Livro Coelho

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 17

______________________ ______________________

Coelhos do Jatobá
História e genealogia

Florêncio Rodrigues Barbosa


Maria Regina Mauriz Reis
Antonio Pereira Filho
______________________ ______________________

A ORIGEM DOS COELHOS


Na Europa do século IX as famílias nobres tinham posses de terras ou possuíam o domínio
sobre certas regiões ao longo de varias gerações. As famílias eram representadas através de um
único nome que era repetido entre seus membros. Porém, as pessoas tinham apenas um pré-nome
que servia como sobrenome, ou nome familiar1. Em Portugal seguia as condições descritas, porém
com uma diferença, possuíam um pré-nome acompanhado de um patronímico. O hábito de a pessoa
ter o seu nome acompanhado do nome do pai resultou da influência árabe que usava tal expediente
para identificar as pessoas, “fulano filho de cicrano”. Até pouco tempo era muito comum nas famílias
dos coelhos do jatobá dar nomes aos filhos acompanhado do nome do pai (quando varão) ou da mãe
(quando varoa).

“O nome dominus do senhor feudal, em Portugal e na Espanha fora do domínio árabe,


é binário, é composto de prenome e patronímico: Ramiro Mendes (Ramiro, filho de
Mendo), Ilduara Pais (Ildua), filha do conde Paio Gonçalves 2”

Existem algumas versões para a origem do sobrenome Coelho, a primeira é que foi
incorporado ao pré-nome para identificar as famílias que dominavam as terras com o mesmo nome.
A segunda versão é que o sobrenome foi inserido após um ato heróico e honrado de um cavaleiro,
Egas Moniz, durante a independência de Portugal.

De acordo com pesquisas sobre a genealogia das famílias Portuguesas, os Coelhos são
descendentes de D. Soeiro Viegas Coelho (nascido em 1.160), casado com Da. Mor Mendes, filha de
D. Mendes Moniz de Gandarei, o qual foi o primeiro a receber este apelido quando tomou posse da
terra de Coneja (coelha - na língua espanhola), embora alguns autores defendam que veio já do seu
avô materno João Vasques Coelho que possuía uma propriedade de nome Coelho, sendo por isso
apelidado de o Senhor da Quinta do Coelho e os seus descendentes de “os coelhos”. Porém, existe
a possibilidade de que D. Soeiro Viegas ganhou o apelido de “coelho” durante uma guerra contra os
mouros, povos de origem da região da Mauritânia- África, no qual ele conseguia penetrar na cidade
sob as muralhas ou trincheiras da cidade sitiada numa forma silenciosa e sem ser notado que
chegavam a enaltecê-lo para o rei dizendo que o mesmo parecia fazer canais por baixo do chão
como um coelho. O ano era 1147, a cidade era Santarém (hoje cidade de Portugal, capital do distrito
de Santarém), foi um golpe audacioso do rei de Portugal D. Afonso Henriques, perpetrado durante a
noite e com um escasso exército, tomou, em 8 de maio daquele ano, a vila que estava sendo
dominada pelos mouros desde 1110.

D. Soeiro Viegas foi bisneto de D. Egas Moniz, Aio de D. Afonso


Henriques (rei de Portugal) e símbolo da lealdade portuguesa. Ocorreu que
o rei D. Afonso Henriques se revoltou, colocando-se à frente dos barões
portugueses, Egas Moniz acompanhou-o. Por aquele motivo o rei e toda a
corte foi sitiada na cidade de Guimarães, e, naquela situação o rei Afonso
Henriques resolveu prometer submissão e obdiência ao rei de Leão, Afonso
VII, caso este libertasse a cidade. Egas Moniz, conhecido pelo seu caráter,
Egas Moniz, o Aio.
*1080 +1146 foi enviado para garantir, com sua palavra, o tratado que se ajustara. No
Fidalgo português do séc. XII. Bisavô do
primeiro Coelho, Soeiro Viegas Coelho. entanto, o primeiro rei de Portugal negou-se a cumprir o prometido. Egas
Combateu ao lado do Conde Português
D. Henrique e se tornou Aio, o
Moniz, como homem honrado, pois tinha pessoalmente tratado do
encarregado da educação do seu filho.
http://genealogia.netopia.pt
problema e assumido o compromisso, apresentou-se juntamente com sua
família, como prisioneiro, ao rei de Leão, a fim de resgatar a palavra
empenhada. Impressionado com sua nobre atitude o rei perdoou-o

1
Costa, Nelson Nery. O Começo do Piaui – os primórdios e a segunda metade do século XVII. Teresina – Instituto Civitas.
2006.
2
Dória, Francisco Antonio. Os herdeiros do Poder. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Revan, 1994, p.52.
______________________ ______________________
D. Egas Moniz foi sepultado em 1146 na igreja do Corporal em Paço de Sousa, em mausoléu
com legenda e pedras adornadas de relevos referentes à ida à Corte de Leão.

3
______________________ ______________________

Ascendentes da família Coelho nas páginas do Dicionário das Famílias Portuguesas de D. Luiz de Lancastre e
Távora. Quetzal Editores, 2ª Edição Lisboa. Observe a referência a D. Egas Moniz.
______________________ ______________________
De acordo com relatos de estudos sobre a origem da familia Coelho de Egydio Coelho da
Silva3, os Coelhos possuem ascendencia régia, e o que comprova isso é a legenda escrito em latim
num dos tumulos que estão na capela do solar dos Coelhos em Sergude, distrito de Vila Real -
Portugal: "NÓS VENIMUS Á SANGUINE REGUM ET NOSTRO VENIUNT A SANGUINE REGES."
Portanto, os Coelhos têm sua ascendencia nos reis de Leão, Dom Ordonho e Dom Ramiro e uma
filha de Estevão Coelho foi Avó de D. Beatriz, esposa de D. Afonso conde de Barcelos. Concluindo,
os Coelhos descendem de reis e do seu sangue reis descendem.

O escudo das armas ou o brasão de nobresa dos Coelhos foi representado de varias formas
dependendo da linhagem da família.

O escudo utilizado por Nicolau Coelho, piloto e navegador que comandou a


caravela Bérrio da frota que sob o comando de Vasco da Gama fez a
descoberta do caminho marítimo para Índia era: de ouro, um leão de púrpura,
armado e lampassado de vermelho, carregado de três faixas xadrezadas de
azul e ouro; bordadura de azul, carregada de cinco coelhos de prata,
malhados de negro. Quanto ao "Leão sahinte", ele pretende significar "grande
nobreza" (neste caso, a ascendência régia e imperial) que simboliza a força e
o poder.
O brasão da Familia Coelho usado
por Nicolau Coelho.
Já o Duarte Coelho, filho de Gonçalo Coelho, escrivão da Fazenda Real e
Fonte: http://genealogia.netopia.pt

comandante da expedição portuguesa que partiu para o Brasil em 1503,


utilizou: de ouro, um leopardo passante de púrpura acompanhado à dextra de uma cruzeta de negro,
sustida de um monte de verde em ponta; chefe de prata, carregado de cinco estrelas de seis raios de
vermelho, postas em faixa; bordadura de azul, carregada de cinco castelos cobertos de prata, aberta
e lavrados de negro.

