LGPD Aplicacao Da Protecao de Dados Pessoais para Os Setores 3
LGPD Aplicacao Da Protecao de Dados Pessoais para Os Setores 3
LGPD Aplicacao Da Protecao de Dados Pessoais para Os Setores 3
IODA
INSTITUTO OBSERVATÓRIO DO DIREITO AUTORAL
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Curitiba
2023
Sumário
Sumário Executivo 6
Como realizar a leitura deste relatório 6
Introdução 8
Capítulo 1
Qual a relevância da exceção à aplicabilidade da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais? 10
Capítulo 2
A finalidade jornalística 12
2.1 O que é a finalidade jornalística? 12
2.2 Por que a finalidade jornalística existe na LGPD? 14
2.3 Como a finalidade jornalística pode ser aplicada? 15
Capítulo 3
A finalidade Artística 18
3.1 O que é a finalidade artística? 18
3.2 Por que a finalidade artística existe na LGPD? 20
3.3 Como a exceção à finalidade artística pode ser aplicada? 22
Capítulo 4
A finalidade Acadêmica 24
4.1 O que é a finalidade acadêmica? 24
4.2 Por que ela a finalidade acadêmica existe na LGPD? 25
4.3 Como a finalidade acadêmica pode ser aplicada? 26
Capítulo 5
Existe a exceção à aplicabilidade da proteção de dados pessoais em outros países? 30
5.1 Análise do posicionamento acerca das previsões similares ao art. 4º, II da LGPD na legislação
estrangeira 30
5.2 Regulamento Geral de Proteção de Dados Europeu - RGPD 31
5.2.1 Artigo 85, RGPD 31
5.2.2 Inspirações e o Escopo do artigo 85, do RGPD 32
5.2.3 Artigo 89, do RGPD 35
5.2.4 Escopo do artigo 89, do RGPD 36
5.3 Reino Unido 38
Capítulo 6
Como implementar boas práticas de proteção de dados pessoais para fins jornalísticos, artísticos e
acadêmicos? 41
6.1 Princípios norteadores de boas práticas na LGPD 42
6.2 Boas práticas de proteção de dados pessoais para atividade jornalística 43
6.3 Boas práticas de proteção de dados pessoais para fins artísticos 45
6.4 Boas práticas de proteção de dados pessoais para fins acadêmicos 47
Referências 60
Sobre os autores 66
Autores
Coordenadores
Ângela Kretschmann
Marcos Wachowicz
Pesquisadores
Sumário Executivo
6
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Capítulo 01: Qual a relevância bre a Proteção de Dados (RGPD), na União Europeia
e o Data Protection Act, no Reino Unido. Ao longo da
da exceção à aplicabilidade da
análise, inclusive, será abordado se há a exceção de
Lei Geral de Proteção de Dados aplicabilidade da norma semelhante àquela adotada
Pessoais? pela norma brasileira.
Introduz a importância do artigo 4º da LGPD e seus
incisos, assim como os direitos constitucionais envol- Capítulo 06
vidos para que se considere a aplicação legal prevista. Como implementar boas práticas
Ademais, indica-se o motivo de sua existência, a sua de proteção de dados pessoais
relevância e a possibilidade de equilíbrio com outros
para fins jornalísticos, artísticos e
direitos, assim como o sistema jurídico, pontuando a
necessidade de estudos como os realizados pela dou- acadêmicos?
trina brasileira. Diante do desenvolvimento de toda a pesquisa e com
tantos materiais diferentes colhidos, conclui-se acer-
Capítulo 02 ca dos principais aspectos da legislação, a fim de es-
A finalidade Jornalística clarecer a definição de tratamento de dados pessoais
exposto no relatório e seus princípios norteadores.
Discute sobre os limites da aplicação da LGPD no jor-
Desta forma, todos os leitores, independente do co-
nalismo, definindo o que é a finalidade jornalística e a
nhecimento sobre privacidade e proteção de dados
importância de sua delimitação, bem como a relevân-
pessoais, terão acesso a uma base de boas práticas
cia desta exceção na legislação.
observadas e destacadas pelas leituras e casos ana-
lisados, possibilitando a devida aplicação e a com-
Capítulo 03 preensão da relevância desta norma frente às suas
A finalidade Artística respectivas áreas de atuação. Além de ser possível ex-
trair aplicações práticas e diretas que auxiliem o leitor
Trata da aplicação da LGPD na produção de obras ar-
em seu dia a dia para além do conteúdo acadêmico de
tísticas. Ainda que não se proponha resposta final e
relevância ora produzido.
definitiva acerca da finalidade artística, aborda-se a for-
ma de harmonização da proteção de dados pessoais
com as criações artísticas, um dos temas menos de-
batidos pela doutrina, como veremos a seguir.
Capítulo 04
A finalidade Acadêmica
Analisa a aplicabilidade da LGPD para fins exclusiva-
mente acadêmicos, explorando hipóteses em que a
derrogação legal se aplicaria à atividade acadêmica,
suas formas de aplicação, inclusive com casos con-
cretos e exemplos de dados pessoais que estariam su-
jeitos à inaplicabilidade da legislação. Leva-se em con-
sideração consultas e materiais da própria Autoridade
Nacional de Proteção de Dados (ANPD), bem como a
indicação das práticas elaboradas por algumas univer-
sidades do país.
Capítulo 05
Existe a exceção à aplicabilidade
da proteção de dados pessoais em
outros países?
Com o intuito de entender as origens e tomar inspi-
ração no Direito estrangeiro, é explorada a aplicação
das normas de proteção de dados existentes em ou-
tros locais, especificamente o Regulamento Geral so-
7
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Introdução
O GEDAI – Grupo de Estudos de Direito Autoral e Industrial, ligado à Universidade Federal do Paraná – UFPR,
com o objetivo de disseminar informações relevantes para a sociedade que se alinham com as linhas de pesqui-
sa, desenvolveu o presente relatório sobre a proteção de dados pessoais pensando na atuação de jornalistas,
artistas e pesquisadores.
A criação deste relatório não é sem motivo. Sua análise ções, bem como o acesso à cultura. Por outro lado, a
busca conciliar as normas que tangenciam os princi- exceção à sua aplicabilidade não significa a completa
pais focos de pesquisa do GEDAI com a necessidade retirada de cuidados em relação à proteção de dados
de ofertar uma visão mais sistêmica e alinhada com pessoais, seja em meio digital ou analógico. Portanto,
o Direito da Sociedade da Informação e das criações é necessário o correto equilíbrio de vários interesses
intelectuais, que contemplam dados pessoais. sobrepostos.
Isso porque o debate sobre a proteção de dados cres- Igualmente, há de ressaltar, que com a entrada em
ceu de maneira vertiginosa nos últimos anos, devido vigor da LGPD não se deixou de aplicar as demais
ao fluxo contínuo de dados, mas nem sempre com normas vigentes no ordenamento jurídico, inclusive as
uma visão alinhada com as demais áreas de atuação previsões sobre Direitos da Personalidade previstas no
que fazem uso de dados. texto constitucional e no Código Civil2 (CC). De tal sorte
que, ainda que não seja aplicável as previsões especí-
A regulação de proteção de dados no Brasil, por outro
ficas da legislação de proteção de dados, como nos
lado, alcançou todos os setores brasileiros, públicos
casos de derrogações que serão a seguir estudados,
e privados, em todas as esferas, desde pequenas a
mantém-se as previsões previstos em lei, em especial
grandes empresas, com a entrada em vigor da Lei
dos direitos fundamentais pelo Código Civil, já bem
Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD - Lei
pontuados pela doutrina3 e amplamente praticados
13.709/2018) em 2020 e a consequente elevação do
pelo jurista acerca da tutela da personalidade4.
direito à proteção de dados pessoais ao patamar de
direito fundamental (art. 5º, LXXIX, CF), com a Emenda Para além da lembrança acima, durante a pesqui-
Constitucional nº 115/2022. sa para a elaboração do relatório também foi possí-
vel perceber a ausência de aprofundamento sobre o
A necessidade de base normativa sobre o tema de-
tema, com a existência de poucos estudos realizados
corre das mudanças sociais e tecnológicas que inten-
por pesquisadores da área de proteção de dados
sificaram a produção e circulação de dados pessoais.
pessoais. Diante disso, a pesquisa foi ampliada para
Neste contexto, tornou-se necessário rever a centrali-
conter também outras pesquisas relacionadas ao tema
dade do indivíduo na sociedade informacional e o exer-
ora proposto, porém, com outros vieses5, inclusive a
cício de sua autodeterminação informativa como forma
análise de interpretações sobre os Direitos da Perso-
de proteção da privacidade.
nalidade frente às liberdades constitucionais.
Este relatório por meio de um amplo levantamento bi-
Por exemplo, na análise de conteúdos relativos ao direi-
bliográfico busca fornecer orientações sobre a aplica-
to da mídia foi possível localizar informações relevantes
ção da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, dian-
sobre as limitações à liberdade de expressão, inclusive
te da ausência de maiores esclarecimentos sobre sua
em seus aspectos jornalísticos e artísticos. Igualmente,
aplicabilidade e a exceção à aplicabilidade prevista no
na análise do possível balanceamento com o direito ao
art. 4º, II, “a” e “b” da LGPD, especificamente em rela-
acesso à informação, privacidade e liberdade também
ção às atividades jornalísticas, artísticas e acadêmicas.
foi possível identificar pontos e reflexões pertinentes e
A correta aplicação da LGPD deve considerar e equi- com um aprofundamento mais amplo do que o abor-
librar o direito de acesso à informação, a liberdade de dado até o momento pela doutrina relativa exclusiva-
expressão artística e científica e aquela das comunica- mente à proteção de dados.
8
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Com tais considerações em mente, o levantamento senvolveram o presente relatório, que aborda o assunto
para a elaboração do relatório foi realizado de manei- de forma dinâmica e objetivando a fácil interpretação.
ra mais ampla, fruto de extensa revisão bibliográfica e As orientações elencadas foram elaboradas para facili-
uma visão efetivamente sistemática do ordenamento tar o desenvolvimento de trabalhos envolvendo dados
jurídico, para o melhor entendimento do efetivo espírito pessoais por jornalistas, artistas e acadêmicos, como
e forma de interpretação e aplicação do art. 4º, II, “a” forma de conclusão e de aproveitamento da riqueza do
e “b” da LGPD. material estudado, que tem em si além de um cunho
acadêmico, uma importância para a atuação da práti-
Diante das preocupações e dificuldades do levanta-
ca jurídica relevante.
mento documental, os pesquisadores do GEDAI de-
9
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Capítulo 1
Embora a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais tenha como ponto central tutelar os direitos dos titulares de
dados, deve-se evidenciar seu art. 4º, que dispõe sobre as exceções de sua aplicabilidade e cita expressamente
(inciso II, alíneas “a” e “b”): fins exclusivamente jornalísticos, artísticos e acadêmicos:
Art. 4º Esta Lei não se aplica ao tratamento de dados Dados (ANPD)7. Isso fica demonstrado no Relatório de
pessoais: Gestão da Ouvidoria do órgão, que registra o recebi-
mento de dez consultas sobre o tratamento de dados
(...) para fins acadêmicos e outras duas referentes ao tra-
II - realizado para fins exclusivamente: tamento para fins jornalísticos.8
10
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Contudo, o direito à proteção de dados pessoais tam- O presente relatório objetiva ser um instrumento au-
bém é um direito fundamental expressamente positiva- xiliar para pesquisadores compreenderem a aplicação
do na Constituição (art. 5º, LXXIX, CF) que apresenta de cada uma das hipóteses citadas, sem deixar de
diálogo direto com a LGPD e dispõe sobre regras para respeitar os direitos dos titulares de dados pessoais,
o tratamento de dados pessoais, ou seja, desde a sua sem qualquer intenção de balancear, expor e prever as
coleta até o seu descarte. Neste sentido a redação do possibilidades e aplicabilidades em situações concre-
art. 4º, inciso II, busca realizar o devido balanceamen- tas, deste recorte da LGPD, que irão se revelando com
to de tais direitos, inclusive já trazendo uma previsão o correr do tempo.
distinta entre suas alíneas “a” e “b”, considerando as
Ainda que posteriormente a ANPD consolide o seu
diferenças no tratamento de dados realizados para fi-
entendimento, a presente análise poderá manter-se
nalidades distintas.
como relevante em razão da sua análise prévia a re-
Logo, as atividades jornalísticas, artísticas e acadêmi- ferido entendimento, podendo servir de inspiração
cas estão envolvidas nesta temática e precisam, para- para trabalhos futuros, com a indicação de bibliografia
lelamente à finalidade de realização de sua atividade, relevante, guias de interpretação, indicação das boas
tomar medidas adequadas para o garantir o tratamen- práticas adotadas à época e mais a frente indicadas,
to ético de dados pessoais. Portanto, a proteção de além de fornecer um entendimento mais amplo acer-
dados não pode ser compreendida de forma isolada, ca do tema para além do que foi posto pela doutrina
mas sim em conjunto com outros valores, princípios e atualmente.
direitos fundamentais que podem ajudar a determinar
Frente ao exposto, a natureza das questões não per-
o seu alcance e limites.
mite responder de forma definitiva às questões concre-
E, embora a existência de exceção à aplicabilidade da tas, porém, a relevância das exceções à aplicabilidade
LGPD, notícias sobre vazamentos e compartilhamento da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, e a ne-
irregular de dados pessoais deixaram claro o desequilí- cessidade de harmonização dos direitos fundamentais,
brio entre a exploração de dados pessoais e o respeito são evidentes. Cita-se, em especial, o equilíbrio entre a
à privacidade. Para reduzir tais incidentes, a LGPD en- liberdade de expressão e o direito de acesso à informa-
volve aspectos importantes relacionados à segurança ção, frente ao direito individual de proteção de dados
da informação e governança para a proteção de dados de cada titular, de tal sorte que o presente relatório se
pessoais. Ou seja, é necessário que qualquer agente situa como um indicativo acerca do quanto vem sendo
de tratamento redobre a atenção em relação à guarda construído sobre o tema, demonstrando as tentativas
de tais informações, a fim de prevenir a ocorrência de de aplicação e balanceamento de tais direitos.
incidentes de segurança e o uso inadequado de dados
Dessa maneira, o material presta-se como contribui-
pessoais.
ção para um debate que ainda será enfrentado mais
Desta forma, a LGPD visa atender aos desafios da era pelos juristas e pelo poder Judiciário em razão da re-
digital e tutelar a sociedade em relação aos seus dados levância da temática e dos direitos envolvidos. Afinal,
pessoais. Ressalta-se que o desenvolvimento tecnoló- tradicionalmente os desafios trazidos pela Sociedade
gico permeia toda a sociedade, bem como as ativida- da Informação e pelo desenvolvimento tecnológico
des jornalísticas, acadêmicas e artísticas. não esperam uma resposta do Direito para se apre-
sentarem.
11
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Capítulo 2
A finalidade jornalística
O relatório optou por tratar a finalidade jornalística inicialmente, percorrendo a ordem utilizada pela própria LGPD
na redação do art. 4º. Buscou-se equilibrar de maneira ampla um dos grandes desafios que é o interesse dos
veículos de comunicação em difundir e sobreviver com base em seus conteúdos, e de acesso da sociedade à
informação, além do direito individual de cada titular dos direitos envolvidos.10
Para tanto, este capítulo analisa o que é a finalidade Esses foram marcos no debate sobre o que é jorna-
jornalística, sua relevância e as formas de aplicação, lismo e buscam equalizar os direitos fundamentais e
de forma que o leitor seja capaz de entender o que se reinterpretar o Direito posto em razão dos adventos
caracteriza como tratamento de dados realizado com tecnológicos e avanços sociais que pressionam por
essa finalidade, com destaque à questão hermenêuti- uma reflexão mais profunda, questionando os limites
ca, uma vez que a análise de “intenção da norma” é já previamente previstos sobre o que é ser jornalista, qual
superada, pois as “vontades” envolvem uma atribuição o papel da mídia e como a sociedade consome a in-
arbitrária de sentido por quem interpreta. O enunciado formação.
envolve ao mesmo tempo, simultaneamente, interpre-
Consoante precedentes fixados pelo STF, a Lei Geral
tação e aplicação, pois “interpretar é aplicar”. A norma,
de Proteção de Dados Pessoais buscou resguardar e
então, é um acontecer que ocorre no contexto da in-
proteger esses direitos e garantias. Isso foi feito por
tersubjetividade, e o sentido que é atribuído decorre da
meio da previsão de uma exceção de inaplicabilidade
historicidade dos institutos, e das pessoas.
do tratamento de dados realizados para fins exclusiva-
Por fim, detalhou-se ainda as formas de aplicação que mente “jornalísticos ou artísticos”, conforme o art. 4º, II,
podem ser pensadas, trabalhando, assim, a casuística “a” deste diploma legal.
e introduzindo as boas práticas que serão vistas no
A atividade jornalística está intimamente ligada à li-
capítulo 6.
berdade de expressão. Contudo, dada a liberação da
atividade jornalística e evolução dos meios de comu-
2.1 O que é a finalidade nicação, “passou-se a ter dificuldades de identificar a
jornalística? atividade jornalística propriamente dita”.14
12
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
“O jornalismo assume um relevo central no âm- De maneira oposta, os autores mencionam o exem-
bito da garantia constitucional das liberdades da plo de um site jornalístico que monitora padrões de
comunicação. Ele desempenha uma função de
comportamento dos usuários e utiliza tais dados para
dinamização da esfera pública de discussão dos
diferentes subsistemas de ação social, a qual as-
atividades comerciais, como a venda de produtos ou
sume um relevo especial no âmbito específico do serviços, caso em que haveria a aplicação da norma.20
13
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Em outras palavras, os jornalistas, ao não realizarem o momento, eles eram utilizados conjuntamente com
uma atividade com a finalidade exclusivamente jorna- a análise do art. 5º da Constituição Federal para de-
lística, mas sim uma análise do perfil do usuário com fender o direito à proteção de dados pessoais (inciso
o intuito de melhor adequar a publicação, ou mesmo LXXIX) e, até certo ponto, a proteção do que hoje é
incluir uma publicidade direcionada21, devem estar considerado dado pessoal.
cientes das regras estabelecidas pela LGPD e tomar
O art. 4º, II, “a”, da LGPD deixa claro que a lei não se
medidas adequadas em relação ao tratamento de da-
aplica à finalidade jornalística e está em consonância
dos pessoais.
com a Constituição Federal, que em seu art. 220, §
Assim entendida, podemos citar como forma de en- 1º, prevê: “nenhuma lei conterá dispositivo que possa
tender o que é finalidade jornalística por meio da análi- constituir embaraço à plena liberdade de informação
se mais detalhada acerca do intuito da publicação, do jornalística em qualquer veículo de comunicação so-
seu conteúdo e também da forma de disponibilização cial”. Dessa forma, o equilíbrio entre o interesse públi-
ao público. Ou seja, os jornalistas devem garantir que co na liberdade de informação e a proteção de dados
os dados são relevantes, precisos, justificáveis e obti- pessoais é relevante para a correta aplicação da isen-
dos de maneira ética para a sua atividade e os princí- ção.
pios da LGPD como a boa-fé, finalidade, adequação,
Nesse contexto, Viviane Nóbrega Maldonado justifica
transparência e segurança podem ser aplicados nesta
a derrogação trazida pelo art. 4º, II, “a”. Como a legis-
análise. Esses elementos são capazes de auxiliar o in-
lação poderia “interferir e impactar em atividades de
térprete acerca da melhor forma de caracterizar o con-
importância louvável é que a LGPD criou a exceção
teúdo como “jornalístico” para além do quanto acima
também quando o tratamento de dados seja realizado
exposto.
exclusivamente para fins jornalísticos e artísticos”.27
14
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
casuística e específica em razão da relevância dos di- jornalística devem garantir a separação de suas bases
reitos analisados. de dados de modo a assegurar que serão utilizados
estritamente para a finalidade jornalística. E apenas
neste caso será aplicada a exceção sobre a utilização
2.3 Como a finalidade jornalística de dados pessoais a fim de possibilitar o exercício li-
pode ser aplicada? vre e responsável do jornalismo independente da mídia
adotada.
A finalidade jornalística poderá ser aplicada nos ca-
Logo, os jornalistas, assim como qualquer empresa de
sos em que ocorra a produção de informações e sua
jornalismo, estão sujeitos ao regramento da LGPD, ex-
divulgação por qualquer meio de comunicação. Esta
ceto ao tratar dados de forma estritamente necessária
aplicação abrange qualquer gênero jornalístico, como
para o cumprimento da atividade jornalística. Ao atuar
entrevistas, artigos de opinião, reportagens, notícias,
fora da exceção, as empresas e os profissionais de-
dentre outros, que apresentem como finalidade o inte-
vem armazenar evidências sobre a correta aplicação
resse público. Não se aplica, assim, qualquer limitação
da LGPD.
sobre forma, mídia ou público-alvo.
No exemplo acima podemos ter que a definição do
Observa-se que um dos fundamentos da LGPD é jus-
perfil dos usuários para o encaminhamento de notí-
tamente a liberdade de expressão, de informação, de
cias específicas alinhadas com os gostos do indivíduo
comunicação e opinião (art. 2º, III). Este fundamento
não estaria coberto pela excepcionalidade do art. 4º.
possui relação direta com os direitos humanos, visto
Todavia, a análise de dados de determinada pessoa
que a LGPD não deve inibir ou restringir a divulgação
pública, inclusive hábitos, para fins da realização de re-
de informações de interesse público.
portagem investigativa que apura eventuais desvios de
Mas, ao proteger o tratamento de dados pessoais rea- dinheiro público pode estar coberta por tal derrogação,
lizados para fim exclusivamente jornalístico, a LGPD em razão do potencial interesse público.
não concede uma isenção total para todas as etapas e
Este ponto, porém, pode trazer dúvidas, principalmen-
todos os envolvidos no processo jornalístico, como por
te para o titular de dados que pode não reconhecer
exemplo, agentes que utilizam dados públicos ou que
de imediato a exceção e buscar exercer o seu direito
foram tornados públicos pelo titular. Nesses casos, a
à autodeterminação informativa. Da mesma forma, a
lei estabelece que deve ser considerada a finalidade, a
LGPD não pode ser utilizada como argumento para a
boa-fé e o interesse público que justificaram sua dispo-
proibição do tratamento de dados pessoais no exercí-
nibilização, além dos princípios previstos na lei32.
cio da atividade jornalística.
Nesse aspecto, um dos grandes desafios da atuali-
Logo, o respeito aos direitos e garantias fundamen-
dade está na excessiva personalização do indivíduo,
tais do indivíduo à privacidade, à intimidade, à honra,
pois não se trata apenas de garantir a liberdade de in-
à imagem e a proteção de dados precisam coexistir
formação e seu acesso em equilíbrio com a proteção
em harmonia com o direito do acesso à informação
de dados pessoais. As Tecnologias da Informação e
e à liberdade de expressão e de imprensa. Portanto,
comunicação (TICs) promovem novos desafios, como
orientações sobre como os dados pessoais podem ser
a definição do perfil comportamental do indivíduo. De-
tratados no jornalismo são relevantes para o correto
finido esse perfil, é possível realizar uma curadoria das
entendimento e cumprimento da LGPD, evitando ex-
informações que serão sugeridas e tal fator pode levar
cessos pró ou contra essa atividade.
a manipulação e desinformação.
Neste sentido, cabe lembrar que os abusos da ativi-
Outro ponto relevante é que o jornalismo contemporâ-
dade jornalística devem ser coibidos. Assim, o devido
neo ocorre de forma digital e os avanços tecnológicos
balanceamento entre liberdade de expressão, direito
também estão presentes na atividade jornalística. Logo,
à informação e direitos individuais deve ser realizado
é possível encontrar nesse tipo de atividade o uso de
caso a caso. Inclusive, este é o posicionamento do
bancos de dados e Inteligência Artificial, ferramentas
Poder Judiciário, que pacificou a questão ao analisar o
que podem auxiliar na redação de notícias e em outras
caso da veiculação do assassinato de Aída Curi, anos
aplicações. Contudo, o emprego de automação requer
mais tarde de seu acontecimento pelo canal de televi-
cuidados no tratamento de dados pessoais.
são Globo, em seu programa “Linha Direta”3334. Devido
Portanto, os agentes que desejam tratar os dados pes- à relevância da questão, ela se tornou o tema 786 de
soais com base na exceção garantida para a finalidade repercussão geral, cuja conclusão foi de que:
15
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
“É incompatível com a Constituição a ideia de um nição e dois livros de controle do depósito. O impacto
direito ao esquecimento, assim entendido como o foi grande na opinião pública, e amplamente divulgado
poder de obstar, em razão da passagem do tem-
na imprensa, rádio e televisão. Em março de 1971 foi
po, a divulgação de fatos ou dados verídicos e
licitamente obtidos e publicados em meios de co- publicado um livro descrevendo o ocorrido. E em 1972
municação social analógicos ou digitais. Eventuais surgiu um documentário para a televisão de duas ho-
excessos ou abusos no exercício da liberdade de ras e quarenta minutos sobre o caso. Um dos cúmpli-
expressão e de informação devem ser analisados
ces temia sofrer graves danos em seus direitos pelo
caso a caso, a partir dos parâmetros constitucio-
nais - especialmente os relativos à proteção da documentário - seu pedido foi negado em outubro de
honra, da imagem, da privacidade e da personali- 1972. Com base nos artigos 1º e 2º da Constituição
dade em geral - e as expressas e específicas previ- Federal, apresentou queixa perante o Tribunal Federal
sões legais nos âmbitos penal e cível”35 Constitucional, e em março de 1973 o Tribunal con-
cedeu liminar proibindo a transmissão da peça caso
a pessoa do autor fosse mencionada ou apresentada.
