Uso Das Fontes Visuais

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 10

HISTÓRIA, IMAGEM E NARRATIVA: UM ESTUDO SOBRE O USO

DE FONTES VISUAIS NA PRODUÇÃO DO SABER HISTÓRICO


ESCOLAR

Geiferson Bonfim da Silva1


Carmelo Souza da Silva2

RESUMO
O presente texto discuti a importância do uso de imagens no ensino de história dentro do ambiente
escolar, bem como propõe novas perspectivas de abordagem e questões metodológicas para a
produção do conhecimento histórico, apontando que tal meio para construção do saber pode facilitar a
compreensão e entendimento histórico dentro do ambiente escolar. O uso de fontes visuais auxilia na
produção de textos narrativos que unem vários elementos históricos e também atua como motivação
para pesquisas escolares, na medida em que também incentiva a presença desse tipo de materiais na
prática profissional dos professores de História.

Palavras-chave: Ensino de história, Conhecimento histórico, Fontes visuais.

INTRODUÇÃO

A visão vem antes das palavras, crianças enxergam e reconhecem antes de falar. É
neste campo de interpretações visuais que vamos contextualizar caminhos possíveis para uma
narrativa histórica a partir de fontes visuais. Seja por uma possibilidade de existência que nos
permite fazer ver “o que somos, de que somos capazes” seja ligando o passado e presente, no
agora, seja pelo poder da narrativa. Assim como na ausência de depoimentos escritos, a
expressão de camadas das classes trabalhadoras dos tempos atuais pode ser reconhecida por
fotografias cotidianas, a vida das elites pode ganhar outros enfoques a partir de álbuns de
fotos de família que podem ser contrastados com diários íntimos, por exemplo. A imagem
pode ser caracterizada como expressão da diversidade social, exibindo a pluralidade humana.
A fotografia é um recorte temporal, ou seja, é um congelamento no tempo de modo a
eternizar momentos dos séculos passados, trazendo-os para o presente para que os
historiadores modernos possam ter materiais de pesquisa que os ajudem a entender uma
determinada época através dos conteúdos imagéticos (fotografia), tanto no social, como no
econômico, religioso, cultural e político. A fotografia é uma reunião de olhares dos

1
Pós-graduado em Ensino de História com Ênfase em História do Brasil pela Faculdade Osman Lins – FACOL.
([email protected]).
2
Professor Orientador, Doutor em educação pela UDE – Universidade de La Empresa, Montevidéu – Uruguai –
UY. ([email protected]).
pesquisadores, herdada a partir do renascimento e da pintura uma vez que cada uma delas tem
em comum sua apreensão para chegar a sua compreensão.
Diante da ambiguidade da fotografia e seus vários modos de interpretação faz-se
necessário uma técnica (estudo) minuciosa para chegar à sua compreensão e assim utiliza-la
como fonte de pesquisa. O pioneirismo científico envolvendo história e fotografia ocorreu na
década de 1970 em São Paulo, fato que levou a preservação dos acervos e a criação de centros
de documentação (arquivos) e museus em várias cidades do sudeste do país.

UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A FOTOGRAFIA

Charles Monteiro no intuito de explicar a importância da fotografia nas pesquisas


cientificas e na produção de saber histórico no ambiente escolar cita Miriam Moreira Leite,
que dá um novo exemplo claro do quão importante são os conteúdos imagéticos para
investigação das sociedades que nos antecederam.

De acordo com Charles Monteiro:

A fotografia é um índice, pois, através dela podemos narrar fatos e


acontecimentos de uma determinada época bem como observar através das
imagens os costumes, a sociedade e o desenvolvimento do espaço físico-
geográfico. Pois a fotografia guardaria um elo físico com o seu referente. Ela
seria uma marca deixada pelo fluxo fotônico emitido ou refletido por um
corpo físico (pessoa ou objeto) sobre uma superfície sensível (filme, papel,
etc.). (MONTEIRO, 2006, p. 12).

