Saúde S.O.S Uma Análise Do Modelo de Gestão Por Organizações Sociais No Município Do Rio de Janeiro
Saúde S.O.S Uma Análise Do Modelo de Gestão Por Organizações Sociais No Município Do Rio de Janeiro
Saúde S.O.S Uma Análise Do Modelo de Gestão Por Organizações Sociais No Município Do Rio de Janeiro
Orientador Acadêmico
PROFª. Drª Alketa Peci
RIO DE JANEIRO
2016
DESIRÉE SILVA DE QUEIROZ MACHADO
RIO DE JANEIRO
2016
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV
III. Título.
CDD – 353.6
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Prof. Alketa, pela paciência e aprendizado, guiando meus passos.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Qualidade dos sites............................................................................................ 38
Figura 2 - Painel de Gestão das Parcerias com Organizações Sociais ............................... 39
LISTA DE ABREVIAÇÕES
Biotech – Biotech Humana Organização Social de Saúde
CEBAS – Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho
Cep 28 – Centro de Estudos e Pesquisa 28
CGCSS – Coordenadoria de Contratos de Serviços de Saúde
Cejam – Centro de Estudos e Pesquisa Dr. João Amorim
CGM – Controladoria Geral do Município
COQUALI – Comissão de Qualificação de Organizações Sociais
CTA – Comissão Técnica de Avaliação
ENSP – Escola Nacional de Saúde Pública
Fibra – Fibra Instituto de Gestão e Saúde
Fiotec – Fundação para o desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde
Iabas – Instituto de Atenção Básica e Avançada em Saúde
NGP – Nova Gestão Pública
OS – Organizações Sociais
ONG – Organização Não Governamental
PDRAE – Plano Diretor de Reforma do Estado
PPP – Parceria Público-Privada
ONG – Organização não governamental
RPS – Rede de Promoção à Saúde
SAS – Instituto SAS
SCNES – Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
S.E.B – Sociedade Espanhola de Beneficência
SES – Secretaria Estadual de Saúde
SMS – Secretaria Municipal de Saúde
SPDM – Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina
SUS – Sistema Único de Saúde
TCM – Tribunal de Contas do Município
TCU – Tribunal de Contas da União
Unifesp – Universidade Federal de São Paulo
SUMÁRIO
1 PROBLEMA .................................................................................................. 10
1.1 Objetivos ..................................................................................................... 14
1.2 Delimitação do Estudo ................................................................................ 15
1.3 Relevância do Estudo .................................................................................. 15
2 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................... 16
2.1 O Modelo de Organizações Sociais como Forma de Parceria Público-
Privada .................................................................................................................. 16
2.2 Experiência Brasileira com Organizações Sociais ....................................... 21
2.3 Elementos Definidores da Capacidade Organizacional das Organizações
Sociais ................................................................................................................... 24
3 METODOLOGIA .......................................................................................... 27
4 RELATÓRIO DA PESQUISA E DISCUSSÕES ............................................ 30
4.1 O Desenho Institucional do Modelo de Gestão por Organizações Sociais no
Município do Rio De Janeiro................................................................................. 30
4.2 Perfil das Instituições .................................................................................. 35
4.2.1 Qualidade dos sites das instituições ...................................................... 35
4.2.2 Características institucionais................................................................ 40
4.2.3 Grau de expertise organizacional.......................................................... 45
4.3 Perfil dos Dirigentes .................................................................................... 48
4.3.1 Profissionalização do corpo dirigente ........................................................ 53
5 CONCLUSÃO ................................................................................................ 56
6 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 60
1 PROBLEMA
Diante desse contexto, para que o município pudesse implantar tais iniciativas na
Secretaria Municipal de Saúde, foram estabelecidas parcerias público-privadas com
organizações sociais (OS). A principal motivação estava em obter maior agilidade e
flexibilidade na gestão municipal dos serviços de saúde, visto que a morosidade da
máquina burocrática inviabilizava a rápida expansão da rede de serviços.
A Lei nº 5.026, de 19 de maio de 2009, permitiu que o Poder Executivo pudesse
qualificar como organizações sociais as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins
10
lucrativos, cujas atividades fossem dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao
desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura, à
saúde e ao esporte, uma vez atendidos os requisitos previstos nessa lei.
Assim, a Comissão de Qualificação de Organizações Sociais (COQUALI) foi
instituída para decidir sobre os requerimentos de qualificação das OS no âmbito do
município do Rio de Janeiro. A COQUALI tem a seguinte composição: Secretário
Municipal da Casa Civil, Procurador Geral do Município, Controlador Geral do
Município, Secretário Municipal de Fazenda e Secretário Municipal de Administração.
Na área da saúde, de acordo com a última deliberação da COQUALI, expedida em 18
de janeiro de 2016, há 23 (vinte e três) instituições habilitadas como organizações
sociais.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) seleciona as instituições qualificadas
como OS a fim de que concorram a parcerias mediante convocação pública, conforme
estabelecido no Art. 9º da Lei nº 5.026/2009.
A convocação pública é uma prerrogativa exclusiva; isto é, as entidades somente
estarão aptas à convocação se qualificadas. Os requerimentos de qualificação são
avaliados pela COQUALI de acordo com o Art. 2º da referida lei. Ademais, todo o
processo de qualificação está discriminado num rol taxativo expresso no Art. 1º.
Contudo, apesar de a legislação exigir uma série de documentos que comprovem a
capacidade técnica e financeira da instituição, ainda assim, quase que diariamente são
veiculadas na imprensa notícias de corrupção envolvendo as OS, consoante exemplos
noQuadro1 a seguir.
11
Quadro 1 - Notícias veiculadas na mídia
O. S. Notícia Fonte
Fiotec _____________ ____________
Rio: roubalheira na saúde cruzou fronteiras do estado http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/rio-roubalheira-na-saude-cruzou-fronteiras-do-estado/
Iabas A imprensa enfim descobre o que todos já sabiam: a http://tribunadainternet.com.br/a-imprensa-enfim-descobre-o-que-todos-ja-sabiam-a-corrupcao-na-
corrupção na Saúde do Rio de Janeiro. saude-do-rio-de-janeiro/
http://www.pco.org.br/movimento-estudantil/novo-escandalo-na-unifesp-faz-cair-diretoria-da-
Novo escândalo na Unifesp faz cair diretoria da SPDM spdm/bbj,y.html
SPDM
TCU identifica irregularidades em licitações da gestora do
Hospital São Paulo http://www.teiapolitica.net/2013/07/tcu-identifica-irregularidades-em.html
http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/21283/TCU-cobra-R$-61-milh%C3%B5es-da-ONG-Viva-
Viva Rio TCU cobra R$ 6,1 milhões da ONG Viva Rio
Rio.htm
MPF e PF desarticulam esquema de corrupção nos http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/11/mpf-e-pf-desarticulam-esquema-de-corrupcao-
S.E.B.