O DESBRAVAMENTO DO BRASIL E A VINDA DOS PRIMEIROS COELHOS

Os primeiros anos após a descoberta do Brasil em 1500, a única riqueza que parecia existir
na nova terra era a presença da madeira, o pau-brasil (Caesalpinia crista). Foi a partir de uma
expedição dirigida por um coelho, Gonçalo Coelho, em 1503 que foi dado o nome ao novo
continente. Mas a nova terra chamou a atenção de outros povos, principalmente os franceses, que
começaram a explorar a madeira no litoral brasileiro. Para barrar a ocupação estrangeira, Portugal
envia a primeira expedição de caráter colonizadora em 1530 comandada por Martin Afonso de
Sousa, acompanhado de quinhentos homens, mudas de plantas e instrumentos agrícolas, além da
função de policiamento do litoral brasileiro. No entanto, avisado por Martin Afonso de Sousa sobre
uma possível ocupação dos franceses, Dom João III resolveu criar o sistema de capitanias
hereditário, já aplicado nas ilhas de Madeira, Açores e Cabo Verde. O sistema de capitanias
hereditárias não vingou, pois a maioria dos donatários não apareceu para tomar posse das terras,
apenas algumas prosperam como a da Bahia, Ceará e Maranhão (onde encontrava o litoral
piauiense naquela época).

Com o fracasso do sistema de capitanias hereditárias foi instalado no Brasil o Governo Geral.
A carta régia de 7 de janeiro de 1549 nomeou a cidade da Bahia como sede e Tomé de Sousa como
primeiro Governador Geral. Era um sistema administrativo igual ao aplicado nas metrópoles, sendo o
governador geral o representante do rei, auxiliado pelo Ouvidor (justiça), Provedor-Mor (economia e
finanças) e o Capitão-Mor (segurança).

Foi a partir da chegada do primeiro Governador-Geral do Brasil que a colônia iniciou seu
processo de colonização com a chegada de gente da elite, antes apenas alguns colonos,
degradados, funcionários da metrópole e policiais habitavam poucos pontos da costa. Entre os
nobres veio também Garcia D’ávila que viria a ser o tronco da mais aristocrática família brasileira. A
povoação do Brasil se deu a partir do século XVI partindo da Bahia, de Pernambuco, da capitania de
Duarte da Costa, e de São Vicente, a capitania de Pero Lopes de Sousa.

3
Egydio Coelho da Silva. Fórum da família Coelho. www.ajorb.com.br/egydio.htm.
5
______________________ ______________________

O português Garcia D’Ávila construiu um castelo, que depois ficou conhecido como “A Casa
da Torre”. Entre os anos 1632 e 1651 os fidalgos da Casa da Torre obtiveram varias dezenas de
léguas na margem direita do rio São Francisco entre o rio Salitre e Paulo Afonso onde
desenvolveram um verdadeiro domínio feudal, com uma grande criação de gado. O tataraneto de
Garcia D’Ávila, o coronel Francisco Dias D’Ávila, terceiro senhor da Casa da Torre, nascido em 1650,
foi o homem mais rico do Brasil naquela época.

A Casa da Torre era uma fortaleza preparada para resistir


os possíveis ataques de piratas vindo do mar ou índios da região
do sertão. A Casa da Torre foi especialista em “entradas”. As
entradas eram expedições organizadas oficialmente, sob a
inspiração dos representantes da coroa e eram compostas por
escravos, aliados indígenas, religiosos e um chefe branco ou
Ruínas da Casa da Torre – Tatuapara, Bahia. Fonte: Joselina
Rodrigues. 2007. mameluco. Estas entradas tinham a função de conseguir
escravos e, também, de ampliar o território para a criação de
gado bovino.
A colonização do Piauí tem como marco inicial os anos 1660-1670, quando a região se torna
objeto de intensa penetração, principalmente por baianos e paulistas. Neste período começaram as
expedições e as doações das primeiras sesmarias4.

Domingos Afonso Mafrense de apelido “Sertão” chegou ao Brasil antes de 1670 e começou a
trabalhar na Casa da Torre juntamente com seu irmão Julião Afonso, conhecido como “Serra”, por
experiências em entradas pelas serras nordestinas. A eles são atribuídos valores pela proeza de
adentrar em terras não antes exploradas e sendo responsáveis pela povoação do território brasileiro,
como, também, de responsáveis pelo extermínio
das tribos indígenas que existiam na região.

Através de uma sociedade entre a Casa da


Torre, representada por Francisco Dias D’ávila e
seu irmão Bernardo de Sousa, e os dois irmãos
portugueses foram adquiridas muitas sesmarias
na região do Piauí nos anos de 1676, 1675, 1678,
1681 e 1684, com várias léguas quadradas para
cada um, às margens do rio Gurguéia, rio Piauí,
rio Tranqueira, rio Canindé e rio Parnaíba.

A sede do domínio de Domingos Afonso


Mafrense foi situada na fazenda Cabrobró, às
margens do riacho da Mocha, com residência no
A Penetração do Piauí. Adaptação do livro de Joselina Rodrigues. 2007. Organizado por Alto do Rosário, ao lado da capela, hoje igreja
Miridan Brito Knox
Nossa Senhora do Rosário, na cidade de Oeiras.
As sesmarias também eram arrendadas para vaqueiros baianos e pernambucanos que buscavam
oportunidades nas novas terras.

“...esse sertanista português instalou entre os rios Canindé, Piauí e Gurguéia um total
de 39 fazendas de gado, entre as quais uma com sede localizada no lugar Poções,
provavelmente a primeira a ser instalada nessa região denominada de Altos Piauí e
Canindé, situada próximo ao lugar Campos, onde se localiza atualmente a cidade de
Campinas do Piauí. Ainda podemos citar, entre outras, as fazendas Olho D’água,
Mucambo, Serrinha, Jenipapo, Buriti, cajazeiras, Tranqueira, Gameleira, Saco e a mais
importante que se chamava Cabrobró,...5”

4
As sesmarias era a doação de terra feita pela coroa, sob determinadas condições na tentativa de evitar o abandono dos
campos. A legislação culminava com a pena aos proprietários que não voltassem a produzir durante determinado tempo,
podendo-se perder por completo o domínio sobre suas terras, que passaria a quem as cultivassem (Costa, N. N. O Começo
do Piaui. Teresina – Instituto Civitas. 2006.p.182.
5
Moura, J.M de S. Simplicio Mendes – Histórias e Notáveis. edição do Autor, 2001.
______________________ ______________________
Domingos Afonso Mafrense faleceu em 12 de maio de 1711 e a pesar
de possuir dois filhos naturais, Agostinho e Vidal Afonso, doou em testamento
uma fabulosa fortuna para os jesuítas do Colégio dos Meninos de Jesus,
sediada em salvador na Bahia. Nelson Nery Costa, na obra o Começo do
Piauí, comenta sobre a possível razão de ele ter doado toda sua fortuna:
“talvez para expiar as culpas pelas andanças pelo sertão e pelas lutas contra
os índios e os posseiros, em que venceu pela força”.