A exemplo disso temos o álbum de fotografia que por si só é capaz de nos mostrar
várias representações sociais que vai do convívio na sociedade passando pelos trejeitos de
uma determinada época. Uma das autoras mais conceituadas no campo da pesquisa visual,
Maud (2014, p. 19-36) estabeleceu em suas pesquisas analíticas das imagens fotográficas
cinco categorias de analises tanto para melhor entender o conteúdo quanto compreender suas
expressões. “São elas: Espaço fotográfico; Espaço geográfico; Espaço do Objeto; Espaço da
figuração e o Espaço da vivência” (MAUD, 2004, p. 19-36).
A primeira está vinculada ao profissional (Fotógrafo) e como ele utiliza-se da técnica
para organizar seu trabalho como no formato, enquadramento, tamanho etc. A segunda está
ligada ao lugar (espaço físico) que irá representar na fotografia, a priori. Esse espaço era todo
modelado na década de 1980 em Pernambuco, por exemplo, as famílias que moravam nas
zonas rurais colocavam lençóis estampados como pano de fundo nas fotografias familiares,
utilizando esse cenário como espaço para fotografia. A terceira nos permite compreender a
coerência dos objetos com a imagem, década e lugar. A quarta torna-se mais compreensível
por se tratar da percepção das pessoas retratadas na imagem, bem como seu conteúdo,
atributos e expressões nela contida. A quinta e última categoria vincula-se ao tema e as
atividades que deveriam estar contidas na fotografia
Segundo Mauad:

A fotografia, enquanto componente desta intrincada rede de significações,


revela, através da produção da imagem, uma pista. A imagem considerada
como fruto de trabalho humano, pauta-se sobre códigos convencionalizados
socialmente, possuindo, sem dúvida, um caráter conotativo que remete às
formas de ser e agir do contexto, no qual estão inseridas como mensagem.
Entretanto, essa relação não é automática, pois entre o sujeito que olha e a
imagem que elabora, “existe muito mais que os olhos podem ver”. Portanto,
para se chegar àquilo que não foi imediatamente revelado pelo olhar
fotográfico, há que se perceber: as relações entre signo e imagem, aspectos
da mensagem que a imagem fotográfica elabora, e principalmente, inserir a
fotografia no panorama cultural, no qual foi produzida, e entendê-la como
uma escolha realizada de acordo com uma dada visão de mundo. Elementos
que somente uma análise histórica pode oferecer (ANDRADE, 1990, p. 1).

Nos estudos desenvolvidos por Mauad se trabalham diferentes abordagens e ao mesmo


tempo distinguir uma sociedade da outra, a qual varia de cidade para cidade ou de estado para
estado. Com o uso da fotografia o historiador pode captar e perceber diferenças entre os
grupos sócias através das poses, desempenho, vestimentas entre outras coisas. Os usos da
fotografia nas no ambiente escolar permiti ao aluno acompanhar o processo de urbanização e
industrialização situando-se em tempo e espaço para legitimar sua abordagem e compreensão
de fatos históricos.
A fotografia como fonte de pesquisa tornou-se legitima e ganhou força a partir dos
movimentos dos annales criado por March Bloch e Lucien Febvre em 1929. Essas fontes
imagéticas por serem um recorte do tempo, dá um maior segurança na construção de sua
narrativa por trazer um recorte do real. Dessa forma compreendemos que a fotografia é uma
fonte que permite com que o historiador tenha domínio para construir sua narrativa e explorar
todos os espaços físicos, sociais e culturais que ela proporciona.
Ela é ainda um documento importantíssimo na produção do conhecimento histórico,
onde é possível fazer uma narrativa do momento que a imagem nos proporciona,
diferentemente da pintura a qual não nos remete veracidade do que vemos, onde pode ter sido
apenas fonte de inspiração do artista a fotografia não, ela é um recorte temporal da realidade
para eternizar momentos, fatos e acontecimentos da sociedade de várias épocas trazendo para
os dias atuais o seu cotidiano, seus costumes e sua diversidade ao ponto do pesquisador ter o
poder da produzir uma narrativa em cima da imagem pesquisada.
A fotografia, assim compreendida, deixa de ser uma imagem retida no tempo
para se tornar uma mensagem que se processa através do tempo, tanto como
imagem/documento quanto como imagem/monumento. A imagem
fotográfica compreendida como documento revela aspectos da vida material
de um determinado tempo do passado de que a mais detalhada descrição
verbal não daria conta. Neste sentido, a imagem fotográfica seria tomada
como índice de uma época, revelando, com riqueza de detalhes, aspectos da
arquitetura, indumentária, formas de trabalho, locais de produção, elementos
de infra-estrutura urbana tais como tipo de iluminação, fornecimento de
água, obras públicas, redes viárias etc.; ou ainda, se a imagem for rural, tipo
de mão-de-obra, meios de produção, instalações diversas (CARDOSO;
MAUAD, 1997, p. 575).

