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PM-MG

Soldado 2ª Classe

LITERATURA
Livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (Autor Machado de Assis).........................................01
Livro “Triste Fim de Policarpo Quaresma” (Autor Lima Barreto).....................................................03

LITERATURA

1771250 E-book gerado especialmente para EVELINE PEREIRA DA SILVA


Livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (Autor Machado de Assis)

“Memórias Póstumas de Brás Cubas”, a obra-prima do romancista brasileiro Machado de Assis, um


conto metafísico e metafísico narrado por um homem vítima de pneumonia, é possivelmente o romance
mais moderno e vanguardista desde 1881.

Se imaginarmos a evolução histórica do romance como a evolução do homem — de primata agacha-


do a homo sapiens ereto —, o livro de Machado representa o momento em que o romance aprendeu
a dançar. O livro inspira-se no gosto onívoro do seu criador: a tragédia grega, Shakespeare e Schope-
nhauer, fermentado pela tradição picaresca de Cervantes e Laurence Sterne. Sua experimentação formal
e brincadeira são consideradas precursoras dos romances de Nabokov, Calvino e dos pós-modernistas
americanos.

A história segue o nobre irresponsável e preguiçoso Brás Cubas enquanto ele reflete sobre sua vida
além-túmulo. Que recorde de fracassos! Ele nunca se casou, nunca teve filhos. Suas ambições de car-
reira foram imprudentes e frustradas. Mesmo suas amantes inspiravam nele apenas uma paixão morna e
uma pena vaga. Ele é incessantemente pretensioso, presunçoso — e uma excelente companhia. Lemos
não pelo enredo, no sentido usual, mas para estarmos próximos de Brás Cubas, sua franqueza desar-
mante e auto aversão profundamente merecida, e pelas perguntas que ele suscita: O que é uma vida, se
definida fora do incidente e da realização? O que é um romance?

Machado de Assis nasceu na pobreza em 1839, mestiço neto de escravos libertos. Um autodidata fe-
roz, ele começou a publicar poesia na adolescência. Ele começou a escrever críticas teatrais, colunas de
jornais, libretos e contos. Quando ele morreu em 1908, considerado o maior escritor do Brasil, foi lamen-
tado nacionalmente.

Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma história de amor — muitas histórias de amor, na verdade —
e é uma comédia de classe, boas maneiras e ego, e é uma reflexão sobre uma nação e uma época, e um
olhar inabalável sobre a mortalidade, e ao mesmo tempo é um íntimo e extático exploração da narrativa
em si. É uma obra-prima brilhante e uma alegria absoluta de ler.

Seu narrador, Brás Cubas, enquanto morto conta a história de sua vida desde o túmulo e, talvez por-
que não tenha mais nada a perder, ele conta a história exatamente como deseja, dane-se a convenção.
O romance se desenrola em capítulos breves e brilhantes, iluminados ainda mais com infinitas autorre-
ferenciais e dúvidas. “Estou começando a me arrepender de ter escrito este livro”, escreve Brás Cubas
em um capítulo chamado “A falha no livro”. “Não que isso me canse”, continua ele. “Não tenho mais nada
para fazer, e despachar alguns poucos capítulos para o outro mundo é invariavelmente uma distração da
eternidade.”

A história, em sua essência, é quase convencional, um triângulo amoroso aristocrático do século XIX.
Brás Cubas paira à margem das classes abastadas do Rio de Janeiro, mas não tem vontade de casar-se
(obsessão da irmã) nem ambição de subir no governo (desejo do pai). Ele perde a chance de se casar
com a bela Virgília e ser catapultado para a vida pública por seu poderoso pai. Em vez disso, um homem
honrado chamado Lobo Neves toma a mão de Virgília e a orientação de seu pai, e é só então que Brás
Cubas começa a se sentir atraído por Virgília. Eles começam um caso e tentam escondê-lo do marido
muito confiante de Virgília. Logo todos na sociedade carioca parecem saber, com o perigo da descoberta
apenas aproximando os amantes.

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Enquanto isso, Brás Cubas contempla o sentido da vida (do túmulo), auxiliado por seu amigo Quincas
Borba, que tenta popularizar uma filosofia chamada Humanitismo, destinada, escreve Machado, “a arrui-
nar todo o resto”. Em seu núcleo está a crença na retidão de qualquer coisa humana. Brás Cubas admite
que é panglossiano, mas encontra um certo conforto na noção radical de que os humanos devem ter
permissão para fazer qualquer coisa que os humanos fazem naturalmente, que tudo o que fazemos, de-
vemos fazer com especial reverência pela criação de mais humanos. “O amor, por exemplo”, escreve ele,
“é um sacerdócio; reprodução, um ritual. Já que a vida é o maior benefício que o universo pode conceder
(..) segue-se que a transmissão da vida, longe de ser uma ocasião de galanteio, é a hora suprema da
missa espiritual. Porquanto, verdadeiramente há só uma desgraça: é não nascer.”

