Livro Coelho
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Coelhos do Jatobá
História e genealogia
Existem algumas versões para a origem do sobrenome Coelho, a primeira é que foi
incorporado ao pré-nome para identificar as famílias que dominavam as terras com o mesmo nome.
A segunda versão é que o sobrenome foi inserido após um ato heróico e honrado de um cavaleiro,
Egas Moniz, durante a independência de Portugal.
De acordo com pesquisas sobre a genealogia das famílias Portuguesas, os Coelhos são
descendentes de D. Soeiro Viegas Coelho (nascido em 1.160), casado com Da. Mor Mendes, filha de
D. Mendes Moniz de Gandarei, o qual foi o primeiro a receber este apelido quando tomou posse da
terra de Coneja (coelha - na língua espanhola), embora alguns autores defendam que veio já do seu
avô materno João Vasques Coelho que possuía uma propriedade de nome Coelho, sendo por isso
apelidado de o Senhor da Quinta do Coelho e os seus descendentes de “os coelhos”. Porém, existe
a possibilidade de que D. Soeiro Viegas ganhou o apelido de “coelho” durante uma guerra contra os
mouros, povos de origem da região da Mauritânia- África, no qual ele conseguia penetrar na cidade
sob as muralhas ou trincheiras da cidade sitiada numa forma silenciosa e sem ser notado que
chegavam a enaltecê-lo para o rei dizendo que o mesmo parecia fazer canais por baixo do chão
como um coelho. O ano era 1147, a cidade era Santarém (hoje cidade de Portugal, capital do distrito
de Santarém), foi um golpe audacioso do rei de Portugal D. Afonso Henriques, perpetrado durante a
noite e com um escasso exército, tomou, em 8 de maio daquele ano, a vila que estava sendo
dominada pelos mouros desde 1110.
1
Costa, Nelson Nery. O Começo do Piaui – os primórdios e a segunda metade do século XVII. Teresina – Instituto Civitas.
2006.
2
Dória, Francisco Antonio. Os herdeiros do Poder. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Revan, 1994, p.52.
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D. Egas Moniz foi sepultado em 1146 na igreja do Corporal em Paço de Sousa, em mausoléu
com legenda e pedras adornadas de relevos referentes à ida à Corte de Leão.
3
______________________ ______________________
Ascendentes da família Coelho nas páginas do Dicionário das Famílias Portuguesas de D. Luiz de Lancastre e
Távora. Quetzal Editores, 2ª Edição Lisboa. Observe a referência a D. Egas Moniz.
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De acordo com relatos de estudos sobre a origem da familia Coelho de Egydio Coelho da
Silva3, os Coelhos possuem ascendencia régia, e o que comprova isso é a legenda escrito em latim
num dos tumulos que estão na capela do solar dos Coelhos em Sergude, distrito de Vila Real -
Portugal: "NÓS VENIMUS Á SANGUINE REGUM ET NOSTRO VENIUNT A SANGUINE REGES."
Portanto, os Coelhos têm sua ascendencia nos reis de Leão, Dom Ordonho e Dom Ramiro e uma
filha de Estevão Coelho foi Avó de D. Beatriz, esposa de D. Afonso conde de Barcelos. Concluindo,
os Coelhos descendem de reis e do seu sangue reis descendem.
O escudo das armas ou o brasão de nobresa dos Coelhos foi representado de varias formas
dependendo da linhagem da família.
