Uso Das Fontes Visuais
Uso Das Fontes Visuais
Uso Das Fontes Visuais
RESUMO
O presente texto discuti a importância do uso de imagens no ensino de história dentro do ambiente
escolar, bem como propõe novas perspectivas de abordagem e questões metodológicas para a
produção do conhecimento histórico, apontando que tal meio para construção do saber pode facilitar a
compreensão e entendimento histórico dentro do ambiente escolar. O uso de fontes visuais auxilia na
produção de textos narrativos que unem vários elementos históricos e também atua como motivação
para pesquisas escolares, na medida em que também incentiva a presença desse tipo de materiais na
prática profissional dos professores de História.
INTRODUÇÃO
A visão vem antes das palavras, crianças enxergam e reconhecem antes de falar. É
neste campo de interpretações visuais que vamos contextualizar caminhos possíveis para uma
narrativa histórica a partir de fontes visuais. Seja por uma possibilidade de existência que nos
permite fazer ver “o que somos, de que somos capazes” seja ligando o passado e presente, no
agora, seja pelo poder da narrativa. Assim como na ausência de depoimentos escritos, a
expressão de camadas das classes trabalhadoras dos tempos atuais pode ser reconhecida por
fotografias cotidianas, a vida das elites pode ganhar outros enfoques a partir de álbuns de
fotos de família que podem ser contrastados com diários íntimos, por exemplo. A imagem
pode ser caracterizada como expressão da diversidade social, exibindo a pluralidade humana.
A fotografia é um recorte temporal, ou seja, é um congelamento no tempo de modo a
eternizar momentos dos séculos passados, trazendo-os para o presente para que os
historiadores modernos possam ter materiais de pesquisa que os ajudem a entender uma
determinada época através dos conteúdos imagéticos (fotografia), tanto no social, como no
econômico, religioso, cultural e político. A fotografia é uma reunião de olhares dos
1
Pós-graduado em Ensino de História com Ênfase em História do Brasil pela Faculdade Osman Lins – FACOL.
([email protected]).
2
Professor Orientador, Doutor em educação pela UDE – Universidade de La Empresa, Montevidéu – Uruguai –
UY. ([email protected]).
pesquisadores, herdada a partir do renascimento e da pintura uma vez que cada uma delas tem
em comum sua apreensão para chegar a sua compreensão.
Diante da ambiguidade da fotografia e seus vários modos de interpretação faz-se
necessário uma técnica (estudo) minuciosa para chegar à sua compreensão e assim utiliza-la
como fonte de pesquisa. O pioneirismo científico envolvendo história e fotografia ocorreu na
década de 1970 em São Paulo, fato que levou a preservação dos acervos e a criação de centros
de documentação (arquivos) e museus em várias cidades do sudeste do país.
A exemplo disso temos o álbum de fotografia que por si só é capaz de nos mostrar
várias representações sociais que vai do convívio na sociedade passando pelos trejeitos de
uma determinada época. Uma das autoras mais conceituadas no campo da pesquisa visual,
Maud (2014, p. 19-36) estabeleceu em suas pesquisas analíticas das imagens fotográficas
cinco categorias de analises tanto para melhor entender o conteúdo quanto compreender suas
expressões. “São elas: Espaço fotográfico; Espaço geográfico; Espaço do Objeto; Espaço da
figuração e o Espaço da vivência” (MAUD, 2004, p. 19-36).