De acordo com Wilson Carvalho Gonçalves, Dicionário Histórico e


Biográfico Piauiense, a fortuna doada por domingos Sertão aos jesuítas
consistia de: 39 fazendas, com 145 léguas de extensão e 75 de largura
(391.040 km2), 489 escravos, 1.010 cavalos, 1.860 bestas e 50.670 cabeças
de gado bovino.
Domingos Jorge Velho.
Desbravador das terras
“... para administrar todo esse imenso patrimônio, vieram os padres jesuítas, que
piauienses. Sec.XVII concentraram sua base principal de apoio no lugar denominado Brejo de Santo Inácio,
hoje cidade e município Santo Inácio do Piauí.6”

Estas fazendas foram confiscadas em 1759 pela Coroa Portuguesa e os padres da


Companhia de Jesus expulsos do Brasil pelo Marquês de Pombal, as fazendas ficaram chamadas de
Fazendas Reais e após a proclamação da república, Fazendas Nacionais. Em 1946 foram
incorporadas ao patrimônio do Estado do Piauí, passando então a ser chamadas de Estaduais.

Domingos Jorge Velho que desbravou as terras, além de Domingos Afonso Mafrense, foi proprietário
de uma fazenda de terra onde hoje é a cidade de Paulistana em 1663. Posteriormente, estas terras
foram compradas dos fidalgos da Casa da Torre pelo então patriarca dos Coelhos, Valério Coelho
Rodrigues, no ano de 1745.

Valério Coelho Rodrigues era


filho de Domingos Coelho e de
Águida Rodrigues e nascido na
freguesia de São Salvador de
Paço de Sousa, Distrito de
Porto – Portugal em 1713.
Valério Coelho veio para o
Brasil acompanhado pela sua
irmã que ficou na Bahia. “Dela
descenderam famílias
importantes como os Silveiras
e os Saraivas, exemplo disso é
o Conselheiro Antonio José
Saraiva (*1823†1895) que
governou o Piauí entre 1850 a
1853, fundou a cidade de
Teresina e a vez capital da
província em 1852”7.
Localização da Vila de Paço de Sousa no Distrito de Porto – Portugal
Nosso patriarca, como muitos
que chegaram ao Brasil em busca de fortunas, se aventurou pelo sertão vindo buscar terras aos
fidalgos da Casa da Torre no ano de 1745, terras estas que hoje faz parte da região do município de
Paulistana, anteriormente denominado Paulista. Segundo é relatado por José Teles, na obra Valério
Coelho Rodrigues, as terras compradas por Valério Coelho pertenceram ao Bandeirante Domingos
Jorge Velho quando iniciou uma fazenda de gado por volta do ano de 1665. Não é certa a origem do
nome Paulista, alguns dizem que foi atribuição do Bandeirante em homenagem aos conterrâneos da

6
Moura, J.M de S. Simplício Mendes – Histórias e Notáveis. Edição do Autor, 2001. p. 30.
7
Carvalho A. C. F. de. Família Coelho Rodrigues – passado e presente.
7
______________________ ______________________
Província de São Paulo, outros autores, no entanto, atribui a Valério Coelho Rodrigues em
homenagem à sua esposa, Domiciana Vieira de Carvalho, filha daquela grande região.

Seguindo, ainda, José Teles, no ano de 1750, Valério Coelho Rodrigues construiu na Fazenda
Paulista uma capela utilizando pedreiro e arquiteto da cidade de Salvador e entorno da qual se
formou o povoado. A capela teria custado a quantia de cinqüenta mil reis e que o pagamento foi feito
em gado vacum, sendo 50 novilhas no valor de mil contos de reis cada, preço da época. Nesta
capela trabalhou o Padre Aniceto Vieira de Carvalho, irmão de sua esposa Domiciana Vieira de
Carvalho. Hoje a capela é parte integrante da igreja matriz da cidade
de Paulistana, Igreja de Nossa Senhora dos Humildes e onde foram
sepultados Domiciana e Valério, ela falecida em 1781 e ele em 1783.
Valério Coelho (era conhecido como Valério “O Velho”) permaneceu
na fazenda até a sua morte.

Valério Coelho Rodrigues casou-se com Domiciana Vieira de


Carvalho, filha de José Vieira de Carvalho e de Maria Freire da Silva,
com quem teve 16 filhos, 8 homem e 8 mulheres dos quais 15 se
Igreja de Nossa Senhora dos Humildes
em Paulistana, onde estão sepultados casaram. A grande maioria se estabeleceu nas regiões de
Domiciana e Valério Coelho. Paulistana, Conceição do Canindé e parte do município de Jaicós.

Assim foi descrito a família de Valério Coelho Rodrigues com Domiciana Vieira de Carvalho
nos livros de Abimael Clementino Ferreira de Carvalho e José Teles:

- Filhos de Valério Coelho Rodrigues com Domiciana Vieira de Carvalho:

1° - Ana Rodrigues de Santana, c/c o português Manuel de Sousa Martins, proprietário e


fazendeiro em Serra Vermelha-Paulistana-Pi. Tronco da família Sousa Martins no Piauí.
Faleceu em 1784.

2° - Maria Rodrigues de Santana, c/c o Ouvidor-Geral Cap. Marcos Francisco de Araújo


Costa, filho de João Francisco de Paiva e de Antônia do Espírito Santo, esta filha dos
portugueses Manuel Francisco de Araújo Costa e Ana de Oliveira, chegados no Piauí em
1697, sendo Manuel filho de Gaspar da Costa e de Serafina de Araújo. Marcos Francisco fez
parte da junta de governo de 1784, da capitania do Piauí. Tronco da família Araújo Costa no
Piauí. Sitiaram na região de Padre Marcos-Pi.

3° - Valério Coelho Rodrigues Filho, c/c Antonia da Silva Vieira em 1769, filha de Luis Mendes
Vieira e de Clara da Silva Caboclo. Situaram em Petrolina-Pe.