Correios do Rio nos-correios-do-rio.html
Instituto contratado por governo para gerenciar
Maternidade de Patos é envolvido em escândalo http://patosonline.com/post.php?codigo=27318
Fibra
http://www.midianews.com.br/politica/instituto-comete-irregularidade-em-contas-de-
Instituto comete irregularidade em contas de hospitais
hospitais/115455
Cep 28 _____________ ____________
Gnosis _____________ ____________
Paes afasta gestores de OS ligada à máfia da saúde http://oglobo.globo.com/rio/paes-afasta-gestores-de-os-ligada-mafia-da-saude-18251142
Biotech MP descobre elo entre vereador e gestores de hospitais http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2015/12/mp-investiga-ligacao-de-vereador-com-desvio-
presos no Rio de-dinheiro-de-hospitais-do-rio.html
TCM-RJ diz que médicos receberam antes de inauguração http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/11/tcm-rj-diz-que-medicos-receberam-antes-de-
de hospital inauguracao-de-hospital.html
Cejam
MPRJ pede que Souza Aguiar volte a gerir CTI pediátrico, http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/10/mprj-pede-que-souza-aguiar-volte-gerir-cti-
em vez de OS pediatrico-em-vez-de-os.html
Unir TCM aponta irregularidades de R$ 80 milhões em http://extra.globo.com/noticias/rio/tcm-aponta-irregularidades-de-80-milhoes-em-contratos-de-
12
contratos de nove Organizações Sociais na Saúde do Rio nove-organizacoes-sociais-na-saude-do-rio-18440905.html
13
Mesmo com o controle prévio exercido pela COQUALI no momento da
qualificação, e pela SMS ao longo da execução dos contratos, foram encontradas
notícias vinculadas a casos de corrupção em 76% das OS que celebraram contratos de
gestão com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.
Ainda que algumas notícias não estejam associadas especificamente aos contratos
executados no município, fica claro o impacto negativo exercido sobre o modelo de
parceria adotado pela Prefeitura. Some-se a isso o fato de que, nos últimos cinco anos, o
orçamento destinado pelo município às OS aumentou gradativamente à medida que
novas parcerias foram firmadas.
No orçamento de 2016 aprovado pela Câmara, dos R$ 4,9 bilhões destinados à
saúde, as OS terão 38,8%; ou seja, R$ 1,9 bilhão. O valor é maior do que grande parte
dos orçamentos previstos para os 32 (trinta e dois) órgãos do Poder Executivo, só
perdendo para Educação (R$ 6,6 bilhões), Administração (R$ 4,8 bilhões), Obras (R$
2,7 bilhões) e Conservação (R$ 2,6 bilhões) (WERNECK; BOTTARI, 2016).
Considerando esta participação expressiva das OS na área da saúde, assim como
os contínuos casos de corrupção veiculados na mídia, no presente estudo se examinará
até que ponto as instituições qualificadas como organizações sociais, no âmbito do
município do Rio de Janeiro, possuem capacidade organizacional para atuar na gestão
compartilhada como parceiras da Secretaria Municipal de Saúde.
1.1 Objetivos
● Final
● Intermediário
15
exercer a cidadania no país. Formular e executar políticas públicas possíveis e
sustentáveis torna-se necessário para garantir uma gestão eficiente dos recursos
escassos.
O Sistema Único de Saúde (SUS), concebido na Constituição Federal de 1988
como público, universal, integral e igual, gera polêmica. Muito se discute sobre o seu
financiamento/subfinanciamento. Cabe, contudo, ressaltar que, não mais importante que
essa questão, é essencial debater como esses recursos podem ser gerenciados
eficientemente para a entrega de um serviço de qualidade ao cidadão.
Um estudo aprofundado sobre como as OS atuam como cogestoras na execução
de serviços de saúde no município do Rio de Janeiro pode inspirar um benchmarking de
gestão que permita identificar características de organizações capacitadas para assumir
as parcerias com o setor público na área de saúde.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O debate a respeito das razões que levam o Estado a entrar em parcerias com
organizações não governamentais é extenso e controverso (BRINKENHOFF;
BRINKEHOFF, 2002). Tais parcerias, segundo Baião, Peci e Costa(2015) podem ser
representadas não somente por órgãos governamentais e empresas, como também
organizações da sociedade civil, visto que, segundo a retórica reformista, organizações
sem fins lucrativos são mais adequadas para a provisão de serviços em determinadas
áreas caracterizadas por falhas governamentais.
Tais falhas surgem diante da incapacidade de os governos executarem sozinhos
políticas públicas complexas e se fazem presentes na execução de políticas públicas que
visam abranger os serviços sociais, principalmente os do setor de saúde. Associado a
isso cabe destacar, conforme observado por Baggenstoss e Donadone (2014), que a
saúde se apresenta como a “menina dos olhos” para o setor político e a mídia, e fonte de
inquietações para a sociedade.
16
Sendo assim, de acordo com Baião, Peci e Costa (2015), há um consenso de que
alguns problemas da sociedade não podem ser solucionados unicamente por meio das
ações governamentais, nem o mercado pode ser considerado como única alternativa ao
aparelho estatal. Desse modo, alguns autores advogam a capacidade das parcerias com o
terceiro setor, não apenas para oferecer serviços mais eficientes e adaptados às
especificidades locais, mas também para promover a representação e emancipação de
grupos marginalizados.
Visando corrigir essas falhas, alguns governos podem optar por estabelecer
parcerias público-privadas institucionalizando a governança pública. Ao alinhar atores
estatais e não estatais nas ações do governo, pretende-se gerar um conjunto adequado de
práticas democráticas e de gestão que ajudem os países a melhorar suas condições de
desenvolvimento econômico e social (SECCHI, 2009).
Com a difusão da ideia de governança na administração pública, as parcerias
entre governo e organizações não governamentais se proliferaram em vários países
(BAIÃO; PECI; COSTA, 2015).
