Apostila 82
Apostila 82
Apostila 82
INDIVIDUAIS
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Sumário
INTRODUÇÃO................................................................................................. 3
Referencias: .................................................................................................. 29
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NOSSA HISTÓRIA
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INTRODUÇÃO
Os direitos difusos e coletivos possuem características ímpares que os
distinguem e destacam dos demais direitos por possuírem uma abrangência de maior
amplitude, de forma subjetiva e material, e, portanto, possuem capacidade de uma
tutela diferenciada, que merece proteção diferenciada. O bem jurídico supra individual
surge como forma de albergar tais direitos no ordenamento jurídico.
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menores, são exemplos a justificar a necessidade da tutela penal dos bens jurídicos
transindividuais.
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Acentuam os autores referidos haver uma expansão patológica do Direito
Penal que se caracteriza, inicialmente, com a “incriminação generalizada de
afetações lesivas mínimas”, em flagrante desrespeito ao princípio da subsidiariedade
e fragmentariedade.
Pontuam que a hipertrofia do Direito Penal conta hoje com uma dupla fonte de
impulso: o movimento de “lei e ordem” dirige-se às classes marginalizadas assim
como a prisionização dos excluídos; e o “clamor geral”, suscitado pela “esquerda
punitiva”, ataca as classes abastadas exigindo resposta penal para a
macrocriminalidade. Ambos os movimentos carregam a bandeira da criminalização
ou do endurecimento do Direito Penal.
O grave problema deste tempo é que em meio a todo esse arsenal de defeitos
ou “pecados” do direito penal da atualidade, como se referem os mencionados
juristas, existe a necessidade real de conter os incontáveis riscos advindos da
sociedade pós-moderna. Para tanto, os bens jurídicos coletivos e difusos vêm sendo
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incluídos, mediante contundentes críticas de segmentos da doutrina, sob a tutela
penal.
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determinados. Justifica-se que a finalidade de tais direitos seria permitir o acesso ao
Poder Judiciário, evitando decisões diversificadas diante de um mesmo fato jurídico
que una um grupo determinado de pessoas.
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Os direitos individuais possuem objeto jurídico com tutela própria, através de meios
processuais já identificados, ecom coisa julgada pro et contra. Já os direitos difusos,
coletivos e individuais homogêneos atingem um grande quantitativo de pessoas, e
seus objetos jurídicos podem encontrar-se espraiados em diversas hipóteses a serem
analisadas in concreto, ou como forma de prevenção, evitando-se que ocorram danos
em potencial à coletividade.
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omnes justamente porque não se revela necessária, sendo até
mesmo difícil, a individuação dos lesados na inicial. A sentença
será ilíquida, não só em relação ao quantum devido, mas
também em relação à identificação dos credores.
Nesse sentido podemos elencar duas teses ou teorias que tratam da existência
da pessoa jurídica, a primeira tese, de Savigny (2004), denominada teoria da ficção,
afirma que as pessoas jurídicas são entes fictos e de "pura abstração", sendo
totalmente incapazes de cometer ilícitos penais, conforme o brocardo latino "societas
delin quere non potes’.
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A segunda teoria, denominada teoria da realidade, defende que a pessoa
jurídica possui independência, é portanto real, possui substância e vontade própria,
sujeito de direitos e deveres
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Vários países europeus adotam, de forma excepcional, diga-se de passagem,
a responsabilização de empresas e pessoas jurídicas. O Conselho da Europa, através
de Recomendação, admite a responsabilização direta da pessoa jurídica,
aconselhando os países europeus à inclusão de um sistema penal misto em que se
introduzam sanções extrapenais e penais.
Insta observar que por definição estrita do direito penal brasileiro a pessoa
jurídica não possui responsabilidade penal. Prado (2005, p. 147) explana sobre o
tema da seguinte forma:
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A lição de Levorato (2006, p. 89) evidencia a corrente adotada por muitos
doutrinadores pátrios:
Opera-se então medida que equipara o ente coletivo a incapaz, por não possuir
vontade própria, devendo a voluntas da empresa ser sempre tutelada por pessoas
físicas. Porém observa-se que tal solução não se demonstra eficiente e nem mesmo
adequada, pois o meio buscado ainda não define de forma exata o que pode ser
imposto ao ente e o que poderá ser colocado aos seus responsáveis legais.
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de - seus representantes, diferenciar a "atuação institucional" da "atuação
representativa" tornaria a busca exata pela responsabilização de árduo aferimento.
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atos em que se pode individualizar a conduta do representante que agir em desacordo
com os preceitos normativos. Já em decorrência de atos empresariais e cíveis, onde
prepondera o interesse privado, tal tese não se coaduna de forma perfeita, pois " o
Direito Penal estaria limitado em sua aplicação pelo princípio da subsidiariedade.
