O Léxico e A Expressividade em Língua Portuguesa...
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ISBN 978-65-5983-180-7
DOI 10.22533/at.ed.807210806
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CAPÍTULO 13
DOI 10.22533/at.ed.00000000000
O LÉXICO E A EXPRESSIVIDADE EM LÍNGUA
PORTUGUESA: UM CAMINHO PARA O ENSINO
PALAVRAS INICIAIS
“Unir a extrema audácia ao extremo pudor é uma questão de estilo.” (François
Mauriac)
Optamos por falar de estilo em um artigo que se propõe contribuir para o ensino
da língua portuguesa, porque acreditamos que onde existe homem existe estilo. Como
DÀUPDUD %XIIRQ R HVWLOR p R KRPHP ´/H VW\OH F·HVW O·KRPPH PrPH”2), logo, nada mais
oportuno que conversar sobre a relevância dos toques de estilo ao tratar-se do ensino da
língua com vista ao aprimoramento da expressão e da comunicação.
Em outro de nossos escritos, já dissemos que, segundo Paz Gago (1993, p.
23), todo texto tem estilo, não apenas os literários. Os textos jornalísticos, publicitários,
LGHROyJLFRV RX HQVDtVWLFRV RUDLV RX DXGLRYLVXDLV UHOLJLRVRV H ÀORVyÀFRV HWF 1D VLPSOHV
leitura cotidiana de jornais, é possível perceber as diferenças de estilo, em especial quando
VHFRQIURQWDPQRWtFLDVVREUHXPPHVPRHYHQWRHPSHULyGLFRVGLVWLQWRV$HOHLomRGRIRFR
da reportagem já é uma marca de estilo. Para o estudioso (idem, p. 24), fala-se de modos
GLIHUHQWHVGHGL]HU³SRUWDQWRGHGLIHUHQWHVHVWLORV³TXDQGRVHFODVVLÀFDPWH[WRVFRPR
diretos, coloquiais, literários, cultos, neutros etc. No dizer de Murry (1956), o verdadeiro
estilo é a expressão verbal adequada que exprime a maneira de sentir do enunciador. Por
isso o estilo é individual, porque é a expressão de uma maneira individual de sentir.
Num percurso que envolve o ensino de língua (e linguagem) e literatura e a resultante
GHVVDVGXDVSDUDRSURFHVVRGLGiWLFRSHGDJyJLFRREVHUYDPRVXPVLJQLÀFDWLYRDXPHQWR
GDVSHVTXLVDVTXHHQJOREDPHVVDVWUrVVXEiUHDV$FUHGLWDPRVTXHWDOLQFUHPHQWRFLHQWtÀFR
se deva ao fato de que a Estilística — o ponto de interseção entre língua e literatura —
YHP JDQKDQGR QRYD IHLomR H WHPVH LQVHULGR FRPR XP SRQWR GH IXJD XPD FRQÁXrQFLD
para onde deságua uma relação tríplice: o ensino de língua (com ênfase na variedade
linguística), os estudos literários e a SUiWLFDSHGDJyJLFD IXQGDPHQWDOPpGLDHDFDGrPLFD
1 François Charles Mauriac (Bordéus, 11 de outubro de 1885 — Paris, 1 de setembro de 1970) foi um escritor francês.
Foi laureado com o prêmio Nobel de Literatura de 1952. In https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ois_Mauriac Aces-
so em 03.Junho.2019.
2 Pronunciada em 1753, num discurso na Academia Francesa por George-Louis Leclerc, o conde de Buffon.
SOBRE ESTILÍSTICA
'R SRQWR GH YLVWD FURQROyJLFR D (VWLOtVWLFD p XPD FLrQFLD EDVWDQWH UHFHQWH )RL
inaugurada em 1902 por Charles Bally, e como bem assinalou Chaves de Melo (1976, p. 15)
até hoje está procurando seus direitos de cidadania, ou seu foral, no reino das disciplinas
linguísticas. No entanto, foi efetivamente a partir da Estilística idealista de Leo Spitzer,
seguida, então, por Dámaso Alonso e Amado Alonso — que se distinguiam dos princípios
de Bally, Vossler e Auerbach pela modernidade — que os estudos da expressão literária
começaram a tomar impulso, dando início a uma reformulação crítica no processo literário,
LVWRpDYHOKDUHWyULFDFHGHOXJDUDXPD´QRYDUHWyULFDµ (VWLOtVWLFD HPFXMDVSUHPLVVDV
já não se exige o uso de uma “língua bonita”, congelada pelas regras dos gramáticos.