Segundo Skelcher (2005), as parcerias público-privadas (PPPs) combinam os
recursos do governo com os dos agentes privados (empresas ou organizações sem fins
lucrativos), a fim de alcançar objetivos sociais.
Dessa forma, a principal justificativa para utilização de PPPs está baseada nos
benefícios que podem surgir da combinação de recursos públicos e privados na busca
dos objetivos de políticas públicas.
Para Skelcher (2005), as PPPs surgem com as decisões de make-or-buy (fazer ou
comprar) enfrentadas pelos governos. Eles podem optar por realizar projetos sociais
diretamente, por meio de funcionários públicos e entidades públicas (decisão de fazer),
ou indiretamente, por meio de parcerias com organizações sem fins lucrativos (a decisão
de comprar). A decisão de compra guia-se por uma escolha entre as cinco principais
formas de parceria público-privada: financiamento público (public leverage),
terceirização (contracting out), franquia (franchinsing), joint-ventures e parcerias
estratégicas (strategic partering), conforme detalhado noQuadro 2.
17
Quadro 2- Formas de parceria público-privada
Propósito do Criar condições Obter redução de custos e Transferir a gestão de uma Entregar projetos nos quais o Governo ganha eficiência em
ponto de vista para atrair ganho de eficiência nos organização pública para uma governo e o setor privado, ou processos ao longo prazo por meio da
do governo investimentos do serviços públicos. Reduzir entidade privada organizações sem fins integração da política pública com o
setor privado, de mão de obra e as lucrativos, possuem setor privado, ou organizações sem fins
forma que esse as responsabilidades dos interessem em comum. lucrativos.
considere propícias gestores públicos. Proporciona ao governo
para o acesso ao capital privado para
desenvolvimento o balanço público,
da atividade transferindo o risco para o
econômica. setor privado.
Mecanismo Governo prepara Provisão de serviço Empresa, ou entidade sem fins Contrato entre o governo e Relação aberta e de longo prazo entre
terreno para público por meio de lucrativos, obtém licença do parceiros privados que agentes públicos e privados baseada na
desenvolvimento contrato com organizações governo para entrega de cobrem os custos confiança e no interesse mútuo. Pode
industrial, sem fins lucrativos, ou serviços de interesse público. operacionais. incluir elementos dos demais casos;
promove redução outro órgão público, terceirização, franchising ou Joint
de tributos, geralmente mediante Venture.
subsídios, etc. licitação pública.
Financiamento Público Público Taxas de utilização, Privado; o governo reembolsa Público, mas pode conter
possivelmente com subsídio os custos a longo prazo. financiamento privado.
público adicional ligado à
prestação de serviços não
18
rentáveis, mas socialmente
desejáveis. As taxas
proporcionam a base para o
acesso a fundos de capital pelo
mercado.
Escala de Médio prazo. Prazo entre curto e médio. Médio e longo prazo. Período de Longo prazo. Longo prazo.
Tempo franquia é fixado.
Contratos abertos. Contratos com período Contrato com período fixo. Contrato relacional aberto.
fixo.
Relacionamento Governo procura Comprador público, Provisão privada sob regulação Governo comissiona,
entre parceiros atrair parceiros de fornecedor privado ou de pública especifica o projeto e se
negócios. entidade sem fins compromete a reembolsar
lucrativos. custos. Parceiro privado
financia e/ou constrói, e/ou
gerencia, e/ou operacionaliza
a instalação.
19
Diante dessa perspectiva, no Brasil, de acordo com Baggenstoss e Donadone
(2014), visando promover transformações na gestão governamental, buscaram-se
parcerias com a sociedade após o advento da Lei Federal nº 9.637, intitulada como lei
das organizações sociais. Percebe-se que, na gestão da saúde pública, não é novidade a
utilização de organizações para intermediar a execução de serviços que lhe são
inerentes.
A denominação “organização social” é conferida por meio de um título, que pode
ser atribuído às organizações do terceiro setor candidatas a ele. Com o Novo Código
Civil Brasileiro, de 2002, os tipos de organização não lucrativas do terceiro setor são:
associações, fundações, partidos políticos e organizações religiosas. No entanto,
somente as associações e fundações podem requerer a titulação como OS
(ALCOFORADO, 2005).
Consequentemente, outra característica que permeia as relações nas parcerias
público-privadas é a forma híbrida como são constituídas. Elas utilizam um mix de
recursos provenientes de estruturas de governança de diferentes formas organizacionais,
dessa maneira possuem características públicas e privadas que as tornam estruturas
quasegovernamentais. Assumem, assim, caráter privado ao importar modelos de
negócio para a esfera pública; e, público, ao serem institucionalizadas pelo governo para
tratar de um objetivo de uma política pública específica (SKELCHER, 2005).
Nessas circunstâncias, Rodrigues,Kozonoi eArruda (2012) caracterizam o modelo
de gestão por organizações sociais como híbrido pelo fato de envolver em uma mesma
instituição aspecto de gestão de organizações públicas, privadas e sem fins lucrativos.
Pública porque essas instituições gerenciam recursos oriundos do Estado para realizar
atividades de interesse público com qualidade e eficiência, atendendo à população em
geral. Privada porque a gestão é feita além dos parâmetros do direito público. E sem fins
lucrativos já que a parceria acontece entre Estado e uma organização da sociedade civil
que se dedica a uma causa pública de interesse público, pressupondo a comprovação de
uma vasta experiência.
Igualmente, o hibridismo das parcerias público-privadas também pode ter como
consequência efeitos mistos, pois, como surgem da combinação de recursos públicos e
privados, tendem a gerar efeitos adversos que podem surgir da dicotomia
responsabilidade pública e lógica comercial.
20
Destarte, as parcerias são formadas, por um lado, pelo Estado que as fomenta e
regula e, de outro, por entidade sem fins lucrativos, representada pelas organizações
sociais, que passam a trazer a lógica de mercado para dentro da administração pública
visando garantir, por meio de incentivos ao desempenho, o foco na eficiência.
Porém, em contraposição a essa visão, defensores do modelo OS como forma de
privatização da gestão dos serviços de saúde (ANDREAZZI; BRAVO, 2014) veem a
lógica de mercado de outro prisma, ou seja, as organizações sociaismenos como um
campo de desinteressada filantropia e mais como um campo de fortíssima atividade
econômica que não gera lucros diretamente, todavia, gera receita, superávit, expansão,
concentração e poder – e, com isso, interesses particulares (CONTREIRAS; MATTA,
2015).