De todo modo, é importante considerar que um pro-
grama pode ser sensacionalista, avaliação que para Um diferencial importante que se destaca aqui é que
alguns atinge também o programa Linha Direta. É cer- o Tribunal estrangeiro, no caso, ouviu peritos e levou
to que os demais tribunais também vêm enfrentando em conta a psicologia social, e em especial os efeitos
questões similares, em especial frente ao potencial le- que se poderiam esperar de tais transmissão com re-
sivo das informações veiculadas na atual sociedade36. lação à ressocialização dos criminosos condenados.
Dessa sorte, é absolutamente necessária uma análise Assim, a reclamação foi julgada procedente, “porque
muito apurada do conteúdo que será veiculado para a uma reportagem sobre um crime na televisão, com
correta aplicação do art. 4º, assim como para evitar-se indicação do nome, imagem ou apresentação do cri-
problemas derivados de informações falsas e/ou não minoso, especialmente em forma de peça documentá-
autorizadas. ria, geralmente implica um grave impacto sobre a sua
personalidade - a opinião unânime dos peritos indicou
Nesse sentido, contrapondo à decisão exarada e que que poderia duvidar-se também se tais transmissões,
gerou o tema 786 de repercussão geral, podemos ci- em geral, e esse documentário, em particular, exer-
tar um caso estrangeiro que busca mostrar possíveis cem o efeito intimidador sobre autores em potencial,
posicionamentos distintos entre órgãos julgadores, de e por isso devia dar-se preferência ao reclamante.” E
acordo com casos, situações e ordenamentos jurídi- observe-se que o caso, ainda que tenha sido objeto de
cos próprios, ressaltando a necessidade de apuração notícia, acabou transformando a notícia em um docu-
pontual e específica para cada nova aplicação de algu- mentário, que já estaria inserido no contexto de uma
ma derrogação. obra artística - que será abordado adiante.
O processo julgado pela Corte de Cassação da Itália, Como indicou Bruno Jorge Hammes, o caso mostrou
“onde os direitos de personalidade (direito ao próprio que o direito de informação, por mais importante que
corpo, ao nome, à própria imagem, ao sigilo epistolar) seja, não pode penetrar todo e qualquer recesso da
não induzem, por analogia, a um direito à esfera parti- pessoa humana, fazendo-a objeto de publicação, e
cular imperturbada” (HAMMES, 2002, p. 260). Mas a definir os limites exatos, no caso concreto, pode não
Constituição “reconhece um direito de personalidade ser fácil e deve ser examinado com ponderação de
à livre determinação no desenvolvimento da persona- muitos fatores, que no conjunto poderão indicar qual
lidade”, e esse direito é violado quando se divulgam, o interesse deverá prevalecer.
sem autorização do interessado, notícias sobre a vida
particular, quando não há um interesse público pre- Diante destas reflexões frente inclusive a casos estran-
ponderante na divulgação. Isso é mais grave quando geiros que refletem a opinião de parte da doutrina pá-
a divulgação contribui para macular o próprio nome. tria, é importante destacar que tratam-se de reflexões
possíveis para um balanceamento específico cabendo
O mesmo autor37 cita outro importante caso que foi jul- entender o que é efetivamente finalidade jornalística,
gado pelo Tribunal Estadual de Koblenz, e depois pelo qual a finalidade do conteúdo, seu interesse, entre ou-
Tribunal Federal Constitucional da Alemanha (ocorri- tros.
do em 19 de janeiro de 1969) quando dois soldados
assaltaram o guarda do depósito de munição de um Nesse sentido, é importante destacar que há diferen-
batalhão de caçadores paraquedistas, mataram quatro ça entre a atividade jornalística, já conceituada, para
soldados e feriram um quinto. Roubaram armas, mu- as atividades de publicidade e propaganda, relações
16
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
públicas, e assessoria de imprensa. Essas, por sua Ponto que também merece destaque é a finalidade
vez, possuem caráter institucional e estratégico, além jornalística que extrapola sua função de produção de
de serem direcionadas às mídias, com visibilidade de notícias ou informações de interesse público e migram
marcas, produtos, e serviços, associando os clientes para o conteúdo sensacionalista. Neste caso, a exce-
ao público. Por não possuírem como finalidade o inte- ção deve ser aplicada com responsabilidade e respei-
resse público, não se encaixam na exceção prevista. to aos direitos fundamentais dos titulares de dados,
levando em consideração o impacto que esses con-
O mesmo pode-se afirmar sobre páginas eletrônicas
teúdos podem causar aos envolvidos. Logo, é primor-
de notícias que fazem uso de cookies38. Embora apre-
dial considerar o respeito aos direitos fundamentais
sentem conteúdo jornalístico de interesse público, a
de proteção da vida privada, a dignidade humana, a
coleta de dados pessoais por meio dessa ferramenta
igualdade, a não discriminação e a proteção de dados
deve respeitar os princípios, os direitos dos titulares de
pessoais. Ou seja, a exceção não incluiria a produção
dados e as demais definições da LGPD.
de matérias sensacionalistas e a possível violação de
A exceção somente será aplicável às atividades exclu- direitos fundamentais por meio do tratamento de da-
sivamente jornalísticas exercidas dentro do contexto dos pessoais de forma abusiva e desrespeitosa.
dos requisitos indicados (finalidade, boa-fé, interesse
Frente a análise de tais possíveis casos fica demons-
público). Assim, outras áreas inclusive de empresas
trada a necessidade de análise casuística do conteúdo
jornalísticas, como administração, marketing, finan-
para apuração da excepcionalidade à LGPD no caso
ceiro, etc. não estão sujeitas a essa diferenciação e
de atividade jornalística. Cabe, ainda quando essa for
devem, portanto, se adequar à legislação de proteção
aplicável, o devido cuidado do estudioso acerca dos
de dados. 39
direitos do titular de dados frente ao potencial lesivo
E, no caso de grupos econômicos que desenvolvam existente com o material a ser produzido, uma vez que
outras atividades econômicas além do jornalismo, a o balanceamento de tais direitos não é certo ou espe-
exceção não se aplicará às demais atividades. Deve cífico, mas sim condicionado aos interesses coletivos
haver clara divisão no banco de dados de grupos eco- e individuais, sempre devendo ser realizado na medida
nômicos, sob pena de todos os dados serem com- do melhor interesse do retratado, evitando o cometi-
prometidos e ficarem, então, sujeitos à aplicabilidade mento de outros ilícitos41, sem que isso, contudo, de
da LGPD.40 qualquer forma diminua o seu caráter informativo, jor-
nalístico e de opinião.
17
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Capítulo 3
A finalidade Artística
Seguindo a ordem estabelecida no art. 4º da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, passa-se à exceção de
não aplicabilidade na hipótese de tratamento dos dados realizado para fins exclusivamente artísticos.
Para tanto, se buscará, inicialmente, compreender o deo game, o teatro, o grafite, a literatura, o cinema,
conceito de finalidade artística, apresentando pontos dentre outros. As possibilidades são inúmeras e não
que auxiliam na compreensão da importância de sua estanques. O próprio conceito de arte é complexo e
proteção. Posteriormente, serão analisados os funda- as definições são das mais variadas. Sendo assim, de-
mentos jurídicos e teóricos que sustentam a exclusão pendendo da época e da afiliação estética e filosófica
da finalidade artística da aplicação dos dispositivos da do autor, o conceito do que se entende o que é arte
LGPD. pode mudar consideravelmente.
Por fim, após análise dos contornos conceituais jurídi- A expressão artística é, portanto, uma construção do
cos e teóricos, será feito um exame de como a finalida- ser humano e é exatamente por isso que existe dificul-
de artística pode ser aplicada na prática e quais seriam dade, ou mesmo uma impossibilidade, de se conceber
os seus limites, alcance e titularidade. uma definição exata do que seja, já que a depender do
tempo, da cultura e do contexto social o seu conceito
pode se modificar.
3.1 O que é a finalidade artística?
A discussão é de tal maneira complexa, variável e in-
definida que, se tomar como exemplo uma mesma
A Lei de Geral Proteção de Dados Pessoais vislumbrou
sociedade, dentro de um mesmo contexto histórico e
a necessidade de garantir o direito à liberdade no campo
cultural, a resposta do que é arte pode encontrar defi-
das artes. Para tanto, consolidou, em seu art. 4º, inciso II,
nições opostas.
“a”, a proteção do direito à liberdade artística através da
não incidência dos seus dispositivos quando os dados Morris Weitz42, teórico norte-americano, afirma que o
fossem tratados para fins exclusivamente artísticos. conceito de arte para além de aberto, possui um cará-
ter expansivo e não exaustivo, em razão principalmen-
Essa isenção consolida um direito constitucional de
te das suas mudanças contínuas e novas criações que
liberdade artística, já que a Constituição Federal brasi-
impossibilitam, de forma lógica, garantir que existam
leira, em seu art. 5º, IX, afirma que é livre a expressão
elementos fixos que a defina. O que hoje é conside-
da atividade intelectual, artística, científica e de comu-
rado cafona ou extravagante, ontem pode ter sido
nicação, independentemente de censura ou licença.
fashion ou respeitável43.
Diante deste texto normativo, ao menos duas pergun-
O mesmo autor afirma que é exatamente por essa in-
tas se fazem necessárias. A primeira, mais geral, versa
trínseca variabilidade de definições e visões que a arte
sobre o que exatamente é a expressão artística que
aceita a contradição. Sendo assim, o contrassenso, o
precisa ser protegida e o seu direito de liberdade ga-
contraste e a incoerência fazem parte do próprio con-
rantido. A segunda questão, reflexo da primeira, se re-
ceito de arte. Ela transgride a lógica convencional, que,
fere ao que se trata, efetivamente, a liberdade artística
por sua vez, rejeita a contradição. Ou seja, definir a
e quais seus alcances e limites.
arte de alguma forma acarretaria, inevitavelmente, em
A arte pode ser expressada através de múltiplas lin- limitá-la44.
guagens, como a pintura, a escultura, a música, o ví-
18
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
A arte é, portanto, resistência. E, enquanto resistência, arte estava, portanto, cumprindo o seu papel trans-
se levanta contra o status quo da lógica que preten- gressor. Ocorre que, como consequência, o regime
de homogeneizar, dominar, colonizar os indivíduos e passou a perseguir parcela dos artistas, exilar os seus
a sociedade. Os movimentos artísticos representam opositores e a matar e torturar aqueles que não con-
pontos de divergência que “põem em xeque as repre- cordavam com os seus interesses. Não era mais possí-
sentações que sustentam uma dada representação da vel se expressar livremente e o conceito do que era arte
realidade”45. ia se distanciando do popular. As expressões artísticas
que não eram consideradas “eruditas”50 passaram a
Desta maneira, sendo transgressora, a arte também
ser reprimidas e censuradas. Somente poderiam expor
se assume como movimento político e social que rei-
livremente aqueles que concordavam com a realidade
vindica transformações da realidade, através da modi-
imposta pelo regime.51
ficação de elementos simbólicos. Ao passo que as es-
truturas impostas pelos poderes e classes dominantes No mesmo contexto, mais contemporâneo, está a Sí-
reivindicam a unicidade da realidade, a arte, ao contrá- ria. Com a eclosão da Guerra Civil em 2011, instaurou-
rio, demonstra ser ela múltipla46. -se no país o governo ditatorial de Bashar al-Assad e
o fundamentalismo islâmico passou a dominar a so-
Contudo, transgressão também significa rompimento,
ciedade. Como consequência, as vozes divergentes
desobediência e, em muitos casos, contravenção e
passam a ser caladas52. Mas a arte também aqui pas-
crime. Como dito, analisando por um viés mais ideoló-
sou a cumprir o seu papel transgressor, denunciando a
gico e social, os “donos do poder” querem, para não
realidade da ditadura.
perder o seu domínio, manter os indivíduos e a cole-
tividade sob as diretrizes políticas, sociais e culturais Um bom exemplo disso é o artista sírio Khaled Dawwa,
que colaborem e reforcem o seu regime. Sendo assim, que fugiu da guerra e passou a denunciar a realidade
quaisquer atitudes que porventura possam desequili- do seu país, chamando a atenção da comunidade in-
brar e ruir os seus pilares de sustentação deverão ser ternacional para o que lá está acontecendo53. Há tam-
banidas, ainda que sejam “arte”. bém um coletivo de mulheres sírias, denominado de
Artistas de Ugarit que passam a expor as suas obras
Para melhor entender esse ponto da amplitude do
para denunciar e mostrar as dificuldades da guerra e
conceito de arte, e, por consequência, de finalidade
do bloqueio54. Ambos os exemplos refletem como a
artística, exemplos práticos podem auxiliar na expli-
arte é importante em momentos de recrudescimento e
cação. No Brasil, por exemplo, com a instauração da
imposição de um pensamento dominante.
ditadura militar em 1964 e do Ato Institucional nº 5 (AI-
5), endureceu a censura para possibilitar que o regime Como se pode perceber, a arte cumpre um papel im-
ditatorial impusesse uma única realidade, cabendo à portante na sociedade, ao divergir ela também indica
arte, neste momento histórico, um papel fundamental que existem opiniões diferentes e elas precisam ser
para definir o que poderia ou não ser criado47. respeitadas. Assim, também, o conceito do que é arte,
do que deve ser valorizado pode variar de acordo com
Enquanto os generais intensificaram suas ações con-
o momento vivido e do interesse daqueles que estão
tra o livre pensamento e expressão, os artistas tam-
temporariamente no poder. No momento em que um
bém buscavam radicalizar as suas propostas, criando
único ponto de vista passa a ameaçar a pluralidade de
novas formas de expressão como a “arte conceitual”.
ideias, a arte demonstra, através das suas expressões,
Neste movimento, os artistas para além de agir den-
a importância da manutenção da individualidade, mas
tro do seu campo de atuação, também passaram a
também do respeito à coletividade, a qual precisa ser
fazer performances, pichar, expor cartazes etc. O que
respeitada.
importava, naquele momento, era a leitura que o artis-
ta estava fazendo da realidade48. Note-se que para a Nesse ponto é interessante notar também o papel que
época tais criações não necessariamente eram inter- pode ser informativo da arte quanto ao momento vivi-
pretadas como “artísticas”, o que poderia influenciar o do55. A própria história da arte nos ensina como era
seu aceite social, além de eventualmente não permitir o a sociedade de maneira pretérita a nossa, não é sem
devido balanceamento necessário de direitos. motivo que existe o ditado popular “a vida imitando a
arte”.
O objetivo de tais criações era claro: desgastar o go-
verno militar e, assim, tentar modificar a parte da opi- Em nossos exemplos destacamos como ditaduras e
nião pública que sustentava a ditadura, uma vez que regimes totalitários impõe uma compreensão especí-
somente o erudito era tido como relevante49. Parte da fica da realidade para aqueles que vivem sob os seus
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LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
domínios. A singularidade de pensamento do setor do- são em geral da liberdade de expressão artística56. Ou
minante passa a tentar se estabelecer mesmo que a seja, não seria necessário dispor os dois direitos em
força. A expressão artística navega na contramão des- dispositivos distintos.
sas posições e é por isso que ela deve ser não apenas
Essa divisão, prossegue o professor, era necessária
preservada, mas incentivada, como forma de conheci-
na Constituição de 1969, pois o texto da constituição
mento, cultura e preservação da nossa história.
naquela época previa, no art. 153, §8º, que a mani-
E é neste ponto que está inserida a não aplicação da festação do pensamento era subordinada à moral e
LGPD para fins exclusivamente artísticos. A arte, en- aos bons costumes. E, em sendo assim, a liberdade
quanto expressão, deve livre expressar-se, sem bar- de expressão artística não poderia se submeter a essa
reiras e desestímulos. A sociedade deve oferecer aos limitação, tendo em vista o seu caráter vanguardista57.
artistas o pleno acesso ao direito de liberdade de ex-
Prosseguindo com a análise do texto constitucional,
pressão, posto que demonstram parte da pluralidade
verifica-se, no art. 215, que há a previsão de que
que é a Democracia, seguindo em nosso exemplo, as-
Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direi-
sim como espelham o momento em que vivemos em
tos culturais e acesso às fontes da cultura nacional
suas criações. Caso contrário, a característica trans-
e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
gressora, tão debatida nas linhas acima, restaria preju-
manifestações culturais, protegendo as manifestações
dicada e a realidade, engessada, uma vez que somen-
das culturas populares. A precisão de tais direitos está
te teríamos acesso a parte do coletivo ou a expressão
intrinsecamente relacionada ao direito de liberdade de
daquilo que se gostaria e não a realidade, ou mesmo a
expressão artística.
“história” do que estamos vivendo.
Da exegese do art. 215, juntamente com o art. 216,
A exclusão da aplicabilidade da LGPD para fins exclu-
que trata da promoção e preservação do patrimônio
sivamente artísticos serve para que a sociedade e as
cultural, verifica-se que, ao garantir o pleno exercício
instituições não incorram nos mesmos erros cometi-
dos direitos culturais, o constituinte assegura, tam-
dos no passado e para que se evitem que novos erros
bém, a liberdade artística, além de garantir o pluralismo
sejam cometidos em nome de uma única ideologia de
cultural.
pensamento. Igualmente, trata-se de uma excepciona-
lidade que busca registrar o momento em que vive- O art. 216 afirma que constituem patrimônio cultural os
mos, garantir a informação da realidade e a sua apre- bens de natureza material e imaterial, individualmente
sentação por outro ponto de vista. Ou seja, o que se ou em conjunto, portadores de referência à identidade,
busca é a preservação da liberdade de livre expressão ação e memória dos grupos formadores da sociedade
artística, a qual além de estar prevista expressamente brasileira. Assim, o dispositivo estabelece uma diretriz
na Constituição, também conversa com as demais li- baseada no pluralismo cultural não apenas para dire-
berdades necessárias e o direito de acesso à cultura e cionar a atuação do Estado, mas como princípio inter-
à informação. pretativo dos outros dispositivos constitucionais58.
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LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
qualquer forma de manifestação do pensamento, in- bém é política e, como tal, acaba por contrariar posi-
clusive a artística60. cionamentos que não coadunam com o seu modo de
expressão.
Dentro desta lógica de dispositivos concretizadores da
liberdade de expressão artística, a Lei Geral de Pro- Ao mesmo tempo, como proteger, observar e fomentar
teção de Dados, no seu art. 4º, assegura que estará um direito que não se sabe exatamente qual é o objeto
isento de sua aplicação o tratamento de dados que se de sua tutela? Deveria, então, deixar a cargo do titular
destinem exclusivamente a fins artísticos. Desta forma, do direito determinar e delimitar o que seja arte e ex-
há mais uma garantia da preservação dos direitos de pressão artística?
expressão no campo das artes.
A solução de conceder ao seu titular a tarefa de definir
Na legislação internacional, como será visto em maiores o que de fato é arte, bem como as suas expressões,
detalhes no capítulo 5, encontram-se também alguns poderia, ao invés, de efetivamente delimitar o objeto,
fundamentos para a proteção da liberdade de expres- torná-lo excessivamente largo e sem clareza, o que
são artística e exclusão da finalidade artística do escopo inviabilizaria ainda mais a incumbência do Estado de
de aplicação da lei de proteção de dados, destacando proteção e fomento64.
inclusive o papel relevante da arte dentre as liberdades61.
Stephan Huster, analisando a posição estatal frente
Seguindo no contexto brasileiro, Leonardo Martins à necessidade de delimitação do que se entende por
analisa o texto constitucional do art. 5, inciso IX, da arte, afirma que ao Estado não caberia, de acordo com
Constituição Federal, afirmando que o constituinte, ao a opinião majoritária, ter uma neutralidade estética,
optar por essa terminologia, quis dizer que a “liberdade mas sim uma neutralidade ética junto às suas políticas
subjetiva do ‘exercício da atividade artística’ equivale de fomento65.
à liberdade enquanto bem jurídico-constitucional ob-
Há, portanto, um dilema a ser resolvido. A quem deve
jetivo (direito constitucional) da ‘expressão artística’”62.
ser dada a tarefa de delimitar o conceito de arte e suas
Sendo assim, o direito que se extrai do dito texto, qual
expressões?
seja, a expressão artística, se consubstancia em um
direito a própria liberdade artística e que engloba as Leonardo Martins se debruça sobre essa questão e diz
referidas dimensões subjetivas e objetivas63. que tal impasse pode ser solucionado através da teoria
liberal dos direitos fundamentais e o seu método de
Tais dimensões possuem características de atuação
interpretação e aferição das decisões judiciais. Cabe-
positivas e negativas por parte dos poderes estatais
ria, segundo essa teoria, ao Estado, como guardião da
que devem ser observadas. Enquanto a dimensão ju-
constituição, definir qual seria o objeto de tutela, sem,
rídico-subjetiva acarreta no dever de não intervenção
contudo, subverter o direito fundamental de auto res-
estatal, a dimensão jurídico-objetiva determina que a
trição estatal. Ou seja, sempre justificando as eventuais
administração pública e os legisladores devem prote-
restrições intervenções sobre as liberdades66.
ger e até mesmo fomentar o direito de liberdade ar-
tística. Igualmente, o poder judiciário deve aplicar e Sendo assim, ao destinar ao Estado essa tarefa, cabe
interpretar a lei conforme respeitando o comando axio- ao titular do direito observar se, de alguma forma, as
lógico estabelecido na Constituição Federal. suas liberdades não estariam sendo cerceadas sem
uma justificativa conforme a Constituição Federal.
Vislumbra-se, portanto, que ao Estado cabe garantir e
observar o direito de livre expressão. Mas caberia a ele Como se pode observar, a justificativa da finalidade
o poder de definir o objeto da tutela de proteção? Quer artística possui respaldo junto a norma maior do orde-
dizer, poderia o Estado ser o formulador da definição namento jurídico brasileiro e, como visto, no caso da
do que se entende por expressão artística? União Europeia, em norma de caráter supranacional,
mas sempre inserido dentro das garantias e direitos
Antes de responder a essas perguntas, uma reflexão
fundamentais. Ou seja, faz parte do arcabouço legis-
faz-se necessária: poderia um ente, que apesar de
lativo de proteção ao direito fundamental de liberdade
estar obrigado eticamente a neutralidade, mas que
de expressão artística.
acaba por representar um setor social hegemônico,
ao menos em dado momento histórico, definir o que Desta forma, no momento em que a Lei Geral de Pro-
é arte? Decerto que poderia haver a exclusão de de- teção de Dados confere autorização àquele cidadão
terminadas expressões que não fossem ou de alguma que faz o tratamento de dados pessoais com finalida-
forma não representassem a sua ideologia ou posicio- de artística, o que o legislador ordinário pretende é efe-
namento político. Como dito anteriormente, arte tam- tivar o direito à liberdade de expressão artística.
21
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
3.3 Como a exceção à finalidade é possível pretender que a arte tenha uma finalidade
artística pode ser aplicada? social, ela é irreverente em sua natureza, como já foi
indicado, e é o artista, e seu próprio “universo pessoal”
que darão o tom que desejam à obra.
Neste ponto, procurar-se-á compreender de que ma-
neira a finalidade artística pode ser aplicada concreta- Seguindo nessa linha, é importante notarmos que a ne-
mente, através do entendimento de quais seriam os cessidade do tratamento de dados pessoais pode inibir
limites e alcance a ela aplicados, dentro de uma es- que o artista realize plenamente determinados tipos de
trutura legal. obras, já que poderiam ser privados de se expressar efe-
tivamente e de acordo com a sua criatividade, ou em ra-
Primeiro, quanto ao alcance, ou seja, a área de pro-
zão do necessário tratamento jurídico que poderia inviabi-
teção material ou objetiva da liberdade de expressão
lizar o desenvolvimento de seu processo criativo, uma vez
artística, deve-se distinguir entre área de exposição e
que não conseguiria atender aos requisitos legais.
efeito da obra e a da criação da obra67. Exemplifican-
do, para melhor compreensão, se determinada lei tem No que diz respeito a área de efeito da obra, ou seja
o condão de proibir ou de vetar uma determinada ex- a divulgação, produção e apresentação das obras,
pressão artística, atingirá essa vedação a área de cria- melhor dizendo, na relação entre o artista e o público,
ção da obra. Entretanto, se uma lei impõe restrições também existem alguns exemplos elucidantes, como:
ou limitações a apresentação ou divulgação de alguma a) a exposição, apresentação ou publicação e comer-
expressão artística, tal determinação atingiria a área da cialização das obras, ainda que haja um conflito; b)
exposição e efeito da obra. Há, portanto, uma possibi- engloba também toda propaganda e/ou comunicação
lidade de intervenção e impacto da liberdade artística publicitária, abrangendo, inclusive, desde aquela es-
tanto no momento da criação, quanto da produção, sencial à divulgação, a venda de artigos de merchandi-
efeitos e criação da obra de arte. sing; c) proteção do contexto ou entorno urbano para
o efeito de certas obras, como a arquitetônica70.