Os primeiros anos após a descoberta do Brasil em 1500, a única riqueza que parecia existir
na nova terra era a presença da madeira, o pau-brasil (Caesalpinia crista). Foi a partir de uma
expedição dirigida por um coelho, Gonçalo Coelho, em 1503 que foi dado o nome ao novo
continente. Mas a nova terra chamou a atenção de outros povos, principalmente os franceses, que
começaram a explorar a madeira no litoral brasileiro. Para barrar a ocupação estrangeira, Portugal
envia a primeira expedição de caráter colonizadora em 1530 comandada por Martin Afonso de
Sousa, acompanhado de quinhentos homens, mudas de plantas e instrumentos agrícolas, além da
função de policiamento do litoral brasileiro. No entanto, avisado por Martin Afonso de Sousa sobre
uma possível ocupação dos franceses, Dom João III resolveu criar o sistema de capitanias
hereditário, já aplicado nas ilhas de Madeira, Açores e Cabo Verde. O sistema de capitanias
hereditárias não vingou, pois a maioria dos donatários não apareceu para tomar posse das terras,
apenas algumas prosperam como a da Bahia, Ceará e Maranhão (onde encontrava o litoral
piauiense naquela época).
Com o fracasso do sistema de capitanias hereditárias foi instalado no Brasil o Governo Geral.
A carta régia de 7 de janeiro de 1549 nomeou a cidade da Bahia como sede e Tomé de Sousa como
primeiro Governador Geral. Era um sistema administrativo igual ao aplicado nas metrópoles, sendo o
governador geral o representante do rei, auxiliado pelo Ouvidor (justiça), Provedor-Mor (economia e
finanças) e o Capitão-Mor (segurança).
Foi a partir da chegada do primeiro Governador-Geral do Brasil que a colônia iniciou seu
processo de colonização com a chegada de gente da elite, antes apenas alguns colonos,
degradados, funcionários da metrópole e policiais habitavam poucos pontos da costa. Entre os
nobres veio também Garcia D’ávila que viria a ser o tronco da mais aristocrática família brasileira. A
povoação do Brasil se deu a partir do século XVI partindo da Bahia, de Pernambuco, da capitania de
Duarte da Costa, e de São Vicente, a capitania de Pero Lopes de Sousa.
3
Egydio Coelho da Silva. Fórum da família Coelho. www.ajorb.com.br/egydio.htm.
5
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O português Garcia D’Ávila construiu um castelo, que depois ficou conhecido como “A Casa
da Torre”. Entre os anos 1632 e 1651 os fidalgos da Casa da Torre obtiveram varias dezenas de
léguas na margem direita do rio São Francisco entre o rio Salitre e Paulo Afonso onde
desenvolveram um verdadeiro domínio feudal, com uma grande criação de gado. O tataraneto de
Garcia D’Ávila, o coronel Francisco Dias D’Ávila, terceiro senhor da Casa da Torre, nascido em 1650,
foi o homem mais rico do Brasil naquela época.
Domingos Afonso Mafrense de apelido “Sertão” chegou ao Brasil antes de 1670 e começou a
trabalhar na Casa da Torre juntamente com seu irmão Julião Afonso, conhecido como “Serra”, por
experiências em entradas pelas serras nordestinas. A eles são atribuídos valores pela proeza de
adentrar em terras não antes exploradas e sendo responsáveis pela povoação do território brasileiro,
como, também, de responsáveis pelo extermínio
das tribos indígenas que existiam na região.
“...esse sertanista português instalou entre os rios Canindé, Piauí e Gurguéia um total
de 39 fazendas de gado, entre as quais uma com sede localizada no lugar Poções,
provavelmente a primeira a ser instalada nessa região denominada de Altos Piauí e
Canindé, situada próximo ao lugar Campos, onde se localiza atualmente a cidade de
Campinas do Piauí. Ainda podemos citar, entre outras, as fazendas Olho D’água,
Mucambo, Serrinha, Jenipapo, Buriti, cajazeiras, Tranqueira, Gameleira, Saco e a mais
importante que se chamava Cabrobró,...5”
4
As sesmarias era a doação de terra feita pela coroa, sob determinadas condições na tentativa de evitar o abandono dos
campos. A legislação culminava com a pena aos proprietários que não voltassem a produzir durante determinado tempo,
podendo-se perder por completo o domínio sobre suas terras, que passaria a quem as cultivassem (Costa, N. N. O Começo
do Piaui. Teresina – Instituto Civitas. 2006.p.182.