Nesse cenário, dá-se como posto o desafio de entender se este modelo de gestão
por organizações sociais pode, realmente, ser caracterizado como uma parceria público-
privada, tornando-se mister um estudo aprofundado, da ótica das teorias existentes, com
o intuito de verificar se as características inerentes ao modelo OS coadunam-se com o
que é preconizado pelos institutos que identificam as reais parceiras do setor público.
21
Assim, segundo Sano e Abrucio (2008), a responsabilização reduz as chances de
erro dos governantes, pois pode corrigir tais equívocos ou, em última análise, levar à
punição dos responsáveis. Trata-se aqui de um aperfeiçoamento cívico contínuo da
sociedade como um todo. E, também, a existência de múltiplos e ininterruptos
instrumentos de accountabilitypossibilita o aprendizado por parte dos policymakers,
sejam os políticos, sejam os burocratas.
Para Secchi (2009), a administração pública gerencial ou nova gestão pública
(new public management) é um modelo normativo pós-burocrático para a estruturação e
a gestão da administração pública baseado em valores de eficiência, eficácia e
competitividade.
A legislação federal que criou as organizações sociais foi editada por meio de
medida provisória em 1997 e regulamentada pela Lei nº 9.637 de 1998.
Como consequência, possibilitou-se a realização de parcerias entre o Estado e a
sociedade baseadas em resultados; o primeiro financiaria as atividades e o segundo, por
meio de entidades qualificadas como organizações sociais, seria responsável pelos
resultados pactuados nos contratos de gestão. Isso viabilizaria maior flexibilidade na
contratação de recursos humanos e na gestão de compras de insumos, já que essas
instituições possuem normas próprias para compras e contratos distintas da Lei Geral de
Licitações. O propósito central do PDRE foi proporcionar um marco institucional de
transferência de atividades estatais para o terceiro setor por meio da publicização e, com
isso, contribuir para o aprimoramento da gestão pública estatal e não estatal (BRASIL,
1997).
Brasil (1997) define as OS como um modelo de organização pública, nãoestatal,
destinado a absorver atividades publicizáveis mediante qualificação específica. Trata-se
de uma forma de propriedade pública nãoestatal, constituída pelas associações civis sem
fins lucrativos, que não são propriedade de nenhum indivíduo ou grupo e orientam-se
diretamente para o atendimento do interesse público. As OS são um modelo de parceria
entre o Estado e a sociedade. O Estado continuará a fomentar as atividades publicizadas
e exercerá sobre elas um controle estratégico: demandará resultados necessários ao
alcance dos objetivos das políticas públicas. O contrato de gestão é o instrumento que
regulará as ações das OS.
22
No entanto, o contrato de gestão é um instrumento de compromisso administrativo
interno ao Estado, firmado entre o poder executivo e a diretoria de associações de
direito privado sem fins lucrativos, a depender de este poder considerar de interesse
público não estatal e, assim, credenciar a organização como social (ANDRÉ, 1999).
Segundo Alcoforado (2008), a organização social é a entidade apropriada para a
execução de serviços sociais que requerem flexibilidade de gestão e agilidade sem
submissãoàs leis de licitação, nem à contratação de pessoal por concurso público. Isto
não quer dizer que estas organizações não sejam controladas. Muito pelo contrário, há
regras que se enquadram às atividades desenvolvidas pela organização, mas que não
acarretam demora, nem utilizam etapas que venham dificultar ou atrasar a prestação do
serviço à população. São criadas regras gerais que a organização deve seguir,
respeitando os requisitos de flexibilidade da gestão, agilidade e transparência.
Com a criação do PDRAE, o setor de saúde passa a ser classificado como um
serviço não exclusivo do Estado, já que se trata de atividade em que este pode não atuar,
porém há de se fazer presente uma vez que envolve direitos humanos fundamentais.
Esses serviços podem ser desenvolvidos pela iniciativa pública nãoestatal. Nesse setor,
a administração pública deve seguir o ideal do NPM, e a propriedade deve ser pública
nãoestatal, ou seja, destinada a órgãos do terceiro setor, o que torna mais fácil o controle
social e proporciona maior celeridade e responsabilidade na gestão (BRASIL, 1997).
Nesse contexto, estados e municípios da federação reproduziram este modelo de
arranjo institucional emitindo legislações próprias de acordo com seus respectivos
âmbitos de atuação.
No Estado de São Paulo, de acordo com Baggenstoss e Donadone (2014), a Lei
Complementar nº 846 foi assinada por Mário Covas, em 04 de junho de 1998, em
seguida à promulgação da lei federal, estabelecendo que a entidade a ser qualificada
como OS deveria ser pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos e com
atividades voltadas à saúde e à cultura.
Em 2007, conforme estudo de Sano e Abrucio (2008), das setenta OS criadas no
país, vinte e cinco tinham suas atividades fins direcionadas ao setor da saúde. Nessa
época, tal formato institucional no setor de saúde já estaria presente no estado de São
Paulo, na capitale em São José dos Campos, Espírito Santo, Bahia, Pará, Goiás e
Paraná.
23
No estado do Rio de Janeiro, foi promulgada a Lei nº 6.043, de 19 de setembro de
2011, de autoria do então governador, Sergio Cabral. Segundo, a Secretaria Estadual de
Saúde (SES), em fevereiro de 2016 tem-se dezesseis entidades qualificadas como
organizações sociais atuando na saúde (SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO
RIO DE JANEIRO, 2016).
No município do Rio de Janeiro, a lei das OS foi editada no primeiro mandato do
prefeito Eduardo Paes, em 2009. Assim, conforme deliberação COQUALI, de 18 de
janeiro de 2016, há cinquenta e uma entidades qualificadas como organizações sociais,
sendo vinte e três atuantes na saúde (SECRETARIA MUNICIPAL DA CASA
CIVIL,2016).
Diante desse panorama, apesar de se verificar um aumento considerável de
instituições qualificadas, coloca-se em xeque a importância de se entender melhor a
capacidade de o mercado assumir estas parcerias com o poder público, visto que se trata
de ponto pouco abordado na literatura, mas de grande relevância prática.
24
OSS, pondo em xeque a imparcialidade e a impessoalidade que deveriam estar presentes
ao longo dessas etapas da contratualização.
Primeiro, no caso de SP, a decisão pela escolha da OSS é unilateral. Cabe-a ao
Secretário de Saúde diante de um parecer emitido pela Coordenadoria de Contratos de
Serviços de Saúde (CGCSS) – uma instância específica responsável pela formulação,
acompanhamento e monitoramento do contrato de gestão.