No tocante à área de criação, de acordo com Leonar-
do Martins, existe um rol de condutas, não exaustivo, Como se pode notar, a liberdade artística também se
que exemplificam as liberdades inseridas dentro do materializa no momento que o artista tem a possibili-
conceito de liberdade artística do processo criativo, dade de divulgar o seu trabalho. Efetiva-se, assim, o
como: a) o processo de criação da obra em si, pouco direito constitucional quando a LGPD retira a sua apli-
importando sua espécie, que é o núcleo da área de cação também nestas áreas, é o legislador ordinário
criação; b) a livre escolha pelo titular da forma e todas sinalizado que está efetivando os mandamentos conti-
as questões estéticas na configuração da obra; c) livre dos na Constituição.
escolha pelo titular da presença ou não de um elemen-
to político-ideológico na composição de sua obra; d) Tendo delimitado o alcance da norma de proteção de
a preparação/planejamento, o ensaio e a aquisição de dados pessoais, passa-se a analisar quais são os seus
materiais, independentemente da espécie artística, fa- limites em termos de aplicação da norma e sujeitos en-
zem parte da área da criação68. volvidos, tanto no que diz respeito ao Estado, quanto
ao particular.
Para melhor ilustrar a necessidade da existência do
dispositivo da LGPD, que retira a aplicação de seus Pois bem. Como analisado, há no texto da Constitui-
dispositivos na hipótese de tratamento de dados para ção Federal o art. 5º, inciso IX, que é uma norma de
fins, exclusivamente, artísticos é a “livre escolha pelo eficácia jurídica e social, possuindo, assim, a carac-
titular de conteúdo ou propósitos da obra. Não se ex- terística de ser autoaplicável, ou seja, tem aplicação
clui a priori a escolha por um determinado conteúdo direta e imediata. Não pode, portanto, sofrer qualquer
ou propósito, pelo menos até o limite da legalidade” tipo de limitação por parte do legislador infraconstitu-
69
. Ou seja, exatamente por essa liberdade de livre es- cional. Entretanto, quando necessário, poderá ter uma
colha do artista, que obras que possam ser conside- regulamentação 71.
radas amorais, imorais ou fora dos costumes de uma
Os direitos fundamentais estão protegidos contra o
determinada sociedade podem, de fato, existir. Deve
legislador ordinário, mas também contra a ação do
ser considerado, ainda, a dificuldade de inserir a arte
poder constituinte reformador, pois fazem parte do rol
no contexto dessa avaliação, pois a arte não pode ser
das “cláusulas pétreas” do art.60, § 4º, inc. IV, da CF72.
submetida a uma avaliação moral, amoral ou imoral –
visto que a própria moralidade poderá variar e, assim, No texto constitucional de 1988, art. 5º, § 1º, há a pre-
estar-se-á diante de um falso dilema, uma vez que não visão de que “as normas definidoras dos direitos e ga-
22
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
rantias fundamentais têm aplicação imediata”. Sendo Em sentido contrário, Ingo Wolfang Sarlet, comentan-
assim, este aspecto de fundamentalidade formal, de do a ADI 4.815, diz que “a atribuição de uma função
acordo Ingo Wolfgang Sarlet, recebeu uma atenção di- preferencial à liberdade de expressão não parece, sal-
ferenciada, o que demonstra a sua “hierarquia norma- vo melhor juízo, compatível com as peculiaridades do
tiva superior das normas constitucionais em geral, “as direito constitucional positivo brasileiro”. Prossegue e
normas definidoras dos direitos e garantias fundamen- afirma:
tais têm aplicação imediata”73. Posto isto, não possui
limitação ou reserva legal. Logo, qualquer intervenção “mesmo que admitida a doutrina da posição pre-
somente ocorrerá de forma excepcional, caso um ou- ferencial, não se trata de atribuir à liberdade de ex-
pressão (em qualquer uma de suas manifestações
tro um outro bem jurídico de mesmo patamar colidam.
particulares) a condição de direito absolutamente
imune a qualquer limite e restrição, nem de esta-
Nesta senda, quanto ao ente estatal, são aplicados os
belecer uma espécie de hierarquia prévia entre as
critérios da proporcionalidade, que se consubstancia normas constitucionais”79.
na relação de colidência entre os propósitos lícitos que
o Estado objetiva com os meios que serão emprega-
dos para o seu alcance74.
Como se pode notar, o âmbito de aplicação da finali-
Tal relação precisará se caracterizar pela “adequação dade artística deve observar tanto a compreensão do
e necessidade que representam – após exame das alcance da norma, no seu aspecto infraconstitucional
grandezas do(s) propósito(s) e meio(s) em si da inter- e constitucional, quanto no que diz respeito aos limites
venção que devem atender ao critério da licitude – os que são impostos ao Estado e ao particular.
dois subcritérios para avaliação da proporcionalidade
O alcance da norma diz respeito aos aspectos das áreas
da aludida relação”75. Quanto à necessidade, “há de
de exposição e efeito da obra e a da criação da obra,
se verificar se a intervenção atinge somente a produ-
já que não se pode tolher o artista da liberdade do seu
ção ou divulgação da obra e de se trabalhar com mais
processo criativo e de desenvolvimento da obra e nem
cuidado no que tange à interpretação dos sentidos da
no momento da sua divulgação e publicização. A LGPD,
obra”, devendo, por obvio, resguardar a “interpretação
que for a mais condizente com um permitido exercício ao afirmar que o seu texto não se aplica no tratamen-
da liberdade artística”76. to de dados com a finalidade artística, está exatamente
possibilitando que o artista possa se expressar sem a
Já quanto ao particular, quando se retira a aplicação preocupação de estar violando qualquer norma, já que
das normas contidas na LGPD no tratamento de da- deve ser resguardada a sua liberdade de expressão.
dos pessoais, não há uma chancela para que o par-
ticular possa atuar de maneira indiscriminada. Logo, E, quanto aos limites, o legislador ordinário ao esta-
caso ocorra qualquer tipo de danos a terceiros, este belecer essa exclusão concretiza uma norma cons-
deve buscar reparação por danos morais e materiais. titucional de aplicabilidade imediata. Além do mais,
traz parâmetros objetivos de proteção da liberdade de
No momento em que se faz necessário um pedido de expressão artística. A norma constitucional é abstrata
reparação, o embate que se estabelece, no caso con- e a LGPD, ao trazer essa previsão, passa a revelar a
creto, é entre os direitos da personalidade e liberdade importância deste princípio quando colide com outros,
de expressão artística. Há quem, contudo, entenda principalmente os de direitos da personalidade.
que essa colisão resulte no “vencedor” dos direitos da
personalidade e há quem diga que o “vencedor”, na Por fim, quanto ao particular, apesar de haver uma
verdade, será a liberdade. previsão legal de não necessidade do tratamento dos
dados pessoais para uma finalidade artística, caso haja
O Ministro Luís Roberto Barroso, no julgamento da Rcl
um abuso deste direito, deve o terceiro prejudicado ser
24.760 MC afirma que “a liberdade de expressão des-
ressarcido. Sendo sempre ressaltada a aplicabilidade
fruta de uma posição preferencial no Estado democrá-
das demais previsões sobre Direitos da Personalidade
tico brasileiro, por ser uma pré-condição para o exer-
existentes no ordenamento jurídico.
cício esclarecido dos demais direitos e liberdades”77.
E prossegue afirmando que a “Constituição de 1988 Em suma, o âmbito de aplicação de exceção relativa
foi obsessiva na proteção da liberdade de expressão, aos fins artísticos deve observância a todo processo
nas suas diversas formas de manifestação, aí incluídas criativo do artista, desde o momento da criação até a
a liberdade de informação, de imprensa e de manifes- divulgação do seu trabalho, e ser respeitado pelo po-
tação do pensamento em geral: intelectual, artístico, der público e particular, de acordo com as suas pecu-
científico etc”78. liaridades.
23
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Capítulo 4
A finalidade Acadêmica
Por fim, passamos à análise da última possibilidade de inaplicabilidade prevista no inciso II, do art. 4º, da LGPD,
qual seja a finalidade acadêmica.
Acerca deste ponto é importante destacar que além cação, mas sim uma aplicação mitigada, já que há a
de seguirmos a ordem da norma, também há uma in- necessidade de observar outros artigos complementa-
teligência por trás desta previsão, uma vez que a exce- res referentes à disciplina dos dados pessoais e dados
ção da alínea “b” traz previsões específicas, qual seja a pessoais sensíveis81, “criando uma disciplina legal re-
necessidade de cumprimento das hipóteses de trata- duzida, mas não insignificante”.82
mento de dados prevista nos artigos 7º e 11º.
O legislador não definiu parâmetros objetivos para iden-
Assim, trata-se de um inciso mais específico e condicio- tificar o que seria ou não considerado uma atividade
nal que precisará ser analisado com toda a cautela pos- com finalidade acadêmica, expondo apenas o interes-
sível, seja pela amplitude do tema no país, seja pela sua se em garantir a proteção da “privacidade e da auto-
redação única, seja pelo posicionamento existente da determinação informativa; e, de outro lado, a liberdade
ANPD80 sobre o tema, sem, contudo, esgotá-lo, mas tão acadêmica e o livre fluxo de informações.”8384 Todavia,
somente melhor esclarecer a sua redação ao intérprete. a doutrina traz exemplos85 concretos que, acompa-
nhados de esclarecimentos pontuais da ANPD86, po-
Realizadas tais ressalvas e seguindo a ordem de tópi-
dem servir para orientar a aplicação da norma.
cos e temas propostas ao longo do presente material,
sem prejuízo dos acréscimos e exemplos mais ricos e Note-se que a finalidade acadêmica segue na mesma
próprios já existentes e incluídos para o presente caso, linha das previsões anteriores, de tal sorte que esta-
passamos ao seu estudo mais detalhado. mos diante novamente de uma situação de harmoniza-
ção entre direitos individuais e coletivos, de forma a ser
analisado o limite ao direito de privacidade e proteção
4.1 O que é a finalidade de dados, frente às liberdades constitucionais.
acadêmica?
A temática será abordada mais a fundo e de maneira
prática nos próximos tópicos, mas a finalidade aca-
Uma das derrogações trazidas pela LGPD é feita em
dêmica poderia envolver, por exemplo, os dados de
relação aos fins exclusivamente acadêmicos. Nesse
discentes tratados durante o processo seletivo de in-
sentido, o art. 4º, II, “b” afirma que a legislação não
gresso nas escolas e universidades e demais dados
será aplicada ao tratamento de dados pessoais “reali-
correlatos, ou ainda aqueles dados de docentes cole-
zado para fins exclusivamente acadêmicos, aplicando-
tados no contexto de aulas ministradas.
-se a esta hipótese os arts. 7º e 11”.
Nesse sentido, os estudos da ANPD explicam que a
Pode causar estranheza a escolha de palavras do le-
finalidade acadêmica referida na LGPD seria a referen-
gislador, já que o caput do dispositivo menciona a não
te ao:
aplicabilidade da lei em alguns casos e, logo em se-
guida, tratando-se de fins acadêmicos, sujeita tal tra-
…“tratamento de dados pessoais esteja estrita-
tamento à observância de dispositivos da referida lei. mente vinculado ao exercício da liberdade acadê-
mica. Esta constitui uma espécie das liberdades de
A doutrina conclui que não se trata de uma exceção expressão e de manifestação do pensamento, em
à aplicabilidade da lei ou uma hipótese de não apli- geral exercida em ambientes propícios à exposi-
ção e debate de ideias, tais como salas de aula,
24
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
congressos e seminários científicos. Como exem- direito à privacidade dos titulares com a liberdade aca-
plo, pode ser citada a utilização de determinadas dêmica e o livre fluxo de informações necessários à
informações pessoais como parte de uma aula, de
elaboração e publicação de pesquisas acadêmicas.90
uma palestra ou de um debate entre docentes e
estudantes, situações estas nas quais a aplicação
Uma das justificativas na restrição do alcance da nor-
da LGPD estaria parcialmente afastada”87
ma pelo legislador, em relação às finalidades acadêmi-
cas, é a possível redução dos impactos econômicos e
sociais, já que há elevados custos na implementação
Salienta-se que não deve haver objetivos diretamente
das exigências trazidas pela referida legislação.91
econômicos, algo que descaracterizaria o tratamento
dos dados utilizando-se da exceção.88 Assim, pesqui- Igualmente, o intento do legislador no emprego da der-
sas acadêmicas e científicas, por exemplo, também rogação parece favorecer a liberdade intelectual e de
seriam abrangidas pela exclusão propiciada pela nor- expressão no meio acadêmico em detrimento da inevi-
ma, desde que sejam direcionadas exclusivamente aos tável restrição gerada pelos demais dispositivos legais.
objetivos acadêmicos, sem finalidade comercial.
Assim, a LGPD estabeleceu um regime jurídico espe-
Cumpre ressaltar também que a percepção de finali- cial aplicável ao tratamento de dados pessoais para
dade acadêmica, ao menos em uma abordagem mais fins acadêmicos. O principal intuito dessa derrogação,
genérica, seria aplicada igualmente ao ensino presen- prevista no art. 4º, II, “b”, seria “proteger a liberdade
cial e à distância. Todavia, neste caso seriam neces- acadêmica e estabelecer um regime de proteção de
sários outros cuidados para além dos habituais, isso dados pessoais mais flexível e mais adequado à dinâ-
porque o risco de divulgação, uso indevido e o enten- mica própria das atividades acadêmicas”.92 Nesse sen-
dimento dos titulares da necessidade de tratamento de tido, “busca-se facilitar a realização de atividades aca-
seus dados para a finalidade acadêmica, por exemplo, dêmicas, afastando a incidência de certas obrigações
precisam estar mais claros. legais”93, alinhando a legislação aos preceitos consti-
tucionais de liberdade de aprendizado, ensino e pes-
A título de exemplo, podemos pensar no caso de uma
quisa, bem como a divulgação do pensamento, arte e
aula ministrada online, apesar do aluno preferir ficar
saber positivados no art. 206 da Constituição Federal.
com a câmera desligada, a existência da imagem do
aluno pode facilitar o engajamento do professor com Contudo, a Lei Geral de Proteção de Dados somen-
a turma, apurando o entendimento dos discentes so- te prevê a derrogação sem estabelecer diretrizes para
bre determinada disciplina e, ainda, contando com a seu uso. Ciente dessa lacuna, a ANPD considerou que
colaboração de estudantes que o docente pode no- o “cenário de incerteza jurídica pode gerar impactos
tar que estão online e poderão participar da dinâmica. negativos sobre o desenvolvimento de pesquisas no
Neste caso, estaríamos diante do tratamento de dados País, impondo, ademais, obstáculos para a plena con-
pessoais, a imagem dos alunos, para uma finalidade formidade das práticas acadêmicas”.94
puramente acadêmica, com o intuito de melhor a di-
nâmica de sala de aula e fomentar a participação dos Exemplo dessa incerteza são as diversas consultas já
discentes. encaminhadas à ANPD e as condutas adotadas por
órgãos do poder público a fim de evitar o descumpri-
Contudo, como se verá a seguir, para a aplicação des- mento da lei. Cita-se, por exemplo, órgão do Poder
te inciso do art. 4º será necessário um cuidado mais Judiciário que tem indeferido pedidos de tratamento
acentuado do controlador em razão da sua especifi- de dados realizados por pessoa natural para fins de
cidade prevista em lei, o entendimento do que é essa pesquisa acadêmica, bem como uma Universidade
finalidade e o número e individualidade dos titulares Federal que, igualmente, nega tais pedidos por consi-
envolvidos nas atividades acadêmicas. derar a inexistência de ato normativo regulamentador.95
25
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
4.3 Como a finalidade acadêmica públicos e privados que contêm dados pessoais
pode ser aplicada? e como poderia ser disponibilizado o acesso à in-
formação para o público em geral e em casos de
pesquisadores com fins acadêmicos.
Conforme mencionado anteriormente, a inexistência
de diretrizes previstas legais sobre o que pode ou não g) Consulta de determinada Universidade privada
ser considerada finalidade acadêmica acaba gerando acerca das atividades que seus pesquisadores
inseguranças jurídicas no âmbito da proteção de da- podem realizar, vez que a LGPD possuiria lacunas
dos pessoais. nesse sentido. Nessa consulta houve direciona-
mento específico quanto à elucidação do termo
Em contato com a Autoridade Nacional de Proteção de
utilizado no art. 4ª, inciso II, alínea b.
Dados, o GEDAI obteve acesso96 às consultas realiza-
das ao órgão envolvendo a matéria de finalidade aca- h) Consulta do Instituto de Matemática Pura e Apli-
dêmica. Especificamente, tais consultas97 envolvem cada (IMPA) sobre orientações para casos de
situações práticas, em que os consulentes desejavam transferência de base de dados de instituição de
um parecer do órgão sobre a possibilidade de trata- ensino e pesquisa para embasar a pesquisa de
mento de determinados dados: terceiros. Ressaltam que o fornecimento de base
de dados não é explícito na atividade-fim da insti-
a) Consulta sobre a possibilidade de realizar o trata-
tuição e outras instituições (sociais, acadêmicas e
mento de dados pessoais de crianças e adoles-
de pesquisa), e alunos de programas de pós-gra-
centes sem o consentimento específico do pai ou
duação frequentemente solicitam acesso às suas
responsável legal quando tais dados forem trata-
bases de dados. Indagou-se especificamente
dos especificamente para a realização de traba-
sobre uma solicitação de acesso à base de da-
lho escolar dos alunos, a ser divulgado aos estu-
dos pessoais de alunos por instituição social para
dantes e familiares, com base na exceção trazida
utilização em pesquisa própria e outra solicitação
pelo artigo 4º, II, (b).
originada de um aluno de mestrado de determi-
b) Consulta sobre uma solicitação de alunos de de- nada Universidade.
terminada Universidade Federal para acesso a
i) Consulta da Universidade Federal Rural de Per-
dados de contato dos responsáveis de crianças
nambuco relativa a pedidos de acesso à infor-
acometidas por Síndrome Inflamatória Multis-
mação. Indagou-se especificamente a forma de
sistêmica Pediátrica (SIM-P), associada ao CO-
fornecimento de dados pessoais para uso em
VID-19.
pesquisa (diretamente ao pesquisador ou ao ór-
c) Consulta sobre a possibilidade de disponibiliza- gão de pesquisa) e como se dará a entrega des-
ção de e-mail de servidores, discentes e usuários ses dados, qual será o procedimento de seguran-
de uma universidade pública para determinada ça da informação a ser utilizado, como deverá ser
pesquisa aprovada nos órgãos de ética de tal uni- formalizado o fornecimento dos dados e como
versidade. proceder ao encaminhar respostas de pedidos
contendo dados pessoais.
d) Consulta sobre eventual restrição da LGPD em
caso de solicitação de informações socioeconô-
micas de alunos para determinada pesquisa. Tais Ciente da ausência de regulamentação específica, a
dados seriam coletados no ato de inscrição de Escola Superior do Ministério Público da União (ESM-
candidatos para o vestibular. PU) enviou98 à ANPD, em abril de 2021, relatório99 so-
bre a aplicabilidade do artigo 4º, II, b, da LGPD. Soli-
e) Consulta sobre solicitação, para pesquisa aca-
citou-se a confirmação ou retificação do entendimento
dêmica, de dados de etnia, gênero, endereço
preambular da instituição e que, uma vez validado ou
e quantidade de filhos de estudantes indígenas
ajustado tal estudo, que fosse compartilhado com ou-
concluintes e desistentes de cursos universitários
tras escolas de governo e instituições de ensino.
e de participação de estudantes indígenas em
projetos de extensão, ensino ou pesquisa. No referido relatório, menciona-se a necessidade de
analisar em que medida a exceção trazida pela LGPD
f) Consulta para orientações de implementação da
aplica-se à instituição enquanto escola de governo cre-
LGPD em Arquivo Público Municipal. Indagou-se
denciada pelo MEC, buscando, sobretudo:
sobre o tratamento específico de documentos
26
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
“identificar eventuais dados acadêmicos com tra- a necessidade de anonimizar tais dados como medida
tamento diferenciado à luz da Lei Geral de Prote- protetiva ao titular de dados pessoais.
ção de Dados Pessoais, e, em esteira contrária,
dados de discentes e docentes que não se re- A conclusão da ESMPU foi de que, no caso dessa ins-
vistam necessariamente do caráter acadêmico e,
tituição, a aplicação do art. 4º, II, alínea “b” da LGPD,
face a isso, devem ter seu tratamento integralmen-
te vinculados àquela Lei”.100 levando em consideração a finalidade exclusivamen-
te acadêmica e a realização de estudos por órgão de
pesquisa “parece ter potencial aplicação, no âmbito
Nesse contexto, a instituição identificou os seguintes da ESMPU, tão somente à Pesquisa Científica Apli-
dados pessoais tratados no âmbito de sua atividade- cada”101. E, como desdobramento da aplicabilidade
-fim (acadêmica): dessa exceção, concluiu-se que não haveria exigência
da coleta de consentimento do titular para a realização
“1. de discentes: o registro acadêmico lida com de estudos e pesquisas nesse sentido, sendo também
informações identificadas dos alunos, como RG, desnecessário elencar ou mencionar o fundamento ou
CPF, histórico acadêmico, notas, provas, avalia- base legal que autoriza o tratamento de dados pes-
ções, fotos, e e-mail, dentre outras. Há dados que
soais pelo agente de pesquisa.
vão desde a inscrição de potencial candidato até
o registro de frequência e rendimento obtidos nas
Apesar do relatório levar em consideração a realidade
atividades acadêmicas;
específica da Escola Superior do Ministério Público da
2. de docentes: entendidos como todos que exer-
União, há um possível norte quanto à aplicabilidade da
çam, em nível superior, o magistério nas atividades
de ensino, pesquisa e extensão que visem a pro- referida exceção para casos de pesquisa científica apli-
duzir, ampliar e compartilhar saberes e desenvolver cada, especialmente aquela desenvolvida por escolas
competências, nos termos do Título IV da Resolu- de governo. Também resta claro que é necessário,
ção CONAD no 10/2019; caso haja a aplicação da exceção, diferenciar os dados
3. eventualmente tratados no âmbito de Pesquisas pessoais utilizados para fins exclusivamente acadêmi-
Científicas Aplicadas (PCAs), assim entendida nos cos daqueles dados de cunho diverso envolvidos na
termos do Regulamento Acadêmico da Escola Su-
prestação da atividade acadêmica.
perior do Ministério Público da União instituído pela
Resolução CONAD no 10/2019”.
Levando isso em consideração, somado ainda às inú-
meras consultas sobre o tema levadas à Autoridade
Nacional de Proteção de Dados, o órgão elaborou
Para verificar a adequação de tais dados à exceção
estudo técnico para estabelecer algumas diretrizes de
trazida pela LGPD, informa-se que a instituição buscou
interpretação do art. 4º, II, “b”, enfatizando que devem
informações sobre o que seria considerado “tratamen-
ser observados alguns preceitos gerais que visam pro-
to de dados pessoais para finalidades exclusivamente
teger os direitos dos titulares e conferir maior seguran-
acadêmicas”, constatando-se “notória ausência de
ça jurídica às operações, como:
estudos”. Desse modo, a instituição teria recorrido a
estudos de aplicação da Lei no âmbito do ensino pú-
“(i) interpretação da LGPD de forma compatível
blico, combinado com referências sobre a aplicação com as garantias da liberdade de expressão e do
em instituições de educação superior integrantes do pluralismo de ideias no ambiente acadêmico, bem
sistema federal de ensino. como com a promoção da inovação e do desen-
volvimento científico e tecnológico no País;
O relatório traz, inclusive, alguns exemplos de dados (ii) regime de proteção de dados pessoais mais
pessoais tratados pelas instituições no caso dos da- flexível e adequado à dinâmica própria das ativida-
dos de discentes, destacando-se aqueles tratados des acadêmicas, baseado na incidência parcial da
LGPD ao tratamento de dados pessoais realizado
durante o processo seletivo, matrícula, assistência es-
para fins exclusivamente acadêmicos”.102
tudantil e também aqueles gerados no curso da ati-
vidade discente, como registro de presença, ativida-
des de ensino e avaliação). Já quanto aos docentes,
Deve-se observar que o dispositivo estabelece, de um
exemplifica-se as avaliações de desempenho quanto à
lado, uma derrogação parcial, afastando a aplicação
docência exercida.
da LGPD nos casos de tratamento de dados para fins
Segundo o relatório, a exceção trazida pela LGPD é exclusivamente acadêmicos e, de outro, uma deter-
direcionada a hipóteses específicas de tratamento de minação que, mesmo havendo tal derrogação, ainda
dados no curso de pesquisas acadêmicas, ressaltando deverão ser observadas as regras dos arts. 7º e 11
(bases legais).
