Apostila 82

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TUTELA PENAL DOS BENS JUÍRIDICOS SUPRA

INDIVIDUAIS

1
Sumário
INTRODUÇÃO................................................................................................. 3

O DIREITO PENAL DA ATUALIDADE ............................................................ 4

DOS DIREITOS DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS ............. 6


DA RESPONSABILIDADE PENAL QUANTO AO ENTE COLETIVO ........................ 9
DO BEM JURÍDICO ................................................................................................. 14
Do bem jurídico penal ............................................................................. 16

Do Bem Jurídico Supra Individual ............................................................................ 19


Da sociedade de risco ............................................................................ 19

Da delimitação do bem jurídico supra individual..................................... 21

DA PROTEÇÃO DO DIREITO PENAL SOB O BEM JURÍDICO SUPRA-


INDIVIDUAL ............................................................................................................. 24

Referencias: .................................................................................................. 29

1
NOSSA HISTÓRIA

A nossa história, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender a crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a instituição, como entidade oferecendo serviços
educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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INTRODUÇÃO
Os direitos difusos e coletivos possuem características ímpares que os
distinguem e destacam dos demais direitos por possuírem uma abrangência de maior
amplitude, de forma subjetiva e material, e, portanto, possuem capacidade de uma
tutela diferenciada, que merece proteção diferenciada. O bem jurídico supra individual
surge como forma de albergar tais direitos no ordenamento jurídico.

A sociedade contemporânea contempla novas formas de condução em que se


evidenciam riscos e perigos que possuem danos indefinidos as gerações atuais e
futuras. Caberá ao direito balizar os limites de tais comportamentos da sociedade, e
de forma mais relevante caberá ao direito penal proteger a sociedade e as
coletividades para que não se perpetuem violações de grande monta.

O bem jurídico supra individual se verifica como um evoluir natural do direito


penal, que em sua teoria clássica voltava-se somente ao indivíduo, e agora reclama
um novo prisma sob a guarida estatal, a proteção de direitos difusos e coletivos. Os
atos ilícitos cometidos aos bens jurídicos supra individuais devem sofrer a punição
estatal, porém sem olvidar dos preceitos do direito penal e direitos e garantias
individuais já assegurados, evitando-se o expansionismo do direito penal e sua
aplicação simbólica e sem efetividade.

Com o avanço da tecnologia, resultado do período em que se convencionou


chamar de pós-modernidade, surgiram novos riscos sociais, que vêm causando
repercussão em diferentes áreas da Ciência. Assim, os interesses difusos ou supra
individuais, molestados com a probabilidade de danos de grande monta, vêm exigindo
da Ciência Jurídica, sobretudo do Direito Penal, resposta eficaz na contenção desses
riscos.

A ação do homem sobre o meio-ambiente, as lesões e ameaças produzidas


pela biotecnologia, os acidentes nucleares, os mercados econômicos, com as
grandes fusões e o agigantamento de conglomerados de empresas que podem
colocar em risco a liberdade econômica e a livre concorrência, a proteção da infância
e juventude, ameaçada com a proliferação da prostituição infantil e da exploração de

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menores, são exemplos a justificar a necessidade da tutela penal dos bens jurídicos
transindividuais.

É importante perceber que esses bens jurídicos se distinguem, sobremaneira,


dos demais. Para eles, as regras aplicáveis ao Direito Penal tradicional não se
mostram eficazes, e é preciso ter consciência de que sua dogmática se encontra
ainda em fase de elaboração.

Com a finalidade de dar corpo ao incipiente sistema que se delineia, alarga-se


a cominação dos tipos de perigo abstrato, cuja formulação clássica vem sendo
questionada por parte da doutrina, por ferir o princípio da lesividade.

Argumenta-se, ainda, com a possibilidade de um Direito no qual se


flexibilizarão as regras de imputação e se relativizarão as garantias político-criminais
no campo material e processual, anunciando-se tendências que já são a tônica em
leis específicas contra os delitos econômicos, organizados, corrupção e outros crimes
of the powerful.

Entretanto, com todas as dificuldades que cercam o Direito Penal da pós-


modernidade, há de se reconhecer a importância da tutela penal em face dos bens
jurídicos coletivos e difusos para a contenção dos riscos de grandes proporções.
Porém se questiona: como deverá ser realizada sua legítima tutela, já que o direito
penal da secularização, fundado na proteção dos bens individuais, não possui as
ferramentas adequadas e eficazes para conter a criminalidade de nossos dias?

Tal interrogação tem motivado a doutrina contemporânea, a qual vêm


sustentando possíveis soluções para este grande problema que desafia a inteligência
dos penalistas da atualidade.

O DIREITO PENAL DA ATUALIDADE


Conforme Luiz Flávio Gomes e Alice Bianchini, o Direito Penal da atualidade
possui sete “pecados capitais”: hipertrofia irracional, instrumentalização,
inoperatividade, seletividade e simbolismo, excessiva antecipação da tutela penal
(prevencionismo), descodificação, desformalização (flexibilização das garantias
penais, processuais e execucionais), e prisionização.

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Acentuam os autores referidos haver uma expansão patológica do Direito
Penal que se caracteriza, inicialmente, com a “incriminação generalizada de
afetações lesivas mínimas”, em flagrante desrespeito ao princípio da subsidiariedade
e fragmentariedade.

Pontuam que a hipertrofia do Direito Penal conta hoje com uma dupla fonte de
impulso: o movimento de “lei e ordem” dirige-se às classes marginalizadas assim
como a prisionização dos excluídos; e o “clamor geral”, suscitado pela “esquerda
punitiva”, ataca as classes abastadas exigindo resposta penal para a
macrocriminalidade. Ambos os movimentos carregam a bandeira da criminalização
ou do endurecimento do Direito Penal.

Textualizam que essa hipertrofia do Direito Penal é fruto da evolução da ideia


do Estado de Direito, que nasceu com a pretensão de submeter o próprio Estado ao
Direito. À medida que o Estado foi crescendo e ganhando novas missões, maior a
necessidade de invocação da tutela penal. E com a sociedade de riscos, concluem
que o processo vem se agravando gradativamente.

A antecipação da tutela penal, que consiste na criminalização adiantada de


algumas condutas frente ao que tradicionalmente foi considerado seu núcleo básico
ou clássico, ou seja, a lesão ou o perigo concreto de lesão ao bem jurídico protegido,
é também criticada pelos aludidos juristas.

Eles apontam a tendência legislativa e político-criminal, em especial das


últimas duas décadas, no sentido da proliferação de tipos de perigo abstrato que se
destinam à tutela de bens jurídicos supra individuais, em face da sociedade de risco.
Arguem que essas condutas não apenas suscitam conflitos com princípios clássicos
da doutrina penal como também repercutem em problemas de legitimação do direito
de punir, de sua fundamentação e de seus limites.

