Sebenta Lp-Direito-2023-2024
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0. Introdução
No ponto 2 deste mesmo artigo também deixa claro a legitimação do papel do Estado
no que diz respeito a política linguística e declara que o Estado “valoriza e promove o
estudo, o ensino e utilização das demais línguas de Angola e de comunicação
internacional”.
Em Angola o ensino da língua portuguesa está estruturado em três níveis, a saber:
o primário, o secundário e o superior. No ensino secundário o aluno obedece ao ritmo de
aprendizagem que consiste nos processos de operacionalização do carácter, estrutura e
escrita do texto argumentativo, assim como o funcionamento da língua. No último ano do
ensino secundário há um processo de consolidação, aprofundamento e aplicação das
noções apreendidas no I ciclo do ensino secundário e outras composições e estratégia
argumentativa, em que o aluno adquire competências metalinguísticas e metadiscursivas
quer na elaboração de enunciados orais quer na elaboração de enunciados escritos.
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Língua Portuguesa e TCE (domínio discursivo oral e escrito/da comunicação à expressão)
Por Marcelo Sebastião, MSc
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Língua Portuguesa e TCE (domínio discursivo oral e escrito/da comunicação à expressão)
Por Marcelo Sebastião, MSc
Como se pode deduzir o ensino superior em Angola no domínio não deve somente
privilegiar o ensino da língua por via metalinguística, isto é, o ensino do português preso na
gramática, mas também metadiscursiva: o Uso da Língua nos mais variados contextos
situacionais, isto é, produzir textos de diferentes géneros – expressivos, informativos,
utilitários e argumentativos – demonstrando o domínio das capacidades linguísticas e
técnicas requeridas. A apreensão do conhecimento teórico e prático permite ao estudante
demonstrar competências e progredir na consolidação de raciocínio crítico e razoável de
bom senso, fazer inferências no desenrolar das implicaturas conversacionais, estar
consciente do bem-fazer o uso da língua obedecendo aos seus princípios, interpretar1,
argumentar e emitir opinião.
A estrutura da Sebenta divide-se em:
I Uso da Língua em discurso – Pragmática Linguística
II Retórica e Argumentação – Estrutura do Discurso Argumentativo
1
A hermenêutica remete-nos a ideia de interpretação de dar voz a conteúdos fisicamente mudos (espirituais)
através da linguagem. No Ensaio de uma Hernenêutica Universal (1757), de Georg Meier citado por Rui
Magalhães (2002), distingue dois tipos de hermenêutica: a em sentido lato, que é a “ciência das regras cuja
observação deve permitir reconhecer as significações a partir dos seus signos” e a hermenêutica em sentido
estrito que é a “ciência das regras que é preciso observar para conhecer o sentido de um discurso e explicá-
lo a outro” (Magalhães, 2002: 30). A compreensão constituiu sempre o objectivo de todas as hermenêuticas
consbstanciada no acto de compreender dentro de uma relação que estabelece entre o texto e o espírito que
o gera. Dali que o intérprete deve passar da manifestação vital do autor ao “dinamismo da criação, do juízo,
da acção, da expresssão, da objectivação que procura realizar-se”. O esforço de um estudante procurar
descobrir as coisas, pela filosofia, sem a ajuda do professor não deixa de ser um hermeneuta.
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Marouzeau, Jules (1946). Prés de stylistique française, 2.ª ed. Paris, Masson, 1946, p. 10)
3 Peça oratória proferida em pública (de improviso ou escrita). Pode significar ainda, em sentido lato, o método
ordenado de exprimir ideias acerca de determinado(s) assunto(s). É mensagem na base de código, cuja unidade é a
frase.
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Assim, o contexto pode ser entendido como a situação comunicativa em que o texto
é produzido: local, época, situações histórica, social, política, estética, ideológica.
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3. Pragmática é o estudo, não só do que o LOCUTOR diz, mas também do que o LOCUTOR
quer dizer com o seu ACTO DE FALA.
4. A pragmática é o estudo de como as oralizações são usadas (literalmente,
figurativamente ou de quaisquer outras maneiras) nos actos comunicativos.
5. A Pragmática estuda: a relação entre o que é falado e o que se diz com isso sobre
o mundo; a relação entre o que é falado e as intenções/motivações comunicativas
do falante e a maneira como os participantes de comunicação organizam a sua
interacção linguística; como isso reflecte a posição social dos falantes.
6. A Pragmática propõe-se estudar a linguagem, não segundo o ponto de vista do seu
conteúdo ou da sua estrutura, mas dos seus efeitos na comunicação. “É uma
corrente do pensamento oriunda da linguística e da filosofia da linguagem. O filósofo
inglês, John L. Austin, é a sua principal figura”, mais adiante conheceremos a sua
teoria4.
As seis acepções do termo pragmática convergem e um deles pode servir de resposta
correcta.
A pragmática está, pois, relacionada com os utilizadores da linguagem, já que a
língua em situação de uso está para além do conhecimento gramatical dessa mesma
língua. São os princípios reguladores da actividade verbal que constituem o objecto do
estudo da pragmática, como disciplina linguística. Daqui, deduz-se que o enunciado, o
contexto e todo um conjunto de circunstâncias nele envolvido ocupam um papel primordial
na interpretação dos signos.
