Resina Epoxi Residuo Agoindustrial TCC (Castanha Do Caju)
Resina Epoxi Residuo Agoindustrial TCC (Castanha Do Caju)
Resina Epoxi Residuo Agoindustrial TCC (Castanha Do Caju)
CENTRO DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE QUÍMICA ORGÂNICA E INORGÂNICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA
FORTALEZA
2019
LUCAS RENAN ROCHA DA SILVA
FORTALEZA
2019
LUCAS RENAN ROCHA DA SILVA
BANCA EXAMINADORA
_____________________________
Prof. Dr. Diego Lomonaco Vasconcelos de Oliveira
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_____________________________
Profa. Dra. Selma Elaine Mazzetto
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_____________________________
Prof. Dr. Carlos Alberto Caceres Coaquira
Universidade da integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab)
_____________________________
Prof. Dr. Francisco de Assis Avelino de Figueredo Sobrinho
Instituto Federal do Ceará – Campus Iguatu (IFCE)
Dedicado aos meus queridos pais, irmãos e
esposa. Obrigado por todo apoio, paciência e
principalmente pelo amor de vocês.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, por sempre estar ao meu lado, me guiando durante todo o
caminho e renovando as minhas forças.
Aos meus pais Maria Irade e Márcio Denisio, e aos meus irmãos Hebreu Reneê e
Tiago Rocha, que nas lutas da vida são os meus pilares; nas derrotas, meus ombros
consoladores; e nas vitórias, meus mais ardentes torcedores. Agradeço por acreditarem em mim
durante toda essa jornada.
À minha esposa Kássia, por sempre estar ao meu lado me dando força, pelo
empenho em ver o meu crescimento, pelas lágrimas e os sorrisos durante as derrotas e no
sucesso, e por todo amor, compreensão e dedicação.
Ao meu orientador, Prof. Diego Lomonaco, pela orientação, paciência, conselhos e
ensinamentos durante o mestrado. Aprendi muito nesses últimos anos com você e com seu
profissionalismo. Obrigado por tudo.
À minha coorientadora, Profa. Selma Elaine Mazzetto, por ter aberto as portas de
seu laboratório e me acolhido durante todos esses anos. Agradeço por todos os ensinamentos,
conselhos por nos incentivar a sermos cada dia melhores. Você é uma inspiração para nós.
Aos meus colegas do Laboratório de Produtos e Tecnologia em Processos (LPT) e
do Laboratório de Pesquisa em Corrosão (LPC) por compartilharem ótimas experiências, não
apenas na a bancada do laboratório, mas também na vida. Obrigado pessoal!
Ao Centro Nordestino de Aplicação e Uso da Ressonância Magnética Nuclear
(CENAUREMN) pelas análises de Ressonância Magnética Nuclear (RMN).
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio
financeiro, em especial à CAPES que financiou este projeto.
À Universidade Federal do Ceará, minha segunda casa, por me proporcionar espaço
físico e o conteúdo intelectual para minha formação profissional.
