180-Texto Do Artigo-1153-1-10-20200910
180-Texto Do Artigo-1153-1-10-20200910
180-Texto Do Artigo-1153-1-10-20200910
Resumo
Este ensaio trata da Lei nº13.964/2019, que, dentre suas disposições, altera o Código Penal pátrio para
permitir (nos casos de condenações com pena máxima superior a seis anos de reclusão) a decretação
de perda de bens, equivalente à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e o valor que
seria compatível com o seu rendimento lícito, em lógica de política criminal que vai ao encontro das
novas tendências internacionais de melhoria do sistema jurídico para enfrentamento de determinadas
criminalidades extremamente complexas e sofisticadas. Aborda-se, assim, os fundamentos teóricos e
pragmáticos do instituto do confisco alargado, com o escopo de avaliar a introdução dele no ordena-
mento jurídico brasileiro, para concretizar o compromisso mundial da criação de mecanismos mais
efetivos para combate do crime organizado e da corrupção.
Palavras-chave: Confisco. Criminalidade. Combate.
Abstract
This essay deals with Law 13.964/2019, that among its provisions amends the Penal Code to allow (in
cases of convictions with a penalty of more than six years in prison) the decree of loss of property,
equivalent to the difference between the value of the convict’s assets and the value that would be
compatible with his lawful income, in a criminal policy logic that meets the new international trends
of improving the legal system to cope with certain complex and sophisticated crimes. Thus, the theo-
retical and pragmatic foundations of the institute of extended confiscation are approached, with the
scope of evaluating its introduction into the Brazilian legal system, in order to realize the global com-
mitment to create more effective mechanisms to combat organized crime and corruption.
Keywords: Confiscation. Criminal. Combat.
1 Notas introdutórias
A chamada nova Lei Anticrime brasileira, de nº13.964/2019, que passou a viger em 23/01/2020,
prevê, com a alteração do art.91-A, do Código Penal Brasileiro, o chamado confisco alargado de de-
terminados bens envolvidos em atos criminosos específicos, em favor da União e dos Estados, mesmo
que não tenham relação comprovada com o crime. Assim, no caso de condenação por infrações, as
quais a lei comine pena máxima superior a seis anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como
produto ou proveito do crime, de qualquer bem (independentemente da comprovação da origem ilí-
cita) correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que se aponte
compatível com o seu rendimento licito, sendo que, a este, caberá o ônus de demonstrar a procedência
licita do patrimônio, ou a inexistência da incompatibilidade entre seu rendimento e patrimônio.
O objeto deste texto é o de demonstrar que tal medida intensifica o compromisso de criar me-
canismos mais efetivos de combate ao crime organizado e mesmo à corrupção, haja vista os danos
que estas atividades delinquentes causam nomeadamente à Sociedade como um todo. Para tanto, va-
mos, em primeiro lugar, avaliar os fundamentos teóricos e pragmáticos, inclusive internacionais, deste
instituto do confisco alargado, para, depois, passar a enfrentar como se está introduzindo este novo
instituo na legislação brasileira.
A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, legislativa e jurisprudencial de direito
comparado.
Já tivemos oportunidade de dizer (LEAL, 2017, p. 260) que as relações econômicas e políticas
contemporâneas estão muito marcadas pela geração de recursos financeiros exponenciais ilícitos dos
mais diversos (estamos falando do narcotráfico, lavagem de dinheiro, crimes cibernéticos, ambientais,
contra o consumidor e etc.). O problema é que o Estado contemporâneo geralmente não está prepara-
do para tal enfrentamento, principalmente sob a perspectiva preventiva; quiçá em alguns momentos
agentes estatais estão cooperando com aqueles ilícitos.1
É preciso termos em conta que governos e organizações criminosas, não raro, criam formas de
convivência de instáveis equilíbrios (quando não estão operando juntos), na medida em que estas
ajustam suas ações e estratégias de acordo com as políticas públicas que visam lhes enfrentar – mui-
tas vezes contando com a colaboração do próprio Estado. É que as administrações públicas também
coordenam suas políticas, em função das percepções que têm de prioridades conjunturais e eleitorei-
ras. Daí porque Bailey e Taylor (2009, p.04) sustentam que: When governments attempt to control or
repress their activities, criminal groups employ various tools and instruments that might be grouped
into three categories: evasion, corruption, and confrontation.
Por outro lado, historicamente, o Direito Penal tem sido tomado como última alternativa à con-
tenção da violação do sistema jurídico protetor de direitos e garantias individuais e sociais, pelo fato
de usar a força (física e coativa) legítima do Estado, para assegurar a liberdade, o patrimônio e a vida
das pessoas, todavia sempre levando em conta a necessidade da pena, em face dos fins repressivos e
educativos deduzidos, do ilícito cometido e das condições objetivas e subjetivas dos seus protagonistas
e atingidos. Como lembra Gian Paolo Demuro:
Se per Montesquieu ogni pena che non derivi dall’assoluta necessità è tirannica, Beccaria – coe-
rente con la sua visione contrattualistica, che faceva da argine alle tendenze spiritualistiche e al
retribuzionismo etico – nel Dei delitti e delle pene conferma il concetto affermando che «ogni
atto di autorità da uomo a uomo che non derivi dall’assoluta necessità è tirannico», e fondando
il diritto del sovrano di punire «sulla necessità di difendere il deposito della salute pubblica dalle
1 Como adverte Silva Sánchez, a comercialização de produtos ou a utilização de substâncias cujos possíveis efeitos nocivos são ainda desconhecidos, e em regra se manifestam
depois de realizada a conduta, introduzem importantes fatores de incerteza na vida social. Isto faz com que surge a chamada multiplicação emocional do risco existente, pois
cada vez mais pessoas introjetam que podem confiar cada vez menos gente e em circunstâncias cada vez mais excepcionais. SILVA SÀNCHEZ,Jesús-Maria. L’espansione del
diritto penale. Aspetti della politica criminale nelle società industriali. Milano: Giuffrè-Quaderni di diritto penale comparato internazionale ed europeo, 2004.
usurpazioni particolari; e tanto più giuste sono le pene, quanto più sacra e inviolabile è la sicure-
zza, e maggiore è la libertà che il sovrano conserva ai sudditi».2(DEMURO, 2003, p.02)
Ocorre que as relações sociais hodiernas têm níveis de complexidade e tensionalidades agudas
por demais, provocados por múltiplas causas e variáveis (econômicas, culturais, religiosas, de gênero,
raciais, etc.), nem todas conhecidas e previsíveis, gerando incertezas e instabilidades no plano das
consequências muito altas, as quais sequer conseguem ser gestadas pelos ordenamentos jurídicos.