A primeira está vinculada ao profissional (Fotógrafo) e como ele utiliza-se da técnica
para organizar seu trabalho como no formato, enquadramento, tamanho etc. A segunda está
ligada ao lugar (espaço físico) que irá representar na fotografia, a priori. Esse espaço era todo
modelado na década de 1980 em Pernambuco, por exemplo, as famílias que moravam nas
zonas rurais colocavam lençóis estampados como pano de fundo nas fotografias familiares,
utilizando esse cenário como espaço para fotografia. A terceira nos permite compreender a
coerência dos objetos com a imagem, década e lugar. A quarta torna-se mais compreensível
por se tratar da percepção das pessoas retratadas na imagem, bem como seu conteúdo,
atributos e expressões nela contida. A quinta e última categoria vincula-se ao tema e as
atividades que deveriam estar contidas na fotografia
Segundo Mauad:
Antes de tudo, é importante que se compreenda que esta pesquisa se encontra norteada
na esfera da construção do saber histórico, campo no qual o ensino e aprendizagem em
História se consolida, se produz e se reproduzem como campo de pesquisa científica e
disciplina escolar. Muitas vezes o ver significa produzir uma variedade de representações do
tempo passado que muitas vezes se mostra ausente, resignificado pela leitura que se tem de
determinada imagem. Neste ponto Paulo Knauss afirma que “O estudo das imagens serve,
assim, para estabelecer um contraponto a uma teoria social que reduz o processo histórico à
ação de um sujeito social exclusivo e define a dinâmica social por uma direção única”
(KNAUSS, 2006, p. 100).
E aí na medida em que há uma virada do conhecimento a partir do movimento dos
Annales, surge então a história das imagens. Com isso temos como objetivo da história
enquanto ciência e através da relação de ensino, estabelecer uma educação histórica que por
sua vez é se tornar ou levar a uma consciência histórica. No entanto para que as pessoas
possam se valer dessa consciência é necessário que elas dominem alguns conceitos
fundamentais para a sua compreensão.
A utilização de mídias na educação e nas aulas de história não é recente tão recente
como algumas pessoas podem imaginar. Se observarmos bem, notamos que desde o início do
século passado, vemos em Jonatas Serrano, professor do Colégio Dom Pedro II, um grande
defensor do uso do cinema enquanto meio para tornar as aulas de história mais dinâmicas,
como citado por Circe Bittencourt (2004, p. 371-372). Preocupado com o desinteresse, evasão
e, principalmente, a distância que os conteúdos tinham da realidade dos alunos, Oliveira,
(2014, p. 64) observou que “professores relatavam tentativas de dinamizar o ensino, buscando
usar elementos do cotidiano, normalmente obras midiáticas de grande conhecimento popular,
tentando construir com elas debates e interações entre os alunos. ” Esse método tinha como
objeto a aproximação do ensino da disciplina e o cotidiano dos alunos. Os resultados, segundo
Oliveira, (2014, p. 64) “foram muito animadores”, por meio destes foi possível criar caminhos
para o uso crítico desses elementos em sala de aula.
De acordo com Oliveira (2014, p. 59). Vivemos em um mundo inundado de imagens e
sons cada vez mais rápidos e em enorme fluxo, onde o fictício tem assumido cada vez mais
ares de real, através das realidades virtuais, dos reality shows, de jogos eletrônicos e do
sentido de construção de um presente contínuo que entre notícias na TV e atualizações nos
portais de notícias na TV torna-se cada vez mais fugidio. Com o passar do tempo e
principalmente após a nova Lei de Diretrizes e Bases de 1996 e dos Parâmetros Curriculares
(2001 e 2002), o ensino de história e as pesquisas sobre esse ensino tem apontando cada vez
mais o uso de documentos não escritos, das mídias televisivas, cinematográficas e, mais
recentemente, da internet, como saídas para renovar o ensino da disciplina.
É importante que se ressaltem algumas questões sobre o uso das mídias e
tecnologias nas aulas de história. As autoras e as obras recentes sobre o
ensino de História salientam o chamado uso crítico do livro didático e das
mídias. O que se propõe não é substituir o professor, como se chegou a
pensar que aconteceria a partir do uso cada vez mais frequente da TV na sala
de aula, nem tão pouco substituir as aulas pela exibição de filmes e leitura de
jornais e revistas. O que o uso das mídias pode proporcionar é, caso seja bem
direcionado pelo professor, a construção de uma visão crítica de mundo pelo
aluno e uma dinamização do processo de ensino-aprendizagem (OLIEIRA,
2014, p. 65).