Merecem atenção tais constatações, pois retratam sem pudor e com


perspicácia a dura realidade do Direito repressivo de nossos dias.

O grave problema deste tempo é que em meio a todo esse arsenal de defeitos
ou “pecados” do direito penal da atualidade, como se referem os mencionados
juristas, existe a necessidade real de conter os incontáveis riscos advindos da
sociedade pós-moderna. Para tanto, os bens jurídicos coletivos e difusos vêm sendo

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incluídos, mediante contundentes críticas de segmentos da doutrina, sob a tutela
penal.

Como toda mudança provoca a desestabilização de conceitos e instituições, é


fácil perceber os motivos da denunciada patologia do Direito Penal da atualidade.
Assim, o grande desafio do jurista da pós-modernidade é compatibilizar as garantias
conquistadas ao longo da história dos Direitos Humanos com as transformações
sociais provocadas pela tecnologia.

DOS DIREITOS DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS


HOMOGÊNEOS

Os conceitos de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos foram


identificados primeiramente no código de defesa do consumidor, Lei 8.078, de 11 de
setembro de 1990. A identificação exata de tais conceitos perpassa por dificuldades
terminológicas e ontológicas, como veremos.

As definições normativas dadas aos institutos são bastante singelas,


perfazendo-se da seguinte forma: aos "interesses" ou direitos difusos, assim
entendidos os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato. De acordo com a doutrina
majoritária são os direitos identificados pelo número indeterminado de pessoas, cujo
direito é impossível individualizar-se perante a coletividade. São citados como
exemplos o direito à saúde, ao meio ambiente, à segurança etc.

Aos denominados "interesses" ou direitos coletivos os transindividuais, de


natureza indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas
entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base. São citados pela
doutrina como direitos dos quais seus titulares pertencem a um grupo comum,
vinculados por um liame jurídico identificável através de uma relação jurídica base,
que pode ser elaborada através das partes de um contrato, sócios de uma associação
ou membros de um sindicato.

Por fim, "interesses" ou direitos individuais homogêneos são assim entendidos


os decorrentes de origem comum, e a doutrina trata tais direitos como aqueles que
são divisíveis e disponíveis, em que seus titulares podem ser identificados e

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determinados. Justifica-se que a finalidade de tais direitos seria permitir o acesso ao
Poder Judiciário, evitando decisões diversificadas diante de um mesmo fato jurídico
que una um grupo determinado de pessoas.

Expõe-se de forma idêntica ao texto do Código de Defesa do Consumidor


(GRINOVER, 1999) o anteprojeto apresentado ao Poder Legislativo que versa sobre
o Código Brasileiro de Processo Coletivo, em seu artigo 2 0 . Tal projeto fora
apresentado pelo Instituto Brasileiro de Direito Processual, com uma novel iniciativa
de tentar nomiatizar tema tão importante para o direito na atualidade (GRINOVER,
2009).

A dificuldade de delimitação dos conceitos acima apresentados encontra-se na


tênue linha que distingue cada um dos institutos. O legislador apresentou uma
qualificação abstrata e ampla, pois não poderia prever cada caso "in concretd',
deixando para a doutrina, e principalmente a jurisprudência definir o que se adequa
ao texto normativo. Dessa feita, os julgados e estudos sobre os temas em questão
são bastante pertinentes a fim de evidenciar a dessemelhança existente entre os
institutos que a doutrina aponta em conjunto através de diversas denominações como
direitos supra-individuais, direitos difusos "tatu sensd', ações coletivas, direitos ultra-
individuais, direitos meta-individuais etc

A problemática da conceituação se dá também no obstáculo encontrado em


caracterizar o objeto do estudo dos direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos. Direitos a exemplo dos direitos ao crescimento e envelhecimento sadio,
à educação, à herança genética, ao livre consumo, ao meio ambiente, à moralidade
e probidade administrativa, à qualidade de vida, à saúde etc, são direitos diversos de
outros como à vida ou ao patrimônio, em que o objeto se verifica de pronto. Os
parâmetros dos objetos defendidos pelos direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos são abstratos, e por vezes confundem-se com políticas públicas ou
regras administrativas, inseridas dentro do contexto do direito civil ou administrativo.

Há que se estabelecer um marco divisório perante a celeuma criada pela


doutrina. O objeto em si é de difícil identificação entre os diversos conceitos
normativos de direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos, porém não
restam quaisquer objeções em diferenciar o objeto de tutela destes direitos dos
denominados direitos individuais, posto que o reflexo criado é completamente diverso.

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Os direitos individuais possuem objeto jurídico com tutela própria, através de meios
processuais já identificados, ecom coisa julgada pro et contra. Já os direitos difusos,
coletivos e individuais homogêneos atingem um grande quantitativo de pessoas, e
seus objetos jurídicos podem encontrar-se espraiados em diversas hipóteses a serem
analisadas in concreto, ou como forma de prevenção, evitando-se que ocorram danos
em potencial à coletividade.

Em ambas as hipóteses dos bens jurídicos a serem defendidos pelos direitos


supra-individuais - a serem analisados in concreto ou impeditivos de dano em
potencial - a coisa julgada também deverá ser diferenciada. Pode-se conceber a coisa
julgada nas "ações coletivas" como coisa julgada secundum eventum probationis ou
ainda secundum eventum litis.

A coisa julgada secundum eventum probationis é aquela que determina que se


houver julgamento por insuficiência de provas, qualquer legitimado estará apto a
intentar nova ação com idêntico fundamento. Tal dispositivo encontra-se no artigo 18
da Lei 4.717 de 29 de junho de 1965— Lei de Ação Popular, e também, no artigo 16
da Lei 7.347 de 24 de julho de 1985 - Lei de Ação Civil Pública, e artigo 103, inciso 1,
da Lei 8.078 de 11 de setembro de 1990 - Código de defesa do Consumidor.

Já a coisa julgada secundum eventum litis é aquela que determina que


somente se fará coisa julgada na hipótese de procedência do pedido ao legitimado
ativo. Encontra-se no artigo 103, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor.