27
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
A ANPD orienta que a derrogação parcial deve ser in- Além disso, a ANPD salienta que essa flexibilização
terpretada restritivamente, limitando-se às situações “não deve ser apropriada indevidamente pelo setor
em que o tratamento de dados seja estritamente vin- privado [...] a fim de isentar sociedades empresárias
culado ao exercício da liberdade acadêmica. O estudo e outros agentes de tratamento de cumprir as obri-
técnico do órgão menciona como exemplo a utilização gações previstas na legislação”109, como em situa-
de dados pessoais como parte de uma aula, palestra ções onde há parcerias entre órgãos de pesquisa e
ou debate entre docentes e estudantes. Isso privilegia entidades privadas, em que o tratamento de dados
a liberdade de expressão acadêmica e de manifesta- pode, eventualmente, ser usado no desenvolvimento
ção do pensamento em ambientes de exposição de de atividades comerciais.
ideias, como salas de aula, congressos e seminários
Ademais, mesmo com derrogação parcial, o trata-
científicos.103
mento de dados para fins exclusivamente acadêmicos
Ou seja, essa exceção é restrita ao tratamento de da- deve ser lícito e compatível com a LGPD, de modo que
dos pessoais vinculados “exclusivamente ao exercício esteja regularmente amparado em uma das bases le-
da liberdade de expressão nos ambientes acadêmi- gais previstas nessa lei, conforme parte final do art. 4º,
cos”104, não sendo admitida qualquer interpretação II, “b”.
abrangente ou utilização abusiva. Desse modo, sem-
Um dos exemplos mencionados nesse sentido são os
pre que o tratamento de dados atender outra finalida-
estudos acadêmicos para fomentar o desenvolvimen-
de, a LGPD deverá ser integralmente observada, como
to de novos medicamentos e técnicas em saúde que,
no caso da coleta de dados de estudantes para “matrí-
apesar de legitimamente utilizarem dados pessoais de
culas, estágios, processos seletivos, registros de pre-
eventuais voluntários, mais tarde podem formar um
sença e notas de avaliação ou, ainda, do tratamento
banco de dados e utilizá-lo em detrimento dos titula-
de dados pessoais de funcionários e de docentes pelo
res.110
setor de recursos humanos dessas instituições”105. De-
ve-se, contudo, sempre observar as circunstâncias de Contudo, uma questão importante a ser levada em
cada caso, verificando se os requisitos legais contem- consideração é que por um lado a derrogação pode
plados. gerar inseguranças no tratamento de dados para fins
acadêmicos, já que a lei não é aplicada em todos os
O tratamento de dados pessoais para fins acadêmicos
casos. Mas, por outro, inexistindo a exceção, pesqui-
pode envolver, por exemplo, a utilização desses da-
sadores estariam obrigados a cumprir a íntegra da
dos em sala de aula, materiais didáticos e pesquisas
LGPD, o que poderia gerar adicional desestímulo à
universitárias e acadêmicas, hipóteses que se adequa-
produção acadêmica.111
riam à exceção do art. 4º, devendo assim observar a
aplicabilidade dos arts. 7º e 11º106 e fazer com que o Outro ponto importante a ser considerado na análi-
agente de tratamento avalie a adequação a pelo me- se dessa hipótese de derrogação são as políticas de
nos uma das bases legais expostas nesses dispositi- privacidade e proteção de dados das instituições de
vos, de maneira que o dispositivo seja interpretado de ensino públicas e privadas. A compreensão de como
maneira mais restritiva.107 esses entes têm tratado seus dados e pautado sua
atuação pode trazer exemplos de como essa exceção
Nesse contexto, Márcio Cots e Ricardo Oliveira justifi-
é aplicada na prática.
cam a escolha do legislador em mitigar a aplicação em
alguns casos (e não excluí-la completamente): Nesse sentido, com o intuito de nos aprofundarmos
nesse tema que possui mais materiais elaborados e
“Andou bem o legislador quando não isentou com-
uma complexidade significativa, optamos por levantar
pletamente a atividade acadêmica das disposições
da LGPD, pois ela, há muito tempo, se desenvolve documentos específicos do setor, o que não foi possí-
bebendo das fontes públicas e privadas, muitas vel nos demais temas112.
vezes com trabalhos patrocinados por corpo-
rações de todos os tipos, que buscam, em sua A política de privacidade da Universidade Federal do
maioria, inovação e melhoria dos seus processos. Paraná113 dispõe que a coleta, uso e armazenamento
Assim, o legislador pretendeu conter o ímpeto da
dos dados pessoais serão realizados, entre outras hi-
iniciativa privada, que poderia se decidir ao trata-
mento de dados pessoais sob o manto da produ-
póteses, para “promover os serviços da Universidade”
ção acadêmica, mas com finalidades meramente e “registro das atividades educacionais e acadêmicas”.
comerciais”.108
28
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Dentre os dados armazenados, a instituição cita, prin- deriam eventualmente ser utilizados na atividade aca-
cipalmente: notas, disciplinas a que o usuário está vin- dêmica.
culado, avaliações e atividades acadêmicas coletivas
Já a Fundação Getúlio Vargas (FGV)117 contextualiza ao
e individuais (e.g.: questionários, pesquisas, disserta-
titular de dados os motivos pelos quais seus dados se-
ções, questões de múltipla escolha, jogos, conteúdos
rão tratados, trazendo, inclusive, exemplos de dados
interativos, arquivos de texto, imagem, áudio, vídeo,
pessoais que guardam alguma relação com a finalida-
artigos científicos, páginas web, certificados).
de acadêmica da instituição:
Além disso, em sua seção de Perguntas Frequentes
(FAQ), a instituição, ao responder a pergunta “6. Sou “Essas atividades abrangem uma série de parti-
cularidades nos tratamentos de dados pessoais
professor pesquisador e coleto dados pessoais e/ou
realizados em sua estrutura. Por exemplo, ela pre-
sensíveis, como proceder?”, menciona expressamente cisa atender às obrigações legais específicas de
a exceção trazida pelo art. 4º, II, b da LGPD. E, por Instituição de Ensino Superior (IES) previstas pelo
fim, expõe: MEC e outros órgãos reguladores, as quais muitas
vezes possuem sinergia com o campo da proteção
de dados, como a necessidade de guarda perma-
“Ou seja, não há problema em coletar esses dados
nente de históricos escolares, provas, entre outros
para fins de pesquisa, desde que eles sejam anoni-
documentos de registro e controle acadêmico.
mizados. E lembre-se de não compartilhá-los com
Além disso, a FGV é uma instituição depositária
terceiros. Se você lidera uma equipe de pesquisa,
de um grande volume de dados de caráter pes-
oriente os membros dessa equipe para terem o
soal coletados em pesquisas científicas e em sua
mesmo cuidado”.114
administração, como cadastros de professores e
funcionários administrativos, dentre outros”.118
29
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Capítulo 5
Superada a questão conceitual sobre o tema, sua finalidade e aplicação, faz-se necessário passar a uma análise
detalhada da doutrina sobre o tema. Para tanto, será apontado o direcionamento doutrinário disponível, inclusive
o que embasou o presente material, conjuntamente com as recomendações e outras previsões existentes sobre
o tema.
Acerca deste ponto é interessante notar que não fo- Entendidas as pontuações e ressalvas pertinentes,
ram encontrados muitos resultados no levantamento analisar-se-á os itens acima referidos com vistas ao en-
bibliográfico realizado quando a busca foi restrita aos tendimento concreto sobre a aplicação desta norma.
conteúdos publicados em atenção à Lei Geral de Pro-
teção de Dados. Em que pese a doutrina pátria citar
a aplicação do art. 4º, ela, em sua maioria, aborda o 5.1 Análise do posicionamento
conteúdo do dispositivo de maneira ampla, sem se de- acerca das previsões similares
talhar sobre o tema ou mesmo aprofundar em seus in- ao art. 4º, II da LGPD na
cisos, motivo pelo qual foi necessário ampliar o escopo legislação estrangeira
da pesquisa realizada.
Como destacado acima, a redação desse dispositivo
Assim, o levantamento realizado incluiu também, prin-
legal não é uma inovação do legislador brasileiro. A
cipalmente, o Regulamento Geral sobre a Proteção de
ideia de conciliar a proteção de dados ao sistema jurí-
Dados, da União Europeia, e a doutrina estrangeira,
dico vigente também está presente em normas estran-
inclusive contemplando outras previsões e outros paí-
geiras, que serão trabalhadas no presente subitem.
ses, com o intuito de entender mais detalhadamente
o tema. Devido à extensão do presente estudo, foi necessário
um recorte de legislações que versam sobre o tema.
Entendido o recorte metodológico e realizadas as res-
Ainda que as normas relativas à proteção de dados
salvas acima, passamos às razões que motivaram o
não estejam presentes em todos os países do mundo,
detalhamento exposto nos pontos anteriores e parte
há uma capilaridade significativa deste tipo de legisla-
das fontes que permitiram tal posicionamento, conjun-
ção, em especial nos países ocidentais que seguem
tamente com um detalhamento acerca dos recortes
o direito romano continentais. Para tanto, foi realizada
doutrinários extraídos em especial da doutrina estran-
a opção por legislações específicas sobre o tema, as
geira.
quais acredita-se que poderiam contribuir com o de-
Com tais ideias e referências em mente é que foi rea- senvolvimento da doutrina pátria.
lizada uma separação em itens deste subtópico, com
Primeiramente, precisamos analisar o regulamento eu-
o intuito de entender detalhadamente as bases do
ropeu, o RGPD120. Trata-se da norma que inspirou em
presente estudo, facilitando o entendimento e leitura
grande parte a legislação brasileira e que é a base para
do intérprete. Assim, temos as seguintes divisões: (i)
a criação das leis nacionais dos países integrantes da
análise do posicionamento acerca das previsões simi-
União Europeia. Igualmente, essa norma inspirou ou-
lares ao art. 4º, II da LGPD na legislação estrangeira; (a)
tras legislações mundo afora, principalmente de países
RGPD; e (b) Reino Unido.
30
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
que observam o posicionamento do bloco europeu tado quando necessário para o tratamento de dados
para definir suas boas práticas. Assim, faz-se neces- pessoais com a finalidade jornalística, quais sejam:
sário entender a sua redação, suas inspirações e o en- princípios, direitos do titular, responsabilidade pelo tra-
tendimento doutrinário por trás deste diploma. tamento, transferência de dados para o estrangeiro,
entre outros.
A outra norma escolhida foi a Data Protection Act, do
Reino Unido121. Ainda que seja um país do common Essa previsão, ainda que pareça abarcar todo o texto
law, desde a sua saída da União Europeia, em razão do RGPD, não o faz desta maneira, de tal sorte que
do Brexit122, o Reino Unido busca harmonizar as suas ainda seriam aplicáveis as questões afeitas aos recur-
previsões com as do bloco europeu para seguir, na sos, responsabilidades e penalidades. Isso demonstra
medida do possível, com as relações comerciais pré- que existem limites acerca da aplicação das derroga-
-existentes. Outrossim, sua legislação pode inspirar a ções e que estas - caso não devidamente realizadas
criação de normas similares pelos demais países do - podem ser alvo sim de sanção e análise pela autori-
common law que também buscam uma norma mais dade responsável.
alinhada ao seu sistema jurídico, porém, que se adapte
Neste sentido, tem-se que as previsões devem ser
às demandas dos países com proteções extensas so-
pensadas e utilizadas de forma harmonizada, evitan-
bre proteção de dados.
do abusos de direitos. Contudo, podem surgir dúvidas
Por fim, será possível notar as influências existentes acerca de como deve ser praticado o tratamento de
na temática da proteção de dados no Brasil e na pró- dados, por exemplo, com o intuito de se evitar que a fi-
pria redação da LGPD, vez que suas previsões, em sua nalidade jornalística conflite com as normas do RGPD.
maioria, seguem a corrente doutrinária europeia. De tal O enfoque que deve ser dado é relacionado às pes-
sorte, a presente análise embasa, referenda e sugere soas que terão os seus dados tratados e a relevância
os possíveis destinos do entendimento nacional, assim do tratamento.
como ilustra e ensina o jurista sobre um tema que ain-
Antes de prosseguir para uma análise mais detalhada
da é relativamente novo no país.
de dispositivos do RGPD, é importante enfatizar que
não é o intuito deste relatório esgotar o tema, ou mes-
5.2 Regulamento Geral de mo reproduzir o material que é deveras relevante ao es-
Proteção de Dados Europeu - tudioso sobre o tema. Busca-se apenas pontuar suas
RGPD principais lições, como por exemplo a necessidade de
entender se o conteúdo jornalístico é de fato relevante
e interessante para a sociedade124, ou se versa sobre
A redação do Regulamento Geral de Proteção de Da-
algum interesse público que motive o afastamento da
dos Europeu (RGPD) é distinta do usualmente previsto
aplicação de parte dos direitos à proteção de dados.
no Brasil. Isso porque, inicialmente, são elencadas as
fundamentações para a redação da lei, por meio de
“considerandos”, ao que se seguem diversas previ- 5.2.1 Artigo 85, RGPD
sões sobre a norma, que de uma maneira geral são
mais extensas do que a própria LGPD.
Como já foi dito acima, a legislação brasileira seguiu
Neste sentido, o Considerando 153 do RGPD deter- em grande parte os preceitos adotados pelo Regula-
mina que as normas de proteção de dados devem mento nº 2016/679 da União Europeia, que estabele-
estar harmonizadas com as liberdades de expressão ceu o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados
e informação123, de tal sorte que suas previsões nem (RGPD) Por isso, este tópico analisará brevemente
sempre devem ser aplicadas quando forem necessá- como a derrogação para fins jornalísticos ou de ex-
rias para a garantia de tais direitos. pressão acadêmica, artística ou literária é regulado,
senão vejamos:
Em atenção à redação deste considerando, não é
surpresa a redação do art. 85, que versa sobre o tra- “Artigo 85.o Tratamento e liberdade de expressão
tamento de dados frente a tais liberdades e será re- e de informação
tomado adiante.Ao permitir a derrogação de parte 1. Os Estados-Membros conciliam por lei o direi-
do RGPD, diferente do que ocorre com a redação da to à proteção de dados pessoais nos termos do
LGPD, há uma especificação expressa do que cada presente regulamento com o direito à liberdade de
expressão e de informação, incluindo o tratamento
país membro poderá definir como passível de ser afas-
31
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
para fins jornalísticos e para fins de expressão aca- “A conciliação dos direitos à privacidade e à pro-
démica, artística ou literária. teção de dados com o direito à liberdade de ex-
pressão e de receber e divulgar informação é
2. Para o tratamento efetuado para fins jornalísti-
uma matéria que o legislador da União tem basi-
cos ou para fins de expressão académica, artísti-
camente preferido deixar para os Estados-Mem-
ca ou literária, os Estados-Membros estabelecem
bros, tal como previsto no artigo 85.º do RGPD.
isenções ou derrogações do capítulo II (princípios),
Os Estados-Membros são obrigados a notificar a
do capítulo III (direitos do titular dos dados), do
Comissão Europeia suas leis sobre o assunto, o
capítulo IV (responsável pelo tratamento e sub-
que permite à Comissão manter um certo controle.
contratante), do capítulo V (transferência de dados
No entanto, esse controle será realizado de acordo
pessoais para países terceiros e organizações in-
com os parâmetros gerais estabelecidos pelo arti-
ternacionais), do capítulo VI (autoridades de con-
go 85 do RGPD (tradução nossa)”130
trolo independentes), do capítulo VII (cooperação
e coerência) e do capítulo IX (situações específicas
de tratamento de dados) se tais isenções ou der-
rogações forem necessárias para conciliar o direito Após receber tais notificações, a Comissão também
à proteção de dados pessoais com a liberdade de
acaba por se sentir compelida a se empenhar na pre-
expressão e de informação”.125
servação da coerência e harmonização do RGPD,
levando em consideração a existência de legislações
Percebe-se que o tratamento de dados para fins jor- divergentes no contexto europeu, por causa, dentre
nalísticos ou de expressão acadêmica, artística ou outros fatores, do artigo 85, do RGPD.131
literária será passível de isenção ou derrogação das
Esse dispositivo visa, portanto, orientar que os re-
regras do regulamento a nível nacional126, quando for
gulamentos legais devem ser introduzidos nos Es-
necessário para conciliar o direito à proteção de dados tados-membros para que haja o estabelecimento
pessoais com a liberdade de informação e expressão. de um equilíbrio entre o direito à proteção de da-
Necessidade esta que é reforçada no Considerando dos e a liberdade de expressão e informação, que
estão reconhecidas na Carta Europeia dos Direitos
153 pelo legislador europeu.
Fundamentais132.
De acordo como art. 85, §§ 1º e 2º do RGPD, o direi-
to relativo à a proteção de dados pessoais deve ser
sempre analisado sob a perspectiva das liberdades de Uma nota final: muitos Estados membros já tinham leis
expressão e informação127. O §2º estabelece que a re- nacionais quando o RGPD entrou em vigor, por causa
gulamentação é uma tarefa a ser realizada pelos países da Diretiva 95/46/CE133 que tratava sobre isenções ou
membros da União Europeia. Desta forma, o RGPD derrogações especiais para reconciliar o direito à vida
prevê o resultado a ser obtido pelas legislações dos privada com o direito à liberdade de expressão. Am-
Estados-Membros, mas a escolha de como o objetivo bos os dispositivos, no entanto, divergem, na medida
será concretizado é de livre escolha de cada um deles. em que o RGPD: (i) adicionou a ‘finalidade acadêmica’
e a referência ao direito à liberdade de informação; (ii)
A normativa, portanto, abriu uma lacuna para que cada substituiu o ‘direito à vida privada’ pelo ‘direito à prote-
estado membro molde essa compatibilização da ma- ção de dados’134; (iii) retirou o termo “exclusivamente”,
neira que melhor lhes convir128, buscando a adequação ainda que o continue citando no Considerando 153;135
do Regulamento às diferentes realidades dos países e (iv) aumentou o escopo, na medida em que o papel
europeus. Trata-se, como afirma Manuel Klar, de uma do Estado membro de reconciliar a proteção de dados
cláusula aberta, que é abrangente e geral, na qual e a liberdade de expressão não é mais restrito à finali-
“permitem que os Estados-Membros individuais es- dade acadêmica, artística ou literária.136
pecifiquem as disposições do RGPD nas disposições
nacionais de proteção de dados em relação a vários
assuntos” e que autoriza aos “Estados-Membros e à 5.2.2 Inspirações e o Escopo do artigo
União Europeia derrogar as disposições do RGPD e 85, do RGPD
restringir ainda mais os direitos dos titulares dos da-
dos”129. Para compreender o escopo das isenções ou derro-
Já o último parágrafo daquele artigo prevê que os Es- gações dispostas no artigo 85, é de se questionar:
tado-Membro devem notificar a Comissão Europeia (i) escopo pessoal: quem pode se beneficiar dessas
sobre a legislação nacional adotada. O racional deste derrogações? (ii) escopo material: quais atividades os
dispositivo é o seguinte: beneficiários exercem? e (iii) a extensão deste poder de
derrogação137.
32
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Antes de prosseguir, pode-se, a partir de uma breve opinião ou ideias pode ser um fator decisivo para a
análise, perceber que já existe um extenso tratamento aplicabilidade do regime especial. Com base nos julga-
jurídico por parte dos tribunais europeus e ingleses so- mentos Google Spain e Buivids e na vontade originária
bre as finalidades estudadas. Além disso, apesar dos do legislador que criou o artigo 85, do RGPD, o Prof.
casos citados a seguir terem ocorrido sob a Diretiva David Erdos explica que:
95/46/CE, pode-se presumir que o artigo 85 do RGPD
não mudará a abordagem138. Por isso e pela maior “A derrogação para fins expressivos especiais pro-
tegerá, portanto, todas as pessoas físicas e jurí-
quantidade de materiais sobre o tratamento de dados
dicas que genuinamente buscam divulgar material
para finalidade jornalística, neste tópico, nos referire- para esse público coletivo, independentemente de
mos mais a esta modalidade do que às outras. esse material ser de natureza jornalística, acadêmi-
ca, artística ou literária”148
Começando pelo escopo material, ao contrário da Di-
retiva 95/46/CE, o artigo 85 tem um escopo amplo,
abrangendo outros contextos de liberdade de expres-
Além disso, a isenção jornalística não abarca outras
são e informação, para além do jornalismo, academia,
atividades dos meios de comunicação, tais como o
arte e literatura. Explicitamente, o legislador refere-se
tratamento de dados pessoais para cadastro e co-
à derrogação para fins jornalísticos ou de expressão
brança de assinantes, vínculo empregatício e para fins
acadêmica, artística ou literária, mas não apresenta
de marketing. Nestes casos, as empresas de mídia
quaisquer definições formais destas finalidades, tam-
estariam agindo como controladores e, consequente-
pouco fornece muitas informações e orientações que
mente, deveriam observar o RGPD, tal como foi postu-
possam servir de guia sobre a natureza, o âmbito e a
lado pelo Guia sobre como proteger a privacidade na
delimitação de cada uma destas noções.139
mídia criado pelo Conselho da Europa.149
No caso Satamedia, analisando o âmbito do artigo 9 da
Na proposta inicial do texto do RGPD, havia várias re-
Diretiva 95/46/CE, o TJUE140 declarou que as noções
ferências ao caso Satamedia, incluindo o conceito de
relativas à liberdade de expressão, como jornalismo,
atividade jornalística.150 No entanto, muitas dessas fra-
deveriam ser interpretadas de forma ampla141. Para o
ses foram retiradas, e o texto atual do Considerando
tribunal, o jornalismo corresponderia a uma atividade
153, do RGPD é o seguinte:
que teria como objetivo divulgar ao público informa-
ções, opiniões ou ideias, independentemente do meio “O direito dos Estados-Membros deverá conciliar
utilizado para transmiti-las142 e se o fim é gerar lucro143. as normas que regem a liberdade de expressão e
de informação, nomeadamente jornalística, acadé-
O TEDH144 também foi confrontado no caso Satakun- mica, artística e/ou literária com o direito à prote-
nan e Satamedia, após a decisão do TJUE. A análi- ção de dados pessoais nos termos do presente
se desse caso partiu de prévia decisão do Tribunal regulamento (...). A fim de ter em conta a importân-
cia da liberdade de expressão em qualquer socie-
finlandês que adotou uma abordagem mais restritiva
dade democrática, há que interpretar de forma lata
que o TJUE, considerando que para enquadrar uma as noções associadas a esta liberdade, como por
atividade como jornalística, ela também precisava con- exemplo o jornalismo.”
tribuir para o debate público. O TEDH concluiu que o
raciocínio adotado pelo tribunal finlandês era aceitável
e balanceava bem os dois direitos145. Da leitura do Considerando, o que podemos presumir
é que as expressões acadêmica, artística ou literária,
Recentemente, no caso Buivids, o TJUE repetiu o en-
por guardarem relação com a liberdade de expressão,
tendimento de que a atividade jornalística teria como
também devem ser interpretadas de forma lata. O fato
objetivo divulgar informações, opiniões ou ideias para
é que nenhuma destas noções são facilmente definí-
o público, cabendo ao órgão jurisdicional de reenvio
veis. Inclusive, em certas atividades, podemos obser-
verificar se este era o caso146. Além disso, ficou claro
var uma sobreposição de categorias, até mesmo com
em Buivids que, para uma orientação mais substanti-
as de finalidade jornalística. O tratamento de dados
va, é preciso olhar para a jurisprudência do TEDH, que
pessoais realizado por um professor que publica arti-
foi responsável por uma série de critérios para recon-
gos em um blog, por exemplo, pode cair em todas es-
ciliar o direito à vida privada e o direito à liberdade de
sas categorias cumulativamente ou alternadamente151.
expressão.147
Sobre isso, o Prof. David Erdos comenta que:
No parágrafo anterior, “para o público” está em itálico,
porque o destinatário desta divulgação de informação,
33
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
“Até o momento, o Tribunal de Justiça elidiu qua- Uma passagem de uma decisão do TEDH, no contex-
se completamente as finalidades jornalísticas com to de liberdade de expressão e informação, justamente
as finalidades especiais em geral e, portanto, não
a base do artigo 85, RGPD, merece atenção:
abordou explicitamente o significado das outras
finalidades especiais que dizem respeito à arte, à
literatura e, agora, à academia. No entanto, pelo “Ao determinar se o “discurso” tem um “elemento
menos no contexto de atividades orientadas para acadêmico” é necessário estabelecer: (a) se a pes-
a divulgação de material para um número inde- soa que faz o discurso pode ser considerada um
terminado, parece provável que o valor agregado acadêmico; (b) se os comentários ou declarações
central desses outros conceitos seja enfatizar que públicas dessa pessoa se enquadram na esfera de
o material (‘informações, opiniões e ideias’) prote- sua pesquisa; e (c) se as declarações dessa pes-
gido por esta disposição não precisam (mesmo soa equivalem a conclusões ou opiniões baseadas
quando inicialmente publicadas) ser sobre um em sua experiência e competência profissional. Es-
assunto de ‘preocupação pública’ imediata. A ju- tas condições sendo satisfeitas, uma declaração
risprudência da Convenção Europeia de Direitos impugnada deve gozar da máxima proteção nos
Humanos pode legitimamente ser de interesse termos do Artigo 10. (tradução nossa)157
público em uma ‘sociedade democrática’ compro-
metida com os valores de ‘pluralismo, tolerância
e liberalidade’. Assim, o TEDH enfatizou que ‘[a]
queles que criam, executam, distribuem ou exi-
Trata-se da opinião em conjunto dos juízes Sajó, Vuči-
bem obras de arte contribuem para a troca de nić e Kūris do caso Mustafa Erdoğan v Turkey, no Tri-
ideias e opiniões que [são] essenciais para uma bunal Europeu De Direitos Humanos que foca na espe-
sociedade democrática’. Enquanto isso, a Corte cialidade acadêmica do indivíduo. Ao contrário desta
também ‘sublinhou[d] a importância da liberdade
opinião, o texto do RGPD não se refere a atores espe-
acadêmica’ incluindo a liberdade dos acadêmicos
para ‘distribuir conhecimento e verdade sem restri- ciais e sim a finalidades especiais, aparentando adotar
ções’.” (tradução nossa)152 uma abordagem de “ator neutro”. É difícil especular se
alguns destes critérios será levado em consideração
para avaliar se o tratamento de dados é para fins aca-
A nível nacional, cada Estado membro tem uma posi- dêmicos.158
ção diferente com relação ao conteúdo das derroga-
Em relação à derrogação de tratamento de dados para
ções, o que tem repercussão prática. Para ilustrar, as
fins jornalísticos, por outro lado, é certo dizer que o seu
gravações de drones podem, por um lado, se enqua-
escopo pessoal é amplo. Com base nos casos julga-
drar na finalidade artística, se o objetivo for capturar
dos pelo TJUE Buivids159, Satamedia160 e Google Es-
uma paisagem única e, por outro lado, pode se aco-
panha161, ele abrange pessoa natural ou jurídica, jorna-
modar na finalidade jornalística, caso o fim tenha sido
lista profissional ou não, prestadores de serviços com
informar o público sobre um engarrafamento.153
fins lucrativos ou não, independentemente do método
O legislador nacional apenas precisa fazer uma deli- de comunicação utilizado, desde que o tratem dados
mitação mais precisa de cada uma das finalidades, se pessoais para divulgar informação, opinião ou comen-
desejar tratá-las em regimes diferentes, caso contrário, tário ao público. O único prestador de serviço que é
não é imprescindível. Na prática, o que se observa é excluído explicitamente do escopo deste artigo, pelo
que a maioria dos Estados membros tem adotado um TJUE, são os operadores de motores de busca, como
“regime bastante global” para implementar o artigo 85, o Google.162
do RGPD e tem uma maior preocupação com o trata-
Finalmente, no que diz respeito à extensão deste po-
mento de dados para os fins jornalísticos.154
der de derrogação, é importante destacar que os Es-
Sobre o ponto (ii), é importante destacar que no caso tados membros não podem estabelecer derrogações
do tratamento de dados para fins jornalísticos, acadê- ou isenções para todos os dispositivos do Regulamen-
micos, literários ou artísticos, o beneficiário da derroga- to. O RGPD apenas permite a derrogação e isenção
ção não é necessariamente uma organização de artis- dos seguintes dispositivos: capítulo II (princípios), do
tas ou de mídia, por exemplo. À luz do que estabelece capítulo III (direitos do titular dos dados), do capítulo IV
o caso Satamedia, pessoas naturais, nas suas capa- (responsável pelo tratamento e subcontratante), do ca-
cidades pessoais, também têm direito à derrogação pítulo V (transferência de dados pessoais para países
do artigo 85 do RGPD155. No caso em específico da terceiros e organizações internacionais), do capítulo VI
finalidade acadêmica, a Carta dos Direitos Fundamen- (autoridades de controlo independentes), do capítulo
tais da União Europeia156 se refere à “liberdade acadê- VII (cooperação e coerência) e do capítulo IX (situações
mica”, em seu artigo 13, mas não dá mais detalhes. específicas de tratamento de dados) desde que tais
derrogações ou isenções sejam “necessárias”.