Por isto a necessidade da intervenção penal do Estado tem se alterado ao longo do tempo, mudando
também os níveis de importância de determinados âmbitos da vida social em seu evolver histórico, os
quais reclamam proteção diferida – inclusive penal – para a salvaguarda de bens agora tomados como
indispensáveis para o desenvolvimento sustentável e responsável com as presentes e futuras gerações,
prevenindo riscos e perigos (concretos e abstratos) que podem causar danos irrecuperáveis não só a
interesses individuais, mas fundamentalmente a interesses públicos, difusos e coletivos.3
Então parece adequado associar à ideia de última ratio do Direito Penal com o princípio filosó-
fico e jurídico da proporcionalidade, aqui entendido em estreitos termos como a relação de adequação
ponderada entre a ação típica e a reação punitiva, ou seja, a reação estatal de punição de condu-
tas criminosas só será legítima se proporcional à conduta ofensiva ao bem jurídico protegido, e tal
proporcionalidade tem de ser compreendida como: Se anche poi una condotta venisse ritenuta pe-
nalmente rilevante, ciò non significa automaticamente scelta dello strumento penale. È bene infatti
compiere tre ulteriori valutazioni: di efficacia, di effettività e di necessarietà. (BELFIORE, 2005, p.57)
Nestes cenários, a potencial consciência da ilicitude e a exigência de conduta diversa, para além
de elementos constitutivos da culpabilidade (junto com a imputabilidade), afiguram-se como proces-
sos cognitivos e volitivos complexos, que podem se dar tanto no plano individual, como institucional
(basta vermos o já consolidado reconhecimento normativo e casuístico da responsabilidade penal da
empresa por dano ambiental). Ou seja, a imputação do injusto e da culpabilidade igualmente ganhou
novos contornos axiológicos e deontológicos, cristalizados por regras jurídicas atuais condizentes à
proteção de bens jurídicos penais inovadores (difusos e coletivos), os quais não operam exclusivamen-
te com a correlação sancionatória segregativa pós-fato, mas com mecanismos preventivos e curativos
mais eficazes de persecução e responsabilização (inclusive para evitar o fato criminoso de trágicas e
irremovíveis consequências).
No âmbito destas preocupações e medidas, é que surge a perspectiva do que se tem nominado de
perda alargada na experiência internacional, ou seja, os grupos criminosos desenvolvem uma grande
diversidade de atividades criminosas. Para combater eficazmente a atividade criminosa organizada,
pode haver situações em que seja conveniente que a uma condenação penal se siga a perda não apenas
dos bens associados ao crime em questão, mas também de bens que o tribunal apure serem produto
de outros crimes. Esta abordagem corresponde à noção de «perda alargada».4 (UNIÃO EUROPÉIA,
2014, 19
Mas que bens podem se submeter a esta perda alargada? Os ativos de qualquer espécie, corpóreos
ou incorpóreos, móveis ou imóveis, bem como documentos legais ou atos comprovativos da proprieda-
de desses ativos ou dos direitos com eles relacionados, nos termos do art.2º, item nº2, da Diretiva sob
comento. Claro que a UE optou por operar com regime de congelamento e perda de bens a partir de rol
2 Lembra o autor ainda que: Il postulato illuministico per il quale il di più di libertà soppressa costituisce abuso è ancora oggi – secondo la Corte costituzionale – un pilastro
del nostro sistema penalistico: tutto sta a precisare questo di più in relazione alle misure limitative della libertà strettamente necessarie ad assicurare libertà, uguaglianza e
reciproco rispetto tra i soggetti; nelle scelte criminalizzatrici si tratta cioè di limitare la libertà solo per quel tanto strettamente necessario a garantirla.
3 Ver os textos de ZAPATERO, Luis Arroyo, et ali (coords.). Crítica y justificación del Derecho Penal en el cambio de siglo. El análisis crítico de la Escuela de Frankfurt. Cuenca:
Universidad Castilla la Mancha, 2003; e MARTÍN, Luis Gracia. Fundamentos de Dogmática Penal. Una introducción a la concepción finalista de la responsabilidad penal.
Valencia: Tirant lo Blanch, 2006.
4 Refere o documento do Parlamento Europeu, ainda, em seu item 24: A prática de os suspeitos ou arguidos transferirem os seus bens para terceiros com conhecimento de causa,
de modo a evitar a sua perda, é muito comum e cada vez mais generalizada. O quadro jurídico da União em vigor não contém regras vinculativas em matéria de perda de bens
transferidos para terceiros. Por conseguinte, afigura-se cada vez mais necessário autorizar a perda dos bens transferidos para terceiros ou por eles adquiridos. A aquisição por
terceiros abrange as situações em que, por exemplo, os bens tenham sido direta ou indiretamente adquiridos por um terceiro ao suspeito ou arguido, nomeadamente através
de um intermediário, inclusive quando a infração tenha sido cometida em seu nome ou em seu benefício e quando o arguido não possuir bens suscetíveis de perda. Deverá ser
possível decidir a perda pelo menos nos casos em que o terceiro saiba ou deva saber que a transferência ou aquisição teve por objetivo evitar a perda, com base em circunstân-
cias e factos concretos, inclusive no facto de a transferência ter sido efetuada a título gracioso ou em troca de um montante substancialmente inferior ao do valor de mercado.
As regras relativas à perda de bens de terceiros dever-se-ão aplicar tanto a pessoas singulares como a pessoas coletivas. Em qualquer dos casos, os direitos de terceiros de boa-fé
não deverão ser lesados.