5
Moura, J.M de S. Simplicio Mendes – Histórias e Notáveis. edição do Autor, 2001.
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Domingos Afonso Mafrense faleceu em 12 de maio de 1711 e a pesar
de possuir dois filhos naturais, Agostinho e Vidal Afonso, doou em testamento
uma fabulosa fortuna para os jesuítas do Colégio dos Meninos de Jesus,
sediada em salvador na Bahia. Nelson Nery Costa, na obra o Começo do
Piauí, comenta sobre a possível razão de ele ter doado toda sua fortuna:
“talvez para expiar as culpas pelas andanças pelo sertão e pelas lutas contra
os índios e os posseiros, em que venceu pela força”.
Domingos Jorge Velho que desbravou as terras, além de Domingos Afonso Mafrense, foi proprietário
de uma fazenda de terra onde hoje é a cidade de Paulistana em 1663. Posteriormente, estas terras
foram compradas dos fidalgos da Casa da Torre pelo então patriarca dos Coelhos, Valério Coelho
Rodrigues, no ano de 1745.
6
Moura, J.M de S. Simplício Mendes – Histórias e Notáveis. Edição do Autor, 2001. p. 30.
7
Carvalho A. C. F. de. Família Coelho Rodrigues – passado e presente.
7
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Província de São Paulo, outros autores, no entanto, atribui a Valério Coelho Rodrigues em
homenagem à sua esposa, Domiciana Vieira de Carvalho, filha daquela grande região.
Seguindo, ainda, José Teles, no ano de 1750, Valério Coelho Rodrigues construiu na Fazenda
Paulista uma capela utilizando pedreiro e arquiteto da cidade de Salvador e entorno da qual se
formou o povoado. A capela teria custado a quantia de cinqüenta mil reis e que o pagamento foi feito
em gado vacum, sendo 50 novilhas no valor de mil contos de reis cada, preço da época. Nesta
capela trabalhou o Padre Aniceto Vieira de Carvalho, irmão de sua esposa Domiciana Vieira de
Carvalho. Hoje a capela é parte integrante da igreja matriz da cidade
de Paulistana, Igreja de Nossa Senhora dos Humildes e onde foram
sepultados Domiciana e Valério, ela falecida em 1781 e ele em 1783.
Valério Coelho (era conhecido como Valério “O Velho”) permaneceu
na fazenda até a sua morte.
Assim foi descrito a família de Valério Coelho Rodrigues com Domiciana Vieira de Carvalho
nos livros de Abimael Clementino Ferreira de Carvalho e José Teles:
3° - Valério Coelho Rodrigues Filho, c/c Antonia da Silva Vieira em 1769, filha de Luis Mendes
Vieira e de Clara da Silva Caboclo. Situaram em Petrolina-Pe.
7° - Manuel Coelho Rodrigues c/c Maria Aldonça Micaela Freire da Andrade, natural da Bahia-
Paulista, hoje Paulistana - Pi.
8° - Inácio Rodrigues Coelho, c/c ..... – Situou-se no Brejo-Paulista, hoje Paulistana - Pi.
9° - Águida Rodrigues de Santana, c/c o português Dionísio da Costa Veloso. Situou-se Boa
Vista-Jaicós-Pi.
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10° - Teresa Rodrigues de Santana em 1776 c/c Alferes João Barbosa de Carvalho, filho do
português Sargento-mor João Barbosa de Carvalho e de Maria da Silva Texeira. Serra –
Jaicós-Pi.
11° - Josefa Rodrigues de Santana, c/c Alferes Martinho Lopes dos Reis. Mamonas-Jaicós-Pi.
