2017 Imaginario e Representacao Do Bras
2017 Imaginario e Representacao Do Bras
2017 Imaginario e Representacao Do Bras
Organização:
Maria Celeste Natário (Instituto de Filosofia da Universidade do Porto)
Renato Epifânio (Instituto de Filosofia da Universidade do Porto)
Carlos Ascenso André (Instituto Politécnico de Macau)
Gonçalo Cordeiro (Universidade de Macau)
Inocência Mata (Universidade de Macau/ Universidade de Lisboa)
Jorge Rangel (Instituto Internacional de Macau)
Maria Antónia Espadinha (Universidade de S. José)
ISBN: 978‐989‐99966‐9‐4
Introdução
Nas primeiras décadas do século XX, o movimento cultural da Renascença
Portuguesa ocupa, no panorama cultural português, lugar de destaque, quer pelo
original sistema filosófico, que alia o Saudosismo de Teixeira de Pascoaes ao
Criacionismo de Leonardo Coimbra, quer pela ação cultural, cívica e pedagógica
que desenvolve, divulgando a literatura portuguesa, intervindo em causas sociais e
estabelecendo pontes no espaço ibérico e ibero-americano. Seguindo uma tradição
de aproximação ao Brasil, cultivada pelos mestres Teófilo Braga, Sampaio Bruno e
Guerra Junqueiro, a representação do Brasil, real e utópica, marcará tanto o
percurso da Renascença Portuguesa como o de Leonardo Coimbra. Dotado de uma
vocação humanista que lhe confere um entendimento do cosmos como mónadas
livres em solidariedade, e, ciente da importância cultural do espaço lusófono para o
mundo moderno, as terras de Vera Cruz permanecem no seu imaginário, fruto das
leituras dos seus escritores, e a esse país irmão dedicará inúmeras páginas de
sentido e reconhecido apreço.
Cumpre, todavia, numa brevíssima exposição, abordar o problema do imaginário e
da representação filosófica, cultural e social como conceitos dinâmicos, que se
articulam em função de matrizes identitárias e ideológicas que, como viu Pierre
Bourdieu (1989), são determinadas por grupos sociais e assumidas, segundo Emile
Durkheim, e mais recentemente, Alexander Wendt (1992, 2010), como
representações coletivas, num determinado contexto histórico. Por sua vez,
François Laplantine (1974), na sua teoria tridimensional do imaginário, considera
que o messianismo, a utopia e o sentimento de posse emergem no imaginário
coletivo em momentos de crise, procurando na experiência do sagrado e na
vivência dos mitos, uma ontologia do ser na sua relação com a pátria e o cosmos.
Imaginário e representação revestem-se, deste modo, de valor simbólico, mítico e
utópico porque, coletivamente assumido, muitas vezes, apropriado pelo poder
político, e situado no plano imaterial da quimera.
Assim sucede no Portugal das primeiras décadas do século XX, quando apesar de
se viverem distintas temporalidades, entre a tradição e a modernidade, poder,
ideologia e cultura unem esforços para estreitar relações transatlânticas. Os
governos da Primeira República portuguesa e o movimento da Renascença
Portuguesa, a par de outros movimentos congêneres (Integralismo Lusitano,
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Orpheu e Seara Nova) e agentes culturais como António Sérgio, Carlos Malheiro
Dias ou João de Barros, dão início a uma campanha nacionalista, assente nos
valores da raça (Branwen Jones1, 2008) e na vocação atlântica e universalista de
Portugal, que conduziu à expansão da cultura portuguesa no mundo e à criação de
novas nacionalidades. Surge, neste contexto, o luso-brasileirismo, como ideário
identitário e estratégico de aproximação entre Portugal e Brasil, num momento
crucial da história mundial, marcada por crises e hegemonias políticas, económicas
e culturais protagonizadas por correntes como o Hispanismo, o Germanismo ou o
Pan-americanismo. Este é um momento, igualmente, crucial na história do Brasil,
que procura uma identidade própria, que se constrói, não raras vezes, pela
inconfidência ou revolução, em manifesta resistência ao domínio português
(Müller, 2011).