4
A filosofia da Linguagem não se trata de um estudo empírico da língua, mas da construção de uma teoria da linguagem
a partir de uma análise, não do sentido de um trecho do discurso, mas da estrutura produtora da comunicação,
preocupando-se primordialmente, não do significado linguístico de um acto, mas como ele chega a significar dentro de
um determinado contexto de discurso, descrever a forma como o sentido foi usado, fundamentando-se sobre uma
“teoria do significado”, onde qualquer análise conceitual a pressupõe (https://www.puc-rio.br).
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A preferência por formas indirectas como o exemplo da frase 8) tem a ver com a
preocupação dos falantes exprimirem-se com certos preceitos de delicadeza que é o
fenómeno frequente na comunicação quotidiana. A enunciação 8) contém um maior grau
de delicadeza em relação com a 9), uma frase com menor grau de cortesia. O enunciador
8) sabe que ao dirigir-se ao seu destinatário está a praticar um acto directivo, está a solicitar
uma tarefa do destinatário que ao responder a solicitação vai ter de fazer algo que não tinha
planeado ou vai ocupar-se algum tempo com algo que não é do seu interesse directo. Então
o enunciador a) tem o cuidado de usar uma expressão que «apague», ou mitigue, o facto
de ele estar a pôr o seu destinatário ou alocutório perante algo que pode ser incómodo,
mesmo que pequeno. O enunciador 8) tem vantagem em usar uma expressão que torne
claro que ele não está a impor nada ao destinatário. É por isso que ele usa três estratégias
de delicadeza:
a) qualifica a acção pedida como fazer um favor;
b) dissimula o pedido sob a forma de uma pergunta sobre se destinatário pode fazer
esse favor, deixando abertura para uma resposta negativa;
c) Não usa o verbo poder no presente do indicativo, mas na forma, mas distanciada,
do imperfeito (podias).
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Temos deste modo um caso em que uma pessoa pratica pelo menos dois actos
ilocutórios através da enunciação de uma só frase. A funcionária afirmou que o dia seguinte
ao da conversa era uma segunda-feira e, ao fazê-lo, avisou o interlocutor de que o Museu
estaria fechado no dia seguinte. Mas evidente que o seu objectivo principal foi mesmo
veicular um aviso ao ouvinte, na medida em que a afirmação foi apenas feita como um meio
de possibilitar ao ouvinte inferir que ela o queria avisar. Podemos, portanto, dizer que, nesta
enunciação da frase Amanhã é segunda-feira, o acto ilocutório primário e o acto de afirmar
foi o acto ilocutório secundário. O acto de avisar é um acto ilocutório indirecto, pois foi
praticado a partir de outro, directo.
Que tipo de conhecimentos deve possuir o ouvinte, e que tipo de inferências (isto
é, raciocínios) deve ele fazer a partir desses conhecimentos, para chegar a compreender
o acto primário, indirecto?
Chamemos A o visistante do Museu e B à funcionária, respectivamente. Na
sequência de A ter dito que tencionava voltar ao Museu no dia seguinte, B diz Amanhã é
segunda-feira. Que conhecimentos possui A que lhe tornam possível, a partir desta
enunciação, compreendê-la como um aviso? E que passos segue A nas suas inferências
para chegar a essa compreensão?
1. A primeira condição, muito geral, para que possa haver compreensão, é que A e B
conheçam uma língua comum, neste caso a língua portuguesa, o que vai permitir a
compreender o significado literal da frase enunciada por B e tomá-la como expressão
da afirmação segundo a qual o dia seguinte é segunda-feira.
2. A compreende que esta afirmação de B não é uma reacção adequada à sua
afirmação de que iria ao Museu no dia seguinte. De acordo com o seu conhecimento
de actos linguísticos, A sabe que reacções adequadas de B seriam, por exemplo:
a) Simplesmente não dizer nada, já que não lhe foi feita uma pergunta, nem
praticado qualquer acto que exija uma resposta ou acção;
b) Ou a prática de um acto expressivo, tal como exprimir satisfação pelo interesse
demonstrado por A pelo Museu, expressão essa que poderia ser simples sorriso,
ou então a enunciação de frases adequadas a actos expressivos de satisfação,
como «Ainda bem que vai voltar» ou «Obrigada pelo seu interesse»;
c) Ou então – visto que a afirmação «Volto cá amanhã» diz respeito a um acto futuro
de A – uma reacção adequada seria um conselho sobre como praticar esse acto
ou um aviso sobre as consequências de o praticar.
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Mas o que B literalmente fez não foi nada disto, mas sim uma afirmação sobre o dia da
semana, o que parece inadequado.
3. Contudo, A acredita que a afirmação de B não foi feita «no ar»: ele acredita que B
está a querer cooperar na conversação e que a sua afirmação é relevante. A conclui
isto pelo que sabe sobre os princípios gerais da cooperação na conversação.
4. Ao procurar descobrir a relevância do que B disse, ocorre a A que os museus em
Luanda geralmente estão fechados às segundas-feiras (conhecimentos sobre o
mundo). A partir deste conhecimento, juntamente com o conteúdo da afirmação de
B (de que dia seguinte seria segunda-feira), A infere que B lhe quis dizer que o
Museu estaria fechado no dia seguinte.
