NOTA - TECNICA Alteracaodaresolucao181 CNMP PIC

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NOTA TÉCNICA N.

º 004/2022-CNPG

EMENTA: Sugestões de alteração das proposições


destinadas à reforma da Resolução nº 181/CNMP, de 7
de agosto de 2017, que normatiza a instauração e
tramitação do procedimento investigatório criminal
(PIC), no âmbito do Ministério Público, em decorrência da
edição da Lei nº 13.964/2019 (‘Pacote Anticrime’).

O CONSELHO NACIONAL DE PROCURADORES-GERAIS DO


MINISTÉRIO PÚBLICO DOS ESTADOS E DA UNIÃO (CNPG), por meio de seu
GRUPO NACIONAL DE COORDENADORES DO CENTRO DE APOIO
CRIMINAL - GNCCRIM, expede a presente NOTA TÉCNICA com sugestões de
alterações às proposições que visam à reforma da Resolução n.º 181/CNMP, para
adequação aos termos da novel legislação inserta na Lei n.º 13.964/2019.

1. Introdução.

O advento da Lei n.º 13.964/2019 evidencia a necessidade de adequação


da Resolução n.º 181/CNMP aos seus respectivos termos, notadamente no que diz respeito
à nova sistemática do arquivamento do inquérito policial e dos elementos informativos
criminais, no âmbito do Ministério Público brasileiro.

Diante disso, até que venha a ser editado regulamento uniforme para
implementação das indispensáveis adaptações, o CNPG, por meio desta nota técnica,
propõe sugestões de alteração às proposições que visam à reforma da aludida Resolução, o
que o faz nos termos das asserções que serão apresentadas nas linhas seguintes, com as
respectivas justificativas, para garantir a máxima efetividade das normas em referência.

2. Análise Técnica.

1. § 1º-A ao art. 8º:

1
Texto Proposto

§ 1º-A. A colheita de informações, oitivas e depoimentos poderá ser


realizada, justificadamente, por meio de videoconferência ou outro
recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real”.

Sugestão de Alteração:

§ 1º-A. A colheita de informações, oitivas e depoimentos poderá será


realizada, justificadamente, preferencialmente, por meio de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e
imagens em tempo real”.

Justificativa:

Considerando que o uso da tecnologia para a prática dos atos judiciais é


uma realidade alçada pelo Código de Processo Civil1, desde o ano de 2015, exigir-se
fundamentação expressa para a sua escolha revela retrocesso procedimental que, não só,
atrasa a marcha procedimental como cria embaraços desnecessários que poderão ser
utilizados para eventuais arguições de nulidades futuras.

2. Art. 14-A (confisco alargado):

1
Nesse sentido, confira-se o dispositivo do CPC, a saber:

Art. 236. Os atos processuais serão cumpridos por ordem judicial. (...)

§ 3º Admite-se a prática de atos processuais por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de
sons e imagens em tempo real.

2
Texto Proposto

Art. 14-A. A persecução patrimonial dirigida à indicação dos bens


correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do investigado e
aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito, com vistas à
decretação do confisco alargado, será realizada em anexo autônomo do
procedimento investigatório criminal e visa à identificação dos bens:

I - de titularidade do investigado, ou em relação aos quais ele tenha o


domínio e o benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou
recebidos posteriormente; e

II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação


irrisória, a partir do início da atividade criminal.

§ 1º A instrução do procedimento tratado no caput poderá prosseguir até


que ultimadas as diligências de persecução patrimonial para
detalhamento da indicação lançada na ação penal.

§ 2º A investigação mencionada no caput poderá ser instaurada inclusive


após o oferecimento da ação penal, para detalhamento dos bens sujeitos
a confisco alargado”.

Sugestão de Alteração

Art. 14-A. A persecução patrimonial dirigida à indicação dos bens


correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do investigado e
aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito, com vistas à
decretação do confisco alargado, será realizada em anexo autônomo do
procedimento investigatório criminal e visa à identificação dos bens: e,
salvo legislação específica, compreenderá os seguintes bens:

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I - de titularidade do investigado, ou em relação aos quais ele tenha o
domínio e o benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou
recebidos posteriormente; e

II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação


irrisória, a partir do início da atividade criminal.

§ 1º A instrução do procedimento tratado no caput poderá prosseguir até


que ultimadas as diligências de persecução patrimonial para
detalhamento da indicação lançada na ação penal.

§ 2º A investigação mencionada no caput poderá ser instaurada inclusive


após o oferecimento da ação penal, para detalhamento dos bens sujeitos
a confisco alargado”.

Justificativa:

Constata-se que a proposição acima inova no ordenamento jurídico, pois


traz restrições às investigações concernentes ao confisco alargado, sem que haja amparo
legal para tanto e, assim, acarreta inegável prejuízo às investigações, senão vejamos.

Com relação aos bens de titularidade do investigado, ou sobre os quais


exerça domínio ou receba benefícios, há expressa menção de que a investigação deve se
limitar aos bens adquiridos na data da infração ou posteriormente, excluindo da
investigação a cadeia de aquisições pretéritas.

A toda evidência, portanto, que a regulamentação não levou em


consideração as hipóteses excepcionais afetas aos crimes de lavagem de capital, cuja
legislação é expressa ao viabilizar a constrição cautelar de todos os bens, do investigado
ou de terceiros, que sejam instrumento ou proveito de crime, sem que o faça com recorte
temporal aviado pelo CNMP.