“Se você quer os acertos, esteja preparado para
os erros. ”
(Carl Yastrzemski)
RESUMO
As resinas epóxi constituem uma classe de pré-polímeros bastante versáteis que, ao serem
combinadas com agentes reticulantes, produzem polímeros termofixos com propriedades que
permitem a sua utilização em diversos setores, como adesivos, compósitos, materiais de
construção, componentes de isolamento e principalmente em revestimentos. A busca por novas
formas de obtenção dessas resinas tem se tornado cada vez mais crescente, utilizando
principalmente fontes de origem natural de forma a minimizar o uso de componentes tóxicos,
como o bisfenol A e epicloridrina. Neste sentido, este trabalho objetiva utilizar o líquido da
casca de castanha de caju (LCC) como precursor na síntese de resina epóxi, atuando na
substituição da resina comercial diglicidil éter de bisfenol A (DGEBA), na produção de
polímeros com potencial aplicação em revestimentos anticorrosivos. O procedimento reacional
foi realizado utilizando ácido fórmico e peróxido de hidrogênio, o qual mostrou-se eficiente na
síntese de resina epóxi a partir do LCC, fornecendo rendimentos de 90%. A estrutura química
foi confirmada através da técnica de espectroscopia de absorção na região do infravermelho
com transformada de fourier (FT-IR) e ressonância magnética nuclear de 1H e 13
C. O LCC
epoxidado (LCC-E) foi misturado com diferentes aminas, dietilenotriamina (DETA),
isoforonadiamina (IPDA) e p-fenilenodiamina (PFDA), onde cada reação de cura foi estudada
por calorimetria exploratória diferencial (DSC) e determinadas as temperaturas de cura de 130,
150 e 170 º C. Foram realizados ensaios de teor de gel onde observou-se que os polímeros
curados a 150 º C exibiram maior densidade de ligações cruzadas, assim, as demais análises
foram realizadas para esses polímeros. As propriedades térmicas dos polímeros foram avaliadas
por DSC e por análise termogravimétrica (TGA), apresentando valores de transição vítrea (Tg)
entre 10-18 º C, estabilidades térmicas em atmosfera de N2 na faixa de 280-300 º C e em
atmosfera de ar sintético de 276-280 º C. Placas de aço-carbono 1010 foram revestidos com os
polímeros produzidos para avaliar as propriedades adesivas e anticorrosivas. Os revestimentos
apresentaram boas propriedades adesivas com valores de 10 MPa. As propriedades
anticorrosivas foram analisadas por espectroscopia de impedância eletroquímica (EIE),
exibindo altos valores de módulo de impedância em baixas frequências evidenciando que os
revestimentos atuaram como uma barreira, promovendo uma proteção efetiva do metal. De
acordo com os resultados, os polímeros obtidos possuem potencial para atuarem como
revestimentos anticorrosivos.
Epoxy resins are a class of very versatile prepolymers that combined with crosslinking agents
produce thermosetting polymers with outstanding properties that allow their use in several
segments, such as adhesives, composites, building materials, insulation components and
especially in coatings. The search for new ways to obtain these resins has been increasing,
mainly by using bio-based sources in order to minimize the use of toxic components, such as
bisphenol A (BPA) and epichlorohydrin. The aim of this work was to use the Cashew Nut Shell
Liquid (CNSL) as a precursor in the epoxy resin synthesis, completely replacing the commercial
diglycidyl ether of bisphenol A-based resin (DGEBA) in the production of polymers with
potential application in coatings for corrosion protection. The epoxidation of CNSL was
performed using formic acid and hydrogen peroxide, which proved to be efficient in the
synthesis of CNSL-based epoxy resin (E-CNSL). The chemical structure of E-CNSL was
confirmed by Fourier Transform infrared spectroscopic (FT-IR) and 1H and 13
C Nuclear
Magnetic Resonance spectroscopy with elevated yield (90%). CNSL-E was mixed with
diethylenetriamine (DETA), isophoronadiamine (IPDA) and p-phenylenediamine (PFDA) and
the curing reaction was analyzed by Differential Scanning Calorimetry (DSC), in which the
post cure temperatures of 130, 150 and 170 ° C were chosen. Gel content tests were carried out
where it was observed that polymers cured at 150 ° C exhibited a higher crosslink density, thus,
the other analyzes were performed for these polymers. The thermal properties of the polymers
were evaluated by DSC and Thermogravimetric (TGA) analysis, showing glass transition
values (Tg) between 10-18 ºC, thermal stabilities in N2 atmosphere in the range of 280-300 ºC
and in atmosphere of synthetic air of 276-280 ° C. 1010 carbon steel panels were coated with
the polymers produced to evaluate the adhesive and anticorrosive properties. The coatings had
good adhesive properties with values of 10 MPa. The corrosion properties were analyzed by
electrochemical impedance spectroscopy (EIS), exhibiting high impedance modulus values at
low frequencies, evidencing that the coatings acted as a barrier, promoting an effective
protection of the metal. According to the results, the obtained polymers have the potential to
act as anticorrosive coatings.
Figura 19 Temperatura de transição vítrea dos revestimentos curados com DETA, IPDA
42
e PFDA....................................................................................................