Segundo, frequentemente apenas uma OSS manifesta o seu interesse no pleito.
Isto acontece porque estas organizações eram levadas a se organizar para negociar
assuntos de seus interesses. A prática torna as OSS semelhantes aos prestadores
privados do SUS, considerados terceirizados e, não, parceiros, como se sugere no
modelo de gestão por OSS.
E, terceiro, ao se questionar porque as entidades se qualificavam como OSS,
uma das respostas obtidas foi: “As entidades são assediadas para serem OSS. É
interesse do governo que elas façam o gerenciamento dos hospitais”. Assim, como
observado pelos autores, a escolha das OSS não ocorre por interposição de licitação,
procedimento comum à administração pública, mas, sim, por pretextos muito mais
subjetivos que públicos.
Esta prática não condiz com o que Skelcher (2015) propôs quanto ao que deveria
ser observado no momento da escolha do parceiro. Para o autor, a escolha do híbrido
público-privado deve ser validada pelos discursos de reforma da gestão pública,pela
onda de mercantilização que assolou diversas economias avançadas durante a última
parte do século XX, pela realização de políticas públicas de forma colaborativa, e pela
conotação emocional que o termo “parceria” transmite: uma imagem de decisão
igualitária e livre de conflitos.
Dessa forma, de acordo com Fredericksen e London (2000), alguns autores
discutem há tempos o conceito de prestação de serviços públicos por entidades privadas
e organizações sem fins lucrativos. Para os autores, essas organizações apresentam forte
interdependência com o governo, já que a prestação de serviços sociais ocorre dentro de
uma estrutura que tem sido chamada de “Estado oco”, ou seja, um modelo
organizacional que caracteriza um sistema de governança terceirizada no qual as
organizações sem fins lucrativos assumem responsabilidades concernentes
anteriormente ao setor público. Ao pactuarem contratos ou concessões, as organizações
25
sem fins lucrativos assumem que possuem um nível suficiente de capacidade para
implementar projetos ou entregar serviços.
Eisinger (2002) define capacidade como um conjunto de atributos que ajudam
ou permitem que uma organização cumpra seus objetivos. Cada organização, de acordo
com os seus atributos, constitui o seu perfil de capacidade. Tais atributos não se
manifestam até que sejam instigados; assim, o mais curioso sobre a capacidade das
organizações é se ela é aproveitada ou não. Dessa forma, organizações eficazes são
aquelas que conseguem canalizar a sua capacidade organizacional, definida pelo seu
conjunto de atributos, no sentido de cumprir a sua missão organizacional. Assim, o
autor ainda acrescenta que, para avançar a compreensão sobre capacidade e eficácia
organizacional, há uma necessidade não somente de se entender uma lista de
características, mas também de uma compreensão empírica sobre o quanto em que isso
contribui para o cumprimento da missão organizacional.
Destarte, Fredericksen e London (2000), apesar de não definirem explicitamente
capacidade organizacional, observaram que organizações sem fins lucrativos eficazes
costumam ter as seguintes características: executivos experientes; mais maturidade, com
uma história clara de compromisso com a sociedade, demonstrando uma vontade de
coordenar, ou seja, estabelecer parcerias; missão claramente articulada a seus objetivos;
conselho eficaz e comprometido; liderança gerencial; trabalhadores qualificados e
participação em outros projetos e programas relevantes no seu mercado de atuação.
Diante desse contexto, como embasamento desta pesquisa, serão levantados os
principais atributos das organizações sociais que possuem contrato de gestão com o
município do Rio de Janeiro, no setor da saúde, de acordo com os perfis dos gestores e
das instituições, para avaliar o estado da arte da capacidade organizacional de cada uma
delas como principal meio de atingir suas missões institucionais.
26
3 METODOLOGIA
28
➢ Categoria 1: OS, quem assina os contratos de gestão, a sua função no
corpo diretivo da instituição, se o dirigente faz parte do conselho de
administração. Os nomes dos dirigentes que assinaram os contratos de
gestão foram consultados nos respectivos documentos.
29
4 RELATÓRIO DA PESQUISA E DISCUSSÕES
30
Quadro 3- Legislação aplicável no município do Rio de Janeiro
Legislação Aplicação
Decreto n° 33010, de 03 de Novembro de 2010 Dispõe sobre critérios para aplicação financeira
dos saldos de recursos transferidos a
Organizações Sociais, por conta de
contratos de gestão firmados com a
municipalidade.
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Assim, o modelo de organizações sociais proposto no Rio de Janeiro assemelha-se
à parceria público-privada denominada por Skelcher (2015) de franchising, e apresenta
as seguintes características:
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sobre estatuto, destinação de bens, órgãos colegiados de direção e fiscalização, órgão
executivo e regularidade fiscal, que são apresentados para a apreciação da COQUALI.
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sociais; a variável 02 é um incentivo institucional à unidade de saúde e a variável 03 é
um incentivo aos funcionários que operam a execução dos serviços de saúde, ou seja,
aqueles que atuam nas atividades fim.
Neste contexto, Lara, Alcoforado e Vargas (2013) concluem que a terceira etapa
do controle, que consiste na fiscalização propriamente dita, é realizada por quatro áreas
ou órgãos, que devem atuar de forma integrada, cada qual com suas responsabilidades
bem definidas e complementares. Assim, a atuação destes órgãos ocorre da seguinte
forma:
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4.2 Perfil das Instituições
Se sim, Tipo de
O. S. Possui site? Site
atualizado? domínio
Cruz .org
Vermelha Sim sim http://www.cruzvermelha.org.br/
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Das treze organizações analisadas, somente a Fibra não possui endereço
eletrônico, o que pode ser considerado um indicador negativo quanto à transparência
dos dados da organização, visto que, com isso, veta-se ao cidadão o acesso às
informações básicas da instituição.
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Quadro 5- Informações disponíveis on line
Processos
O. S. Estatuto Regulamento de Compras Divulgação de outros projetos
Seletivos
Tendo como base a escolha das informações para análise da qualidade dos sites,
foram considerados bons aqueles cujas instituições apresentavam as quatro informações
escolhidas; como medianos os que apresentavam três ou duas dessas informações; e
ruins aqueles com apenas uma ou nenhuma delas.