Machado oscila entre a história de amor do livro e seus interlúdios metafísicos com facilidade, em par-
te porque, embora o livro seja sobre assuntos sérios — amor, a própria vida, a finalidade da morte — ele
nunca se leva a sério. No capítulo IV, “A Ideia Fixa”, Machado inicia uma grande analogia comparando
empreendimentos humanos menores àqueles que ecoam através dos tempos. “Para oferecer uma analo-
gia pobre, é como a ralé, abrigada na sombra do castelo feudal; o castelo caiu e a ralé permaneceu. De
fato, eles se tornaram grandes por si mesmos, uma verdadeira fortaleza (...) não, a analogia não é boa.”
Os próprios títulos dos capítulos são desarmantes. Um capítulo, apropriadamente chamado de “Triste,
mas curto”, é seguido por “Curto, mas alegre”, por exemplo. Há um capítulo dedicado às botas, outro às
pernas do autor, enquanto outro se chama “Não Levar a Sério”. O capítulo CXXX é intitulado “Para ser in-
serido no capítulo CXXIX” e, ao final dele, o autor pede que o leitor o insira entre a primeira e a segunda
sentenças do capítulo anterior. Há também uma longa alucinação envolvendo um hipopótamo.

De alguma forma, nenhuma das piadas e diversão intertextual faz nada para diminuir o poder da histó-
ria. O romance entre Brás Cubas e Virgília é convincente e extremamente lírico. O sentimento que temos
pelo involuntário Lobo Neves é real, e o crime que o narrador e Virgília cometem contra ele nunca é pu-
nido – na vida ou na morte. E isso é fundamental. Este é um livro ateu, onde não há juiz senão a própria
consciência, e onde o ofensor jaz sozinho, numa caixa permeada por vermes, contando sua vida e seus
fracassos sem nenhuma consequência celestial. É engraçado também. É totalmente original e diferente
de qualquer coisa além dos muitos livros que vieram depois dele e parecem ter conscientemente ou não
emprestado a partir dele.

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Livro “Triste Fim de Policarpo Quaresma” (Autor Lima Barreto)

Em “Triste Fim De Policarpo Quaresma”, o autor, Lima Barreto, lança uma luz melancólica sobre os
problemas do país, mesmo que o livro tenha mais de 100 anos. Um dos problemas, pode lhe ocorrer, é
que o Brasil não tem grande reputação literária internacional. Este livro explica de alguma forma o por-
quê.

Triste Fim de Policarpo Quaresma é a obra mais conhecida de um dos escritores mais respeitados do
Brasil; mas, como costuma acontecer com escritores respeitados, ele morreu jovem, de um ataque car-
díaco causado pelo alcoolismo, depois de ter entrado e saído de vários asilos para loucos. Sua escrita,
porém, era tudo menos insana: pode-se dizer que foi sua clareza de visão que causou seus problemas
em primeiro lugar.

Policarpo Quaresma é um personagem quieto e convencional, um escriturário que vive em respei-


táveis circunstâncias pequeno-burguesas, cujos movimentos são tão regulares que os vizinhos podem
acertar os relógios por ele. Nosso herói homônimo trabalha em um ministério sem nome como funcioná-
rio público. Quaresma era estimado no ministério: a sua idade, a sua erudição, a sua evidente modéstia
e honestidade granjeavam-lhe o respeito de todos. Ele nunca se casou e mora com a irmã, Adelaide,
que também nunca foi casada. Ela é dedicada a ele, mas mais de uma vez dirá que não o entende. Eles
vivem em uma área próspera do Rio de Janeiro. (O Rio de Janeiro era a capital do país nessa época e
assim permaneceria até a fundação de Brasília em 1960.)

Eles moram em um bairro nobre. O general Albernaz era um vizinho próximo. Este livro é uma sátira,
às vezes gentil, às vezes dura. Não havia nada militar sobre o general. Ele nem parecia ter um uniforme.
Ao longo de toda a sua carreira militar não tinha visto uma única batalha, exercido um comando ou feito
qualquer coisa relacionada com a sua profissão ou formação de artilharia. Ele é amigo íntimo do contra-
-almirante Bustamante. Na marinha, chegara perigosamente perto de ser tão inativo quanto Albernaz fora
no exército. Ele nunca havia embarcado em um navio de guerra, exceto durante a Guerra do Paraguai, e
mesmo assim por muito pouco tempo. Ele havia sido colocado no comando de um encouraçado. Ele saiu
para encontrar o navio — e não conseguiu. Não estava onde deveria estar nem, de fato, em qualquer
outro lugar. Ele havia sido afundado na guerra do Paraguai, mas esse fato parece não ter sido registrado.