Vale dizer, pela redação sugerida, veda-se a investigação sobre os bens


adquiridos antes da consumação da infração propriamente dita, obstando, assim, a

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investigação sobre toda a cadeia de aquisições pretéritas de bens. Tal impedimento
inviabiliza que o Parquet tenha conhecimento sobre o histórico de aquisições dos bens e
impossibilita a completa apuração de ilícitos complexos, tais como os de lavagem de
capitais e de organização criminosa. Desconsiderou, assim, que, por inúmeras vezes, são
as investigações sobre a cadeia dominial antecedente que revelam os demais integrantes
dos grupos criminosos, até então ocultos, além dos subsídios necessários a comprovação
da desproporcionalidade entre a renda lícita e os bens de suas respectivas propriedades ou
usufrutos, lato sensu.

Daí decorre a inegável conclusão de que a proposição supra deve ser


decotada para que se mantenha harmônica com a legislação federal correlata. A esse
respeito, confira-se a integralidade do art. 4º da Lei nº 9.613/98, que dispensa a exigência
temporal prevista na redação original da proposição, a saber:

Art. 4o O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou


mediante representação do delegado de polícia, ouvido o
Ministério Público em 24 (vinte e quatro) horas, havendo indícios
suficientes de infração penal, poderá decretar medidas
assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou
acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que
sejam instrumento, produto ou proveito dos crimes previstos
nesta Lei ou das infrações penais antecedentes.

O mesmo raciocínio se aplica para a hipótese do art. 4º do Decreto-Lei


3.240/41, que diz que o sequestro pode recair sobre todos os bens do indiciado, e compre-
ender os bens em poder de terceiros desde que estes os tenham adquirido dolosamente, ou
com culpa grave, e o que os bens doados após a prática do crime serão sempre compre-
endidos no sequestro.

Seguindo a mesma linha de entendimento, constata-se que o CNMP tam-


bém inova ao limitar a investigação sobre os bens transferidos pelo investigado a terceiros,
uma vez que o faz restringindo a providência ministerial àqueles bens que tenham sido

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transferidos a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, e, ainda, a partir do iní-
cio da atividade criminosa. Ao assim dispor, acarreta evidente prejuízo ao Parquet ao exi-
gir-se que comprove, ab initio, que a contraprestação é irrisória, o que, se sabe, não é pos-
sível levando-se a efeito a prematuridade das investigações.

Desta feita, sugere-se a supressão das terminologias que, d.v., extrapolam


o limite regulamentar e impõe obrigação ao Parquet por meio de regulamento e não por lei
e, ainda, acarretando inegável prejuízos às investigações complexas.

3. Art. 18, caput:

Necessidade de detalhamento da participação da vítima na celebração do Acordo de


Não Persecução Penal.

Verifica-se que o Código de Processo Penal dedicou apenas um


dispositivo em relação à vítima no âmbito do ANPP, tratando-a como mero agente passivo
dos supostos benefícios oriundos do instituto despenalizador (Art. 28-A - § 9º - A vítima
será intimada da homologação do acordo de não persecução penal e de seu
descumprimento).

A proposta de Resolução sob análise traz importante avanço na temática


ao prever em seu art. 18: § 4º:

Na forma do art. 17 desta Resolução, o membro do Ministério Público


deverá diligenciar para que a vítima ou, na ausência desta, seus
respectivos familiares participem do acordo de não persecução penal em
vistas à reparação dos danos causados pela infração, não se exigindo,
contudo, sua aquiescência como requisito de validade ou eficácia do
acordo.

Contudo, apesar do notável avanço, entendemos ser necessário maior


detalhamento da questão, inclusive deixando claros os limites da atuação ministerial no
que pertine à defesa de direitos patrimoniais da vítima (reparação de danos), sob pena de

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confusão de papeis (com advocacia e/ou defensoria) e causação de potenciais impactos
negativos, por desconhecimento do senso comum, à imagem institucional.

Também importante deixar clara, no texto proposto, a natureza cível e


patrimonial relacionada à composição dos danos civis, de sorte a agregar maior segurança
jurídica em prol dos envolvidos (a exemplo do que já ocorre em sede de transação penal,
onde se reconhece que o descumprimento da medida penal não retira a natureza executiva
da composição civil).

Desta feita, a fim de solucionar a questão, equacionando a necessária


defesa dos direitos das vítimas dentro dos limites constitucionais e legais impostos ao
Ministério Público, propomos o seguinte tratamento ao tema:

• Antes da apresentação da proposta de ANPP ao investigado, o


Ministério Público providenciará a notificação da vítima para informar
os danos decorrentes da infração penal e apresentar, sempre que possível,
documentos ou informações que permitam estimar o dano suportado e a
capacidade econômica do investigado.

• A vítima, sempre que possível acompanhada de advogado, poderá


figurar como interveniente no ANPP, no que diz respeito à reparação dos
danos civis decorrentes da infração penal.

• O não comparecimento da vítima ou a sua discordância em relação à


composição civil dos danos, por si só, não obstará a celebração do ANPP.