mais fechado de infrações penais, tais como a corrupção no setor público e privado, a contrafação de
moeda, o terrorismo, a lavagem de dinheiro, o tráfico de drogas, os ataques a sistemas de informação, o
tráfico de seres humanos, o abuso sexual, a exploração sexual de criança e a pornografia infantil.5
Avançou, ainda mais, a Diretiva 42/2014, da UE, quando, em seu art.6º, determinou a possibili-
dade da perda de bens de terceiros, com o fim de reprimir a má-fé do acusado e de terceiros, em face
da transferência de bens fraudulentos, com a intenção de evitar o seu confisco, congelamento e perda,
assim referindo:
Os Estados-Membros tomam as medidas necessárias para permitir a perda dos produtos ou
dos bens cujo valor corresponda a produtos que, direta ou indiretamente, foram transferidos
para terceiros por um suspeito ou arguido, ou que foram adquiridos por terceiros a um suspei-
to ou arguido, pelo menos nos casos em que o terceiro sabia ou devia saber que a transferência
ou a aquisição teve por objetivo evitar a perda, com base em circunstâncias e factos concretos,
nomeadamente o facto de a transferência ou aquisição ter sido feita a título gracioso ou em
troca de um montante substancialmente inferior ao do valor de mercado. (UNIÃO EURO-
PÉIA, 2014, 19)
É interessante notar que, mesmo sendo estes institutos de intervenção na propriedade, por
conta da prática de atos criminosos, extremamente invasivos e restritivos de Direitos e Garantias
Fundamentais, no ordenamento normativo europeu avaliado, a sua aplicação não demanda critérios
atinentes exclusivamente à culpabilidade, mas também em face da não tolerância diante do crime e do
enriquecimento ilícito. Por tais fundamentos e outros mais é que Portugal instituiu sua Lei nº5/2002,
de 11/01/2002, estabelecendo regime especial de recolha de prova, quebra do segredo profissional e
perda de bens a favor do Estado, para alguns crimes específicos, dentre os quais, a corrupção passiva e
ativa, o peculato, a participação econômica em negócio e o branqueamento de capitais.6 Em seu art.7º,
2, a norma estabelece qual o patrimônio que pode ser alcançado por ela e, em face de sua amplitude,
percebemos o quão longe foi o Estado Português na luta contra este tipo de criminalidade, o que veio
a ser ratificado por suas cortes de justiça:
2 - Para efeitos desta lei, entende-se por património do arguido o conjunto dos bens: a) Que
estejam na titularidade do arguido, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício,
à data da constituição como arguido ou posteriormente; b) Transferidos para terceiros a título
gratuito ou mediante contraprestação irrisória, nos cinco anos anteriores à constituição como
arguido,c) Recebidos pelo arguido nos cinco anos anteriores à constituição como arguido, ainda
que não se consiga determinar o seu destino. 3 - Consideram-se sempre como vantagens de
actividade criminosa os juros, lucros e outros benefícios obtidos com bens que estejam nas con-
dições previstas no artigo 111.º do Código Penal.7 (PORTUGAL, 2002)
A jurisprudência dos tribunais portugueses já fez constar que são pressupostos do decretamento
de medidas cautelares (no caso, o arresto, art.10º, da Lei 5/2002) para garantia da perda alargada de
bens a favor do Estado, a existência de fortes indícios: (i) da prática de um dos crimes do artº 1º, da
Lei 5/2002; (ii) da desconformidade do património do arguido com o rendimento licito (incongruên-
cia), sendo que as tais medidas podem ser mantidas até que seja proferida decisão final absolutória
(art.11º, 3, da Lei 5/2002), ou até que seja proferida decisão de perda e o arguido pague voluntaria-
mente o valor da incongruência, podendo manter-se para além da decisão final condenatória (art.12º,
4, da Lei 5/2002), não sendo afetado por outra vicissitude processual que não aquelas.8
5 Ver os termos da Decisão-Quadro nº212/2005, do Conselho da União Europeia – depois revogado pela Diretiva 42/2014, mas bastante elucidativo em face dos delitos referi-
dos. Também ver recente artigo de SPINA, Maria Pia. Decreto legislativo 21 giugno 2016, n. 125 - Attuazione della Direttiva 2014/62/UE sulla protezione mediante il diritto
penale dell’euro e di altre monete contro la falsificazione e che sostituisce la Decisione Quadro 2000/383/gai (in g.u. 12.7.2016, n. 161). In http://www.lalegislazionepenale.eu/
wp-content/uploads/2016/12/approfondimenti-spina.pdf, acesso em 08/04/2020.
6 Ver a lei completa no sitio http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=147&tabela=leis&so_miolo=, acesso em 08/04/2020.
7 É de se registrar, entretanto, que o art.9º, do mesmo diploma legal, prevê que: 1 - Sem prejuízo da consideração pelo tribunal, nos termos gerais, de toda a prova produzida no
processo, pode o arguido provar a origem lícita dos bens referidos no n. 2 do artigo 7º. 2- Para os efeitos do número anterior é admissível qualquer meio de prova válido em
processo penal. 3 - A presunção estabelecida no n.º 1 do artigo 7.º é ilidida se se provar que os bens: a) Resultam de rendimentos de actividade lícita; b) Estavam na titularidade
do arguido há pelo menos cinco anos no momento da constituição como arguido; c) Foram adquiridos pelo arguido com rendimentos obtidos no período referido na alínea
anterior. 4 - Se a liquidação do valor a perder em favor do Estado for deduzida na acusação, a defesa deve ser apresentada na contestação. Se a liquidação for posterior à acu-
sação, o prazo para defesa é de 20 dias contados da notificação da liquidação. 5 - A prova referida nos n.os 1 a 3 é oferecida em conjunto com a defesa. Grifo nosso.
8 Conforme Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, de 15-04-2015, Processo nº1669/12.3 – JAPRT. Ver o texto de RODRIGUES, Anabela Miranda. Globalização, democracia
e crime. In: COSTA, José de Faria; SILVA, Marco Antonio Marques da Silva. Direito penal especial, processo penal e direitos fundamentais – Visão luso-brasileira. São Paulo:
Quartier Latin, 2006.
É tão incisiva esta normativa que, nos crimes tratados por ela, o segredo profissional dos mem-
bros dos órgãos sociais das instituições de crédito, sociedades financeiras, instituições de pagamento
e instituições de moeda eletrônica, dos seus empregados e de pessoas que a elas prestem serviço (bem
como o segredo dos funcionários da administração fiscal) podem ser alcançados pela investigação
judicial, basta que o Poder Judiciário apresente razões para crer que as respetivas informações têm
interesse para a descoberta da verdade (art.2º, da Lei 5/2002).9
É certo que a norma sob comento exige decisão judicial à constituição da perda alargada referi-
da, dispondo seu artigo 7º que:
(...)em caso de condenação pela prática de crime referido no artigo 1.º, e para efeitos de perda
de bens a favor do Estado, presume-se constituir vantagem de actividade criminosa a diferença
entre o valor do património do arguido e aquele que seja congruente com o seu rendimento
lícito. (PORTUGAL, 2002)
E nem poderia ser diferente, eis que se trata de violação do direito constitucional de propriedade
o instituto da perda patrimonial. Sobre o ponto já teve oportunidade de se manifestar o Tribunal de
Apelação do Porto, nos seguintes termos:
I. A perda de bens determinada pelo art. 7.º, n.º 1, da Lei n.º 5/2012, de 11 de janeiro, não incide
propriamente sobre bens determinados, mas sobre o valor correspondente á diferença entre o
valor do património do arguido e aquele que seja congruente com o seu rendimento lícito.
