Uma Certa Perspectiva Da Palavra Na Cena Contemporanea
Uma Certa Perspectiva Da Palavra Na Cena Contemporanea
Uma Certa Perspectiva Da Palavra Na Cena Contemporanea
Uma certa
perspectiva da
palavra na cena
contemporânea
falar não é comunicar
Antonio Guedes
Uma certa
perspectiva da
palavra na cena
contemporânea
falar não é comunicar
Ficha Técnica
Conselho Editorial
Ana Kfouri Edélcio Mostaço
Ângela Leite Lopes Silvana Garcia
Antonio Guedes Walter Lima Torres
Editora responsável
Fátima Saadi
ISBN 978-65-89727-02-6
Guedes, Antonio
Uma certa perspectiva da palavra na cena
contemporânea [livro eletrônico] : falar não é
comunicar / Antonio Guedes. -- Rio de Janeiro :
Teatro do Pequeno Gesto, 2021.
PDF
Bibliografia
ISBN 978-65-89727-02-6
21-78607 CDD-792
Índices para catálogo sistemático:
1. Teatro 792
13 TRAJETÓRIA
14 O início: a perda
26 A perspectiva
34 O discurso – Na solidão dos campos de algodão
39 O relato – Primeiro amor: uma retórica invertida
44 Valère Novarina – primeira experiência
50 Novarina e a língua desconhecida
57 A PALAVRA EM PERSPECTIVA
58 Ponto de partida
61 A palavra ambígua e a música
69 A palavra entoada (e ambígua) na tragédia
79 (Recuar ou realizar o tempo?)
82 A escrita, a leitura, a escuta
86 O século XX – Artaud
98 Valère Novarina: falar não é comunicar
1 O FCC da UFRJ era dirigido por Marcio Tavares D’Amaral e o núcleo de Artes
Cênicas era coordenado por Angela Leite Lopes.
2 BLANCHOT, Maurice. O olhar de Orfeu. Trad. Angela Leite Lopes. Rio de
Janeiro: Fórum de Ciência e Cultura/ Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Arte e palavra, n. 1, s. d., p. 9-12.
tr aje tória 16
5 VALSA Nº 6 (1989)
Texto: Nelson Rodrigues / Direção: Antonio Guedes / Dramaturgia: Fátima Saadi
/ Direção musical: Carol Gubernikoff / Pianista: Sérgio André / Cenografia e
figurinos: Doris Rollemberg / Desenho de luz: Antonio Guedes / Com: Angela
Leite Lopes
tr aje tória 20
A perspectiva
A filha do teatro – Viviana Rocha (projeção) e Fernanda Maia (Foto: Luiz Henrique Sá)
tr aje tória 32
A filha do teatro – Viviana Rocha e Fernanda Maia na plateia (Foto: Luiz Henrique Sá)
A filha do teatro – Fernanda Maia (projeção) e Priscila Amorim (Foto: Luiz Henrique Sá)
tr aje tória 34
15 “Um deal é uma transação comercial que diz respeito a valores proibidos ou
estritamente controlados, e cuja conclusão se dá em espaços neutros, indefinidos
e não previstos para tal uso, entre provedores e pedintes, por meio de acordo
tácito, sinais convencionais ou conversa de duplo sentido, com o objetivo de
contornar os riscos de traição e trapaça (calote) que a operação implica – a
qualquer hora do dia ou da noite, independentemente das horas de abertura
regulamentares dos locais de comércio homologados, mas preferencialmente
nas horas em que estes estão fechados.”
tr aje tória 36
Na solidão dos campos de algodão – Tay Lopez e Edjalma Freitas (Foto: Jorge Clésio)
17 BLANCHOT, Maurice. O livro por vir. Trad. Maria Regina Louro. Lisboa:
Relógio D’Água Editores, 1984, p. 221-227.
tr aje tória 43
22 ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. Trad. Teixeira Coelho. São Paulo:
Max Limonad, 1984.
tr aje tória 48
24 NOVARINA, Valère. Vocês que habitam o tempo. Trad. Angela Leite Lopes.
Rio de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 199.
tr aje tória 53
3 Uso a palavra poética como uma derivação da palavra grega poiesis (ποίησις),
que significa produção, criação, não necessariamente ligada à criação artística.