Não obstante, a história literária e cultural luso-brasileira enriquece-se de
trânsitos e mútuas influências e convergências. É sabida a ascendência poética de
António Nobre2 em Alphonsus Guimarães e Manuel Bandeira3, a autoridade do
poeta parnasiano Gonçalves Crespo em Portugal ou a de Eugénio de Castro, Cesário
Verde e Fernando Pessoa no Brasil4, para citarmos apenas algumas das inúmeras
conexões. Por outro lado, o exotismo das terras brasileiras, que alimenta o
imaginário popular e erudito português, tem reflexos na sua criação literária e
filosófica, assumindo o Brasil uma dimensão simbólica e, mesmo, utópica
pontificada, na esteira de Padre António Vieira, pela ideia de missão universal,
sobressaindo a matriz saudosa e messiânica da cultura portuguesa. Visão
perfilhada pelo movimento das Renascença Portuguesa, nos seus mentores
Teixeira de Pascoaes e Leonardo Coimbra, e que se estende aos estudos de
Fernando Pessoa, Damião Peres5 ou Jaime Cortesão6 sobre o Brasil. Em torno de
1 Branwen Jones. “Race in the Ontology of International order”, Political Studies, vol. 56, 2008,
pp.907-927.
2 Cf. João Alves das Neves. “A influência de António Nobre na poesia brasileira”. Ocidente, vol. LXXII,
Libertinagem de 1930, não se considera membro da nova estética que se afirma, em 1922, na
Semana da Arte Moderna de São Paulo. Apesar de as suas influências do simbolismo português
residirem, sobretudo, em Eugénio de Castro, Manuel Bandeira dedica um poema a António Nobre
no seu livro A Cinza das Horas, publicado em 1917.
4 Cf. Estudo de Ariano Suassuna. Olavo Bilac e Fernando Pessoa: uma presença brasileira em
6 Após a tentativa frustrada de derrube da Ditadura Militar, em 1927, que o leva ao exílio em
França, Jaime Cortesão ruma ao Brasil, fixando-se no Rio de Janeiro e aí se dedica ao ensino
universitário, ao estudo dos descobrimentos portugueses e à formação territorial do Brasil.
Em 1952, organizou a Exposição Histórica de São Paulo para comemorar o 4.º centenário da
fundação da cidade.
7 Paulo Borges. Do Finistérreo Pensar. Lisboa: INCM, 2001, p. 94.
8 Teófilo Braga. As Modernas Ideias na Literatura Portuguesa, vol. I. Porto: Livraria Internacional de
parcial rejeição do positivismo de Comte, na busca de uma metafísica teodiceica: “Neste sentido, o
efeito da idealidade sobre a realidade, da transcendência sobre a imanência, do subjectivo sobre o
objectivo, não só é primacial como não pode ser nem sequer diminuído, quanto mais,
contestadamente, negado”. Sampaio Bruno. O Brasil Mental. Porto: Lello Editores, 1997, p.25.
10 “Às considerações de ordem geral económica cumpre aditar aquelas que, mais particularmente,
se reportam do feitio psicológico das populações americanas com as quais havemos de entreter um
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Brasil que nunca se realizam. Não obstante, priva com D. Pedro II do Brasil e com os poetas Joaquim
Nabuco e Olavo Bilac, entre outros poetas brasileiros do seu tempo. In Henrique Manuel S. Pereira.
“Guerra Junqueiro e o Brasil. Diálogo e Recepção da Obra”. Actas do Congresso Internacional
Pensadores Portuenses Contemporâneos 1850-1950. Vol. II. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da
Moeda; Porto: Universidade Católica Portuguesa, Centro Regional do Porto, 2002, pp. 127-162.
12 João do Rio. Portugal d’Agora. Lisboa, Porto, notas e viagem, impressões. Rio de Janeiro-Paris: H.
Carvalho, Coelho Neto, Homero Prates, João Luso, Ronald de Carvalho, Lima
Barreto, Gonzaga Duque, Almáquio Dinis, Carlos Magalhães de Azeredo ou Mário
de Alencar. A par da colaboração dos poetas brasileiros, a revista dedica na seção
“Bibliografia” recensões literárias a cargo de Januário Leite, Teixeira de Pascoaes,
Flexa Ribeiro e João Ribeiro16 e a série “Carta do Brasil”, da autoria de Álvaro
Pinto17, ocupando-se dos mais variados temas sociais, económicos e literários que
se relacionam com os dois países. Com a fundação da editora Anuário do Brasil
intensifica-se, a partir de 1920, a colaboração brasileira na revista, e aposta-se na
criação de Centros literários e artísticos promotores da literatura portuguesa no
Brasil e da produção literária brasileira, em Portugal, conforme se anuncia:
“Desde seus princípios a Águia e Renascença Portuguesa têm sido nobremente
acarinhadas pelo Brasil, que a todas as obras de cultura e educação sabe dar
sempre um quinhão valioso de sua generosidade. Cumpre hoje, mais do que nunca,
corresponder a essa bela camaradagem com um estudo mais completo e minucioso
de tudo quanto no país irmão possa interessar nossa literatura, nosso
desenvolvimento comercial e industrial e mesmo nossos costumes”18.