Além disso, a imagem possui um registro amplo baseado em sentidos que


caracterizam a transformação do homem na sociedade. Nas últimas décadas do século XX,
por exemplo, ampliou-se o número das obras produzidas com a utilização de fontes não
escritas principalmente a partir da fotografia que possibilitou aos pesquisadores um maior
domínio e reflexão sobre a sociedade, bem como as transformações no meio ambiente e o
crescimento acelerado de urbanização nas cidades brasileiras.
Charles Monteiro esclarece que:

A fotografia é um recorte do real. Primeiramente, um corte no fluxo do


tempo real, o congelamento de um instante separado da sucessão dos
acontecimentos. Em segundo lugar, ele é um fragmento escolhido pelo
fotógrafo pela seleção do tema, dos sujeitos, do entorno, do enquadramento,
do sentido, da luminosidade, da forma, etc. Em terceiro lugar, transforma o
tridimensional em bidimensional, reduz a gama das cores e simula a
profundidade do campo de visão. Ela é também uma convenção do olhar
herdada do Renascimento e da pintura, que é necessário apreender para ver.
A câmara fotográfica capta mais e menos do que o nosso olho pode ver
(MONTEIRO, 2006, p. 12).
A fotografia impõe ao historiador uma avaliação que ultrapasse o âmbito descritivo.
Neste caso, ela é agente do processo de criação de uma memória. Através da fotografia o
historiador traz para o presente àquilo que em grande medida a sociedade costuma esquecer. E
é neste sentido que a fotografia busca fomentar a elaboração da construção de um saber
histórico.

A transmissão de elementos do passado ao historiador pela mensagem


fotográfica, no entanto, não deveria limitar-se ao âmbito da comunicação
pura e simples. E, justamente, a busca da lógica de tais elementos num
determinado tempo e espaço que faz com que adquiram um significado que
tanto pode informar aspectos materiais... Quanto revelar uma
imagem/monumento: aquilo que, no passado, a sociedade queria perenizar
de si mesma para o futuro (CARDOSO; MAUAD, 1997, p. 575).

Conforme afirma Silva (1992, p. 118) “A imagem ao mesmo tempo realça a


necessidade da arte e de outras visualidades para qualquer saber histórico, não se pretende
localizar alguma força messiânica... Isso significa que o visual é aqui considerado como
dimensão de historicidade”. Dessa forma, desconsiderar as fotografias como fontes de
narrativa e produção do saber histórico pode deixar em segundo plano não apenas um registro
abundante, e mais antigo, mas pode significar ainda o não reconhecimento das várias camadas
da experiência social e a variedade dos grupos sociais e seus modos de vida.

A IMPORTÂNCIA DE FONTES VISUAIS NA CONSTRUÇÃO DO SABER


ESCOLAR

Antes de tudo, é importante que se compreenda que esta pesquisa se encontra norteada
na esfera da construção do saber histórico, campo no qual o ensino e aprendizagem em
História se consolida, se produz e se reproduzem como campo de pesquisa científica e
disciplina escolar. Muitas vezes o ver significa produzir uma variedade de representações do
tempo passado que muitas vezes se mostra ausente, resignificado pela leitura que se tem de
determinada imagem. Neste ponto Paulo Knauss afirma que “O estudo das imagens serve,
assim, para estabelecer um contraponto a uma teoria social que reduz o processo histórico à
ação de um sujeito social exclusivo e define a dinâmica social por uma direção única”
(KNAUSS, 2006, p. 100).
E aí na medida em que há uma virada do conhecimento a partir do movimento dos
Annales, surge então a história das imagens. Com isso temos como objetivo da história
enquanto ciência e através da relação de ensino, estabelecer uma educação histórica que por
sua vez é se tornar ou levar a uma consciência histórica. No entanto para que as pessoas
possam se valer dessa consciência é necessário que elas dominem alguns conceitos
fundamentais para a sua compreensão.