5. Além disso, A sabe que deslocar-se a um local e encontrá-lo fechado é contrário aos
interesses de quem se desloca (conhecimento sobre o mundo) e sabe também que
avisar alguém acerca de uma situação é dizer-lhe que essa situação é contrária aos
seus interesses (conhecimento de actos linguísticos).
6. Assim, a partir de 4 e 5, A infere que ao afirmar o que afirmou, estava a avisá-lo de
que o Museu estaria fechado no dia seguinte.
Esta explicitação de como é possível a um falante tomar como um aviso aquilo que
literalmente é uma afirmação e, mais geralmente, de como é possível a um falante
compreender um acto linguístico indirecto, depende de dois factores:
a) A posse de certos conhecimentos, que são de vários tipos: conhecimento de
uma língua, conhecimento de actos linguísticos, conhecimento de
princípios de cooperação conversacional e conhecimentos sobre o
mundo;
b) A capacidade de fazer inferências, a partir desses conhecimentos.
Há muitos outras formas, mais ou menos convencionalizadas, de praticar actos linguísticos
indirectos. Habitualmente usamos, muitas vezes sem nos apercebermos, actos directivos
indirectos através de perguntas ou de afirmações com formas convencionais, como por
exemplo:
Podia abrir a janela?
Gostaria de contar com uma ajuda.
Queria o depósito do carro atestado.
Importa-se de me dar o jornal?
As palavras em itálico são verbos convencionalmente usados na prática de actos
directivos indirectos. A principal razão para o uso destas formas indirectas é a delicadeza
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As pessoas, ao comunicarem entre si, trocam frases de uma língua. Com elas, as
pessoas praticam actos locutórios (também chamados actos de enunciação) em que são
pronunciadas palavras que fazem sentido. O sentido dessas frases nem sempre é
convencional, às vezes é contextual, dependendo de factores muito relevantes como o
contexto, a intenção comunicativa do falante para com o ouvinte e o conhecimento do
mundo. Desses factores, o contexto corresponde a um dos maiores avanços para se
compreender o significado pretendido. Este último sentido é o objecto da Pragmática
Linguística. Esta componente linguística estuda, assim, as relações existentes entre os
signos e os sujeitos falantes no sentido de descrever o uso que estes fazem da língua nas
mais diversas situações de comunicação. Ela procura compreender a prática da
comunicação, os princípios que a regulam e as condições para que o falante e o ouvinte
possam interagir de forma simples e natural.
A intenção comunicativa é central para a interacção social, porque, quando falamos,
permitimos ao outro que conheça nossos pensamentos, sentimentos, necessidades e
passamos a conhecer os sentimentos, pensamentos e necessidades do outro.
De acordo com Oliveira (2000) diz que no momento da produção linguística em
comunicação, estabelecem-se relações entre o que é dito, a intenção com que é dito, a
localização no espaço e no tempo, as funções sociais, as atitudes, os comportamentos e
as crenças dos participantes.
As acções praticadas, via enunciados, são, de modo geral, chamadas de actos de
fala, e mais especificamente de pedido, cumprimento, desculpa, resposta, convite,
promessa e outros. Acto de fala é, portanto, um comportamento verbal, governado por
regras que asseguram que as intenções comunicativas venham a ser adequadamente
interpretadas. Algumas dessas regras definem os próprios tipos de actos que podem ser
realizados pela fala.
Portanto, faz parte da competência comunicativa, para além daquelas estudadas
atrás, de um falante distinguir uma ordem de um pedido, uma intenção de compromisso,
uma asserção de uma representação de um estado emocional. Existe, pois, um significado
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subjacente a cada acto de fala. Esses diferentes tipos de actos de fala estão relacionados
com a intenção comunicativa, isto é, todo e qualquer acto ou pensamento que leva a uma
comunicação do falante quando produz o seu enunciado.
Acto Locutório
O acto locutório é o comportamento verbal governado por regras que permitem a
realização da intenção comunicativa. Corresponde ao acto de pronunciação de palavras e
frases que veiculam determinado conteúdo proposicional/mensagem, ou seja, corresponde
ao acto de pronunciar um enunciado.
Ex.: Eu sou um bom atleta.
Acto Ilocutório
Acto ilocutório é a realização de uma acção linguística produzido num determinado
contexto comunicativo, com determinadas intenções e sob certas condições, tais como
ordenar, avisar, convidar descrever, criticar, perguntar, declarar, aconselhar, cumprimentar,
despedir-se, baptizar, ameaçar. Assim, num acto ilocutório, a intenção comunicativa de
execução vem associada ao significado de determinado enunciado.
À sua tipologia, este acto pode ser assertivo, directivo, compromissivo, expressivo,
declarativo e indirecto. Num acto ilocutório, a intenção comunicativa de execução vem
associada ao significado de determinado enunciado.
Ex.: Vá pedir a esferográfica.
Não faça essa brincadeira.
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Mas se o falante tenciona que a sua proposição expressa seja tomada como
verdadeiro ou falso, jurar e aceitar são actos assertivos, como em:
Ex.: Juro que não devorei o bife.
Aceito que o excesso alcoólico causa muitos acidentes.