34
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Este limite ao poder dos Estados aparece na parte final cíficos e que tais derrogações sejam necessárias
do artigo 85(2), mas não existe uma definição para o para a prossecução desses fins.
mesmo no RGPD. Cabe agora aos tribunais europeus 3. Quando os dados pessoais sejam tratados
e nacionais decidirem sobre o sentido da expressão para fins de arquivo de interesse público, o direito
da União ou dos Estados-Membros pode prever
“isenções ou derrogações forem necessárias”, densifi-
derrogações aos direitos a que se referem os arti-
cando o regime jurídico do tratamento de dados para gos 15.o, 16.o, 18.o, 19.o, 20.o e 21.o, sob reser-
as finalidades supracitadas. va das condições e garantias previstas no n.o 1 do
presente artigo, na medida em que esses direitos
sejam suscetíveis de tornar impossível ou prejudi-
5.2.3 Artigo 89, do RGPD car gravemente a realização dos fins específicos
e que tais derrogações sejam necessárias para a
prossecução desses fins.
Para além das previsões do artigo 85, ainda existe uma
4. Quando o tratamento de dados previsto no
redação mais específica no RGPD que vai tratar espe- n.os 2 e 3 também se destine, simultaneamente, a
cificamente de uma possível “finalidade científica”, inte- outros fins, as derrogações aplicam-se apenas ao
resse de pesquisa163, uma inovação jurídica que auxilia tratamento de dados para os fins previstos nesses
números.”
a entender o que seria a finalidade acadêmica, assim
como o interesse público que permeia as derrogações,
uma vez que versam sobre o equilíbrio de liberdades
Entendemos que não há um artigo equivalente ao arti-
(interesses coletivos) e a privacidade (interesse indivi-
go 89, do RGPD, na legislação de proteção de dados
dual).
brasileira, porque o artigo 4, II, b, da LGPD, é tratado
Os dados pessoais que são tratados para ‘fins de in- de maneira semelhante pela Autoridade Nacional de
vestigação científica ou histórica’, ‘fins estatísticos’ ou Proteção de Dados (ANPD) a como o artigo 85, do
‘fins de arquivo de interesse público’ estão sujeitos a RGPD é tratado pela Autoridade Europeia para a pro-
uma derrogação. Trata-se de uma hipótese menos teção de Dados (AEPD)165. O que temos na LGPD é
radical, com um escopo de aplicação mais limitado, uma menção à órgão de pesquisa no artigo 5, XVIII,
mais comumente utilizada, assim como fonte de me- art. 7, IV e art. 11, II, C. Esse dispositivo define órgão
nos controvérsias do que a anterior (art. 85, RGPD)164. de pesquisa como:
O artigo 89 tem 4 incisos e estabelece que:
“órgão ou entidade da administração pública dire-
“Artigo 89.o Garantias e derrogações relativas ao ta ou indireta ou pessoa jurídica de direito privado
tratamento para fins de arquivo de interesse públi- sem fins lucrativos legalmente constituída sob as
co ou para fins de investigação científica ou históri- leis brasileiras, com sede e foro no País, que inclua
ca ou para fins estatísticos em sua missão institucional ou em seu objetivo so-
cial ou estatutário a pesquisa básica ou aplicada
1. O tratamento para fins de arquivo de interes- de caráter histórico, científico, tecnológico ou es-
se público, ou para fins de investigação científica tatístico;”
ou histórica ou para fins estatísticos, está sujeito a
garantias adequadas, nos termos do presente re-
gulamento, para os direitos e liberdades do titular
dos dados. Essas garantias asseguram a adoção Já o artigo 7, IV e art. 11, II, c, da LGPD correspon-
de medidas técnicas e organizativas a fim de asse- dem a uma base legal, sem equivalência no RGPD166.
gurar, nomeadamente, o respeito do princípio da
Estes dispositivos dispensam o consentimento para o
minimização dos dados. Essas medidas podem
incluir a pseudonimização, desde que os fins vi- tratamento de dados pessoais (sensíveis ou não) para
sados possam ser atingidos desse modo. Sempre a realização de estudos por órgão de pesquisa, se: (i) o
que esses fins possam ser atingidos por novos tra- agente de tratamento for enquadrado como ‘órgão de
tamentos que não permitam, ou já não permitam, pesquisa’ (art. 5, XVIII) e (ii) os dados pessoais usados
a identificação dos titulares dos dados, os referidos
para o desenvolvimento de estudo e pesquisa sejam
fins são atingidos desse modo.
“sempre que possível” anonimizados (art. 7, IV, 11, II, c
2. Quando os dados pessoais sejam tratados para
e art. 13 e 16, II, da LGPD).167
fins de investigação científica ou histórica ou para
fins estatísticos, o direito da União ou dos Estados-
-Membros pode prever derrogações aos direitos a
que se referem os artigos 15.o, 16.o, 18.o e 21.o,
sob reserva das condições e garantias previstas no
n.o 1 do presente artigo, na medida em que esses
direitos sejam suscetíveis de tornar impossível ou
prejudicar gravemente a realização dos fins espe-
35
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
5.2.4 Escopo do artigo 89, do RGPD contrário, pode-se pensar no tratamento de dados
para o fim de investigação histórica170.
Na mesma lógica do artigo 85, do RGPD, é de se Além disso, nem toda instituição que cumpra com es-
questionar o escopo material, pessoal e a extensão tas condições necessariamente goza desta derroga-
deste poder de derrogação. Começando pelo esco- ção. O tratamento de dados pessoais de usuários ou
po material e pessoal, o artigo 89 do RGPD regula as alunos que estão desenvolvendo atividades educativas
operações de tratamento que forem efetuadas para: (a) ou participando de conferências por estas instituições
arquivo de interesse público; (b) investigação científica não está coberto pelo artigo 89, do RGPD.171
ou histórica; e/ou (c) fins estatísticos.
Outro requisito para aplicação do artigo é que o regis-
O RGPD não avançou com nenhuma definição formal, tro seja de interesse público. Para tanto, a atividade
deixando em larga parte esta tarefa de definir cada de arquivamento de arquivamento individual precisa
uma destas modalidades para o legislador nacional estar definida na legislação nacional, seja amplamente
dos Estados Membros. Além disso, também ficou ou não. Na prática, isto significa que arquivos pessoais
como responsabilidade dos Estados-Membros definir ou familiares, assim como registro de empresa, a prin-
até que ponto as modalidades de tratamento de dados cípio, não são enquadráveis no artigo 89, do RGPD172.
do artigo 89 podem ser delegadas total ou parcialmen-
te para entidades privadas. Logo, na prática, é prová- Passemos a análise de “investigação científica” e “in-
vel que os requisitos para tais categorias de tratamento vestigação histórica”. A AEPD173 nota que não existe
de dados estejam detalhados na legislação nacional.168 um consenso sobre o que significa investigação. Se-
gundo esta instituição, boas definições, em geral, con-
Existem alguns estudos e indícios do que cada uma ceituam pesquisa como uma atividade sistemática, in-
dessas noções pode abranger nos Considerandos do cluindo atividades de coleta e análise de dados, com o
RGPD. O considerando 158 do RGPD, por exemplo, fim de produzir conhecimento e aplicações práticas.174
descreve o que significa “arquivo de interesse público”
No RGPD, o considerando 159 estabelece que o ter-
“Quando os dados pessoais sejam tratados para mo “investigação científica” deve ser definido de ma-
fins de arquivo, o presente regulamento deverá ser neira ampla, “abrangendo, por exemplo, o desenvol-
também aplicável, tendo em mente que não deve-
vimento tecnológico e a demonstração, a investigação
rá ser aplicável a pessoas falecidas. As autoridades
públicas ou os organismos públicos ou privados fundamental, a investigação aplicada e a investigação
que detenham registos de interesse público de- financiada pelo setor privado.“ A AEPD nota que não
verão ser serviços que, nos termos do direito da existe uma definição consensual sobre o que é ‘inves-
União ou dos Estados-Membros, tenham a obriga-
tigação científica’, assim como uma delimitação clara
ção legal de adquirir, conservar, avaliar, organizar,
descrever, comunicar, promover, divulgar e facultar entre investigação para fins científicos ou outras moda-
o acesso a registos de valor duradouro no interes- lidades, como investigação para fim de marketing, arte
se público geral. (...)” ou investigação em ciências humanas e sociais.175 Se-
gundo a Autoridade, a investigação científica se apoia
no método científico de observação do fenômeno,
O RGPD não exige que o arquivo seja conduzido de formulando e testando as hipóteses para assim poder
uma forma específica. Ele pode ser conduzido de ma- tirar conclusões sobre a validade destas hipóteses.176
neira centralizada ou descentralizada, por entidades
O significado de “investigação histórica”, por sua vez,
públicas e/ou privadas, desde que a legislação regule
não aparece no RGPD. Mas, entende-se que é possí-
tal atividade e que o tratamento de dados seja sujei-
vel usar a mesma base de entendimento para “inves-
to a salvaguardas adequadas como exigido no artigo
tigação científica” no caso de “investigação histórica”.
89169. Para o European Archives Group, com base no
Logo, investigações históricas fundamentais ou apli-
Considerando supracitado, não importa a natureza do
cadas, assim como financiadas pelo setor público ou
arquivo, mas a missão da instituição que o tem. Se-
privado estariam dentro do escopo deste artigo. Ob-
gundo este grupo, o artigo 49 somente é aplicável se
serve que o conceito de investigação histórica não se
a instituição tiver a obrigação legal de exercer todas as
restringe à investigação para fins genealógicos, citada
atividades grifadas por nós no Considerando, isto é,
no Considerando 160 do RGPD. Qualquer investiga-
de adquirir, conservar, avaliar, organizar, descrever, co-
ção com foco em eventos ou fatos no passado estaria
municar, promover, divulgar e facultar o acesso. Caso
incluída no conceito.177
36
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Antes de prosseguir, uma distinção relevante para este “Por fins estatísticos entende-se todas as opera-
estudo seria entre o que é investigação e o que é ex- ções de recolha e de tratamento de dados pes-
soais necessárias à realização de estudos esta-
pressão acadêmica, considerando que o artigo 85 tem
tísticos ou à produção de resultados estatísticos.
escopo de derrogações mais amplo que o do artigo Esses resultados estatísticos podem ser utilizados
89, do RGPD. posteriormente para fins diferentes, inclusive fins
de investigação científica. No fim estatístico está
Como já foi dito, no texto do RGPD não existe uma implícito que os resultados do tratamento para
definição formal para “expressão acadêmica”. O ter- esse fim não sejam já dados pessoais, mas dados
agregados e que esses resultados ou os dados
mo “acadêmica”, aliás, apenas é mencionado no artigo
pessoais não sejam utilizados para justificar medi-
85 e nos “considerandos”. E isso não representa, em das ou decisões tomadas a respeito de uma pes-
nossa opinião, uma falha do legislador. Afinal, deixá- soa singular.”
-lo como um conceito aberto é justificável, levando
em consideração que seria paradoxal a imposição de
um conceito legal para o que constitui um “discurso Note-se que nem todo tratamento de dados que gera
acadêmico legítimo”, sem que ocorresse limitações à estatística é coberto pelo artigo 89, RGPD. Para tanto,
liberdade de expressão178. é necessário que o objetivo principal do tratamento de
dados seja produzir resultados estatísticos que pos-
Para auxiliar nesta distinção, que pode ter repercus-
sam, em seguida, ser usados para outros fins, inclusi-
sões práticas, citamos o EDPS179 que argumenta o
ve, de investigação científica.
seguinte:
Além disso, é importante tomar cuidado para não fazer
“(...) o tratamento de dados pessoais para efeitos
uma interpretação literal do Considerando 162 e afas-
de «expressão académica» implica: (1) processa-
mento diretamente vinculado à liberdade dos aca-
tar os dados agregados do escopo material do RGPD,
dêmicos de divulgar informações, (2) sua liberdade por serem dados não pessoais. Nos parece melhor a
de distribuir conhecimento e verdade sem restri- interpretação de que o tratamento de dados para fins
ções, como com publicações, divulgação dos re- estatísticos tem como objeto dados pessoais, até que
sultados da pesquisa e (3) o compartilhamento de
sejam anonimizados por agregação.183
dados e metodologias com os pares e trocas de
pontos de vista e opiniões.” (tradução própria)180
Com relação à extensão do poder de derrogação, o ar-
tigo 89 é menos abrangente do que a do artigo 85, do
RGPD. Segundo o dispositivo, o direito da UE ou dos
Na prática, a distinção pode ser difícil, podendo ocor-
Estados-Membros podem estabelecer derrogações a
rer uma sobreposição do regime do artigo 85 e 89, do
certos dispositivos dependendo da finalidade do trata-
RGPD. Em caso de dúvida, o que se entende é que não
podemos interpretar a modalidade de pesquisa de modo mento de dados pessoais.
amplo para poder empregar o artigo 85, do RGPD.181
No caso de tratamento de dados pessoais para fins de
Na mesma linha do que foi dito anteriormente, o fato de investigação científica ou histórica ou para fins estatís-
alguém estar vinculado a uma instituição de pesquisa ticos, os seguintes artigos referentes aos direitos dos
ou ser considerado um pesquisador não significa au- titulares de dados poderiam ser derrogados, nomea-
tomaticamente que qualquer atividade desempenhada damente: o direito de acesso do titular dos dados (art.
pelo mesmo seja ‘pesquisa’ para fins de aplicação des- 15, RGPD), direito de retificação (art. 16, RGPD), direito
te dispositivo. Atualmente, a pesquisa não se restringe à limitação do tratamento (art. 18, RGPD), e direito de
apenas à academia, como outrora, na medida em que oposição (art. 21, RGPD).
existe um ecossistema complexo para além das orga-
nizações de pesquisa, tais como “editores científicos, Já no caso de tratamento de dados pessoais para fins
designers e desenvolvedores, empreendedores, fontes de arquivo de interesse público, para além dos artigos
de financiamento comerciais, governamentais e sem supracitados, também pode-se falar na derrogação
fins lucrativos nos setores comercial, governamental e das obrigações de notificação da retificação ou apaga-
setores sem fins lucrativos” (tradução nossa)182. Todos mento dos dados pessoais ou limitação do tratamen-
têm uma participação, mas não necessariamente es- to (artigo 19, RGPD) e do direito de portabilidade dos
tão exercendo uma atividade de pesquisa, podendo a dados (art. 20, RGPD). Todas as outras regras para
atividade ser meramente administrativa, por exemplo. tratamento de dados estabelecidas pelo RGPD ainda
devem ser obedecidas.
Finalmente, o Considerando 162 dispõe sobre trata-
mento de dados para “fins estatísticos”:
37
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Observe-se que esta derrogação não é automática. ao RGPD motivando que esse bloco buscasse outras
O artigo 89, do RGPD estabelece um conjunto de formas de atingir os mesmos patamares de proteção
condições para a aplicação das derrogações. Primei- de dados requeridos por referida norma para continuar
ramente, os controladores de dados precisam adotar o desenvolvimento dos negócios entre os dois blocos.
medidas técnicas e organizacionais adequadas aos
Dessa forma, entre tantos modelos possíveis foi reali-
princípios gerais de proteção de dados pessoais, par-
zada a escolha da criação de um regulamento similar
ticularmente os princípios de minimização de dados,
ao RGPD para regulamentar as normas de proteção de
proporcionalidade e necessidade.184
dados, mais especificamente o Data Protection Act UK
O Regulamento não enumera uma lista exaustiva de 2018. Na referida norma é possível notar a semelhança
salvaguardas, apenas exemplificando com a técnica na redação de suas previsões para com as do RGPD e
de pseudonomização185, o que revela a intenção do também o trabalho desenvolvido pela ICO, agência re-
legislador europeu de deixar a critério dos controlado- guladora do Reino Unido, que se posiciona firmemente
res a decisão de quais medidas são mais adequadas no papel de conscientização e auxílio ao mercado no
às peculiaridades de seu projeto de investigação ou seu desenvolvimento para uma cultura de proteção de
arquivamento186. dados.
Em segundo lugar, as derrogações de certos direitos Neste sentido, não é novidade, mas tão somente a ra-
dos titulares de dados só podem ocorrer se os requisi- tificação de um desenvolvimento interessante e uma
tos do RGPD impedirem ou prejudicarem seriamente a necessidade para o estudioso o conhecimento tam-
realização do objetivo da pesquisa. bém das previsões originárias do Reino Unido, com
especial destaque para as pontuações da ICO que,
Já em terceiro lugar, as derrogações do artigo 89, do
brilhantemente, tem desenvolvido um papel crucial na
RGPD estão limitadas às três finalidades mencionadas
implementação e harmonização de normas relativas à
no parágrafo. No caso de que o tratamento de dados
proteção de dados.
tenha múltiplas finalidades, a derrogação só será apli-
cável para os fins dispostos no artigo 89, do RGPD187. Assim, não é surpresa encontrarmos dentre as excep-
Logo, teoricamente o uso subsequente dos resultados cionalidades de aplicação do Data Protection Act UK
de uma pesquisa para fins comerciais pode não es- 2018 a indicação da necessidade de cuidado especial
tar coberto pelo artigo 89, do RGPD. “Teoricamente”, com o tratamento de dados para usos acadêmicos,
porque, na prática, é uma tarefa complexa diferenciar artísticos e jornalísticos, tal qual existente em outras
a finalidade original e a subsequente do projeto de in- normas de proteção de dados.
vestigação.
Aqui o destaque relevante é a harmonização destas
Por fim, o artigo 89, do RGPD dispõe que apenas a ati- exceções com o entendimento de Direitos Humanos e
vidade de arquivamento precisa ter uma aplicação de também as demais normas, uma vez que é pontuado
interesse público188. Isso significa que o tratamento de que o tratamento de dados para finalidades jornalísti-
dados para fins de pesquisa científica ou histórica ou cas, artísticas e acadêmicas se enquadra dentro das
para fins estatísticos pode não visar atender interesse previsões que possuem interesse público significati-
público, como é o caso das investigações científicas vo/substancial e também figuram dentre as exceções
“híbridas” que atendem a interesses públicos e priva- oriundas da necessidade de proteção da liberdade de
dos.189 expressão e informação, assim entendida em sentido
amplo.190
38
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
tratamento de dados para as finalidades das exceções novamente somos apresentados a conceitos como
ora analisadas, determinando a criação de um código interesse público, demonstrando a preocupação da
de proteção de dados e jornalismo.192 A norma segue, harmonização de normas e a forma que o intérprete
ainda, sugerindo formas de atuação e análise para que deve entender e aplicar a norma.
os titulares de direitos não vejam perecer os seus direi-
Auxiliando e indicando tais diretrizes a norma ainda
tos, sugerindo formas de persecução de tais entidades
sugere a análise e entendimento do interesse público
e até mesmo a criação de um guia de boas práticas
consolidado com a prática e Códigos de Conduta de
para o exercício de seus direitos frente aos veículos
determinados veículos de mídia, como a BBC195, dire-
de mídia.193
cionando efetivamente o uso deste tipo de tratamento
Neste sentido, é interessante notar o destaque dado de dados para algo mais ético e que efetivamente re-
pelo Data Protection Act UK 2018 as questões jorna- flita algo relevante para a sociedade e um tratamento
lísticas, o que não se repete com as excepcionalidades que esteja em vias de ser publicizado.
relativas a finalidade acadêmica e artística, ainda que
Tais pontuações também já indicam que o tratamen-
a última, em especial, possa analisar com um cuidado
to não deverá ser somente o realizado pelo veículo de
mais atento tais previsões, uma vez que parte das en-
mídia, mas também pelas demais pessoas que tem o
tidades que realizam o tratamento de dados para fins
interesse em publicar, as quais devem sopesar o seu
jornalísticos também realizam para finalidades artística,
interesse em ampla disponibilização do conteúdo que
como no caso dos veículos de mídia, cabendo reco-
contém um tratamento de dados com finalidade artís-
mendações que podem ser aplicadas e que servem
tica, acadêmica ou jornalística, o local de disponibili-
para ambas as finalidades.
zação e o interesse público, seguindo as diretrizes já
Todavia, antes de adentrarmos na redação do guia, existentes.
há de se ressaltar que o Data Protection Act UK 2018
Concluindo as previsões desta Parte 5, ainda há o
ainda traz em seus anexos previsões relevantes para
destaque específico sobre derrogações e aplicações
estudo, que precisam ser analisadas com cuidado e
harmonizadas de tais excepcionalidades e as normas
que já introduzem recomendações interessantes aque-
de proteção de dados, com o intuito de esclarecer es-
les que pretendem realizar o tratamento de dados com
pecificamente o que pode ser relativizado e o que não
tais finalidades.
quando do tratamento de dados pessoais para as fina-
Primeiramente, no Anexo 1, Parte 2,194 que trata das lidades acadêmicas, artísticas e/ou jornalísticas.
questões relativas ao interesse público, já somos intro-
Por fim, há de se ressaltar apenas a existência do Ane-
duzidos à necessidade de realização de uma política e
xo 17, o qual explica como será a atuação da Auto-
da devida análise por parte da entidade sobre como o
ridade e a sua forma de interpretação das previsões
tratamento é realizado. Neste sentido, ao longo deste
específicas para a criação da regulação dos veículos
item são destacadas diversas condutas que devem ser
de mídia. Destacando, ainda, a necessidade de revi-
analisadas pelo agente de tratamento como forma de
são constante de práticas e dos guias, papel que será
não ferir a norma de proteção de dados e garantir o
desempenhado pela Autoridade e que deve ser obje-
devido equilíbrio entre interesse público e direito dos
to de atenção contínua das entidades que pretendam
titulares.
realizar o tratamento de dados por uma das excepcio-
Outrossim, também são exemplificadas hipóteses em nalidades ora retratadas.
que o tratamento de dados se faz necessário e é líci-
Superada a redação do Data Protection Act UK 2018
to por essa excepcionalidade, como por exemplo, nas
e buscando não nos alongar por demais neste tópico,
hipóteses de apuração e ilegalidades dentro de asso-
passamos, por fim, a análise do Guia para a Mídia so-
ciações e organizações as quais possuem um papel
bre Proteção de Dados e jornalismo, elaborado pela
relevante para a sociedade. Já introduzindo, assim,
ICO.196 A redação do documento funciona mais como
conceitos amplos como interesse público e demons-
um manual ao interessado, trazendo perguntas e res-
trando o verdadeiro “espírito da lei” e como o estudioso
postas que versam desde questões amplas até o dia
deve interpretá-la.
a dia, lembrando conceitos mais amplos sobre ética e
Por sua vez, no Anexo 2, Parte 5, do Data Protection do que seria esperado como equilibrado, segundo os
Act 2018 é feita a análise das questões afeitas à li- costumes e a boa-fé.
berdade de expressão que adentram mais profunda-
mente nas excepcionalidades ora estudadas, todavia,
39
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Assim, o guia funciona como um aliado ao intérpre- boas práticas, fornecendo mais esclarecimentos sobre
te, destacando pontos como a necessidade de tra- situações que são consideradas alinhadas com o inte-
tamento de dados no limite da expectativa do titular resse público para que o intérprete faça uso das exce-
de dados, ainda que com a finalidade jornalística197, ções da legislação ao tratamento de dados pessoais
relembra a relevância de informação sobre a existên- para finalidade jornalística. Destacando, contudo, a ne-
cia de tratamento com o devido equilíbrio ao interesse cessidade de manutenção de altos padrões de segu-
público198, o qual deve ser realizado de maneira estrita rança e da revisão contínua de normas, práticas e con-
e restritiva.199 ceitos com o intuito de melhor aplicar tais previsões.