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Figura 1- Qualidade dos sites
Desse modo, conforme aponta a Figura 1, sete das organizações apresentam sites
ruins. Somente duas instituições, Fiotec e Iabas, apresentam bons sites. São medianos os
apresentados pelas instituições SPDM, Viva Rio e Cep 28. A Fibra não possuía
endereço eletrônico ativo no momento da consulta.
Das instituições qualificadas com sites bons e medianos, em termos das categorias
de informações veiculadas, percebe-se a preocupação com a transparência dos dados e
em estabelecer um canal de comunicação mais amplo com a sociedade. Nestas foram
observados alguns links interessantes como, por exemplo:
Observa-se que as instituições que apresentam sites ruins estão mais interessadas
em apresentar informações “marqueteiras” para atrair possíveis investidores e/ou
parceiros.
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Ressalta-se a importância de que as organizações divulguem a sua expertise no
setor de saúde por meio da apresentação de outros projetos, além dos contratualizados
com a SMS. Contudo é necessário que essa divulgação seja feita com um viés
profissional a fim de prover o feedback à população, desvinculando-se a imagem
meramente publicitária.
Para a SMS, o painel será a fonte oficial de divulgação das informações dos
contratos de gestão celebrados no âmbito do município do Rio de Janeiro. Encontra-se,
no entanto, em construção e disponível parcialmente para acesso ao público.
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de contas apresentados às Comissões Técnicas de Avaliação (CTAs) que subsidiam as
respectivas avaliações trimestrais. Informa-se que não se avaliou se estão disponíveis
todos os relatórios por contrato, porém se percebe a intenção da instituição em dar
transparência às suas principais ações.
A missão da organização deve apresentar sucintamente o que ela faz e para quê.
Deve ser definida de forma simples e clara e compartilhada com os stakeholders,
possibilitando que, assim, todos os envolvidos na parceria tenham um entendimento
comum de aonde se quer chegar. Sua descrição dessa forma e publicamente constitui-se
o primeiro passo para que se exerça qualquer tipo de controle social (BRASIL, 1997).
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Quadro 6- Missão das Organizações
O. S. Missão Observações
Promover melhoria da qualidade de vida das pessoas ofertando Saúde e outras áreas
Cejam
ações de saúde, educação e responsabilidade social.
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Nosso principal objetivo é a Gestão de Qualidade dos processos Foco em gestão
prestados à população, aumentando sua eficiência e eficácia,
Unir
implicando a satisfação do cidadão, baseando o desenvolvimento
dos projetos em valores justos e resultados otimizados.
Agir, em caso de guerra, e preparar-se, na paz, para atuar em todos Foco em saúde
os setores abrangidos pelas Convenções de Genebra e em favor de
todas as vítimas de guerra, tanto civis como militares; contribuir,
para a melhoria de saúde, prevenção de doenças e o alívio do
sofrimento através de programas de treinamento e de serviços que
beneficiem a comunidade; adaptados às necessidades de
peculiaridades nacionais e regionais, podendo também, para isso,
Cruz criar e manter cursos regulares, profissionalizantes e de nível
Vermelha superior; organizar, dentro do plano nacional, serviços de socorro
em emergências às vítimas de calamidades, seja qual for a causa;
recrutar, treinar e aplicar o pessoal necessário às finalidades da
instituição; incentivar a participação de jovens voluntários nos
trabalhos da Cruz Vermelha, qualificando-o às finalidades da
instituição; divulgar os princípios humanitários da Cruz Vermelha, a
fim de desenvolver na população os ideais de paz, respeito mútuo e
compreensão entre todos os homens e todos os povo
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Ao analisar a missão de cada organização, observou-se que a maioria das
instituições assume claramente o seu papel como organização de apoio e gestão na área
da saúde. São poucas as que têm como finalidade clara a área de saúde em si, o que se
traduz também numa expertise já construída, que servirá de base para a construção de
uma parceria com o setor público.
Isso se agrava pelo fato de que muitas são multissetoriais, não constroem uma
expertise na área da saúde. O que pode vir a comprometer o desempenho da
organização, tendo em vista a complexidade exigida pelo setor.
Outro aspecto analisado diz respeito à natureza das OS. De acordo com o novo
código civil, de 2002, as associações e fundações podem requerer a qualificação como
organização social. Para Modesto (1998), denominam-se sinteticamente organizações
sociais as entidades privadas, fundações ou associações sem fins lucrativos, que
usufruem do título de organização social.
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5. previsão de incorporação integral do patrimônio, dos legados ou das doações
que lhe foram destinados, bem como dos excedentes financeiros decorrentes
de suas atividades, em caso de extinção ou desqualificação da entidade, ao
patrimônio de outra organização social qualificada no âmbito do município da
mesma área de atuação, ou ao patrimônio do município, na proporção dos
recursos e bens por este alocados;
6. comprovação dos requisitos legais para constituição de pessoa jurídica;
7. sede ou filial localizada no município do Rio de Janeiro;
8. estar constituída, há pelo menos dois anos, no pleno exercício das atividades
no setor da saúde;
9. ter a entidade recebido aprovação em parecer favorável do Secretário
Municipal da Saúde quanto ao preenchimento dos requisitos formais para sua
qualificação como Organização Social.
Após a verificação nos estatutos das organizações, foi possível averiguar que, com
exceção da Fiotec, que se caracterizou como fundação, as demais se identificam como
associação. A principal diferença entre os formatos está relacionada com a sua
constituição como uma associação de pessoas ou por patrimônio.
Outra característica considerada importante para esta análise foi a certificação das
instituições por parte da Entidade Beneficente de Assistência Social, regulamentada
pela Lei nº 12.101, de 27 de novembro de 2009.
Tal certificação é concedida pelo governo federal às entidades sem fins lucrativos,
reconhecidas como entidades beneficentes de assistência social que prestem serviços
nas áreas de educação, assistência social ou saúde.
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Com isso, acredita-se que o papel desta comissão não deveria limitar-se apenas a
uma simples conferência de documentos estabelecidos na legislação, mas, além disso, à
avaliação técnica da expertise necessária que a entidade deve demonstrar para assumir a
responsabilidade que lhe é imputada ao se tornar parceira do poder público.
● ano de criação;
● a que ou a quem está vinculada;
● se participa ou participou de outros projetos antes da qualificação e se estes
foram executados no âmbito da saúde;
● se possui contrato com outros órgãos públicos.