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Exemplos de declarações
nomear (alguém para um cargo), declarar aberta uma sessão, declarar (alguém
culpado/inocente), declarar (um jogador fora do jogo), declarar a Guerra, demitir-se (de um
cargo), despedir (alguém do emprego), baptizar, excomungar, …
Acto Perlocutório
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o tempo estiver melhor, vou visitar os meus amigos que moram em Cabinda. A frase pode
conter, só uma oração (frase simples) ou várias orações (frase completa). A cada verbo da
frase corresponde, em regra, uma oração.
O enunciado5 é a frase enquadrada no contexto, único, em que foi utilizada para
a comunicação e, portanto, um produto da fala. A frase estou mal de barriga, presta-se a
enunciados diferentes, pois tem uma significação particular consoante for dita a um médico,
à mãe ou ao professor, ou ocorrer numa festa.
A enunciação é, portanto, o acto por meio do qual um locutor produz um enunciado:
papapapá é um enunciado distante de ser uma frase.
Numa primeira abordagem, uma proposição é aquilo que é expresso por meio de
uma frase. Uma proposição não é uma forma, mas aquilo que se pode exprimir através de
uma forma (uma frase). Como exprimir uma proposição é algo que o falante faz, podemos
dizer que exprimir uma proposição é um acto linguístico.
No entanto, devemos saber ainda que nem todas as frases exprimem proposições.
Vamos explicar isto partindo de exemplos:
1a) Abram as janelas!
1b) Prometo cumprir as minhas obrigações.
1c) É verdade que a rã é saborosa?
1d) O carro dormiu na garagem.
1e) Luanda é a cidade capital de Angola.
Entre os exemplos de 1a) a 1e) nem todas as frases transmitem uma proposição.
Apenas a frase declarativa tem essa propriedade. Trata-se de 1e). As restantes frases não
exprimem proposições. 1a) é uma ordem; 1b) é uma promessa; 1c) é uma pergunta; 1d) é
ambígua do ponto de vista semântico, Apesar de ser gramaticalmente bem formada.
Ao exprimirem proposições, as frases declarativas recebem um valor de verdade. Assim, o
valor de verdade de uma proposição consiste no facto de ser verdadeira ou falsa.
5
Com o surgimento da pragmática trouxe uma nova compreensão de haver uma dimensão contextual para
além das de sintáctica e semântica na análise do processo sígnico. Pois, o signo não é independente da sua
utilização, porque o processo de expressão, de comunicação e de interpretação dos signos apresenta-os
objectivados num tempo, num espaço e numa cultura. A pragmática encara a língua não como um sistema
formal, mas sim como instrumento de acção e de comportamento. Daí a distinção básica e essencial entre
frase e enunciado: a frase é a uma unidade estrutural (unidade de sintaxe), ligada ao conhecimento
linguístico enquanto o enunciado, pertence ao domínio da produção individual, é uma unidade de discurso.
Assim, a pragmática dá conta da actualização da língua em situações de uso.
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Portanto, não exprimem proposições as frases que exprimem: perguntas (1c), exclamações,
ordens, conselhos (1a), desejos, promessas (1b). Exprime proposição a frase (1e) declarativa (isto
é, que exprime ideia, pensamento) e com valor de verdade (isto é, que podem ser verdadeira ou
falsa) – dito de outro modo: que têm sentido. (Repare que nenhuma das frases 1a) – 1d) obedece
estas características).
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Fecha a porta. – disse a Maria ao miúdo. Podia, por favor, fechar a porta? – pediu a Maria à enfermeira.
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Um falante pode (a) fazer uma pausa (para respirar, por exemplo hmm, ahn, …
); (b) afinar a voz através de um tossir; (c) sinalizar a presença de um local relevante de
transição por meio de expressões como pronto, ‘tá, etc.; (d) declarar que a sua vez terminou
(por exemplo, usando expressões como e é assim, e é isto (assim), já disse (o que tinha a
dizer) tenho dito; (e) simplesmente não ter nada mais a dizer e calar-se; etc.
Por outro lado, a tomada de vez durante uma conversação pelo falante seguinte
também é frequentemente sinalizada: por exemplo, através de expressões como Pois…,
Bem…, Sim…, etc. Além disso, quando um falante está na sua vez, isso não implica o
absoluto silêncio do interlocutor. Por vezes, este sinaliza que está a seguir o discurso do
falante através de enunciações de partículas como pois, hmm, sim (às vezes com
reiteração: pois-pois; hmm-hmm; sim-sim) ou expressões de reforço como certo, exacto,
estou a ver, etc.
A esta actividade, pela qual o participante passivo indica ao activo que está atento
e que o canal da comunicação está aberto, chama-se actividade fática e às expressões
usadas marcadores fáticos ou partículas fáticas.
Agora, impõe-se conhecer os cinco tipos de Diálogo Argumentativo e respectivos
contextos:
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Exemplo:
“As chamadas teorias de Einstein não passam de delírios de uma mente poluída por
besteiras democráticas e liberais, coisa totalmente inaceitável para homens de ciência
alemães.”