Em cada hipótese de direito supra-individual tutelado poderá haver uma


espécie de coisa julgada, conforme cita Didier, Zaneti (2007, p. 342):

Se difuso, a extensão será erga omnes para atingir a massa


indeterminada de sujeitos daquele direito. Se coletivo stricto
sensu, a extensão será ultra partes, atingindo a todos os
membros da categoria, classe ou grupo, 'perfeitamente
identificáveis (mas, não necessariamente identificados), em
razão da ocorrência de relação jurídica base entre si ou com a
contraparte anterior a lesão. Se individuais homogêneos, a
extensão será erga omnes, atingindo a todos aqueles que
comprovarem a lesão (origem comum) do direito debatido em
juízo. Nesses casos, note-se que a sentença terá eficácia erga

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omnes justamente porque não se revela necessária, sendo até
mesmo difícil, a individuação dos lesados na inicial. A sentença
será ilíquida, não só em relação ao quantum devido, mas
também em relação à identificação dos credores.

Diante da diversidade do tratamento dado aos direitos supra-individuais, pela


sua esfera de aplicação e pela tutela diferenciada que deve ser estabelecida,
devemos nos debruçar um pouco mais sobre o objeto de estudo de tais direitos e sua
responsabilidade para que possamos apontar as diversas orientações que devem ser
seguidas no estudo do tema.

O estudo da responsabilidade penal do ente coletivo é o primeiro passo que o


estudioso deve dedicar-se, observando os caracteres e princípios que regram a
matéria para definir os possíveis sujeitos passíveis da responsabilidade quando da
violação dos direitos difusos "tatu sensci'. Logo após, traçaremos linhas de estudo do
bem jurídico e sua aplicação na matéria dos direitos supra-individuais, para
conhecermos e apreendermos mais atentamente sobre o objeto de estudo do bem
supra-individual e após concluirmos sobre a proteção do direito penal sob o bem
jurídico supra-individual.

DA RESPONSABILIDADE PENAL QUANTO AO ENTE COLETIVO


O direito penal tem como função proteger bens da mais alta relevância para o
indivíduo e para a sociedade, quando não restem outros meios para fazer valer a
vontade estatal. Trata-se da ultima ratio, o ultimo recurso a ser empregado pelo poder
constituído para estabelecer a paz e segurança de uma sociedade.

Quando tratamos de responsabilidade penal e coletividade desponta


inicialmente discutir a responsabilidade da pessoa jurídica como sujeito passivo da
norma penal.

Nesse sentido podemos elencar duas teses ou teorias que tratam da existência
da pessoa jurídica, a primeira tese, de Savigny (2004), denominada teoria da ficção,
afirma que as pessoas jurídicas são entes fictos e de "pura abstração", sendo
totalmente incapazes de cometer ilícitos penais, conforme o brocardo latino "societas
delin quere non potes’.

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A segunda teoria, denominada teoria da realidade, defende que a pessoa
jurídica possui independência, é portanto real, possui substância e vontade própria,
sujeito de direitos e deveres

A Constituição Federal discrimina nos artigos 173, §50 e 225, a


responsabilidade direta da pessoa jurídica em virtude da exploração de atividade
econômica e da responsabilidade ambiental, conforme segue abaixo:

Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta constituição, a


exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será
permitida quando necessária aos imperativos da segurança
nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos
em Lei. § 50. A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual
dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a
responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis
com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem
econômica e financeira e contra a economia popular. Art. 225.
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preserva-lo para as presentes e futuras
gerações. § 30. As condutas e atividades consideradas lesivas
ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos
causados, aplicando-se relativamente os crimes contra o meio
ambiente, o disposto no art. 202, parágrafo 50.

Apesar da estipulação constitucional que determina a responsabilidade penal


às pessoas jurídicas, os postulados de aplicação do direito penal clássico não se
encaixam adequadamente na responsabilização do ente coletivo, seguindo-se a
teoria da ficção de Savigny. Podemos citar como princípios penais de árdua senão
improvável aplicação às pessoas jurídicas os princípios da culpabilidade, da
individualização da pena, da imputação subjetiva etc.

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Vários países europeus adotam, de forma excepcional, diga-se de passagem,
a responsabilização de empresas e pessoas jurídicas. O Conselho da Europa, através
de Recomendação, admite a responsabilização direta da pessoa jurídica,
aconselhando os países europeus à inclusão de um sistema penal misto em que se
introduzam sanções extrapenais e penais.

Insta observar que por definição estrita do direito penal brasileiro a pessoa
jurídica não possui responsabilidade penal. Prado (2005, p. 147) explana sobre o
tema da seguinte forma:

O fundamento de tal orientação radia essencialmente, em que


se encontram ausentes na atividade da própria pessoa jurídica
os elementos seguintes: a) capacidade de ação no sentido
penal estrito; b) capacidade de culpabilidade (princípio da
culpabilidade); c) capacidade de pena (princípio da
personalidade da pena), indispensáveis à configuração de uma
responsabilidade penal subjetiva.

Destaque-se que, o debate sobre responsabilidade penal da pessoa jurídica


encontra-se em ampla discussão perante os doutrinadores pátrios, mesmo sob o
aspecto da responsabilidade penal tomar-se realidade no direito positivo. Aqui
sobreleva dois caminhos a serem trilhados - admitir a necessidade de responsabilizar
penalmente a pessoa jurídica e, portanto rever os postulados do direito penal,
principalmente sobre a culpabilidade e a conduta criminosa; ou ainda manter-se o
sistema atual de responsabilização individual e continuar com situações imprecisas
de adequação da personalidade jurídica delinqüente. Não se pode fechar os olhos a
alguns fatos que ocorrem na atualidade, principalmente quando se trata de atos
ilícitos, que na sociedade contemporânea podem ser cometidos pelos entes
empresariais.

Aponta, portanto, necessidade de penalizar a pessoa jurídica quando seus atos


infringirem regras de direito, porém de forma adequada e legítima. Vale relembrar que
o direito penal é a ultima ratio e deve albergar somente os maiores valores queridos
pela sociedade e Estado, portanto deve-se sempre utilizar da ponderação e
proporcionalidade na estipulação das condutas ilícitas e sanções adequadas, sob
pena de se forjar um direito penal simbólico, sem efetividade e concretude.

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A lição de Levorato (2006, p. 89) evidencia a corrente adotada por muitos
doutrinadores pátrios:

O direito penal apresenta-se como ineficaz na defesa contra os


delitos praticados por pessoa jurídica, eis que sua finalidade é
ressocializar os infratores, o que jamais acontecerá com a
pessoa jurídica. Nesse sentido, reconhecer a responsabilidade
penal da pessoa jurídica teria o condão de simplesmente dar
resposta simbólica aos problemas da sociedade de risco, sob
pena de admitir-se que o sistema penal não está preocupado
com o delinqüente, mas em tranqüilizar a comunidade em sua
eterna busca pela segurança e normalidade social.