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14
2 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO ........................................................ 16
2.1 Revestimentos orgânicos ................................................................................... 16
2.2 Revestimentos epóxi............................................................................................ 16
2.2.1 Resinas Epóxi...................................................................................................... 16
2.2.2 Síntese de resinas epóxi....................................................................................... 17
2.2.3 Agentes de cura................................................................................................... 19
2.3 Bisfenol A............................................................................................................ 20
2.4 Líquido da Casca da Castanha de Caju........................................................... 21
3 OBJETIVOS....................................................................................................... 24
3.1 Geral.................................................................................................................... 24
3.2 Específicos........................................................................................................... 24
4 METODOLOGIA EXPERIMENTAL............................................................. 25
4.1 Materiais............................................................................................................. 25
4.2 Síntese da resina epóxi LCC-E.......................................................................... 25
4.3 Preparação dos corpos de prova....................................................................... 26
4.4 Preparação da superfície do aço 1010.............................................................. 26
4.5 Aplicação e cura dos revestimentos.................................................................. 27
4.6 Técnicas de caracterização e métodos de teste................................................ 27
4.6.1 Caracterização do LCC e da resina epóxi LCC-E............................................. 27
4.6.2 Caracterização dos corpos de prova................................................................... 28
4.6.3 Calorimetria Exploratória Diferencial............................................................... 29
4.6.4 Análise Termogravimétrica................................................................................. 29
4.6.5 Propriedades adesivas e anticorrosivas dos revestimentos................................ 29
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 30
5.1 Síntese da resina epóxi....................................................................................... 30
5.2 Caracterização do LCC técnico e do LCC-E................................................... 31
5.2.1 Caracterização Química...................................................................................... 31
5.2.2 Medidas Espectroscópicas................................................................................... 32
5.2.2.1 Espectroscopia de absorção na região do infravermelho com Transformada
de Fourier............................................................................................................. 32
5.2.2.2 Ressonância Magnética Nuclear 1H e 13C......................................................... 33
5.3 Estudo de polimerização da resina epóxi LCC-E com os agentes de cura... 36
5.4 Caracterização dos corpos de prova................................................................. 38
5.4.1 Teor de Gel.......................................................................................................... 38
5.4.2 Espectroscopia de absorção na região do infravermelho com transformada
de Fourier (FTIR)............................................................................................... 39
5.4.3 Ângulo de contato................................................................................................ 40
5.4.4 Propriedades térmicas......................................................................................... 41
5.4.4.1 Temperatura de transição vítrea.......................................................................... 41
5.4.4.2 Análise Termogravimétrica.................................................................................. 42
5.5 Propriedades de resistência a corrosão............................................................ 45
5.5.1 Medidas de espectroscopia de impedância eletroquímica................................. 45
5.5.2 Teste de adesão Pull Off...................................................................................... 47
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 50
REFERÊNCIAS................................................................................................. 51
APÊNDICE A – CROMATOGRAMAS E ESPECTROS DE MASSA DO
CG/EM DO LCC TÉCNICO............................................................................ 56
14
1 INTRODUÇÃO
2 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO
revestimentos epóxi. As aminas são os agentes de cura mais utilizados para revestimentos
epóxi, pois produzem revestimentos mais duráveis e resistentes a produtos químicos (TAMBE
et al., 2016). Dentre as aminas, as mais utilizadas são as alifáticas (dietilenotriamina, DETA, e
trietilenotriamina, TETA), cicloalifática (isoforonadiamina, IPDA) e aminas aromáticas
(metilenodianiline, MDA, e p-fenilenodiamina, PFDA) (DING; MATHARU, 2014) (Figura 4).
2.3 Bisfenol A
Entretanto, alguns estudos recentes têm mostrado que o BPA atua como um
disruptor endócrino podendo simular os hormônios do corpo e ocasionar efeitos extremamente
prejudiciais à saúde, como alterações na química e estrutura do cérebro, comportamento,
sistema imunológico, atividade enzimática, sistema reprodutor masculino e feminino e
podendo, inclusive, desencadear câncer (WANG; LIU; LIU, 2017; XIONG et al., 2017).