DO BEM JURÍDICO
O bem jurídico sofreu uma evolução no seu conceito, posto que o Direito
concebe-se como ciência cultural, ligada a fatores subjetivos jungidos a valores
espaço-temporais. O direito é ciência social como bem explana Prado (2005), o
trinômio do direito - fato, valor e norma, destaca-se na busca de delimitação do bem
jurídico.
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Podemos apontar 4 (quatro) fases evolutivas relativas ao conceito de bem
jurídico. A primeira fase trata de uma concepção liberal ou individual, em que a lesão
ao bem jurídico identifica-se com a lesão ao bem individual, já que nos valores da
época liberal prevalecia o indivíduo sob o Estado, e a tutela do bem jurídico visava
proteger a esfera individual do imenso poderio estatal. A segunda fase possui um
aspecto mais científico, onde o direito busca sua metodologia e cientificidade, aqui o
bem jurídico fica envolto pelas doutrinas positivistas e jusnaturalistas, arraigadas de
conteúdo formal. Na terceira fase; o bem jurídico serve ainda ao indivíduo, porém
agora com o foco na sociedade ou coletividade, surgem os direitos de segunda
geração no período posterior a revolução industrial. Por fim, a quarta e última fase, já
na modernidade, volta-se para o bem jurídico em função da sociedade, possuindo
uma feição funcional, caracterizando direitos de terceira geração fundados na
solidariedade, visando o futuro (Smanio, 2000).
O conceito de bem jurídico, por versar sobre bens que merecem a mais
relevante proteção do ordenamento, não possui uma definição exata e precisa, fato
que enseja diversas dúvidas como bem aponta Souza (2006, p. 231):
Necessário faz-se deixar de logo fixado que não há, como bem
se sabe, um conceito unívoco de bem jurídico. Dada a miríade
de formulações definitórias, fixamo-nos, força de sua precisão e
capacidade operativa, aquela elaborada por Jescheck: "E tarefa
do direito penal proteger bens jurídicos ... estes cifram-se em
bens vitais imprescindíveis para a convivência humana em
sociedade, por isso devem ser protegidos pelo poder coativo do
estado representado pela pena pública.
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O bem jurídico deve se posicionar segundo a realidade social,
formada dos conflitos estabelecidos entre as pessoas,
decorrente de necessidades particulares de satisfação de
interesses diversos, indicando que os bens jurídicos têm um
caráter eminentemente pessoal, ligados às próprias condições
de existência individuada da cada ser humano.
Portanto, deve-se voltar o estudo do bem jurídico sob o viés cultural e histórico
de cada sociedade considerando o indivíduo no seu contexto, porém sem olvidar que
existem bens jurídicos de suma importância que não perdem seu valor, por mais que
ocorram mudanças no devir da humanidade - a vida, a liberdade, o patrimônio -
valores conquistados com revoluções e ideologias liberais, e que representam núcleo
intocável por qualquer Estado democrático de direito. Tais valores, devido a sua
relevância no estado democrático de direito, devem ser perpetuados através da
sistemática do direito penal, quando seus limites foram o ultrapassados, conforme
afirma Prado (2005, p. 109):
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( ... ) Terceira época. 'Crime,i é transgressão da ordem jurídica
estabelecida pelo Poder do Estado(...)
Em uma visão mais flexível, Carnelutti afirma que o bem jurídico penal, na
atualidade, é aquele "protegido pelo Estado para assegurar as condições de vida em
sociedade". Seguido também por Enrico Ferri, que sai em defesa de um "bem jurídico
como atributo e condição necessária à vida social do indivíduo".
Silveira (2003, p. 54), em síntese, explana quais os princípios que regem o bem
jurídico penal. O primeiro princípio é o da lesividade, pelo qual "é indispensável para
a tutela penal de um bem jurídico a comprovação da lesão efetivamente sofrida por
este, sem a qual não será possível a aplicação de qualquer sanção pelo Estado ao
seu ofensor". O segundo princípio é da intervenção mínima, "pelo qual o Direito Penal
somente deverá atuar na proteção de bens jurídicos imprescindíveis à coexistência
pacífica dos homens e que não possam ser eficazmente tutelados por outros ramos
do direito". O terceiro princípio é o da fragmentaridade, "segundo o qual somente
agressões e ataques socialmente intoleráveis a bens jurídicos de extrema relevância
os sujeitam a tutela penal". Por fim, o último princípio é o da subsidiaridade, pelo qual
"o Direito Penal é remédio extremo, somente utilizável quando a atuação de qualquer
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outro dos ramos do direito, como o Direito Civil ou Administrativo, se quedar
insuficiente".
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pelo direito, que estabelece uma relação de disponibilidade, por
meio da tipiticação das condutas.
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O professor de Direito Penal da Universidade Complutense, Guirao (2002)
comenta de forma bastante didática em artigo da Revista Electronica de Direito Penal
y Criminologia o conceito de "sociedade de risco":
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sociedade globalmente considerada. Emergem nesse contexto,
novos bens jurídicos, ou ampliam-se os já existentes.