II. O Ministério Público deve proceder á liquidação do património incongruente («o montante
apurado como devendo ser perdido a favor do Estado» - art. 8.º, n.º 1), em incidente de liquida-
ção enxertado no processo penal, e promover a sua perda a favor do Estado.
III. Para decidir a liquidação, o tribunal tem em consideração toda a prova produzida no pro-
cesso.
IV. A base de partida é o património do arguido, todo ele, pois o conceito é utilizado no art. 7.º
numa perspetiva omnicompreensiva, de forma a abranger não só os bens de que o arguido seja
formalmente titular (do direito de propriedade ou de outro direito real), mas também aqueles de
que ele tenha o domínio de facto e de que seja beneficiário (é dizer, os bens sobre os quais exerça
os poderes próprios do proprietário), á data da constituição como arguido ou posteriormente.
V. Para este efeito, incluem-se, no património do arguido, os bens transferidos para terceiros de
forma gratuita ou através de uma contraprestação simbólica nos cinco anos anteriores á consti-
tuição de arguido e os por ele recebidos no mesmo período.
VI. Apurado o valor do património, há que confrontá-lo com os rendimentos de proveniência
comprovadamente lícita, auferidos pelo arguido naquele período. Se desse confronto resultar
um «valor incongruente», não justificado, incompatível com os rendimentos lícitos, é esse mon-
tante da incongruência patrimonial que poderá ser declarado perdido a favor do Estado.
VII. Para garantir a efetiva perda desse valor incongruente, pode o Ministério Público requerer
ao juiz que decrete o arresto de bens do arguido.
VIII. O arresto pode incidir sobre bens de que formalmente é titular um terceiro.
IX. O titular de direitos afetados pela decisão pode, tal como o arguido, ilidir a presunção do art.
7.º, n.º 1, da Lei n.º 5/2002, nomeadamente provando (através da demonstração inteligível dos
fluxos económico-financeiros na origem das aquisições em causa) que os bens foram adquiridos
com proventos de atividade lícita.10 (TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTO, 2014, 1653/12.2
– JAPRT)
É nítida, pois, a intenção de buscar coibir a retroalimentação do crime organizado com tais
medidas, bloqueando seu patrimônio ou fonte de rendas, que servem exatamente para viabilizar a
organização, sua inteligência (logística e estratégias de ação cada vez mais sofisticadas) de condutas
criminais lesivas tanto de interesses individuais como transindividuais. É esta a posição de José Cunha
no sentido de que:
(...)a criminalidade económico-financeira vai-se reinventando o organizando-se através de estru-
turas quase impossíveis de desmantelar, criando novos meios que a tornam cada vez mais impla-
9 E mais, uma vez solicitado documentos e informações pela autoridade judiciária a estas pessoas físicas ou jurídicas, e não atendida no prazo estipulado pela norma, ou houver
fundadas suspeitas de que tenham sido ocultados documentos ou informações, a autoridade judiciária titular da direcção do processo procede à apreensão dos documentos,
mediante autorização, na fase de inquérito, do juiz de instrução. (art.3º, 3, da Lei 05/2002).
10 . Ainda referiu o Tribunal que, para quantificar os rendimentos lícitos não basta a prova de que o arguido durante o período em causa exerceu actividade profissional ou auferiu
rendimentos de trabalho, sendo necessário demonstrar os rendimentos daí resultantes para afastar a presunção do valor incongruente a declarar perdido.
cável, sendo em grande parte dos casos insensível a pena de prisão, razão pela qual se deve centrar
esforços para o estabelecimento de regimes de perda mais eficazes. (CUNHA, 2004, p.122)
É interessante que o juiz, também na Espanha, adotará como critério de decretação do decomiso
de determinados bens o que a norma chama de indícios objetivos fundados, sem aclarar o que isto
signifique – tal qual a norma portuguesa anteriormente referida -, tão somente dispondo o artigo 127,
bis, que estes indícios devem ser, especialmente (ou seja, não exclusivamente), valorados a partir dos
seguintes elementos:
1.La desproporción entre el valor de los bienes y efectos de que se trate y los ingresos de origen
lícito de la persona condenada.
2.La ocultación de la titularidad o de cualquier poder de disposición sobre los bienes o efectos
mediante la utilización de personas físicas o jurídicas o entes sin personalidad jurídica interpu-
estos, o paraísos fiscales o territorios de nula tributación que oculten o dificulten la determina-
ción de la verdadera titularidad de los bienes.
3.La transferencia de los bienes o efectos mediante operaciones que dificulten o impidan su lo-
calización o destino y que carezcan de una justificación legal o económica válida.13 (ESPANHA,
1995)
Registre-se que é sob a base normativa deste artigo127, bis, que se impôs o decomiso ampliado
espanhol (a perda alargada portuguesa), afigurando-se como emblemática as razões dispostas nas
exposições de motivos da Lei 01/2015, que veio a modificar o Código Penal Espanhol nestes aspectos,
a saber:
11 Ver acórdão do Tribunal Constitucional nº101/2015, publicado no Diário da República, II Série, de 26-03-2015. Ver igualmente o Acórdão n.º 392/2015 do Tribunal Consti-
tucional, in Diário da República n.º 186/2015, Série II, de 2015-09-23, julgando constitucionais as normas constantes dos artigos 7.º e 9.º, n.os 1, 2 e 3, da Lei n.º 5/2002, de 11
de janeiro, respeitantes ao regime probatório da factualidade subjacente ä perda alargada de bens a favor do Estado.
12 . Ver o texto de BAJO FERNANDEZ, Miguel. Derecho penal económico aplicado a la actividad empresarial. Madrid: Civitas, 1978.
13 Art.127, bis, do Código Penal Espanhol, fonte citada. Dispõe ainda o art.127, quater, do mesmo diploma, que: Se presumirá, salvo prueba en contrario, que el tercero ha cono-
cido o ha tenido motivos para sospechar que se trataba de bienes procedentes de una actividad ilícita o que eran transferidos para evitar su decomiso, cuando los bienes o efectos
le hubieran sido transferidos a título gratuito o por un precio inferior al real de mercado. Ver a crítica que faz a esta disposição o trabalho de GONZÁLEZ CUSSAC, José Luis.
(dir.) Comentarios a la reforma del Código Penal de 2015. Barcelona: Tirant lo Blanch, 2015.
attesi contro l’eventuale penalità), sottratto a un enorme numero di vittime. Secondo le Nazioni
Unite la crisi del 2008, frutto della speculazione finanziaria, è costata 1.100 miliardi di dollari in
termini di occupazione e produzione persa, e ha estorto ai tesori nazionali 430 miliardi di dollari
per assistere (a volte, nazionalizzare) le istituzioni fallimentari. (COSTA, 2016, p.02)
Da mesma forma os recentes atos de terrorismo ocorridos na França fizeram com que o Estado
ampliasse políticas públicas de segurança preventiva e curativa no seu território, tendo de administrar
isto com as diretivas da Comunidade Europeia sobre Direitos Humanos, pois foi preciso criar meca-
nismos de investigação que flexibilizaram algumas garantias dos cidadãos europeus, principalmente
no sentido de averiguações e inspeções pessoais e residenciais (Renucci, 2015).