As fontes de exposição humana ao BPA incluem dieta (por exemplo, liberação e
migração de embalagens de alimentos e recipientes de policarbonato de uso repetido, como
mamadeiras), meio ambiente (ar ambiente, ar interno, água potável, solo e poeira) e uso de
produtos de consumo (HUANG et al., 2012).
A contaminação por BPA é bem presente em muitos ecossistemas ambientais,
principalmente os próximos de áreas industriais, por causa do seu uso extensivo, descarga
aleatória e alta capacidade de lixiviação. O BPA é descarregado no meio aquático (tanto nas
águas doces como marinhas), não só pela migração de produtos à base de BPA, mas também
através de efluentes de estações de tratamento de águas residuais com concentração de 0,317 a
1275 ng/L e mais de 1000 ug/L em lixiviações de aterro e efluentes de tratamento de esgoto
(HUANG et al., 2012; QIU et al., 2019a).
Assim, algumas agências reguladoras, incluindo a Comissão Europeia, a
Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA e a Health Canada, proibiram
recentemente o uso de BPA (QIU et al., 2019b). Devido às restrições e a pressões da sociedade,
os fabricantes buscam alternativas ao BPA e recorrem a compostos químicos alternativos para
produzir produtos “livres de BPA”. Algumas dessas alternativas foram a utilização de
substitutos análogos do BPA como bisfenol F (BPF) e bisfenol S (BPS), porém estes podem
exercer toxicidades comparativas semelhantes quando comparados com BPA (JALAL et al.,
2018; QIU et al., 2019a, 2019b).
O Líquido da Casca de Castanha de Caju (LCC) é uma fonte natural rica em lipídeos
fenólicos e um subproduto agroindustrial obtido a partir do processamento da castanha.
Caracteriza-se como um líquido escuro, viscoso e cáustico encontrado no mesocarpo esponjoso
que recobre as amêndoas da castanha, fruto do cajueiro (Anacardium occidentale L.). Esta
árvore nativa do Brasil é atualmente cultivada principalmente nos continentes da Ásia (Índia,
Vietnã e Indonésia) e África (Nigéria e Costa do Marfim).
22
Com base no exposto, o uso direto do LCC é uma excelente alternativa aos materiais
de revestimento à base de petróleo, o que ainda não é bem explorado na literatura científica.
Portanto, o objetivo deste trabalho foi promover a valorização direta do LCC para a produção
de resina epóxi, substituindo totalmente o BPA, utilizando metodologia ecológica, para a
avaliação subsequente de seu potencial como revestimento protetor anticorrosivo para
superfícies de aço.
24
3 OBJETIVOS
3.1 Geral
Sintetizar uma resina epóxi a partir do LCC e desenvolver polímeros com potencial
aplicação em revestimentos anticorrosivos.
3.2 Específicos
4 METODOLOGIA EXPERIMENTAL
4.1 Materiais
O líquido de casca de castanha de caju (LCC) foi fornecido pela empresa Amêndoas
do Brasil LTDA (Fortaleza-CE, Brasil). Todos os reagentes foram utilizados como recebidos:
bicarbonato de sódio (Synth), peróxido de hidrogênio (35%, Synth), acetona (Synth), acetato
de etila (Synth), ácido fórmico (85%, dinâmica), diglicidil éter de bisfenol A (DGEBA)
(Avipol), p-fenilenodiamina (99%, Sigma), sulfato de sódio anidro (99%, Sigma), isoforona
diamina (IPDA) (99%, Sigma), dietilenotriamina (99%, Sigma), cristal violeta (para
microscopia, Sigma), solução de ácido bromídrico em ácido acético (33%, Sigma) e Celite® S
(99%, Sigma).
Figura 7 - Reação de epoxidação através da geração de ácido perfórmico in situ sem solvente.
