Sociabilidades e Modos de Vida em Uma Vila Operária. o Caso de Camaragibe. (1900-29)
Sociabilidades e Modos de Vida em Uma Vila Operária. o Caso de Camaragibe. (1900-29)
Sociabilidades e Modos de Vida em Uma Vila Operária. o Caso de Camaragibe. (1900-29)
RESUMO RESUMEN
Este artigo tem como proposta analisar as Este artículo, tiene como propuesta analizar las
sociabilidades e o modo de vida da classe operária sociabilidades y el modo de vida de la clase obrera
tendo como referências as sociedades mutualísticas teniendo como referencias a las sociedades
e recreativas e como elas auxiliaram o mutualistas y recreativas y cómo ellas ayudaron al
fortalecimento da classe operária. A escolha por fortalecimiento de la clase obrera. . En el caso de
analisar através dos grupos recreativos e da que se trate de una persona que no sea de su familia
Sociedade de Mútuo Socorro, feita de acordo com a o de su familia, En el siglo XX, como los operarios
documentação coletada, torna possível contribuir disfrutaban de su tiempo libre bajo la vigilancia de
para uma percepção da vida em uma vila operária, los patrones y descortinar comportamientos del
aspecto pouco abordado na história social. grupo obrero que no tenía su vida resumida en los
Pretendo, assim, analisar os espaços de telares. Palabras clave: Villa obrera, Sociabilidades,
sociabilidade construídos na Vila operária de Camaragibe.
Camaragibe no início do século XX, observar como
os operários usufruíam do seu tempo livre sob a PALABRAS CLAVE:
vigilância dos patrões e descortinar Villa obrera, Sociabilidades, Camaragibe.
comportamentos do grupo operário que não tinha
sua vida resumida aos teares.
PALAVRAS-CHAVE:
Vila operária, sociabilidade, Camaragibe
saindo de um período imperial para o modelo republicano (ARRAIS, 2004). Esses fatores
contribuíram para um suposto pensamento moderno3 (REZENDE, 1987) que tomou conta do
país nas primeiras décadas do século XX juntamente com o discurso higienista e
modernizante4.
Como toda indústria alinhada às questões capitalistas, a fábrica visava ao lucro que
seria obtido através do trabalho dos operários. No entanto, a diferença em relação às fábricas
que não adotavam esse modelo (fábrica com vila operária) era o perfil moralizador que se
almejava de um operário moralmente adepto aos preceitos cristãos.
A classe operária de Camaragibe, nas primeiras décadas do século XX, através das
associações demonstra um perfil plural do fazer-se operário. Por mais que estejam dentro do
perímetro da Vila operária, associações de caráter mutualístico5 ou de distração expressavam
distorções entre aquilo que era alardeado pelos donos da empresa, (que a fábrica seria o lugar
―dos sonhos‖ do trabalhador) e a versão dos operários em que a fábrica seria também o local
onde as queixas, as reivindicações6 iriam surgir, se não com força suficiente para promover a
autonomia, mas pequenas fissuras, sendo resistências que se faziam presentes no dia a dia do
operariado de Camaragibe.
As resignificações constituem o cotidiano dos trabalhadores da fábrica. Em meio às
tentativas de dominação por parte da diretoria da fábrica, trabalhadores resistiam através das
3
Compartilho a visão de modernidade de Marshall, que em sua obra analisa a modernidade como um paradoxo
entre ser revolucionário e conservador ao mesmo tempo, pois sente a segurança dos avanços técnico/científicos
que foram alcançados, porém não possui domínio sob essas questões. Daí sua insegurança diante da
imprevisibilidade do que não pode controlar. BERMAN, Marshall. Tudo que é Sólido Desmancha no Ar; São
Paulo, Cia das Letras, 1988.
4
O discurso foi utilizado com o intuito de promover obras de viés higienista que visavam uma exclusão da
população que ocupava esses espaços, atendendo aos anseios de uma elite local que clamava por uma cidade tida
como moderna para os seus conceitos. A cidade moderna, entendida como salubre e uniforme do ponto de vista
estético, ―com ruas alinhadas, construções suntuosas e pobres expulsos das áreas centrais, começava a ser
gestada‖ TEIXEIRA, Flávio Weinstein. As cidades enquanto palco da modernidade. Dissertação (Mestrado).
Recife: PPGH/UFPE, 1994.