• Na hipótese de não comparecimento da vítima ou da sua discordância


em relação à composição civil dos danos, o montante a ser pactuado pelo
Ministério Público nos termos do art. 28-A, I, do CPP, deverá ser
expressamente ressalvado como valor mínimo, não impedindo a busca
da reparação integral pelo ofendido por meio das vias próprias.

• A cláusula relativa à composição de danos civis poderá ser pactuada


com caráter de irrevogabilidade, constituindo título executivo de

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natureza cível apto à execução, mesmo na hipótese de posterior rescisão
do ANPP.

4. Art. 18-A:

Texto Proposto

Art. 18-A. Sendo cabível o acordo de não persecução penal,


independentemente da existência de confissão anterior no curso do
procedimento investigatório prestada perante a autoridade policial, o
investigado será notificado para comparecer em local determinado, dia e
horário determinados, devendo constar expressamente da notificação que
o ato pressupõe a confissão formal e circunstanciada da prática da
infração penal, bem como a necessidade de o investigado se fazer
acompanhar por advogado ou defensor público.

Sugestão de Alteração:

Art. 18-A. Sendo cabível o acordo de não persecução penal,


independentemente da existência de confissão anterior no curso do
procedimento investigatório prestada perante a autoridade policial, o
investigado será notificado para comparecer em local determinado, dia e
horário determinados, devendo constar expressamente da notificação que
o ato pressupõe a confissão formal e circunstanciada da prática da
infração penal, bem como a necessidade de o investigado se fazer
acompanhar por advogado ou defensor público.

Justificativa:

Da leitura do texto proposto, dessume-se evidente que, mesmo nos casos


em que o investigado permaneça em silêncio na delegacia, ou negue a prática do crime

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perante a autoridade policial, o promotor de justiça teria a obrigação de notificá-lo para
tratativas de ANPP e para suprimento da confissão não verificada.

Esta obrigação, todavia, não se encontra em consonância com


entendimento que já foi adotado pelo Superior Tribunal de Justiça, como se depreende de
recente julgado monocrático do Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, no bojo do
RECURSO ESPECIAL Nº 1946542 - SP (2021/0200379-0), julgado em 27/10/2021.

No referido julgamento, ao decidir por dar provimento ao REsp


interposto pelo Ministério Público do Estado de São Paulo e determinar o prosseguimento
de ação penal, cuja denúncia havia sido rejeitada pelo juízo de primeiro grau, sob o
entendimento de que o promotor teria a obrigação de notificar, previamente à Denúncia,
réu que não confessou o crime na delegacia, assim consignou o eminente Ministro:

“No caso, inexiste nulidade na recusa do oferecimento de proposta de


acordo de não persecução penal, uma vez que o representante do
Ministério Público, de forma fundamentada, constatou a ausência dos
requisitos legais necessários à elaboração do acordo: a ausência de
confissão formal da autoria delitiva perante a autoridade policial.

Ademais, conforme consignado pelo Ministério Público Federal, em seu


parecer, o art. 28-A do CPP não prevê que o Ministério Público deve
diligenciar para alcançar a confissão do investigado, notificando-o para
dar início às tratativas para o oferecimento do acordo. Exigir-se tal
conduta, na verdade, cria uma condição de procedibilidade para a ação
penal que não tem previsão legal e que não se amolda ao Estado
Democrático de Direito (e-STJ fls. 96/98).

Assim, decidindo o Parquet estadual, de forma fundamentada, acerca da


ausência dos requisitos legais necessários à elaboração do acordo de não
persecução penal, deve ser recebida a denúncia, se, por outro
fundamento, não tiver que ser rejeitada. (...)

9
Ante o exposto, com fundamento no art. 932, inciso VIII, do CPC, no art.
255, § 4º, inciso III, do RISTJ, e na Súmula 568 do STJ, dou provimento
ao recurso especial, para determinar o prosseguimento da ação penal,
com o recebimento da denúncia, se por outro fundamento não puder ser
recebida.”

Trata-se de entendimento que foi extensamente debatido por membros


do Ministério Público quando do 1º CONGRESSO DE DIREITO PENAL DOS
MINISTÉRIOS PÚBLICOS DA REGIÃO SUDESTE, realizado em Araxá-MG entre os
dias 1º e 3 de dezembro de 2021.

Na ocasião, explicitou-se as razões pelas quais não se deve entender pela


obrigatoriedade de notificação prévia em caso de recusa à propositura de ANPP, cujos
principais trechos pede-se vênia para transcrever, como explicitação dos argumentos da
exclusão ora proposta:

“Dessa forma, o acordo de não persecução penal, inserido em nosso


ordenamento jurídico através da Lei nº 13.964/2019, constitui um
instrumento negocial a ser firmado entre o Ministério Público, titular
privativo da ação penal, e o investigado, devidamente assistido por
defensor, mediante o qual o primeiro abdica da promoção da persecução
criminal, mediante a aceitação, pelo segundo, do cumprimento de
determinadas condições. Trata-se, portanto, de um instrumento bilateral
e consensual, porquanto decorre de uma convergência de vontades entre
o investigado e o Ministério Público. (...)

No entanto, há de se destacar que, tratando-se de modalidade de


justiça negocial (medida despenalizadora), reveste-se, assim como a
transação penal e a suspensão condicional do processo, de um poder-
dever do Ministério Público e não um direito público subjetivo do
acusado, conforme entendimento pacificado pela jurisprudência do STF,
STJ e de outros Tribunais: (...)