A preparação dos corpos de prova foi realizada com base no teor de epóxi (EC,
mmol g-1) de LCC-E e DGEBA e a quantidade de hidrogênios reativos em cada amina (DETA,
IPDA e PFDA). Foram misturados 3,0 g de resina com a respectiva amina numa proporção de
5:1 ou 4:1 (mol de epóxi/mol de amina). A quantidade calculada de agente de cura e resina
epóxi foi misturada com acetona e vertidos em um molde de teflon e submetida a uma
desgaseificação a vácuo por 10 minutos para remover as bolhas de ar. Os corpos de prova foram
deixados secar por 18 h e depois submetidos a um programa de temperatura controlada em
estufa: 60, 80, 100 º C por 1 h cada. Em seguida, os corpos de prova foram submetidos a três
processos distintos de pós-cura a 130 º C (2 h), 150 º C (2 h) e 170 º C (1 h). Os corpos de prova
foram condicionados à temperatura ambiente por 24 horas antes dos testes e então avaliados
quanto à resistência química, térmica e avaliação da hidrofobicidade dos materiais.
O teor de gel dos corpos de prova curados foi determinado de acordo com ASTM
D2765 com adaptações. Amostras de massa conhecida (Mi) foram imersas em 3 mL de
tetraidrofurano (THF) por 24 horas para extrair o conteúdo solúvel. Após este período, as
amostras foram secas à temperatura ambiente até que uma massa constante fosse atingida (Mf).
As análises foram realizadas em triplicata e o teor de gel foi calculado conforme equação 3,
cujo os valores expressam o percentual do teor de gel não solúvel que pode ser correlacionado
com uma densidade de reticulação formada nos polímeros.
𝑀𝑓
𝑇𝑒𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝐺𝑒𝑙 (%) = 𝑀𝑖
𝑥100 (3)
A medição do ângulo de contato das amostras curadas foi determinada usando um
instrumento WCA (GBX Instrumentation Scientification). As imagens foram gravadas usando
uma câmera (Nikon PixeLINK) acoplada ao equipamento WCA por curtos períodos de tempo.
Para cada polímero, três amostras foram usadas para análise.
29
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A resina epóxi foi sintetizada a partir da oxidação das insaturações presentes no LCC
submetido à ação do ácido perfórmico (peroxiácido) conforme a Reação de Prilezhaev (1909)
e metodologia adaptada do procedimento desenvolvido por Niederhauser e Koroly (1949)
utilizando in situ o ácido perfórmico.
A Figura 8 apresenta a formação do peroxiácido através de uma substituição
nucleofilica ao caborno carbonílico (1) para formação de um intermediário tetraédrico, em
seguida, ocorre prototropismo (2) com subsequente perda de água (3). O ácido perfórmico é
formado in situ e consumido à medida que é produzido, diminuindo a perda de oxigênio ativo
por decomposição do peróxido de hidrogênio. A formação do peroxiácido prossegue até o
consumo total de H2O2 e conversão das insaturações em anéis oxiranos (MILCHERT;
SMAGOWICZ; LEWANDOWSKI, 2010; SANTACESARIA et al., 2017).
A Figura 9 apresenta um mecanismo geral para a formação dos grupos epóxi através
de reação in situ de epoxidação das insaturações do LCC. No primeiro passo da reação, o alceno
(1) reage com o oxigênio terminal do ácido perfórmico (2). Esta interação resulta em um
mecanismo consertado onde o oxigênio eletrofílico é adicionado à dupla ligação carbono –
carbono ao mesmo tempo que o próton migra para a carbonila do ácido fórmico (CHUA; XU;
GUO, 2012).
A reação passa por um estado de transição planar do tipo butterfly (borboleta) 3
proposto por Bartlett (1957) formando o grupo epóxi e restaurando o ácido fórmico na reação.
A reação de epoxidação é de adição estereoespecífica, onde a relação estereoquímica dos
31
epóxi na resina e os resultados estão expressos na Tabela 2. Como pode ser visto na tabela, o
valor de iodo da resina LCC-E reduziu em relação ao do LCC, confirmando a conversão das
duplas insaturações presentes nas cadeias alifáticas de cardanol e cardol em grupos oxirano pela
reação de epoxidação.
A diferença notória entre os valores de teor de epóxi de LCC-E e DGEBA, Tabela
2, pode ser explicada pelos diferentes mecanismos envolvidos em cada síntese de resina. Para
DGEBA, a reação de glicidilação ocorre em ambas as hidroxilas fenólicas, enquanto que para
o LCC-E a epoxidação ocorre apenas nas duplas ligações, o que diminui o número de grupos
oxirano por massa de resina.
