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Resumo
Este artigo analisa a evolução de variáveis técnicas e econômicas de produção de soja
selecionadas dos Censos Agropecuários de 2006 e 2017, comparando o desempenho de
estabelecimentos agropecuários produtores de soja com o total de estabelecimentos do país, por
bioma e no agregado do país. Os resultados demonstram o caráter dinâmico do cultivo da soja,
com a cultura superando a média agrícola brasileira em diversas das variáveis analisadas. As
variáveis técnicas que apresentaram maior crescimento nos estabelecimentos produtores de soja
foram o número de estabelecimentos com trator, irrigação, orientação técnica e uso de
financiamento, enquanto o uso de adubação e agrotóxicos cresceu mais no agregado nacional.
Houve uma redução no total de estabelecimentos com acesso à orientação técnica nos
estabelecimentos do país e um pequeno crescimento nos estabelecimentos produtores de soja.
O valor total da produção agropecuária e das receitas da produção agropecuária cresceram em
todos os biomas, sendo proporcionalmente maior nos estabelecimentos produtores de soja. O
mesmo ocorreu na comparação entre o valor e a receita da produção de soja e da lavoura
temporária. Houve uma redução no número de estabelecimentos com armazém em ambos os
tipos de estabelecimentos e no uso de corretivos. A área colhida e a produção de soja
apresentaram crescimento de 72,3% e 124,2% no período, com crescimento em todos os biomas
e o mesmo ocorreu com a produtividade, com crescimento de 30,2%. No período 2006-2017
houve aumento no número de estabelecimentos produtores de soja e nos biomas, exceto
Caatinga e Mata Atlântica e na participação desses estabelecimentos no total de
estabelecimentos do país. A Mata Atlântica detém a grande maioria dos estabelecimentos
produtores de soja do país, mas em termos de área total o Cerrado representou cerca de 50%
em 2006 e em 2017.
Palavras-chave: soja; variáveis técnicas; variáveis econômicas; biomas; mapas.
Abstract
This article presents information on technical and economic variables selected from the 2006
and 2017 Agricultural Censuses, comparing soy-producing holdings with the total number of
agricultural holdings in the country, by biome and in the country aggregate. The results
demonstrate the dynamic character of soybean cultivation, with the crop surpassing the
Brazilian agricultural average in several of the analyzed variables. The technical variables that
Introdução
Material e métodos
Variáveis de interesse para a cultura da soja nacional foram selecionadas dos Censos
Agropecuários 2006 e 2017 e sua evolução foi investigada no período intercensitário. Dados
dos estabelecimentos agropecuários (microdados) dos dois censos foram agrupados por
município, por bioma e para o Brasil, por meio de tabulações especiais. Para realizar a
comparação do comportamento das variáveis selecionadas foram considerados dois conjuntos
de dados: o total dos estabelecimentos produtores de soja e o total de estabelecimentos que
compõem a agropecuária brasileira.
As variáveis selecionadas para o presente estudo1 foram: (1) número de
estabelecimentos; (2) área total dos estabelecimentos (ha); (3) área total colhida de soja dos
estabelecimentos (ha); (4) produção total de soja (kg); (5) produtividade média da soja (kg/ha);
(6) área total colhida de lavoura temporária - área com culturas de curta duração (geralmente
inferior a um ano) e que só produzem uma vez, pois na colheita a planta se destrói; (7) área total
__________________________________
1
A descrição dessas variáveis e a forma de cálculo das variáveis econômicas são descritos com detalhe
em IBGE (2019).
Resultados e discussão
Tabela 2A. Área total colhida de grãos, área colhida de soja, de milho e de outros grãos e área
total colhida de lavoura temporária, por bioma, nos censos 2006 e 2017 (em mil t).