12° - Gertrudes Rodrigues de Santana, c/c o português João José Ferreira de Carvalho,
vereador do Senado da câmara de Oeiras e, nesta Qualidade, durante a série de governos
interinos da capitania- de 01 de janeiro de 1775 a 12 de dezembro de 1797 – fez parte das
juntas correspondentes aos anos de 1777 e 1780. Tronco da família Ferreira de Carvalho no
Piauí. Situou-se Ipueira - Simplício Mendes-Pi.
15º - José Teobaldo Rodrigues Coelho. Ele foi Jesuíta Leigo, não recebeu ordem sacra,
apenas serviçal em conventos.
As terras adquiridas dos fidalgos da Casa da Torre em 1745 possuíam uma extensão que iria
desde a localidade fazenda Cruz do Valério (Petrolina) até parte do município de Jaicós. A partir das
terras pertencentes a Domingos Jorge Velho, Valério Coelho situou sua fazenda e seus
descendentes se espalharam pelo sudeste piauiense, em regiões onde antes pertenciam ao grande
Mafrense Sertão. Em 1783 o capitão chegou a possuir 15 fazendas: Paulista (Paulistana), Itainzinho
(Jaicós), Ingá (Paulistana), Curimatá (Paulistana), Serra do Alferes José Barbosa, Boa Vista (Piauí),
Boa Esperança (Padre Marcos/Jaicós), Carnaíbas (Paulistana), Serra Branca, Serra Nova Ribeira do
rio Piauí (São João do Piauí), Caboclo (Afrânio), São João Velho (Dormente – Petrolina) e Cruz do
Valério (Petrolina). Todas estas fazendas foram distribuídas entre os filhos, chegando a netos e
bisnetos.
A busca de novas pastagens levou os fazendeiros de gado para o interior da atual região
Nordestina, e o sul e sudeste do Piauí foi uma destas regiões exploradas, caso visto com a criação
de muitas fazendas de gado por Mafrense Sertão. A busca por melhores pastos para o gado, regiões
adequadas para implantação das fazendas foi uma das causas do desbravamento do Piauí. Sabe-se
que a implantação de povoados e vilas esta ligado a uma atração, seja pela presença de água, como
nascentes, rios, terras férteis, feiras etc. Não foi diferente com a região
que ficou conhecida por muito tempo como Jatobá dos Coelhos, hoje
cidade de Bela Vista do Piauí.
Assim descreve Abimael Clementino Ferreira de Carvalho, no livro Família Coelho Rodrigues
– passado e presente, sobre Joaquim Ferreira de Santana:
Joaquim Ferreira de Santana foi membro das juntas de governo da capitania em 1780
e 1813 e fez parte do primeiro Conselho de Governo da Província do Piauí, criado por
decreto de 20 de outubro de 1823, e que funcionou de 16 de agosto de 1825 até o dia
de 13 de fevereiro de 1829. Casou-se em primeiras núpcias com Teresa de Jesus
Maria e em segundas com Isabel Robertina Ramos, ambas filhas do Ouvidor-Geral
Domingos Gomes Caminha e de Maria das Neves Gomes Caminha, e irmãs do
Capitão-mor João Gomes Caminha.
Joaquim Santana resolveu tomar posse da nova área descoberta, prática comum naquela
época quando era possível obter escrituras de terras ainda não exploradas, concebidas pela coroa,
mas responsabilizando em trabalhar a terra e criar gado. As chamadas sesmarias, terras doadas
pela coroa sob condições especiais e com o objetivo de colocá-las em regime de produção agrícola.
Os sesmeiros eram obrigados a pagar dízimo sobre sua produção a Ordem de Cristo, ordem
religiosa e militar, criada em 1319 e extinta em 1834. No ano de 1830, Joaquim construiu uma casa,
que ficou conhecida posteriormente como a “Casa Grande” onde existia próximo a um olho-d’água
(área conhecida como Jatobá). implantou roçados, contratou vaqueiro e comprou e criou gado bovino
e miuças, denominação dada pelos sertanejos ao gado caprino e ovino9. A fazenda chegou a possuir
200 cabeças de gado e 2 chiqueiros com grande quantidade de miuças, nas mãos de Joaquim. Pelo
fato de ter situado a casa próximo a alguns jatobazeiros (Hymenaea courbaril), a localidade ficou
conhecido como fazenda Jatobá e os descendentes de Valério Coelho que nasceram e geraram as
familias daquele lugar ficaram conhecidos como os “Coelhos do Jatobá”.