Enquanto os dois homens desempenham uma espécie de papel militar mais adiante no livro, no início
o General Albernaz está mais preocupado com suas cinco filhas, especialmente em casá-las. Acompa-
nhamos o destino deles, principalmente da segunda filha, Ismênia, noiva do aspirante a dentista Caval-
cânti.

Além do trabalho e da irmã, há uma coisa que é primordial para Policarpo, que é o Brasil. Ele se torna
cada vez mais possuído pelo patriotismo, convencido de que o Brasil pode se tornar o maior país do
mundo. Ele gasta seu dinheiro comprando livros relacionados ao Brasil e está sempre lendo nas ho-
ras vagas. Recentemente, ele concentrou grande parte de suas leituras na população nativa, os únicos
verdadeiros brasileiros. Ele está aprendendo tupi-guarani, uma das línguas nativas do país, e acha que
deveria ser a língua nacional do Brasil, em vez do português, uma língua estrangeira.

Tupi-Guarani será sua ruína. Ele apresenta uma proposta ao Congresso para que seja declarada a lín-
gua nacional. Os congressistas e a imprensa riem dele por isso. No entanto, seu departamento não está
achando graça. A inveja mesquinha nos círculos burocráticos encara com grande hostilidade a inteligên-

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cia superior que se revela de qualquer outra forma que não seja através da correspondência oficial, ca-
ligrafia caprichada e conhecimento das regras e regulamentos. Quando ele traduz um documento oficial
para o tupi-guarani e é inadvertidamente submetido às instâncias superiores, ao invés da versão em por-
tuguês, causa grande constrangimento e ele é suspenso. É quando Policarpo tem um colapso nervoso.

Suas próximas aventuras o levarão primeiro para o interior, onde compra uma casa e planeja plantar
sua própria comida, só comida brasileira, claro. Ele está determinado que o solo brasileiro é o mais fértil
do mundo e não precisa de fertilizantes. Ele também está determinado a crer que o camponês brasileiro
é trabalhador e está ansioso para cultivar o solo fértil brasileiro. Aprendemos que, se ele mesmo não o
fizer, nenhuma das proposições é verdadeira.

Ocorrem então as Revoltas Navais Brasileiras acima mencionadas e Floriano Peixoto é ameaçado.
Policarpo manda um telegrama e diz para se manter firme, pois ele, Policarpo, está a caminho. Policarpo
ocupa o posto de major e é convocado para o exército, junto com o general Albernaz e o contra-almirante
Bustamante. A tentativa de três e outros de salvar o Brasil é firmemente ridicularizada por Barreto. Como
o título nos diz, não acaba bem.

Barreto teve que pagar pela publicação do romance em livro. Ele não viveu para ver outra edição. De
fato, o livro desapareceu por um tempo, até que foi revivido bem depois da morte do autor. Hoje é consi-
derado um clássico brasileiro.

Muito disso é satírico. Barreto claramente tem uma admiração relutante por Policarpo que é essencial-
mente honesto, talvez honesto demais em um mundo completamente corrupto. No entanto, ao mesmo
tempo, ele zomba dele por seu patriotismo excessivamente fervoroso, sua teimosia e sua incapacidade
de ver como outras pessoas podem reagir ao que ele diz e faz. É esta última característica que será sua
queda em mais de uma ocasião. Claro que Policarpo não é a única vítima da sátira de Barreto. De Ismê-
nia e sua ingenuidade sobre o futuro marido e toda sua visão do casamento, ao pai e sua carreira não
militar, de Floriano Peixoto (sua característica predominante era a inércia; por temperamento era extre-
mamente preguiçoso. tipo comum, como todos nós experimentamos, era patológico, como se não tivesse
sangue nas veias, resultando em um entorpecimento dos nervos) ao Dr. Campos, o político populista,
feliz em mudar de lado quando era conveniente, mas também completamente corrupto, Barreto zomba da
maioria de seus personagens de uma forma ou de outra.

O livro começa com uma citação de Ernest Renan: O grande inconveniente da vida real e o que a
torna insuportável ao homem superior é que, se se transferirem para ela os princípios do ideal, as quali-
dades tornam-se defeitos, de modo que, muito frequentemente, o homem completo tem bem menos su-
cesso na vida do que aquele que se move pelo egoísmo ou pela rotina vulgar. Esse bem pode ser o lema
de Policarpo, ainda que não o perceba. Ele é um homem bom ou um homem tolo ou, talvez, ambos? O
mundo realmente não tem espaço nem para os bons nem para os tolos, na opinião de Barreto.

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