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All content following this page was uploaded by Bruno Antonio Picoli on 15 January 2019.
Resumo
O presente artigo tem por objetivo analisar o processo de inserção da fotografia como
fonte para a pesquisa e para o conhecimento histórico. Trata da evolução conceitual
da categoria “texto”, o que possibilitou a ascensão da icnografia (pintura, escultura,
cinema, fotografia etc.) ao hall dos documentos portadores de indícios do passado.
Discorre sobre o tratamento dispensado a essa tipologia de fonte pela semiótica e
pela fenomenologia, sobretudo no que concerne à oposição fotografia-realidade/foto-
grafia-indício-seleção e às noções de monumento e documento. Busca “desnaturali-
zar” a fotografia compreendendo-a como uma escolha, mediada por normas sociais
de conduta, do fotógrafo. Oferece para a discussão acadêmica o “fotografado”, não
entendido como passivo no ato do registro, mas como um sujeito que desempenha
um papel social em um determinado espaço geográfico e em determinada tempo-
ralidade. Compreendendo a história enquanto uma ciência indiciária, cujo objeto é
a ação dos homens no tempo, defende a possibilidade do “uso” da fotografia (assim
como demais fontes iconográficas) para a construção do conhecimento histórico, na
medida em que esta conduz elementos que outras variantes de fontes não podem
apresentar ou na medida em que é instrumentalizada na “fabricação” de outras for-
mas de indícios do passado, como é o caso da história oral.
Palavras-chave: Fotografia. Documento. Monumento. Historiografia.
________
*
Mestre em História pela Universidade de Passo Fundo; membro do grupo de pesquisa Núcleo de Estudos
de Memória é Cultura (NEMEC) da Universidade de Passo Fundo, atuando na linha da pesquisa Política
e Cultura; membro do Grupo de Estudos Direitos Sociais na América Latina (GEDIS); desenvolve pes-
quisas em história regional, história cultural e memória; Professor no curso de Licenciatura em História da
Universidade do Oeste de Santa Catarina, Campus de Xanxerê; Rua André Lunardi, 170, Bairro Alvorada,
Xaxim-SC, Brasil; [email protected]
1 INTRODUÇÃO
Não é de hoje que historiadores no mundo todo se munem dos mais varia-
dos tipos de fontes para o seu fazer. No século XIX, Fustel de Coulanges já afir-
mava que a história estava onde o homem deixou sua marca (LE GOFF, 1985, p.
219). Essa poderia ser um artefato de cerâmica, porcelana, pedra, um poema, um
desenho rupestre, uma pintura renascentista ou mesmo uma fotografia – técnica
surgida na década de 1830 fruto das pesquisas de Niépce e Daguerre. No século
passado, Bloch, um dos fundadores da Revista dos Annales d’histoire économique
et sociale, salientava que o historiador deveria estudar todo lugar que tivesse
“cheiro de carne humana” (BLOCH, 2001, p. 54). Entretanto, mesmo com esses
indicadores de novas posturas metodológicas, permaneceu por muito tempo a
hegemonia do documento escrito – preferencialmente oficial.
Neste artigo, temos por objetivo analisar o processo de inserção da fotografia
como fonte para a pesquisa e para o conhecimento histórico. Tratamos da evolução
conceitual da categoria “texto”, o que possibilitou a ascensão da icnografia (pintura,
escultura, cinema, fotografia etc.) ao hall dos documentos portadores de indícios
do passado; sobre o tratamento dispensado a essa tipologia de fonte pela semiótica
e pela fenomenologia, sobretudo no que concerne à oposição fotografia-realidade/
fotografia-indício-seleção e às noções de monumento e documento. Não compre-
endemos a fotografia como um processo natural, mas, como uma escolha, mediada
por normas sociais de conduta, do fotógrafo. De forma semelhante, também ao
fotografado buscamos dar um estatuto de sujeito ativo no ato do registro fotográ-
fico, na medida em que desempenha um papel social em um determinado espaço
geográfico e em determinada temporalidade. Trata-se de um estudo inicial, sem a
pretensão de superar o debate já corrente no meio acadêmico.