É imprescindível salientar, por sua vez, que o texto legal é bastante

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claro quando estabelece que a iniciativa para impugnar o não
oferecimento o ANPP é do investigado, através de um requerimento de
envio dos autos ao órgão superior do Ministério Público (art. 28-A, § 14,
do CPP), e não do Judiciário ex officio.

O papel do Poder Judiciário no que toca aos ANPPs, decorrente do


próprio texto legal, é o de controlar a legalidade dos termos e condições
dos acordos propostos, e não daqueles não propostos – cuja
impugnação é expressamente conferida ao investigado (...)

Vê-se, assim, que não cabe ao órgão jurisdicional decidir sobre a


conveniência ou não de eventual não propositura do ANPP pelo
Ministério Público, pois, nesse caso, estar-se-ia diante de uma posição
de protagonismo adotada pelo juiz ao alvedrio da legislação, e sob o
risco, inclusive, de malferir a sua imparcialidade, atributo
indispensável a ele no sistema acusatório. Além disso, tal atitude
implica uma clara invasão na atribuição conferida ao Ministério
Público pelo art. 129, I, da CRFB/88, de titular privativo da ação penal,
pois a valoração acerca da propositura ou não de ANPP equivale a tomar
uma decisão acerca da propositura ou não da própria ação penal.

Seguindo estas premissas, portanto, e reforçando-as com o direito à


razoável duração do processo, a todos assegurado pelo art. 5º, LXXVIII,
da Magna Carta, é intuitivo concluir ser lícito ao promotor de justiça,
uma vez entendendo como não preenchidos os requisitos exigidos por lei
para o ANPP, optar por notificar extrajudicialmente o investigado acerca
da não propositura do acordo, e aguardar o decurso do prazo legal para
impugnação, ou oferecer desde logo denúncia, justificando a não
propositura do acordo na quota que acompanha a exordial. Neste último
caso, eventual impugnação por parte do investigado seria diferida para
o momento em que ele fosse citado dos termos da ação penal, quando
tomaria conhecimento, também, da não propositura da avença e de suas

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razões, sendo-lhe facultado apresentar impugnação nos próprios autos da
ação penal, a ser submetida à instância superior do Parquet.

Essa última opção, por sua vez, além de não trazer qualquer
prejuízo ao investigado, coaduna-se plenamente com a garantia
constitucional da razoável duração do processo e contribui para conferir
celeridade à persecução penal. (...)

Afigura-se, assim, muito mais producente e condizente com os


princípios supra elencados, que a recusa do oferecimento do ANPP
seja aviada em quota ofertada concomitantemente à Denúncia, da
qual o investigado/réu tomará conhecimento quando for citado para
responder à ação penal, podendo, então, em caso de discordância, exercer
o direito previsto no art. 28-A, § 14, do CPP. (...)

Aliado a isso, e ainda mantendo-se a discussão dentro do mesmo tema,


impende avançar na questão acerca da ausência de confissão do
investigado em seu interrogatório policial e se, neste caso, o promotor
de justiça estaria obrigado a notificar extrajudicialmente o investigado
para tentar uma confissão, já em sede de tratativas para o ANPP.

E neste ponto, tem-se que a resposta é desenganadamente negativa.

Com efeito, já se viu, acima, que o entendimento uníssono do STJ é


no sentido de que a análise da presença ou não dos requisitos para o
ANPP deve ser realizada após o término das investigações, não sendo
o caso de arquivamento e à luz dos elementos de prova disponíveis no
procedimento apuratório, já que é com base neles que o promotor de
justiça forma a sua opinio delicti.

Neste contexto, portanto, verifica-se que a Lei nº 13.964/2019 não


impôs ao Ministério Público, em momento algum, a obrigação de
ouvir novamente os investigados já interrogados em sede policial -
caso estes não tenham confessado ou quando optam pelo silêncio -

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para só a partir daí, com uma segunda oportunidade para confessar, o
órgão possa decidir acerca do oferecimento, ou não, do ANPP. As provas
colhidas no bojo dos procedimentos investigatórios policiais possuem
presunção de veracidade e de legalidade e servem justamente para
subsidiar a formação da “opinio delicti” por parte do Ministério Público,
conforme se extrai do art. 16, do CPP.

Desse modo, impende reconhecer ser desnecessária a notificação do


investigado que não confessou o delito na fase investigatória, para
submetê-lo a novo interrogatório ainda na fase extrajudicial e propor-lhe
o ANPP, exatamente porque a análise dos requisitos para a propositura
do ANPP – dentre eles a confissão - deve ser feita à luz dos elementos
que constam do Inquérito Policial ou do Procedimento Investigatório
Criminal. Se o réu nega a prática delitiva, ou silencia na fase inquisitorial,
evidentemente que não se faz presente, até aquele momento, requisito
essencial à celebração do potencial negócio jurídico, não havendo que se
exigir do Ministério Público prévia notificação e oitiva extrajudicial
daquele investigado, como condição para a propositura da Denúncia.

Entender de forma diversa, significa criar uma condição de


procedibilidade não prevista em lei, atribuindo ao promotor de justiça
a função anômala de fomentador de confissão extrajudicial de
investigados, circunstância que não se amolda ao Estado Democrático de
Direito vigente no Brasil.