Variável/Bioma Censos Amazônia Caatinga Cerrado M. Atlânt. Pampa Pantanal Brasil
Área colhida de 2006 2.655 5.644 12.902 14.511 2.509 68 38.288
grãos 2017 7.282 1.651 23.781 14.649 5.412 77 52.852
Área colhida de 2006 1.164 0,7 8.475 6.880 1.135 50 17.704
soja 2017 4.497 6 14.765 7.779 3.424 50 30.521
Área colhida de 2006 634 2.540 3.070 5.077 268 13 11.601
milho 2017 2.465 779 7.629 4.584 292 27 15.776
Área colhida de 2006 1.798 2.541 11.544 11.956 1.403 63 29.306
soja + milho 2017 6.961 785 22.394 12.363 3.717 77 46.297
Área colhida de 2006 856 3.103 1.358 2.555 1.106 4,7 8.983
outros grãos 2017 321 866 1.387 2.286 1.695 0 6.555
Área colhida de 2006 4.081 4.696 16.642 16.273 2.820 97 44.608
lav. temporária 2017 6.056 3.270 22.616 18.625 5.005 68 55.641
Tabela 2B. Participação da área colhida de soja, de milho e de outros grãos na área colhida
total de grãos, e da área colhida de soja na área de lavoura temporária, por bioma, nos censos
2006 e 2017.
Mata
Variável/Bioma Censos Amazônia Caatinga Cerrado Pampa Pantanal Brasil
Atlânt.
% da soja no 2006 43,8% 0,0% 65,7% 47,4% 45,2% 73,5% 46,2%
total de grãos 2017 61,8% 0,4% 62,1% 53,1% 63,3% 64,9% 57,7%
% do milho no 2006 23,9% 45,0% 23,8% 35,0% 10,7% 19,1% 30,3%
total de grãos 2017 33,9% 47,2% 32,1% 31,3% 5,4% 35,1% 29,8%
% da soja + milho 2006 67,7% 45,0% 89,5% 82,4% 55,9% 92,6% 76,5%
no total de grãos 2017 95,6% 47,5% 94,2% 84,4% 68,7% 100,0% 87,6%
% de outros grãos 2006 32,2% 55,0% 10,5% 17,6% 44,1% 6,9% 23,5%
no total de grãos 2017 4,4% 52,5% 5,8% 15,6% 31,3% 0,0% 12,4%
% da soja no total 2006 28,5% 0,0% 50,9% 42,3% 40,3% 51,5% 39,7%
de lav. temporária 2017 74,2% 0,2% 65,2% 41,8% 68,4% 74,1% 54,8%
Tabela 4. Evolução de variáveis relacionadas ao nível tecnológico no total de estabelecimentos agropecuários brasileiros, no período 2006 a 2017,
por bioma e Brasil: tratores, orientação técnica, armazéns e financiamentos (unidades).
Estabelecimentos com Estabelecimentos com Estabelecimentos com Estabelecimentos com
Variável / Bioma tratores orientação técnica armazém financiamento
2006 2017 Variação 2006 2017 Variação 2006 2017 Variação 2006 2017 Variação
Amazônia 22.136 46.288 109,10% 81.262 67.723 -16,70% 44.394 8.327 -81,20% 54.693 67.787 23,90%
Caatinga 26.420 35.723 35,20% 146.823 148.314 1,00% 205.217 56.819 -72,30% 241.243 217.779 -9,70%
Cerrado 115.537 139.149 20,40% 188.240 154.549 -17,90% 117.072 33.574 -71,30% 121.218 121.278 0,10%
Mata Atlântica 324.269 455.881 40,60% 668.950 592.656 -11,40% 492.474 157.494 -68,00% 459.046 337.530 -26,50%
Pampa 39.718 65.721 65,50% 56.831 59.729 5,10% 41.138 11.659 -71,70% 41.799 38.386 -8,20%
Pantanal 2.266 3.326 46,80% 2.943 2.469 -16,10% 531 160 -69,90% 1.117 1.775 58,90%
Brasil 530.346 746.088 40,70% 1.145.049 1.025.440 -10,40% 900.826 268.033 -70,20% 919.116 784.535 -14,60%
Tabela 6. Evolução de variáveis ligadas ao nível tecnológico no total de estabelecimentos agropecuários brasileiros, no período 2006 a 2017,
por bioma e Brasil: corretivos, adubos, agrotóxicos e irrigação (unidades).