Tais dados seguramente demandam políticas públicas de prevenção e responsabilização em di-
versos níveis, não se podendo imaginar que somente as medidas coercitivas de natureza penal poderão
resolver ou mesmo diminuir as causas e consequências destes atos criminosos. Na América do Norte,
os Estados Unidos empreendeu movimento semelhante e o fortificou a partir da década de 1970, com a
adoção de alguns instrumentos normativos, como o criminal forfeiture, que estabelece a possibilidade
do confisco de bens como pena, após a condenação penal, isto a partir das disposições do Continuing
Criminal Enterprise Act17, e o Racketeer Influenced and Corrupt Organizations Act18, documentos
que foram uniformizando o enfrentamento estatal da criminalidade organizada. Na América do Sul,
a Argentina, em seu Código Penal, artigo 23, alterado pela Lei nº25.815, B.O.1/12/2003, dispõe que:
En todos los casos en que recayese condena por delitos previstos en este Código o en leyes pena-
les especiales, la misma decidirá el decomiso de las cosas que han servido para cometer el hecho
y de las cosas o ganancias que son el producto o el provecho del delito, en favor del Estado nacio-
nal, de las provincias o de los municipios, salvo los derechos de restitución o indemnización del
damnificado y de terceros. (ARGENTINA, 2003)
Na mesma direção da Lei Espanhola e Portuguesa, este dispositivo penal argentino ainda re-
fere que, quando o autor ou os participantes tenham atuado como mandatários de terceiro ou como
órgãos, membros ou administradores de pessoa jurídica ou ideal, e o produto decorrente do delito
tenha beneficiado ao mandante ou a terceiro, a perda se pronunciará contra estes. Mais ao noroeste da
América Latina, a legislação na Colômbia evoluiu na direção que se aponta, criando a figura da Ação
de Extinção de Domínio, pelos termos da Lei nº333/996 (com base na reforma do artigo 34, da Cons-
tituição da Colômbia, de 1991), que habilita a declaração da extinção de domínio por sentença judicial
dos bens adquiridos mediante enriquecimento ilícito, em prejuízo do Tesouro Público, implicando
grave deterioração da moral social, e ainda fundamentando o novel instituto sob a base do disposto
no artigo 58, da Carta Política de 1991, que sustenta que a propriedade garantida no sistema jurídico
colombiano é aquela adquirida conforme o Direito.
Assim, esta Ação de Extinção de Domínio resta definida como da natureza constitucional, de
caráter real, pois recai sempre sobre bens com aquelas configurações, independentemente do titular e
de que exista juízo penal sobre suas origens, sendo imprescritível e de aplicação retroativa.19É impor-
tante ter claro que a partir da aprovação da Lei nº793/2002, estabeleceu-se na Colômbia a celeridade
em causas penais que apuram crimes cometidos contra o patrimônio público, auxiliando a exequibi-
lidade da extinção de domínio, todavia estas esferas de responsabilização penal e de perda dominial
não se confundem e existem independentemente, justamente porque se reconhece que as causas da
17 Ver o texto de BRENNER, Susan W. RICO, CCE, and Other Complex Crimes: The Transformation of American Criminal Law? In William & Mary Bill of Rights Journal,
239 (1993), http://scholarship.law.wm.edu/wmborj/vol2/iss2/3, acesso em 08/04/2020. Na mesma linha ver o texto de SKALITZKY, William G. Aider and Abettor Liability,
the Continuing Criminal Enterprise, and Street Gangs: A New Twist in an Old War on Drugs. In Journal of Criminal Law and Criminology. Volume 81, nº348, acesso no site:
http://scholarlycommons.law.northwestern.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=6663&context=jclc, acesso em 08/04/2020.
18 Ver o texto de GARRETSON, Heather J. Federal criminal forfeiture: a royal pain in the assets. New York: Creighton University Press, 2015. Ver o repertório de decisões da
Suprema Corte Americana sobre o tema organizado por PAYLOR, Alice F. Racketeer Influenced and Corrupt Organizations Act (RICO). Recent Supreme Court Decisions. In
http://apps.americanbar.org/labor/lel-aba-annual/papers/2002/luce.pdf, acesso em 08/04/2020.
19 Ver o texto de GÓMEZ, Margarita. (org.) Extinción de Dominio en Colombia. Bogotá: Facultad de Finanzas y Relaciones Internacionales, Universidad Externado de Colom-
bia, Noviembre 2002, disponible en http://atecex.uexternado.edu.co/aed/trabajos/EXTINCIONDEDOMINIO.pdf, acesso em 08/04/2020 . Ver também o texto de MIR PUIG,
Santiago. Una tercera vía en materia de responsabilidad penal de las personas jurídicas. In http://criminet.ugr.es/recpc/06/recpc06-01.pdf, acesso em 08/04/2020. No Brasil,
SANCTIS, Fausto Martins de. Combate à lavagem de dinheiro: teoria e prática. Campinas: Millennium, 2008, p.67, lembra que o Reino Unido, Islândia, Estados Unidos,
Austrália e África do Sul já contam com este instituto da extinção de domínio, com excelentes resultados no combate ao crime organizado. Ver também o excelente texto de
ALMEIDA, Carlos Alberto Simões de. Medidas Cautelares e de Polícia do processo penal, em Direito Comparado. Coimbra: Almedina, 2006.
extinção de domínio são mais amplas que as da criminalização de condutas.20 Assim se manifestou a
Corte Constitucional Colombiana:
La evolución legislativa que ha tenido la extinción de dominio y la jurisprudencia constitucional
sobre la materia, permiten enunciar los rasgos principales que definen la figura de la extinción
de dominio: a. La extinción de dominio es una acción constitucional consagrada para permitir,
no obstante la prohibición de la confiscación, declarar la pérdida de la propiedad de bienes ad-
quiridos mediante enriquecimiento ilícito, en perjuicio del Tesoro Público o con grave deterioro
de la moral social. b. Se trata de una acción pública que se ejerce por y a favor del Estado, como
un mecanismo para disuadir la adquisición de bienes de origen ilícito, luchar contra la corrup-
ción creciente y enfrentar la delincuencia organizada. c. La extinción de dominio constituye una
acción judicial mediante la cual se declara la titularidad a favor del Estado de los bienes a que
se refiere la Ley 1708 de 2014, sin contraprestación no compensación de naturaleza alguna. d.