veram? Ou então conhecer sua religiosidade, seus hábitos – como a caça – cujos
indícios não emergem por meio de documentos escritos, mas, sim, de mensagens
imagéticas que resistiram à ação do tempo? Outro exemplo clássico pode ser a
história do Antigo Egito. Mesmo após Champolion ter decifrado o código hie-
róglifo, seria possível conhecer a estrutura social, religiosa, as relações de poder
etc. sem que os historiadores e/ou arqueólogos debruçassem-se sobre as imagens
“decorativas” dos túmulos dos faraós? Entretanto, ao que nos parece, para esses
períodos mais remotos a aceitação quanto ao uso das fontes iconográficas é maior
do que o seu “uso” para o estudo de períodos mais recentes, quando da abundân-
cia de registros escritos – mídias, documentos oficiais etc.
Muitos historiadores se utilizam de fotografias em seus trabalhos para fins
ilustrativos, ou, então, para reforçar uma conclusão que já haviam chegado pelo uso
de outras fontes, sem que aquelas suscitem novas indagações ou novas respostas
(BURKE, 2004, p. 12). Acreditamos que as imagens – em nosso caso específico as
fotográficas – têm muito a contribuir para a construção do conhecimento histórico. É
nas categorias de documento (do qual se pode extrair dados, informações, perspecti-
vas sobre um determinado fato ou período) ou monumento (uma tentativa de cristali-
zação do que é considerado o ideal, o antissocial, portador de uma mensagem que se
quer fazer perpetuar em um período e em um determinado espaço), que pensamos
quando afirmamos a sua importância para o trabalho do historiador. Não negamos
que a fotografia pode ser ao mesmo tempo monumento e documento.
Podemos afirmar que contribuiu significativamente para a ampliação do
leque de fontes históricas a própria expansão, no seio de outras áreas do co-
nhecimento – o que demonstra o constante trânsito de ideias, mesmo que em
alguns momentos de forma mais velada e restrita –, do conceito de texto. O
que antes era entendido apenas como “o que está escrito” – no sentido gráfico
–, passou a ser toda forma de manifestação humana intencional ou não, abran-
gendo então imagens, músicas, cinema, retratos, gestos (linguagem corporal)
etc. De acordo com Cardoso e Mauad (1997, p. 402), desde então – metade do
século XX – novos textos, tais como a pintura, o cinema e a fotografia, foram
promovidos à categoria de fontes dignas da apreciação dos historiadores.
Desde sua divulgação, a fotografia é motivo de intensos debates nos meios
acadêmico e artístico. Atualmente, com o avanço tecnológico e a fotografia digital
amplamente difundida, discute-se se esta ainda é uma arte. Os defensores da per-
Fonte: o autor.
“realidade”. A fotografia, por esse viés, oferece uma pista, um indício, pelo qual
o historiador – encampando tarefas de detetive – pode estabelecer as relações.
Em ambas as perspectivas, a fotografia pode ser utilizada como fonte
histórica – para entender os interesses dos “manipuladores” da realidade ou
em uma análise micro-histórica, por exemplo (BURKE, 2004, p. 37). Nesse
sentido, a imagem fotográfica assume a função de documento (imagem/docu-
mento). Entretanto, a partir do momento em que a fotografia é um símbolo,
um modelo, aquilo que no passado quis se instituir como padrão de comporta-
mento, de família, de beleza, de líder, exerce a função de monumento (imagem/
monumento). Da mesma forma que o documento pode tornar-se monumento,
o monumento pode ser tratado como um documento. Depende, contudo, dos
“usos” que o historiador fizer do material que lhe é disponível.
Para Mauad (1996, p. 82), a noção de espaço é a chave para a leitura da mensa-
gem fotográfica. Conforme a autora, toda fotografia é um recorte espacial que contém
outros espaços que a determinam e estruturam, tais como o espaço geográfico, o
fotográfico (como se organiza este espaço geográfico e quem está a ele vinculado), o
dos objetos (que estão retratados, o que significam naquele contexto, porque foram
registrados), o da figuração (hierarquia disposta na imagem resultante), entre outros.
3 CONCLUSÃO
Resumen
miento histórico en la medida que trae elementos que otras variantes de fuentes no
pueden proporcionar o en la medida en que se manipula para la construcción de
otras medios de pruebas del pasado, como es el caso de la historia oral.
Palabras clave: Fotografía. Documento. Monumento. Historiografía.
REFERÊNCIAS