Infelizmente a Casa Grande construída por Joaquim Ferreira de Santana não existe mais, foi
desmanchada em 1957, a descrição da casa que faremos aqui são relatos de pessoas idosas que a
conheceu ou que seus ascendentes diretos moravam lá:
9
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 2001.
______________________ ______________________
A casa grande tinha construída utilizando a aroeira (Myracrodruon urundeuva) como forquilha,
paredes preenchidas com pedras e barro, amarrados com cipó e coberta de telha (bem maiores que
as produzidas hoje). As linhas, sendo as menores mediam de 20 por 30cm de largura e cinco metros
no comprimento. Os caibros eram troncos de carnaúba (Copernicia prunifera) medindo cinco metros
de comprimentos. As ripas eram da casca da carnaúba, medindo 6 cm de largura. As linhas e caibros
vieram do povoado Salinas, hoje município de campinas do Piauí (região rico em carnaúbas naquela
época). Foram transportados através de bois auxiliado por escravos, uma viagem de
aproximadamente 35 km, dilatada pelas dificuldades e obstáculos do caminho naquela época. Na
frente da casa havia um alpendre todo de madeira trabalhada, ainda existia na mesma uma
arcabouço que chamavam de “tronco”, formado por duas armações de madeira com dois metros e
meio de altura e vinte centímetros de largura onde escravos eram amarrados quando os mesmos
desobedeciam ao senhor.
Rascunho a mão da Casa Grande através da descrição de pessoas que a conheceu antes de sua demolição no ano de 1957. Fonte:
Projeto Resgate dos Valores Histórico-culturais da Sociedade Belavistense. ‘
A casa possuía 14 cômodos: um alpendre na frente e outro nos fundos, quatro quartos, um
corredor, um salão que servia como sala de aula, uma varanda, uma casinha de dentro (quartos que
não saía na sala), uma camarinha, utilizada para guardar os requeijões produzidos, uma “casinha do
meio”, uma sala e uma cozinha. Na cozinha existiam as trempes (aro de ferro com três pés usado
para apoiar panelas sobre o fogo), onde cada família possuía a sua.
O piso da casa era feito de Lages de pedra e ladrilhos de argila. A iluminação era à base de
candeeiro de barro, onde se utilizavam azeite ou querosene. Nesta casa chegavam a morar várias
famílias.
Poucos anos depois a implantação da fazenda Jatobá, veio ao falecimento Joaquim Ferreira
de Santana, ficando assim como herdeiro seu filho João Ferreira de Carvalho.
Assim descreve Abimael Clementino Ferreira de Carvalho, no livro Família Coelho Rodrigues
– passado e presente, sobre João Ferreira de Carvalho:
“O Major João Ferreira de Carvalho era casado com Maria Josefa do Nascimento, filha
de Manuel Francisco do Nascimento e de Antonia Maria de Jesus de Araújo Costa,
sendo Manuel filho de Manuel Francisco Ramos e de Ana Rodrigues de Santana, filha
do Ouvidor-mor Marcos Francisco de Araújo Costa e de Maria Rodrigues de Santana,
esta filha de Valério Coelho Rodrigues e de Domiciana Vieira de Carvalho”.
De posse das terras herdadas do pai, o Major João Ferreira, decidiu vendê-las, porém não
encontrando compradores na região, terminou vendendo-as para um primo residente na fazenda
Juazeiro Paulista, antes pertencente a cidade de Jaicós, hoje Paulistana, de nome José Marques de
Sousa Coelho. José Marques era filho de Inácio Rodrigues Coelho, morava na localidade Brejo, e
neto de Valério Coelho Rodrigues. José Marques de Sousa foi casado com sua prima Maria Coelho
Rodrigues, filha de seu tio paterno Estevão Coelho Rodrigues e de Josefa Coelho.