A língua, sendo uma expressão do homem, evolui com o homem, com os costumes, os
LGHDLVHRVXVRVTXHHODH[SULPH *8,5$8'S (VVD´QRYDUHWyULFDµLPSOLFDD
alteração conceitual de linguagem e estilo. Assim, podemos constatar que se multiplicam
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Não há intenção de desenvolver estudos pormenorizados da Estilística, nem do
estilo, mas destacar sua relevância na SUiWLFD SHGDJyJLFD XPD YH] TXH D HStJUDIH GH
0DXULDF HVWLPXOD XPD UHÁH[mR VREUH DV FRPSHWrQFLDV H KDELOLGDGHV D GHVHQYROYHU SDUD
que se possa produzir enunciados com audácia para explorar os recursos da língua e pudor
SDUDDMXVWDUVHDRDXGLWyULR 3(5(/0$12/%5(&+767<7(&$ SRWHQFLDOSDUDR
texto.
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sendo a materialização de um estado de espírito por meio dos recursos da língua.
O que distingue Estilística e Linguística é a pretensão de avaliar. Lá onde a
Linguística é descritiva, a Estilística é avaliativa, o que também faz muitos questionarem
R FDUiWHU FLHQWtÀFR GHVVD GLVFLSOLQD 7RPDQGR SRU REMHWR R HVWXGR GR texto literário e
DV LQRYDo}HV OLQJXtVWLFDV SUySULDV j OLWHUDWXUD D (VWLOtVWLFD p SRU GHÀQLomR GHVWLQDGD D
observar idiossincrasias, a partir das quais se distinguem autores, épocas, gêneros etc.
1R HQWDQWR GHQWUR GHVVD JUDQGH ÁRUHVWD p SRVVtYHO WUDoDU DOJXQV FDPLQKRV VREUH RV
Nesse VHQWLGRSRGHPRVGL]HUTXHXQLGDj6HPLyWLFDHj3UDJPiWLFDD(VWLOtVWLFD
pode ser a chave para o desvelamento de mundos submersos nas ondas dos textos,
sobretudo quando os textos são ricos linguisticamente e estão impregnados de carga
VHPkQWLFD$SOXULVVLJQLÀFDomRWDPEpPpXPVLJQRpSDVVtYHOGHHVFROKDSRUWDQWRUHÁHWH
HVWLOR$VVLPVHQGRWXGRID]VLJQLÀFDQXPtexto; desde a escolha da variedade linguística,
GRJrQHURWH[WXDOGDVSDODYUDVDWpDGLVSRVLomRGDVIRUPDV SDODYUDVJUiÀFRVWDEHODV
imagens etc.).
O QUE ANALISAR?
$RSomRSHODEDVHWHyULFDGDHVWLOtVWLFDIXQFLRQDOVHJXQGR&RKHQ *XLUDXG
(1970) e Castagnino (1971) e o entendimento da Estilística como um ponto de interseção
entre todos os estudos das Letras, leva-nos a considerar que a análise estilística “não é mais
que o estudo da expressão linguística; e a palavra estiloUHGX]LGDjVXDGHÀQLomREiVLFD
'HVWDUWHDVHOHomROH[LFDOLPSOLFDDSUpYLDGHÀQLomRGRJrQHURWH[WXDOSDUDTXHKDMD
uma adequação entre léxico e gênero, a partir da qual começa-se a elaborar a compreensão
(por parte do enunciador, principalmente) e a intepretação (que cabe ao enunciatário/
leitor/intérprete) do texto. Independentemente de se tratar ou não de um texto artístico, é
LQGLVSHQViYHOTXHDVHOHomROH[LFDOOHYHHPFRQWDRDXGLWyULRDTXHPYDLGHVWLQDURtexto.