16 Como é o caso dos comentários de José de Flexa Ribeiro sobre Fruta do Mato de Afrânio Peixoto e
de João Ribeiro sobre a Comédia Urbana de João Luso, extraídos do jornal “Correio Paulistano” in
“Bibliografia”, A Águia, Porto, 2ª série, vol. XVII, N.º 101-102, maio- junho, 1920, pp. 197-198.
17 A Águia, 3ª série, vol. I, N.º 2, ago. 1922, pp.73-75; ibidem, vol. I, N.º 5, nov. 1922, “Notas e
Comentários”, pp.175-178 e ibidem, vol. II, N.º 8, fev. 1923, “Carta do Brasil”, pp.76-80.
18 A Águia, Porto, nºs 101 e 102, maio e junho, 1920, pp. 187-196.
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19 Documento manuscrito, sem data e sem assinatura, existente no Espólio de Leonardo Coimbra,
Universidade Católica do Porto.
20 Sant’Anna Dionísio. “A alma…”. O Primeiro de Janeiro, Porto, 14 de junho de 1982, p. 6.
21 Idem.
22 Metáfora cultural criada por Oswald de Andrade (1890-1954), inspirada no ritual de
decolonial: reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Siglo
del Hombre; Universidad Central, Instituto de Estudios Sociales Contemporáneos y Pontificia
Universidad Javeriana, Instituto Pensar, 2007 e de Boaventura Sousa Santos e Maria Paula Meneses,
Epistemologias do Sul. Almedina, 2009.
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24 “O regresso ao Paraíso”. Dispersos I - Poesia Portuguesa. Lisboa: Editorial Verbo, 1983, p. 78.
25 “Homenagem ao Jornalista Brasileiro Dinis Júnior”. Cartas, Conferências, Discursos e Entrevistas
Lisboa: Fundação Lusíada, 1994, p.266. Daqui em diante CCDE.
26 “Sobre a Saudade”. Dispersos III - Filosofia e Metafísica. Compilação, fixação do texto e notas de
Pinharanda Gomes e Paulo Samuel. Nota preliminar de Francisco da Gama Caeiro. Lisboa: Editorial
Verbo, 1988, pp.137-138.
27 Alberto de Oliveira. Palavras Loucas. Porto: Livraria Civilização, 1984, p.160.
28 José Augusto Sant’Anna Dionísio . “Pesquisa e Definição Anímica das Pessoas e dos Povos”. O
Coimbra aquando da recepção do jornalista brasileiro Dinis Júnior. Aí, o filósofo português
apresenta a sua visão sobre a “verdadeira imagem do Brasil”. In “A Alma de um País não se confere
pela superfície ou Magnitude do seu Corpo”. O Primeiro de Janeiro, Porto, 14 de junho de 1982, p. 6.
Machado de Assis (1839-1908) analisa a alma humana das suas personagens, servindo-se do humor
irónico que as torna universais, “indizível espírito, ao mesmo tempo cervantino e camiliano, do
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translúcido do autor das Memórias de Braz Cubas, o incomparável vidente anímico, luso-brasílico,
Machado de Assis!”.
31 Joaquim Nabuco e Leonardo Coimbra possuem em comum o culto a Camões e interessaram-se
seriamente pela política, pela cultura e pelos problemas sociais dos seus países. Os estudos
republicanos e antiescravagistas de Nabuco contribuíram para o conhecimento de Leonardo sobre
a realidade brasileira. Nabuco rejeitara o conceito pan-americanista defendido por Oliveira Lima e
defende uma “nacionalidade etnológica, moral, intelectual, estética”. In Carta de Jaime Batalha Reis
dirigida a Oliveira Lima, 30 de janeiro de 1910. In Elza Mine. “Perfis de Nabuco em textos inéditos
de Jaime Batalha Reis e Manuel de Oliveira Lima”. Leituras. Revista da Biblioteca Nacional, Lisboa,
nº6, Primavera, “Brasil-Portugal”, 2000, pp. 226-227.