A PAL AVR A EM PERSPECTIVA 62
O marinheiro – Christine Lopes, Claudia Bernardo e Luciana Borghi (Foto: Daniela Hallack)
A PAL AVR A EM PERSPECTIVA 63
6 HURET, Jules. Enquête sur l’évolution littéraire. Paris: L’Echo de Paris, 1891,
p. 1. (Tradução minha.)
7 BARTHES, Roland. O grau zero da escrita. Trad. Maria Margarida Barahona.
Lisboa: Edições 70, 2006, p. 69.
8 VERLAINE, Paul. Paris moderne – Revue Littéraire et Artistique. Paris: Léon
Vanier Editeur, 1882-1883, p. 144.
A PAL AVR A EM PERSPECTIVA 66
A palavra ambígua
O personagem
A palavra falada
16 SÓFOCLES. Rei Édipo. In: Ésquilo. Prometeu acorrentado. Sófocles. Rei Édipo,
Antígone. Trad. J. B. Mello e Souza. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1966, p. 136.
A PAL AVR A EM PERSPECTIVA 74
(Abrindo um parêntese
20 BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Trad. Padre Matos Soares. São Paulo:
Edições Paulinas, 1973. Evangelho segundo São João, capítulo 1, versículo 1.
A PAL AVR A EM PERSPECTIVA 81
fechando o parêntese)
O século XX – Artaud
um céu tempestuoso,
36 NOVARINA, Valère. Discurso aos animais. Trad. Angela Leite Lopes. Rio de
Janeiro: 7Letras, 2007, p. 21-22.
A PAL AVR A EM PERSPECTIVA 98
seus pés. Eu sou João que dança com os pés que sabe fazer
uma grande dança do mundo sem saber os braços. Música,
liberte-nos dos sons e venha se puder dizer que você
poderia fazê-lo agora que você sabe que quando minha
carne tombou foi eu mesmo que ela pariu imediatamente
com uma onda de palavras. Cinco de carne de trinta de
setembro: eu sou o homem a quem nada aconteceu, bem
entre as três guerras durante as quais a paz sobreveio.
Vivi sem resultado.50
que lança as palavras no espaço. Não para dizer algo, mas para
afirmar que a fala está ali. Se a fala em Beckett vem carregada
com uma atmosfera vazia, esgotada e em permanente angústia,
em Novarina a fala é a feliz constatação de que o sentido é algo
construído pelo outro e não há melhor brinquedo para preencher
o vazio do que construir sentidos, muitos, mas sem que eles se
enrijeçam e adquiram o aspecto e o peso de uma fala verdadeira.
Pirandello, em 1922, já havia denunciado o personagem de base
psicológica como uma ilusão produzida pelo ponto de vista do
outro, e sua existência como uma invenção do discurso.10 Artaud
e, mais tarde, Grotowski, embora numa disposição diferente,
chamavam a atenção para a necessidade de esvaziar o ator,
para que ele se mostrasse sem o “alguém social” construído
ao longo de sua vida. Eles buscavam um ator que, esvaziado
de individualidade pudesse se apresentar como um elo entre a
palavra e o público. Portanto, não há novidade na proposta de
Novarina em relação ao trabalho do ator. Entretanto, a estrutura
10 “PAI – Mas se aí está todo o mal! Nas palavras! Todos temos dentro de nós
um mundo de coisas; cada qual tem um mundo seu de coisas! E como podemos
nos entender, senhor, se nas palavras que eu digo ponho o sentido e o valor das
coisas como elas são dentro de mim; enquanto quem as ouve, inevitavelmente
as assume com o sentido e com o valor que têm para si, do mundo assim como ele
o tem dentro de si? Acreditamos nos entender – jamais nos entendemos!”
[...]
“PAI – O drama, para mim, está todo aí, senhor – na consciência que tenho, de
que cada um de nós – veja – julga ser ‘um’ mas não é verdade – é ‘muitos’, senhor,
‘muitos’, segundo todas as possibilidades de ser que estão em nós – ‘um’ com
este, ‘um’ com aquele – diversíssimos! E com a ilusão de ser sempre ‘um para
todos’, e sempre este ‘um’ que acreditamos ser, a cada ato nosso. Não é verdade!
Não é verdade!”