8PDYH]GHÀQLGRHVVHDXGLWyULRpSRVVtYHOWUDoDUVHXPSHUÀOGHHQXQFLDWiULRDSDUWLUGR
qual será possível eleger-se um gênero mais, ou menos, complexo. Por exemplo, se a meta
p RSHUDU FRP FRUUHVSRQGrQFLDV GHSHQGHQGR GR DXGLWyULR SRGHVH LQLFLDU SRU XPD FDUWD
comercial ou por um simples bilhete. Observe-se que a escolha do gênero determinará o
estilo do texto: se carta comercial, deve-se usar o registro formal da língua que se pauta
no uso culto; se bilhete, é preciso considerar a quem se destina, pois é possível deixar um
ELOKHWHSDUDXPSDUHQWHSUy[LPRSDUDXPFROHJDGHWUDEDOKRSDUDXPFKHIHLPHGLDWRHWF
Para cada um desses destinatários, a variedade linguística terá de ser ajustada. Vejam-se
as ilustrações a seguir:
As musas dos quatro textos são teresas de épocas diferentes e que se apresentam
sob uma perspectiva distinta. No entanto, nos dois primeiros, há uma predominância da
função poética, pois um e outro textos são poemas e buscam na linguagem o esplendor
da expressão. O poema de Castro Alves mostra o desenlace de um amor sofrido e relata
passo a passo o desfecho fatal de um grande amor. Já o texto de Bandeira embora tenha
um início (1ª estrofe) de certa forma jocoso, na segunda estrofe, o eu lírico já é tocado por
sentimentos mais elevados e começa a falar dos olhos de Teresa — espelhos de uma alma
sofrida. Na terceira estrofe, o eu lírico é arrebatado pela paixão e funde-se com Teresa,
assim como se fundem o céu, a terra e as águas. Quanto ao texto da canção de Tom Jobim
e Billy Blanco, vê-se uma conversa informal de dois amigos, relatando ter conhecido certa
3 Título: Tereza da praia. Compositor: Antonio Carlos Jobim. Letrista: Billy Blanco. Data: 1954. Gravações: Dick Farney
e Lucio Alves (78 rotações / 1954), João Nogueira e Sergio Ricardo (LP - Songbook Tom Jobim / 1996).
4 BANDEIRA, Manuel. Poesia completa. São Paulo: M. Fontes, 1997
O adeus de Teresa, Vez, Plantas, correnteza, valsa, giros, sala, adeus, poética
Teresa fala, noite, reposteiro, alcova, cavaleiro, mulher, véus, Teresa,
beijos, tempos, séculos, delírio, prazeres, gozos, Empíreo, dia,
lares, criança, soluços, palácio, festa, amor,
azul, céus,
Teresa Vez, Teresa, pernas, cara, perna, olhos, resto, corpo, anos, poética
céus, terra, espírito de Deus, face das águas.
Teresa da Dick, Lúcio, amor, Leblon, corpo, pele, pequena, nariz, olhos, referencial
Praia cabelo, pinta, Tereza da praia, verão, inverno, praia, sol, mar,
Observe-se que o tom poético e romântico do primeiro poema faz com que sejam
ativados inúmeros substantivos, sendo alguns deles de uso exclusivamente literário como
reposteiro, alcova, Empíreo. No segundo poema, o tratamento mais informal do tema
promove a seleção de palavras mais prosaicas, reservando a duas expressões especiais
o tom romântico do desfecho: espírito de Deus, face das águas. No primeiro e segundo
poemas, há a predominância da função poética (resguardadas as diferenças textuais),
pois a meta do eu lírico é alindar a linguagem. O terceiro texto do conjunto e segundo de
Bandeira traz um tom um tanto agressivo, de advertência, destacando a importância do
destinatário em relação à mensagem: o importante é que Teresa tenha cuidado quando
um sujeito como o descrito dela se acercar. O texto não demonstra preocupação estética,
SRULVVRpHQ[XWRTXDQWRDRVVXEVWDQWLYRVFDUUHJDQGRQRVYHUERV3RUÀPDFDQomRTXH
também tem Teresa como musa apresenta uma seleção de palavras totalmente informal,
por representar uma conversa entre dois homens que conheceram a mesma mulher e por
HODVHHQFDQWDUDP7RGDYLDDRÀQDOGDFRQYHUVDFRQFOXHPTXHRPHOKRUpGHL[DUD7HUHVD
GDQDSUDLDSRUTXHOipVHXOXJDUHDVVLPTXDOTXHUKLSyWHVHGHWRPURPkQWLFRVHHVYDL
dando lugar a uma atitude pragmática por parte dos dois conquistadores.