Essas mídias são importantes e devem ser usadas para “empoderar” o aluno, para
despertar seu espírito crítico. Segundo Fonseca (2013). Isso pode ser exercido através da
familiaridade pelo uso. Existem outras formas de uso delas, que apenas a simples consulta.
Selva Fonseca aponta ainda que:
Outro meio para desenvolver habilidades que sejam interessantes para aprendizagem
histórica podem ser os jogos virtuais, que durante muito tempo foi “destestado” por
professores e pais; tem em grande medida conseguido mais espaço no ambiente escolar
mudando a visão de muitos professores, em algumas áreas. Recentemente muitas pesquisas
tem se debruçado sobre aqueles que utilizam temáticas históricas, como God of War e
Medalha de Honra, que acabam por vezes veiculando o saber histórico, ainda que esse não
tenha intenção didática. Há muitos jogos, como Age of Empires, conhecidos como jogos de
estratégia, onde os participantes do game utilizam mecanismos e, por meio de suas escolhas
em missões dadas, alteram a sucessão dos rumos da História, no jogo. Esses cenários,
normalmente, se utilizam como base civilizações e suas características históricas, para poder
tornar os acontecimentos o mais próximo possível dos fatos históricos. Obviamente os
estereótipos fazem parte dessa construção. O professor pode propor ao aluno o uso desses
jogos, aliado a outras fontes e, dessa forma criar as competências necessárias, valendo-se de
linguagens comuns aos estudantes, possibilitando a capacidade de compreensão criativa, a
autonomia e o conhecimento da História.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos maiores desafios na produção desse artigo foi mostrar como o diálogo com as
várias formas de linguagem (Imagem/Fotografia) foram transformadoras na construção do
saber escolar, que nos traz novas formas de abordar a história. Como bem vimos ao longo
deste trabalho as fontes visuais são uma ferramenta poderosíssima, com isso percebemos que
as imagens usadas de forma adequada mostram guardar em si muitos segredos que nos levam
à constatação que o uso desse tipo de fonte, documento, ou registro nos reverberou a
interpretar e narrar os acontecimentos históricos das sociedades, além de convalidar alguns
relatos adquiridos a partir de outras fontes do saber.
Esta pesquisa buscou ainda deixar claro que é possível trazer as novas abordagens para
o ensino de história e seus objetos para a sala de aula. Este movimento, entretanto, necessita
de uma postura sóbria, uma conduta bem elaborada de quem deseja criar situações onde a
interpretação do objeto histórico não se resuma apenas a uma decodificação, na qual o estudo
das informações da exposição não se confunda com a memorização, e o pensar sobre o tempo
passado não se prenda apenas a reproduzir do que já se conhece.
Os vários outros autores da nova história, iniciada com a escola dos annales em 1929,
proporcionaram para a historiografia as mais variadas fontes de pesquisa que os historiadores
podem fazer uso para se produzir e escrever a história. Com base nisso, é possível criar uma
narrativa de um tempo histórico a partir de uma perspectiva imagética (Fotografia, pintura,
vídeos etc.). Nesse trabalho, buscou-se indicar a importância e também algumas direções e
questões pertinentes para se pensar como trabalhar com fontes visuais no ensino de história
dentro do ambiente escolar.
A cultura visual como forma de pesquisa e ensino que produz relações com outros
objetos e linguagens, que se cria e se discute significados, apresenta-se como um desafio entre
professores. A falta da cultura visual na atualidade se deve à supervalorização do texto escrito
em detrimento das fontes imagéticas. Com o passar do tempo, cada vez mais imagens são
produzidas, para os mais variados fins, necessitando assim de uma “alfabetização visual”,
para que dessa forma seja possível a realização da leitura e interpretação de imagens.
REFERENCIAS