4° - José Rodrigues Coelho, c/c Cristina Macedo. Situaram em Bahia-Carnaíbas-Paulista,


hoje Paulistana-Pi.

5° - Estevão Coelho Rodrigues, c/c Josefa Coelho. Situaram em Jacaré-Paulista, hoje


Paulistana-Pi.

6° - Lourenço Rodrigues Coelho, c/ em primeiras núpcias c/ Ana Coelho e em segundas c/


Antonia Benício. Situaram em Cachoeira-Paulista, hoje Paulistana-Pi.

7° - Manuel Coelho Rodrigues c/c Maria Aldonça Micaela Freire da Andrade, natural da Bahia-
Paulista, hoje Paulistana - Pi.

8° - Inácio Rodrigues Coelho, c/c ..... – Situou-se no Brejo-Paulista, hoje Paulistana - Pi.

9° - Águida Rodrigues de Santana, c/c o português Dionísio da Costa Veloso. Situou-se Boa
Vista-Jaicós-Pi.
______________________ ______________________
10° - Teresa Rodrigues de Santana em 1776 c/c Alferes João Barbosa de Carvalho, filho do
português Sargento-mor João Barbosa de Carvalho e de Maria da Silva Texeira. Serra –
Jaicós-Pi.

11° - Josefa Rodrigues de Santana, c/c Alferes Martinho Lopes dos Reis. Mamonas-Jaicós-Pi.

12° - Gertrudes Rodrigues de Santana, c/c o português João José Ferreira de Carvalho,
vereador do Senado da câmara de Oeiras e, nesta Qualidade, durante a série de governos
interinos da capitania- de 01 de janeiro de 1775 a 12 de dezembro de 1797 – fez parte das
juntas correspondentes aos anos de 1777 e 1780. Tronco da família Ferreira de Carvalho no
Piauí. Situou-se Ipueira - Simplício Mendes-Pi.

13º - Domiciana Rodrigues de Santana, c/c o português Francisco Machado de Souza,


residente na Bahia.
14º - José Florêncio Rodrigues Coelho, vulgo comandante da fazenda Santa Clara –
Petrolina.

15º - José Teobaldo Rodrigues Coelho. Ele foi Jesuíta Leigo, não recebeu ordem sacra,
apenas serviçal em conventos.

16° - Dionísia Rodrigues de Santana c/c José da Costa Mauriz.

As terras adquiridas dos fidalgos da Casa da Torre em 1745 possuíam uma extensão que iria
desde a localidade fazenda Cruz do Valério (Petrolina) até parte do município de Jaicós. A partir das
terras pertencentes a Domingos Jorge Velho, Valério Coelho situou sua fazenda e seus
descendentes se espalharam pelo sudeste piauiense, em regiões onde antes pertenciam ao grande
Mafrense Sertão. Em 1783 o capitão chegou a possuir 15 fazendas: Paulista (Paulistana), Itainzinho
(Jaicós), Ingá (Paulistana), Curimatá (Paulistana), Serra do Alferes José Barbosa, Boa Vista (Piauí),
Boa Esperança (Padre Marcos/Jaicós), Carnaíbas (Paulistana), Serra Branca, Serra Nova Ribeira do
rio Piauí (São João do Piauí), Caboclo (Afrânio), São João Velho (Dormente – Petrolina) e Cruz do
Valério (Petrolina). Todas estas fazendas foram distribuídas entre os filhos, chegando a netos e
bisnetos.

A busca de novas pastagens levou os fazendeiros de gado para o interior da atual região
Nordestina, e o sul e sudeste do Piauí foi uma destas regiões exploradas, caso visto com a criação
de muitas fazendas de gado por Mafrense Sertão. A busca por melhores pastos para o gado, regiões
adequadas para implantação das fazendas foi uma das causas do desbravamento do Piauí. Sabe-se
que a implantação de povoados e vilas esta ligado a uma atração, seja pela presença de água, como
nascentes, rios, terras férteis, feiras etc. Não foi diferente com a região
que ficou conhecida por muito tempo como Jatobá dos Coelhos, hoje
cidade de Bela Vista do Piauí.

No início do século XIX existiam muitas terras a serem


exploradas nas imensidões de latifúndios deixados por Mafrense
Sertão. Trabalhadores e aventureiros exploradores desbravaram a
região em busca de riquezas e lugares para implantação de fazendas.

Era prática habitual, ainda hoje, apesar de bem menos, com as


proibições dos órgãos de defesa ambiental, a caça de animais
silvestres pelos sertanejos, tanto por diversão como para alimentação.
Foi assim através de uma destas caçadas que perseguindo Caititus
(mamíferos e também conhecidos como porcos-do-mato), além das
áreas normalmente exploradas, que nas primeiras décadas do século
José Ferreira de Santana, irmão XIX, Joaquim Ferreira de Santana8 (morador na fazenda Malhadinha,
de Joaquim Ferreira de Santana.
Foto de 1819 (Fonte: Abimael
8
Carvalho)
Joaquim Ferreira de Santana era
filho de João José Ferreira de Carvalho e Gestrude Rodrigues de Santana (filha de
Valério Coelho) que moravam em Ipueira-Pi.
9
______________________ ______________________
hoje comunidade Betanha - Simplício Mendes), encontrou uma área adequada para implantação de
uma fazenda. O lugar era atraente, a presença de uma fonte de água, olho-d’água, e um vale verde
com condições adequada para o cultivo de plantas e criação de animais.

Assim descreve Abimael Clementino Ferreira de Carvalho, no livro Família Coelho Rodrigues
– passado e presente, sobre Joaquim Ferreira de Santana:

Joaquim Ferreira de Santana foi membro das juntas de governo da capitania em 1780
e 1813 e fez parte do primeiro Conselho de Governo da Província do Piauí, criado por
decreto de 20 de outubro de 1823, e que funcionou de 16 de agosto de 1825 até o dia
de 13 de fevereiro de 1829. Casou-se em primeiras núpcias com Teresa de Jesus
Maria e em segundas com Isabel Robertina Ramos, ambas filhas do Ouvidor-Geral
Domingos Gomes Caminha e de Maria das Neves Gomes Caminha, e irmãs do
Capitão-mor João Gomes Caminha.