Importante lembrar o que ensina Jakobson sobre as funções da linguagem:
Analisemos os fatores fundamentais da comunicação lingüística: qualquer ato
de fala envolve uma mensagem e quatro elementos que lhe são conexos: o
emissor, o receptor, o tema (topic) da mensagem e o código utilizado. (. )
2VWH[WRVHPIRFRSDUHFHPGHPRQVWUDUFRPHÀFiFLDDPHQVDJHPGDHStJUDIHGHVVH
artigo, já que unem a extrema audácia ao extremo pudor, uma vez que seus enunciadores
realizam suas escolhas segundo as metas dos textos. Os poéticos se ocupam do
embelezamento da mensagem; o apelativo trata de se mostrar atrativo para garantir a
atenção do destinatário; e o informativo cuida apenas do relato, mesclando narração e
descrição, dois amigos contam um para o outro as astúcias de suas conquistas.
No entanto, é preciso observar que, pelo fato dessas funções acontecerem em
feixes, vamos encontrar nos textos analisados o seguinte:
Com base nesse quadro, pode-se concluir que de fato não há uma função pura
por vez. Elas se articulam, se combinam, segundo a natureza do texto. Por isso, umas se
destacam em detrimento de outras.
Um estudo estilístico a partir das funções da linguagem se afasta bastante do usual,
TXHpROHYDQWDPHQWRGHÀJXUDVGHlinguagem, de palavra e de pensamento.
&RPRDVÀJXUDVVHUHDOL]DPSRUPHLRGHSDODYUDVSDVVHPRVHQWmRDRHVWXGRGR
vocabulário.
PARA CONCLUIR
O estudo do vocabulário, atualmente, pode ser feito de forma automática com auxílio
do Word Smith Tools ou do AntConc (gratuito). Esses programas permitem a produção de
listas de palavras que podem ser manipuladas de acordo com os objetivos da pesquisa;
produzem também o levantamento de concordâncias, isto é, listam os sintagmas usuais de
uma dada palavra e seus acompanhamentos à direita e à esquerda; as colocações também
VmRLGHQWLÀFDGDVSRUPHLRGHWDLVSURJUDPDVHVmRHODVDVIRUPDVTXHPDLVRFRUUHPFRP
uma palavra eleita para pesquisa.
(VVHV OHYDQWDPHQWRV LUmR IDYRUHFHU R SODQHMDPHQWR GH DXODV SRU H[HPSOR$SyV
a seleção de textos e a produção das listas de palavras, é possível separar os textos por
REFERÊNCIAS
CASTAGNINO, R. H. Análise Literária. São Paulo: Mestre Jou, 1971.
CHAVES DE MELO, G. Ensaio de Estilística da Língua Portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: PADRÃO,
1976.
6,0¯(6'$FRQVWUXomRIRQRVHPLyWLFDGRVSHUVRQDJHQVGH´'HVHQUHGRµGH*XLPDUmHV5RVD
Philologus, Rio de Janeiro, p. 67-81, set-dez 1997.
SIMÕES, D.; OLIVEIRA, R. R. Instruções sobre seleção vocabular com mediação digital. In:
SIMÕES, D.; FIGUEIREDO, F. J. Q. D. Metodologias em/de linguística aplicada para o ensino e
aprendizagem de línguas. Campinas/SP: Pontes, 2014. p. 93- 118.
1 Internetês é um neologismo que designa a linguagem utilizada no meio virtual, em que “as palavras foram abreviadas até o ponto
de se transformarem numa única expressão, duas ou no máximo três letras”, onde há “um desmoronamento da pontuação e da
acentuação”, pelo uso da fonética em detrimento da etimologia, com uso restrito de caracteres e desrespeito às normas gramaticais.
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