Estabelecimentos com Estabelecimentos com Estabelecimentos com Estabelecimentos com
Variável /
corretivos adubação agrotóxicos irrigação
Bioma
2006 2017 Variação 2006 2017 Variação 2006 2017 Variação 2006 2017 Variação
Amazônia 17.636 46.260 162,3% 44.122 112.868 155,8% 75.101 185.935 147,6% 15.038 39.284 161,2%
Caatinga 27.763 34.151 23,0% 271.777 473.164 74,1% 351.348 450.557 28,2% 104.669 177.436 69,5%
Cerrado 130.615 129.538 -0,8% 196.993 259.937 32,0% 143.477 233.633 62,8% 49.931 61.586 23,3%
Mata Atlântica 595.681 474.581 -20,3% 1.092.668 1.190.078 8,9% 768.966 864.330 12,4% 149.038 212.680 42,7%
Pampa 48.486 42.996 -11,3% 89.120 106.777 19,8% 56.323 78.801 39,9% 12.935 12.650 -2,2%
Pantanal 817 1.016 24,4% 570 1.866 227,4% 862 2.887 234,9% 380 754 98,4%
Brasil 820.998 728.542 -11,3% 1.695.250 2.144.690 26,5% 1.396.077 1.816.143 30,1% 331.991 504.390 51,9%
Tabela 8. Evolução de variáreis socioeconômicas selecionadas no total de estabelecimentos agropecuários do país, no período 2006 a 2017,
por bioma e Brasil (em milhões de Reais; valores deflacionados pelo IGP-DI para dezembro de 2021).
Valor da produção de Valor da produção Receita da produção de Receita da produção
Variável lavoura temporária agropecuária lavoura temporária agropecuária
Bioma 2006,00 2017,00 Variação 2006,00 2017,00 Variação 2006,00 2017,00 Variação 2006,00 2017,00 Variação
Amazônia 18.986,7 40.268,5 1,12% 42.748,6 89.416,1 1,09% 14.202,8 33.114,0 1,33% 34.230,5 79.087,5 131,04%
Caatinga 14.399,3 7.191,3 -0,50% 44.213,4 38.230,5 -0,14% 7.176,7 3.695,5 -0,49% 32.079,1 29.448,3 -8,20%
Cerrado 93.209,8 171.816,2 0,84% 163.878,7 279.705,4 0,71% 81.416,4 148.051,0 0,82% 142.659,5 242.233,9 69,80%
Mata Atlântica 103.619,8 145.992,5 0,41% 244.342,5 324.640,9 0,33% 85.193,9 113.250,0 0,33% 194.321,0 271.238,7 39,58%
Pampa 13.946,0 36.891,6 1,65% 22.178,9 49.845,9 1,25% 12.384,0 31.603,1 1,55% 19.181,0 43.408,5 126,31%
Pantanal 704,4 478,4 -0,32% 2.445,4 3.719,6 0,52% 676,4 357,9 -0,47% 2.308,8 3.521,1 52,51%
Brasil 244.865,9 402.638,5 0,64% 519.807,5 785.558,5 0,51% 201.050,3 330.071,4 0,64% 424.780,0 668.938,0 57,48%
No período analisado houve aumento de todas as receitas (de atividades não agrícolas,
de outras receitas do produtor e de aposentadoria) para o total de estabelecimentos do país e em
todos os biomas (o que também foi observado para os estabelecimentos produtores de soja). As
receitas totais de atividades não agrícolas apresentaram, no período analisado, um crescimento
maior (414,0%) nos estabelecimentos produtores de soja e menor (173,9%) no caso do total de
estabelecimentos brasileiros.