Joaquim Santana resolveu tomar posse da nova área descoberta, prática comum naquela
época quando era possível obter escrituras de terras ainda não exploradas, concebidas pela coroa,
mas responsabilizando em trabalhar a terra e criar gado. As chamadas sesmarias, terras doadas
pela coroa sob condições especiais e com o objetivo de colocá-las em regime de produção agrícola.
Os sesmeiros eram obrigados a pagar dízimo sobre sua produção a Ordem de Cristo, ordem
religiosa e militar, criada em 1319 e extinta em 1834. No ano de 1830, Joaquim construiu uma casa,
que ficou conhecida posteriormente como a “Casa Grande” onde existia próximo a um olho-d’água
(área conhecida como Jatobá). implantou roçados, contratou vaqueiro e comprou e criou gado bovino
e miuças, denominação dada pelos sertanejos ao gado caprino e ovino9. A fazenda chegou a possuir
200 cabeças de gado e 2 chiqueiros com grande quantidade de miuças, nas mãos de Joaquim. Pelo
fato de ter situado a casa próximo a alguns jatobazeiros (Hymenaea courbaril), a localidade ficou
conhecido como fazenda Jatobá e os descendentes de Valério Coelho que nasceram e geraram as
familias daquele lugar ficaram conhecidos como os “Coelhos do Jatobá”.
Infelizmente a Casa Grande construída por Joaquim Ferreira de Santana não existe mais, foi
desmanchada em 1957, a descrição da casa que faremos aqui são relatos de pessoas idosas que a
conheceu ou que seus ascendentes diretos moravam lá:

9
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 2001.
______________________ ______________________

A casa grande tinha construída utilizando a aroeira (Myracrodruon urundeuva) como forquilha,
paredes preenchidas com pedras e barro, amarrados com cipó e coberta de telha (bem maiores que
as produzidas hoje). As linhas, sendo as menores mediam de 20 por 30cm de largura e cinco metros
no comprimento. Os caibros eram troncos de carnaúba (Copernicia prunifera) medindo cinco metros
de comprimentos. As ripas eram da casca da carnaúba, medindo 6 cm de largura. As linhas e caibros
vieram do povoado Salinas, hoje município de campinas do Piauí (região rico em carnaúbas naquela
época). Foram transportados através de bois auxiliado por escravos, uma viagem de
aproximadamente 35 km, dilatada pelas dificuldades e obstáculos do caminho naquela época. Na
frente da casa havia um alpendre todo de madeira trabalhada, ainda existia na mesma uma
arcabouço que chamavam de “tronco”, formado por duas armações de madeira com dois metros e
meio de altura e vinte centímetros de largura onde escravos eram amarrados quando os mesmos
desobedeciam ao senhor.

Rascunho a mão da Casa Grande através da descrição de pessoas que a conheceu antes de sua demolição no ano de 1957. Fonte:
Projeto Resgate dos Valores Histórico-culturais da Sociedade Belavistense. ‘

A casa possuía 14 cômodos: um alpendre na frente e outro nos fundos, quatro quartos, um
corredor, um salão que servia como sala de aula, uma varanda, uma casinha de dentro (quartos que
não saía na sala), uma camarinha, utilizada para guardar os requeijões produzidos, uma “casinha do
meio”, uma sala e uma cozinha. Na cozinha existiam as trempes (aro de ferro com três pés usado
para apoiar panelas sobre o fogo), onde cada família possuía a sua.

O piso da casa era feito de Lages de pedra e ladrilhos de argila. A iluminação era à base de
candeeiro de barro, onde se utilizavam azeite ou querosene. Nesta casa chegavam a morar várias
famílias.

Poucos anos depois a implantação da fazenda Jatobá, veio ao falecimento Joaquim Ferreira
de Santana, ficando assim como herdeiro seu filho João Ferreira de Carvalho.

Assim descreve Abimael Clementino Ferreira de Carvalho, no livro Família Coelho Rodrigues
– passado e presente, sobre João Ferreira de Carvalho:

“O Major João Ferreira de Carvalho era casado com Maria Josefa do Nascimento, filha
de Manuel Francisco do Nascimento e de Antonia Maria de Jesus de Araújo Costa,
sendo Manuel filho de Manuel Francisco Ramos e de Ana Rodrigues de Santana, filha
do Ouvidor-mor Marcos Francisco de Araújo Costa e de Maria Rodrigues de Santana,
esta filha de Valério Coelho Rodrigues e de Domiciana Vieira de Carvalho”.

De posse das terras herdadas do pai, o Major João Ferreira, decidiu vendê-las, porém não
encontrando compradores na região, terminou vendendo-as para um primo residente na fazenda
Juazeiro Paulista, antes pertencente a cidade de Jaicós, hoje Paulistana, de nome José Marques de
Sousa Coelho. José Marques era filho de Inácio Rodrigues Coelho, morava na localidade Brejo, e
neto de Valério Coelho Rodrigues. José Marques de Sousa foi casado com sua prima Maria Coelho
Rodrigues, filha de seu tio paterno Estevão Coelho Rodrigues e de Josefa Coelho.
11
______________________ ______________________

José Marques de Sousa Coelho comprou a fazenda em 08 de Agosto de 1841 por uma
quantia de 5.000$000 (cinco contos de reis), sendo que 2.500$000 (dois contos e quinhentos mil
reis) em moeda e a outra metade em gado bovino e “miúças” (cabras e ovelhas) 10.

Com a compra da fazenda Jatobá, José Marques veio residir no Jatobá com seu genro
Tomás Rodrigues de Sousa casado com sua filha Angelina Mendes de Jesus. O filho Joaquim
Marques de Sousa, conhecido como “Quinquim” morou nas Carnaíbas (aproximadamente 4 km da
casa grande) onde havia uma nascente de água, outro filho Raimundo Marques de Sousa, o
“Mundinho”, residiu na Lealdade, hoje povoado do município de São Francisco de Assis. Um filho de
José Marques, Prudente José de Sousa, morou na Malhada (0,5 km da casa grande) onde hoje é a
sede do município de Bela Vista do Piauí. O Tomás de Sousa tinha cargo de Tenente na capital
Oeiras e seu filho Prudente tinha o cargo de Capitão com serviços prestados na mesma capital.
Todos se tornaram fazendeiros, agricultores, donos de rebanhos de gado e escravos. Outras regiões
foram sendo exploradas e descendentes foram se situando, assim foi com as localidades Carnaíba,
Roça Velha, Gameleira, Pitombeira, Cana Brava, Patos e outros existentes até hoje. O Malaquias
Rodrigues Coelho, irmão de José Marques situou-se na localidade Queimada Nova, antes
Paulistana, hoje cidade Queimada Nova. Da família do Malaquias vieram várias famílias que
povoaram as localidades de Umburana e Sitio. Manoel Francisco de Sousa Coelho, irmão de José
Marques situou-se na localidade São Francisco, hoje cidade de São Francisco. Marina Coelho, irmã
de José Marques situou-se na localidade Pé do Morro, próximo a cidade de São Francisco. Os filhos
destes pioneiros da região, os descendentes de escravos, e outras famílias de aventureiros, vindos
principalmente na época da descoberta dos maniçobais, deram origem às famílias que vivem hoje no
município de Bela Vista do Piauí, antes Jatobá dos Coelhos.