Por meio da análise de FTIR, foi possível investigar modificações ocorridas durante
a reação de epoxidação, através do desaparecimento e surgimento de bandas de absorção
características relacionadas à estrutura do LCC e do LCC-E, respectivamente, como também
observado por Liu et al. (2016) (Figura 10) (LIU et al., 2016).
No espectro do LCC é possível observar uma banda larga relacionada ao grupo
hidroxila fenólica a 3354 cm-1; estiramentos de ligações C-H para a cadeia lateral insaturada
presente nos constituintes do LCC a 3009 cm-1, bem como os estiramentos de C-H para os
grupos metila, metileno e metino a 2924, 2853 e 1456 cm-1; além de estiramento de ligações
C=C presentes no anel aromático (1595 cm-1).
33
Os sinais observados entre de 6,7 e 7,2 ppm (prótons aromáticos a, a’, c e b) estão
relacionados aos prótons do anel aromático do cardanol, enquanto o sinal em 6,24 ppm exibe
os prótons do anel aromático do cardol.
Comparando os espectros de LCC e LCC-E, os picos no intervalo de 5,3 - 5,5 ppm
(prótons das insaturações internas m e n) relativos aos hidrogênios das ligações duplas internas
da cadeia diminuíram significativamente. Isto indica a conversão das duplas ligações internas
da cadeia lateral em grupos epóxi durante a reação de epoxidação. Além disso, novos sinais
apareceram entre 2,9 e 3,2 ppm (prótons h), relacionados aos hidrogênios do anel oxirano,
indicando a formação bem-sucedida dos grupos epóxi. Além disso, o deslocamento químico
alterado dos picos no intervalo de 1,3 - 1,7 ppm (prótons e e f) também suportam a formação
de grupos epóxi.
No entanto, não houve alterações significativas nos picos variando de 5,8 a 5,9 ppm
e de 5,0 a 5,1 ppm, que são os prótons relacionados às ligações duplas terminais da cadeia. Isto
mostra que as ligações duplas terminais não foram epoxidadas. De fato, como a metodologia
35
utilizada foi a reação de Prilezhaev (1909) e como a síntese do LCC-E foi realizada sem
solvente (sistema heterogêneo), a alta taxa de formação e consumo do ácido perfórmico
possibilita somente com sucesso pela técnica in situ a epoxidação de alcenos mais reativos, os
alcenos menos substituídos apresentam baixa reatividade neste tipo de reação de epoxidação,
como é o caso das insaturações terminais das cadeias de cardanol e cardol (MAY, 1998;
COUTURE, et al., 2017).
Na Figura 12 (a), o espectro de RMN 13C mostra picos na faixa de 114,7 - 137,1
ppm, nos quais alguns deles desapareceram, como mostrado na Figura 12 (b). Da mesma forma,
os grupos epóxi diferiram entre LCC e LCC-E com o surgimento de novos sinais entre 54,45 -
57,61 ppm correspondendo aos carbonos presentes no anel oxirano.
A cura dos revestimentos epóxi foram investigados utilizando o DSC por método
não isotérmico. Resina e agentes de cura (LCC-E, DETA, IPDA e PFDA) foram misturados em
uma relação estequiométrica epóxido/amina à temperatura ambiente, respectivamente.
As curvas endotérmicas e exotérmicas são mostradas na Figura 13, a temperatura
de início de polimerização (Tonset) e a temperatura de pico de polimerização (Tpico) estão
resumidas na Tabela 3. Observaram-se dois eventos exotérmicos no LCC-E, onde o primeiro
pico foi atribuído às reações de abertura dos anéis oxiranos pelos grupos hidroxila do cardanol
e cardol e o segundo à polimerização das insaturações remanescentes da cadeia alifática.
Figura 13 - Estudo de polimerização da resina LCC-E com as aminas DETA, IPDA e PFDA.