Por outro lado, uma vez denunciado e citado para responder à ação
penal, caso o denunciado manifeste interesse em celebrar ANPP, sanando
a ausência de confissão verificada na fase inquisitorial – e essa iniciativa
deve partir dele - nada obsta, e tudo recomenda, que seja oportunizada
a ele a possibilidade de celebrar o acordo. Esta providência salvaguarda
os direitos fundamentais do investigado, elidindo qualquer prejuízo que
pudesse lhe advir pela ausência de notificação extrajudicial para suprir a
confissão, ao mesmo tempo em que privilegia a consensualidade e a

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busca de uma maior efetividade na persecução penal, que motivaram a
inserção do ANPP no ordenamento jurídico.”

A toda evidência que a questão afeta à eventual confissão do acusado,


exigida ao enlace jurídico, demanda devida acuidade sobre as circunstâncias especiais de
cada um dos contextos fáticos que as subjazem e envolve, inclusive, a própria
independência funcional de seus membros; daí decorrendo a conclusão inafastável de que
a sua regulamentação, por ora, não só poderá ensejar prejudiciais questionamentos judiciais
como também retardar a atual fase de aprimoramento do instituto.

Dessa forma, face às razões expostas, sugere-se a supressão parcial da


redação proposta para o Artigo 18-A nos termos referidos, resguardando-se a possibilidade
de que o tema da não confissão extrajudicial e seus efeitos para fins de ANPP possa ser
regulamentado no âmbito de cada unidade e ramo do Ministério Público brasileiro,
até mesmo porque tal providência leva a efeito a vivência prática dos promotores, cuja
experimentação ainda está sendo avaliada conjuntamente pelos Coordenadores Criminais
de todo o país e, certamente, resultará na maturação necessária ao seu aprimoramento.

5. Parágrafo primeiro do art. 18-A:

Texto Proposto

Art. 18-A. Sendo cabível o acordo de não persecução penal,


independentemente da existência de confissão anterior no curso do
procedimento investigatório prestada perante a autoridade policial, o
investigado será notificado para comparecer em local determinado, dia e
horário determinados, devendo constar expressamente da notificação que
o ato pressupõe a confissão formal e circunstanciada da prática da
infração penal, bem como a necessidade de o investigado se fazer
acompanhar por advogado ou defensor público.

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§ 1º. Os atos dispostos no caput poderão, justificadamente, serem
realizados por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de
transmissão de sons e imagens em tempo real.

Sugestão de Alteração

§ 1º. Os atos dispostos no caput poderão, justificadamente, serem ser


realizados por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de
transmissão de sons e imagens em tempo real.

Justificativa

Considerando que o uso da tecnologia para a prática dos atos judiciais é


uma realidade alçada pelo Código de Processo Civil2, desde o ano de 2015, exigir-se
fundamentação expressa para a sua escolha revela retrocesso que não só atrasa a marcha
procedimental como cria embaraços desnecessários que poderão ser utilizados para
eventuais arguições de nulidades.

6. Art. 18-B:

Necessidade de inserção de data de nascimento e do número de Cadastro de Pessoa


Física como dados essenciais no termo de celebração do ANPP – Art. 18-B.

2
Nesse sentido, confira-se o dispositivo do CPC, a saber:

Art. 236. Os atos processuais serão cumpridos por ordem judicial. (...)

§ 3º Admite-se a prática de atos processuais por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de
transmissão de sons e imagens em tempo real.

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Considerando que a data de nascimento e o número do CPF são
documentos essenciais para a perfeita identificação do beneficiário do ANPP e que a
expedição de Certidões de Antecedentes Criminais (CACs) não prescinde de informações
sobre esses dados, entendemos ser essencial a preocupação ministerial com tais elementos.

Vale ressaltar que a celebração do ANPP (nos termos do art. 28-A, § 12,
do CPP) constará dos antecedentes criminais para fins de se impedir a concessão do
benefício fora das hipóteses legais. Por isso, a ausência dos das informações sobreditas
pode comprometer a segurança e a idoneidade do uso do instrumento do ANPP, gerando
descrédito para o sistema de Justiça. Veja-se que o texto do art. 18,-L, § 3º, III da Proposta
de Resolução, inclusive, faz expressa menção ao CPF. Por isso, sugere-se a seguinte
redação para o art. 18-B, I, da proposta de revisão da Resolução 181/2017:

• I - qualificação completa do investigado, principalmente quanto ao


endereço, número de telefone e e-mail, data de nascimento e número de
inscrição no cadastro de pessoas físicas da Receita Federal do Brasil;

7. Arts. 18-C e 18-F:

Art. 18-C. A remessa do acordo de não persecução penal para


cumprimento no juízo de execução penal dá-se por meio da expedição de
carta de guia pelo juízo criminal.

Art. 18-F. Sem prejuízo da fiscalização do juízo de execução penal


competente, cabe ao Ministério Público manter, para fins de controle,
cadastro com as medidas pactuadas e os prazos de cumprimento, o que
se dará no próprio sistema informatizado vinculado ao processo judicial
correspondente.

