou tipo de subsídios e
prêmios. Quando o financiamento é proveniente de uma doação em bloco ou de outros recursos
disponíveis para uma universidade, faculdade ou outra instituição, envie o nome do instituto ou
organização que forneceu o financiamento.
Se nenhum financiamento foi fornecido para a pesquisa, inclua a seguinte frase:
Esta pesquisa não recebeu nenhum subsídio específico de agências de fomento público,
comercial ou setores sem fins lucrativos.
Fórmulas matemáticas
Envie as equações matemáticas como texto editável e não como imagens. Apresentar
fórmulas simples em sempre que possível, alinhe com o texto normal e use o solidus (/) em vez
de uma linha horizontal para termos fracionários, por exemplo, X / Y. Em princípio, as variáveis
devem ser apresentadas em itálico. Os poderes de e são frequentemente mais convenientemente
63
indicado por exp. Numere consecutivamente quaisquer equações que precisam ser exibidas
separadamente do texto (se referido explicitamente no texto).
Notas de rodapé
As notas de rodapé devem ser usadas com moderação. Numere-os consecutivamente ao
longo do artigo. Muitas palavras processadores constroem notas de rodapé no texto, e esse
recurso pode ser usado. Caso contrário, indicar a posição das notas de rodapé no texto e
apresentar as próprias notas de rodapé separadamente no final do artigo.
Arte eletrônica (Electronic artwork)
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