Aqui desponta uma tradicional colisão de direitos fundamentais que deve ser
resolvida através da interpretação conforme a Constituição e através de regras de
proporcionalidade (Dàvila, Souza, 2006), já por demasiado inclusas no labor do
Supremo Tribunal Federal, órgão a que se atribui apontar a norma constitucional que
deve prevalecer em nosso ordenamento.
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genético, entre tantos outros já citados e outros que ainda irão surgir com a evolução
tecnológica e científica.
Silveira (2003, p. 29) em sua obra sobre Direito Penal Supra individual trata a
respeito da importância do bem jurídico:
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hipóteses elencadas os bens jurídicos supra individuais carregam consigo o caractere
do "interesse público" em seu maior grau de relevância. Portanto sua defesa ainda
causa perplexidade no atuar do poder judiciário, que ao primeiro momento demonstra
certo despreparo em desvencilhar-se do modelo individualista calcado na tutela
processual, e segundo por sua tutela tratar-se de real mudança de "status qud', um
poder inimaginável em tempos pretéritos, ao qual o magistrado ordinário ou de
primeiro grau, ao julgar, pode vincular com seu decisum uma coletividade, Estado, ou
até mesmo o País.
Por óbvio que o objeto de defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos possui também seu caráter patrimonial, pois em primeiro ponto tais bens
são de valor incomensurável, ao passo que afetam uma magnitude de indivíduos, e
em segundo a violação de tais direitos deve reverberar em sanção penal ao ofensor,
através de pecúnia ou demais sanções, observados os limites impostos no direito
penal ao ente coletivo, conforme visto dantes. O aspecto patrimonial da condenação
em virtude dos direitos difusos é discriminado no artigo 13 da Lei 7.347, de 24 de julho
de 1985— Lei de Ação Civil Pública:
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A delimitação do bem jurídico supra individual sempre trará consigo a
incompletude metodológica e a indefinição, posto que seu significado não remonta a
única disciplina, mas -sim a um multifacetado círculo de interesses, como o direito
ambiental, direito ao consumidor, direito da criança e adolescente, direito do idoso
etc.
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Com a expansão do direito penal e a relevância da proteção dos bens jurídicos
supra individuais questiona-se a possibilidade de uma defesa mais expressiva desses
bens que envolvem a coletividade
Aqui, mais uma vez deve-se repisar o caráter mínimo que deve possuir o direito
penal, que não pode e nem deve tutelar bens que não se encontrem sob a máxima
proteção do Estado democrático de direito.
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Não basta que um bem esteja dotado de suficiente importância social para que
a tutela penal seja necessária. Segundo um princípio de Iragmentariedade, é preciso,
primeiramente, que outros meios de defesa social, menos lesivos, como a intervenção
administrativa ou o direito civil, não tenham alcançado êxito na solução do problema,
para só então reconhecer-se a necessidade da intervenção jurídica penal para a
proteção do bem jurídico.
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Novamente, com muita didática e lucidez, ensina Pereira (2008, p. 100):
Caso haja violação a direitos supra individuais, que não se encontrem sob o
manto protetivo das normas positivas, deve o magistrado utilizar-se da regra geral do
artigo 59, do Código Penal, que trata da fixação da pena do réu:
Novas teses surgem para tentar identificar um novel objeto, porém o que
aparenta em suas conclusões são estudos que não conseguem definir e delimitar o
objeto de estudo, nem sequer apontar um verdadeiro ato violado.
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adequação plena a efetividade da tutela almejada, visando à plena prestação
judiciária.
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Referencias:
GOMES, Luiz Flávio; BIANCHINI, Alice. O Direito Penal na era da
Globalização. São Paulo: RT, 2002.
29
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. Direito Penal Supra-
individual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. São Paulo, Ed. Martin Claret,
2002
CARNELUTTI, Francesco. Lições sobre o processo Penal. Vol 01. São Paulo,
Ed. Bookseller, 2004.
D'AVILA, Fábio Roberto; SOUZA, Paulo Vinícius de. Direito Penal Secundário:
estudos sobre crimes econômicos, ambientais, informáticos e outras questões. São
Paulo, Coimbra ed., 2006
DIDIER, Fredie Jr.; ZANETI, Hernies Jr. Curso de Direito Processual Civil -
Processo Coletivo. Salvador, Ed. Podivm, 2007
30
Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: Comentado pelos autores do
anteprojeto. 6' ed., revista e ampliada. São Paulo : Ed. Forense Universitária, 1999.
MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Direitos difusos em juízo: meio ambiente,
consumidor, patrimônio publico e outros interesses. 19 ed. ampliada e atualizada. São
Paulo: Saraiva, 2006.
PRADO, Luiz Régis. Direito Penal do Ambiente. São Paulo, Ed. Revista dos
Tribunais, 2005.
SAVIGNY, Friedrich CarI von. Sistema do Direito Romano Atual. V.3. Uniju(,
2004.
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