A doutrina alienígena demonstra como solução penal "medidas especiais"


quanto a responsabilidade de entes coletivos, posto que as medidas tradicionais do
direito penal devam adequar-se a realidade da personalidade jurídica. Conforme
Smanio (2000, p. 120):

As medidas especiais que seriam aplicadas para as pessoas


jurídicas diferem das medidas de segurança, que são aplicadas
quando o sujeito manifesta periculosidade criminal, ou seja,
capacidade de cometer fatos considerados delituosos, embora
não tenham a capacidade penal de responder por eles mesmos.

Opera-se então medida que equipara o ente coletivo a incapaz, por não possuir
vontade própria, devendo a voluntas da empresa ser sempre tutelada por pessoas
físicas. Porém observa-se que tal solução não se demonstra eficiente e nem mesmo
adequada, pois o meio buscado ainda não define de forma exata o que pode ser
imposto ao ente e o que poderá ser colocado aos seus responsáveis legais.

O sistema de "dupla imputação" também surge como manifestação da doutrina


em apontar a responsabilidade da pessoa jurídica. Tal sistema indica que a
responsabilidade do ente coletivo independe quanto a pessoa física, devendo até
mesmo diante de um fato ilícito ser penalizado em co-autoria. A doutrina também
critica tal teoria por representar dupla sanção, ou um "bis in idem". A análise crítica
possui fundamento teórico, ao passo que a pessoa jurídica atua conforme orientação

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de - seus representantes, diferenciar a "atuação institucional" da "atuação
representativa" tornaria a busca exata pela responsabilização de árduo aferimento.

A Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, dispõe sobre os ilícitos ambientais, e


em seu artigo 30 , parágrafo único, dispõe a responsabilidade da pessoa jurídica
através da tese da dupla imputação, senão vejamos:

Art. 30 As pessoas jurídicas serão responsabilizadas


administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei,
nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu
representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no
interesse ou benefício da sua entidade.. Parágrafo único. A
responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das
pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo
fato. (grifo nosso).

Apesar de estipulada positivamente, a tese colide com os preceitos do direito


penal clássico, e a demonstração de um agir distinto entre ente coletivo e seu
responsável, não se valida com tanta solidez em que se possa distinguir o ilícito de
um ou outro personagem. Ao contrário, por vezes, a conduta é homogênea e o
benefício do ilícito causado poderá fluir da empresa ao seu representante e vice
versa, de forma que como defendemos, toma se de difícil avaliação, a imputação
subjetiva da conduta ilícita através da "dupla imputação".

Existe ainda como tese de imputação de responsabilidade ao ente coletivo a


teoria do "atuar por outro", adotada no direito penal alemão. Tal tese se evidencia na
representação da pessoa física, administrador da pessoa jurídica, em virtude da
pessoa jurídica. O "atuar por outro" amplia a possibilidade de punibilidade da pessoa
jurídica que mesmo sem possuir determinados atributos necessários a caracterizar
sua conduta, pode ser responsabilizada por atuar através de "outrem".

Observa-se certa dificuldade de encaixe no modelo clássico, quanto a tese do


"atuar por outro", que difunde características do representante, pessoa física, ao
representado, ente coletivo. Em nosso ordenamento, podem-se observar alguns
critérios da teoria do "atuar por outro" em relação a certas obrigações de
representantes, em que prepondera o interesse público, como relações
consumeristas, ambientais, tributárias e público-administrativas. Porém somente nos

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atos em que se pode individualizar a conduta do representante que agir em desacordo
com os preceitos normativos. Já em decorrência de atos empresariais e cíveis, onde
prepondera o interesse privado, tal tese não se coaduna de forma perfeita, pois " o
Direito Penal estaria limitado em sua aplicação pelo princípio da subsidiariedade.

Em síntese, as teses demandam sempre incongruências na busca adequada


da conduta a ser examinada - a conduta do ente coletivo - seja personalizado ou não.
Decerto que devemos visualizar que já existem a necessidade de dispositivos que
enquadrem adequadamente a responsabilização penal da pessoa jurídica e também
de entes coletivos despersonalizados, que também podem cometer ilícitos.

A legislação pátria já possui algumas diretrizes normativas consagradas,


protegendo valores como meio ambiente, consumo, e mercado financeiro. Deve-se
equilibrar a inflação legislativa destinada ao direito penal no que tange a
responsabilização da pessoa jurídica, posto que, além de descaracterizar a busca
efetiva de proteção aos bens de relevo, impossibilitará o efeito educativo e psicológico
que deverá surgir na imposição de sanções aos réus.

Contudo, o sistema penal de imputação subjetiva de responsabilidade ainda


não possui uma tese ou teoria adequada que encaixe perfeitamente o atuar do ente
coletivo dentro das premissas penais, pois responsabilidade será apontada ao
representante do ente coletivo, quando o ato ilícito for da esfera penal, ou tomará a
feição de sanção ilícita cível ou administrativa, punindo então o ente coletivo.

DO BEM JURÍDICO
O bem jurídico sofreu uma evolução no seu conceito, posto que o Direito
concebe-se como ciência cultural, ligada a fatores subjetivos jungidos a valores
espaço-temporais. O direito é ciência social como bem explana Prado (2005), o
trinômio do direito - fato, valor e norma, destaca-se na busca de delimitação do bem
jurídico.

Evidencia-se dessa feita, que um bem atualmente protegido pelo último


baluarte repressivo estatal, o direito penal, em determinada época, poderá não sofrer
tal abrigo em outro momento histórico. E assim deve seguir o direito sob pena de
involuir no palmilhar e na evolução da humanidade.

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Podemos apontar 4 (quatro) fases evolutivas relativas ao conceito de bem
jurídico. A primeira fase trata de uma concepção liberal ou individual, em que a lesão
ao bem jurídico identifica-se com a lesão ao bem individual, já que nos valores da
época liberal prevalecia o indivíduo sob o Estado, e a tutela do bem jurídico visava
proteger a esfera individual do imenso poderio estatal. A segunda fase possui um
aspecto mais científico, onde o direito busca sua metodologia e cientificidade, aqui o
bem jurídico fica envolto pelas doutrinas positivistas e jusnaturalistas, arraigadas de
conteúdo formal. Na terceira fase; o bem jurídico serve ainda ao indivíduo, porém
agora com o foco na sociedade ou coletividade, surgem os direitos de segunda
geração no período posterior a revolução industrial. Por fim, a quarta e última fase, já
na modernidade, volta-se para o bem jurídico em função da sociedade, possuindo
uma feição funcional, caracterizando direitos de terceira geração fundados na
solidariedade, visando o futuro (Smanio, 2000).