O debate forense geralmente tem lugar nos tribunais de acordo as normas
processuais. É mais ordenado do que a altercação. Nele intervêm juízes, advogados,
procuradores e as partes interessadas. O debate trava-se entre as partes interessadas na
solução da questão jurídica, designadamante, o autor da causa, o queixoso ou lesado, de
um lado, e o responsável pelo dano causado, o réu, de outro lado. Dependendo da natureza
da acção que sustenta o debate, ambas as partes podem ser representadas por um
procurador e por um advogado.
O objectivo principal do debate forense consiste em alcançar uma decisão
favorável do tribunal através da sentença proferida pelo juiz. Pode dizer-se que o debate
forense recorre a procedimentos que se aproximam do raciocínio lógico.
O diálogo persuasivo ou discussão crítica constitui o contexto em que se
desenvolve uma conversa entre os dois interlocutores, pretendendo cada um deles
convencer o outro, defender o seu ponto de vista com recurso a provas que são
susceptíveis de livre aceitação ou refutação por outro interlocutor. As provas podem ser
internas ou externas. As provas internas são obtidas a partir das inferências realizadas com
base numa proposição resultante da interacção verbal. As provas externas resultam do
recurso a outras fontes ou autoridades especializadas.
O diálogo de investigação caracteriza-se pelo facto de obedecer às
necessidades de alcançar novos conhecimentos em determinada disciplina ou ramo do
saber. A finalidade não é propriamente descobrir provas definitivas ou conclusivas numa
lógica competetiva. Por serem investigadores que pugnam pela neutralidade, as partes que
intervêm neste tipo de diálogo prosseguem uma verdade objectiva.
O diálogo de negociação visa a obtenção de uma vantagem pessoal através de
acordos alcançados a partir das posições de cada uma das partes.
Por isso, trata-se de um diálogo verdadeiramente competitivo. A seu respeito não se pode
falar de neutralidade, o que importa é chegar ao fim com a certeza de ter realizado um bom
negócio.
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Palavras-bordões são palavras de que o falante se serve inadvertidamente para se apoiar no discurso. O
seu abuso constitui um flagrante e irritante vício de linguagem: pá, portanto, pois, coisa, efectivamente. Alguns
ao fazerem o uso oral tornam-se cacoeteiros que é o hábito de repetir, com demasiada frequência, a mesma
palavra ou expressão: Estou finalmente portanto em férias e vou portanto aproveitar para portanto
descansar um pouco e dar portanto alguns passeios. É um hábito desagradável e ridículo, actualmente muito
em voga.
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RETÓRICA E ARGUMENTAÇÃO
2. RETÓRICA
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O fundador emerge da Pólis por volta de 450 a. C., Atenas era o centro cultural do
mundo grego, os grandes mentores da retórica os sofistas, Córax, Tísias e Platão marcam
este período. Os mestres de retórica contribuíram para que a democracia e liberdade de
debate se tornassem um símbolo da organização do mundo grego
Aristóteles é o pai do período da maturidade com ele a retórica é a ténica da
argumentação do verosímil e já não apenas da verdade. A ossatura do seu discurso
compreende: exórdio (introdução geral), enunciação da tese, prova e epílogo. Os meios
de prova podem ser não-artísticos e artísticos.
Os meios de prova artísticos podem ser de três espécies: logos, o apelo ao
raciocínio; pathos, o apelo à emoção; ethos, o apelo ao carácter moral do orador que se
deve apresentar seguro do assunto a tratar e benevolente.
Aristóteles apresenta, na sua obra Retórica, a retórica como arte genuína, como uma
teoria da argumentação persuasiva, nos seus aspectos relevantes da prova, do raciocínio
e do silogismo retórico (o entimema), ao tratar da arte da comunicação quotidiana, do
discurso em público, pois em assuntos humanos a argumentação não se pode basear
apenas no que é verdadeiro, mas também no verosímil.
O contributo de Aristóteles elevou a retórica clássica à categoria de disciplina nobre,
influenciando o progresso da cultura da argumentação no Império Romano com Cícero, o
primeiro grande orador de Roma (106-43) a. C.
Cícero, advogado, tribuno, político, orador e filósofo de exemplar virtude,
estabeleceu determinados aspectos retóricos a partes específicas do discurso. No exórdio
ou introdução, deve ser afirmada a autoridade do orador para atrair a credibilidade da
audiência (ethos), nas outras partes do discurso: narratio (narração), partitio-confirmatio
(argumentação-prova), refutatio (digressão) e peroratio (epílogo, peroração, conclusão), o
orador deve usar principalmente argumentos lógicos (logos).
Com Quintiliano (século I) emerge o encontro entre a retórica e a escrita. Ele foi o
último grande mestre de retórica da Antiguidade Clássica. Cícero e Quintiliano recusaram
o dogmatismo a favor do probabilismo.
O declínio da retórica8 no mundo ocidental teve início no século XVI, intensifica-se
com o ascendente do pensamento cartesiano, inspirado nas ideias do filósofo francês René
Descartes, século XVII e culmina no século XIX. O Discurso do Método, considera quase
8
Predominantemente a retórica era “a arte do discurso expressivo” ou “ a ciência da persuasão”; agora a palavra está
muito desgastada, com a origem relacionada a “oratória”, que tem sido muito usada em flayer publicitários a persuadir
apreendizes desejosos de aprender retórica…
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como falso tudo quanto era apenas verosímil. Foi o pensamento cartesiano que, fazendo
da evidência a marca da razão, não quis considerar racionais senão as demonstrações que,
a apartir de ideias claras e distintas, estendia, mercê de provas apodícticas, a evidência
dos axiomas a todos os teoremas. A Retórica passa a ser considerada como “ornamento”
e “não um instrumento de raciocínio para convencer” (Breton, 1998: 17).