O guia, porém, destaca a importância do entendimen- Frente ao exposto, é interessante notar os acréscimos
to do que é ético, correto e necessário segundo o en- trazidos à legislação brasileira frente ao aprendizado da
tendimento e viés do próprio veículo de mídia200, com norma britânica e de suas práticas. Ora, há um claro
o intuito de garantir a ampla liberdade de expressão intuito na devida harmonização dos interesses de pro-
e acesso à informação, inclusive prevendo harmoni- teção de dados com o interesse público, cabendo a
zações e equilíbrios com a necessidade do sigilo de realização do tratamento de dados manter-se sempre
fonte201 e, eventuais respostas negativas e/ou mais alinhado com os princípios da LGPD, com as normas
calibradas aos pedidos de exercício dos direitos dos constitucionais e com a realização de tratamentos de
titulares.202 dados éticos e alinhados com o escopo das profis-
sões, prezando pela boa-fé.
Afinal, para o exercício de suas atividades certas liber-
dades sobre como dar andamento a certas investiga- Isso porque, pela análise ora realizada o Data Protec-
ções ou mesmo o prazo em que devem ser mantidos tion Act UK 2018 não restringe qualquer atividade seja
certos dados, pode variar dependendo do andamento ela artística, acadêmica ou mesmo jornalística, mas
de determinado trabalho específico. Cabendo, contu- apenas chama a atenção para o respeito aos direi-
do, uma análise e revisão contínua dos tratamentos de tos dos titulares e a devida proteção de seus dados,
dados e das práticas por tais veículos.203 cabendo ao agente de tratamento um cuidado maior
com tais questões, documentando suas práticas, revi-
De uma maneira ampla, o do Guia de Proteção de Da-
sando-as periodicamente e aplicando, no que for pos-
dos e Jornalismo da ICO funciona como um guia de
sível as normas de proteção de dados.
40
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Capítulo 6
As boas práticas apresentadas neste guia não possuem o objetivo de esgotar o tema, visto que rotineiramente
novos métodos são desenvolvidos e novas tecnologias da informação e comunicação podem ser adotadas para
fins jornalísticos, acadêmicos e artísticos. Tratam-se apenas de recortes e reflexões extraídos ao longo do desen-
volvimento da pesquisa com o intuito de guiar o leitor acerca do que vem sendo realizado pelas instituições e das
sugestões elaboradas pelos estudiosos no momento de aplicação da excepcionalidade.
41
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
No caso de tratamento de dados para fim jornalístico, jornalísticas, artísticas e acadêmicas e podem ser ne-
por exemplo, o intérprete pode questionar se: estão las aplicadas. Destacam-se os seguintes princípios:
envolvidas pessoas públicas, celebridades ou pessoas
Finalidade: indica a necessidade do tratamento de da-
comuns? Seria possível chegar ao mesmo resultado,
dos pessoais para uma finalidade específica e neste
por exemplo, uma reportagem sem esses dados? É
caso é vedada a modificação da finalidade sem co-
possível anonimiza-los207? É necessário minimizar a ex-
municação prévia ao titular de dados. Além disso, a
posição da imagem de uma pessoa? Qual é o viés do
realização do tratamento deve ser para propósitos
conteúdo jornalístico? Quais são os riscos para o titular
legítimos, específicos, explícitos e informados aos ti-
dos dados tratados? Poderá existir alguma ofensa de
tulares. Ou seja, a coleta de dados pessoais para fina-
direito a posteriori em razão do tratamento dos dados
lidades específicas e legítimas, sem a possibilidade de
do titular?
uso dos dados para finalidades diversas, por exemplo,
Além de tais pontos, ainda existem outros que são re- na atividade jornalística, o tratamento de dados deve
levantes para a apuração, como: (i) entender a conduta ser realizado com a finalidade de produzir matérias e
do titular, apurando se ele tinha conhecimento do po- conteúdos de interesse público.
tencial uso dos seus dados ou não; (ii) a forma em que
Adequação: o tratamento de dados deve ser relevan-
os dados foram obtidos, se de forma lícita e legítima,
te, adequado e limitado ao minímo necessário para o
ou não; além dos já citados (iii) tipo de conteúdo, sua
alcance da finalidade pretendida, seja ela jornalística,
forma de exposição e as consequências.
artística ou acadêmica. Deve ser evitado o tratamen-
Diante deste cenário, o sopesamento de direitos deve to de dados de forma excessiva e desnecessária. Ou
ser realizado sempre que for necessário o tratamento seja, deve haver compatibilidade do tratamento com
de dados para a atividade jornalística, acadêmica e ar- as finalidades informadas ao titular de dados pessoais,
tística, com o intuito de minimizar o possível impacto considerando o contexto do tratamento.
que pode ocorrer ao titular, apurando se é realmente
Necessidade: o tratamento de dados deve ser o ne-
necessário o tratamento. Ainda, deve-se buscar miti-
cessário para o alcance da finalidade pretendida. Deve
gar potenciais riscos, uma vez que, apesar da possí-
ser avaliado quais tipos de tratamento de dados são
vel derrogação de parte das previsões pelos Estados
necessários e imprescindíveis para o alcance da fina-
Membros, ainda assim quaisquer abusos podem ser
lidade pretendida. Logo, no caso de dúvidas sobre o
penalizados.
tratamento excessivo desses dados, recomenda-se a
adoção do princípio da necessidade, em conjunto com
6.1 Princípios norteadores de o princípio da adequação e finalidade, a fim de reduzir
boas práticas na LGPD o tratamento de dados pessoais em todo seu ciclo de
vida. Ou seja, é recomendável a adoção de práticas
sobre a análise de impactos em relação ao uso de da-
Os princípios expostos na LGPD (art. 6º) visam com-
dos pessoais.
por um conjunto de boas práticas em relação ao tra-
tamento de dados pessoais. Mesmo nos casos de Transparência: os titulares de dados devem ser infor-
não aplicação da LGPD, eles devem ser considerados mados sobre o tratamento de dados pessoais de for-
de modo a permitir o tratamento de dados pessoais ma clara e acessível, ou seja, como os dados serão
estritamente necessários para cada finalidade, seu ar- coletados, compartilhados e utilizados para o alcance
mazenamento seguro e a prevenção de vazamentos. da finalidade pretendida. Cabe destacar que o dever
Ressalta-se que a coleta rotineira de dados pessoais de informar ao titular de dados é diferente do consen-
permitirá a formação de bases de dados e, nesse timento, pois este último refere-se a uma das bases
caso, seu armazenamento deve ser feito de forma se- legais da LGPD, enquanto a transparência é um dos
gura e preventiva. princípios que regem a LGPD.
Em suma, o tratamento de dados pessoais deve ob- Segurança: medidas de segurança adequada devem
servar a boa-fé e os seguintes princípios (art. 6º): finali- ser tomadas no tramento de dados pessoais em todo
dade, adequação, necessidade, livre acesso, qualida- o seu ciclo de vida. Logo, os dados pessoais devem
de dos dados, transparência, segurança, prevenção, ser protegidos de acessos não autorizados, bem como
não discriminação, responsabilização e prestação de divulgados de forma ilícita ou até mesmo sofrer inci-
contas. Tais princípios acomodam muitas atividades dentes de vazamento de dados.
42
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Prevenção: os riscos relacionados ao tratamento de o ciclo de vida dos dados pessoais e adicionalmente
dados pessoais devem ser avaliados desde antes do contribuir com a conscientização do tema.
início do tratamento, a fim de evitar qualquer ocorrência
Isso porque para parte de suas atividades será apli-
de violações. A LGPD incentiva a adoção de medidas
cável a excepcionalidade, porém, para outras não,
preventivas, como o Privacy by Design, que promove a
cabendo os cuidados acima retratados como forma
proteção da privacidade desde a concepção de proje-
de demonstrar o cumprimento da LGPD para os even-
tos que envolvam o tratamento de dados pessoais de
tuais tratamentos de dados em que não se aplique a
forma proativa e não reativa.
limitação, assim como demonstrando o cuidado, en-
Como exemplo, em poucos casos o tratamento de da- tendimento e, eventualmente, o devido cumprimento
dos pessoais como o número do título de eleitor, RG do que é a derrogação do art. 4º, considerando que o
e CPF será necessário para o exercício da finalidade agente conhece e aplica as demais previsões da nor-
jornalística, artística ou acadêmica. Outro exemplo se- ma.
ria a aquisição de bases de dados de terceiros, sem o
conhecimento do titular, para o tratamento com outra
finalidade, seja ela jornalística, artística ou acadêmica. 6.2 Boas práticas de proteção de
dados pessoais para atividade
Outro ponto que merece cuidados é o tratamento jornalística
de dados pessoais sensíveis, principalmente aqueles
obtidos de terceiros, como dados sobre a saúde de
Em razão da amplitude do tema e das inúmeras pos-
determinado titular obtidos de forma abusiva de clíni-
sibilidades de recomendações, elencamos apenas
cas, hospitais e planos de saúde. Deve-se evitar, ao
alguns procedimentos que podem ser adotados no
máximo, o tratamento para fins discriminatórios, ilícitos
exercício de tal atividade e que foram mais indicados
ou abusivos, ou até mesmo divulgar indevidamente in-
em nossas pesquisas, seja por meio da reflexão dos
formações de foro íntimo, pois a boa-fé e a privacidade
casos práticos, seja em razão das recomendações es-
devem ser sempre observadas.
pecíficas realizadas.
Todas estas questões envolvem riscos e, como leciona
De início é preciso relembrar que a LGPD será aplica-
Freitas, risco não é sinônimo de perigo e o tratamento
da sempre que houver tratamento de dados pessoais.
de dados pessoais pode promover o surgimento de
Nesse sentido, é importante separar algumas catego-
riscos que venham a interferir na qualidade de vida do
rias de dados pessoais que podem ser tratados no co-
titular de dados, visto que não configuram necessaria-
tidiano da atividade jornalística:
mente em um dano imediato208. Neste escopo, a ado-
ção dos princípios por meio de regras de boas práticas – dados pessoais de colaboradores;
efetivamente adotadas pode reduzir a probabilidade de
eventos danosos e suas consequências, ainda que es- – dados pessoais de indivíduos que acessam o
tejamos pensando em hipóteses de derrogação. local que ocorre o exercício da atividade jor-
nalística;
Cabe destacar que os agentes de tratamento (art. 5º,
IX, LGPD) possuem autonomia para definir regras de – dados pessoais originários de monitoramento
boas práticas e governança de dados pessoais, de por câmeras;
modo que os princípios podem ser aplicados de acor- – dados pessoais coletados no acesso ao por-
do com as particularidades de cada atividade, seja ela tal de informações;
jornalística, artística ou acadêmica. O incentivo para a
formulação de regras pode ser observado no art. 50 – dados pessoais obtidos por meio de canais
da LGPD que efetiva o direito de proteção de dados de atendimento aos leitores;
inclusive em relação às normas de segurança, padrões
– dados pessoais de assinantes de informações
técnicos e demais princípios previstos na lei.
disponibilizadas na web ou em meio analógi-
O agente de tratamento ao manifestar a existência co; e
de boas práticas em relação a proteção de dados
– dados pessoais utilizados estritamente para o
pessoais demonstra o seu comprometimento com
exercício da atividade jornalística.
a sociedade e responsabilidade ética sobre o tema.
Portanto, jornalistas, artistas e acadêmicos podem for-
mular e divulgar suas boas práticas em relação a todo
43
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Os dados pessoais utilizados estritamente para a fi- 1. Coletar e utilizar dados pessoais em obser-
nalidade jornalística são uma exceção à aplicação da vância com a boa-fé e os princípios nortea-
LGPD e apenas aqueles estritamente necessários para dores da LGPD;
o alcance da finalidade jornalística estarão sujeitos a
2. Garantir que os dados pessoais são relevan-
ela. Nota-se a importância de uma diferenciação cri-
tes e adequados para o interesse público an-
teriosa no momento do tratamento de tais dados, de
tes de sua publicação;
modo que justifiquem a finalidade jornalística.
3. Garantir que os dados pessoais tratados
A título exemplificativo, pode-se pensar no caso de um
atendem estritamente a finalidade jornalística
cidadão comum que tem a sua privacidade revelada
por meio de política que justifique o seu tra-
por um jornal, frente a um político relevante que por
tamento de forma transparente;
exercer um cargo público vê a sua vida retratada pela
mídia. De tal sorte, no momento de sopesamento de 4. Utilizar dados sensíveis apenas nos casos de
direitos isso deve ser levado em conta para apurar a relevante interesse público de modo a não
aplicação ou não de determinadas previsões da legis- discriminar o titular de dados pessoais;
lação.
5. Coletar e utilizar dados pessoais de forma
A coleta irrestrita de dados pessoais, como o número justa e sem informações desnecessárias que
do CPF de uma pessoa ou a publicação de fotos de impliquem em invasão da vida privada;
documentos pessoais em uma notícia sobre desca-
so em um atendimento hospitalar não são objeto da 6. Não utilizar os dados pessoais com finalidade
restrição prevista para a finalidade jornalística. Neste incompatível à jornalística;
caso, os dados pessoais mencionados devem seguir
7. Armazenar os dados pessoais de forma se-
os preceitos da LGPD para o seu tratamento, pois sua
gura de modo a evitar vazamentos e cruza-
divulgação poderá não atender ao interesse público e
mentos indevidos de informações;
consequentemente não atenderá à finalidade jornalís-
tica. 8. Não compartilhar os dados pessoais sem a
devida necessidade de modo a reduzir des-
Neste sentido, o tratamento de dados pessoais para
vios ou utilização indevida;
fins jornalísticos deve considerar boas práticas para a
proteção de dados pessoais. Deve haver um enten- 9. Garantir por meio de medidas razoáveis a
dimento razoável de que a publicação com informa- precisão dos dados pessoais;
ções pessoais é de interesse público e não expõe da-
dos além do necessário. Neste ponto, cabe destacar 10. Evitar a formação de grandes bases de da-
o princípio da necessidade, de modo que devem ser dos por meio de determinação de prazos
utilizados tão somente os dados minimamente neces- para o término do tratamento e de guarda de
sários para o alcance da finalidade jornalística. Igual- documentos físicos e digitais.
mente, a finalidade jornalística não pode ser utilizada
como propósito para o tratamento posterior de dados
pessoais com finalidade diversa. No caso da atividade ocorrer em meio digital, reco-
menda-se a não formação de perfil comportamental
As demais categorias de dados pessoais listados de- para o direcionamento de informações, já que a LGPD
vem seguir a LGPD. Em muitos casos, o jornalista, ao considera como dados pessoais aqueles utilizados
dispor de um pequeno grupo de colaboradores ou ser para a formação de perfil comportamental (art. 12 §
detentor de um único portal de notícias, deve estar 2º). Esta situação pode extrapolar a atividade jornalísti-
atento às diferentes categorias de dados pessoais que ca, de modo que não estará sob a tutela da exceção.
podem estar sob a sua guarda. Nesse sentido explica Danilo Doneda:
44
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
A fim de manter um equilíbrio entre as liberdades, é bém a efetiva implementação da privacidade presente
importante compreender o conceito de “dado pessoal” nos códigos de ética.
e de “dado pessoal sensível”, bem como o conceito de
tratamento de dados pessoais a fim de evitar a forma-
ção de perfil comportamental. 6.3 Boas práticas de proteção
de dados pessoais para fins
Outras recomendações para a proteção da privaci- artísticos
dade na área jornalística podem ser encontradas em
códigos de ética que apresentam a função consultiva.
A finalidade artística, como exceção prevista na LGPD,
Um exemplo é o Código de Ética dos Jornalistas Bra-
pretende garantir o livre exercício da liberdade de ex-
sileiros da Federação Nacional dos Jornalistas (FENA-
pressão. Porém não significa que os dados pessoais
J)210 e adotado por sindicatos regionais. O código des-
podem ser tratados sem adoção de regras de boas
taca a necessidade da finalidade do interesse público
práticas. Independente da finalidade, nos tempos
na atividade jornalística e em seu art. 6°, VIII define que
atuais em que o dado flui por meio das redes, torna-se
dentre os deveres do jornalista está o respeito ao direi-
primordial a garantia da segurança da informação com
to à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do
o propósito de prevenir incidentes, além do tratamento
cidadão. Esta redação se assemelha ao art. 5°, X da
estritamente necessário para atingir a finalidade pre-
CF que trata dos direitos fundamentais e demonstra
tendida.
a importância de tais direitos na atividade jornalística.
Neste ponto, os responsáveis pelo tratamento de da-
Outro documento que também destaca a preocupação
dos pessoais para fins artísticos devem adotar medi-
com a privacidade é o Código de Ética da Associação
das adequadas de segurança, sobretudo em relação
Nacional de Editores de Revistas (ANER)211. Este código
aos dados pessoais que não são objeto para o alcance
abarca um conjunto de princípios éticos recomendados
da finalidade artística, mas que de certa forma foram
às editoras associadas. O princípio de n. 6 trata do res-
coletados e não descartados. Aqui cabe destacar o
peito ao direito do indivíduo à privacidade, salvo quando
ciclo de vida dos dados que inicia com a sua coleta e
esse direito constitui obstáculo à informação de interes-
encerra com a sua eliminação.
se público. Neste contexto, a privacidade é atenuada
nos casos em que o interesse da coletividade se sobre- No ambiente artístico, os titulares dos dados pessoais
põe a garantias individuais. A ética no jornalismo tem podem estar presentes das mais diversas formas. Para
como base o acesso à informação para o alcance da fins da presente análise, destaca-se três categorias de
finalidade do interesse público. Estes são alguns exem- titulares, quais sejam: i) apreciadores das obras artís-
plos de códigos de ética de profissionais e entidades ticas; ii) artistas; iii) pessoas identificáveis nas obras.
que desenvolvem a prática jornalística, porém a simples
menção da palavra privacidade, não garante o compro- Nesse sentido, as categorias de titulares i) e ii) pos-
misso com a efetiva proteção de dados. suem proteção sob a LGPD, uma vez que trata sobre o
fornecimento de dados pessoais para acesso à cultura
São várias as dificuldades encontradas diante do proporcionada pela obra em questão, bem como os
desafio de implementar na prática a proteção de da- dados pessoais dos artistas podem estar relacionados
dos pessoais. A existência de diferentes códigos de a questões de credibilidade e propriedade intelectual.
ética de profissionais ou entidades que desenvolvem
a prática jornalística, demonstra a ausência de ho- Apesar de a LGPD prever uma exceção para o trata-
mogeneidade sobre o tema e diretrizes claras para a mento de dados com finalidade artística, é fundamental
prática jornalística. A falta de detalhamento de como que os artistas e os locais de exposição das obras ado-
a privacidade pode ser implementada na rotina jorna- tem boas práticas no uso de dados pessoais. Cumpre
lística pode dificultar a implantação de mudanças em ressaltar que a exceção prevista no artigo 4º, inciso II,
determinadas culturas organizacionais, ou até mesmo, da LGPD não é absoluta, deve-se respeitar a boa-fé e
inibir a sua adoção por profissionais. A incorporação os direitos do titular dos dados, tais como o direito ao
de boas práticas no cotidiano é um item essencial para acesso, correção e exclusão de seus dados pessoais,
o correto fluxo de dados pessoais. Neste sentido, o confirmação de existência de tratamentos, entre outros.
tratamento de dados pessoais para fins jornalísticos Algumas práticas recomendadas durante o uso de da-
deve levar em consideração as boas práticas para a dos pessoais para finalidade artística são semelhantes
proteção de dados pessoais. Tais práticas visam não às boas práticas também abordadas no item 6.4. para
apenas o correto entendimento da LGPD, mas tam- a finalidade acadêmica, quais sejam:
45
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
1. Coletar apenas as informações necessárias tica. Portanto, deve ser evitada a coleta desnecessária
para a finalidade específica da exposição ou ou excessiva.
obra de arte, ou seja, somente os dados pes-
Em todos os demais tratamentos que podem ocorrer
soais estritamente necessários devem ser
com os dados pessoais, os artistas devem garantir a
coletados, evitando a coleta de informações
segurança da informação e tomar medidas adequadas
excessivas ou desnecessárias.
para que terceiros não acessem ou façam uso indevido
2. Obter o consentimento dos titulares sempre de tais informações. Ao alcançar a finalidade artística,
que possível, especialmente se a obra de os artistas devem eliminar todos os dados pessoais
arte for comercializada ou divulgada de algu- que não são mais necessários para a realização da
ma forma. É imprescindível que o tratamento obra.
seja apenas para a finalidade artística e, se
Como exemplo, pode-se pensar em uma exposição
possível, é importante obter o consentimento
de fotos de pessoas anônimas, porém, as fotos foram
do titular dos dados e comunicar de forma
armazenadas pelo artista em meio digital juntamente
clara e específica quais serão as informações
com todos os dados pessoais do indivíduo fotografa-
coletadas, qual será o seu uso, qual a finali-
do, como nome completo, endereço, documentos de
dade da coleta de dados e com quais tercei-
identificação, e-mail, telefone. Ao permitir o acesso não
ros os dados poderão ser compartilhados.
autorizado de tais informações, comercializar ou com-
3. Adotar medidas de segurança adequadas partilhar este banco de dados com terceiros ou até
para proteger os dados pessoais coletados, mesmo na ocorrência de um incidente de segurança
por exemplo com criptografia, firewall, limitar com o vazamento de tais informações, o artista estará
o acesso aos dados pessoais somente às infringindo a LGPD (assim como, as demais normas do
pessoas autorizadas e implementar medidas ordenamento jurídico).
físicas de segurança.
Observa-se a desnecessidade de tais informações
para alcançar a finalidade artística, portanto, os dados
pessoais neste exemplo, necessitam de proteção ade-
Quando possível, é recomendável utilizar técnicas de
quada. Nesse sentido:
anonimização212 para proteger a privacidade dos titu-
lares dos dados. Além disso, é importante estabelecer
“A digitalidade trouxe para o campo da documen-
um prazo de armazenamento para os dados pessoais
tação na arte e do tratamento de sua informação
coletados, por exemplo enquanto durar a exposição, novas abordagens que, aos poucos, são incorpo-
evitando assim a retenção desnecessária de informa- radas pelos museus, galerias e centros de docu-
ções. mentação. As preocupações incluem, também, o
mapeamento virtual de coleções que estão fora
Ao adotar essas medidas, é possível conciliar a fina- destes ambientes controlados por instituições. A
principal alteração observada na documentação e
lidade artística com a proteção adequada aos direitos
conservação das artes digitais é a transferência do
dos titulares dos dados pessoais dos apreciadores das foco no objeto para os processos, bem como para
obras, sendo importante ressaltar que se trata do for- uma compilação documental”.213
necimento de dados pessoais para acesso à cultura
proporcionada pela obra em questão.
Ainda, segundo o manual Caminhos da memória: para
Para a proteção dos dados pessoais dos artistas, se-
fazer uma exposição, elaborado pelo Instituto Brasileiro
gunda categoria de titulares apontada anteriormente,
de Museus (Ibram), “uma exposição não deve induzir
tem-se que essa se atrela, sem que se confunda, à
ao erro ou reproduzir informações sobre as quais não
questões de credibilidade e garantia da propriedade
haja certeza da veracidade. Deve ajudar a compreen-
intelectual no âmbito autoral.
der melhor um acervo, por exemplo, detalhando seu
Na terceira categoria de titulares, a preocupação dos significado e o enriquecendo com outros valores e fon-
artistas deve recair na proteção dos direitos de pes- tes de pesquisa”.214
soas identificáveis e/ou dados pessoais utilizados nas
Segundo esse documento, no desenvolvimento de
obras. Assim, na fase de coleta, os artistas devem co-
uma exposição deve-se considerar diferentes pontos
letar apenas o mínimo necessário para a realização de
de vista culturais, consultando grupos locais quando
sua obra artística, ou seja, a menor quantidade possí-
apropriado. Logo, se a obra ou exposição artística
vel de dados pessoais para alcançar a finalidade artís-
46
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
apresentar dados pessoais de terceiros, coletados em preferencial, devendo, cada caso, passar pelo crivo do
um estudo para uma exposição, a apresentação des- teste de proporcionalidade.
ses dados deve atentar para as boas práticas elenca-
Em outras palavras, não é porque há exceções na
das anteriormente.