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Quadro 7- Histórico das instituições
UNIFESP - Universidade
SPDM 1933 Sim sim
Federal de São Paulo
Sociedade Espanhola de
S.E.B. 1859 Sim não encontrado
Beneficência/Hospital Espanhol
Hospital-Lar Interlink/Hospital
Gnosis 2009 Sim Não
Rio Laranjeiras
Neste rol, podemos incluir algumas das que possuem mais de quinze anos de
criação, destacando-se Fiotec, SPDM e Cruz Vermelha, por estarem vinculadas a
instituições reconhecidas nacionalmente, como a Escola Nacional de Saúde
Pública/FIOCRUZ e a Universidade Federal de São Paulo; ou internacionalmente, como
o Movimento Internacional da Cruz Vermelha.
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As organizações sociais Cep 28 e Cejam, apesar de não estarem vinculadas a
instituições, possuem como principais fundadores nomes que apresentam em seus
currículos uma vasta experiência no setor da saúde. Recentemente uma Clínica da
Família inaugurada no município recebeu o nome do fundador da Cep 28.
O Viva Rio, apesar de ter mais de dez anos de criação, não apresenta experiência
especifica na saúde, mas na execução de projetos sociais em outras áreas como
educação, arte, esportes, violência, segurança humana e meio ambiente.
A pesquisa ficou prejudicada no caso das entidades Fibra e S.E.B. pelo fato de
seus sites não estarem disponíveis à época da consulta. Já a SAS/RPS apresenta apenas
um comentário breve sobre sua formação por um grupo de médicos da UNIFESP, sem
maiores detalhes, o que restringiu esse tipo de análise.
Inicialmente o objetivo desta seção seria analisar o perfil do corpo dirigente das
organizações sociais com base na composição dos respectivos conselhos de
administração. Porém, como isto significaria identificar os currículos de
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aproximadamente setenta gestores, optou-se por se limitar aos que, efetivamente,
assinaram os contratos de gestão no período compreendido entre 2013 e 2015.
Para verificar tal suposição, após o levantamento dos nomes de todos os gestores
que assinaram contrato de gestão no período entre 2013 a 2015, utilizou-se a lista do
corpo diretivo de cada organização social disponível no site da SMS para identificar se
quem assina os contratos é, efetivamente, membro do conselho de administração
(SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE, 2016).
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Todas as organizações sociais cujo corpo diretivo encontra-se disponível no site
da SMS separam os membros dos conselhos de administração dos que exercem funções
executivas. Talvez isso se deva ao fato de que a própria legislação preveja que os
conselheiros eleitos ou indicados para integrar a diretoria da entidade devam renunciar
ao assumir correspondentes funções executivas.
Assim, dos 21 (vinte e um) gestores consultados, 10 (dez) são membros dos
respectivos conselhos de administração e exercem funções pertinentes às atribuições do
órgão. Já quanto aos outros gestores consultados, observam-se algumas práticas a serem
consideradas:
● na Iabas, uma das pessoas que assinam o contrato de gestão não aparece como
membro do conselho administrativo, tampouco como membro da direção da
organização, apesar de outras duas serem conselheiras e exercerem funções de
presidente e vice respectivamente;
● na Cep 28, das duas pessoas que assinam, uma faz parte do conselho
administrativo exercendo a função de presidente e outra, além de não fazer parte
do conselho de administração, possui função de diretor executivo;
● na Cejam, um dos gestores faz parte do conselho administrativo, mas possui
função de superintendente e o outro não aparece no site da SMS, não sendo
possível identificar a qual órgão pertence, apesar de, ao assinar o contrato de
gestão, intitular-se suplente e gerente técnico administrativo;
● na Fiotec, o gestor que assina o contrato faz parte do conselho de administração,
mas exerce função de diretor técnico;
● na Unir, uma das pessoas que assinam o contrato faz parte do conselho com a
função de presidente, outra exerce a função executiva de diretor;
● na Cruz Vermelha, o corpo diretivo não está disponível para consulta no site da
SMS, mas se verifica no contrato de gestão que a pessoa que assina o contrato
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intitula-se superintendente, mas não está identificada no site da instituição como
conselheira.
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Quadro 8- Características dos conselhos de administração
O dirigente faz
parte do
OS Quem assina Função no corpo diretivo
conselho de
administração?
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Conclui-se que, na maioria das organizações sociais, o corpo diretivo está
organizado de acordo com o preconizado pela legislação. Apesar de não ter sido
encontrada nenhuma cláusula expressa que impeça que outros gestores, além dos
membros do conselho de administração, assinem os contratos, entendeu-se que tal fato é
relevante para caracterizar, na prática, que os processos de trabalho da instituição
encontram-se bem definidos, com capacidade para inibir situações que possam gerar
conflitos de interesse e, consequentemente, ocasionar fragilidades na execução das
deliberações definidas pelo conselho de administração.
A busca para se descobrir vínculos com o serviço público foi feita no Cadastro
Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES, 2016) e no portal da transparência do
governo federal (CGU, 2016).
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Cabe ressaltar a limitação encontrada na busca por membros da organização social
Cruz Vermelha, uma vez que não estavam acessíveis no site da SMS.
De fato, apesar de parecer suspeito, de acordo com o Art. 3º da Lei 5.026, não há
vedação na legislação municipal quanto ao fato de que servidores públicos não possam
ser integrantes dos conselhos de administração. A limitação ocorre somente para
servidores públicos que sejam detentores de cargo comissionado ou função gratificada.
Entretanto, a possibilidade de existirem servidores públicos ligados a instituições
renomadas, assim como a profissionalização dos gestores no setor da saúde são bons
indicadores para se definir o grau de expertise dos dirigentes dessas instituições.
55
5 CONCLUSÃO
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utilização de recursos públicos já provou ser insuficiente para garantir o acesso
universal.
O objetivo principal desta pesquisa foi o de testar a capacidade organizacional das
treze instituições que firmaram contrato de gestão com a Secretaria Municipal de Saúde
do Rio de Janeiro e verificar quais dessas possuem realmente condições de cumprir sua
missão institucional por meio de eficácia organizacional.
Dessa forma, de acordo com Fredericksen e London (2000), as organizações
sem fins lucrativos eficazes apresentam as seguintes características: executivos
experientes; mais maturidade, com uma história clara de compromisso com a sociedade,
demonstrando sintonia com os interesses do órgão que lhe transferiu a execução dos
serviços sociais; missão claramente articulada a seus objetivos; conselho eficaz e
comprometido; liderança gerencial; trabalhadores qualificados e participação em outros
projetos e programas relevantes no seu mercado de atuação.