Sugestão de Alteração

16
Art. 18-C. A remessa do acordo de não persecução penal para
cumprimento no juízo de execução penal dá-se por meio da expedição de
carta de guia pelo juízo criminal. Homologado o acordo, pelo juiz
competente, o membro celebrante extrairá dos autos os arquivos
necessários e iniciará a sua execução e fiscalização ou encaminhará as
aludidas peças ao órgão de execução com a respectiva atribuição.

Art. 18-F. Sem prejuízo da fiscalização do juízo de execução penal


competente, cabe ao Ministério Público manter, para fins de controle,
cadastro com as medidas pactuadas e os prazos de cumprimento, o que
se dará no próprio sistema informatizado vinculado ao processo judicial
correspondente.

Justificativa:

Considerando que a competência para a execução do ANPP está sendo


questionada no Supremo Excelso, sugere-se que, por precaução, a terminologia seja aberta
e genérica. Até mesmo porque a regra não se destina ao MP e sim ao Poder Judiciário.

8. Art. 18-E:

Art. 18-E. Desde que assegurada a ampla defesa e a capacidade do


investigado de negociar ativamente, o acordo de não persecução poderá
ser proposto na audiência de custódia, caso em que o ato deverá ser
formalizado em termo próprio, apartado da ata da audiência.

Sugestão: Supressão de texto.

Justificativa:

17
Esclareça-se, por oportuno, que a sugestão de supressão de texto encontra
arrimo nas diversas particularidades locais que foram amealhadas, pelos Coordenadores
Criminais dos Ministérios Públicos Estaduais, durante os longos debates sobre a temática,
cujo consenso levou à conclusão da prematuridade de sua regulamentação, por ora. E isso
porque a viabilidade da propositura do ANPP, por ocasião da realização da audiência de
custódia, ainda carece de maior aprofundamento e experimentação, a fim de que seja
firmado entendimentos sobre (i) a eventual usurpação da atribuição do promotor natural ou
possibilidade de seu aviamento por meio de promotores designados previamente pelo
Procurador-Geral, ou, ainda, se há possibilidade de criação de promotorias especializadas
para tal fim; bem como (ii) de fixação de limitação sobre o momento em que o acordo
porventura seria homologado, se pelo magistrado do respectivo processo de conhecimento
ou pelo que preside a respectiva audiência de custódia.

Desta feita, considerando que o tema ainda se encontra incipiente e


sujeito às mais diversas experimentações, concluiu-se pela sugestão de supressão até que
se proceda às providências necessárias ao fortalecimento majoritário de posicionamento,
até então bastante divergentes na classe.

9. Art. 18 -H:

ANPP NÃO PROPOSTO E FUNDAMENTAÇÃO NA COTA

Outra proposta de alteração a ser apresentada, que surge como decorrência


lógica dos argumentos expostos no item 4, é a necessidade de previsão expressa da
possibilidade de o promotor de justiça justificar a não propositura do ANPP na cota que
acompanha a Denúncia, diferindo para a fase da apresentação da defesa preliminar eventual
impugnação por parte do investigado, nos termos do art. 28-A, § 14, do CPP.

Isto porque, se não tem o promotor de justiça obrigação de notificar


extrajudicialmente o investigado antes do oferecimento de Denúncia, nos casos de não
propositura do ANPP – consoante pacífico entendimento do STJ, como se viu – evidencia-
se que pode ele fundamentar a não propositura do acordo na própria cota que acompanha

18
a Denúncia, da qual o investigado será cientificado quando da citação para responder à
ação penal, ocasião em que poderá se valer do recurso trazido pelo art. 28-A, § 14, do CPP.

Esta medida assegura eficiência e celeridade à persecução penal, não


trazendo, em contrapartida, qualquer prejuízo ao investigado, nem lhe suprimindo o direito
à impugnação prevista em lei.

É este, inclusive, o entendimento sedimentado, de forma unânime, pela


5ª Turma do STJ, no aresto já citado no item anterior (AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº
1948350 - RS (2021/0213666-6) Relator Ministro Jesuino Rissato (Desembargador
Convocado do TJDFT), julgado em 09/11/2021), cujos trechos que interessam à presente
discussão ora se transcreve:

“(...) III - Na legislação vigente atualmente que permanece em vigor


não existe a obrigatoriedade do Ministério Público notificar o
investigado em caso de recusa em se propor o acordo de não persecução
penal.

IV - Irretocável, portanto, o julgamento feito pelo eg. Tribunal a quo, no


sentido de que o Juízo de 1º grau deve decidir acerca do recebimento da
denúncia, sem que exija do Ministério Público a comprovação de que
intimou o acusado (ora agravante), até porque não existe condição de
procedibilidade não prevista em lei.

V - Caso seja recebida a denúncia, será o acusado citado, oportunidade


em que poderá, por ocasião da resposta a acusação, questionar o não
oferecimento de acordo de não persecução penal por parte de
Ministério Público e requerer ao Juiz que remeta os autos ao órgão
superior do Ministério Público, nos termos do art. 28, caput e 28-A, §
14, ambos do CPP. Precedentes.” - GRIFOS E NEGRITOS NOSSOS.

Dessa forma, já tendo havido manifestação expressa e colegiada do


Egrégio Superior Tribunal de Justiça acerca do tema em apreciação, nada mais natural que
a proposta de resolução em referência acompanhe tal precedente.