Quando a amina terciária é formada, a reação de reticulação cessa, pois, este grupo
não possui hidrogênios ativos, mas se comportam como um catalisador da reação epóxi-amina
por um processo autocatalítico (Figura 14-3). Estas aminas podem promover a desprotonação
dos grupos hidroxila formados a partir da reação epóxi-amina gerando grupos alcóxidos que
podem reagir com outro grupo epóxi da resina tendo como produto um éter ou outro oxigênio
carregado negativamente que continuará reagindo consecutivamente com grupos epóxi de
resina (VÉLEZ; ALVARADO; AVENDAÑO-GÓMEZ, 2017; GAO et al., 2017).
Comparando com o LCC-E, a utilização de agentes de cura amínicos diminuiu
significativamente a temperatura inicial de polimerização em todas as formulações, sendo a
ordem de reatividade nucleofílica das aminas nas formulações LCC-E/PFDA < LCC-E/IPDA
< LCC-E/DETA. As aminas alifáticas aumentaram a taxa de cura nas reações de abertura de
anel, entretanto, a IPDA por ser uma amina ramificada e cicloalifática possui forte impedimento
estérico que resulta em um maior intervalo de polimerização (CAI et al., 2008). De acordo com
os valores de Tonset foram estabelecidas três temperaturas de cura 130, 150 e 170 ºC.
38
O teor de gel dos polímeros curados foi medido para analisar a extensão da reação
de cura para que os materiais possam ser submetidos a solicitações mecânicas, térmicas, ou
químicas com o seu melhor desempenho. Os valores do teor de gel após os três períodos
distintos de cura a 130, 150 e 170 º C estão apresentadas na Figura 15. Estes valores expressam
em porcentagem o teor de gel não solúvel que pode ser correlacionado com a densidade de
ligações cruzadas formada nos polímeros.
De fato, o uso de diferentes agentes de cura também torna possível obter materiais
com diferentes valores de teor de gel na mesma temperatura. Isso é causado pela estrutura
química desses agentes de cura (Figura 16). A DETA é a mais reativa devido a sua natureza
polifuncional e sua estrutura desimpedida promovendo redes fortemente interligadas.
No caso da amina aromática, como a PFDA, por ser menos nucleofílica, a reação
de cura ocorre de forma mais lenta com o LCC-E em comparação com a DETA e IPDA,
39
exigindo assim longos períodos em temperaturas elevadas para atingir as propriedades ideais,
neste caso, o máximo de reticulação. Diferentemente das anteriores, a IPDA possui menor
reatividade devido ao impedimento estérico causado pelo anel, resultando em um maior tempo
de polimerização promovendo uma menor reticulação.
expressos na Tabela 4 com faixa entre 70 - 90º. De modo geral, as propriedades hidrofílicas
podem ser devido aos grupos hidrofílicos presente no polímero, principalmente grupos de
amina secundária e grupos hidroxilas formados durante a reação de abertura dos epóxi
(KANEHASHI et al., 2013).
O maior valor de ângulo foi observado no polímero LCC-E/PFDA onde utilizou-se
uma amina aromática, que proporcionou maior hidrofobicidade ao material, possivelmente
devido à presença de grupos de aminas aromáticas, cujo par de elétrons está em ressonância
com o anel benzeno, tornando-os menos disponíveis para interação com moléculas de água
através de ligações de hidrogênio. O comportamento crescente do aumento do ângulo de contato
dos agentes de cura utilizados foram aminas alifáticas < cicloalifáticas < aromáticas.
Figura 19 - Temperatura de transição vítrea dos revestimentos curados com DETA, IPDA e
PFDA.
amina ciclo alifática após a polimerização com o LCC-E, gera uma estrutura de rede bastante
impedida que pode levar à ruptura molecular quando submetida a altas temperaturas.
Tonset (ºC) 355 / 355 292 / 277 297 / 281 282 / 276
Td30% (ºC) 366 / 364 393 / 406 367 / 399 397 / 412
Td50% (ºC) 376 / 379 428 / 435 418 / 433 434 / 443
Adesão Pull Off
12,5 10 10,2 9,8
(MPa)
Fonte: O próprio autor,
45
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ABDEL, A.; MADKOUR, M. Potential use of smart coatings for corrosion protection of
metals and alloys : A review. Journal of Molecular Liquids, [s.l], v. 253, p. 11–22, 2018.
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