José Marques e seus primeiros descendentes foram sepultados na Malhadinha, cemitério da


Ipueira. Passados anos, começaram a sepultar seus entes queridos na cidade de Simplicio Mendes e
posteriormente no próprio cemitério do jatobá, já nas primeiras décadas do século XX. O sacrifício
era grande para levar um corpo até o cemitério da Ipueira, normalmente em redes, onde eram
sepultados também seus parentes mais próximos, pertencentes à família de João Ferreira de
Carvalho.

A região da fazenda Jatobá pertencia ao município de São João do Piauí 11, em 1905 quando
Simplício Mendes desmembrou de Oeiras e São João do Piauí, a fazenda Jatobá foi transferida para
o novo município. A extração da maniçoba e a pecuária foi o forte da economia local na época,
sendo de grande importância para o desenvolvimento da
região.

Maniçobas são arbustos a pequenas árvores restritos,


principalmente, ao nordeste brasileiro semi-árido (sertão).
A maniçoba-do-piauí (Manihot caerulescens Pohl) foi
descoberta como árvore produtora de látex no Piauí em
1887 (Araújo 1973). Em 1902, a exploração da maniçoba-
do-piauí já se constituía em importante fonte de
arrecadação para o Piauí; em 1905, o látex da maniçoba-
A maniçoba (Manihot caerulescens Pohl).
do-piauí transformava-se na principal fonte de receita para
o Estado, o ápice atingido em 1911, com a instalação de
plantações comerciais. O declínio do extrativismo desta maniçoba começa em 1914, com o início da
exploração da carnaúba.

10
Dados referentes ao inventário da compra das terras em descrições do mesmo documento feitas por Florêncio Rodrigues
Barbosa (não publicado).
11
Após a formação das fazendas nacionais foram divididas, para melhor administrar os enormes latifúndios, em três
setores: Inspeção de Nossa Senhora de Nazaré e São Gonçalo, Inspeção de São João do Piauí e Inspeção de Santo Inácio do
Canindé. Moura, J.M de S. Simplício Mendes – Histórias e Notáveis. Edição do Autor, 2001. p. 31.
______________________ ______________________
Com a descoberta dos grandes maniçobais na região, atraiu muitos forasteiros em busca da
obtenção de fortunas como maniçobeiros. A partir de então surgiram as feiras da maniçoba, onde
uma das mais importantes foi a localizada no povoado Barreiro Branco, hoje cidade de Simplício
Mendes. Assim descreve José Moura soube a importância da feira para a formação do povo da
região.

“ O povoado se formava à medida do sucesso alcançado pela feira e a partir da chegada dos
imigrantes que vinham adquirir propriedades destinadas ao cultivo e à pecuária. Assim, famílias
como os Ferreiras de Carvalho, os Ferreira Gomes, os Mendes de Carvalho, os Moura Fé, os
Rodrigues Coelho, os Santanas e outros, quase todas com ascendência portuguesa e
descendentes do rico fazendeiro Valério Coelho Rodrigues, se estabeleceram na região...”

Em 1941, realizarão uma festa no Jatobá em comemoração ao centenário de compra da


casa da fazenda construída por João Ferreira de Carvalho e vendida a José Marques de Sousa
Coelho 10 anos mais tarde. A festa foi realizada por netos e bisnetos de José Marques e teve a
participação de muita gente do Jatobá, Simplício Mendes e regiões vizinhas.
Os representantes de Simplício Mendes foram: Alcebíades Benício da Costa (pequeno Costa
) e família, Elias Fialho e o jovem João Batista Costa.
A “Casa Grande” foi desmanchada no ano de 1957 com aproximadamente 126 anos de
construída.
A família de José Marques foi a mais antiga geração dos Coelhos na região.

Em 1946 foi eleito o primeiro vereador representando o Jatobá na Câmara municipal de Simplício
Mendes, o José Raimundo dos Reis (Zezé Coelho) e em seguida foram eleitos: José Rodrigues
dos Reis (Zé Rozendo), Florêncio Rodrigues Barbosa, Aberico Raimundo dos Reis, Olegário
Aureliano de Sousa, José Florêncio Neto ( Zé de Benta), Virgilio Valentim Marques, Luiz Horácio
de Sousa, José Pedro dos Reis (Dosé) e João Alfredo dos Reis, sendo este ultimo juntamente com
o deputado Zeca de Doutor, os idealizadores do projeto de criação do novo município.
Os primeiros prédios públicos construídos no Jatobá foram: o prédio escolar na localidade
Umburana em 1946, sendo os primeiros professores: Teresa Florisbela de Sousa, José Aureliano de
Sousa, Maria de Lourdes de Sousa Costa Coelho e o prédio escolar na localidade Patos em 1951,
sendo os primeiros professores: Lindaura Lopes e Francisco Odilon de Sousa.
A localidade Malhada situada pelo capitão Prudente teve um crescimento demográfico mais
rápido, havendo nas décadas de 50 e 60 muitas pessoas morando ali, entre os quais dois
comerciantes o Sr. Francisco Prudente de Assis e Valentim Marques Barbosa, para manutenção de
seus comércios transportavam as mercadorias em comboios de animais. Vendo essas dificuldades
os administradores do município construíram a primeira estrada carroçal de Simplício Mendes a
Jatobá, mesmo assim continuaram as dificuldades pois a estrada passava por lugares com muita
areia e ladeira. Apesar das dificuldades crescia a freqüência do pessoal na comunidade e não
havendo espaço apropriado para as celebrações das missas, celebravam na casa de Francisco
Prudente de Assis ou de Valentim Marques Barbosa. Com o aumento da população essas casas
eram insuficientes para acomodar os fieis e Francisco Prudente de Assis (Chicô) doou o terreno para
a construção da Igreja que no ano de 1968, o povo tomou a iniciativa e com muita força de vontade
deu-se inicio a construção dos alicerces.Veio logo depois períodos de crise devido a seca e
paralisaram a obra que veio a ser reiniciada graças ao dinâmico Padre Geraldo Gereon que chegou
aqui e construiu a Igreja no ano de 1970, sendo o mestre de obra o Sr. Rumão de Sousa Costa; a
referida Igreja foi inaugurada com a celebração da primeira missa no dia 23 de Maio de 1971, pelo
mesmo padre que construiu o inesquecível Padre Geraldo Martinho Gereon, onde foram batizados
várias crianças.
A comunidade escolheu “São José” para ser o nosso padroeiro, pois esse santo já era há
muitos anos festejados com uma freqüentada novena na casa do Sr. Valentim Marques Barbosa.
A Igreja de São José teve como e seu primeiro dirigente o Sr. Luiz Gonzaga de Melo
passando depois para Olegário Aureliano de Sousa.
Em 1971 foi construído o Posto de Saúde Malhada, tendo como primeiros atendentes um
moço de Simplício Mendes com o nome de Dimas, em seguida Raimunda de Sousa Mauriz.
A primeira escola do Jatobá funcionava na “Casa Grande” tendo como professora Raimunda
Florência Reis (Das Flores) esta escola funcionou de 1933 a 1941 com o nome Isaias Coelho, alguns