O conceito de bem jurídico, por versar sobre bens que merecem a mais
relevante proteção do ordenamento, não possui uma definição exata e precisa, fato
que enseja diversas dúvidas como bem aponta Souza (2006, p. 231):

Necessário faz-se deixar de logo fixado que não há, como bem
se sabe, um conceito unívoco de bem jurídico. Dada a miríade
de formulações definitórias, fixamo-nos, força de sua precisão e
capacidade operativa, aquela elaborada por Jescheck: "E tarefa
do direito penal proteger bens jurídicos ... estes cifram-se em
bens vitais imprescindíveis para a convivência humana em
sociedade, por isso devem ser protegidos pelo poder coativo do
estado representado pela pena pública.

Dessa feita, bens reputados importantes em determinada época em uma


sociedade, como o dever de prestar honra aos deuses, de pagar dízimo aos templos,
de vestir-se de luto em respeitos aos mortos, de bastante relevo nas sociedades
primordiais, hodiemamente são considerados deveres morais, não regrados pelo
direito nas sociedades democráticas.

O conceito bem jurídico deve-se postar no panorama da sociedade,


considerando o indivíduo e suas condições conforme explana Pereira (2008, p. 79):

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O bem jurídico deve se posicionar segundo a realidade social,
formada dos conflitos estabelecidos entre as pessoas,
decorrente de necessidades particulares de satisfação de
interesses diversos, indicando que os bens jurídicos têm um
caráter eminentemente pessoal, ligados às próprias condições
de existência individuada da cada ser humano.

Portanto, deve-se voltar o estudo do bem jurídico sob o viés cultural e histórico
de cada sociedade considerando o indivíduo no seu contexto, porém sem olvidar que
existem bens jurídicos de suma importância que não perdem seu valor, por mais que
ocorram mudanças no devir da humanidade - a vida, a liberdade, o patrimônio -
valores conquistados com revoluções e ideologias liberais, e que representam núcleo
intocável por qualquer Estado democrático de direito. Tais valores, devido a sua
relevância no estado democrático de direito, devem ser perpetuados através da
sistemática do direito penal, quando seus limites foram o ultrapassados, conforme
afirma Prado (2005, p. 109):

Essa característica - relatividade - baseia-se 'no lato de que a


avaliação dos círculos de conduta delitiva deve estar conectada
à necessidade de garantia e às representações de valor da
sociedade nas situações históricas singulares".
Essencialmente, há uma dependência "dos interesses mutáveis
e diversos do Estado e da coletividade, pelo que cada sociedade
e cada época têm seus especiais objetos de tutela". Ademais, a
substancialidade do bem jurídico põe em destaque a
necessidade de uma valoração ética.

Voltemo-nos a breve estudo do bem jurídico penal para melhor compreensão


da proteção jurídica dos valores mais resguardados nas sociedades modernas.

Do bem jurídico penal


Avançamos agora para uma delimitação do que se possa tratar como bem
jurídico penal. Ao retratarmos a evolução conceitual de bem jurídico -penal, podemos
destacar de acordo com Smanio (2000, p. 68):

Primeira época: 'Crimen' é atentado contra os deuses ( ... )


Segunda época. 'Crimen' é agressão de uma tribo contra outra.

16
( ... ) Terceira época. 'Crime,i é transgressão da ordem jurídica
estabelecida pelo Poder do Estado(...)

Beccaria (2002), precursor do direito penal moderno, distinguiu o crime da


culpa, elaborando uma divisão necessária entre o Estado e a igreja. A culpa, ou
pecado, ficaria despojado da proteção estatal, retratando uma questão simplesmente
moral, relativa a questões eclesiásticas

O Jusnaturalismo veio imprimir uma instrumentalização do direito penal,


forjando uma nova tese sobre o, bem jurídico, de acordo com Smanio (2000, p. 69):

crime, punível pelo Estado, de acordo com a natureza ou a coisa


ou conforme a razão, deve entender-se como a lesão ou perigo
de lesão, imputável à-vontade humana, de um bem que o poder
do estado tenha garantido a todos de forma igual.

O positivismo jurídico pregava que o bem jurídico era estabelecido


exclusivamente pela norma jurídica penal, colocando-se uma formalidade na visão
compreensiva do bem jurídico penal.

Em uma visão mais flexível, Carnelutti afirma que o bem jurídico penal, na
atualidade, é aquele "protegido pelo Estado para assegurar as condições de vida em
sociedade". Seguido também por Enrico Ferri, que sai em defesa de um "bem jurídico
como atributo e condição necessária à vida social do indivíduo".

Silveira (2003, p. 54), em síntese, explana quais os princípios que regem o bem
jurídico penal. O primeiro princípio é o da lesividade, pelo qual "é indispensável para
a tutela penal de um bem jurídico a comprovação da lesão efetivamente sofrida por
este, sem a qual não será possível a aplicação de qualquer sanção pelo Estado ao
seu ofensor". O segundo princípio é da intervenção mínima, "pelo qual o Direito Penal
somente deverá atuar na proteção de bens jurídicos imprescindíveis à coexistência
pacífica dos homens e que não possam ser eficazmente tutelados por outros ramos
do direito". O terceiro princípio é o da fragmentaridade, "segundo o qual somente
agressões e ataques socialmente intoleráveis a bens jurídicos de extrema relevância
os sujeitam a tutela penal". Por fim, o último princípio é o da subsidiaridade, pelo qual
"o Direito Penal é remédio extremo, somente utilizável quando a atuação de qualquer

17
outro dos ramos do direito, como o Direito Civil ou Administrativo, se quedar
insuficiente".

Tais princípios, como já visualizamos, imprimem reflexos na proteção efetiva


do direito penal sob determinados valores. Conforme exposto acima, a
responsabilização da personalidade jurídica perpassa por tais postulados do direito
penal. Deve-se considerar a lesividade do ato, a intervenção mínima da atuação
estatal, a fragmenta riedade em virtude do ilícito, e a subsidiariedade da sanção a ser
aplicada, quando da atuação da personalidade jurídica, a fim de fixar de forma
irredutível a responsabilidade penal o ente coletivo.

Smanio (2000, p. 88), sintetiza o pensamento de Nelson Hungria, colocando


que o bem jurídico penal distingue-se de maneira ímpar destacando-se sobre os
demais interesses estatais,:

Bem é tudo aquilo que satisfaz a uma necessidade da existência


humana (existência do homem individualmente considerado e
existência do homem em estado de sociedade), e interesse é a
avaliação ou representação subjetiva do bem como tal (Rocco,
L'ogetto dei reato). Bem ou interesse jurídico é o que incide sob
a proteção do direito in genere. Bem ou interesse jurídico
penalmente protegido é o que dispõe da reforçada tutela penal
(vida, integridade corporal, patrimônio, honra, liberdade,
moralidade, fé pública, organização familiar, segurança do
Estado, paz internacional etc.).