11
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José Marques de Sousa Coelho comprou a fazenda em 08 de Agosto de 1841 por uma
quantia de 5.000$000 (cinco contos de reis), sendo que 2.500$000 (dois contos e quinhentos mil
reis) em moeda e a outra metade em gado bovino e “miúças” (cabras e ovelhas) 10.
Com a compra da fazenda Jatobá, José Marques veio residir no Jatobá com seu genro
Tomás Rodrigues de Sousa casado com sua filha Angelina Mendes de Jesus. O filho Joaquim
Marques de Sousa, conhecido como “Quinquim” morou nas Carnaíbas (aproximadamente 4 km da
casa grande) onde havia uma nascente de água, outro filho Raimundo Marques de Sousa, o
“Mundinho”, residiu na Lealdade, hoje povoado do município de São Francisco de Assis. Um filho de
José Marques, Prudente José de Sousa, morou na Malhada (0,5 km da casa grande) onde hoje é a
sede do município de Bela Vista do Piauí. O Tomás de Sousa tinha cargo de Tenente na capital
Oeiras e seu filho Prudente tinha o cargo de Capitão com serviços prestados na mesma capital.
Todos se tornaram fazendeiros, agricultores, donos de rebanhos de gado e escravos. Outras regiões
foram sendo exploradas e descendentes foram se situando, assim foi com as localidades Carnaíba,
Roça Velha, Gameleira, Pitombeira, Cana Brava, Patos e outros existentes até hoje. O Malaquias
Rodrigues Coelho, irmão de José Marques situou-se na localidade Queimada Nova, antes
Paulistana, hoje cidade Queimada Nova. Da família do Malaquias vieram várias famílias que
povoaram as localidades de Umburana e Sitio. Manoel Francisco de Sousa Coelho, irmão de José
Marques situou-se na localidade São Francisco, hoje cidade de São Francisco. Marina Coelho, irmã
de José Marques situou-se na localidade Pé do Morro, próximo a cidade de São Francisco. Os filhos
destes pioneiros da região, os descendentes de escravos, e outras famílias de aventureiros, vindos
principalmente na época da descoberta dos maniçobais, deram origem às famílias que vivem hoje no
município de Bela Vista do Piauí, antes Jatobá dos Coelhos.
A região da fazenda Jatobá pertencia ao município de São João do Piauí 11, em 1905 quando
Simplício Mendes desmembrou de Oeiras e São João do Piauí, a fazenda Jatobá foi transferida para
o novo município. A extração da maniçoba e a pecuária foi o forte da economia local na época,
sendo de grande importância para o desenvolvimento da
região.
10
Dados referentes ao inventário da compra das terras em descrições do mesmo documento feitas por Florêncio Rodrigues
Barbosa (não publicado).
11
Após a formação das fazendas nacionais foram divididas, para melhor administrar os enormes latifúndios, em três
setores: Inspeção de Nossa Senhora de Nazaré e São Gonçalo, Inspeção de São João do Piauí e Inspeção de Santo Inácio do
Canindé. Moura, J.M de S. Simplício Mendes – Histórias e Notáveis. Edição do Autor, 2001. p. 31.
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Com a descoberta dos grandes maniçobais na região, atraiu muitos forasteiros em busca da
obtenção de fortunas como maniçobeiros. A partir de então surgiram as feiras da maniçoba, onde
uma das mais importantes foi a localizada no povoado Barreiro Branco, hoje cidade de Simplício
Mendes. Assim descreve José Moura soube a importância da feira para a formação do povo da
região.