13
______________________ ______________________
de seus alunos: Olegário Aureliano de Sousa, José Aureliano Rodrigues, Alcides Rosendo dos Reis,
Arão Rosendo dos Reis e outros.
Em 1973 foi construído o prédio escolar Aureliano José de Sousa, sendo seus primeiros
professores Olegário Aureliano de Sousa e José Aureliano Rodrigues (Zuza).
No ano de 1981 foram construídos o Centro Social, o poço e conseguiram a eletrificação do
povoado, que foram inaugurado no dia 30 de Março de 1982, sendo o Prefeito o Sr. Joaquim Araújo
de Moura (Neto Moura).
Com essas construções o povoado foi se desenvolvendo, a população aumentando, ai surgiu
a necessidade e vontade de criar um novo município. Para a criação do município precisava de
várias obras públicas. Então foram construídos o mercado público, o campo de futebol e a
lavanderia. Após alguns meses houve a votação do plebiscito, quando foi aprovada a emancipação
no município. Sendo publicado no diário oficial no dia 26 de Janeiro de 1994. Em 1995 foi construído
o posto telefônico e inaugurado no dia 04 de Agosto do mesmo ano.

Mesmo na categoria de cidade ainda continuava dependente de Simplício Mendes. Só no dia


03 de Outubro de 1996 foi eleito o primeiro prefeito deste município o Sr. Antonio Costa Coelho
(Tontonho Coelho), Tendo como vice-prefeito Eloísio Raimundo Coelho e Câmara composta por 9
vereadores: Josimar Coelho de Almeida, Benedito Adão Tolentino, Milton Francisco Barbosa,
Agenor Salvador Sergio de Sousa, Antonio José Sátiro, João Alfredo do Reis, Claudionor Constâncio
Coelho e Mario de Sousa Mauriz, Raul Alcides dos Reis. Foram empossados no dia 1º de Janeiro
de 1997, numa solenidade simples. Nessa solenidade foram hasteadas três bandeiras: a Bandeira
do Brasil, a Bandeira do Piauí e a Bandeira de Bela Vista do Piauí.
O desejo de homenagear o pé de Jatobá que era um local onde as pessoas se abrigavam
antes de ter residências, e essas homenagens partiu da Sra. Maria Teresinha Reis de Morais e da
Sra. Maria Helena Marques de Sousa ambas filha desta terra; elas decidiram por símbolos que
lembrassem elementos locais, valores, vultos... Daí a idéia da bandeira, símbolo maior de povo. A
mesma formada por três cores: verde, branco e amarelo. O verde representa a esperança de uma
cidade progressista, o branco representa a paz e concórdia entre os filhos de Bela Vista, o amarelo
representa a riqueza da terra e sobretudo a riqueza moral do nosso povo. O escudo com detalhes, a
árvore, alegria ao antigo jatobá e igualmente homenagem aos patriarcas das famílias que hoje
conhecemos, seu ramos de folhas representam as famílias que brotam de cada tronco, o sol ao
amanhecer da maior idade local a vista descortina quando nasce o sol entre as ondulações dos
morros circundantes; e a luz do alto a iluminar os caminhos do nosso povo; o rio ao sopé da árvore
representa as fontes naturais de água existentes no Jatobá.
Próximo a esta cidade há um olho d’água onde até a década de 80 encontravam – se pequenos
potes de barro aberto no fundo, com seixos sobre a areia para facilitar a filtragem da água potável
que a tornava pura para o consumo. Este olho d’água fica situado numa área conjunta a vários
condôminos, onde há diversas espécies de fruteiras predominando os coqueiros de onde saia
semanalmente várias cargas de coco para o mercado de Simplício Mendes.
Segundo algumas pessoas idosas desta terra o nome Pai Manoel atribui-se ao fato de ter sido
esta fonte, como um pai que supre seus filhos em tempo de calamidade.segundo outros moradores o
pai Manuel se referia a um negro. Vale ressaltar que há muitos anos pessoas das comunidades
distantes, como o Sítio buscavam água para o consumo de casa e trazia animais para beber no Pai
Manoel durante o período de verão, pois não havia nessas localidades e era essa fonte uma minação
forte.
As primeiras construções de açudes na data Jatobá foram: o tanque do lajedo e o tanque
velho no lugar Sítio.
Há alguns riachos e lagoas no município que são: riachos do Pai Manoel, do Sítio, Ribeira do
Fidalgo, riacho da Carnaíba, da Gameleira do Angico, Capim Grosso, Retiro e Veredas das Cabaças.
As lagoas são: lagoa dos Patos, da Boa Vista, das Carnaíbas, e justa...
No ano de 1997 com o primeiro Prefeito o município continuou desenvolvendo com o
surgimento de melhorias para o município como a implantação do Ensino Fundamental de 5ª a 8ª
série com a escola de nome José Florêncio Neto, em seguida realizou o primeiro concurso público do
município para efetivar o quadro funcional no ano de 1998, foi feito o sistema de abastecimento
d’água na sede do município. Em 1998 iniciou o calçamento de duas ruas da cidade durante o
primeiro mandato, foram perfurados alguns poços.
Foi construída a Unidade Escolar Higina Alexandrina dos Anjos que funcionou do jardim a 4ª
Série e a quadra de esporte Hezron Pereira Coelho; foi implantada também uma agencia dos
______________________ ______________________
correios que ainda funciona por conta do município. Foram construídos vários colégios no interior
do município como a Unidade Escolar Mateus Manoel de Assis em Pitombeira, a Unidade Escolar
Mãe Inês em Vermelha, a Unidade Escolar Mãe Inácia no Santiago, a Unidade Escolar Abdias
Aprígio dos Santos em Amarra Negro.
No ano de 2000, realizou a eleição onde foi eleito o 2º prefeito do município, Eloisio
Raimundo Coelho e o vice – prefeito Raimundo Valentim Marques e os vereadores Josimar Coelho
de Almeida, Raul Alcides dos Reis, Benedito Adão Tolentino, Milton Francisco Barbosa,
Claudionor Constancio Coelho, João Batista da Costa, Marcionilia Maria de Sousa, Moacir de
Sousa Rodrigues e Mário de Sousa Mauriz. Tomando posse no dia primeiro de Janeiro de 2001,
o Prefeito Eloísio Raimundo Coelho foi reeleito ao segundo mandato nas eleições de Outubro de
2004, tendo como vice – prefeito Josimar Coelho de Almeida e os vereadores: Claudionor
Constancio Coelho, Benedito Adão Tolentino, Milton Francisco Barbosa, Moacir de Sousa
Rodrigues, João Batista da Costa, Marlane Barbosa Coelho, Marinaldo de Sousa Marques,
Ademar Marques Fialho e Raul Alcides dos Reis, este, veio a falecer no dia 04 de Fevereiro de
2006 em um acidente sendo que a suplente dele Neuma Reis Silva Mauriz assumiu a sua cadeira
na câmara. Nestes dois mandatos foram feitas muitas melhorias com diversas obras que são de
grande importância para o desenvolvimento de nosso município.
Para os entrevistados, saber a origem destes locais é de grande importância porque sem
esta história a população não saberia quem é, porque são e de onde vieram; está história é a nossa
base, nossa estrutura. Para uma planta existir é necessário ter raiz e essa origem é para este povo
sua raiz.