Houve aumentos expressivos de receitas em alguns biomas, para os estabelecimentos
produtores de soja (Tabela 10). Por exemplo, para as receitas não agrícolas no bioma Amazônia
houve um aumento de 19,6 milhões de Reais em 2006 para 585,5 milhões de Reais em 2017
(2.882%) ou de 1,41 bilhões de Reais para 5,55 bilhões de Reais (292%) no Cerrado.
Tabela 11. Evolução de diferentes Receitas do total de estabelecimentos do País, no período 2006 a 2017, por bioma e Brasil (em milhões
de Reais; valores deflacionados pelo IGP-DI para dezembro de 2021).
Outras receitas não Outras receitas do Receitas de Receita total do
Variável / agrícolas produtor aposentadoria estabelecimento
Bioma
2006 2017 Variação 2006 2017 Variação 2006 2017 Variação 2006 2017 Variação
Amazônia 2.666 4.972 86,5% 2.839 10.357 264,9% 927 4.483 383,3% 40.357 94.416 134,0%
Caatinga 1.432 3.053 113,1% 10.500 29.931 185,1% 6.533 19.016 191,1% 45.157 62.449 38,3%
Cerrado 5.159 12.650 145,2% 7.783 32.431 316,7% 2.341 9.983 326,4% 158.909 287.324 80,8%
Mata Atlântica 2.919 11.891 307,3% 17.013 57.357 237,1% 7.697 23.883 210,3% 232.531 340.498 46,4%
Pampa 166 1.193 616,8% 2.008 4.351 116,7% 854 2.351 175,2% 21.745 48.952 125,1%
Pantanal 16 87 457,7% 141 639 354,1% 16 179 1026,0% 2.490 4.247 70,6%
Brasil 12.359 33.846 173,9% 40.283 135.064 235,3% 18.369 59.895 226,1% 501.188 837.887 67,2%
Conclusões
O dinamismo da soja fica evidente nos resultados deste trabalho, com a cultura tendo
melhor desempenho em relação à média da agropecuária brasileira na maioria das variáveis
analisadas. A expansão da área, da produção e da produtividade da cultura da soja no período,
resultou e/ou foi decorrente da necessidade de maior uso de insumos (corretivos, adubos,
irrigação), de maior acesso à orientação técnica e de maior financiamento da parte dos
produtores. Como consequência, o total de receitas auferidas pelos estabelecimentos produtores
de soja também teve crescimento proporcionalmente maior do que os estabelecimentos do
agregado nacional no período 2006-2017. E o mesmo ocorreu com o valor da produção
agropecuária.
As variáveis técnicas que acompanham essa conclusão geral, ou seja, com os
estabelecimentos produtores de soja tendo maior crescimento em relação ao total de
estabelecimentos do país, são o número de estabelecimentos com trator e máquinas agrícolas,
com irrigação, com orientação técnica e que fizeram financiamento. O contrário aconteceu com
o número de estabelecimentos que fizeram uso de adubação e de agrotóxicos: o crescimento no
período foi maior no agregado de estabelecimentos do país. Digno de nota é a redução (-10,4%)
ocorrida no número de estabelecimentos do agregado nacional com acesso a algum tipo de
orientação técnica e o pequeno crescimento desta variável (6,2%) nos estabelecimentos
produtores de soja. O mesmo ocorreu com os estabelecimentos com financiamento: o
crescimento no período para os estabelecimentos produtores de soja foi de 235,3%, enquanto
que no agregado nacional houve redução de 14,6%. Por outro lado, o número de
estabelecimentos com armazém diminuiu cerca de 70% em ambos os tipos de estabelecimentos.
Quanto às variáveis econômicas, o valor total da produção agropecuária e das receitas
da produção agropecuária, tanto nos estabelecimentos produtores de soja quanto na totalidade
dos estabelecimentos do país cresceu no período e em todos os biomas (exceto a Caatinga para
o total dos estabelecimentos do país), sendo este crescimento proporcionalmente maior nos
(a) (b)
(c) (d)
(g) (h)
(i) (j)
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