“ O povoado se formava à medida do sucesso alcançado pela feira e a partir da chegada dos
imigrantes que vinham adquirir propriedades destinadas ao cultivo e à pecuária. Assim, famílias
como os Ferreiras de Carvalho, os Ferreira Gomes, os Mendes de Carvalho, os Moura Fé, os
Rodrigues Coelho, os Santanas e outros, quase todas com ascendência portuguesa e
descendentes do rico fazendeiro Valério Coelho Rodrigues, se estabeleceram na região...”
Em 1946 foi eleito o primeiro vereador representando o Jatobá na Câmara municipal de Simplício
Mendes, o José Raimundo dos Reis (Zezé Coelho) e em seguida foram eleitos: José Rodrigues
dos Reis (Zé Rozendo), Florêncio Rodrigues Barbosa, Aberico Raimundo dos Reis, Olegário
Aureliano de Sousa, José Florêncio Neto ( Zé de Benta), Virgilio Valentim Marques, Luiz Horácio
de Sousa, José Pedro dos Reis (Dosé) e João Alfredo dos Reis, sendo este ultimo juntamente com
o deputado Zeca de Doutor, os idealizadores do projeto de criação do novo município.
Os primeiros prédios públicos construídos no Jatobá foram: o prédio escolar na localidade
Umburana em 1946, sendo os primeiros professores: Teresa Florisbela de Sousa, José Aureliano de
Sousa, Maria de Lourdes de Sousa Costa Coelho e o prédio escolar na localidade Patos em 1951,
sendo os primeiros professores: Lindaura Lopes e Francisco Odilon de Sousa.
A localidade Malhada situada pelo capitão Prudente teve um crescimento demográfico mais
rápido, havendo nas décadas de 50 e 60 muitas pessoas morando ali, entre os quais dois
comerciantes o Sr. Francisco Prudente de Assis e Valentim Marques Barbosa, para manutenção de
seus comércios transportavam as mercadorias em comboios de animais. Vendo essas dificuldades
os administradores do município construíram a primeira estrada carroçal de Simplício Mendes a
Jatobá, mesmo assim continuaram as dificuldades pois a estrada passava por lugares com muita
areia e ladeira. Apesar das dificuldades crescia a freqüência do pessoal na comunidade e não
havendo espaço apropriado para as celebrações das missas, celebravam na casa de Francisco
Prudente de Assis ou de Valentim Marques Barbosa. Com o aumento da população essas casas
eram insuficientes para acomodar os fieis e Francisco Prudente de Assis (Chicô) doou o terreno para
a construção da Igreja que no ano de 1968, o povo tomou a iniciativa e com muita força de vontade
deu-se inicio a construção dos alicerces.Veio logo depois períodos de crise devido a seca e
paralisaram a obra que veio a ser reiniciada graças ao dinâmico Padre Geraldo Gereon que chegou
aqui e construiu a Igreja no ano de 1970, sendo o mestre de obra o Sr. Rumão de Sousa Costa; a
referida Igreja foi inaugurada com a celebração da primeira missa no dia 23 de Maio de 1971, pelo
mesmo padre que construiu o inesquecível Padre Geraldo Martinho Gereon, onde foram batizados
várias crianças.
A comunidade escolheu “São José” para ser o nosso padroeiro, pois esse santo já era há
muitos anos festejados com uma freqüentada novena na casa do Sr. Valentim Marques Barbosa.
A Igreja de São José teve como e seu primeiro dirigente o Sr. Luiz Gonzaga de Melo
passando depois para Olegário Aureliano de Sousa.
Em 1971 foi construído o Posto de Saúde Malhada, tendo como primeiros atendentes um
moço de Simplício Mendes com o nome de Dimas, em seguida Raimunda de Sousa Mauriz.
A primeira escola do Jatobá funcionava na “Casa Grande” tendo como professora Raimunda
Florência Reis (Das Flores) esta escola funcionou de 1933 a 1941 com o nome Isaias Coelho, alguns
13
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de seus alunos: Olegário Aureliano de Sousa, José Aureliano Rodrigues, Alcides Rosendo dos Reis,
Arão Rosendo dos Reis e outros.