A História Nova nasceu em grande parte de uma revolta contra a


historiografia positivista do século XIX, tal como havia sido definida por
algumas obras metodológicas por volta de 1900 (...); ampliou-se o campo do
documento histórico; ela substitui a história de Langlóis e Seignobos,
fundada essencialmente nos textos, no documento escrito, por uma história
baseada numa multiplicidade de documentos: escritos de todos os tipos,
documentos figurados, produtos de escavações arqueológicas, documentos
orais” (LE GOFF, 1993, p.28).
Então a trajetória da história dos conceitos vem a partir dessa necessidade. Quando a
história escolar muda a aprendizagem passa então a ser trabalhada na escola onde recebe
maior destaque no meio escolar. É preciso fazer com que a lógica tradicional da história
narrada majoritariamente a partir de textos. O documento histórico pode e deve ser usado,
mas nesse sentido para situar e facilitar a compreensão do que está sendo problematizado,
discutir de forma conceitual o que essas fontes imagéticas têm de impacto na vida das pessoas
e não apenas ver por ver.
Cabe ao professor fazer interação entre as duas formas de conhecimento histórico: o
acadêmico e o escolar auxiliando o aluno na transformação das representações sociais e na
formação histórica para a construção da consciência histórica. No universo do conhecimento
histórico acadêmico observamos por exemplo que as imagens se tornam fontes para a
produção do saber histórico das sociedades e possibilita outras formas de presença do passado
no presente que permitem aumentar nossos espaços de experiência. Ferramenta fundamental
para a integração entre conhecimento acadêmico e escolar.
Neste aspecto, é possível visualizar quais as perspectivas para se trabalhar o saber
histórico através de metodologias diversas. Ter conhecimento desses métodos de produção e
interação do saber histórico é sem dúvida indispensável para todo e qualquer profissional da
história. Sociedades sem memória perdem grande parte de sua identidade e estão sujeitas a
todos os tipos de absurdos. Sendo assim, a construção do saber histórico passa pelo
cotejamento das lembranças e reminiscências dos mais variados grupos socioculturais de uma
determinada sociedade.
O uso de fontes imagéticas como ferramenta de produção do saber histórico escolar, o
que seria desse saber histórico sem a fotografia como fonte de pesquisa e estudo? Como trazer
para os dias atuais o convívio social da idade moderna? Essa é a segurança que a pesquisa por
meio de fontes imagéticas passa ao professor de história, essa possibilidade de contato com a
sociedade dos séculos anteriores, em especial quando se faltam outras fontes. Desta forma
podemos trazer a luz dos alunos, uma relação que aponta de certa forma a existência entre o
cotidiano retratado nas imagens e o processo de construção desse saber histórico a partir
dessas fontes.
Nesta perspectiva pensar na narrativa é acreditar nessa possibilidade da imagem como
um texto, que produz um saber e como tal está sujeito a interpretação e ressignificação por
parte de quem o observa. Podendo ser visual, escrito ou oral. No processo historiográfico
algumas vezes o imagético é formado unicamente pelo aspecto iconográfico, noutras palavras,
seria o mesmo que dizer que na ilustração de um momento histórico e como ilustração ele
perde o sentido próprio frente a narrativa proposta.
Essa “invisibilidade visual das imagens ocorre em função da supervalorização das
fontes escritas e a não utilização da narrativa imagética da cultura escrita em detrimento da
cultura visual. A própria cultura escolar ocidental está arraigada ao uso da escrita e da
oralidade”. Cecatto e Fernandes (2012, p. 5). Dessa maneira é possível identificar um impasse
em relação à imagem; a maioria dos autores aponta o “erro” dos historiadores em utilizar a
imagem como mera ilustração ou preenchimento da narrativa historiográfica.
Utilizar uma imagem como mera ilustração de um fato ou tempo histórico significa
não levar em consideração a subjetividade que aquela imagem produz, não relacionando dessa
forma, o fato de que a imagem também exerce um discurso narrativo e como tal ele é aberto
as mais variadas interpretações. Entretanto, não se pode simplesmente deixar a imagem falar
por si, uma vez que uma imagem fora de contexto pode não ser capaz de produzir sentido ao
indivíduo que a observa. É inegável que “a história como disciplina tem um encontro marcado
com as fontes visuais” (KNAUSS, p. 115, 2005).