Assim, a retórica europeia ganha novo fôlego com a publicação de três livros: Tópica
e Jurisprudência de Theodor Viehweg (1958); Tratado de Argumentação e a Nova Retórica
de Chaim Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca (1958); e Os Usos do Argumento de Stephen
Toulmin (1958).
A obra de Chaim Perelman (1912-1984) é a mais importante nesse período de
renascimento no século XX. Para Perelman as técnicas argumentativas devem ter em
consideração: a) estrutura do discurso; b) o efeito do mesmo discurso sobre o auditório.
Portanto, o percurso histórico da retórica é longo, a primeira etapa a dos sofistas e
do esforço da democracia grega; a segunda atingido na pessoa de Aristóteles, inspirador
da cultura da argumentação desenvolvida na República e nos primeiros tempos do Império
Romano com oradores célebres como Cécero e Quintiliano; a terceira etapa período do
declínio, que se prolongou desde finais do Império Romano até meados do século XX com
renascimento da teoria da argumentação.
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O segundo é usado pelos oradores nos tribunais. Tem por auditório os juízes e como
intenção acusar ou defender, mostrando por meio do entimema9 que uma determinada
acção ocorrida no passado (uma vez que só podemos julgar o que já aconteceu) é justa ou
injusta.
A terceira tem por auditório os espectadores no conselho e a sua intenção é elogiar
ou censurar, mostrando por meio da amplificação que alguém, devido às acções que
praticou, é virtuoso ou vicioso, belo ou feio.
9O entimema é uma forma de argumento dedutivo que permite no domínio dos discursos públicos demonstrar
ou provar uma proposição a partir de premissas que são sempre ou quase sempre prováveis. Como todos os
argumentos, o entimema tem premissas e conclusão. Normalmente, um entimema é constituído pela
proposição que se quer provar e por uma outra que fornece a razão ou justificação da primeira, como neste
exemplo: “Ela deu à luz, uma vez que tem leite”. Há duas espécies de entimemas: os demonstrativos e os
refutativos. Os primeiros são aqueles que demonstram que algo é ou não é, enquanto os segundos são
aqueles que refutam que algo seja ou não seja. Tanto no entimema demonstrativo como no refutativo, a
conclusão é obtida a partir de premissas com as quais quer o orador quer o seu adversário estão de acordo,
mas o entimema refutativo conduz a conclusões com que o adversário está em desacordo. Além dos
entimemas, que são argumentos válidos, há também os entimemas aparentes. Estes entimemas são os que
parecem e pretendem ser formas válidas de dedução, mas que na verdade não são. Fazem parte desta
categoria algumas das falácias estudadas na lógica formal. A outra forma de prova admitida por Aristóteles é
o exemplo. O exemplo é semelhante à indução do particular para o particular e pode basear-se em factos
passados ou em histórias inventadas pelo próprio orador. Neste último caso, os exemplos podem ser
parábolas ou fábulas. Aos entimemas e aos exemplos Aristóteles junta ainda as máximas. As máximas são
afirmações gerais que podem ser aceites ou rejeitadas e que se referem a acções. No entanto, diz Aristóteles,
se à máxima se juntar a causa e o porquê, transforma-se num entimema. Assim, a máxima é uma espécie de
entimema truncado, isto, uma afirmação cuja justificação é omitida. Por exemplo: “Não há homem que seja
inteiramente feliz” e “Não há homem que seja livre” são máximas, mas passam a entimemas, se lhe
acrescentarmos “Porque o homem é escravo da riqueza ou da fortuna”.
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Chaim Perelman apresenta o seu Tratado da Argumentação com a seguinte afirmação introdutória: «A
publicação de um tratado consagrado à argumentação e sua vinculação a uma velha tradição, a da retórica e
da dialéctica gregas, constituem uma ruptura com uma concepção da razão e do raciocínio, oriunda de
Descartes, que marcou com o seu cunho a filosofia ocidental dos três últimos séculos.» É de notar que a
escola pragmatista americana foi a única que sempre ensinou a retórica juntamente com a disciplina de língua
inglesa, preocupando-se com arte de bem dizer.
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eventualmente ao relato de alguns dados que ilustrem os argumentos referidos, assim, como aos
articuladores do discurso, para facilitar o encadeamento lógico dos parágrafos.
Peroração – “concluir” – no último parágrafo, retoma-se a tese inicial e procede-se ao fecho
do discurso, através de uma breve síntese. Ou seja, o autor estabelece uma síntese da
demonstração feita no segmento da discussão.
A partir desta estrutura pode-se elaborar textos ensaísticos de pendor científico e não só.
O termo ensaio remete-nos ao texto literário breve, situado entre o poético e o didáctico, expondo
ideias, críticas e reflexões éticas e filosóficas a respeito de certo tema. Consiste também na defesa
de um ponto de vista pessoal e académico sobre um tema (humanístico, filosófico, político, social,
cultural, moral, comportamental, literário, religioso, entre outros), que se paute em formalidades
como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de carácter científico.