5
Em geral, as mutuais ocupavam a lacuna provocada pela ausência de seguridade dos trabalhadores em caso de
doenças, acidentes, aposentadoria e falecimento, concedendo, neste caso, pensão à família, embora tal
prerrogativa fosse mais exceção do que regra. Embora não ainda verificado, é possível que de alguma forma as
atividades das mutuais tenham influenciado na discussão das leis de acidentes de trabalho. GASPARETTO
JÚNIOR, Antonio. Sociedade Auxiliadora Portuguesa: práticas de sociabilidade e de seguridade de trabalhadores
lusitanos na cidade de Juiz de Fora (MG), 1891-1950.
6
A Fábrica de Tecidos de Camaragibe teve suas atividades paralisadas do dia 4 de março de 1911 até o dia 9 do
mesmo mês por conta de uma greve dos operários que, de acordo com o Jornal Pequeno, teve sua origem na
redução de salários proposta por Pierre Collier. Tal fato demonstra que, contrariando o discurso dos patrões,
haviam distorções e manifestações dentro da vila operária. (Jornal pequeno, 05/03/1922, p.5)
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intuito de promover uma interação entre as associações recreativas que havia na fábrica como
o Clube de tiro, o Clube dramático, o Clube de musical, entre outros. Eram momentos em que
ocorria a sociabilidade12 entre os habitantes da vila para além dos teares (DECCA, 1987).
Portanto, a presente pesquisa objetiva analisar os espaços de sociabilidade dentro das
associações da Vila a fim de identificar as bricolagens e as resignificações criadas em meio à
tentativa de disciplinarização dos trabalhadores por parte dos patrões.
Escola infantil do sexo feminino: Ocupam três prédios construídos na mesma linha,
com intervalo entre um e outro e inteiramente cercados por um muro que formam
12
Ao falar em sociabilidade utilizo os pressupostos de Agulhon em que a sociabilidade corresponde ao
comportamento do indivíduo em grupo. O autor utiliza o termo Geselligkeit que em alemão significa ―sociável‖
ou ―vem a ser sociável‖. Sendo assim, a sociabilidade seria a maneira do homem viver em grupo, em sociedade.
AGULHON, Maurice. Visão dos bastidores. In: NORA, Pierre (Org.) Ensaios de Ego-História. Lisboa: Difel,
1987.
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dois pátios internos. A parte central é ocupada por uma moradia das professoras.
Prédio equipado com três latrinas com descarga para auxiliar na salubridade.
Consultório médico: É um prédio com quatro divisões internas, sendo uma sala para
consultas, juntas a essa estão às salas de exames médicos e uma sala de esperava
para homens e outra para senhoras.
Sede do círculo católico: É uma pequena sala de vinte e dois metros quadrados
comunicado com um salão simples e confortável que termina por um palco. Aqui se
reúne a sociedade religiosa e recreativa que tem o nome acima citado e servindo ao
mesmo tempo para apresentações teatrais podendo conter 500 espectadores. (Escolas
da vila. Série intelectual. Pasta 7. P.2. Sem ano.)
De acordo com a citação acima, podemos afirmar que a oferta de tais serviços para a
classe operária que residia em Camaragibe tinha o intuito de promover uma maior
imobilidade do trabalhador. Todos os serviços, até mesmo o armazém que teria, em tese, o
intuito de vender os gêneros alimentícios a preço justo e boa qualidade, chegando até as
secções de tingimento de tecidos, estavam sob a tutela dos diretores da fábrica que almejavam
que cada espaço estivesse norteado pelos ideais da salubridade, ordenamento e dos valores
cristãos.
Segundo o que a documentação nos mostra, é possível percebermos que na vila da
fábrica de tecidos de Camaragibe havia ―serviços‖ típicos de pequenas cidades; tal
configuração não se dá ao acaso. O armazém, a padaria, as escolas e por último um centro
religioso (católico) objetivam que o trabalhador passe a maior parte do tempo inserido nesse
perímetro, próximo às investidas dos patrões ao sinal de posturas desviantes.
Entre as sociedades que se destinavam ao divertimento dos operários em Camaragibe,
podemos citar o Clube de Tiro, que tinha o intuito de promover campeonatos de tiro sob a
organização da fábrica. De acordo com a documentação, era uma das sociedades que tinham
suas atividades constantemente interrompidas por problemas financeiros, uma vez que cada
operário que fosse associado deveria pagar uma mensalidade a fim de não apenas manter em
boas condições a sede, mas também de preservar as armas em bom estado e suprir a constante
necessidade de munição através de sua manutenção. Sobre os artigos que regem tal
associação, segue abaixo.