AS NOVAS TECNOLOGIAS NO ENSINO DE HISTÓRIA: O USO DE MÍDIAS NA


SALA DE AULA

A utilização de mídias na educação e nas aulas de história não é recente tão recente
como algumas pessoas podem imaginar. Se observarmos bem, notamos que desde o início do
século passado, vemos em Jonatas Serrano, professor do Colégio Dom Pedro II, um grande
defensor do uso do cinema enquanto meio para tornar as aulas de história mais dinâmicas,
como citado por Circe Bittencourt (2004, p. 371-372). Preocupado com o desinteresse, evasão
e, principalmente, a distância que os conteúdos tinham da realidade dos alunos, Oliveira,
(2014, p. 64) observou que “professores relatavam tentativas de dinamizar o ensino, buscando
usar elementos do cotidiano, normalmente obras midiáticas de grande conhecimento popular,
tentando construir com elas debates e interações entre os alunos. ” Esse método tinha como
objeto a aproximação do ensino da disciplina e o cotidiano dos alunos. Os resultados, segundo
Oliveira, (2014, p. 64) “foram muito animadores”, por meio destes foi possível criar caminhos
para o uso crítico desses elementos em sala de aula.
De acordo com Oliveira (2014, p. 59). Vivemos em um mundo inundado de imagens e
sons cada vez mais rápidos e em enorme fluxo, onde o fictício tem assumido cada vez mais
ares de real, através das realidades virtuais, dos reality shows, de jogos eletrônicos e do
sentido de construção de um presente contínuo que entre notícias na TV e atualizações nos
portais de notícias na TV torna-se cada vez mais fugidio. Com o passar do tempo e
principalmente após a nova Lei de Diretrizes e Bases de 1996 e dos Parâmetros Curriculares
(2001 e 2002), o ensino de história e as pesquisas sobre esse ensino tem apontando cada vez
mais o uso de documentos não escritos, das mídias televisivas, cinematográficas e, mais
recentemente, da internet, como saídas para renovar o ensino da disciplina.
É importante que se ressaltem algumas questões sobre o uso das mídias e
tecnologias nas aulas de história. As autoras e as obras recentes sobre o
ensino de História salientam o chamado uso crítico do livro didático e das
mídias. O que se propõe não é substituir o professor, como se chegou a
pensar que aconteceria a partir do uso cada vez mais frequente da TV na sala
de aula, nem tão pouco substituir as aulas pela exibição de filmes e leitura de
jornais e revistas. O que o uso das mídias pode proporcionar é, caso seja bem
direcionado pelo professor, a construção de uma visão crítica de mundo pelo
aluno e uma dinamização do processo de ensino-aprendizagem (OLIEIRA,
2014, p. 65).

Essas mídias são importantes e devem ser usadas para “empoderar” o aluno, para
despertar seu espírito crítico. Segundo Fonseca (2013). Isso pode ser exercido através da
familiaridade pelo uso. Existem outras formas de uso delas, que apenas a simples consulta.
Selva Fonseca aponta ainda que:

É cada vez mais recorrente, na prática de ensino de História, a criação de


blogs coletivos; fóruns relacionados a temáticas da História; bate-papo
online sobre temas abordados em aula; criação e publicação de vídeos na
internet sobre os assuntos estudados; produção de slides em Power Point
[…] videoconferências, montagem de bancos de dados com documentos,
imagens, textos e outros (2013, p. 370-371).