Demais notáveis doutrinadores como Damásio, Mirabete, Cezar •Bitencourt e


outros tantos ensinam que o bem jurídico penal possui uma hierarquia diferenciada
em relação a outros bens juridicamente protegidos no ordenamento jurídico. E assim
deve ser em respeito aos postulados dantes examinados e em busca da eficácia do
direito penal.

Acompanhamos Smanio (2000, p. 88), sobre a conceituação do bem jurídico


penal, dentro de uma perspectiva sistêmico-social:

(...) como um objeto da realidade que constitui um interesse da


sociedade para a manutenção de seu sistema social, protegido

18
pelo direito, que estabelece uma relação de disponibilidade, por
meio da tipiticação das condutas.

Porém, a modernidade aponta algumas vertentes que visam transmudar


alguns valores dantes inobservados pela sociedade. A tecnologia, o mercado de
consumo, as novas energias, a manipulação genética, chamam à atenção dos
estudiosos para sua possível periculosidade e surge o debate quanto a uma possível
proteção em virtude dos riscos, que em tese, podem ser causados dessas atividades.

Por outro lado, visualizamos surgir na atualidade riscos mais efetivos e e


concretos, e que atingem a coletividade, fundados na violação dos direitos difusos,
coletivos e individuais homogêneos, como dantes examinados.

Há de se observar a coadunação dos valores violados a uma sociedade de


risco, que pode afetar vários cidadãos, como a proteção dos direitos difusos e
coletivos. Devemos, portanto nos voltar ao estudo do bem jurídico supra individual e
sua caracterização a fim de compreendermos seus limites e definições.

DO BEM JURÍDICO SUPRA INDIVIDUAL


Da sociedade de risco
Realizando-se o estudo do bem jurídico supra individual devemos inicialmente
caracterizá-lo diante das novas realidades que o diferem do bem jurídico strictu sensu
contemporizando-o através da análise dos problemas e obstáculos da sociedade.

A sociedade contemporânea emerge com novas problemáticas dantes


olvidadas pelos estudiosos do direito. Dentre as várias obras do sociólogo alemão
Ulrich Beck sobre a sociedade que se levanta na pós-modernidade aborda-se
primordialmente uma "Sociedade de Risco" (Risikogesel/schaft - Auf dem Weg in eine
andere Moderne -1986) fundada do liberalismo, onde atividades de elevado risco são
realizadas cotidianamente, porém devido à proporção e magnitude do mercado de
consumo, as consequências advindas de tais atividades podem causar • sérios danos
às gerações atuais e frituras.

Reduz-se aqui em apertada síntese o amplo debate que o tema demanda,


porém desejamos frisar a importância que deve ser dada a discussão, posto que o
direito, como regulador da sociedade deve se voltar obrigatoriamente para enfrentar
o tema.

19
O professor de Direito Penal da Universidade Complutense, Guirao (2002)
comenta de forma bastante didática em artigo da Revista Electronica de Direito Penal
y Criminologia o conceito de "sociedade de risco":

La sociedad dei riesgo ha generado un fundamental cambio de


Ia representacián social sobre ei progreso tecnológico: mientras
que en sus comienzos ta tecnoiogía iba dirigida a disminuir,
evitar o reparar riesgos emanados de la naturaleza, en Ia
actualidad se ha convertido en Ia mayor fuente de nesgas,
riesgos que adquieren una potencialidad de destrucción masiva,
tanto espacial como temporalmente, capaz de afectar a
poblaciones 0 enteras, presentes o futuras. E) obrar humano
adquiere con elio un alcance causal sin precedentes, orientado
a un futuro todavia incierto, pero de tintes catastróficos.

A "Sociedade de Risco" representa todo um conjunto de atos e condutas que


indivíduo, grupos, países e nações têm adotado na política e no comércio que podem
influenciar de fato gerações atuais e futuras.

O relevo do tema aponta o questionar quais prioridades devem ser observadas


diante de riscos como energia atômica, manipulações genéticas e danos ao meio
ambiente. A condução de uma política positiva e afirmativa para tentar evitar danos
previsíveis a gerações futuras deve ser ponderado através de regras claras e
precisas, sob pena de um evoluir desgovernado e infrene de empresas mercantilistas
alicerçadas por mercados vorazes e Estados obnubilados, que visam metais e
recursos fáceis.

Prado (2005, p. 118) expõe a perplexidade em que se encontra o direito


perante a "Sociedade de Risco".

Assiste-se, na atualidade, a novas e ampliadas formas de tutela,


resultado do processo evolutivo do Estado liberal para o Estado
social, e à afirmação deste ultimo, que engendra a assunção de
novos deveres (v.g. assistência e promoção), novos riscos (v.g.,
manipulação genética, energia nuclear, transgênicos) e
encaminhamentos, tal como o de salvaguarda de direitos que
transcendem à esfera individual, e se projetam em grupos ou na

20
sociedade globalmente considerada. Emergem nesse contexto,
novos bens jurídicos, ou ampliam-se os já existentes.

A proteção desses novos bens surge como reflexo da crescente "Sociedade


de Risco", e deságua em questionamentos que vão além dos "perigos" a que todos
estão expostos. Como assegurar a proteção de riscos apontados ao futuro através do
direito penal? De que forma deve-se tutelar violações a um essencial limite de "riscos"
a que devem ser expostos a coletividade, em detrimento da evolução e a tecnologia
da humanidade?

Aqui desponta uma tradicional colisão de direitos fundamentais que deve ser
resolvida através da interpretação conforme a Constituição e através de regras de
proporcionalidade (Dàvila, Souza, 2006), já por demasiado inclusas no labor do
Supremo Tribunal Federal, órgão a que se atribui apontar a norma constitucional que
deve prevalecer em nosso ordenamento.

Resta somente evidenciar como o direito penal poderá, de forma ponderada,


balizar normas e regras para que a infringência dos limites deflagrados não reste
impune ao autor/autores. O bem jurídico a ser aqui protegido possui características
"sine qua non" que o destaca de quaisquer outros - primeiro, pelo seu caractere de
fluidez, segundo pela abrangência de suas vítimas e terceiro pelo dano contínuo e
atemporal que pode ser causado. Discute-se tais características a seguir.

Da delimitação do bem jurídico supra individual


Após ponderar pela conceituação do bem jurídico e do bem jurídico penal,
devemos avançar um pouco mais sobre o objeto do presente trabalho e nos
debruçarmos sobre a especificação do bem jurídico supra individual.

De plano podemos identificar que os bens supra individuais almejam a


proteção de valores e bens que ultrapassam a esfera do indivíduo. A essência de tais
bens jurídicos volta-se a esfera do coletivo, grupo ou conjunto de indivíduos, e
identificam-se com valores essenciais, postando-se, em regra, em direitos da
segunda e terceira geração.