19
Sendo assim, sugere-se a alteração do art. 18-H objeto da proposta de
resolução, para que contemple expressamente: 1) a possibilidade do promotor de justiça
justificar a não propositura do ANPP na cota que acompanha a Denúncia, caso opte por
não notificar extrajudicialmente o investigado sobre a não propositura (faculdade que deve
caber ao órgão de execução), e; b) o direito do investigado de aviar a impugnação de que
trata o art. 28-A do CPP, § 14, do CPP, no prazo legal previsto para apresentação de sua
defesa preliminar na ação penal proposta.

Sugestão de Alteração

Art. 18-H. Não sendo o caso de proposição do acordo de não persecução


penal, a recusa, que sempre será fundamentada, deverá constar nos
autos do procedimento investigatório ou em cota que acompanhará a
Denúncia.

§ 1º. Em caso de recusa em propor o acordo de não persecução penal é


cabível o pedido de remessa dos autos ao órgão superior previsto no §
14 do art. 28-A do Código de Processo Penal, no prazo da resposta
prevista no art. 396-A do Código de Processo Penal, contados a partir
da citação, no caso de ação penal proposta.

§ 2º. O pedido previsto no parágrafo anterior, caso formulado antes da


propositura da ação penal, não impede o oferecimento de denúncia pelo
membro do Ministério Público.

§ 3º. Apresentado o pedido acima junto ao órgão que recusou o acordo,


caso a ação penal ainda não tenha sido proposta, o membro do
Ministério Público deverá remetê-lo, caso não haja reconsideração, no
prazo de 03 dias, juntamente com cópia das principais peças da fase pré-
processual e decisão impugnada, ao órgão superior para apreciação.

20
§ 4º. O denunciado poderá pleitear diretamente ao órgão superior a
revisão da decisão que recusou o oferecimento do acordo de não
persecução penal, obedecido o prazo mencionado no § 1º deste artigo.

§ 5º. Caso a ação penal já tenha sido proposta, o pedido de revisão


calcado no § 14 do art. 28-A do Código de Processo Penal deverá ser
apresentado em juízo, no prazo estabelecido no § 1º, cabendo ao
Judiciário a remessa das peças pertinentes à sua apreciação ao órgão
de revisão do Ministério Público.

10. Parágrafos primeiro, segundo e terceiro do art. 18-L:

Texto Proposto

Art. 18-L. Os órgãos de coordenação e revisão do Ministério Público


editarão diretrizes, orientações, enunciados, súmulas e recomendações
indicativas para a dosimetria das medidas fixadas na celebração do
acordo, bem como casos para os quais o acordo não se revele medida
suficiente e necessária para a reprovação ou prevenção do crime.

§ 1º. Para fins de balizamento das normas previstas no parágrafo anterior,


a celebração dos acordos de não persecução penal será eletronicamente
comunicada aos órgãos de revisão, que poderão prever casos em que
referidas informações devam ser qualificadas em razão de relevância
institucional.

§ 2º. A regulamentação sobre o disposto no parágrafo anterior deve


compreender, no mínimo, a exigência de ciência formal do conteúdo
integral do acordo de não persecução penal ao órgão de revisão em prazo
não superior a três dias da sua celebração.

§ 3º. Recebida a comunicação acima, caberá ao órgão de revisão dar


publicidade ao extrato do acordo de não de persecução penal em Diário
Oficial, próprio ou não, no site da instituição, ou por qualquer outro meio

21
eficiente e acessível, conforme as peculiaridades de cada ramo do
Ministério Público, no prazo máximo de quinze dias, a qual deverá
conter:

Sugestão de Alteração - supressão

Art. 18-L. Os órgãos de coordenação e revisão do Ministério Público


poderão editar editarão diretrizes, orientações, enunciados, súmulas e
recomendações indicativas para a dosimetria das medidas fixadas na
celebração do acordo, bem como casos para os quais o acordo não se
revele medida suficiente e necessária para a reprovação ou prevenção do
crime.

§ 1º. Para fins de balizamento das normas previstas no parágrafo anterior,


a celebração dos acordos de não persecução penal será eletronicamente
comunicada aos órgãos de revisão, que poderão prever casos em que
referidas informações devam ser qualificadas em razão de relevância
institucional.

§ 2º. A regulamentação sobre o disposto no parágrafo anterior deve


compreender, no mínimo, a exigência de ciência formal do conteúdo
integral do acordo de não persecução penal ao órgão de revisão em prazo
não superior a três dias da sua celebração.

§ 3º. Recebida a comunicação acima, caberá ao órgão de revisão dar


publicidade ao extrato do acordo de não de persecução penal em Diário
Oficial, próprio ou não, no site da instituição, ou por qualquer outro meio
eficiente e acessível, conforme as peculiaridades de cada ramo do
Ministério Público, no prazo máximo de quinze dias, a qual deverá
conter:

Justificativa:

22
No que tange à obrigação imposta aos órgãos de revisão, sugere-se que
seja substituída por faculdade, haja vista que cada Ministério Público poderá implementar
a forma e modo pelos quais a providência seja melhor acolhida em seu âmbito interno.

Por outro lado, considerando que a atuação dos órgãos de revisão


depende de provocação da parte interessada, não há justificativa normativa para que seja
inserida a obrigação ao membro oficiante, de comunicação de todos os acordos firmados,
ainda mais em tempo tão exíguo – daí decorrendo a conclusão que tal obrigação importa
em sobrecarga desnecessária que avilta à economicidade procedimental.