Uma análise precipitada pode afirmar que um Clube de Tiro seria contraditório com a
lógica de ordenamento imposta pelos diretores da fábrica de Camaragibe. Porém, levando em
consideração que o cotonifício estava situado em uma área afastada do perímetro urbano era
13
compreensível a cultura das armas de caça naquele período . No entanto, como destaca os
artigos do Clube de Tiro, a ―boa ordem‖ deveria ser mantida, sendo os associados pessoas de
boa educação, cabendo ao presidente não permitir embates que colocassem em risco a
integridade dos associados.
Art 1: O presidente fica encarregado de providenciar tudo aquilo que for preciso
antes de cada reunião. Ele mandará trazer as armas da sociedade (que ficarão
guardadas na casa dele), os cartuchos, os registros de tiro e mandará colocar os alvos
que estão guardados na sede da sociedade de tiro.
Art 2: Cabe ao presidente manter a boa ordem, registrar a sequência de exercícios.
Sobre as armas: Fica terminantemente proibido ter qualquer arma carregada dentro
da sociedade de tiro. Devem estar sempre descarregadas, carregando-as na hora dos
primeiros tiros. Boa ordem: a certeza que deve reinar entre as pessoas de boa
educação era vigorosamente observada onde gente que tem armas a disposição.
(Estatutos da companhia de tiro. P. 2, pasta 11)
No que diz respeito ao Clube Musical, de acordo com a documentação, foi uma das
associações que mais prosperou devido a sua agenda mais abundante de eventos, uma vez que
ocasiões festivas da fábrica, religiosas ou não, contavam com apresentações do clube. Não foi
possível visualizar a organização através dos estatutos, analisar as leis que norteiam as ações
do Clube Musical, no entanto, seguindo a linha das demais associações existentes no
perímetro do cotonifício, é certo afirmar que estavam de acordo com os rígidos padrões de
moralidade e serviam, assim como as demais, para amainar a dureza dos dias e promover um
divertimento moralizado.
A Sociedade de Mútuo Socorro, de caráter mutualístico14 de acordo com a
documentação analisada, representa o mais importante centro de sociabilidade operária, uma
vez que seria ali o local de ajuda nas adversidades que viessem a enfrentar, desde acidentes no
trabalho, auxílio funeral, chegando a ser o ponto inicial de reivindicações para com os
diretores da fábrica.
Art 1: A sociedade de mútuo socorro tem por fim proporcionar aos operários da
fabrica de Camaragibe as seguintes vantagens imediatas: Assistência médica, enterro
e sepultura, auxílio extraordinário durante um prazo não excedente a 3 meses, salvo
de liberação especial do conselho corporativo em caso de moléstia grave e
prolongada em associados indigentes e em acidentes de trabalho.
Art 2: Mais tarde, quando os recursos da corporação possibilitem, indenização a
todo operário doente por mais de uma semana.
13
Para maiores informações sobre a ―cultura‖ de armas que havia no Brasil, ver mais. FERREIRA, E. F. A
História do tiro ao alvo. Porto Alegre: Pallotti, 1986.
14
Compreende-se que as associações de caráter mutualístico tinham sua gênese no propósito de socorrer seu
grupo em momento de fragilidade, estabelecendo laços solidários. VISCARDI, Cláudia Maria Ribeiro. O estudo
do mutualismo: algumas considerações historiográficas e metodológicas. Revista Mundos do Trabalho, Vol. 2,
Nº 4. 2010
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Diante dos artigos expostos acima, é possível afirmar que o caixa da corporação não
seria tão vasto, tendo em vista que limitava o auxílio ao trabalhador por, no máximo três
meses, podendo ser estendido por algum motivo de força extraordinária. Outro indicativo de
que o caixa da corporação não gozava de grandes quantias é a sinalização feita pelo artigo
dois, ao afirmar que, ao sinal de melhora no caixa, a sociedade se compromete a assistir o
operário que esteja afastado do trabalho por apenas uma semana, assim como a opção do
presidente da associação de pedir o adiantamento de um mês de pagamento caso seja
necessário. Os medicamentos adquiridos fora da fábrica e o auxílio sepultura seriam
benefícios concedidos não apenas aos operários que trabalhavam nas fábricas, mas a todas as
pessoas residentes na vila de Camaragibe, ou seja, as famílias dos operários estão inseridas
entre os beneficiados, o que nos dá margem para analisar o quanto era ampla a assistência
proposta pela sociedade.