Classificam-se como bens supra individuais o meio ambiente, a proteção ao


consumidor, à ordem econômica e financeira, à saúde, à educação, o patrimônio

21
genético, entre tantos outros já citados e outros que ainda irão surgir com a evolução
tecnológica e científica.

Silveira (2003, p. 29) em sua obra sobre Direito Penal Supra individual trata a
respeito da importância do bem jurídico:

Nesse aspecto, grande relevo toma a questão do bem jurídico.


De fundamental importância, sobretudo a partir da ilustração,
mostra-se ele hoje, como elemento básico da missão ou função
do Direito Penal. Cuidando, a princípio, dos interesses
individuais, passou-se, com o evoluir da sociedade moderna, à
necessária inquietação também com os bens coletivos e,
depois, com os bens metaindividuais. Hoje, não sem razão,
diversos valores supra individuais encontram-se penalmente
resguardados, sendo, contudo, motivo de preocupação
dogmática.

Há uma dificuldade na delimitação teórica do bem jurídico supra-individual


(como o há relativo aos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, como
dantes explicado) perante doutrinadores do direito pátrio, pois a preocupação
legislativa não se volta comumente a tais bens de caráter tão vasto, de definição
ampla e difusa, posto que a grande leva de estudiosos e doutrinadores do direito
preocupa-se com valores de cunho individual.

Insta verificar que os bens supra individuais possuem uma fluidez, a


semelhança dos bens jurídicos "Jatu sensu", devido ao aspecto cultural e histórico:
Mas o grau de indefinição também se dá pela própria verificação do bem supra
individual tutelado - de complexa delimitação devido a sua indeterminada
abrangência. A título de exemplo pode-se classificar como bens supra individuais a
proteção de uma floresta, evitando-se a matança indiscriminada de seus espécimes;
• a retirada da veiculação de propaganda enganosa; o direito de acesso ao tratamento
de saúde adequado; a construção de escolas suficientes ao ensino básico de uma
comunidade etc. Tais proteções não se caracterizavam em nosso ordenamento antes
da Constituição de 1988, e agora mostram-se presentes e necessárias.

De se ver que tais valores são indefinidos, pois em determinado momento -- -


defende-se um direito, e noutra oportunidade se impõe um dever, porém em todas

22
hipóteses elencadas os bens jurídicos supra individuais carregam consigo o caractere
do "interesse público" em seu maior grau de relevância. Portanto sua defesa ainda
causa perplexidade no atuar do poder judiciário, que ao primeiro momento demonstra
certo despreparo em desvencilhar-se do modelo individualista calcado na tutela
processual, e segundo por sua tutela tratar-se de real mudança de "status qud', um
poder inimaginável em tempos pretéritos, ao qual o magistrado ordinário ou de
primeiro grau, ao julgar, pode vincular com seu decisum uma coletividade, Estado, ou
até mesmo o País.

Por óbvio que o objeto de defesa dos direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos possui também seu caráter patrimonial, pois em primeiro ponto tais bens
são de valor incomensurável, ao passo que afetam uma magnitude de indivíduos, e
em segundo a violação de tais direitos deve reverberar em sanção penal ao ofensor,
através de pecúnia ou demais sanções, observados os limites impostos no direito
penal ao ente coletivo, conforme visto dantes. O aspecto patrimonial da condenação
em virtude dos direitos difusos é discriminado no artigo 13 da Lei 7.347, de 24 de julho
de 1985— Lei de Ação Civil Pública:

Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo


dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho
Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão
necessariamente o Ministério Público e representantes da
comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição
dos bens lesados.

Apesar de possuir aspecto patrimonial, o bem jurídico supra individual em


essência possui o caractere da indivisibilidade, pois, em regra, não se pode divisar
direitos como o acesso ao meio ambiente sadio e de qualidade, o direito à saúde, a
educação etc. Por óbvio que a tutela pode ser individualizada, mas torna-se
impossível prestar o bem supra individual a um indivíduo somente sem manter a
pecha de tratamento não isonômico e destoante. Assim, não se imagina, em tese,
que uma política pública seja elaborada e posta em prática somente para beneficiar
um indivíduo, pois além de atentar aviltantemente contra o princípio da isonomia,
colide com os princípios da administração e moralidade administrativa.

23
A delimitação do bem jurídico supra individual sempre trará consigo a
incompletude metodológica e a indefinição, posto que seu significado não remonta a
única disciplina, mas -sim a um multifacetado círculo de interesses, como o direito
ambiental, direito ao consumidor, direito da criança e adolescente, direito do idoso
etc.

A indefinição conceitual perpassa também por falta de uma codificação


adequada, posto que a colcha de retalhos que existe atualmente em nosso direito
positivo possui incongruências e erronias, muitas vezes causadas devido ao
desacerto do poder legislativo e executivo em elaborar transformações legislativas
incompatíveis entre si.

Estudiosos do tema como Ada Peliegrini Grinover, Kazuo Watanabe e Antonio


Gidi elaboraram anteprojeto com objetivo de estabelecer um codex a fim de pautar
regras para o processo coletivo. O mesmo já fora apresentado ao poder executivo
pelo Instituto Brasileiro de Direito Processual Civil e encontra-se aguardando
tramitação.

Mesmo diante da imprecisão de um limite que possa ser estabelecido no bem


jurídico supra individual, ousamos gizar um parâmetro que possa diferenciá-lo dos
demais bens jurídicos, como aquele que se caracteriza como bens de natureza difusa
ou coletiva, cujos sujeitos não podem ser identificados de forma restritiva, e que
enseja a proteção estatal em virtude da significativa relevância para as atuais e
futuras gerações.

DA PROTEÇÃO DO DIREITO PENAL SOB O BEM


JURÍDICO SUPRA-INDIVIDUAL
A tutela do bem jurídico reflete a garantia instrumental de obtenção dos direitos
estabelecidos na Magna Carta e na legislação em vigor em nosso ordenamento. Seu
aspecto formal deve transmudar em ferramenta útil ao profissional do direito nas
demandas e litígios, sob pena de ser letra morta não só ao próprio recurso processual,
como também ao direito a ser tutelado, em busca do bem jurídico violado.

Pode-se descrever como ferramentas processuais que servem à defesa de


bens jurídicos supra individuais a ação popular, a ação civil pública, o mandado de
segurança coletivo etc.

24
Com a expansão do direito penal e a relevância da proteção dos bens jurídicos
supra individuais questiona-se a possibilidade de uma defesa mais expressiva desses
bens que envolvem a coletividade

De certa forma, o tema é controverso, e demonstra o debate em que se deve


debruçar o estudioso sob a proteção jurídica adequada aos bens supra individuais
seja no contexto contemporâneo, seja no contexto ad futuro.