O ensaio assume a forma livre e assistemática sem um estilo definido. Um ensaio
argumentativo é um género textual, discursivo expositivo-argumentativo que versa sobre um tema
específico em profundidade, no entanto, sem esgotá-lo. Pode ser ou não escrito a partir da recolha
de dados bibliográficos que se constituirão em argumentos para a sustentabilidade do mesmo a
respeito de um tema. Entretanto, fundamenta um ponto de vista relativo com um assunto de
interesse científico, social, dentre outros. O ensaio documentado estrutura-se, geralmente, em
secções que recebem títulos relacionados com o tema e o(s) objectivo(s) da discussão.
Referências bibliográficas: referencia-se o autor pelo seu sobrenome em maiúsculas
seguido de vírgula e espaço e o prenome em minúscula. As referências bibliográficas podem ser
incluídas no final do texto ou no final de cada uma das suas secções (capítulos, partes, etc.).
Formas de citação directa e indirecta
Quando se usa um testemunho de autoridade, a voz de um profissional, um especialista num
determinado assunto, podemos escolher citaremos directa ou indirectamente suas palavras.
A citação directa consiste na cópia fiel das palavras do autor. Se essa citação for feita num
discurso académico (ensaio, resumo, artigo, TFC ou resenha crítica):
▪ texto da citação deve ser colocada entre aspas (se ocupar de 1 a 3 linhas) ou formatada em
bloco (se ultrapassar 3 linhas), com o tamanho da letra reduzida;
▪ antes ou depois da citação, informar o sobrenome do autor, o ano de publicação da obra de
que foi extraída a citação e a página no original;
▪ se o autor optar em colocar a fonte entre parênteses, o sobrenome do autor deve vir em
caixa alta (todas letras maiúsculas); quando o sobrenome do autor estiver fora de
parênteses, grafa-se apenas a primeira letra em maiúsculas.
Exemplo:
No ponto de vista de Halliday & Hasan o termo texto "é usado em linguística para referir
qualquer passagem, oral ou escrita, de qualquer extensão, que forme um todo" (Halliday &
Hasan,1995, p. 01),
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A citação indirecta consiste na paráfrase das ideias do autor, ou seja, a reescrita do texto
do autor em outras palavras, conforme o entendimento de quem está citando. Nesse caso, é
necessário informar apenas o sobrenome do autor e o ano de publicação da obra. Dispensa-se o
uso de aspas e de bloco. A citação indirecta é indicada por um verbo discendi, como "afirmou que",
"propõe que", "argumenta que", “refutou que”.
Exemplo:
Ainda sobre a disciplina no acto comunicativo, Grice (1982) propôs o Princípio Cooperativo,
que se constitui da obediência do falante as regras de conduta, chamadas por ele de máximas
conversacionais.
▪ Se P, então Q.
▪ P.
▪ Logo, Q.
Esta representação formal obedece à regra modus ponens (o modo de pôr). Afirmando
(ponendo) o antecedente, afirma-se (ponens) o consequente. É um tipo de argumento dedutivo
válido. Mas se pode construir com uma argumentação falaciosa, por exemplo:
Se as estradas têm gelo, o correio está atrasado.
As estradas não têm gelo.
Logo, o correio não está atrasado.
Ambas as premissas podem ser verdadeiras e a conclusão ser, mesmo assim, falsa. O correio pode
estar atrasado por outras razões para além do gelo nas estradas. O argumento não considera
explicações alternativas.
O argumento comporta três elementos: Premissa Maior; Premissa Menor e Conclusão.
Premissas – são afirmações com as quais apresentamos razões que nos conduzem à
conclusão. Mais adiante em 2.8 falaremos sobre premissas.
11 “Náusea” texto narrativo literário único de Agostinho Neto, escrito em 1950. Neto andava pelos vinte e
poucos anos de idade. É um dos marcos da história da literatura angolana, cabendo os estudiosos extrair
lições para as várias áreas do saber.
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As premissas são um ou dois juízos que precedem a conclusão e dos quais ela decorre
como consequente necessário dos antecedentes, dos quais se infere a consequência. É
evidenciada por um silogismo que é estruturado do seguinte modo:
▪ Todo homem é mortal (premissa maior)
▪ Homem é o sujeito lógico, e fica atrás da cópula;
é representa a cópula, isto é, o verbo que exprime a relação entre sujeito e predicado;
▪ mortal é o predicado lógico, e fica após a cópula.
▪ Sócrates é homem (premissa menor)
Sócrates é mortal (conclusão). = (homem é o termo médio)
Nas premissas, o termo maior (predicado da conclusão) e o termo menor (sujeito da
conclusão) são comparados com o termo médio, e assim temos a premissa maior e a premissa
menor segundo a extensão dos seus termos. Ficaríamos com o seguinte argumento:
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(7)Estes esquemas de raciocínio dedutivo foram estruturados pela primeira vez por Aristóteles (séc. IV a. C.
Grécia); recentemente, remodelados, estão generalizados pelos novos cálculos da Lógica matemática.