11. Arts. 19-A e 19-B3:

Outra normatização trazida pelo provimento que merece ser melhor


ponderada e avaliada é aquela trazida pelos arts. 19-A, caput, e 19-B, em especial no que
toca à necessidade/obrigatoriedade de comunicação ao Poder Judiciário acerca dos
arquivamentos de Inquéritos Policiais, dentro da nova sistemática trazida pelo art. 28 do
CPP (atualmente com eficácia suspensa, por força de decisão liminar do Supremo Tribunal
Federal na ADI 6305/DF).

Com efeito, assim dispõem os artigos 19-A e 19-B, objeto da proposta,


no que interessa ao presente tópico:

Art. 19-A. A promoção de arquivamento será comunicada, por meio


eletrônico, às vítimas ou a seus representantes legais para fins do artigo
28, § 1° do Código de Processo Penal, bem como aos investigados e, para
fins de registro, à autoridade policial e ao órgão jurisdicional
competente.

3
Registre-se, por oportuno, que o tema em apreço apresentou considerável divergência no Grupo, contudo,
deliberou-se pela conservação das sugestões ora apresentadas.

23
§ 1°. Estando o investigado preso, a comunicação ao órgão jurisdicional
deverá ser feita no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, sem prejuízo do
requerimento pela revogação da prisão.

(...)

Art. 19-B. Homologado o arquivamento, após os registros devidos, os


autos serão

mantidos no Ministério Público, observado o § 3º do art. 19 desta


Resolução, devendo a autoridade jurisdicional competente ser
comunicada da decisão. – GRIFOS E NEGRITOS NOSSOS.

Não obstante, esta obrigatoriedade de comunicação ao Poder Judiciário


acerca dos arquivamentos de Inquéritos Policiais promovidos não encontra paralelo no art.
28 do Código de Processo Penal, com a redação que lhe conferiu a Lei 13.964/2019, como
se verifica, in verbis:

Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer


elementos informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério
Público comunicará à vítima, ao investigado e à autoridade policial e
encaminhará os autos para a instância de revisão ministerial para fins de
homologação, na forma da lei.

E assim o é, certamente, em razão da total e completa ausência de


ingerência do Poder Judiciário no tocante aos arquivamentos realizados pelo Parquet,
dentro da nova sistemática trazida pela Lei 13.964/2019, em que o controle sobre tais
decisões, (seja para homologá-las, seja para revê-las) passa a se dar dentro da própria
instituição ministerial.

Nesta senda, de nenhuma utilidade se afigura, data máxima vênia, essa


obrigatoriedade de comunicação indistinta de todas as promoções de arquivamento de
inquéritos ao Poder Judiciário, já que a ele não cabe qualquer providência jurídica no
tocante ao ato.

24
Afigura-se, assim, tal previsão, desprovida de sentido prático ou de
relevância jurídica, razão pela qual sugere-se que seja seguido estritamente o texto legal do
art. 28 do CPP, mantendo-se a obrigatoriedade de comunicação dos arquivamentos de IPs
em geral apenas à vítima, ao investigado e à autoridade policial.

D´outra banda, pode-se ponderar razoavelmente a necessidade de


comunicação ao Poder Judiciário, nos casos de inquéritos arquivados em que haja alguma
medida judicial adotada anteriormente com relação ao fato em apuração - como, por
exemplo, prisões em flagrante, pedidos de preventiva ou de outras medidas cautelares ou
assecuratórias, etc. – já que, nesses casos, a promoção de arquivamento repercutirá no
andamento destes processos já judicializados, tornando imprescindível que o Juízo
competente tome conhecimento do arquivamento do procedimento investigatório.

Sendo assim, de modo a seguir a simetria com o disposto no art. 28 do


CPP, e contemplar as situações acima referidas, sugere-se que seja adotada a seguinte
redação para os arts. 19-A e 19-E da proposta de resolução:

Art. 19-A. A promoção de arquivamento será comunicada, por meio


eletrônico, às vítimas ou a seus representantes legais para fins do artigo
28, § 1° do Código de Processo Penal, bem como aos investigados, à
autoridade policial e, caso haja algum processo judicial em tramitação
relacionado ao fato em apuração, ao órgão jurisdicional competente.

§ 1°. Estando o investigado preso, a comunicação ao órgão jurisdicional


deverá ser feita no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, sem prejuízo do
requerimento pela revogação da prisão.

(...)

Art. 19-B. Homologado o arquivamento, após os registros devidos, os


autos serão mantidos no Ministério Público, observado o § 3º do art. 19
desta Resolução, devendo, caso haja algum processo judicial em
tramitação relacionado ao fato em apuração, a autoridade jurisdicional
competente ser comunicada da decisão.

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3. Conclusão.

Diante do exposto, estas são as sugestões do CNPG para alteração das


proposições que visam à reforma da Resolução n.º 181/CNMP, com fim de adequar a
normativa aos termos da Lei n.º 13.964/2019.

Brasília, 4 de abril de 2022.


Assinado de forma digital
IVANA LUCIA por IVANA LUCIA FRANCO
FRANCO CEI:22320024204
Dados: 2022.04.04
CEI:22320024204 12:59:43 -03'00'
IVANA LÚCIA FRANCO CEI
Presidente do CNPG

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