Antes de aprofundar-se no debate, deve-se investigar a necessidade de uma


modificação nos paradigmas do direito penal com o fito de adequar-se a contento ao
objeto a ser tutelado, bens jurídicos supra individuais.

O direito penal clássico, como supramencionado, reveste-se dos princípios da


lesividade, subsidiariedade e fragmentariedade. Tais postulados imprimem uma
condição estrita ao direito penal, a punibilidade deve voltar-se, em regra ao indivíduo,
pessoa humana, pois somente este é capaz de possuir o tirocínio de estabelecer uma
conduta típica, antijurídica e culpável.

Decerto que ao se analisar a responsabilidade sob entes coletivos visualiza-se


que o direito positivo brasileiro já possui dispositivos que consagram a
responsabilidade penal da pessoa jurídica pelos crimes descritos, porém não houve
mudança do paradigma penal, o que causa certa perplexidade na busca do grau de
responsabilidade que deve recair sobre o ente coletivo e sobre seus representantes
legais, pessoas físicas.

Os questionamentos levantados giram em tomo de uma dificuldade de


adequação dos princípios penais ao tema colocado e sobre um dilema - deve-se
ampliar a responsabilidade penal de maneira a tutelar bens jurídicos supra
individuais?

Aqui, mais uma vez deve-se repisar o caráter mínimo que deve possuir o direito
penal, que não pode e nem deve tutelar bens que não se encontrem sob a máxima
proteção do Estado democrático de direito.

O que se observa atualmente é a expansão do direito penal, que de certa forma


tenta abrigar normas que tutelam bens jurídicos que poderiam muito bem ser
protegidos por outros regramentos que não fossem criminais, no que acompanhamos
o ensinamento Pereira (2008, p. 85), professor da PUC:

25
Não basta que um bem esteja dotado de suficiente importância social para que
a tutela penal seja necessária. Segundo um princípio de Iragmentariedade, é preciso,
primeiramente, que outros meios de defesa social, menos lesivos, como a intervenção
administrativa ou o direito civil, não tenham alcançado êxito na solução do problema,
para só então reconhecer-se a necessidade da intervenção jurídica penal para a
proteção do bem jurídico.

O poder de polícia administrativo e a responsabilidade civil poderiam muito


bem suplementar muitas regras normativas penais que não fazem mais sentido. Em
exemplo podemos citar a Lei de Contravenções Penais, que em uma sociedade pós-
moderna não representa mais interesse relevante, e, portanto não deveria mais ser
objeto do direito penal.

Insta ressaltar que de forma alguma se coloca em segundo plano a importância


do bem jurídico supra individual sobre outros bens de cunho individual. Sua relevância
exalta a observação de qualquer leigo, posto que seu grau de abrangência gera
benefício a toda a sociedade, e sua proteção deve ser albergada pelo direito,
conforme Prado (2005, p. 117):

Todavia, cumpre observar que no contexto de proteção de


alguns bens jurídicos, mormente de cunho transindividual em
que as dificuldades são ingentes, lança-se mão muitas vezes da
função como parte ou elemento de um todo mais amplo, por
assim dizer contextualizada, ou seja, inserta e aditada em um
contexto legal definido, como meio necessário à proteção de
determinado e específico bem jurídico ou para cumprir certas
finalidades socioeconômicas ou jurídicas, consagradas
inclusive pelo estado democrático e social de Direito. Apesar de
ser reconhecidamente problemática a matéria à luz da garantia
exercida pelo bem jurídico, deve-se ponderar cuidadosamente
sobre sua real importância e as limitações ao seu emprego.

Porém, coloca-se que a responsabilidade penal deve ser delimitada sob


hipóteses excepcionais, e quase todas já se encontram estipuladas na legislação
ordinária. Ampliar o leque dessa proteção deve ser obra forjada através dos
postulados interpretativos da proporcionalidade e da razoabilidade.

26
Novamente, com muita didática e lucidez, ensina Pereira (2008, p. 100):

Corno se pode observar, neste contexto teórico, temos a


evolução da concretização da proteção dos bens jurídicos
individuais através de uma expansão do âmbito de proteção do
indivíduo, de forma progressiva, elevando o diâmetro de
proteção até obter uma sobreposição de direitos individuais de
uma mesma espécie e natureza, compondo assim um grupo
homogêneo, que acaba sendo protegido "universalmente" da
mesma forma, através da tutela de um bem jurídico que passa
a ser supra individual ou universal, sem perder de vista o
referencial do ser humano individuado como fonte e núcleo da
fundamentação da proteção jurídica penal destinada.

Caso haja violação a direitos supra individuais, que não se encontrem sob o
manto protetivo das normas positivas, deve o magistrado utilizar-se da regra geral do
artigo 59, do Código Penal, que trata da fixação da pena do réu:

Art 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à


conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às
circunstâncias e consequências do crime, bem como ao
comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime.

A avaliação da culpabilidade de um indivíduo ou ente coletivo quanto à violação


de direitos supra individuais, sob o aspecto criminal, não deve criar um novo rol de
normatividade penal, posto que a avaliação in abstrato já subsiste.

Novas teses surgem para tentar identificar um novel objeto, porém o que
aparenta em suas conclusões são estudos que não conseguem definir e delimitar o
objeto de estudo, nem sequer apontar um verdadeiro ato violado.

Como já expusemos, o bem jurídico supra individual tem em sua essência a


fluidez e a equivocidade ínsitas de uma proteção a direitos e obrigações que
envolvem uma gama de garantias e preceitos que agregam um fazer, ou não fazer,
de forma específica a cada direito defendido. Não se trata de casuística, mas de uma

27
adequação plena a efetividade da tutela almejada, visando à plena prestação
judiciária.

Os riscos da sociedade devem ser pautados através de regras claras e


precisas, de cunho administrativo ou cível. O direito penal deve ser utilizado em
caráter excepcional, em defesa de bens supra individuais quando a sua lesão for
plausível de verificação plena. Não se pode imputar a quaisquer indivíduos ou entes
coletivos condutas que apesar de representarem riscos iminentes à sociedade, não
se definem em condutas típicas ou ainda onde não se possa evidenciar o grau exato
de culpabilidade do acusado.

Mesmo em defesa de bens excepcionalmente relevantes como os bens supra


individuais, devem sempre ser respeitados os mínimos direitos e garantias individuais,
sob pena de um paradoxo causado por uma política inconsequente, em que se violam
direitos individuais a fim de proteger direitos das coletividades.

28
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