Constituye una acción autónoma y directa que se origina en la adquisición de bienes derivados
de una actividad ilícita o con grave deterioro de la moral social, que se ejerce independiente de
cualquier declaración de responsabilidad penal.21 (COLOMBIA, 2014, C-958/14)
Interessante notar que medidas como estas envolvendo a extinção de domínio, como estamos
vendo, não se enquadram como de natureza penal propriamente dita, mas possuem fundamentos e
justificativas decorrentes também de atos que têm dilapidado historicamente o patrimônio públi-
co. Por tais razões, a Guatemala, através do Decreto nº55/2010, de 07/12//2010, proveniente de seu
Congresso Nacional, criou sua Lei de Extinção de Domínio, demarcando bem os elementos que jus-
tificaram tal medida, e regulando, com boa precisão, os casos e requisitos para que se apliquem os
dispositivos pontuais da perda dominial, envolvendo comportamentos violadores da ordem jurídica,
do interesse e patrimônios públicos.22
Refere esta norma em seu artigo3º, alínea a, que o conhecimento ou a presunção razoável sobre
a origem ilícita ou delitiva dos bens que visam ser alcançados pela extinção de domínio poderão ser
inferidos dos indícios ou circunstâncias de cada caso concreto, mantendo, portanto, a mesma lógica
investigativa e cautelar do instituto penal da perda alargada anteriormente vista. Aliás, nesta norma
guatemalteca, em seu artigo 4º, resta explícita a preocupação de alcançar ilícitos de natureza civil, ad-
ministrativa e penal que tenham gerado patrimônio contaminado pela ilegalidade.
A Cidade do México editou, em 26/11/2013, Decreto regulamentador da Extinção de Domínio
para o Distrito Federal, definindo esta ação como:
la pérdida de los derechos de propiedad de los bienes mencionados en el artículo 5 de esta Ley,
sin contraprestación ni compensación alguna para el afectado, cuando se acredite el hecho ilícito
en los casos de delitos contra la salud en su modalidad de narcomenudeo, secuestro robo de
vehículos y trata de personas, y el afectado no logre probar la procedencia licita de dichos bienes
y su actuación de buena fe, así como que estaba impedido para conocer su utilización ilícita.23
(MEXICO, 2013)
Sob o ponto de vista mais dogmático e em termos de garantias processuais patrimoniais de na-
tureza penal, há mais tempo a legislação internacional já tem se ocupado da matéria, basta vermos o
caso português ao disciplinar, em seu código de processo penal de 1987, no artigo 227, duas medidas
cautelares de natureza patrimonial: a caução econômica e o arresto preventivo.24
20 Ver o excelente texto de HERNÁNDEZ GALINDO, José Gregorio. Naturaleza Constitucional de la Extinción de Dominio: La extinción de la propiedad ilícita ¿una vía para
la reforma agraria?. In Revista Economía Colombiana, nº309. Bogotá, 2014. Na mesma direção o texto de MARROQUÍN ZALETA, Jaime Manuel. Extinción de Dominio.
México: Editorial Porrúa, 2010.
21 Claro que a Lei sob comento assegura ao proprietário dos bens atingidos a demonstrar a origem legítima destes, assim como indicar razões que afastariam a extinção de do-
mínio, conforme o disposto em seu art.8º.
22 Ver no sítio https://www.oas.org/juridico/mla/sp/gtm/sp_gtm_extincion.pdf - acesso 10/02/2020.
23 Ver o documento integral no site: http://www.poderjudicialdf.gob.mx/work/models/PJDF/Transparencia/IPO/Art14/Fr01/01Leyes/LeyExtincionDominio_2014-05-08.pdf,
acesso em 08/04/2020. Os bens que se sujeitam a extinção de domínio no México são os descrito no referido art.5º: I. Aquellos que sean instrumento, objeto o producto del delito,
aun cuando no se haya dictado la sentencia que determine la responsabilidad penal, pero existan elementos suficientes para determinar que el hecho ilícito sucedió; II. Aquellos
que no sean instrumento, objeto o producto del delito, pero que hayan sido utilizados o destinados a ocultar o mezclar bienes producto del delito, siempre y cuando se reúnan los
extremos del inciso anterior; III. Aquellos que estén siendo utilizados para la comisión de delitos por un tercero, si su dueño tuvo conocimiento de ello y no lo notificó a la autoridad
o hizo algo para impedirlo; IV. Aquellos que estén intitulados a nombre de terceros, pero existan suficientes elementos para determinar que son producto de delitos patrimoniales, y
el acusado por estos delitos se comporte como dueño. Grifo nosso.
24 O Tribunal de Relação de Coimbra já teve a oportunidade de dizer que: São pressupostos do decretamento da caução económica: a) A ocorrência de receio objectivo, justificado
e claro relativamente à capacidade das garantias de pagamento; b) A ocorrência de uma substancial e significativa diminuição daquelas; c) A indicação por parte do requerente
dos termos em que a caução deve ser prestada, isto é, a indicação dos valores ou quantitativos cujo pagamento aquela visa garantir. Recurso Penal Nº 1922/04. Relator: DR.
O instituto da perda alargada, ao menos em termos de formatos e efeitos parciais, não é de todo
estranho para a dogmática penal brasileira, basta vermos as disposições que regulam a perda clássica
e a perda por equivalente, disciplinadas no art. 91, II, b e § 1º, do Código Penal brasileiro, estas pres-
supondo a existência de uma condenação do acusado/proprietário.
Também esta discussão sob o ponto de vista dogmático, anterior ao legislativo, está bem presen-
te nos debates da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro – ENCCLA,
que, em 2005, já tratava da necessidade de se elaborar anteprojeto de lei que instituísse a chamada ação
civil de perdimento de bens de origem ilícita, transformada posteriormente no PL nº10.373/2018.28
Tivemos ainda o Projeto de Lei (PL) nº856/2015, da Câmara de Deputados, assim como o PL
nº246/2015, do Deputado Pompeo de Mattos, e a Proposta de Emenda à Constituição – PEC nº10/2015,
proposto pelo próprio Poder Executivo Federal, prevendo a legitimidade ativa do Ministério Público,
da Advocacia-Geral da União, das Procuradorias dos Estados, Municípios e Distrito Federal, para a
propositura da Ação de Extinção de Domínio, a qual foi extraída do pacote anticorrupção pelo plená-
rio da Câmara dos Deputados em 2016.29
A despeito deste histórico, muito não conseguimos evoluir no pais no tratamento desta maté-
ria, restando a segregação da liberdade e multas simbólicas como ferramentas de punição posterior
à ocorrência dos delitos – claro que não estamos esquecendo as medidas cautelares patrimoniais do
Direito Penal brasileiro e as frágeis sanções que se operam sobre bens dos condenados, tais quais as
medidas assecuratórias do artigo125, e seguintes, do Código de Processo Penal brasileiro.30
OLIVEIRA MENDES, Data do Acordão: 15-09-2004. Tribunal: MEALHADA. Acesso pelo sitio: http://www.trc.pt/index.php/jurisprudencia-do-trc/processo-penal/5078-
movimento-judicial-ordinario-julho-2008-sp-21567, em 08/04/2020.