Outro meio para desenvolver habilidades que sejam interessantes para aprendizagem
histórica podem ser os jogos virtuais, que durante muito tempo foi “destestado” por
professores e pais; tem em grande medida conseguido mais espaço no ambiente escolar
mudando a visão de muitos professores, em algumas áreas. Recentemente muitas pesquisas
tem se debruçado sobre aqueles que utilizam temáticas históricas, como God of War e
Medalha de Honra, que acabam por vezes veiculando o saber histórico, ainda que esse não
tenha intenção didática. Há muitos jogos, como Age of Empires, conhecidos como jogos de
estratégia, onde os participantes do game utilizam mecanismos e, por meio de suas escolhas
em missões dadas, alteram a sucessão dos rumos da História, no jogo. Esses cenários,
normalmente, se utilizam como base civilizações e suas características históricas, para poder
tornar os acontecimentos o mais próximo possível dos fatos históricos. Obviamente os
estereótipos fazem parte dessa construção. O professor pode propor ao aluno o uso desses
jogos, aliado a outras fontes e, dessa forma criar as competências necessárias, valendo-se de
linguagens comuns aos estudantes, possibilitando a capacidade de compreensão criativa, a
autonomia e o conhecimento da História.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos maiores desafios na produção desse artigo foi mostrar como o diálogo com as
várias formas de linguagem (Imagem/Fotografia) foram transformadoras na construção do
saber escolar, que nos traz novas formas de abordar a história. Como bem vimos ao longo
deste trabalho as fontes visuais são uma ferramenta poderosíssima, com isso percebemos que
as imagens usadas de forma adequada mostram guardar em si muitos segredos que nos levam
à constatação que o uso desse tipo de fonte, documento, ou registro nos reverberou a
interpretar e narrar os acontecimentos históricos das sociedades, além de convalidar alguns
relatos adquiridos a partir de outras fontes do saber.
Esta pesquisa buscou ainda deixar claro que é possível trazer as novas abordagens para
o ensino de história e seus objetos para a sala de aula. Este movimento, entretanto, necessita
de uma postura sóbria, uma conduta bem elaborada de quem deseja criar situações onde a
interpretação do objeto histórico não se resuma apenas a uma decodificação, na qual o estudo
das informações da exposição não se confunda com a memorização, e o pensar sobre o tempo
passado não se prenda apenas a reproduzir do que já se conhece.
Os vários outros autores da nova história, iniciada com a escola dos annales em 1929,
proporcionaram para a historiografia as mais variadas fontes de pesquisa que os historiadores
podem fazer uso para se produzir e escrever a história. Com base nisso, é possível criar uma
narrativa de um tempo histórico a partir de uma perspectiva imagética (Fotografia, pintura,
vídeos etc.). Nesse trabalho, buscou-se indicar a importância e também algumas direções e
questões pertinentes para se pensar como trabalhar com fontes visuais no ensino de história
dentro do ambiente escolar.
A cultura visual como forma de pesquisa e ensino que produz relações com outros
objetos e linguagens, que se cria e se discute significados, apresenta-se como um desafio entre
professores. A falta da cultura visual na atualidade se deve à supervalorização do texto escrito
em detrimento das fontes imagéticas. Com o passar do tempo, cada vez mais imagens são
produzidas, para os mais variados fins, necessitando assim de uma “alfabetização visual”,
para que dessa forma seja possível a realização da leitura e interpretação de imagens.

REFERENCIAS

ANDRADE, Ana Maria Mauad de S. Sob o signo da Imagem: a produção da fotografia e o


controle dos códigos de representação social da classe dominante, no Rio de Janeiro, na
primeira metade do século XX. Dissertação de mestrado. Niterói: UFF-CEGICHF, 1990.
BITTENCOURT, Circe. O ensino de história: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez,
2004.
CARDOSO, Ciro Flamarion; MAUAD, Ana Maria. História e Imagem: os exemplos da
fotografia e do cinema. IN: Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de
Janeiro: Campus, 1997.
CECATTO, Adriano; FERNANDES, Márcio Regis. História e Imagem: Linguagem e
Cultura Visual. Teresina: Universidade Federal do Piauí - UFPI, 2012.
FONSECA, Selva. Didática e prática de ensino de história: experiências, reflexões e
aprendizados. Campinas: Papirus, 2013.
KNAUSS, Paulo. O Desafio de Fazer História com Imagens: arte e cultura visual. Niterói:
Niterói Livros, 2006.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. São Paulo: Editora da Unicamp, 1993.
MAUAD, Ana Maria. Fotografia e História – possibilidades de análise. In: CIAVATTA,
M.; ALVES, Nilda (Orgs.). A leitura de imagens na pesquisa social. História, comunicação e
educação. São Paulo: Cortez, 2004, p. 19-36.
MONTEIRO, Charles. História, Fotografia e Cidade: reflexões teórico-metodológicas sobre
o campo de pesquisa. Métis: História & Cultura, 2006.
MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. Fontes Visuais, cultura visual, história visual: Balanço
provisório, propostas cautelares. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 23, n. 45, p. 11-
36, abr. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbh/v23n45/16519.pdf. Acessado em
28/08/2018.

OLIVEIRA, Esdras C. de Lima. Implicações do uso de mídias e de novas tecnologias no


ensino de história. Revista do Lhiste – Laboratório de Ensino de História e Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 1, n. 1, jul – dez, 2014. ISSN
2359-5973. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/revistadolhiste/article/view/48317. Acessado
em 22/03/2019.

RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Tradução: Alain François.


Campinas, SP. Editora da Unicamp, 2007.
RÜSEN, Jörn. Aprendizagem histórica: fundamentos e paradigmas. Curitiba: W.a, 2012.
__________. História Viva: Teoria da História III: formas e funções do conhecimento
histórico. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2007.
SILVA, Marcos A. da. A Construção do Saber Histórico: historiadores e imagens. São Paulo:
Revista História, 1992.

Você também pode gostar