Dessa maneira podemos afirmar que a Sociedade de Mútuo Socorro configurava-se
como espaço de sociabilidade e de seguridade, tendo em vista que almejavam oferecer
amparo aos operários da fábrica. Sendo assim, o reforço da identidade através do
compartilhamento de experiências15 em comum, faz surgir em Camaragibe através das mais
diversas associações a solidificação de uma identidade de classe entre os operários.
Porém, como analisar as sociabilidades dentro da vila? Optei por analisar através dos
grupos recreativos e da Sociedade de Mútuo Socorro, pois de acordo com a documentação
15
Compartilho da visão de classe de Edward Palmer Thompson onde analisa que ela se constitui através das
experiências comuns compartilhadas entre os indivíduos em oposição a outros homens cujo interesse diverge do
seu. THOMPSON, Edward P. A formação da classe operária V.1. A árvore da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1987.
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coletada é possível contribuir para uma percepção da vida em uma vila operária, aspecto
pouco abordado na história social. Pretendo assim analisar os espaços de sociabilidade
construído na Vila operária de Camaragibe no início do século XX, como os operários
usufruíam do seu tempo livre sob a vigilância dos patrões e descortinar comportamentos do
grupo operário que não tinha sua vida resumida aos teares.
Utilizar as vilas operárias como análise das relações entre patrões e empregados nos
possibilita compreender da melhor forma como, nas primeiras décadas do século XX, a
tentativa de doutrinação imposta ao operário recifense se fez presente e o que se objetivava
com tais medidas. Atualmente, não se tem notícia em Pernambuco, nem em outros lugares do
país, de vestígios de vilas operárias funcionando sob a lógica do ordenamento e da exclusão16
social que foram implantados pelo Brasil no final do século XIX e primeira metade do XX.
Pelo contrário, assiste-se, desde a década de sessenta do século passado, um progressivo
desmonte das cidades industriais pelos mais diversos motivos, entre eles alguns citados por
CORREIA (1997) que aponta problemas financeiros ou a utilização das áreas para outras
finalidades.
A escolha por analisar tal abordagem explica-se por duas razões: a vasta
documentação encontrada no CEHIBRA- Fundação Joaquim Nabuco que possibilita uma
explanação ampla sobre a fábrica no período estudado, fornecendo importantes informações
sobre as associações, escolas, ambulatórios e outros aspectos do cotidiano. Um traço marcante
que foi implantado na fábrica pelos seus idealizadores foi o seu plano moralizante através da
religião, especificamente o catolicismo. Dessa forma, Camaragibe se apresenta como um caso
único no Brasil no tocante à organização do trabalho em torno da religião. A segunda razão
foi em relação a lacuna identificada na historiografia, após um levantamento acerca da
produção sobre a temática da sociabilidade operária, constata-se que apenas alguns estudos de
forma superficial tocavam no tema não por demérito e sim por escolha de outras abordagens.
No cerne da discussão sobre a trajetória dos operários, alguns historiadores da década
de 1980 passaram a compilar documentações importantes capazes de ampliar a dimensão dos
estudos sobre tal categoria. Mais preocupados com temas clássicos da historiografia do
trabalho (desenvolvimento e mudança de organizações operárias nacionais e as conexões
16
As vilas operárias eram espaços projetados por industriais que almejavam o ordenamento e a exclusão do
operário através das normas impostas e do distanciamento dos centros urbanos. Ver mais: SANTOS, Marcos.
Vilas operárias: centros de ordem e exclusão na vila operária de Camaragibe – PE (1900-1929). Dissertação de
mestrado. UFPB. 2017.
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―Sopa‖ era o nome dado ao transporte que ia até as cidades do interior em busca de trabalhadores que tivessem
o interesse em trabalhar nas fábricas próximas a cidade do Recife. ALVIM, Rosilene. A sedução da cidade; os
operários camponeses da fábrica dos Lundgren. Rio de Janeiro: Graphia. 1997.
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dependiam dela não apenas para residir, mas principalmente, pois era sinônimo de estar
empregado na fábrica.