25 As disposições do Código de Processo Penal Italiano prescrevem que: (i) sequestro conservativo (artt. 316-320 c.p.p.): è disposto con ordinanza del Giudice: a) su richiesta
del P.M. quando vi è una “fondata ragione di ritenere che manchino o si disperdano le garanzie per il pagamento della pena pecuniaria, delle spese di procedimento e di ogni
altra somma dovuta all’erario dello Stato” e si esegue sui beni mobili o immobili dell’imputato o sulle somme o cose a lui dovute; b) su richiesta della parte civile “se vi è fondata
ragione di ritenere che manchino o si disperdano le garanzie delle obbligazioni civili derivanti dal reato” e si esegue sui beni dell’imputato o del responsabile civile (art. 316
c.p.p.); (ii) sequestro preventivo (artt. 321-323 c.p.p.): è disposto: a) con decreto motivato del Giudice su richiesta del P.M. “quando vi è pericolo che la libera disponibilità di
una cosa pertinente al reato possa aggravare o protrarre le conseguenze di esso ovvero agevolare la commissione di altri reati”; b) con decreto motivato del P.M. o della Polizia
Giudiziaria che va convalidato dal Giudice entro 48 ore quando “nel corso delle indagini preliminari non è possibile, per la situazione di urgenza, attendere il provvedimento
del giudice” (art. 321 c.p.p.). Ver a decisão da SUPREMA CORTE DI CASSAZIONE, Cassazione penale, sez. II, sentenza 28/06/2012, n° 25520. Ganha reforço aqui a lição de
Calamandrei sobre o fato de que cautelares desta espécie têm dupla instrumentalidade fundada: (i) amplia a perspectiva de efetividade do processo em si, que por sua vez é
instrumento de materialização do direito posto. CALAMANDREI, Piero. Introdução ao estudo sistemático dos procedimentos cautelares. Op. Cit., p.177.
26 Diz o dispositivo: Al dictar el auto de procesamiento, el juez ordenará el embargo de bienes del imputado o, en su caso, del civilmente demandado, en cantidad suficiente para
garantizar la pena pecuniaria, la indemnización civil y las costas. Si el imputado o el civilmente demandado no tuvieren bienes, o lo embargado fuere insuficiente, se podrá decretar
su inhibición. Sin embargo, las medidas cautelares podrán dictarse antes del auto de procesamiento, cuando hubiere peligro en la demora y elementos de convicción suficientes que
las justifiquen. Ver o texto de MAIER, Julio B. Derecho Procesal Penal. I. Fundamentos. Buenos Aires: El Puerto, 2012.
27 No Brasil ver o interessante trabalho de ANSELMO, Márcio Adriano. Lavagem de dinheiro e cooperação jurídica internacional. São Paulo: Saraiva, 2013, assim como o texto
de OLIVEIRA, William Terra de. Algumas questões em torno do novo direito penal econômico. RBCCrim, São Paulo: Ed. RT, n. 11, p. 231-239, 1995.
28 Estas questões estão presentes também nas chamadas Dez Medidas Contra a Corrupção (PLC27/2017), apresentadas pelo Ministério Público Federal, bem como nas Novas
Medidas Contra a Corrupção, elaboradas pela Fundação Getúlio Vargas e pela ONG Transparência Internacional, e publicado pela editora da FGV, Rio de Janeiro, 2018.
29 Ver esta notícia no sítio: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2016/11/30/deputados-derrubam-proposta-de-acao-de-extincao-de-dominio.htm, aces-
so em 14/04/2020.
30 Ver o interessante livro de LEITE, Larissa. Medidas patrimoniais de urgência no processo penal – implicações teóricas e práticas. Rio de Janeiro: Renovar, 2011.
Em termos de perda de bens propriamente dita, as penas restritivas de direitos do Código Penal
brasileiro já as contemplam, desde 1998, pelos termos do seu artigo 43, II, e seguintes, associando-a,
como teto, ao valor correspondente aos prejuízos causados, ou ao provento obtido pelo agente ou por
terceiro, em consequência da prática do crime (parágrafo 3º, do art.43). Tais ônus, todavia, só podem
ser implementados definitivamente após a sentença penal condenatória transitada em julgado.
Também como efeito da condenação vamos ter no sistema jurídico nacional a figura da apreen-
são de bens com modulagem de confisco, disposta no artigo 91, II, do CP, determinando a perda em
favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé: (a) dos instrumentos do crime,
desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito; (b)
do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a
prática do fato criminoso.31 Novamente, isto só pode ocorrer de modo definitivo após a sentença penal
condenatória transitado em julgado.
Por conta da Lei Federal nº12.694/2012, houve certa ampliação destas apreensões, autorizando o
parágrafo 1º, do mesmo artigo 91, a decretação da perda de bens ou valores equivalentes ao produto
ou proveito do crime quando estes não forem localizados ou quando se acharem no exterior, represen-
tando avanço no tratamento da matéria, principalmente tendo em vista ilícitos praticados pelo crime
organizado que se sempre busca escamotear bens e valores auferidos. Nestas hipóteses, o seu parágra-
fo 2º, autoriza que as medidas assecuratórias previstas na legislação processual poderão abranger bens
ou valores equivalentes do investigado, ou acusado, para posterior decretação de perda.32
Tais mecanismos, entretanto, têm se mostrado insuficientes em face dos vultosos danos provo-
cados pela lavagem de dinheiro, corrupção, evasão de divisas e crimes tributários, basta vermos, no
caso brasileiro, os recentes números do crime organizado no âmbito da Operação Lava a Jato33, que
ainda está apurando os crimes praticados junto a Petrobrás.34
Mesmo em períodos delicados como este da pandemia do corona vírus, temos notícias de que
criminosos estão se aproveitando desta situação para aplicar golpes, como a oferta de remédios falsifi-
cados e investimentos fraudulentos, além da captação de fundos para ONGs fictícias. A suspeita é que,
além de estelionatários, grupos terroristas também estejam se aproveitando para lucrar.35
Por conta disto, e no intento de melhorar o sistema jurídico de enfrentamento de determi-
nadas criminalidades cada vez mais complexas e sofisticadas, é que a Lei de Drogas (Lei Federal
nº11.343/2006), em seu artigo 61 (com redação dada pela Lei Federal nº13.840/2019) dispôs que a
apreensão de veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte e dos maqui-
nários, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza utilizados para a prática dos crimes
definidos por esta Lei será imediatamente comunicada pela autoridade de polícia judiciária responsá-
vel pela investigação ao juízo competente, para fins de regular apreensão. O juiz da causa, na sentença
condenatória, determinará o perdimento destes bens a favor da União (artigo63-A).