32 De Coelho Neto, Leonardo leu Immortalidade. Porto: Livraria Chardron, 1925.
33 “Entrevista: no segredo dos deuses”. Última Hora, Porto, ano I, nº6, 11 de março de 1922. CCDE.
motivações de Leonardo Coimbra face ao convite recebido. Publicado em Última Hora, Porto, ano I,
nº 6, 11 de março de 1922, p. 2. In CCDE. Lisboa: Fundação Lusíada, 1994, p.118.
36 “Ao Embaixador do Brasil”. CCDE. Lisboa: Fundação Lusíada, 1994, p. 264.
37 “Homenagem ao Jornalista Brasileiro Dinis Júnior”. CCDE. Lisboa: Fundação Lusíada, 1994, p.266.
38 “A Arte e a sua Significação”. Dispersos I – Poesia Portuguesa. Lisboa: Editorial Verbo, 1984, p.55.
39 Ibidem, p.295.
578
40 Despacho (11.5.1919). D.G., 2ª série, nº 110, 14.5.1919, p. 1575. In CCDE. Lisboa: Fundação
Lusíada, 1994, p.375. (nota incompleta).
41 “Maping Hispanism”. Ideologies of Hispanism. Ed. Mabel Moraña, Hispanic Issues, vol. 30;
Gomes e Paulo Samuel in CCDE. Lisboa: Fundação Lusíada, 1994, p. 41. Este periódico destaca-se, a
partir de 1915, pela oposição a uma “harmonia ibérica” perpetrada por Afonso Costa.
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É o seguinte o plano da vinte e quatro Conferências que este nosso amigo, ilustre
professor do Liceu Rodrigues de Freitas e eloquente orador, projecta realizar nas
principais cidades do Brasil e República Argentina:
O povo Português e a sua religiosidade.
O pragmatismo e o pensamento filosófico americano.
Coelho Neto e a sua obra. Ingnieris44 sic (na República Argentina) e a sua obra.
O Criacionismo filosófico do conferente.
Literatura, ciência e arte:
A literatura portuguesa. (Série de 14 conferências)
Poesia: Poetas filosóficos: Antero, Junqueiro, João de Deus, Teófilo Braga.
António Nobre, Fausto Guedes Teixeira, João de Barros, Pascoaes, Correia
d’Oliveira, Lopes Vieira, Jaime Cortesão, Augusto Casimiro, João de Deus, filho, e
Augusto Gil.
Prosa: - Camilo, Eça, Fialho e Júlio Diniz. Os prosadores novos.
A filosofia: - Antero, Bruno e Teófilo. (3 conferências)
A ciência: - Basílio Teles, Gomes Teixeira e Júlio de Matos.
Literatura científica e didáctica liceal: - Albuquerque, Aquiles Machado, etc.
É, como se vê, desenvolvidíssimo, e sobre todos os pontos de vista interessante o
programa elaborado pelo ilustre conferente, um dos vultos de maior valor da
moderna geração, devendo resultar feliz a tentativa, dada a reconhecida
competência de quem incumbe leva-la a cabo45.
A segunda oportunidade de se deslocar ao Brasil, data de 1922, aquando do
convite que o pensador recebera do governo português para representar Portugal
nas festas do centenário do Brasil, integrando a comitiva do Presidente António
José de Almeida. Em entrevista a Ângelo César, intitulada “No segredo dos deuses”,
o advogado e escritor portuense transmite aos leitores as expectativas, do foro
intelectual e filosófico, que Leonardo deposita nesta viagem:
Sair da velha Europa, atravessar o equador, é já quase como ir ver o planeta. Novas
praias, novas constelações, tudo isso o deve encantar. Para quem como ele, tem por
ente mais querido a árvore, não pode deixar de alegrar-se por ir visitar a natureza
fecunda das terras de Santa Cruz. E depois, diz-me o Dr. Leonardo Coimbra, há uma
sensação nova que nós aqui não podemos ter: - o sagrado horror à floresta! E
anima-se, os seus olhos dizem a alegria que devem sentir em verem o Cruzeiro do
Sul, sem ser numa carta cosmográfica46.