LGPD que estaria liberado o uso de dados pessoais
Com relação aos museus, cumpre informar que a por- para fins artísticos. Há outras limitações que se impõe,
taria nº. 817 do Ibram, de 25 de novembro de 2021215, e que estão acima da própria LGPD.
constituiu Grupo de Trabalho para avaliar a conformi-
dade da LGPD, visando apoiar a implantação de ações
e apresentar proposições para o tratamento de dados 6.4 Boas práticas de proteção
pessoais junto ao Ibram, o que denota a importância de dados pessoais para fins
do tema. acadêmicos
47
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
opt-in (optar por fazer parte) por meio de uma quisador: (i) registrar as atividades de pesquisa; (ii) des-
caixa de seleção para aceitar receber comuni- crever quais dados pessoais foram coletados, como
cações, por exemplo; eles contribuem para o objeto da pesquisa e como
serão/foram utilizados, além de prever o seu descar-
– para o uso de imagem e voz, também é reco-
te quando não forem mais necessários; (iii) cautela na
mendável sempre solicitar o consentimento.
administração de senhas de acesso e no comparti-
lhamento de dados com outros pesquisadores e com
terceiros; e (iv) caso a pesquisa utilize dados pessoais
Os professores Alexandre Pacheco da Silva e Victor
de crianças e adolescentes, obter consentimento dos
Nóbrega Luccas219, elencam algumas recomendações
responsáveis específico para o seu tratamento no âm-
de adequação à pesquisadores e órgãos de pesquisa,
bito de atividades de pesquisa; entre outras práticas.
quais sejam: (i) os dados coletados devem ser apenas
os necessários para cumprir o objeto da pesquisa e Segundo o guia da FGV222, sobre o dever de transpa-
não poderão ser reaproveitados para finalidades que rência, é recomendável que o pesquisador informe ao
não sejam acadêmicas; manter os titulares informados titular de dados pessoais: quais dados foram utiliza-
sobre a realização da pesquisa; e (ii) elaborar um plano dos; qual a finalidade do tratamento; se o tratamento é
de tratamento de dados pessoais junto ao projeto de primário (coleta pelo pesquisador) ou secundário (reu-
pesquisa, para determinar quais dados serão utiliza- tilização de dados coletados por terceiro); quem terá
dos, sua finalidade para a pesquisa e quais medidas de acesso aos dados; qual o tempo de armazenamento;
segurança serão adotadas pelo pesquisador. como consultar os dados e entrar em contato com a
equipe de pesquisa.
Outra prática recomendável para o pesquisador, apon-
tada no artigo supracitado, é o diálogo com pesquisa- Outro cuidado apontado pelo relatório supramenciona-
dores mais experientes, por exemplo o orientador da do é fornecer acesso aos dados apenas aos membros
pesquisa, bem como consultar o órgão competente da da equipe de pesquisa ou colaboradores necessários,
instituição de pesquisa sobre quais medidas de segu- além de adotar ferramentas de rastreadores de acesso
rança devem ser adotadas, para se adequar às nor- e só fornecer acesso aos dados em sua forma anoni-
mas de proteção de dados pessoais da Universidade mizada.
em questão.
Assim, a proteção de dados pessoais durante a reali-
Um caso que ilustra220 a importância dessas boas prá- zação de pesquisas não é uma atividade simples, pois
ticas é a Universidade de Umea, que em seu programa varia223: (i) conforme a natureza e volume dos dados
de conformidade em proteção de dados pessoais esti- coletados; caso a pesquisa seja individual ou com
pulava que dados pessoais sensíveis não poderiam ser órgão de pesquisa; e (ii) de acordo com os objetivos
armazenados em servidores localizados fora do país. acadêmicos e recursos disponíveis. Portanto, as re-
comendações aqui observadas podem ser considera-
Entretanto, para reduzir custos, um grupo de pesquisa
das soluções satisfatórias para a proteção dos dados
vinculado a essa Universidade armazenou dados sen-
pessoais no âmbito da pesquisa acadêmica, mas não
síveis, fornecidos pela polícia Sueca exclusivamente
devem deixar de ser observadas as especificidades de
para fins acadêmicos, em um serviço de computação
cada caso.
em nuvem sediado nos Estados Unidos. Por causa
disso, a Autoridade Sueca de Proteção de Dados Pes-
soais aplicou uma multa de 550.000 coroas suecas
pelo descumprimento de obrigações no tratamento de
dados pessoais em atividades de pesquisa.
48
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Notas
1 Para fins desta exposição, ainda do relatório, foi necessário o documento não está disponível
que se fale em “balanceamento”, estudo de materiais que debatem publicamente e foi obtido através
“harmonização” ou conceitos e excepcionalidades de consulta ao órgão, razão pela
“sopesamento” de normas, à liberdade de expressão qual não será disponibilizado link
não estamos abordando de de maneira ampla para, por de acesso.
maneira profunda a questão analogia, chegar às reflexões ora 10 Inclusive de natureza autoral.
da hermenêutica jurídica que extraídas. 11 SIQUEIRA, Antonio Henrique
preza pelas diversas formas de 6 SARLET, Ingo Wolfgang. Albani. Disposições Preliminares.
interpretar e o detalhamento Proteção de Dados Pessoais In: FEIGELSON, Bruno;
acerca do Direito aplicável. Trata- como Direito Fundamental na SIQUEIRA, Antonio Henrique
se apenas de expressão utilizada Constituição Federal Brasileira Albani. Comentários à Lei
para demonstrar que existe de 1988: contributo para a Geral de Proteção de Dados:
um trabalho de interpretação construção de uma dogmática Lei 13.709/2018. São Paulo:
e forma de entendimento da constitucionalmente adequada. Thomson Reuters Brasil, 2019,
previsão legal para que ela Belo Horizonte: Direitos p. 51.
se alinhe ao Sistema Jurídico Fundamentais & Justiça, n. 42, 12 BRASIL. Supremo Tribunal
Brasileiro, em especial as normas jan./jun. 2020. p. 188. Federal. Recurso Extraordinário
constitucionais como a Liberdade 7 Após o fechamento deste nº 511.961. Reclamante:
de Expressão, a Privacidade e o relatório para diagramação e Sindicato das Empresas de Rádio
Direito à Proteção de Dados. editoração, a Autoridade Nacional e Televisão no Estado de São
2 O texto da LGPD não prevê a de Proteção de Dados publicou Paulo (SERTESP) e Ministério
revogação ou mesmo qualquer o guia orientativo “Tratamento Público Federal. Reclamado:
mudança nos arts. 11 a 21 do de Dados Pessoais para Fins União e Federação Nacional dos
CC, sendo lhes aplicável no Acadêmicos”. Evidenciou-se Jornalistas (FENAJ). Relator:
que couber, em especial diante que as conclusões retratadas Ministro Gilmar Mendes. Brasília,
de potenciais derrogações das aqui assemelham-se, em sua DF, 17 de junho de 2009. Diário
normas de proteção de dados. maioria, com as daquele órgão. Oficial da União. Brasília, 13 nov.
3 Para tanto, recomendamos Não obstante, trata-se de 2009.
os escritos de Carlos Alberto importante publicação oficial 13 BRASIL. Supremo Tribunal
Bittar (BITTAR, Carlos Alberto. que poderá orientar as práticas Federal. ADPF nº 130. Partido
Os direitos da personalidade. de titulares de dados pessoais Democrático Trabalhista - PDT.
8ªed., rev., aum. São Paulo: e agentes de tratamento. Para Presidente da República. Relator:
Saraiva, 2015), Silmara Chinellato mais detalhes, acesse a obra Ministro Ayres Britto. Brasília, DF,
(CHINELLATO, Silmara Juny de na íntegra em: AUTORIDADE 04 de setembro de 2008. Diário
Abreu. Direito de autor e direitos NACIONAL DE PROTEÇÃO Oficial da União. Brasília, 07 nov.
da personalidade: reflexões à DE DADOS. Guia Orientativo - 2008.
luz do código civil. Tese para o Tratamento de dados pessoais 14 COTS, Márcio; OLIVEIRA,
Concurso de Professor Titular para fins acadêmicos e para Ricardo. Lei geral de proteção de
da Faculdade de Direito da a realização de estudos e dados pessoais comentada. 3.
Universidade de São Paulo. São pesquisas. Jun/2023. Disponível ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Paulo, 2008), Gilberto Haddad em: https://www.gov.br/anpd/pt- Thomson Reuters Brasil, 2019. p.
Jabur, em “Limitações ao Direito br/documentos-e-publicacoes/ 65-66.
à Própria Imagem no Novo documentos-de-publicacoes/ 15 SIQUEIRA, Antonio Henrique
Código Civil”, além dos clássicos web-guia-anpd-tratamento-de- Albani. Disposições Preliminares.
Walter Moraes e Antonio Chaves, dados-para-fins-academicos.pdf. In: FEIGELSON, Bruno;
com comentários sobre as Acesso em: 04 jul. 2023. SIQUEIRA, Antonio Henrique
versões anteriores do Código 8 Autoridade Nacional de Proteção Albani. Comentários à Lei Geral
Civil, em suas obras intituladas de Dados Pessoais. Relatório de Proteção de Dados: Lei
“Direito à Própria Imagem”, entre de Gestão da Ouvidoria. 2021. 13.709/2018. São Paulo: Thomson
outros. Disponível em: https://www. Reuters Brasil, 2019, p. 51.
4 Nesse sentido, podemos gov.br/anpd/pt-br/canais_ 16 COTS, Márcio; OLIVEIRA,
exemplificar a prática dos atendimento/ouvidoria/anpd-rel- Ricardo. Lei geral de proteção de
veículos de mídia quando da ouvidoria-2021.pdf/view. Acesso dados pessoais comentada. 3.
realização de entrevistas com o em: 25 set. 2022. p. 14-15. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
público, em que há previamente a 9 Conforme documento “Consultas Thomson Reuters Brasil, 2019. p.
assinatura de uma autorização de mencionadas no Relatório de 66-67.
uso de imagem para a gravação Gestão da Ouvidoria - 2021”, 17 MACHADO, Jonatas E. M.
e divulgação do conteúdo. enviada pela Autoridade Nacional Liberdade de expressão:
5 É importante ressaltar a de Proteção de Dados por dimensões constitucionais da
ausência de pesquisas e material meio da plataforma Fala.BR esfera pública no sistema social.
bibliográfico sobre o tema. em 11/10/2022 (protocolo nº Coimbra: Coimbra Editora, 2002.
Portanto, como se verá ao longo 00263.002157/2022-01). O p. 542.
49
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
18 COTS, Márcio; OLIVEIRA, III - realizado para fins exclusivos 30 SIQUEIRA, Antonio Henrique
Ricardo. Lei geral de proteção de de: Albani. Disposições Preliminares.
dados pessoais comentada. 3. a) segurança pública; In: FEIGELSON, Bruno;
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: b) defesa nacional; SIQUEIRA, Antonio Henrique
Thomson Reuters Brasil, 2019. c) segurança do Estado; ou Albani. Comentários à Lei
p. 67. d) atividades de investigação e Geral de Proteção de Dados:
19 COTS, Márcio; OLIVEIRA, repressão de infrações penais” Lei 13.709/2018. São Paulo:
Ricardo. Lei geral de proteção de 26 Importante ressaltar que o inciso Thomson Reuters Brasil, 2019,
dados pessoais comentada. 3. IV, abaixo recortado, não foi p. 53.
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: citado de maneira intencional, 31 MALDONADO, Viviane Nóbrega;
Thomson Reuters Brasil, 2019. considerando que ele não trata BLUM, Renato Opice. LGPD:
p. 67. de dados pessoais obtidos no Lei Geral de Proteção de Dados
20 SIQUEIRA, Antonio Henrique Brasil, mas sim de dados do Pessoais Comentada. São Paulo:
Albani. Disposições Preliminares. estrangeiro, que não são tratados Revista dos Tribunais, 2022.
In: FEIGELSON, Bruno; por nacionais. De tal forma, que RL 1.2. E-book. Disponível em:
SIQUEIRA, Antonio Henrique o inciso mais parece explicar que https://proview.thomsonreuters.
Albani. Comentários à Lei ele não tratará dados pessoais com/launchapp/title/rt/
Geral de Proteção de Dados: para além daqueles em seu codigos/188730949/v4/page/RL-
Lei 13.709/2018. São Paulo: território e referente aos seus 1.2. Acesso em: 01 jul. 2022.
Thomson Reuters Brasil, 2019, nacionais, em alinhamento com a 32 Em inteligência da previsão do
p. 51. redação do art. 3º, da LGPD. art. 7º, § 3º e 4º, LGPD.
21 Em inteligência aos ensinamentos “IV - provenientes de fora do 33 Rext RE 1.010.606 - STF. Data
de Marcel Leonardi sobre território nacional e que não de Publicação DJE 20/05/2021
publicidade e as normas sejam objeto de comunicação, - ATA Nº 85/2021. DJE nº 96,
de proteção de dados. uso compartilhado de dados com divulgado em 19/05/2021.
LEONARDI, Marcel. Publicidade agentes de tratamento brasileiros Disponível em: https://portal.stf.
Personalizada e LGPD. Parecer ou objeto de transferência jus.br/processos/downloadPeca.
técnico elaborado para a internacional de dados com outro asp?id=15346473757&ext=.pdf.
Associação de Mídia Interativa país que não o de proveniência, Acesso em: 11 abr. 2023.
(“IAB Brasil”). 26/07/2021. desde que o país de proveniência 34 Note-se que o entendimento
Disponível em: https:// proporcione grau de proteção de que esse caso é referente
iabbrasil.com.br/wp-content/ de dados pessoais adequado ao apenas à Proteção de Dados
uploads/2021/08/IAB-BRASIL_ previsto nesta Lei” é controverso, uma vez que
PARECER-JURIDICO_LGPD- 27 MALDONADO, Viviane Nóbrega; parte da doutrina comenta
E-PUBLICIDADE- BLUM, Renato Opice. LGPD: sobre a questão do Direito
PERSONALIZADA_MARCEL- Lei Geral de Proteção de Dados ao Esquecimento não
LEONARDI.pdf. Acesso em: 04 Pessoais Comentada. São Paulo: estar intimamente ligado as
jun. 2023. Revista dos Tribunais, 2022. derrogações ora trabalhadas,
22 Inclusive previamente à existência RL 1.2. E-book. Disponível em: assim como, que melhor caberia
da Declaração Universal dos https://proview.thomsonreuters. abordar a questão sobre o Direito
Direitos Humanos, conforme com/launchapp/title/rt/ à Desindexação. Dessa forma,
MÉNDEZ, Emilio García. codigos/188730949/v4/page/RL- faz-se necessário esclarecer
Origem, sentido e futuro dos 1.2. Acesso em 01 jul. 2022. que a inclusão de tal previsão
direitos humanos: reflexões 28 MALDONADO, Viviane Nóbrega; neste material se situa apenas
para uma nova agenda. Revista BLUM, Renato Opice. LGPD: como um indicativo de decisão e
Internacional de Direitos Lei Geral de Proteção de Dados posicionamento realizado pelos
Humanos, v. 1, n. 1, p. 6-19, Pessoais Comentada. São Paulo: tribunais brasileiros, como fonte
2004. FapUNIFESP (SciELO). Revista dos Tribunais, 2022. de pesquisa e não pacificação
http://dx.doi.org/10.1590/s1806- RL 1.2. E-book. Disponível em: do tema. Assim sendo, a
64452004000100002). https://proview.thomsonreuters. referência ora realizada é apenas
23 “Art. 4º Esta Lei não se aplica ao com/launchapp/title/rt/ para melhor ilustrar a questão,
tratamento de dados pessoais: codigos/188730949/v4/page/RL- cabendo uma análise casuística
I - realizado por pessoa natural 1.2. Acesso em 01 jul. 2022. para cada caso envolvendo uma
para fins exclusivamente 29 Sendo que ambas as normas possível derrogação da LGPD.
particulares e não econômicos;” serão analisadas mais à frente, 35 Rext RE 1.010.606 - STF. Data
24 “Art. 4º Esta Lei não se aplica ao no capítulo 5, em razão de de Publicação DJE 20/05/2021
tratamento de dados pessoais: suas previsões tão relevantes - ATA Nº 85/2021. DJE nº 96,
II - realizado para fins sobre o tema, que foram em divulgado em 19/05/2021.
exclusivamente: parte importadas pelo Brasil, Disponível em: https://portal.stf.
a) jornalístico e artísticos; ou bem como, em atenção aos jus.br/processos/downloadPeca.
b) acadêmicos, aplicando-se a debates que encontram-se asp?id=15346473757&ext=.pdf.
esta hipótese os arts. 7º e 11 mais avançados em tais países Acesso em 11 abr. 2023.
desta Lei;” especificamente sobre tais 36 Podemos aqui citar análises
25 “Art. 4º Esta Lei não se aplica ao aspectos. mais pontuais, como a realizada
tratamento de dados pessoais: pelo TJ/GO, ao apurar o
50
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
balanceamento entre o direito de 41 Pensando para além da LGPD, 49 MICELI. Sérgio. Os Intelectuais
imagem, as normas de proteção poderíamos até mesmo pensar nos Processos Políticos na
de dados e o exercício da em potenciais crimes contra a América Latina. In SOARES.
atividade jornalística, liberdade honra, por exemplo. Maria Susana Arrosa. Coord.
de expressão, analisando 42 WEITZ, Morris. The Role of Os intelectuais nos processos
desde à Constituição Federal, o Theory in Aesthetics and Art Políticos da América Latina.
Código Civil e a própria LGPD Criticism. Oxford: Blackwell Editora da Universidade.
para apurar se ao noticiar um Publishing. Vol. 15. N.º 1. pp. Universidade Federal do Rio
crime, determinado veículo de 27-35. Disponível em: https:// Grande do Sul. 1985. pg. 125.
informação cometeu abuso ou prettydeep.files.wordpress. 50 “a ditadura incentivou a televisão,
não. (TJ/GO Autos nº: 5642277- com/2013/01/weitzroleoftheory. o rádio e as artes tidas como
79.2020.8.09.0094 - Jatai, 20 pdf. Acesso em: 04 jun. 2023. eruditas, destacando até
de abril de 2021 Altamiro Garcia 43 “But the basic resemblance mesmo um espaço para o
Filho Juiz de Direito do 1º Juizado between these concepts is their desenvolvimento da herança e
Esp. Cível e Criminal) Disponível open texture. ln elucidating them, do patrimônio nacional, qual seja
em: https://bit.ly/3rFynmd. certain (paradigm) cases can be por meio do incentivo ao folclore,
Acesso em 11 abr. 2023. given, about which there can supostamente fomentando,
37 HAMMES, Bruno Jorge. O direito be no questionas to their being assim, um espírito nacionalista e
da propriedade intelectual. 3ª. correctly described as “art” or simpático do regime que buscaria
ed., Unisino, São Leopoldo, “game,” but no exhaustive set somente fazer crescer o país.
2002. p. 262-264. of cases can be given. I can list Diferentemente dessas artes,
38 “pequenos arquivos de texto some cases and some conditions outras como a música popular, o
armazenados pelo programa under which I can apply correctly teatro e a mídia imprensa e diária,
navegador utilizado pelo the concept of art but I cannot list como os jornais, as revistas, em
usuário – que, além de exercer all of them, for the all-important especial as estudantis, foram
funções essenciais para o reason that unforeseeable or o grande alvo de repressão do
correto funcionamento de sites novel conditions are alwaya regime, vendo seus líderes e
(por exemplo, lembrar nomes forthcoming or envisageable” integrantes serem perseguidos
de usuário e senhas, ou quais (WEITZ, Morris. The Role of e sofrendo uma censura maior
produtos foram adicionados a um Theory in Aesthetics and Art e mais direcionada, motivando,
carrinho de compras mesmo se o Criticism. Oxford: Blackwell assim, a leitura de parte da
usuário sair do site), possibilitam Publishing. Vol. 15. N.º 1. pp. 27- população da inexistência de
o rastreamento da atividade 35. p.31. Disponível em: https:// cultura.” (SOLER. Fernanda
online dos usuários para prettydeep.files.wordpress. Galera. BREVES COMENTÁRIOS
diversas finalidades, incluindo a com/2013/01/weitzroleoftheory. SOBRE O CONTEXTO
publicidade personalizada” pdf. Acesso em: 04 jun. 2023. CULTURAL BRASILEIRO
LEONARDI, Marcel. Publicidade 44 Ibidem, p. 34. NAS DÉCADAS DE 60 E 70 -
Personalizada e LGPD. Parecer 45 SOUSA FILHO, Alípio. Ideologia Reflexões sobre a cultura em
técnico elaborado para a e Transgressão. Disponível em: meio a ditadura brasileira -.
Associação de Mídia Interativa http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ Artigo de conclusão da disciplina
(“IAB Brasil”). 26/07/2021. rpp/v11n22/v11n22a03.pdf. IAL5788-2/1 “Aproximações
Disponível em: https:// Acesso em: 24 fev 2023. p. 217. culturais na América Latina no
iabbrasil.com.br/wp-content/ 46 Ibidem. século XX: o papel do Estado
uploads/2021/08/IAB-BRASIL_ 47 NAPOLITANO. Marcos. 1964, na construção de uma rede
PARECER-JURIDICO_LGPD- História do Regime Militar colaborativa entre intelectuais”
E-PUBLICIDADE- Brasileiro. Editora Contexto. do PROGRAMA DE PÓS-
PERSONALIZADA_MARCEL- 1ª edição. 1ª reimpressão. GRADUAÇÃO INTEGRAÇÃO
LEONARDI.pdf. Acesso em 04 São Paulo, 2014. Disponível DA AMÉRICA LATINA DA
jun. 2023. em: https://edisciplinas.usp. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO.
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1923 VOLUME 01, Nº 08, 2019.