Importa destacar os interessantes termos do artigo 63-B, da mesma Lei, que determina àquele
magistrado que faça a liberação total ou parcial dos bens, direitos e objeto de medidas assecuratórias,
quando comprovada, pelo indiciado, a licitude de sua origem, mantendo-se, a despeito disto, a cons-
trição dos bens, direitos e valores necessários e suficientes à reparação dos danos e ao pagamento de
prestações pecuniárias, multas e custas decorrentes da infração penal. Ou seja, aqui já temos disposi-
31 Com a nova redação do art.387, IV, do Código de Processo Penal, dada pela Lei Federal nº11.719/2008, é possível ao juiz, na sentença condenatória, fixar valor mínimo a
indenização civil por decorrência da prática do delito, o que configura avanço no sistema penal e processo penal brasileiro.
32 Ver o trabalho de ESSADO, Tiago Cintra. A perda de bens e o novo paradigma para o processo penal brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015.
33 Dados aproximados e defasados da Polícia Federal do Brasil informam que as operações financeiras averiguadas nas investigações da Lava a Jato somam mais de R$8 trilhões
de reais, valores maiores que o PIB nacional de 2019. Ver o site https://epoca.globo.com/politica/expresso/noticia/2017/01/valor-movimentado-na-lava-jato-soma-r-8-tri-
lhoes.html, acesso em 16/04/2020.
34 A despeito do que se conseguiu recuperar dos criminosos, de acordo com dados já defasados: (a) quase três bilhões de reais foram bloqueados de bens ou apreendidos nas vá-
rias fases da operação; (b) quase oitocentos milhões de reais foram repatriados; (c) chega a R$4,069 bilhões o total de valores recuperados por meio de acordos de colaboração
premiada, acordos de leniência, termo de ajustamento de conduta (TAC) e renúncias voluntárias de réus ou condenados, já efetivamente restituídos até o final do ano de 2019,
conforme site http://www.mpf.mp.br/pr/sala-de-imprensa/noticias-pr/valor-devolvido-pela-lava-jato-ja-ultrapassa-os-r-4-bilhoes, acesso em 16/04/2020.Ver também o site:
http://www.pf.gov.br/imprensa/lava-jato/numeros-da-operacao-lava-jato, acesso em 16/04/2020.
35 O presidente do Gafi (Grupo de Ação Financeira), Xiangmin Liu, enviou carta alertando autoridades sobre estes fatos. O Gafi atua globalmente estimulando práticas contra
a lavagem de dinheiro e o financiamento ao terrorismo. Durante a pandemia, Liu avisa que golpes de cunho médico e a disseminação de notícias falsas sobre a doença são
potenciais canais de ação dos criminosos. E recomenda às autoridades criar meios para que as pessoas possam denunciar, conforme noticia veiculada na Folha de São Paulo,
edição de 19/04/2020, ver sitio: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2020/04/gafi-alerta-para-golpes-de-estelionatarios-durante-pandemia-do-coronavirus.shtml,
acesso em 19/04/2020.
ção normativa que se funda na inversão do ônus da prova penal em face da presunção de ilicitude que
paira, ab initio, sobre determinados bens e valores envolvidos em certos crimes – no caso, crime de
drogas-, e que tem consequências restritivas as suas fruições e disponibilidades, com risco de perdas.
Agora, a nova Lei Anticrime – nº13.964/2019 -, em seu artigo 91-A, inovou nesta questão de
segregação e disponibilidade do patrimônio ilícito, ao dizer que, em casos de condenação por infra-
ções às quais a lei preveja pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretado o
perdimento, como produto ou proveito do crime, dos bens atinentes à diferença entre o valor do patri-
mônio do condenado e aquele que seria compatível com o seu rendimento lícito.36 Da mesma maneira
inova o §5º, do mesmo artigo, ao referir que:
(...)os instrumentos utilizados para a prática de crimes por organizações criminosas e milícias
deverão ser declarados perdidos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça onde tramita
a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública,
nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos crimes. (BRASIL, 2019)
E tais inovações vão ao encontro das novas tendências internacionais acima vistas. O comentá-
rio se amolda perfeitamente ao caso brasileiro:
Todos os mecanismos têm, em comum o facto de lhes estar subjacente a mesma política-crimi-
nal, o mesmo propósito de combater eficazmente os lucros susceptíveis de serem gerados pelo
crime podendo, eventualmente, coexistir vários tipos diferentes de instrumentos de perda aqui
referenciados. A primeira das opções para fazer valer os desideratos impostos pelas políticas-
criminais atuais, é aquela em que se parte da ilicitude material. Retrata essencialmente uma
evolução na concepção penalista. Assistimos, nestas situações, à criminalização da perda de be-
nefícios em si mesma, deixamos de a entender como uma consequência da prática de um ilícito,
para a concebermos como sendo ela própria um ilícito-criminal típico, tudo isto numa lógica
de que primeiramente se deve sancionar os meios destinados a esconder as vantagens ilícitas.
(CORREIA, 2012, p.38)
A perda alargada aqui tem, sem sobra de dúvidas, a função de acentuar a prevenção geral e espe-
cial para os fins de evidenciar que o crime não pode render benefícios, bem como busca evitar o (re)
investimento de ganhos ilegais no cometimento de novos crimes, além de reduzir os riscos de con-
corrência desleal no mercado, resultante da aplicação desses lucros ilícitos em determinados setores
empresariais, através da lavagem de dinheiro. Por certo que a jurisprudência pátria vai amoldar ainda
mais o instituto, o que o tempo nos dirá.
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36 Constituem estes bens: (i) aqueles da titularidade do condenado, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou indireto, na data da infração penal ou
recebidos posteriormente; (ii) aqueles transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contraprestação irrisória, a partir do início da atividade criminal. Disposições dos
incisos I e II, do art.91-A, sendo garantido ainda ao condenado a demonstração da inexistência da incompatibilidade referida ou a procedência lícita dos bens sob comento
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