(8) No âmbito das grandes questões da Ciência, problemas como os da indução e dedução são,
presentemente, mais complexos, como o documentam, por exemplo, as palavras de Einstein: “A tarefa
suprema do físico consiste na procura das leis elementares não há caminho lógico algum que conduza, mas
tão-somente a intuição, que se apoia num sentimento de profunda simpatia com a experiência”. Apud J.
Resina Rodrigues, “Indução”, in Logos – Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, Lisboa, Editorial Verbo,
1990, Vol. 2, p. 1415.
– o raciocínio causal: forma de raciocínio pelo qual o espírito humano aceita como
evidente o princípio da causalidade, isto é: que todo o ser contigente (que de facto existe mas que
poderia não existir) e tudo o que é contigente exigem uma causa que justifique a sua existência;
– o exemplo, a comparação, a analogia: forma de rciocínio que recorre ao que é
semelhante para concluir acerca do que lhe é comparável. Trata-se de uma forma de indução.
– a reflexão crítica: a vigilância ou controle que a mente exerce sobre si própria no
percurso do raciocínio, para que não deixe introduzir a contradição, o não lógico, o erro(9).
– Raciocínio viciado (consiste em a partir de uma afirmação falsa e, a partir dela, pretender retirar
conclusões como verdadeiras. Chama-se sofisma ou falácia, quando é intencional; se é involuntário, tem o
nome de paralogismo);
– Equívoco (quando uma mesma palavra é usada com diferentes sentidos, fugindo ao rigor do raciocínio
lógico que a deve empregar sempre com um mesmo sentido, o mesmo é dizer sempre com um mesmo
sentido, o mesmo é dizer sempre num sentido unívoco. Exemplo de equívoco: cão – “animal doméstico”,
“constelação”, “peça de arma de fogo”);
– Circulo vicioso ou petição de princípio (sofisma, argumentação falaciosa, em que se apresenta como
prova a própria suposição de que se partiu);
– Erro acerca da causa (consiste em confundir a verdadeira causa com aquilo que é apenas uma
circunstância);
– Ignorância do estado da questão (não identificar o que é efectivamente negado ou afirmado, passando
a produzir uma argumentação à margem da discussão, como seja: tentar provar o que não é negado ou negar
o que não é afirmado).
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persuadir ou até mesmo praguejar. Nesta mesma linha, o ensaísta angolano Luís
Kandjimbu reconhece que “mais de quarenta anos passados, são muitos defensores da
ideia segundo a qual a oratura não é apenas uma vertente das literaturas modernas em
África. Encerra em si as conotações de um sistema estético, um método e uma filosofia.”
(2012: 227).
No contexto plurilinguístico angolano, o provérbio tem diferentes desigações
segundo Antóno Fonseca(13): diz-se Olusapo na língua umbundu; Omuhe ou Omuse em
Nyaneka-humbi; Ingana em Kikongo; Jisabu em Kimbundu; Ikuma ou Cikuma em cokwé(8).
Dentro da classificação de textos literários orais, o provérbio representa o tipo de
textos que, apesar da sua autonomia, pode no entanto entrar na construção de outros
textos. Constituindo uma categoria que inclui ditados e máximas, caracteriza-se pela
brevidade, asssociando-se-lhe uma estética da transmissão de pensamentos, crenças,
ideias, valores e sentimentos. No que à sua estrutura diz respeito, o provérbio é um texto
sintético e de uma grande densidade semântica. Xatara e Succi afirmam que “provérbio é
uma unidade fraseológica fixa e, consagrada por determinada comunidade linguística, que
recolhe experiências vivenciadas em comum e as formula como um enunciado conotativo,
sucinto e completo.
Um provérbio carrega sempre dois sentidos: um sentido literal e um sentido
conotativo. A passagem do primeiro ao significado secundário, cuja coerência é possível
detectar em determinadas circunstâncias, constitui o núcleo da sua beleza, justuficando por
isso o esforço de interpretação que ele exige.
A estrutura dos provérbios normalmente é bipartida, apresentando premissas em
dois membros ou orações da frase, numa configuração aparentemente silogística. Ou seja,
A e B?. O sinal de interrogação omite a conclusão a que chega o intérprete. Mais se
assemelha a um entimema ou silogismo categórico reduzido.
Além do sentido literal e do sentido conotativo, há que referir o tema, isto é, a lição
a reter, síntese, a síntese do que subjaz ao significado das palavras e de que se parte
para extracção da ideia, do valor, do pensamento, enfim o ensinamento moral ou filosófico.
Ao incidirmos sobre o tema, destacamos a sua natureza pedagógica. E por isso a eles se
recorre para se exprimir algo que diga respeito aos diferentes e relevantes aspectos da
vida.
Com o elenco que se segue, exemplifica-se o exercício de interpretação dos
provérbios veiculados em umbundu, kimbundu, kikongo e Cokwe.
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Provérbio angolano de língua Umbundu: omunu nda ῆgo wafa ondalu, ava
vasyala vayota.
Tradução literal: a pessoa que morre não extingue o fogo, os vivos continuam a
server-se dele (o fogo) como meio de aquecimento.
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Provérbio angolano de língua Cokwe: Ciputa kola ny mafo; mwana kola ny mana
Tradução: A erva cresce com folhagem; a criança com conhecimentos.
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