51
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
52
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
53
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
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de dados pessoais: comentários Acesso em: 22 mar. 2023. à derrogação ou isenção de
à Lei n. 13.709/2018 (LGPD). 114 UFPR - Política de Privacidade. determinadas disposições do
3. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. Disponível em: https://ufprvirtual. presente regulamento se tal for
p. 100. ufpr.br/local/staticpage/view. necessário para conciliar o direito
107 MALDONADO, Viviane Nóbrega; php?page=politicaprivacidade. à proteção dos dados pessoais
BLUM, Renato Opice. LGPD: Acesso em: 22 mar. 2023. com o direito à liberdade de
Lei Geral de Proteção de Dados 115 UFBA - Política de Privacidade expressão e de informação,
Pessoais Comentada. São Paulo: - Disponível em: https://lgpd. tal como consagrado no
Revista dos Tribunais, 2022. ufba.br/politica-de-privacidade. artigo 11.o da Carta. Tal deverá
RL 1.2. E-book. Disponível em: Acesso em: 22 mar. 2023. ser aplicável, em especial, ao
https://proview.thomsonreuters. 116 PUC-PR - Política de Privacidade tratamento de dados pessoais
com/launchapp/title/rt/ - Disponível em: https:// no domínio do audiovisual
codigos/188730949/v4/page/RL- privacidade.grupomarista.org.br/. e em arquivos de notícias e
1.2. Acesso em: 01 jul. 2022. Acesso em: 23 mar. 2023. hemerotecas. Por conseguinte,
108 COTS, Márcio; OLIVEIRA, 117 FGV - Política de Privacidade - os Estados-Membros deverão
Ricardo. Lei geral de proteção de Disponível em: https://portal.fgv. adotar medidas legislativas
dados pessoais comentada. 3. br/sites/portal.fgv.br/files/u11738/ que prevejam as isenções e
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: politica_de_privacidade_e_ derrogações necessárias para
Thomson Reuters Brasil, 2019. protecao_de_dados_final.pdf. o equilíbrio desses direitos
p. 70. Acesso em: 23 mar. 2023. fundamentais. Os Estados-
109 Autoridade Nacional de Proteção 118 FGV - Política de Privacidade - Membros deverão adotar essas
de Dados Estudo Técnico – A Disponível em: https://portal.fgv. isenções e derrogações aos
LGPD e o tratamento de dados br/sites/portal.fgv.br/files/u11738/ princípios gerais, aos direitos do
pessoais para fins acadêmicos politica_de_privacidade_e_ titular dos dados, ao responsável
e para a realização de estudos protecao_de_dados_final.pdf. pelo tratamento destes e ao
por órgão de pesquisa. 2022. Acesso em: 23 mar. 2023. p. 3. subcontratante, à transferência
Disponível em: https://www.gov. 119 FGV - Política de Privacidade - de dados pessoais para países
br/anpd/pt-br/assuntos/noticias/ Disponível em: https://portal.fgv. terceiros ou para organizações
sei_00261-000810_2022_17.pdf. br/sites/portal.fgv.br/files/u11738/ internacionais, às autoridades
Acesso em: 20 jan. 2023. p. 13. politica_de_privacidade_e_ de controlo independentes e
110 COTS, Márcio; OLIVEIRA, protecao_de_dados_final.pdf. à cooperação e à coerência
Ricardo. Lei geral de proteção de Acesso em: 23 mar. 2023. p. 14. e a situações específicas de
dados pessoais comentada. 3. 120 General Data Protection tratamento de dados. Se estas
ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Regulation (GDPR). Disponível isenções ou derrogações
Thomson Reuters Brasil, 2019. em: https://eur-lex.europa. divergirem de um Estado-
p. 70. eu/legal-content/PT/ Membro para outro, deverá ser
111 MALDONADO, Viviane Nóbrega; TXT/?uri=celex%3A32016R0679. aplicável o direito do Estado-
BLUM, Renato Opice. LGPD: Acesso em 01 jul. 2022. -Membro a que esteja sujeito o
Lei Geral de Proteção de Dados 121 Data Protection Act. Disponível responsável pelo tratamento. A
Pessoais Comentada. São Paulo: em: https://www.legislation.gov. fim de ter em conta a importância
Revista dos Tribunais, 2022. uk/ukpga/2018/12/contents/ da liberdade de expressão em
RL 1.2. E-book. Disponível em: enacted. Acesso em: 01 jul. qualquer sociedade democrática,
https://proview.thomsonreuters. 2022. há que interpretar de forma lata
com/launchapp/title/rt/ 122 Information Comissioner’s Office: as noções associadas a esta
codigos/188730949/v4/page/RL- Overview – Data Protection and liberdade, como por exemplo o
1.2. Acesso em: 01 jul. 2022. the EU. Disponível em: https:// jornalismo.”
112 Importante destacar que a ico.org.uk/for-organisations/ General Data Protection
nossa pesquisa identificou que dp-at-the-end-of-the-transition- Regulation (GDPR). Disponível
a doutrina nacional realizou period/overview-data-protection- em: https://eur-lex.europa.
um desenvolvimento maior de and-the-eu/. Acesso em: 01 jul. eu/legal-content/PT/
pesquisa e materiais acerca deste 2022. TXT/?uri=celex%3A32016R0679.
tema. Por sua vez, a finalidade 123 “Considerando 153: O direito Acesso em: 01 jul. 2022.
jornalística ganhou mais relevo dos Estados-Membros deverá 124 Considerando aqui que a
quando da análise da finalidade conciliar as normas que regem doutrina estrangeira trabalha mais
jornalística, como se verá a seguir a liberdade de expressão e de essa temática.
no capítulo 5 quando tratarmos informação, nomeadamente 125 Texto original disponível em:
da norma europeia e inglesa. jornalística, académica, artística General Data Protection
Todavia, tal qual acima citado, é e/ou literária com o direito à Regulation (GDPR). Disponível
tangível a ausência de referências proteção de dados pessoais nos em: https://eur-lex.europa.eu/eli/
54
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
55
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
Observe que o material não se para efeitos das isenções e who create, perform, distribute
resuma a aplicação da GDPR derrogações a estabelecer por or exhibit works of art contribute
para a finalidade jornalística, o força do presente regulamento, to the exchange of ideas and
material apresenta um vasto os Estados‑Membros deveriam opinions which [are] essential
repertório sobre como os veículos qualificar como «jornalísticas» for a democratic society’.56
de mídia podem se portar frente as atividades que tenham por Meanwhile, the Court has also
a proteção de dados, inclusive objeto comunicar ao público ‘underline[d] the importance of
sugerindo a criação de um informações, opiniões ou ideias, academic freedom’ including
framework (estrutura) para análise qualquer que seja o suporte the freedom of academics to
e balanceamento do direito utilizado para as transmitir. ‘distribute knowledge and truth
à proteção de dados frente à É conveniente não limitar without restriction’.57 ERDOS,
liberdade de expressão. essa categoria unicamente David. Special, Personal and
150 Conferir o considerando 121 da às atividades das empresas Broad Expression: Exploring
Proposta de Regulamento geral de comunicação social e Freedom of Expression Norms
sobre a proteção de dados: incluir tanto as empresas que under the General Data
“O tratamento de dados pessoais prosseguem fins lucrativos como Protection Regulation. Yearbook
para fins unicamente jornalísticos as que os não prosseguem.” of European Law, v. 40, n. 1 p.
ou de expressão artística ou (Proposta de REGULAMENTO 398–430, 2021, p. 405.
literária deve beneficiar de uma DO PARLAMENTO EUROPEU 153 AGARWAL, Girish. Civilian
derrogação a determinadas E DO CONSELHO relativo Drones, Visual Privacy and EU
disposições do presente à proteção das pessoas Human Rights Law. Nova York:
regulamento, desde que tal seja singulares no que diz respeito ao Routledge, 2023, n.p.
necessário para conciliar o direito tratamento de dados pessoais e 154 TAMBOU, Olivia. Manuel de droit
à proteção dos dados pessoais à livre circulação desses dados européen de la protection des
com o direito à liberdade de (regulamento geral sobre a données à caractère personnel.
expressão, nomeadamente o proteção de dados). Disponível Bruxelas: Bruylant, 2020, p. 274.
direito à liberdade de receber e em < https://bit.ly/3Q4T2dM>. 155 AGARWAL, Girish. Civilian
transmitir informações, tal como Acesso em 04/06/2023.) Drones, Visual Privacy and EU
garantido, em especial, pelo 151 TAMBOU, Olivia. Manuel de droit Human Rights Law. Nova York:
artigo 11.º da Carta dos Direitos européen de la protection des Routledge, 2023, n.p.
Fundamentais da União Europeia. données à caractère personnel. 156 Carta dos Direitos Fundamentais
Tal é aplicável, em especial, ao Bruxelas: Bruylant, 2020, p. 274. da União Europeia (2016/C
tratamento de dados pessoais 152 To date, the Court of Justice 202/02). Disponível em:
no domínio do audiovisual has almost completely elided https://eur-lex.europa.
e em arquivos de notícias e journalistic purposes with the eu/legal-content/PT/TXT/
bibliotecas de imprensa escrita. special purposes in general53 PDF/?uri=CELEX:12016P/
Por conseguinte, os Estados- and has, therefore, not explicitly TXT&from=FR. Acesso em: 04
Membros devem adotar medidas addressed the meaning of the jun. 2023.
legislativas que prevejam other special purposes which 157 In determining whether “speech”
as isenções e derrogações relate to art, literature, and now has an “academic element” it
necessárias para efeitos academia. However, at least in is necessary to establish: (a)
de equilíbrio destes direitos the context of activities orientated whether the person making
fundamentais. Tais isenções e towards the dissemination of the speech can be considered
derrogações devem ser adotadas material to an indeterminate an academic; (b) whether that
pelos Estados-Membros em number, it seems likely that the person’s public comments or
relação aos princípios gerais, aos core added value of these other utterances fall within the sphere
direitos do titular de dados, ao concepts is to emphasize that of his or her research; and (c)
responsável pelo tratamento e ao material (‘information, opinions whether that person’s statements
subcontratante, à transferência and ideas’) protected by this amount to conclusions or
de dados para países terceiros ou provision need not (even when opinions based on his or her
para organizações internacionais, initially published) be on a matter professional expertise and
às autoridades de controlo of immediate ‘public concern’.54 competence. These conditions
independentes e à cooperação Rather, these communications being satisfied, an impugned
e à coerência. Tal não deve may relate to broader artistic, statement must enjoy the utmost
levar, no entanto, os Estados- literary, or academic matters protection under Article 10.
Membros a prever isenções às which, to borrow from the Acórdão do TEDH na queixa n.
outras disposições do presente European Court of Human Rights’ 346/04 e 39779/04, 27 maio
regulamento. Para ter em conta a (ECtHR) European Convention 2014, parágrafo 8
importância do direito à liberdade on Human Rights jurisprudence, 158 Esta análise foi feita também
de expressão em qualquer may legitimately be of interest com base no DPA 2018 por
sociedade democrática, há to the public in a ‘democratic Miranda Mourby e entendemos
que interpretar de forma ampla society’ committed to the values que seja adequada também para
as noções associadas a esta of ‘pluralism, tolerance and o RGPD. MOURBY, Miranda
liberdade, como por exemplo broadmindedness’.55 Thus, the et al. Governance of academic
o jornalismo. Por conseguinte, ECtHR has stressed that ‘[t]hose research data under the GDPR—
56
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
lessons from the UK. International archive services EAG guidelines with peers and exchanges of
Data Privacy Law, p. 192–206, on the implementation of views and opinions.” European
2019, v. 9, n. 3, p. 196-197. the General Data Protection data protection supervisor. A
159 Cf Acórdão do TJUE no processo Regulation in the archive sector, preliminary opinion on data
C-345/17, 14 fev. 2019. Outubro, 2018, p. 10-11. protection and scientific research.
160 Cf Acórdão do TJUE no processo 171 European Archiver Group. 6 jan. 2020, p. 10.
C-73-07, 16 dez 2008. Guidance on data protection for 181 European data protection
161 Cf Acórdão do TJUE no processo archive services EAG guidelines supervisor. A preliminary opinion
C-131/12, 13 maio 2014. on the implementation of on data protection and scientific
162 Natalija Bitiukova, Journalistic the General Data Protection research. 6 jan. 2020, p. 10.
Exemption Under European Data Regulation in the archive sector, 182 “Scientific publishers, designers
Protection Law, Policy Paper, Outubro, 2018, p. 10-11. and developers, entrepreneurs,
2020, p. 19-20. 172 SVANBERG, Wiese. Article 89. commercial, governmental and
163 Vide nota de rodapé 77. Safeguards and derogations non-profit funding sources in the
164 MOURBY, Miranda et al. relating to processing for commercial, governmental and
Governance of academic archiving purposes in the public non-profit sectors”. European
research data under the GDPR— interest, scientific or historical data protection supervisor. A
lessons from the UK. International research purposes or statistical preliminary opinion on data
Data Privacy Law, v. 9, n. 3, purposes in The EU General Data protection and scientific research.
p.192–206, 2019, p. 201. Protection Regulation (GDPR): A 6 jan. 2020, p. 7.
165 ANPD. Texto para discussão n. commentary, Chrisopher Kuner et 183 SVANBERG, Wiese. Article 89.
1/2022 Estudo técnica A LGPD e al (ed). Oxford: Oxford University Safeguards and derogations
o tratamento de dados pessoais Press, 2020, p. 1247. relating to processing for
para fins acadêmicos e para a 173 Agência Espanhola de Proteção archiving purposes in the public
realização de estudos por órgão de Dados (Agencia Española de interest, scientific or historical
de pesquisa. Abril/2022, p. 12, Protección de Datos). research purposes or statistical
para. 34. 174 European data protection purposes in The EU General Data
166 ANPD. Texto para discussão n. supervisor. A preliminary opinion Protection Regulation (GDPR): A
1/2022 Estudo técnica A LGPD e on data protection and scientific commentary, Chrisopher Kuner et
o tratamento de dados pessoais research. 6 jan. 2020, p. 9. al (ed). Oxford: Oxford University
para fins acadêmicos e para a 175 European data protection Press, 2020, p. 1250.
realização de estudos por órgão supervisor. A preliminary opinion 184 NORDBERG, ANA, Biobank
de pesquisa. Abril/2022, p. 7, on data protection and scientific and biomedical research:
para. 18. research. 6 jan. 2020, p. 6. responsibilities of controllers and
167 ANPD. Texto para discussão n. 176 European data protection processors under the EU General
1/2022 estudo técnica a LGPD e supervisor. A preliminary opinion Data Protection in GDPR and
o tratamento de dados pessoais on data protection and scientific biobanking: individual rights,
para fins acadêmicos e para a research. 6 jan. 2020, p. 10. public interest and research
realização de estudos por órgão 177 DUMORTIER, Jos et al, European regulation across Europe. Santa
de pesquisa. Abril/2022, p. 20- Privacy and Data Protection Law. Slokenberga et al (ed.), Cham:
21, para. 79 e 80. Alphen aan den Rijn: Wolters Springer p. 76.
168 SVANBERG, Wiese. Article 89. Kluwer, 2022, tópico 397. 185 É importante pontuar que a
Safeguards and derogations 178 Em sentido semelhante, a autora pseudoanonimização para RGPD
relating to processing for Miranda Mourby discorre sobre possui previsão específica e um
archiving purposes in the public o DPA 2018. MOURBY, Miranda tratamento direcionado, o qual
interest, scientific or historical et al. Governance of academic não ocorre na LGPD. Motivo
research purposes or statistical research data under the GDPR— pelo qual todo o cuidado quando
purposes in The EU General Data lessons from the UK. International da interpretação deste ponto é
Protection Regulation (GDPR): A Data Privacy Law, p.192–206, fundamental pelo leitor, uma vez
commentary, Chrisopher Kuner et 2019, v. 9, n. 3, p. 196. que não seria uma transposição
al (ed). Oxford: Oxford University 179 Autoridade Europeia para a simples e possível, mas sim uma
Press, 2020, p. 1246. Proteção de Dados (European análise aprofundada acerca da
169 SVANBERG, Wiese. Article 89. Data Protection Supervisor). aplicabilidade por analogia desta
Safeguards and derogations 180 “the processing of personal previsão. Aos interessados neste
relating to processing for data for the purposes of tema sugere-se a leitura dos
archiving purposes in the public ‘academic expression’ implies: trabalhos elaborados por Bruno
interest, scientific or historical (1) processing directly linked to Bioni.
research purposes or statistical the freedom of academics to 186 COMANDÈ, Giovanni e
purposes in The EU General Data disseminate information, (2) their SCHNEIDER, Giulia. Differential
Protection Regulation (GDPR): A freedom to distribute knowledge Data Protection Regimes in Data-
commentary, Chrisopher Kuner et and truth without restriction, Driven Research: Why the GDPR
al (ed). Oxford: Oxford University such as with publications, is More Research-Friendly Than
Press, 2020, p. 1248. dissemination of research You Think. German Law Journal,
170 European Archiver Group. results, and (3) the sharing vol. 23, n.4, p. 559–596, maio
Guidance on data protection for of data and methodologies 2022, p. 584.
57
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
187 DUMORTIER, Jos et al, European conflitos envolvendo veículos guide for the media. Disponível
Privacy and Data Protection Law. de mídia no Reino Unido. Neste em: https://ico.org.uk/media/for-
Alphen aan den Rijn: Wolters sentido, ainda que a redação organisations/documents/1552/
Kluwer, 2022, tópico 404. de ambos os artigos seja digna data-protection-and-journalism-
188 SVANBERG, Wiese, Article 89. de nota, como trata-se mais de media-guidance.pdf. Acesso em:
Safeguards and derogations uma introdução do que se verá 06 fev. 2023.
relating to processing for a seguir optamos por não as 199 “Although there is a broad
archiving purposes in the public destacar neste documento. exemption for journalism from
interest, scientific or historical Data Protection Act. Disponível many provisions of the DPA,
research purposes or statistical em: https://www.legislation.gov. this does not exempt you from
purposes in The EU General Data uk/ukpga/2018/12/contents/ prosecution under section 55. It
Protection Regulation (GDPR): A enacted. Acesso em: 01 jul. is an offence if you knowingly or
commentary, Chrisopher Kuner et 2022. recklessly obtain personal data
al (ed). Oxford: Oxford University 194 Data Protection Act. Disponível from another organisation without
Press, 2020, p. 1246. em: https://www.legislation.gov. its consent (eg by blagging,
189 AIDINLIS, Stergios. Government- uk/ukpga/2018/12/contents/ hacking or other covert methods).
to-Business (G2B) research enacted. Acesso em: 01 jul. There is a public interest defence
data sharing and the GDPR: 2022. to this offence, but currently this
Reconciling the ‘public’ with the 195 British Broadcasting Corporation holds you to a stricter standard
‘private’? in Research Handbook (BBC), empresa pública de than the usual exemption for
on EU data protection law, Eleni radiodifusão do Reino Unido. journalism. You should therefore
Kosta, Ronald Leenes e Irene 196 ICO. Data protection and be confident about your public
Kamara (Ed.), Cheltenham e journalism: a guide for the media. interest justification before
Northampton: Edward Elgal Disponível em: https://ico.org. using such methods” ICO. Data
Publishing Limited Edward Elgal uk/media/for-organisations/ protection and journalism: a
Publishing, Inc. 2022, p. 137. documents/1552/data- guide for the media. Disponível
A definição de pesquisa híbrida protection-and-journalism-media- em: https://ico.org.uk/media/for-
do autor: “quando o projeto guidance.pdf. Acesso em: 06 fev. organisations/documents/1552/
de pesquisa atende tanto ao 2023 data-protection-and-journalism-
bem-estar coletivo quanto a 197 “The DPA expects you to media-guidance.pdf. Acesso em:
interesses privados de natureza collect information in a fair 06 fev. 2023.
proprietária.” Id. Ibidem, p. 135. way. In practice, this means: 200 “For instance, if a story would
190 Nos termos do quanto previsto ∙ a journalistic justification for be highly intrusive or harmful
no Anexo 1, Parte 2 e Anexo collecting the information, where then it is less likely to be fair to
2, Parte 5. Data Protection Act. practical, telling the person you publish personal data. This is
Disponível em: https://www. are collecting the information also the case with stories with
legislation.gov.uk/ukpga/2018/12/ from, and the person the little obvious public interest,
contents/enacted. Acesso em: 01 information is about (if different), or where publication should
jul. 2022. who you are, and what you are have been delayed to verify
191 Em inteligência aos artigos 170, doing with their information, ∙ only facts. (…) We recognise that
3, c, II; 171, 4, c, II; 171, 7, c, using someone’s information as senior editorial or expert input
II; 174; 176 do Data Protection they would reasonably expect”. will usually not be needed for
Act UK 2018.Data Protection ICO. Data protection and journalism: a day-to-day stories.” ICO. Data
Act. Disponível em: https://www. guide for the media. Disponível protection and journalism: a
legislation.gov.uk/ukpga/2018/12/ em: https://ico.org.uk/media/for- guide for the media. Disponível
contents/enacted. Acesso em: 01 organisations/documents/1552/ em: https://ico.org.uk/media/for-
jul. 2022. data-protection-and-journalism- organisations/documents/1552/
192 Conforme previsto nos artigos media-guidance.pdf. Acesso em: data-protection-and-journalism-
124 e 178 Data Protection Act 06 fev. 2023. media-guidance.pdf. Acesso em:
UK 2018.Data Protection Act. 198 “Even if covert investigation 06 fev. 2023.
Disponível em: https://www. can be justified, you should 201 “The DPA allows you to redact
legislation.gov.uk/ukpga/2018/12/ still consider whether you can the identity of individuals who
contents/enacted. Acesso em: 01 inform the data subject about are sources in this situation. You
jul. 2022. the information collected once only have to disclose information
193 Importante destacar a redação it has been gathered. The DPA about individuals who are sources
do artigo 177 que prevê de gives more protection to some (or anyone else identified in the
maneira ampla a necessidade categories of information that it information) if that individual
de criação de um guia para a classes as sensitive. In particular, consents, or if it is reasonable to
defesa dos direitos dos titulares you should ensure you have do so. In most cases, it is unlikely
frente aos veículos de mídia, an appropriate public interest to be reasonable to disclose
sugerindo análises a serem justification before collecting information about individuals who
realizadas, as quais analisaremos information about someone’s are confidential sources.” ICO -
a seguir. Igualmente, o artigo health, sex life or allegations Data protection and journalism:
179 versa sobre a efetividade of criminal activity” ICO. Data a guide for the media - ICO.
e as formas de resolução de protection and journalism: a Data protection and journalism:
58
LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
a guide for the media. Disponível comparado. Curitiba: GEDAI, 216 SARLET, Ingo Wolfgang.
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202 “You may be able to rely on p. 99. jun-19/direitos-fundamentais-
the journalism exemption to 207 Conforme o art. 5º, XI da LGPD, liberdade-expressao-biografias-
refuse the request if you hold a anonimização consiste na nao-autorizadas
the information in connection “utilização de meios técnicos 217 STF. ADI 4815. Relatora MIN.
with the publication of a story razoáveis e disponíveis no CÁRMEN LÚCIA. Plenário.
that is in the public interest, and momento do tratamento, por Proferida em 10/062015.
you believe responding to the meio dos quais um dado perde Disponível em: https://bit.
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to keep certain information ed. São Paulo: Thomson Reuters 219 SILVA, Alexandre Pacheco
indefinitely. However, you should Brasil, 2020.p. 114 da. LUCCAS, Victor Nóbrega.
review your retained information 210 Disponível em: https:// Proteção de dados pessoais na
from time to time to ensure that fenaj.org.br/wp-content/ pesquisa em direito: quatro casos
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delete any details which you 211 Disponível em: https://aner.org. p. 507-518.
no longer need (eg if a contact br/wp-institucional/wp-content/ 220 Ibid.
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Legislação
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Casos
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República. Relator: Ministro Ayres de Rádio e Televisão no Estado de Buivids. Reclamado: Augstākā tiesa.
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Reclamante: Google Spain SL e
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Sobre os autores
ÂNGELA KRETSCHMANN
É pós-doutora pela Westfälische Wilhelms-Universität Münster, Alemanha (ITM). Professora Convidada no Curso de Doutorado
do PPGD da Universidade Federal do Paraná, disciplina “Direito da Sociedade da Informação” (2021). Professora Visitante
da Universidade de Munster, em 2018. Pesquisadora Sênior da UnB (Universidade de Brasília, entre 2017-2019), Doutorado
em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2006). Mestrado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (PUC/RS, 1999). Graduada em Física (2021). Advogada (www.kre.adv.br). Integra o Quadro de Árbitros da
Câmara de Arbitragem da Associação Brasileira de Propriedade Intelectual (CArb-ABPI), do Centro de Solução de Disputas
em Propriedade Intelectual (CSD-PI, da ABPI), com sede em São Paulo. Professora contratada pela Unisinos, desde 1992,
para a Graduação, e a partir de 2015, para o Mestrado Profissional em Direito da Empresa e Negócios. Na graduação atua
com as disciplinas de Direito de Propriedade Intelectual (EAD), e Direito e Tecnologia da Informação, dos Curso de Segurança
da Informação, Jogos Digitais e Análise de Sistemas. Professora no Curso de Especialização em Direito, Mercado e Economia
e também da Especialização em Propriedade Intelectual, da PUC/RS. Integrou a Comissão de Ensino Jurídico da Ordem dos
Advogados do Brasil RS (2004-2006). Integrou a Comissão de Propriedade Intelectual (CEPI) da OAB/RS. De 2011 a 2014 foi
Coordenadora do Curso de DIreito do Cesuca – Faculdade Inedi, sendo responsável por sua criação e aprovação perante o
MEC. Em seguida, até 7/2016, assumiu a Direção de Pesquisa do Cesuca, e a partir de dez/2015 também a Direção do Cen-
tro de Ensino a Distância. Membro da Associação Brasileira de Agentes da Propriedade Industrial (ABAPI), realizando perícias
judiciais na área do Direito da Propriedade Intelectual (marcas, patentes, plágio, pirataria, concorrência desleal). Integrante da
ABPI (Associação Brasileira de Propriedade Intelectual. Pós-doutora em Direito – Westfälische Wilhelms-Universität, Münster,
Germany. 2011-. PhD in Law, Unisinos, São Leopoldo, Brazil, 2006. Master in Law, Porto Alegre, Brazil, 1999.
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LGPD: Aplicação da proteção de dados pessoais para os setores jornalístico, artístico e acadêmico
JANAINA LIMA
Especialista em Direito Digital, Privacidade e Proteção de dados pessoais, com expertise na adequação empresarial à Lei Ge-
ral de Proteção de Dados (LGPD). Lead Implementer da Gestão da Privacidade da Informação (ABNT NBR ISO/IEC 27701).
Membro da Comissão de Relações do Trabalho do Instituto Nacional de Proteção de Dados – INPD. Membro da Comissão
de Governança e Compliance do Instituto Nacional de Proteção de Dados – INPD. Membro Relator da Comissão de Direito
Digital e Proteção de Dados da OAB/PR, gestão 2022/2024. Membro Relator da Comissão de Estudos sobre Compliance e
anticorrupção empresarial da OAB/PR, gestão 2022/2024.
MARCOS WACHOWICZ
Professor de Titular do Curso de Graduação da Universidade Federal do Paraná UFPR e docente do Programa de Pós-Gradua-
ção PPGD/UFPR. Doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná UFPR. Mestre em Direito pela Universidade Clássica
de Lisboa/Portugal. Professor da Cátedra de Propriedade Intelectual no Instituto for Information Telecmunication and Midia Law
ITM da Universidade de Munster /Alemanha. Docente do Curso de Políticas Públicas e Propriedade Intelectual do Programa de
Mestrado em Propriedade Intelectual na modalidade a distância na Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais FLACSO/
ARGENTINA. Professor Visitante da Universidade de Valência Espanha. Atual coordenador líder do Grupo de Estudos de Direito
Autoral GEDAI/UFPR, vinculado ao CNPq. Coordenador da Rede Ibero Americana de Propriedade Intelectual RIADI. Consultor
da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura / UNESCO em Direito da Propriedade Intelectual.
Consultor da WIPO Copyright Law Division Word Intelectual Property Organization em Gestão Coletiva de Direitos Autorais do
Audiovisual. Consultor em Direito Autoral Projeto Max-Planck-Institute - Smart IP for Latin America. Membro da Associação
Portuguesa de Direito Intelectual / APDI. membro da Comissão do Direito do Autor do Instituto Brasileiro de Propriedade Inte-
lectual IBPI. Membro do conselho editorial do GRUR INTERNATIONAL Jornal of Europian na Intenational IP Law vinculado ao
Instituto Max Planck de Munique Alemanha.
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