In: PIRANDELLO, Luigi. Seis personagens à procura de um autor. Trad. Roberta
Barni e J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 1999, respectivamente p. 197 e 203.
ENTRE A ESCRITA E A ENCENAÇÃO 123
dava sentido à sua vida, Novarina, por seu lado, se abre ao canto
na certeza de não haver apenas um sentido na vida, mas tantos
sentidos quantos possam ouvir sua palavra soprada.
aquele que fala e aquele que ouve – que irá construir o sentido
e não alguém que fala através da linguagem. Sua narrativa é
construída a partir de uma mistura da língua cotidiana com
uma língua inventada; utiliza verbos, muitas vezes conjugados
numa lógica de quem não domina a língua e ignora a forma
correta dos verbos irregulares. Isso resulta na mistura de tempos
e acaba por instaurar um espaço próprio. O único tempo real
é o presente da cena, o momento em que a cena acontece. Sua
narrativa instaura uma dimensão na experiência da cena que é
da ordem da realidade do acontecimento teatral.
O projeto
2 Como, por exemplo, a palavra aramaica rabuní, que é falada por Maria
Madalena ao ver Jesus ressuscitado e significa meu grande mestre.
caderno de encenação 138
3 Este texto foi publicado em português numa coletânea de textos com o título
Uma língua materna incompreensível. NOVARINA, Valère. O avesso do espírito.
Trad. Angela Leite Lopes. Rio de Janeiro: 7Letras, 2019.
caderno de encenação 140
Decidi trabalhar sobre esse conto assim que acabei de lê-lo. Não
o imaginei em cena, mas pensei que essa pequena fábula deixa
muito claro, de uma forma muito simples, aquilo que Novarina
propõe como uma linguagem não instrumental. Por isso incluí
esse texto no processo: para introduzir, na equipe, a discussão
A mesa-redonda
3 NOVARINA, Valère. Vocês que habitam o tempo. Trad. Angela Leite Lopes. Rio
de Janeiro: 7Letras, 2009, p. 147.
caderno de encenação 156
4 VERLAINE, Paul. Paris Moderne – Revue Littéraire et Artistique, op. cit., p. 144.
caderno de encenação 157
Ainda sem espaço para ensaio – todo o trabalho de mesa foi feito
na minha casa – sou apresentado ao Polo Gaivotas, um local
ainda pouco conhecido pelos artistas portugueses e que pertence
à Câmara Municipal de Lisboa. Um lugar incrível, com salas
limpíssimas muito bem iluminadas, todas com equipamento de
som e internet com ótima velocidade – o que foi fundamental
para os ensaios de música via Skype.
Ou
ou
O VIGIA – Nós não temos nada pra ver nem saber quando
está tudo escuro, a não ser dentro de nós e que a vida está
nos olhos de uns e de outros.”22
Todo o texto deveria ser falado com prazer, sem que se buscasse
revelar algo que estaria oculto, apenas falar em direção à
plateia para que esta, sim, pudesse apropriar-se das frases e
construir, com elas, sua própria narrativa de ouvinte. Como já
disse anteriormente, se há um personagem dizendo o texto, é um
João Ninguém... um alguém sem importância, cujas palavras não
Aprendendo a morder!
É o fim...
O retorno
Portanto, estes eram os dois pontos nos quais iria focar meus
esforços ao retomar a encenação. Chegou a hora de compor o elenco.
Os ensaios
Daniel Barros
caderno de fotos 233
caderno de fotos 234
Daniela Rosado
Mariana Gomes
caderno de fotos 238
Laura, Ana, Rodrigo Viegas, Daniela, Anastasiya, Antonio Guedes, Mariana e Daniel
caderno de fotos 239
caderno de fotos 240
montagem NO
RIO DE JANEIRO
Fotos de
CAROLINA MADURO
Oscar Saraiva
caderno de fotos 245
caderno de fotos 246
Antonio Alves
Cristina Flores
caderno de fotos 247
caderno de fotos 248
Sérgio Machado
caderno de fotos 249
caderno de fotos 250
Fernanda Maia
caderno de fotos 251
caderno de fotos 252
Sobre teatro
Sobre literatura
ANDERS, Gunter. Kafka: pró & contra. Trad. Modesto Carone. São
Paulo: Cosac Naify, 2007.
Sobre performance
Sobre artes
Ficção
Revistas