As treze organizações sociais que atuam no município podem ser divididas em
três grupos de acordo com a capacidade organizacional.
No primeiro grupo, foram enquadradas as instituições que possuíam maior grau de
capacidade organizacional e capacidade de cumprir sua missão institucional. Somente a
Fiotec enquadrou-se nesta composição, pois sua missão está de acordo com o principal
objetivo das parcerias, que é o foco na saúde. Entre os principais atributos que
compõem sua capacidade organizacional, destacam-se: seu vínculo com a Escola
Nacional de Saúde Pública (ENSP), conselho de administração formado por
profissionais do serviço público com experiência no setor de saúde e participação em
outros projetos na área da saúde.
No segundo grupo, foram classificadas as instituições que apresentam certo grau
de capacidade organizacional. Algumas dessas constituíram a sua missão com o foco na
saúde; e outras não, sendo: Viva Rio, SPDM, Cep 28, Gnosis, Cruz Vermelha.
Isso poderia estar relacionado à proposição de que, apesar de possuírem boa parte
das características preconizadas para a capacidade organizacional, seu foco poderia
estar direcionado ou não à saúde. Como exemplo para ilustrar essa análise, pode-se citar
o caso da SPDM. Apesar de esta instituição ter sua missão voltada para a gestão,
apresenta como integrantes do seu corpo diretivo servidores públicos do órgão ao qual
57
está vinculada originalmente, a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), é uma
organização madura, criada em 1933, e atua em outros projetos com âmbito na saúde.
Outro dado importante relacionado à capacidade organizacional está no fato de
que, após o escândalo do caso Biotech, as OS SPDM e Viva Rio assumiram os contratos
emergencialmente e por um curto prazo, até que se concluíssem os processos seletivos
para que outras instituições pudessem assumi-los sem que houvesse a interrupção dos
serviços de saúde.
No terceiro grupo, foram enquadradas as instituições que apresentam pouca
capacidade organizacional e/ou missão sem foco na saúde, o que pode inviabilizar sua
eficácia organizacional. São elas: Iabas, S.E.B, Fibra, Biotech, Cejam, SAS-RPS e Unir.
Corrobora essa afirmação o fato de que algumas dessas instituições elencadas no
parágrafo anterior encontram-se, no momento da conclusão desta pesquisa, em processo
de desqualificação pela SMS, com os respectivos contratos rescindidos ou não
renovados.
Destaca-se que, para ratificar a capacidade organizacional das instituições já
qualificadas como organizações sociais no município do Rio de Janeiro, instituiu-se o
Selo OS Carioca em Boa Gestão. Com isso, foram definidas regras a serem
implementadas nas instituições qualificadas que mantiverem contrato de gestão; elas
deverão se submeter ao procedimento de certificação anualmente para aferição da
manutenção das boas práticas de gestão.
Todavia se sugere que regras como essas, assim como outras que venham a medir
a capacidade organizacional das instituições que se candidatarem à qualificação como
organização social, sejam incluídas no momento da qualificação pela COQUALI para
evitar que parceiras futuras possam trazer prejuízos aos cofres públicos e,
consequentemente, desvirtuarem-se do interesse público, que é o de receber serviços de
saúde com qualidade.
A divulgação de escândalos de corrupção envolvendo ONGs, OSCIPS e OS tem
se tornado mais comum na mídia nos últimos anos, o que sugere que o menor controle
legal ao qual estas organizações estão submetidas talvez esteja favorecendo a
instauração de parcerias ilegítimas (BAIÃO; PECI; COSTA, 2015). Desse modo,
conforme enfatiza Doménech (2005, apud BAIÃO; PECI; COSTA, 2015), as parcerias
devem ser realizadas em um contexto no qual haja capacidade institucional do Estado
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em promover transparência e accountability – e, aqui, também incluo a capacidade do
mercado em ofertar bons parceiros mensurados de acordo com as respectivas
capacidades organizacionais para auferirem eficácia organizacional e,
consequentemente, cumprirem com uma missão institucional voltada para a saúde.
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6 REFERÊNCIAS
BAIÃO, A.L.; PECI, A.; COSTA, C.C.M. Parcerias entre Estado e Sociedade Civil na
perspectiva do capital social. EnANPAD, v. 22, n. 75, p. 1-12, 2015.
60
BRINKERHOFF, J.M.; BRINKERHOFF, D.W. Government-nonprofit relations in
comparative perspective: evolution, themes, and new directions. Public
Administration and Development, v. 22, n. 1, p. 3-19, Feb. 2002.
61
CADASTRO NACIONAL DE ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE. Consulta
Profissional. Disponível em: http://cnes.datasus.gov.br/#/portal-searchbox. Acesso em:
11 jan. 2016.
FREDERICKSEN, P.; LONDON, R. Disconnect in the Hollow State: The Pivotal Role
of Organizational Capacity in Community-Based Development Organizations. Public
Administration Review, v. 60, n. 3, p. 230–239, Jun. 2000.
62
dos contratos de gestão na área de saúde, no município do Rio de Janeiro. In:
CONGRESSO CONSAD DE GESTÃO PÚBLICA, 6., Brasília, 2013.
OSINFO. Painel de Gestão das Parcerias com Organizações Sociais. Acesso Público.
Disponível em: http://acessopublico.osinfo.com.br/#. Acesso em: 29 fev. 2016.
SMA. Rio de Janeiro. Lei nº 5026, de 19 de Maio de 2009. Dispõe sobre a qualificação
de entidades como Organizações Sociais. Diário Oficial do Município do Rio de
Janeiro, Poder Executivo, Rio de Janeiro, RJ. Disponível em:
http://smaonline.rio.rj.gov.br/legis_consulta/31548Lei%205026_2009.pdf. Acesso em:
15 mai. 2015.
63
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO RIO DE JANEIRO. Organizações
Sociais de Saúde. Disponível em: http://www.saude.rj.gov.br/organizacoes-sociais-de-
saude/680-qualificacoes-definitivas.html. Acesso em: 27 fev. 2016.
64
WERNECK, Antônio; BOTTARI, Elenice. Das dez OSS que operam no município, oito
estão sob investigação. Jornal O Globo, 18 jan. 2016. Disponível em:
http://oglobo.globo.com/rio/das-dez-oss-que-operam-no-municipio-oito-estao-sob-
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18494571?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo.
Acesso em: 18 jan. 2016.
65
ANEXOS