Em 1973 foi construído o prédio escolar Aureliano José de Sousa, sendo seus primeiros
professores Olegário Aureliano de Sousa e José Aureliano Rodrigues (Zuza).
No ano de 1981 foram construídos o Centro Social, o poço e conseguiram a eletrificação do
povoado, que foram inaugurado no dia 30 de Março de 1982, sendo o Prefeito o Sr. Joaquim Araújo
de Moura (Neto Moura).
Com essas construções o povoado foi se desenvolvendo, a população aumentando, ai surgiu
a necessidade e vontade de criar um novo município. Para a criação do município precisava de
várias obras públicas. Então foram construídos o mercado público, o campo de futebol e a
lavanderia. Após alguns meses houve a votação do plebiscito, quando foi aprovada a emancipação
no município. Sendo publicado no diário oficial no dia 26 de Janeiro de 1994. Em 1995 foi construído
o posto telefônico e inaugurado no dia 04 de Agosto do mesmo ano.
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Os primeiros escravos que chegaram à fazenda Jatobá já foram trazidos pelo senhor Joaquim
Ferreira de Carvalho Coelho e mais tarde pelo senhor José Marques de Sousa Coelho.
Existia uma gargalheira de ferro, usada anteriormente para prender os escravos pelo pescoço, onde
estava cunhada a seguinte frase: “Russo do Tenente Tomás de Sousa”. Tomás era filho de José
Marques de Sousa Coelho.
Os negros, muitas vezes se tornavam, além do braço direito do senhor, um amigo. Houve um
negro, de nome desconhecido, que se tornou muito amigo de Joaquim Marques de Sousa, o
Quinquim das Carnaíbas. Quando o amigo faleceu, ele foi enterrado no cemitério dos negros de uma
forma especial, foi construída ao redor da cova uma murada de pedra, demonstrando o apreço e a
distinção que teria o amigo dos outros que ali estavam.
Assim conta Marcelino Estevão de Sousa, morador de Bela Vista, sobre Joaquim Marques de
Sousa, o Quinquim, seu tetra avô:
“Morando nas Carnaíbas, ele passava ao lado do cemitério dos escravos para visitar seus
parentes no Jatobá, um dia quando retornava tarde da noite, e passando perto do cemitério,
ouviu uns grunhidos arrepiantes que vinham da cova do amigo, enterrado com distinção.
Pensando que era a alma do companheiro, chegou a perguntar o que queria aquela alma
penada. A chorumela não parava e tampouco respondia. Tentou se aproximar mais para ver,
porém o cavalo refugava e dava ré, como se estive visto assombração. Criou coragem, desceu
do cavalo e o amarrou numa árvore próxima. Acendeu um fósforo e foi se aproximando da
12
Os índios que viveram na região sudeste do Piauí pertenceram a nação Acroá, provavelmente das tribos Guaratizes e
Jaicós e Cumpinharós, eram muito valentes e deram muito trabalhos ao povos brancos, principalmente aos arredores de
Oeiras. Costa, Nelson Nery. O Começo do Piaui – os primórdios e a segunda metade do século XVII. Teresina – Instituto
Civitas. 2006.
13
Pesquisadores: Alunos do 1ª Equipe. Identificação dos entrevistados: Raimundo nonato dos Santos e Pascoal dos Santos,
ambos descendentes dos escravos e moradores mais velhos da comunidade.
Data: 14/08/2007
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cova, com a sensação de não saber o que teria de encarar, seria mesmo a alma do falecido
amigo escravo? Porém quando colocou a luz sobre a cerca de pedra que envolvia a cova do
amigo, descobriu que era apenas uma cabra recém parida e com um cabritinho, que gemia
sufocado, todo envolvido pelos restos do liquido da placenta. Não era a alma do amigo.”
Em continuação............
17