O estudo sobre a história social do trabalhou ganhou um poderoso aliado e guru após a
publicação dos livros de Edward Palmer Thompson sobre a história da formação da classe
operária na Inglaterra. Um estudo pioneiro preocupado com múltiplos pontos de vistas da vida
do operário a fim de compreender como ele se comportava dentro e fora das fábricas. Muito
mais focado no ―fora das fábricas‖ o historiador britânico vai tecendo seu argumento através
de ampla pesquisa sobre a vida social e cultural do trabalhador inglês em finais do século
XVIII e início dos XIX.
Seu principal argumento é o fato da classe operária inglesa só se formar enquanto
classe quando se compreendem enquanto classe. A classe é antes de tudo um devir histórico, e
não se pode fugir às vicissitudes do tempo. São as vicissitudes, ou seja, o que é vivenciado
pelo trabalhador no exercício de seu ofício e fora desse exercício que vai moldando a ele e ao
meio em que ele vive sua consciência de relação de classe. Ou seja, a experiência para
Thompson é vivenciada duplamente pelo trabalhador. Primeiro, há a experiência de classe,
aquela na qual o trabalhador está inserido pelo próprio condicionamento de sua relação com
os meios de produção econômicos e na medida em que tais experiências são vividas e
interpretadas pelo trabalhador ele transforma-as em experiência consciente da classe
(consciência) e compreende-se junto a seus pares (THOMPSON, 1987a).
Thompson credita o processo de construção da classe para as experiências
compartilhadas no cotidiano fabril, dando conta de um processo coletivo, ao invés de
individual. Logo, através destas ―trocas‖ para além das resistências do cotidiano, consolidam-
se as bases que viabilizam a construção (diária) da classe pela subversão do ―plano moral‖
imposto na vila. Dessa forma, a experiência tem uma relação intrínseca com as formas de
produção em que os indivíduos estão inseridos, sendo o caso analisado o trabalho em uma
Vila operária, espaço singular que promove novas formas de vinculação entre os operários.
Em contraponto a experiência que se coloca de forma mais definida, afirmar o mesmo da
classe seria um erro, a dita por Thompson ―consciência de classe‖ surge apenas quando
visualizamos um conjunto de sujeitos que veem a si, e os outros como membros de um grupo,
parte integrante de um conjunto, partilhando interesses, dificuldades, sentimentos e sensações,
ou seja, a classe é onde a experiência cotidiana é vivida.
18
Obras como; Trabalho urbano e conflito social (1890-1920) FAUSTO, Boris. Editora: Difel. Ano: 1977.
Movimento operário no Brasil: 1877-1944. CARONE, Edgar. Editora: Difel. Ano: 1981.
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Sendo assim, percebe-se o cotidiano como um espaço não rígido, e sim, possível de ser
moldado perante as vicissitudes do dia a dia, possibilitando pequenas rotas de fuga.
século XIX e início do XX, nos propiciam uma análise rica em um contexto específico em
que operários viviam em simulacros de cidades promovendo mudanças no convívio com
outros trabalhadores e com seus patrões.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
a) Livros
AGULHON, Maurice. Visão dos bastidores. In: NORA, Pierre (Org.) Ensaios de Ego-
História. Lisboa: Difel, 1987.
BERMAN, Marshall. Tudo que é Sólido Desmancha no Ar. São Paulo, Cia das Letras,
1988.
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b) Coletânea
c) Tese acadêmica.
VIANA, Mônica Peixoto. Habitação e modos de vida em vilas operárias. USP. 2004.
REZENDE, Antonio Paulo de Morais. Cadernos de historia: Manifestações operárias e
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SANTOS, Marcos. Vilas operárias: centros de ordem e exclusão na vila operária de
Camaragibe – PE (1900-1929). Dissertação de mestrado. UFPB. 2017.
TRAMONTANO, Marcelo C. Paris-São Paulo-Tokyo: novos modos de vida, novos
espaços de morar. 1998. Tese (doutorado) – FAU-USP, São Paulo, 1998.
TEIXEIRA, Flávio Weinstein. As cidades enquanto palco da modernidade. Dissertação
(Mestrado). Recife: PPGH/UFPE, 1994.
LIMA, Lucio Renato Mota. O apostolado dos patrões: limites e possibilidades de um plano
industrial disciplinar religioso em uma fábrica têxtil (Camaragibe, 1981-1908). Dissertação.
Universidade Federal de Pernambuco, Recife. 2012.
Fontes primárias
Periódicos.
Relatórios da CIPER:
Pasta Miscelânea