15
______________________ ______________________

A presença de escravos na Fazenda Jatobá13

Com a tentativa fracassada de escravizar os índios, pois os


mesmos não aceitavam ser submetidos ao cativeiro, além do mais eles
foram considerados de pouca resistência ao trabalho forçado, geraram
lutas constantes com os colonizadores portugueses12. Fatos esses que
levaram praticamente a quase extinção das tribos indígenas no Brasil. Por
conseqüência, os portugueses tiveram de utilizar os negros trazidos do
continente africano. Eles foram o braço direito dos grandes fazendeiros.
Eram eles que cuidavam de tudo, principalmente da produção agropastoril
do seu senhor. Os negros, descendentes destes escravos, muitos anos
depois viriam a se mesclar com o branco e com o índio e formar a beleza
do povo da região. Contam os mais velhos do lugar que o preço de um
bom escravo seria em torno de 30 cabeças de gado, enquanto de uma
Indio Tapuia, sec. XVII. negra nova que poderia tomar conta, além do campo e dos afazeres da
Niède Guidon. Peintures pré casa, também dos caprichos do senhor, poderia custar até 40 cabeças de
historiques Du Brèsil, op.
Cit, p.81. gado.

Os primeiros escravos que chegaram à fazenda Jatobá já foram trazidos pelo senhor Joaquim
Ferreira de Carvalho Coelho e mais tarde pelo senhor José Marques de Sousa Coelho.

Existia uma gargalheira de ferro, usada anteriormente para prender os escravos pelo pescoço, onde
estava cunhada a seguinte frase: “Russo do Tenente Tomás de Sousa”. Tomás era filho de José
Marques de Sousa Coelho.

As condições semi-áridas do sudoeste piauiense que envolvia períodos longos de estiagem


obrigaram aos nossos pioneiros a construírem açudes para provisão de água em períodos secos. E
foram os negros que construirão os primeiros açudes da região, como exemplo o tanque da
localidade Lajeiro e o tanque da Localidade Angico.

Os negros, muitas vezes se tornavam, além do braço direito do senhor, um amigo. Houve um
negro, de nome desconhecido, que se tornou muito amigo de Joaquim Marques de Sousa, o
Quinquim das Carnaíbas. Quando o amigo faleceu, ele foi enterrado no cemitério dos negros de uma
forma especial, foi construída ao redor da cova uma murada de pedra, demonstrando o apreço e a
distinção que teria o amigo dos outros que ali estavam.

Assim conta Marcelino Estevão de Sousa, morador de Bela Vista, sobre Joaquim Marques de
Sousa, o Quinquim, seu tetra avô:

“Morando nas Carnaíbas, ele passava ao lado do cemitério dos escravos para visitar seus
parentes no Jatobá, um dia quando retornava tarde da noite, e passando perto do cemitério,
ouviu uns grunhidos arrepiantes que vinham da cova do amigo, enterrado com distinção.
Pensando que era a alma do companheiro, chegou a perguntar o que queria aquela alma
penada. A chorumela não parava e tampouco respondia. Tentou se aproximar mais para ver,
porém o cavalo refugava e dava ré, como se estive visto assombração. Criou coragem, desceu
do cavalo e o amarrou numa árvore próxima. Acendeu um fósforo e foi se aproximando da

12
Os índios que viveram na região sudeste do Piauí pertenceram a nação Acroá, provavelmente das tribos Guaratizes e
Jaicós e Cumpinharós, eram muito valentes e deram muito trabalhos ao povos brancos, principalmente aos arredores de
Oeiras. Costa, Nelson Nery. O Começo do Piaui – os primórdios e a segunda metade do século XVII. Teresina – Instituto
Civitas. 2006.
13
Pesquisadores: Alunos do 1ª Equipe. Identificação dos entrevistados: Raimundo nonato dos Santos e Pascoal dos Santos,
ambos descendentes dos escravos e moradores mais velhos da comunidade.
Data: 14/08/2007
______________________ ______________________
cova, com a sensação de não saber o que teria de encarar, seria mesmo a alma do falecido
amigo escravo? Porém quando colocou a luz sobre a cerca de pedra que envolvia a cova do
amigo, descobriu que era apenas uma cabra recém parida e com um cabritinho, que gemia
sufocado, todo envolvido pelos restos do liquido da placenta. Não era a alma do amigo.”

No século XIX havia uma localidade


chamada de Tabuleiro e que existia um olho
d’água próximo, onde começou a ser habitado
por escravos fugitivos desta e de outras regiões
vizinhas. Próximo ao olho d’água existia uma
mata muito fechada onde os escravos se
escondiam e que aos poucos foi formando uma
comunidade chamada de Negro do Mato. Os
fazendeiros ao capturá-los um escravo fugitivo,
amarravam em um tronco que ficava no local
chamado Tabuleiro, em que os mesmos eram
O Cemitério dos escravos na fazenda Jatobá. castigados e em seguida levados para as
fazendas. Por estes acontecimentos o local
ficou conhecido como Amarra Negro.

Tanto o Negro do Mato quanto o Amarra


Negro, hoje, fazem parte das comunidades de nosso
município e que são considerados Quilombolas.

Hoje o negro faz parte do povo que se tornou


responsável pela. Os descendentes de Valério
Coelho que por muito tempo se casavam
praticamente entre si, a partir do final da segunda
metade do século XX tornou-se cada vez mais
comum a mesclagem com o negro da região,
descendentes dos primeiros escravos, levando a
formação de uma nova geração de descendentes no
Casa na localidade Amarra Negro pertencente aos Jatobá.
descendentes dos escravos

Em continuação............

17

Você também pode gostar