Todavia, vendo-se privado da companhia de Guerra Junqueiro, poeta convidado
mas impedido de viajar por motivo de doença, Leonardo recusa o convite que lhe
foi insistentemente endereçado pelo “Ministro dos Estrangeiros”, acabando por
responder que não partiria sem Teixeira de Pascoaes nem Raul Brandão47. Não
obstante, as travessias aéreas, realizadas entre Portugal-Brasil, em 1922, e entre
Portugal-Macau, em 1924, merecem do pensador um discurso de glorificação das
qualidades portuguesas, referindo-se aos “Gamas deste século …que levam em
suas asas a glória de um povo”48.
Já em 1924, ano em que se inaugura a Cadeira de Estudos Brasileiros na Faculdade
de Letras de Lisboa49 e se estabelecem acordos comerciais entre os dois países50, o
filósofo recebe novo convite para proferir conferências no Brasil: “- Aqui irei, mas
por pouco tempo. Tenho uma espécie de nostalgia do Brasil como se fosse também
um pouco da minha terra e nunca lá fui”51. O conteúdo das suas intervenções incide
sobre a divulgação da cultura portuguesa: “Irei falar da paisagem e da alma de cada
uma das nossas províncias, da nossa vida mental, do nosso espírito agora
renascendo na Arte e na Filosofia para novas formas de vida e de beleza” 52. Postas,
uma vez mais, todas as esperanças neste evento, a entrevista termina com a
elucidativa frase proferida por um amigo comum ali presente: “a Terra de Ninguém
será pequena para comportar todos os amigos que em grande número
acompanharão o dr. Leonardo Coimbra”53. Porque, afinal, no dizer de Sant’Anna
46 “Entrevista: no segredo dos deuses”. CCDE. Lisboa: Fundação Lusíada, 1994, p.118.
47 Idem.
48 “Glória a Portugal Eterna!”. A Tribuna, Porto, ano III, nº798, 3 de dezembro de 1922, p.1. Nesta
edição do periódico portuense são incluídos outros contributos como os de António José de
Almeida, Magalhães Lima e Luís Cardim. In Dispersos V - Filosofia e Política. Lisboa: Editorial Verbo,
1994.
49 Queiroz Veloso, Diretor da Faculdade e o titular da cadeira Manuel de Sousa Pinto, recebem o
18 de outubro e precedido pelo Acordo Comercial (não ratificado) entre Portugal e Brasil, assinado
a 25 de julho de 1923.
51 “Entrevista; sobre o ensino religioso”. A Montanha, Porto, ano XIV, nº4219, 24-7-1924, p.1. CCDE.
Dionísio “Quem poderá invocar com mais elevação o belo e longínquo Brasil do que
o Tribuno de verbo inspirado e voz límpida, […]?”54.
Notas conclusivas
O fascínio leonardino pelas terras brasileiras, de cariz histórico, antropológico e
metafísico-idealista, reside na mitificação do passado e na esperança saudosa de
uma comunhão futurante, atribuindo aos dois povos protagonismo num destino
histórico comum. Parece-nos, pois, pertinente, hoje evocar a ação do movimento
das Renascença Portuguesa e, em particular, do seu pensador Leonardo Coimbra
em defesa de uma aproximação luso-brasileira, tendo em conta a atual discussão
em torno da lusofonia como plataforma identitária e estratégica em benefício do
desenvolvimento e bem-estar de povos unidos por laços de sincera fraternidade.
Bibliografia citada
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COIMBRA, Leonardo. O Problema da Educação Nacional (Tese apresentada ao Congresso da
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______________Dispersos I - Poesia Portuguesa. Lisboa, Editorial Verbo, 1983.
_____________ Dispersos III - Filosofia e Metafísica. Compilação, fixação do texto e notas de Pinharanda
Gomes e Paulo Samuel. Nota preliminar de Francisco da Gama Caeiro. Lisboa: Editorial Verbo, 1988.
_____________ Dispersos V - Filosofia e Política. Lisboa: Editorial Verbo, 1994.
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OLIVEIRA, Alberto de Oliveira. Palavras Loucas. Porto: Livraria Civilização, 1984.
54“Pesquisa e definição anímica das pessoas e dos povos”. Leonardo Coimbra. O Filósofo e o Tribuno.
Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1985, p. 307.
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